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BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. Teoria e prática da educação artística.

São Paulo:
Editora Cultrix, 1975.
A Educação, como meio de conservação de cultura, é naturalmente estratificadora e
conformista, enquanto que a Arte, como instrumento de renovação cultural, é
anticonformista e de caráter demolidor (p. 11)
EUA – desenvolvimento de princípios morais.
O romantismo alemão teve repercussão na América e ajudou a produzir o
transcendentalismo, que pôs Arte e Educação no mesmo caminho: o caminho dos
princípios morais e da crença na perfeição da natureza. (p. 12)
De 1800 a 1820, os programas de Arte eram destinados especialmente às jovens de alta
classe, que deviam ser instruídas apropriadamente para a afetação de uma vida
aculturada. Nesse tipo de vida, a Arte tinha papel importante. Fazer uma bonita pintura, ser
capaz de fazer delicados objetos era uma indicação de bom nascimento (p. 13)
Competição comercial entre a Europa e os EUA: 1870 – Industrial Drawing Act – exige
compulsoriamente o desenho nas escolas públicas
EUA e Brasil: contextos de infraestrutura – País pós-industrial, preocupação qualitativa e
país em desenvolvimento, preocupação quantitativa
Até 1970, nenhum livro de Arte-Educação traduzido no Brasil
Ambas as culturas, por exemplo, sugerem frequentemente que as experiências em Arte são
um luxo dispensável, podendo despertar perigosos impulsos para o efeminamento e a
boêmia (p. 38)
Brasil e a ideia comum de aque a Arte ameiga o caráter, refina a sensibilidade da
mulher, formação interior da casa, efeito decorativo dos móveis. Indicadores de
educação refinada, alta classe.
Brasil inexiste qualquer espécie de programa de Arte para meninos: uma exceção –
Seminário de Olinda, de Azeredo Coutinho, desenho faz parte do currículo. Preconceito
do trabalho manual para o homem, reservado aos escravos.
Foi D. João VI o criador de nossas primeiras escolas técnicas e científicas, numa
tentativa de superar a propensão discursiva do nosso intelectual, pelo incremento das
profissões liberais e técnicas (o desenho, entre as últimas) (p. 40)
Não tiveram, contudo, grande sucesso as escolas de desenho técnico de 1818 na Bahia, ou
a de 1817 em Vila Rica, e mesmo, mais tarde, em 1856, o Liceu de Artes e Ofícios de
Bethencourt da Silva atravessou grandes dificuldades (p. 41)
Missão Francesa, criada em 1816 – Primeira escola de Belas Artes
Baseando-se no culto à beleza, na crença acerca do dom e em árduos exercícios de
cópia, tornou a Arte acessível somente a alguns “poucos felizes” (p. 41)
Vencer a concorrência comercial com a Europa
Meanwhile...
Promulgada a lei na história da educação americana que exige o ensino de desenho em
todas as escolas primárias e secundárias: Industrial Drawing Act (1870) – educação
ganha, mas também dá um tiro na guerra entre Belas Artes e Artes Industriais – conflito
iniciado na renascença italiana quando artistas como Leonardo, Michelângelo e Rafael,
protestam pelo fato de terem sido classificados como artesãos e insistem na identificação
como artistas – faca de dois gomos
BRASIL 1870-1880 – Luta pela queda da Monarquia. Influências do liberalismo americano
e do positivismo francês: inclusão do desenho geométrico para desenvolver a
racionalidade.
Primeira renovação metodológica no campo da Arte-Educação: Arte Moderna 1922.
Valorização da Arte Infantil – leituras de Freud.
1948 – criação da Escolinha de Arte do Brasil – desenvolvimento da capacidade
criadora em geral.
Criatividade confunde-se com Imaginação – projetos interessantes que extraíssem a
imaginação fértil da criança
Dick Field em Change in Art Education: A verdadeira educação não deverá meramente
capacitar a criança para pensar em direção a um tema dado. É interessante notar que o
“tema” tem sobrevivido a todas as vicissitudes e é ainda firmemente aceito como
deflagrador em direção ao nível ‘A’. A literária noção de Arte, que está implícita, parece
desconhecer cinquenta anos de Arte no mundo adulto. Desde o dia em que a criança faz
seu primeiro desenho e lhe perguntam o que é aquilo, a pressão sobre ela é constante
para enfatizar o fato de que um desenho ou pintura tem um tema, que descreve alguma
coisa da vida (p. 49)
Entretanto, para a criança pequena, a representação não é importante; ela não está
fazendo Arte, mas está usando o desenho como ela usa todas as outras atividades,
como uma ferramenta para explorar o mundo circundante e estabelecer relações dentro
dele (p. 50)
Paradoxalmente, perguntar a uma criança o que sua pintura ou desenho é, focaliza sua
atenção sobre se o que ela faz é ou não reconhecível; sua atenção é mudada e a
natureza do seu trabalho declina (p.50)
Desde aí a criança começa a ser condicionada a aceitar que fazer Arte é uma atividade
da escola e pensa que esperam que ela continue fazendo desenhos e pinturas de “coisas”
até que tenha dezoito anos (p.50)
Significações subjetivas e toda a liberdade do mundo. Buscas por referências ou cópias e o
mau entendimento sobre criatividade, originalidade.
Ser contemporâneo de si mesmo é o mínimo que se pode exigir de um Arte-Educador
(p. 53).
Miolo da questão
No processo de encorajamento à criatividade há profunda necessidade de se atender aos
conteúdos afetivos, do mesmo modo que aos conteúdos cognitivos (p. 59)
Ensino criativo é aquele que dá estímulo, entusiasmo e satisfação à aprendizagem.
Esse ambiente criativo de ensino deve prover a criança com experiências ricas e com
encontros que lhe permitam lidar com a fantasia, ser imaginativo, fazendo perguntas,
maravilhando-se, investigando e testando suas próprias ideias e sentimentos contra
os fatos (p. 60)
1. Desenvolver a percepção e a imaginação capaz de captar a realidade
circundante. Parece paradoxal fazer semelhante relação consequente entre
imaginação e realidade, mas através da imaginação podemos descobrir o que não
existe na realidade e, segundo Lukács, esta é a mais dinâmica e a mais dialética
forma de descoberta do mundo exterior.
2. Desenvolver a capacidade crítica, para analisar a realidade percebida.
3. Encorajar o processo criativo, o qual permite novas respostas a esta realidade,
até mesmo mudando-a ou transformando-a.

A percepção, contudo, é função do pensamento. Perceber a realidade é pensar


acerca dessa mesma realidade e adquirir condições para propor uma nova
realidade (p. 76)

Visanto a tornar consciente acerca do percebido e visando a uma maior flexidade e


complexidade de percepção, será necessário uma estimulação mais dinâmica
que o desenho de observação, tal como a proposição de um problema a ser
resolvido dentro da situação perceptual, e que leve à discriminação, à
seletividade, à analogia, à análise e a síntese (p. 76)

Podemos vencer a natural tendência para estereótipos visuais, não meramente


destacando uma peça da realidade para observação, mas dando à criança um
ponto de concentração mais geral, dentro do mundo circundante a ser
particularizado por ela própria (p. 77)

O slogan da livre auto-expressão surgiu como uma liberação trazida pela ânsia dos
românticos e, depois, dos dadaístas, que se rebelavam contra as convenções e
restrições que lhes eram impostas de fora (p. 87)

De alguma forma, e aí está o paradoxo, nosso envolvimento com


acontecimentos externos pode exprimir muito melhor nossas preocupações
reais do que uma tentativa direta para olhar para o nosso próprio íntimo ou para
as mentes alheias (p. 88)

Pela sua natureza de agente interativo dos domínios afetivo, cognitivo e motor
(p. 89)

Elas aprendem a ler imagens, mecanicamente, antes da alfabetização normal. A


escola é como uma extensão so estúdio de TV. A ideia é não desestimular a criança,
já estimulada pelos media, mas fazê-la refletir sobre a imagem (p. 92)

Um dos papeis da Arte é preparar o povo para os novos modos de percepção,


largamete introduzidos pela revolução tecnológica e da comunicação de massas. A
mudança nos padrões de percepção visual, provocada pela comunicação eletrônica,
é acompanhada por grande variabilidade de excitações cerebrais. Tendo em vista
que são as Artes Plásticas, na escola, o único veículo diretamente exploratório
da percepção visual, é de sua competência articular produtivamente essa vasta
gama de excitações (p. 93)

A ênfase estática, que o desenho de observação empresta às qualidades do


objeto, já não satisfaz às nossas necessidades perceptivas, vinculadas à
ambiguidade intrínseca do ato perceptivo, que permite ao mesmo tempo a
abstração da complexidade do real em direção à globalização (teoria da forma)
e à exploração integrada (teoria da exploração). (p. 93)

A mass-media tem-nos forçado a aceitar que entender o que se vê é um trabalho


duro mas necessário, e talvez o único meio de preservar a autenticidade da
expressão da criança, através do estabelecimento de diferentes sistemas
valorativos (p. 115)

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