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I Timóteo 2.9 e I Pedro 3.3 proíbem adornos para mulheres?

16 de fevereiro de 2009 Gutierres Fernandes Siqueira

Uma boa exegese dos textos bíblicos deve ser um imperativo nos púlpitos evangélicos. Muitos textos
das Sagradas Escrituras são violentados em sua mensagem para compartilhar a mensagem do
desastrado intérprete. Nesse universo existem muitos que proíbem as mulheres de usarem adornos
supostamente baseados na Bíblia, principalmente em textos como I Tm 2.9 e I Pe 3.3. Será que esses
textos apóiam essa visão restritiva dos adornos para as mulheres?

Paulo nos ensina…

O texto de I Tm 2.9-10 diz: “Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e
modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, mas (como convém a
mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras”.

Paulo está nos ensinando um princípio que serve para todos os cristãos, apesar do texto direcionar a
recomendação para as mulheres cristãs. O texto deixa bem claro que não devemos nos vestir para
impressionar outrem ou por mero exibicionismo. Quantas pessoas querem promover uma auto-
afirmação por meio de suas caras vestes e dos seus adornos!

O teólogo Lawrence O. Richards nos lembra que:

A admoestação de Paulo não impede a mulher de se vestir de maneira elegante, mas tão somente de se
utilizar do vestuário para chamar a atenção! A melhor maneira de uma pessoa, homem ou mulher,
expressar a sua individualidade é através das boas obras que evidenciam um caráter piedoso. A
sociedade da época, como a nossa, parece que pressionava as mulheres a que se vestissem como se
fossem objetos sexuais. Assim também os seus valores e qualificações foram determinados pela
habilidade de estimularem a sexualidade dos homens. Esse procedimento tem aviltado as mulheres
tanto do passado como de hoje em dia.

O Dr. Richards lembra um aspecto muito importante: a “coisificação” da mulher. A nossa sociedade a
cada dia torna as mulheres como objetos sexuais e as mulheres cristãs não devem cair nesse mal do
século. As roupas sensuais são uma afronta Deus e principalmente a dignidade humana. Tornar pessoas
objetos fere a linda mensagem de que somos como humanos a “imagem e semelhança de Deus”.

No texto podemos destacar duas preciosas palavras: pudor e modéstia.

Pudor é “sentimento de vergonha, timidez, mal-estar, causado por qualquer coisa capaz de ferir a
decência, a modéstia, a inocência” (Dicionário Houaiss). Todo cristão precisa observar esse princípio ao
abrir o seu guarda-roupa ou na próxima compra do Shopping Center. Paulo não determina um tipo ou
estilo de roupa, mas aplica um princípio: qualquer roupa que você usar, use com pudor; se é uma calça,
seja com pudor; se é uma saia, seja com pudor; se é uma bermuda, seja com pudor; se é uma camiseta,
seja com pudor; se é uma regata, seja com pudor etc. Não depende do estilo de roupa, que é algo
cultural, mas sim na disposição desse vestuário individualmente, na aplicação do bom-senso pelo
próprio crente, sem a determinação de terceiro ou de tabus comunais.

Modéstia é comedimento, desprendimento, moderação, despretensão etc. Uma clara virtude cristã.
Será que seria uma atitude cristã uma mulher gastar 15 mil reais em uma bolsa, quando esse dinheiro
poderia ser trabalhado na causa do “órfão e da viúva”? Será que esses pastores que disciplinam irmãs
que pintam o cabelo, mas que usam gravata de grife italiana estão sendo modestos? Existe modéstia na
vida de quem vive ostentando riquezas por dízimos de ovelhas pobres? Veja como esse texto traz uma
mensagem profunda que muitas vezes resume-se a condenações para com as mulheres. Sejamos
modestos, nada de tranças mirabolantes, ouros e pérolas quando pisamos nas calçadas cheias de
miséria. Nada de pastores sustentados pelas igrejas andando de Hilux quando suas ovelhas não podem
nem comer ou quando os membros não têm um templo para adorar a Deus.
Nesse quadro é muito apropriada na descrição histórica citada por Deborah Menken Gill, quando diz: “A
ostentação na vestimenta era freqüentemente considerada um sinal de promiscuidade no mundo antigo
[especialmente entre os cristãos], tais gastos, tão grandes, eram considerados injustificados em razão da
difícil situação dos pobres (Kroeger e Kroeger, 1992, 75)”

Isaías condena as mulheres que viviam no luxo enquanto a povo vivia na mais violenta miséria, sem
nenhuma ação efetiva dessas mulheres que valorizam mais os seus enfeites do que o humano (Is 3.16-
24). Diante da necessidade de uma vida modesta, vemos uma boa reflexão de João Crisóstomo, ainda no
séc. IV, quando disse:

É por isso que os gentios não acreditam no que dizemos. Eles querem que lhes demonstremos uma
doutrina, não pelas nossas palavras, mas nossas obras. Mas quando nos vêem construir casas luxuosas,
plantar jardins, construir saunas e comprar terrenos, não podem convencer-se de que estamos
preparando nossa viagem para outra cidade.

A modéstia está em falta na vida da cristandade. Interessante ver alguns pastores que condenam tudo e
em tudo vêem pecado, principalmente para as mulheres, porém moram em mansões e andam com
seguranças, além de pregarem por detrás de uma redoma de vidro blindada. Quanta incoerência!

Modéstia também não é voto de pobreza e nem viver na miséria. Modéstia fala-nos de equilíbrio.
Equilíbrio não é mini-saia ou burca mulçumana, esses casos são extremos que fogem ao bom-senso.
Algumas mulheres perdem sua feminilidade por causa de regras meramente humanas.

Pedro nos ensina…

O texto de I Pe 3.3-4 diz: “O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de
ouro, na compostura de vestes mas o homem encoberto no coração, no incorruptível trajo de um espírito
manso e quieto, que é precioso diante de Deus”.

Um texto não pode ser tirado do seu contexto. Pedro está falando com as mulheres cristãs que são
casadas com incrédulos. Pedro ensina que essas mulheres ganharão seus maridos para Cristo por meio
de uma vida piedosa, e não por ostentação da beleza exterior (cf. I Pe 3.1-7). O que comunica o
Evangelho é a piedade cristã, a beleza interior, que é infinitamente superior a nossa matéria. Pedro está
ensinando que a beleza mais importante é a interior para a conversão do marido. Lembrando também o
cuidado da mulher, como do homem (na beleza exterior) é muito importante dentro do casamento.

O Dr. Richards ainda lembra que: “Pedro não está lançando uma campanha contra o batom. O que ele
nos quer lembrar é que o que conta é a beleza interior de uma pessoa”. Uma pessoa de princípios não
valorizar mais a sua beleza e estética do que de sua alma.

Conclusão

Nos dois textos aprendemos preciosas lições, como os princípios da modéstia, moderação, pudor,
desprendimento e que a beleza interior é a mais importante. Essas lições não dizem que adornos ou
calças femininas são pecados. Esses “ensinamentos” são parte de “doutrina de homens” que acabam
indo além do que está escrito. “Doutrinas de homens” são formas de desonrar as Escrituras e quem
verdadeiramente ama a Bíblia não se apega a esses legalismos.

Texto extraído do site do autor: https://teologiapentecostal.blog/2009/02/16/i-timoteo-2-9-e-i-


pedro-3-3-proibem-adornos-para-mulheres/

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