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BPM

ANO 1 - EDIÇÃO 03
em foco

O Sucesso Localiza
A Gestão por Processos pelo
olhar da Alta Administração
PÁG 30

ARTIGOS CASE DE SUCESSO ENTREVISTA


BPM para além das Inovações Gestão de Processos no Sicredi Desafios para se mensurar
em Processos processos
BPM no Governo de Minas com Roger Tregear
Mensurando Processos Gerais: Prestação de Melhores
Serviços para o Cidadão Mineiro E MUITO MAIS

1
editorial
Caros leitores, BPM EM FOCO
A terceira edição da Revista BPM em Foco está repleta Direção Geral
de novidades sobre BPM no Brasil e no mundo. André Macieira e Leandro Jesus

A alta administração tem um papel crucial na Editorial e Redação


disseminação da Gestão por Processos nas Elisa Baruffi e Renê Boaventura
organizações, garantindo a mobilização de pessoas
na execução de projetos de transformação e o Revisão Final
alinhamento entre esses projetos e a estratégia Renê Boaventura
organizacional para gerar resultados positivos. Para
exemplificar essa importância, trouxemos o caso da Entrevistas
Localiza, cuja estratégia de BPM e o patrocínio da Alta Elisa Baruffi
Administração têm gerado excelentes resultados.
Design e Projeto Gráfico
O Artigo de Roger Tregear, Diretor de Consultoria Mariana Alves
da Leonardo Consulting, mostra a importância de
mensurarmos os processos e os principais desafios
das organizações na definição da melhor estratégia COLABORADORES
de mensuração. Em seguida, o autor respondeu, em
uma entrevista exclusiva, às dúvidas mais frequentes Vinícius Ribeiro
na hora de mensurar os processos.
WEB E REDES SOCIAIS
Na seção cases, trouxemos duas realidades de
sucesso: o da empresa Sicredi, apresentando os BPMemfoco
resultados do Escritório de Processos e o seu trabalho
para garantir o alinhamento estratégico e o aumento
da maturidade em processos; e o caso da Secretaria CONTATO
de Estado de Planejamento e Gestão de Minas
Gerais, apresentando a adoção de BPM no Governo contato@bpmemfoco.com.br
de Minas com enfoque na prestação de melhores
serviços para o cidadão mineiro.

Paul Harmon está de volta com um artigo sobre a


Gestão do Capital Humano e BPM, apresentando a
importância do tema e como deve ser o alinhamento
entre a Gestão de Pessoas das organizações e os
profissionais de BPM para garantir resultados de
longo prazo e a melhoria contínua da organização.

Aproveite, também, para ler sobre Inovação em


Processos e Transformação Organizacional nas
seções de artigos em nossa revista e ter acesso aos
principais eventos de BPM ocorridos neste bimestre.

Boa leitura!

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ÍNDICE
ARTIGO 05 CAPA
BPM para além das
Inovações em Processos
por Jaime Frenkel, Rafael Clemente
e Georges Miranda

ARTIGO 14
Mensurando Processos
por Roger Tregear

ENTREVISTA 25
Roger Tregear

LOCALIZA 30
Gestão por Processos na Localiza
pelo olhar da Alta Administração
Gestão por Processos na
Localiza pelo olhar da alta
CASE DE SUCESSO 34 administração
Gestão de Processos no Sicredi PÁG 30
por Plinio Regis MoRaes da Cunha
e RodRigo dias MaRino

CASE DE SUCESSO 38
BPM no Governo de Minas Gerais: Prestação de
Melhores Serviços para o Cidadão Mineiro
por Vanice Cardoso Ferreira

ARTIGO 45 E MAIS
Como a Hilti Conduziu sua Transformação
por Jan vom Brocke F, Dr. Martin Petry ELO Group e Oracle firmam
e Dipl. oec. Theresa Schmiedel
parceria para atuação com BPM
PÁG 53
COLUNA 54
Gestão do Capital Humano e BPM
por Paul Harmon

ELO EM FOCO 62

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4
Jaime Frenkel
Gerente da ELO Group

Rafael Clemente
ARTIGO Sócio Fundador da ELO Group e Innvent

Georges Miranda
Consultor da ELO Group

BPM PARA ALÉM DAS


INOVAÇÕES EM PROCESSOS

Os profissionais de BPM têm sido capazes de contribuir com a inovação nas


organizações onde atuam através da concepção e implementação de melhorias
e redesenho de processos. No entanto, os desafios do cenário atual tornam
necessárias inovações cada vez mais amplas, capazes de criar experiências
memoráveis para os clientes e quebrar os paradigmas dos modelos de
negócio atuais. Este artigo discute como o profissional de BPM pode ampliar
a sua contribuição para os diferentes tipos de inovação que uma organização
precisa realizar e apresenta um conjunto de ferramentas para apoiá-los em
situações que exigem inovações para além de processos.

5
A evolução em direção ao cliente: das conseguem transformar o consumo do
café em uma experiência. O Starbucks, com
da venda de commodities à cria- sua forma diferenciada de atender ao clien-
ção de experiências te, chega a cobrar R$4,50 por uma xícara
de café, ou seja, R$ 0,60 por grama de café;
É possível acompanhar a história do avanço
econômico pelo caráter das inovações que sur- Essa evolução mostra que as inovações de maior
giram ao longo dos anos. A evolução da eco- potencial de criação de valor são aquelas que não
nomia pode ser resumida em quatro estágios, se limitam ao processo de produção e entrega de
em cada um deles, as organizações se tornam um bem ou serviço. É necessário compreender
capazes de criar valor de forma mais ampla: como o cliente percebe valor naquilo que está con-
sumindo e, a partir daí, redesenhar os processos
1. Produção de commodities: Valor dado que habilitam esse consumo. Em outras palavras,
pela relação de oferta e demanda, não exis- é preciso enxergar a interação e o relacionamento
te diferenciação do produto negociado; com o cliente como oportunidades de criação de
valor excepcional e desdobrá-las para a operação
2. Economia industrial: Valor está na qua- da organização.
lidade do produto entregue ao cliente;
Os diversos tipos de inovação e a
3. Economia de serviços: Valor está na Interação
com o cliente e como ela atende à sua necessidade;
atuação de BPM
Entendendo a Inovação como qualquer mudança
4. Economia da experiência: Valor está na per-
que ajude a organização a gerar mais valor, pode-
cepção subjetiva gerada na mente do cliente;
mos descrever os diferentes tipos de inovação que
uma organização pode realizar na forma de um
O exemplo do café ilustra muito bem como or-
Diagrama (Figura 1).
ganizações que exploram as formas de geração
de valor nos estágios mais avançados da eco-
• O aperfeiçoamento da gestão do dia-a-dia permite à
nomia, obtém resultados financeiros atraentes:
organização refinar seus processos continuamente
aumentando o benefício percebido pelo cliente final.
• Uma saca de 60 kg de café custa aproxi-
madamente R$300. Ou seja, quando tra-
• Ao redesenhar seus processos, a orga-
tado como commoditie, a grama de café
nização pode obter ganhos significati-
é vendida por R$ 0,005 (meio centavo)
vos de eficiência, confiabilidade e qualidade.
• O beneficiamento do café permite que ele seja
• Ao ir além da sua operação e repensando o que
vendido na forma de um pote de 100g café solú-
será entregue ao consumidor final, a organiza-
vel por cerca de R$6 ou R$ 0,06 o grama de café.
ção pode criar novos produtos e serviços au-
mentando o valor concreto entregue ao cliente.
• Já o serviço de preparar e servir uma xí-
cara de café, em uma cafeteria comum,
• Indo mais a fundo, a organização pode criar ex-
pode ser cobrado em torno de R$2.25, ou
periências memoráveis, criando valor a partir da
seja, R$ 0,30 por grama de café (consi-
percepção subjetiva criada na mente do cliente.
derando que a xícara contém 7g de café).

• Por último, a organização pode repensar toda a


• Finalmente, cafeterias mais sofistica-
sua lógica de atuação por meio da estruturação de

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novos modelos de negócios, gerando oportunidades de criação de valor excepcional.

Ao analisar a pesquisa “The State fo BPM Market 2012” realizada pela BPTrends (Figura 2) pode-se ter uma
boa ideia sobre como BPM vêm contribuindo para esses diferentes tipos de inovações. Na pesquisa, profis-

Figura 1 - Dividindo as tipologias de inovação pela sua abrangência de transformação

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sionais de BPM foram perguntados sobre quais são os principais direcionadores de negócios que levam as
suas organizações a transformar seus processos. A redução de custos ficou em primeiro lugar, sendo apon-
tada por 57% dos respondentes. Já a melhoraria da capacidade de gestão e coordenação vem em segundo
lugar, apontada por 38% dos respondentes. Por outro lado, tanto a satisfação do cliente quanto a inovação
em produto/ negócio foram apontados por menos de 1/3 dos respondentes. Os resultados mostram que
BPM ainda é pensado primeiramente como um meio para olhar para dentro da organização e alcançar ga-
nhos de curto prazo. Novas ferramentas, novos horizontes

Necessidade de economizar dinheiro, reduzir custos e/


ou aumentar a produtividade

Necessidade de melhorar a coordenação da gestão e a


capacidade de resposta da organização

Necessidade de melhorar a satisfação do


cliente e se manter competitivo

Necessidade de melhorar os produtos existente, criar novos


produtos ou entrar em nova linhas de negócio para se manter…

Necessidade de melhorar a gestão de


recursos de TI (aplicações de ERP)

Gestão de risis de negócio ou governo


(Sarbanes-Oxkey, ISO 9000)

Eventos pontuais (Fusões & Aquisições)

Outros

Fonte: BPTrends - The State of the BPM Market 2012

Figura 2 - Pesquisa BPTrends- Tendência emergente de enxergar a importância do BPM para a


diferenciação de produtos e operacionalização de novos negócios.

Á luz do diagrama dos tipos de inovação, podemos os processos para garantir a excelência na pro-
dizer que, as iniciativas de BPM estão fortemente dução do novo produto ou prestação do novo
alinhadas à promoção da gestão do dia-a-dia e à serviço. No entanto, as técnicas tradicionais de
realização do redesenho de processos. No entan- BPM ainda não tratam de apoiar a organização
to, quando se trata de inovações de escopo mais a compreender as necessidades do consumidor
amplo, a contribuição de BPM fica aquém do seu para direcionar o desenvolvimento de novos
potencial: produtos ou serviços, ou melhor, existe um gap
entre as ferramentas tradicionalmente utilizadas
• Com relação à introdução de novos produtos pelos profissionais de marketing e produto e sua
ou serviços: As ações de BPM podem ser úteis comunicação com processos.
para avaliar, de forma holística, o impacto sobre
a operação causado pela nova oferta e preparar • Com relação à criação de experiências memorá-

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veis: As técnicas tradicionais de BPM são insu- de negócio inovador exigirá o desenho de uma
ficientes para tratar dos aspectos subjetivos do arquitetura de processos específica (Figura 3).
cliente ao consumir o produto ou serviço, pecando
no desdobramento destes aspectos para os pro- Além disso, deve-se considerar que as inovações,
cessos. especialmente aquelas de caráter mais abran-
gente, podem exigir discussões transversais às
• Com relação à estruturação de novos mode- diversas áreas de uma organização. Por meio da
los de negócio: As técnicas tradicionais de BPM visão holística desenvolvida ao liderar discussões
também não são capazes de integrar os diversos de processos que atravessam a organização de
componentes de um modelo de negócio que se ponta a ponta, os profissionais de BPM podem
pretende implementar ou reciclar. Além disso, oferecer uma contribuição singular para esse
pecam também em apoiar a organização a lidar desafio.
com os desafios da transição e convivência entre
o modelo atual e o modelo futuro a ser construído. Portanto, pode-se afirmar que o potencial de con-
tribuição de BPM para a inovação organizacional
No entanto, nenhuma inovação pode ser bem su- vai muito além da questão de processos. Entre-
cedida sem o suporte de um conjunto de proces- tanto, explorar todo esse potencial significa lidar
sos operacionais adequados a ela: Uma experi- com desafios cada vez mais diversos, o que não
ência memorável precisa ser suportada por um pode ser feito sem que se amplie o escopo das
processo de atendimento excelente; e um modelo ferramentas tradicionais de BPM.

Ferramentas tradicionais de BPM são insuficientes para lidar com esse tipo de inovação

Ferramentas tradicionais de BPM são parcialmente adequadas para apoiar esse tipo de inovação

Ferramentas tradicionais de BPM têm um histórico de sucesso em apoiar esse tipo de inovação

Figura 3 – Por mais que, em muitas organizações, as ações de BPM não estejam relacionadas com
inovações de caráter mais abrangente, qualquer inovação precisa passar por processos.

9
Novas ferramentas, novos conceito por trás do Job-to-be-done é descrito na
famosa analogia da furadeira, enunciada por The-
horizontes odore Levitt:

Visando auxiliar o profissional de BPM em melhor “As pessoas não compram furadeiras, elas com-
explorar o seu potencial de contribuição para a pram buracos na parede.”
organização, são apresentadas a seguir três fer-
ramentas amplamente utilizadas na concepção e Em outras palavras, se houvesse uma forma mais
implementação de inovações. Ao incorporar essas conveniente e barata de fazer um buraco na pare-
ferramentas ao toolkit da gestão de processos, de, os consumidores nem pensariam em comprar
será possível tratar problemas pouco compatíveis uma furadeira. Pensar em vender buracos na pare-
com as discussões que normalmente vêm a tona de ao invés de vender furadeiras, abre espaço para
ao se utilizar os modelos de processo tradicionais. se pensar em novas soluções não exploradas.
Por meio dessas novas ferramentas, antes de se Os principais componentes para descrever um Job-
engajar em um redesenho de processo, o profis- -to-be-done são os seguintes (Figura 4): O cliente,
sional de BPM será capaz de ajudar a organização ou grupo de clientes, que possui um problema a
a se perguntar sobre o caráter da inovação que ser resolvido; a descrição desse problema; e o
deve ser perseguida e, a partir daí, desdobrar os contexto no qual esse problema ocorre. O tercei-
requisitos para os processos. ro componente merece atenção especial: embora
seja ocasionalmente esquecido, o contexto pode
Job-to-be-done ocultar detalhes cruciais para o sucesso de um ne-
gócio. Basta contrastar as diferentes característi-
A ferramenta “Job-to-be-done” permite ao profis- cas que esperamos do serviço de um restaurante
sional de BPM alterar o foco de sua análise para no qual vamos almoçar durante a semana com as
compreender as necessidades do consumidor ao expectativas que se tem de um restaurante esco-
adquirir um determinado produto ou serviço. O lhido para um jantar a dois.

[O Cliente] quer [resolver um problema] [nessa circunstância]

Quem pagaria para Qual a situação específica


a resolução de um Qual problema? na qual o problema
problema? precisa ser resolvido?

Figura 4 - A estrutura de um Job-to-be-done

Enxergar o mercado sob as lentes do Job-to-be-done significa entender as ofertas levadas ao mercado
como a solução para uma tarefa que alguém tenta resolver. Na prática, essa lente nos permite desenvol-
ver requisitos para um novo produto ou serviço a partir do melhor entendimento de como ele será efetiva-
mente utilizado pelo cliente final.

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Design Thinking
O “Design Thinking” é um conjunto de princípios e ferramentas que têm como objetivo substituir a depen-
dência da inspiração de gênios isolados pelo trabalho de uma equipe. Ao aplicar o Design Thinking, uma
equipe multidisciplinar é capaz de desenvolver, de maneira sistemática, soluções inovadoras e efetivas.

1 - Inspiração 2 - Ideação 3 - Implementação


No início do processo de Design Na medida em que o processo As diversas ideias geradas são
Thinking, tem-se um contexto prossegue, o conhecimento se então combinadas em um conceito
desafiador e uma folha em branco. acumula e a equipe gera os de solução. Esse conceito é então
O objetivo aqui é manter a mente primeiros insights, que são refinado por meio de diversos
aberta, e adentar a realidade do trabalhados na forma de ideais que protótipos, cada vez mais robustos até
público alvo e busca inspiração. poderão compor a solução. o desenvolvimento da solução final.

Figura 5 - O processo de Design Thinking

A imersão na realidade do usuário é central nas mais elaborado. Na etapa da implementação, as


três etapas do processo de Design Thinking ideias geradas são transformadas em protótipos
(Figura 5). Na etapa de inspiração, a equipe busca a serem refinados através da obtenção do fee-
imergir na realidade do público alvo por meio de dback dos usuários finais. Em cada uma dessas
entrevistas, observações ou mesmo vivendo o três etapas, diferentes ferramentas podem ser
seu dia-a-dia. A segunda etapa – ideação – é utilizadas de acordo com o contexto no qual se
marcada pela geração de insights e ideias, com está atuando.
foco na criação de possibilidades de solução para
os problemas encontrados. A ideação é catalisada O foco dado ao usuário final faz com que o De-
pelo princípio do “pensar com as mãos”, segun- sign Thinking seja particularmente interessante
do o qual qualquer ideia ou proposta deve ser quando se deseja criar experiências memoráveis
materializada rapidamente, seja por meio de um junto ao cliente.
simples post-it, seja na forma de um desenho

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• Financeira: Qual o mecanismo de monetização
Business Model Canvas
que permite à organização obter um fluxo de re-
ceitas superior aos seus custos operacionais;
Um modelo de negócio pode ser entendido como
uma descrição geral da lógica de funcionamento
O Business Model Canvas (Figura 6) é uma fer-
de um negócio, integrando três grandes perspec-
ramenta que vem ganhando enorme notoriedade
tivas:
ao facilitar a discussão sobre como funciona ou
• Cliente: Qual é a necessidade do cliente e como
poderia funcionar um modelo de negócio.
ela é satisfeita por um produto ou serviço;

No Canvas, os três elementos centrais do mode-


• Operação: Como a organização opera para pro-
lo de negócio são desdobrados nos seguintes 9
duzir e entregar o produto ou serviço ao cliente;
blocos:

Figura 6 - Elementos do Business Model Canvas (Fonte: Osterwalder e Pigneur, 2010)

1. Segmentos de cliente: Define os diferentes segmento de cliente específico;


grupos de pessoas ou organizações que o novo
empreendimento visa alcançar ou servir; 3. Canais: Descreve como o negócio se comuni-
ca e alcança os seus segmentos de cliente para
2. Proposta de Valor: Descreve o conjunto de entregar a sua proposta de valor;
produtos e serviços que geram valor para um

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4. Relacionamento com o cliente: Define o tipo de novas ferramentas ao toolkit tradicionalmente
relacionamento que o negócio irá estabelecer com usado na gestão de processos. Em outras pala-
os seus segmentos de cliente; vras, para ajudar a organização a inovar o profis-
sional de BPM deve inovar nos métodos que ele
5. Fluxos de receita: Representa o dinheiro que o mesmo aplica em seu trabalho.
negócio irá receber de cada um dos seus segmen-
tos de cliente; A aplicação das ferramentas apresentadas nesse
artigo pode ser um primeiro e importantíssimo
6. Recursos chave: Descreve os ativos de maior passo nessa direção. No entanto, este com cer-
importância para fazer o modelo de negócio fun- teza não será o passo final: ao que tudo indica, a
cionar; renovação dos métodos de gestão de processos
irão se tornar um imperativo tão constante para
7. Atividades chave: Descreve as atividades mais os profissionais de BPM quanto é a inovação para
importantes que deverão ser realizadas pelo ne- as organizações onde atuam.
gócio para permitir o seu funcionamento;
Para saber mais:
8. Parcerias chave: Representa as redes de
fornecedores e parceiros necessários para fazer o Veja uma apresentação sobre como construir
modelo de negócio funcionar; modelos de negócio com o Business Model
Canvas em: http://www.slideshare.net/elogroup/
9. Estrutura de custo: Detalha todos os custos in- palestra-sobre-modelo-de-negcios-canvas
corridos para operacionalizar o modelo de negócio
Mais informações sobre os quatro estágios de
O uso mais comum do Business Model Canvas é desenvolvimento da economia, consulte: Pine,
a impressão dos 9 blocos em uma grande folha Joseph, e James Gilmore. 1998. “The Experience
de papel para a realização de uma reunião de Economy”. HARVARD BUSINESS REVIEW 76 (10)
discussão. Nessa reunião, os participantes usam (novembro): 176.
post-its para representar possíveis componentes
de cada um dos nove elementos do modelo de ne- Mais informações a respeito do Business Model
gócio em discussão. Canvas, consulte: Osterwalder, Alexander, Yves
Pigneur, e Tim Clark. 2010. Business Model Gene-
Dessa forma, os participantes podem experi- ration: a Handbook for Visionaries, Game Chan-
mentar e discutir, em relativamente pouco tempo, gers, and Challengers. Hoboken, NJ: Wiley.
diversas possibilidades de modelo de negócio e ao cliente.
avaliar aquelas que se mostram mais promissoras.

Conclusão
O fato de que as organizações precisam inovar
“para além de processos” não significa que a inova-
ção possa ser feita “sem pensar em processos”.

Por esse motivo, o profissional de BPM pode se


tornar uma peça chave para habilitar a inovação
na organização onde atua. Para transformar esse
potencial em realidade, é necessário incorporar

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ARTIGO
Roger Tregear
Diretor de Consultoria na Leonardo Consulting

MENSURANDO PROCESSOS
Roger Tregear
Tradução de Elisa Baruffi

© 2013 Roger Tregear.

Seja trabalhando no nível individual de processos ou por toda a empresa, muitas iniciati-
vas de BPM não conseguem cumprir as promessas feitas – ou, mesmo que se cumpram
as promessas, não existe uma evidência sólida e, em um mundo cético, ocupado, o traba-
lho é desfeito. Nós pedimos para que a equipe seja envolvida na melhoria de processos.
Nós a encorajamos a inovar. Seis meses depois, os post-its caíram da parede e as me-
mórias foram esquecidas. Se as decisões estratégicas, operacionais e táticas não estão
sendo feitas com base na medição de desempenho dos processos de negócio, por que
levar a sério a gestão e melhoria de processos?

Não precisa ser assim. A descoberta e a utilização de medidas eficazes de desempenho


dos processos pode ser algo projetado, implementado e mantido para proporcionar be-
nefícios significativos para a gestão estratégica e operacional das organizações. Isso cria
um círculo virtuoso no qual a melhoria de processos, pequena e grande, está embasada
no dia a dia da operação.

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Por que mensurar o desempenho a surgir alguns murmurinhos de queixas; dois meses
depois, a prestação de serviços era um impasse virtual
dos processos? e as queixas se intensificaram. Um mês depois disso,
descobriu-se que um processo chave para realizar a
Porque, se você não o fizer, todo o seu esforço de aná- entrega do serviço não estava sendo cumprindo, ge-
lise e gestão de processos será uma perda de tempo; rando um retrabalho significativo e longos atrasos ex-
você não tem o controle total das coisas que realmente cessivos.
são importantes e prejudica a qualidade da tomada de
decisão. Uma análise mais aprofundada encontrou uma ma-
neira de reduzir esses atrasos em 95%. Após resolver
A única razão para fazermos análise, melhoria e ges- o atraso, a prestação de serviços foi retomada, mas
tão de processos é aprimorar o desempenho organiza- as lembranças do fiasco nunca serão apagadas das
cional de maneira significativa. Nenhuma organização mentes dos clientes e funcionários. Não precisava ser
tem o problema chamado “nós não temos modelos de assim. Uma análise cuidadosa das expectativas de de-
processos suficientes”. Sem mensurar, não sabemos sempenho do processo antes do lançamento e a medi-
se existe espaço para melhorias; não sabemos o que ção adequada do desempenho do processo a partir do
é significativo. lançamento teriam evitado o problema, ou detectado
anteriormente a situação, permitindo sua resolução
Processos de negócios são a maneira pela qual as em- antes que se tornasse um grande problema.
presas entregam valor a seus clientes. Tendo apenas
isso como base, o argumento para mensurar o desem-
penho dos processos é facilmente criado: “Estamos
entregando valor aos clientes de uma maneira que os
impressione e seja sustentável para nós?”. O excesso
de medidas internas – monitoramento de orçamento,
conformidade com políticas, conclusão de projetos,
gestão de pessoas etc. – diz pouco, ou nada, sobre en-
trega de valor. Desempenho de processos diz tudo.

Grandes resultados podem ser alcançados a partir de


uma gestão orientada por processos, mas toda organi-
zação tem o direito, na verdade a obrigação, de solici-
tar que os envolvidos demonstrem continuamente que
os benefícios prometidos se concretizaram.

O processo da gestão por processos também precisa


ser melhorado continuamente. Para que isso seja pos-
sível, deve haver uma avaliação regular da eficácia das
mudanças realizadas. Os profissionais de processos
não estão trabalhando apenas para fazer recomenda-
ções; o propósito deles é fazer mudanças positivas – e
provar que eles fizeram isso.

Uma organização governamental em fase de imple-


mentação de um novo serviço deu muita ênfase ao
planejamento, criou muitos modelos de processo e
participou de muitas reuniões com várias partes in-
teressadas. Luzes verdes em todos os lugares, para
que o serviço fosse lançado com toda a pompa devida.
Dois dias depois, todos ficaram aliviados com o suces-
so do lançamento; duas semanas depois começaram

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Mensurar o desempenho dos processos de negócios
proporciona vários benefícios, tais como:
Da Estratégia à Execução
• Evidência comprovada de níveis de serviço ao
cliente Organizações existem para trocar valor
• Melhor compreensão do desempenho com seus clientes e demais partes
multifuncional
interessadas – essa é a estratégia.
• Maior alinhamento das operações com a
Elas fazem isso através de uma série
estratégia
de atividades coordenadas entre
• Melhor compreensão de onde e como, os custos
são incorridos elementos funcionais da organização
• Determinação baseada em evidências das – isso é um processo. Faz sentido
prioridades de melhoria de processos otimizar esses processos para
• Detecção de tendências de desempenho satisfazer exigências dos clientes e
• Melhor compreensão do alcance da capacidade demais partes interessadas – isso
de um processo é melhoria de processos. Ter uma
• Descoberta de problemas reais e latentes visão coordenada do desempenho
• Mudança de comportamento com base no de todos os processos pelos quais a
feedback real organização troca valor, otimizando
• Melhor controle sobre os riscos que realmente seu desempenho – isso é gestão
importam.
de processos. Gestão de processos
permite que as organizações
As iniciativas de BPM que não incorporam a
concentrem-se nas atividades que
mensuração do desempenho de processos vão falhar.
Mensurar processos nem sempre é fácil, mas sempre criam os resultados de valor descritos
é possível. pela estratégia – isso é execução.

Processos, Melhoria de Processos e


Gestão de Processos
A definição, melhoria e gestão de processos de
Andes de mudar para o tema desta coluna – negócios incluem todos os recursos envolvidos na
(mensurando o desempenho dos processos de execução de cada processo. Gestão de Processos de
negócios), é importante definir o que eu quero dizer Negócios (ou BPM – Business Process Management)
com processos de negócios, melhoria de processos e não é um projeto único, ou um sistema de TI; é uma
gestão de processos. Estes são os principais conceitos filosofia de gestão.
e diferentes definições, entendimentos e abordagens
que podem ser encontrados na literatura.
Não é de cima para baixo na organização funcional,
representada pelo organograma, que o valor é
Processos de negócios são coleções de atividades acumulado, mas sim na organização como um
multifuncionais que permitem a qualquer organização todo, quando partes variadas colaboram para criar,
trocar valor com seus clientes e demais partes confrontar e trocar valor.
interessadas. Processos de negócios são os canais
por onde os valores são trocados. Por si só, as áreas
funcionais de qualquer organização não conseguem A descrição mais condizente seria dizer que os
trocar valor com clientes externos ou outra parte processos entregam valor aos clientes. No entanto,
interessada. isso é muito unilateral. O fluxo contínuo de valor em
uma única direção não é nem realista nem sustentável.

16
Eu prefiro conceituar processos de negócios como uma nova meta de 85% e, com o tempo (talvez um
facilitadores da troca de valores. Entendido isso, ou dois anos), seria “seguro” alcançar uma meta de
podemos dizer que uma organização executa sua 95%. Ele estava falando sério. Essa é uma cultura de
intenção estratégica através dos seus processos de dissimulação contínua e não de melhoria contínua.
negócio. A sequência da estratégia à execução é no box
ao lado.
A maioria das pessoas e organizações concordará
Dado o contexto descrito acima, existe realmente que melhoria contínua é uma aspiração nobre e um
alguma boa razão para não mensurarmos o objetivo prático. O outro lado da mesma moeda, no
desempenho dos nossos processos de negócio? entanto, é encontrar continuamente aspectos na
organização que não estão desempenhando da forma
Organizações orientadas por processos descobrem, como deveriam. Essa perspectiva “negativa” não é
documentam, analisam, gerenciam e melhoram sempre bem vinda. Explicar para um gerente que você
continuamente os processos de negócio dentro possivelmente encontrou maneiras mais eficazes e
de uma estrutura consistente e onipresente. Ser de baixo custo para melhorar o desempenho de um
orientada por processos significa que é mais fácil fazer processo de forma significativa nem sempre será visto
as coisas certas acontecerem de forma consistente, como uma boa notícia. O gerente, e a organização,
na hora certa, para o resultado certo, para as pessoas podem entender isso mais como uma falha do passado
certas. Para conseguir isso, você deve constantemente do que um sucesso contínuo.
mensurar seus processos.
Em algum grau, isso acontece em todas as organizações.
Quando foi a ultima vez que encontrar um problema
Cultura favorável à mensuração
de desempenho na sua organização desencadeou uma
celebração?
Uma das barreiras mais significativas para uma
governança robusta de desempenho - e posterior
O inimigo da melhoria e gestão de processos é a fobia
melhoria e gestão de processos - é a ausência de uma
de mensurar, causada pela predisposição de uma
cultura favorável à medição. Em uma organização
organização em utilizar os dados de desempenho
onde a medição é um precursor para atribuição de
para censurar ao invés de melhorar. A cultura
culpados, o instinto é medir o mínimo possível e ocultar
organizacional, das pessoas e das equipes deve ser
as medidas que são inevitáveis. Num local onde as
tal que todas as partes interessadas estão sempre
medidas de desempenho são coletadas para facilitar
procurando e encontrando, abertamente, coisas que
a depreciação, não podemos esperar entusiasmo por
precisam ser melhoradas. Uma cultura favorável à
testes e relatórios de desempenho.
mensuração da organização é um pré-requisito para o
sucesso da gestão orientada por processos.
Durante um projeto de melhoria de processo, me
deparei com uma estranha conversa com um gerente
sênior. Estávamos investigando um processo com Perspectivas do Desempenho de
um problema de satisfação de clientes e havíamos Processos
desenvolvido três ideias de melhoria que iriam
aumentar significativamente a satisfação dos clientes
Baseando-se no trabalho de Roger Burlton e Paul
com baixo custo. Neste cenário, a equipe estava
Harmon, eu defini seis perspectivas (conforme Figura
bastante satisfeita com seu trabalho. Entretanto,
1) que nos permitem mensurar o desempenho dos
nosso gerente sênior voltou atrás e encontrou razões
processos: entradas, saídas, guias, habilitadores, fluxo
pelas quais as mudanças não deveriam ser feitas. Isso
e gestão. Essas perspectivas fornecem uma visão
continuou por vários dias, com a equipe desqualificando
equilibrada do processo, levando em consideração
as seguidas objeções feitas pelo gerente. Finalmente,
tanto as necessidades dos clientes e demais partes
o gerente me chamou de lado e explicou que sua
externas interessadas, quanto as reais necessidades
verdadeira preocupação era que se aumentássemos
dos interessados internos.
a meta de satisfação de clientes de 83% para 95%,
ele seria demitido. Ele estava preparado para aceitar

17
Figura 1: As Seis Perspectivas de um Processo

As seis perspectivas dos processos estão definidas


abaixo: Gestão: governança de todos os aspectos do
processo; supervisão das outras cinco perspectivas de
Entradas: tudo que entre em um processo e é desempenho de um processo.
transformado em saída.
Ao pensarmos em entradas, saídas, guias e
Saídas: os resultados da execução do processo – o habilitadores, tratamos o processo como uma ‘caixa
valor entregue pelo processo. preta’. Não nos preocupamos com o que está “dentro”,
mas focamos no contexto em que o processo está
sendo trabalhado. Em seguida, transformamos o
Guias: coisas que guiam ou restringem a
processo em uma ‘caixa de vidro’ para vermos o que
transformação das entradas em saídas.
está acontecendo dentro dele, através de um fluxo
detalhado. Por fim, consideramos como todos os
Habilitadores: pessoas, tecnologias e instalações aspectos do processo estão sendo gerenciados.
utilizados para transformar entradas em saídas.
Essas seis perspectivas de processo são fundamentais
Fluxo: atividades detalhadas no âmbito do processo na determinação das medidas de desempenho de
que desenvolvem e entregam valor. processos e métodos de mensuração apropriados

18
e realmente críticos. Podemos até não concluir que
Quem se preocupa?
as medidas são necessárias em cada uma dessas
perspectivas, mas a mensuração final virá de uma, ou
mais, dessas perspectivas. As partes interessadas (stakesholders) são
fundamentais para a medição e melhoria dos processos.
São elas que determinam o bom desempenho e
Definindo Medidas de Desempenho se o valor está sendo entregue ou não. Processos
de Processos “desempenham” para as partes interessadas, sendo
assim as aspirações de desempenho devem ser seu
ponto de partida.
Os tópicos a seguir discorrem sobre as questões-
chave para a definição de medidas de desempenho
de processos. Oito passos, que são mais ou menos Precisamos entender claramente quem são as partes
sequenciais, são definidos para assegurar que as interessadas no processo e o que elas esperam. Essa
melhores medidas sejam descobertas – incluindo não é uma lista simples e vaga contendo os tipos de
a descoberta do “melhor” meio para o processo em interessados, mas sim uma análise detalhada de todas
questão. Essa abordagem é definida em mais detalhe as partes interessadas e a sua relação com o processo.
na metodologia ProMeasure¹. Muitos estarão envolvidos profundamente com a
definição das medidas de desempenho dos processos,
facilitadas por essa metodologia.
Quais processos?
Nem todas as partes interessadas são iguais. Muitas
Pode parecer trivial dizer que o primeiro passo é vezes é difícil satisfazer as aspirações das partes
identificar o processo. Claro que sabemos qual processo interessadas; pode até haver requisitos diametralmente
estamos analisando, não? Algumas vezes não é tão opostos. Algumas partes interessadas são mais
fácil assim. Em qualquer caso, devemos ter certeza engajadas com o processo do que outras; algumas têm
que todos os envolvidos estão compartilhando do mais poder e influência sobre o projeto e operação do
mesmo entendimento sobre as barreiras do processo processo. Em discussão com as partes interessadas,
em questão, pois isso terá um impacto significativo é útil ter uma abordagem top-down (de cima para
nas medidas de desempenho que forem atribuídas. baixo) para determinar as medidas de desempenho
de um processo. A discussão sobre quais tipos de
Obviamente, precisamos entender o que o processo em desempenho são mais importantes identificará os
geral está tentando alcançar. Sempre que descobrirmos temas principais de medição e um resultado importante
um processo que não está, direta ou indiretamente, dessas discussões é a priorização antecipada do que é
contribuindo com o alcance dos objetivos estratégicos mais importante. Nós não podemos, e não queremos,
da organização, devemos eliminá-lo – ou, pelo menos, mensurar tudo.
estudá-lo mais cuidadosamente para entender o que
está fazendo para gerar valor (se é que está fazendo
Quais medidas?
algo para tal).

Começamos por criar um entendimento compartilhado


Precisamos identificar o processo e o seu propósito.
do processo e concordar com seu propósito e limites.
Esses passos não podem ser demorados,
Em seguida, desenvolvemos um entendimento
especialmente para um processo que já é bem
profundo sobre as partes interessadas do processo e
entendido. Negligenciar essa base sólida, entretanto,
suas necessidades de desempenho. Depois, chegamos
tornará impossível a determinação do melhor conjunto
a um consenso sobre essa base e iniciamos uma longa
de medidas de desempenho.
lista de potenciais medidas.
As possíveis medidas de um processo podem ser

1 ProMeasure é uma metodologia abrangente para a descoberta e documentação de medidas de desempenho de processos, desenvolvido
pelo autor e consultor da Leonardo Consulting. Mais informações, incluindo um curso de formação de três dias, Medição dos Processos,
está disponível a pedido.

19
coletadas e classificadas pelas principais partes caráter prático, integridade, clareza e adequação ao
interessadas de acordo com as seis perspectivas propósito. Tenha em mente que as medidas podem
de desempenho identificadas anteriormente. Neste mudar no decorrer do tempo. O que é apropriado para
estágio, é muito importante capturar o maior número medir hoje – talvez imediatamente após a mudança –
possível de medidas sensatas. Esta lista pode ser pode não ser a melhor maneira de medir passados 12
racionalizada posteriormente. Por enquanto, queremos meses.
capturar toda medida que pode ser importante para
as partes interessadas determinadas se sentirem, se
Em última análise, devemos nos perguntar se temos
possível, satisfeitas.
um conjunto viável contendo um número mínimo de
importantes medidas do desempenho do processo
Uma sequência impressionante de líderes do atual, no qual temos um acordo dos principais
pensamento avançou antes de nós no entendimento interessados, para os quais temos um método de
do que é realmente importante sobre mensuração mensuração que conseguirá reunir de forma rentável,
de desempenho – Pareto, Juran, Deming, Ishikawa dados suficientemente precisos, objetivos, contra uma
e muitos outros. A regra “80/20” de Pareto foi meta bem definida.
interpretada de uma forma mais ampla por Juran,
dando origem ao conceito “poucos vitais e muitos
triviais”. Tendo criado previamente uma longa lista de Cuidado com a Lacuna
possíveis medidas, precisamos agora racionalizá-las
e determinar quais são as poucas vitais. Essa não é Nenhum processo existe isoladamente; nenhuma
apenas uma questão de simplificação. Quanto mais medida de desempenho de processo existe
medidas atribuirmos aos nossos processos, mais isoladamente. Todo processo pode ser decomposto
dados devem ser coletados e analisados – a teoria em componentes de processos. Acontece que todo
da história infantil “Cachinhos Dourados” se aplica: processo faz parte de um nível maior – pelo menos até
não queremos nem muito pouco, nem demais, mas o o nível mais alto da arquitetura de processos. Embora
número suficiente de medidas. não possamos fazê-lo ativamente, todos os processos
em todos os níveis podem ser mensurados.
Nós só podemos racionalizar nossa longa lista de
medidas testando-as sobre redundância, importância, Por isso, em paralelo com a hierarquia dos processos,
temos a hierarquia das medidas dos processos. A
questão de análise neste momento é determinar se
existem desvios importantes entre as medidas do
processo no mesmo nível ou em níveis mais elevados.
As principais questões a serem abordadas são:

• O conjunto de medidas dos processos está alinhado


com o nível de macro processo?
• Existem lacunas no conjunto de medidas de
processos comparando com o nível de macro
processo?

Muitas vezes nos deparamos com exemplos onde


indicadores de desempenho pessoais estão seriamente
desalinhados. Um colaborador com um objetivo central
de um processo para aprimorar o serviço ao cliente
e reduzir tempo de execução pode estar em conflito
com um supervisor que possui como meta definida a
redução de custo puramente funcional.

20
Acabe com as perdas
Imagine um serviço de lavanderia onde os clientes
trazem suas roupas para lavar ou realizar uma limpeza
Pontos de perda de desempenho são locais e a seco para entrega no mesmo dia. Onde poderia
circunstâncias em um processo onde os problemas acontecer algum problema? Existe alguma medida
costumam se desenvolver. Não existe uma certeza que poderia atuar como alerta prévio de potenciais
sobre isso em um processo em particular ou problemas? A origem de muitos problemas pode ser
circunstância única, mas a experiência mostra que encontrada no balcão. Os funcionários devem apenas
qualquer processo pode ter problemas em: receber mais e mais roupas, felizes que o “negócio
está bom hoje”? Talvez seja útil continuar medindo
• Passagens de bastão (handoffs) a capacidade de forma a prever o ponto no qual não
é mais possível prometer a entrega no mesmo dia.
• Pontos de fila
O processo de lavar roupas tem uma capacidade
• Lugares que geram retrabalho limitada. Se os clientes estão pensando “vou buscar
• Pontos de conexão com clientes minha roupa as 17h17min” e o funcionário do balcão
• Pontos de complexidade estiver pensando “farei o meu melhor”, provavelmente
• Atividades de tempo crítico isso não terminará nada bem.

Tendo identificado os pontos de perda de desempenho, Métodos de Mensuração


comprovados ou em potencial, é importante
considerar se as potenciais medidas dos processos
Ao atribuirmos medidas para os nossos processos,
conseguiriam, de uma forma eficaz, alertar tais perdas.
precisamos ter o cuidado para que, para cada medida,
Se imaginarmos onde os problemas de desempenho
exista um método efetivo de mensuração. É muito fácil
podem ocorrer, temos as medidas que irão nos avisar
criar medidas onde a coleta de dados seja muito difícil,
previamente?

21
com custo elevado ou simplesmente impraticável.
De onde o dado virá? Quem será o responsável? Já
existe um sistema de coleta ou teremos que criar
um novo para coletar e analisar os dados? Nossas
medidas estão qualificadas o suficiente para permitir
uma coleta de dados eficaz? Se dissermos que nosso
serviço de lavanderia será “o melhor da cidade”, o que
queremos com isso? Talvez desejemos que “98% dos
nossos clientes nos avaliem com uma pontuação de
no mínimo 8.5, em uma escala de 0 a 10”. De onde os
dados virão? Quanto? Quantas vezes? A qual custo?

Para cada processo, cujo desempenho é mensurado de


forma ativa, é necessário um método de mensuração
prático, confiável, preciso (o suficiente) e com uma
relação custo-benefício favorável para cada medida.

À prova de erros

Um processo que foi concebido “à prova de erros”


não precisa ser mensurado. Se um processo não
puder falhar em atingir suas metas de desempenho,
não precisaremos mensurar nada. Infelizmente, essa
circunstância não é encontrada neste mundo.

Entretanto, existem algumas coisas que podemos


fazer para a maioria dos processos que reduzem a
probabilidade de um desempenho ruim. Na medida
em que pudermos tornar um processo à prova de
erros, mesmo que de forma pequena, podemos
remover a necessidade de mensurar alguns aspectos
do desempenho. Não podemos mensurar um bom
desempenho dentro de um processo. A mensuração,
por si só, é um desperdício, por isso devemos nos
preocupar em remover a necessidade de mensuração.

Por exemplo, podemos desenvolver um melhor


entendimento e habilidade de mensurar, e prever,
capacidade de utilização de um processo, de forma a
evitar uma demanda excessiva. Respostas automáticas
podem ser desencadeadas quando um processo se
aproxima do limite de sua capacidade de execução,
para além do qual os problemas de desempenho
seriam inevitáveis. Outros softwares ou mecanismos
de controle como lembretes, limites de aprovação,
checklists, telas de informação pop-up – podem ajudar
a reduzir a possibilidade de erros.

22
Registre medidas Falhas Comuns

A importância do passo final é frequentemente Muitas organizações não monitoram de forma eficaz o
subestimada. Existe uma necessidade de coletar desempenho de um processo. Muitas não fazem nada.
todas as análises de forma a deixá-las disponíveis Se você não está mensurando o desempenho do seu
para todos que estudam, gerenciam e executam o processo, você não está gerenciando-o e não consegue
processo. Alguma forma de registro permanente e saber se ele está melhorando. Existem muitas barreiras
de fácil acesso deve ser criada em um formulário que impedem que a mensuração do processo seja
padronizado. Esses dados devem ser mantidos em um eficaz. Algumas estão descritas abaixo juntamente
formulário simples de tabulação, ou ser parte de um com os encaminhamentos necessários. A abordagem
repositório associado a uma ferramenta apropriada descrita acima fornece esses encaminhamentos.
de modelagem. O importante é que seja completo,
atualizado e disponibilizado.

Barreiras Encaminhamentos
• Usar uma metodologia consistente para a definição e gerenciamento das medidas
Medidas • Evitar ter muitas, ou poucas, medidas
inapropriadas • Controlar custos com a coleta, análise e publicação de dados
• Conectar o desempenho do processo com a gestão estratégica e operacional
• Evitar um foco de mensuração do processo que seja muito limitado

• Determinar as medidas de mensuração do processo cuidadosamente para refletir


Desconexão do a real necessidade das partes interessadas
valor • Revisar regularmente as medidas estabelecidas para assegurar que elas
continuem a refletir as necessidades das partes interessadas
• Criar medidas para o processo que permitam uma tomada de decisão gerencial

• Assegurar que os papéis/pessoas determinados sejam responsáveis por re-


Falta de sponder pelo desempenho dos dados (ou seja, manter um sistema eficaz de
prestação de propriedade do processo)
contas • Publicar relatórios periódicos sobre o desempenho do processo (e sempre publi-
car independentemente se o resultado foi bom, ruim ou indiferente)

• Assegurar que as medidas, metas e métodos de mensuração do processo sejam


Falta de bem compreendidos
confiança em • Definir claramente e publicar os detalhes do “processo de mensuração do
medidas de processo”
desempenho • Testar regularmente a confiabilidade das fontes de dados
• Continuar a consultar as partes interessadas

• Desenvolver uma cultura favorável à mensuração


Medo da • Focar no desempenho do processo e não das pessoas
mensuração • Dar resposta positiva para a descoberta de problemas
• Publicar “histórias de sucesso” em torno das melhorias geradas a partir da men-
suração do desempenho do processo

23
Conclusão é o tendão de Aquiles de muitas iniciativas para
desenvolver uma visão orientada por processos nas
organizações, quando deveria ser a pedra angular.
Melhorar o desempenho organizacional significa
aumentar a troca de valor com o cliente e demais
partes interessadas. Uma gestão orientada por
processos oferece a possibilidade de uma melhora
significativa, sustentável e controlada nas áreas que
realmente importam.
Sobre o autor

Roger Treager é Diretor de Consultoria


As organizações, e as pessoas que nela trabalham,
na Leonardo Consulting (www.leonardo.
devem abraçar a busca pela melhoria contínua que
com.au). É também Associado da ES
só é possível a partir de um baixo desempenho
Consulting nos Emirados Árabes e
mensurado. A melhoria e gestão de processos exigem
instrutor credenciado e colunista do
que determinemos metas de desempenho, coletemos
BPTrends (www.bptrends.com). Oferece
dados e tomemos decisões a partir dos resultados de
consultoria, ensina e escreve sobre Gestão
desempenho do processo.
de Processos de Negócios (BPM – Business
Process Management) como uma filosofia
BPM eficaz é baseado na consciência permanente de gestão. Maiores informações estão
sobre as lacunas de desempenho de todos os processos disponíveis em www.rogertregear.com.
chave, e estabelecimento de planos contínuos para Ele também pode ser contatado através do
acabar com essas lacunas de forma rentável, em linha e-mail r.tregear@leonardo.com.au.
com os objetivos estratégicos.

A mensuração do desempenho dos processos

24
ENTREVISTA

ROGER TREGEAR
Roger Treager é Diretor de Consultoria na Leonardo Consulting (www.leonardo.com.au). É também Associado da
ES Consulting nos Emirados Árabes e instrutor credenciado e colunista do BPTrends (www.bptrends.com).

Desafios para se mensurar processos

EloGroup: No seu artigo, você apresentou a im- as coisas erradas e não responder às medidas.
Processos entregam valor aos clientes e demais par-
portância de mensuramos processos. Quais são os
tes interessadas. Para ser efetiva, a mensuração pre-
principais erros que as organizações cometem ao de-
cisa medir a entrega desse valor. É muito comum es-
senvolver medidas de desempenho de processos?
colhermos medidas porque os dados estão disponíveis
ou porque são muito fáceis de se coletar, ou a medida
Roger Tregear : Há tantas maneiras de fazer não é controversa. Precisamos mensurar a entrega de
isso errado! Eu não quero dizer que é tão difícil a ponto valor interna e externa. Qualquer outra coisa é somen-
de impedir que as organizações tentem criar medidas. te uma distração.
Com cuidado (e com bons processos) isso pode ser fei-
to de forma relativamente fácil. Depois de criar um conjunto de medidas de desempe-
O grande erro é não ter nenhum tipo de medida. Nes- nho dos processos, é necessário criar mecanismos de
tas circunstâncias, a organização não faz gestão de coleta, comparação e comunicação do desempenho
processos, e não consegue saber se os processos es- desses dados, e fazer algo com esses resultados. É
tão melhorando ou não. necessário responder ativamente a esses resultados,
Assumindo que não existe nenhum tipo de mensu- e não apenas comunicar o desempenho do processo
ração de desempenho dos processos, existem duas mensurado.
grandes áreas que podem gerar problemas: mensurar

25
E: Você fez um comparativo com a teoria
da história infantil “Cachinhos Dourados”:
não queremos pouco, nem muito, apenas o
número certo de medidas. Como é possível
saber se a quantidade de medidas que esta-
belecemos é a quantidade certa para mensu-
rarmos adequadamente os processos?

R: Infelizmente, não existe uma maneira


de saber, com certeza, se temos ou não a
quantidade certa de medidas, ou mesmo as
medidas certas. Entretanto, se você traba-
lhar através dessas questões de uma forma
sistemática, concentrando no valor requerido
pelos clientes e demais partes interessadas,
você acabará tendo as medidas “corretas”.
Qualquer conjunto de medidas que são deri-
vadas de forma minuciosa, bem centrada, de
uma visão orientada por processos, será um
bom conjunto. Certamente, bem melhor do
que não ter nenhuma medida.

E: Você também apresentou a importân-


cia de uma cultura favorável à mensuração.
Como é possível implementar essa cultura
favorável em organizações que não possuem
nenhuma cultura de mensuração de proces-
sos? Como fazer com que ela seja alinhada
com a estratégia da organização?

R: Vamos começar pensando no inverso do


que seria uma cultura favorável à mensura-
ção. Neste tipo de cultura, as medidas de de-
sempenho são usadas para criticar e censu-
rar as pessoas. A intenção, mesmo que não
dita, é procurar pelas pessoas que não estão
tendo um bom desempenho e penalizá-las. A
reação razoável em um cenário como este é
ter pessoas, em todos os níveis, mensuran-
do o menos possível, concentrando em me-
tas muito fáceis, e camuflando os resultados
ruins de desempenho, o quanto puderem.

Claramente, isso não é saudável para as pes-


soas, equipes e para toda a organização. Para
alcançar o oposto – um estado favorável à
mensuração – é necessário que as organiza-
ções e, em particular, os líderes, promovam
os aspectos positivos de mensurar proces-

26
sos. Medir e encontrar falhas em processos, e não em entregar valor aos clientes e demais partes interessa-
pessoas. Celebrar as melhorias dos processos. Elogiar das. Todo mundo enxerga seu papel contribuindo no
os esforços bem intencionados para melhorar os pro- processo que resulta na entrega de valor.
cessos, mesmo que eles não tenham sucesso. Iniciar
uma “caça ao tesouro” onde todos procuram oportuni- E: E o que as organizações podem fazer para mudar
dades de realmente melhorar continuamente os pro- este cenário?
cessos.

R: O requisito mais importante é desenvolver, e usar


E: Na sua coluna no BPTrends, publicada em Abril de ativamente, a visão de uma organização como uma
2013, você disse que “estamos muito longe de termos hierarquia coerente dos processos de negócio. Eu cha-
uma mentalidade eficaz de processos em muitas orga- mo isso de Arquitetura de Processos, mas indepen-
nizações”. Por quê? dente do que você chama, isso é “visão por processos”.
Posteriormente, isso é usado para entender os pro-
R: Porque as organizações são projetadas, financia- cessos, priorizar investimento de melhorias e geren-
das e gerenciadas em um sentido funcional e o arte- ciar os processos de forma interfuncional. Junto com
fato chave é o organograma organizacional. Estamos uma arquitetura de processos está uma hierarquia das
focados na gestão de entidades representadas pe- medidas de desempenho dos processos.
las caixas da estrutura organizacional, mas nenhuma
dessas caixas, por si só, entregam valor aos clientes
externos. Criamos, acumulamos e entregamos valor
aos clientes e demais partes interessadas trabalhando
através do organograma.

O valor é criado e entregue através de uma colabo-


ração entre as entidades funcionais, por exemplo, as
caixas do organograma. No livro de Geary Rummler e
Alan Brache “Improving Performance: How to Manage
the White Space in the Organization Chart”, os autores
descrevem isso sugestivamente como “gerenciando o es-
paço em branco na estrutura organizacional”.

Precisamos tanto da visão funcional quanto da visão


por processos, mas acabamos perdendo a segunda
visão porque a estrutura monetária e de informação
acabam sempre em primeiro plano. Executivos senio-
res precisam tomar um passo à frente das questões
funcionais do dia a dia e repensar suas organizações
como fluxos de criação e entrega de valor.

E: Você acredita que a ausência de uma mentalidade


eficaz de processos pode impedir as organizações de
desenvolver as medidas corretas para mensuração de
seus processos?

R: Sem uma mentalidade de processos, não é possí-


vel nem ver a necessidade de se ter medidas eficazes
de processos. Por “mentalidade de processos” eu que-
ro dizer que todas as pessoas enxergam a organização
como um conjunto de processos de negócio, executa-
dos pelas entidades funcionais para criar, acumular e

27
Dia 5 de novembro
São Paulo: Iniciativa Privada
Palestras e workshops internacionais para discussão o tema
“Alinhamento Estratégico & Tecnologias de apoio ao BPM”.

A visão de Jan Vom Brocke sobre Como Trazer BPM para o Nível Executivo e como isto impacta em sua
estratégia, escopo, governança e cultura de BPM.

A visão de Sandy Kemsley sobre Tecnologias emergentes e como elas permitem mudar a forma de
gerenciamento de negócios de processos baseada em colaboração, gestão do trabalho do conhecimento
e monitoramento inteligente.

Dias 7 e 8 de novembro
Brasília: Iniciativa Pública
Casos de organizações brasileiras, palestras e workshops internacionais com Prof. Dr. Jan
vom Brocke e Sandy Kemsley para discussão do tema “Como entregar melhores serviços
públicos para a sociedade a partir do gerenciamento de processos”.

Dia 7 de novembro:
- Apresentação do Choque de Gestão em Minas e seu impacto para os processos de trabalho
- A Construção de uma orientação integrada por processos no Ministério da Fazenda
- A Gestão da Alocação de Recursos Humanos e Orçamentários na Justiça
- A Modernização dos serviços do CNI de apoio a internacionalização de empresas
- A implantação de uma estrutura de melhoria continua na Eletrobrás
- O amadurecimento e expansão do escritório de processos da ANAC e seus primeiros passos rumo a
atuação de processos

28
Dia 8 de novembro:
A visão de Jan Vom Brocke sobre Como Trazer BPM para a Alta Administração e como isto impacta em
sua estratégia, escopo, governança e cultura de BPM

A visão de Sandy Kemsley sobre Reestruturação de Serviços Públicos baseada em colaboração, gestão
do trabalho do conhecimento e monitoramento ininteligente

Palestrantes Internacionais

Jan Vom Brocke


Jan Vom Brocke é professor e escritor, Presidente do Instituto Hilti Chair
of Business Process Management, na Universidade de Liechtenstein;
diretor do Instituto de Sistemas de Informação e Presidente do AIS
(Association for Information System) – Capítulo de Liechtenstein. Jan possui
mais de 15 anos de experiência em TI e projetos de BPM e publicou mais de
200 artigos referendados em conferências internacionais e revistas
acadêmicas, incluindo o Business Process Management Journal, Business
& Information System Engineering e MIS Quartely.

Sandy Kemsley
Sandy Kemley é uma consultora independente que participa anualmente
como palestrante, professora ou convidada de mais de 50 eventos e cursos
de BPM ao redor do mundo! Nos últimos 3 anos, Sandy concentrou sua pes-
quisa na temática de social BPM com o objetivo de entender como evoluir para
uma aplicação mais colaborativa em BPM a partir de processos mais inteligen-
tes.

29
Alberto Campos, Gisele
Brandão, Thaise Caetano,

A Gestão por Processos


Ana Karina Guimarães e
Andréa Miranda.

na Localiza pelo olhar da


alta administração
Com 17 projetos de processos em andamento atu- para conseguir dar sustentação e representação grá-
almente e oferendo suporte em outros 37 projetos fica a gestão por processos, principalmente para sair
internos, o Escritório de Processos da Localiza está do “tecniquês” e trazer o usuário muito mais próximo
com suas atividades a todo vapor. Isso é mais do que da execução dos processos. Eles encontraram nas fer-
um orgulho para Alberto Campos, CIO da Localiza, e ramentas ágeis a oportunidade de concretizar essa
Andréa Miranda, Coordenadora do Escritório de Pro- necessidade e, dessa forma, foi possível iniciar uma
cessos. comunicação com as pessoas através dos processos
representados graficamente.
Para alcançarem este cenário favorável à gestão por
processos na Localiza, o trabalho tem sido intenso O segundo passo foi sensibilizar as pessoas da organi-
nos últimos quatro anos. Em 2008, quando Alberto zação com relação aos conceitos de gestão por proces-
Campos apresentou a proposta do Escritório de Pro- sos, buscando modificar a visão interna de desenvolvi-
cessos ao CEO da Localiza, ele sabia que apenas o seu mento de sistemas para desenvolvimento de soluções.
background em processos não seria suficiente: ele Eles sabiam que, para isso, precisavam de apoio das
precisava mostrar a importância e o valor da gestão áreas da organização. Buscaram, então, a parceria dos
de processos e como isso poderia melhorar os resulta- Analistas de Processos de Negócios (APN) da Locali-
dos da Localiza. O primeiro passo foi trabalhar, junto à za. Os APN são pessoas que atuam diretamente nos
Andréa Miranda, na escolha das ferramentas corretas processos de negócios, entendem da metodologia de

30
processos e conseguem disseminá-las dentro das áre- entre as áreas da organização, através de planos de
as, captam a demanda, conseguem enxerga-la mais no ação. É através desses planos que se iniciam os tra-
contexto da empresa e depois transformam isso em balhos do Escritório de Processos, que ajustam os pla-
requisitos para desenvolvimento de sistemas. Esses nos de ação dentro da cadeia de valor da organização,
analistas foram treinados e capacitados nas meto- determinando quais são as iniciativas, quais estraté-
dologias e ferramentas de análise de processos, e se gias estão sendo alavancadas por essas iniciativas e
tornaram um elo essencial do Escritório de Processos. priorizando aquelas que estão de acordo com as ne-
O trabalho conjunto do Escritório de Processos com os cessidades atuais da organização. A partir do desdo-
APNs possibilitou identificar várias oportunidades para bramento da estratégia para processos, estruturou-se
se trabalhar a otimização de processos e de sistemas, um roadmap para a atuação do Escritório, bem como
aumentando as demandas do escritório e fazendo-o metas alinhadas entre os processos e a estratégia da
crescer. Hoje, o Escritório de Processos da Localiza organização.
possui mais três analistas de Processos, Ana Karina
Guimarães, Gisele Brandão e Thaise Caetano, traba- Para a priorização dos projetos de processos, além
lhando juntamente com a Andréa, disseminando ainda dos critérios desdobrados do planejamento estraté-
mais os conceitos da Gestão por Processos e contri- gico, existe uma análise mais criteriosa realizada en-
buindo para a execução dos projetos de processos, tre Alberto Campos e Andréa Miranda. Para que seja
sempre alinhado à estratégia da organização. priorizado, o projeto deve ter um benefício real, estar
Outro fator importantíssimo é com relação aos trei- alinhado com o direcionamento estratégico da Localiza
namentos: com os APNs foi possível levar o conceito e não sofrer modificações nos 3-5 anos subsequentes.
da Gestão por Processos para dentro das áreas da Lo- Isso permite direcionar os trabalho para realmente fo-
caliza, permitindo um maior treinamento das pessoas car nos projetos que trarão resultados positivos a lon-
com relação à visão por processos e um suporte maior go prazo e tirar a visão de trabalhar processos apenas
na execução dos projetos de processo. para “apagar incêndios”.

No que tange a implantação do Roadmap, a empresa


ainda está na metade do caminho, mas já foi possí-
vel mostrar para a alta administração a importância
da Gestão por Processos nos resultados da empresa,
principalmente pelo impacto positivo na lucratividade
e na satisfação de seus clientes. Entre os principais
exemplos de projetos de sucesso estão: a implanta-
ção de um CRM que permitiu melhorar o atendimen-
to, a percepção e conhecimento dos clientes, em uma
visão 360 graus; e a revisão do processo de Abertura
de Agências e Filiais, que reduziu em 80% o tempo de
abertura de agências, reduziu custos internos e defi-
niu bem os papeis e responsabilidades no processo e
a comunicação na organização (e sem necessidade de
nenhuma automatização deste processo). Isso trouxe
o reconhecimento da alta administração e visibilidade
Figura 2. Coordenadora do Escritório de Processos: interna sobre a importância da Gestão por Processos,
Andréa Miranda e as Analistas de Processo: Gisele bem como iniciou uma mudança na visão departa-
Brandão, Thaise Caetano, Ana Karina Guimarães mental, muito comum nas organizações, para uma
visão orientada por processos. E mais, faz com que
o trabalho do escritório esteja sempre com o foco de
O Escritório de Processos sustenta um dos principais melhorar os processos internos para atingir o cliente
pilares da companhia: a busca pela excelência. A visão final, agregando valor para ele. Dessa forma, é possível
por processos está desdobrada desde a estratégia da fortalecer ainda mais o conceito de marca premium da
organização: a alta administração define quais são as Localiza, uma empresa focada no atendimento excep-
diretrizes estratégicas, as quais são compartilhadas cional ao cliente.

31
É fato que resultados positivos geram credibilidade, instância em que está, quantas instâncias irá receber
que gera oportunidades, que geram novos projetos, para trabalhar e quantas estão sendo geradas pela
que gerarão novos resultados. É uma espiral ascen- frente, resultando no conceito “push and pull” (empur-
dente que o Escritório de Processos tem trabalhado ra – puxa). Isso faz com que todos busquem a melho-
intensamente para conseguir expandir-se ainda mais. ria contínua, pois é fácil saber que existe um gargalo
Vários são os desafios para o Escritório de Processos: a à frente, e que, para minimizar a perda, é necessário
continuação deste Roadmap envolve uma dependên- rever o processo. Isso é trabalhado junto aos indica-
cia de tecnologia muito grande sendo necessário um dores operacionais, que permitem ao usuário olhar o
cuidado maior na sua implantação, pois ainda não foi processo, a meta do indicador, se a meta está para ser
possível conseguir uma solução tecnológica completa, alcançada ou não, e se não estiver, ele volta para o pro-
do jeito que é desejada. cesso para verificar onde ele precisa melhorar para al-
cançar aquele indicador. É um desdobramento de toda
Atualmente, o escritório trabalha com um framework a estratégia até a operação, mas 100% controlado por
SPOC, que traz para o contexto de processos, sistemas indicadores online.
que são muito verticalizados. Esse framework tem o
conceito de centralizar tudo, todo o cockpit, todas as Para o futuro, o foco é obter um sistema que permita
telas do usuário que, com três cliques, consegue ve- analisar e priorizar os processos de forma automática:
rificar se ele atingiu o objetivo final ou não. Isso ge- é ter uma demanda da área usuária, pegar este proces-
rou vários benefícios: o usuário vê o processo, ele vê a so, inserir em um simulador para ver o quanto custará
o processo (seja em tempo, pessoas, custo, etc.) esti-
mando-se a sua otimização e inserindo novamente no
sistema para saber quanto irá custar. Espera-se, as-
sim, fazer um comparativo com real entendimento do
valor que eles agregarão para a empresa e aos clientes.

Alberto, Andréa e toda a equipe do Escritório


de processos comemoram os resultados
alcançados, principalmente porque as
implantações estão sendo de muito sucesso,
dentro do prazo, escopo e custo que se
esperava. E, de acordo com a equipe, não
existe uma única fórmula para explicar por
que que está acontecendo isso.

São diversos fatores que impactam neste


sucesso, mas com certeza, a disseminação
da importância da gestão por processos na
organização e o alinhamento de conceitos,
tem uma participação especial neste
resultado.

Hoje, é possível fazer este estudo, mas acaba sendo


uma especulação dos resultados, uma noção apenas,
que muitas vezes pode não gerar os resultados que re-
almente eram esperados.

32
Outro desafio também precisa ser vencido: o senso
de urgência estabelecido pelas áreas demandantes de
Sobre a Localiza projetos de processos.

Muito pela maturidade da organização, ainda com re-


lação a processos, algumas áreas já apresentam uma
abordagem de processos bastante desenvolvida in-
ternamente, outras ainda estão começando. O que
acontece é que cada solicitação sempre vêm com uma
necessidade muito urgente, normalmente uma neces-
sidade para se modificar um sistema e não com a visão
de melhorar o processo como um todo.

O escritório tem o enfoque de trabalhar melhor esse


Com quatro décadas de atuação no mercado,
senso de urgência com as áreas demandantes, junto
ações negociadas na Bolsa de Valores de São
aos APNs para garantir que os projetos priorizados es-
Paulo (Bovespa) desde 2005, 4,7 milhões de
tejam realmente de acordo com o Roadmap estrutu-
clientes e 7.316 colaboradores, a Localiza é
rado, e, principalmente, para garantir que a empresa
a maior rede de aluguel de carros da América
chegue a um nível de maturidade avançada de proces-
do Sul: são 533 agências distribuídas em
sos em todas as áreas da organização.
370 cidades de nove países e uma frota de
117.902 carros.
É este cenário que a Localiza esperar estar nos próxi-
mos anos: uma organização estrategicamente orien-
Avaliada em 3,5 bilhões de dólares, a
tada através de seus processos, maximizando seus
Localiza opera uma plataforma de negócios
resultados e a entrega de valor aos seus clientes.
absolutamente sinérgicos: aluguel de carros
(Localiza Rent a Car), franchising de aluguel
de carros (Localiza Franchising), aluguel de
frotas (Total Fleet) e uma rede de pontos de
vendas de carros desativados da frota para
consumidores finais (Seminovos Localiza).

33
CASE
DE
SUCESSO
GESTÃO DE PROCESSOS NO SICREDI
Plinio Regis Moraes da Cunha
Coordenador de Arquitetura de Processos - Banco Cooperativo SICREDI

Rodrigo Dias Marino


Coordenador de Iniciativas de Melhoria de Processos - Banco Cooperativo SICREDI

34
A Gestão de Processos sempre foi um tema presente capacitação de líderes de processos, em diversas áre-
no Sicredi, mas nos últimos cinco anos o tema ganhou as, na metodologia e nas ferramentas institucionais de
mais força e visibilidade na organização, resultado da modelagem e revisão de processos. Esses treinamen-
criação de uma área para estruturar este assunto e tos foram desenvolvidos em formato presencial e a
conduzir iniciativas que visam à melhoria de processos. distância (EAD). Ademais, foram instituídos padrões de
qualidade a serem seguidos na modelagem de proces-
Inicialmente os esforços foram direcionados para a sos e também um processo de avaliação e garantia de
definição das bases metodológicas e seleção das fer- que estes quesitos estavam sendo atendidos.
ramentas a serem utilizadas na modelagem e na au-
tomação de processos de negócio. Também, foi o mo- Alinhamento com metas
mento da definição dos papéis e responsabilidades do
escritório de processos, item que estruturamos apoia-
estratégicas
dos no livro Estabelecendo o Escritório de Processos
A partir disso, e também com o começo da execução
de Leandro Jesus, André Macieira e Roger Tregear, e
de um novo ciclo no planejamento estratégico corpo-
também em outros frameworks disponíveis na épo-
rativo, realizou-se uma priorização de processos, com
ca. Paralelamente, algumas iniciativas de melhoria de
a consciência que não se pode fazer tudo ao mesmo
processos foram conduzidas diretamente pela equipe
tempo, a qual foi referência para definição de esco-
do escritório de processos em conjunto com os donos
po, orçamento e sequenciamento dos investimentos.
dos processos. Além do ganho de eficiência trazido por
Igualmente, teve início um período de grande cresci-
estes projetos, eles incentivaram a adesão de outras
mento na base de processos modelados e no número
áreas/produtos a dinâmica de gestão de processos.
de donos de processos envolvidos.

Modelo de atuação do escritório de Ao mesmo tempo, estabeleceu-se um framework


processos para iniciativas de melhoria de processos, de forma
a criar aceleradores e garantir uma visão abrangente
Com o intuito de ampliar as iniciativas de processos e para este tipo de ação, o qual está estruturado em três
ao mesmo tempo manter uma reduzida equipe no es- fases: Planejamento do Projeto de Melhoria; Mapea-
critório de processos, optou-se pela existência de mo- mento e Diagnóstico; e Plano de Ação, conforme de-
deladores nas áreas/donos de processos. monstrado na figura 1.
Em decorrência disso, houve um grande movimento na

MELHORIA DE PROCESSOS

Fase 1 Planejamento do Projeto de Melhoria

Classificação e Cronograma do Acompanhamento


Termo Inicial Relatório de
Priorização de Mapeamento do Planejamento
Priorização
Processos do Projeto

Fase 2 Mapeamento e Diagnóstico

Gaps e Priorização
Relatório de Gaps Definição de
Oportunidades dos Gaps e
e Oportunidades Indicadores
Oportunidades

Fase 3 Plano de Ação: Elaboração do Plano de Ação e Acompanhamento

Acompanhamento Relatório do Plano Acompanhamento


Plano de Acão de Ação e de
de Indicadores do Plano de Ação
Indicadores

Figura 2. Esquema geral de comunicação

35
Entre as iniciativas de melhoria de processos condu- dade e a estrutura dos processos existentes. Esta fase
zidas com sucesso no Sicredi, algumas resultaram em culminou com a criação de um portal e catálogo de
projetos de automação de processos com a utilização processos, com a definição de uma arquitetura de pro-
de softwares de BPMS. Além do desafio em si de criar cessos estruturada em quatro camadas e com a mate-
estas soluções utilizando estas novas tecnologias e rialização da visão do Sicredi para aumento da maturi-
fazer as devidas interações com os sistemas legados, dade de processos conforme ilustra a Figura 2- Visão
a gestão de mudanças tornou-se peça fundamental, do Sicredi para aumento da maturidade de processos.
pois foi necessário difundir uma nova forma de traba-
lho e relacionamento dos usuários com os processos. O portal de processos, disponibilizado na intranet a
todos os colaboradores do Sicredi, nasceu principal-
Arquitetura de Processos mente para possibilitar a colaboração dos usuários di-
retamente com os donos dos processos, servindo de
Recentemente, apesar da contínua evolução da gestão ferramenta para seu contínuo aprimoramento, mas
de processos no Sicredi, fez-se necessário uma fase de também com o intuito de apoiar a disseminação de
refinamento de objetivos e atualização metodológica, boas práticas em gestão de processos e na divulgação
onde, dentre outros quesitos, foi revisada a granulari- de cases de sucesso.

Figura 2- Visão do Sicredi para aumento da maturidade de processos

36
Evolução relativos aos projetos finalizados e melhor definição
do escopo de projetos com a abordagem de processos.
Outra perspectiva animadora desta integração é, atra-
Atualmente uma transição está em curso no Sicredi,
vés da vinculação com o Planejamento Estratégico e
onde os temas de Planejamento Estratégico, Gestão
com o PMO, temas que em nossa realidade já possuem
de Projetos, Gestão de Processos e Arquitetura Em-
um protocolo de acompanhamento executivo bem de-
presarial estão sendo integrados numa única Supe-
finido, criar ferramentas que aprimorem a visão que
rintendência. Desta integração, surgem boas oportu-
os executivos têm sobre os processos, facilitando na
nidades de sinergia, dentre as quais podemos elencar:
obtenção de patrocínio da alta direção para as novas
análise do impacto em processos decorrentes de pro-
iniciativas de processos.
jetos, monitoramento dos resultados em processos

PORTFÓLIO DE PROJETOS

Criação de novos Alteração de processos


processos existentes Sem impacto em processos

Gestão de Projetos integrada com Processos Gestão de Projetos

Iniciação Planejamento Execução Encerramento

Operação Monitoramento dos Indicadores de processos

Novas necessidades ou ajustes nos processos atuais

Figura 3 – Integração Processos e Projetos.

Sobre o autor Sobre o autor

Rodrigo Dias Marino, Bacharel em Adminis- Plinio Regis Moraes da Cunha, Bacharel
tração de Empresas e Análise de Sistemas e em Ciências Contábeis e pós-graduado
pós-graduado em Gestão Estratégica de TI. em Gerência de Projetos. Construiu sua
Construiu sua carreira no Sicredi, onde atua carreira no Sicredi, onde atua há 18 anos,
há 12 anos, tendo trabalhado em áreas de tendo trabalhado em áreas de TI e desde
TI e desde 2008 na área de Processos, onde 2008 na área de Processos, onde contribuiu
contribuiu na estruturação da disciplina no na estruturação da disciplina no Sicredi,
Sicredi, atualmente é responsável pelas ini- atualmente é responsável pela arquitetura de
ciativas de melhoria de processos. processos.

37
CASE
DE
SUCESSO
BPM no Governo de Minas
Gerais: Prestação de melhores
serviços para o cidadão mineiro
Vanice Cardoso Ferreira
Diretora Central de Políticas de Otimização de Processos da
Secretaria de Estado de Planejamentode Gestão de Minas Gerais

38
Desde 2003, o Governo de Minas Gerais trabalha sobre anos de 2007 a 2010, representou a consolidação
as diretrizes do Choque de Gestão, conceituado como de um novo modelo de gestão e uma verdadeira
“o conjunto integrado de políticas de gestão públicas mudança de paradigmas e de cultura na adminis-
orientadas para o desenvolvimento” (Vilhena, 2006). tração pública mineira, envolvendo esforços para
Pretende-se, a partir de tais iniciativas, superar dis- o foco nas entregas reais feitas à sociedade. “A
funções trazidas pelo modelo burocrático, centralizado premissa do Estado para Resultados é de que com
e moroso e rumar para uma nova modalidade de ge- qualidade fiscal e gestão eficiente é possível cons-
renciamento mais focada nos resultados e no atendi- truir um Estado que opera de acordo com os resul-
mento às reais demandas da sociedade. tados demandados pela sociedade e que os produz
ao menor custo” (NEVES e MELO, 2007, p.09). A
A necessidade de realizar um Choque de Gestão deri- Segunda Geração do Choque de Gestão trouxe um
vou, dentre outros fatores, da visão de futuro constru- grande arcabouço de mudança de cultura e com-
ída para o Governo de Minas durante a elaboração do petências, sustentada pela adoção da contratua-
Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI)1 lização de resultados e da lógica de pactuação de
em 2003 - projetada para 2023 e reafirmada em 2011 metas (por órgão/entidade, por equipe e individu-
para 2030 – de Tornar Minas o melhor Estado para se almente), esta última realizada por um instrumen-
viver. to denominado Acordo de Resultados.

Até o presente momento, três grandes fases comple- c. A Terceira Geração do Choque de Gestão, proje-
mentares rumo ao desenvolvimento do estado com- tada para os anos de 2011 a 2014, foi denominada
põem as fases do Choque. Gestão para Cidadania e representa um importante
e desafiador salto na gestão pública mineira. Pre-
a. A Primeira Geração, denominada Ajuste Fiscal, tende-se, nesta fase, conseguir uma maior aproxi-
ocorreu mais fortemente de 2003 a 2006. Nesta mação entre Estado e sociedade, de forma que os
fase, a principal preocupação e o direcionamento cidadãos possam auxiliar na priorização das políti-
dos esforços eram voltados para o equilíbrio das cas públicas a serem implementadas, levando-se
contas públicas mineiras. Entendeu-se fundamen- em consideração as distintas necessidades das re-
tal organizar e estruturar a situação fiscal do Esta- giões de Minas Gerais e o contexto sócio-econômi-
do para que fosse possível construir um ambiente co de cada uma delas. Tem-se por objetivo tornar
seguro que sustentasse os próximos passos do o cidadão mineiro um protagonista no desenvolvi-
Choque de Gestão. “A análise da implementação mento do Estado, e não mero expectador.
da chamada primeira geração do Choque de Ges-
tão demonstrou que o período de 2003 a 2006 Todo esse conjunto de ações colaborou para uma mu-
foi marcado pelo êxito do novo modelo de gestão dança de postura dos servidores e pela adoção de
adotado, uma vez que se disseminou a concepção práticas gerenciais importantes para o sucesso orga-
de um Estado que gasta menos com a máquina e, nizacional, como a Gestão de Projetos (já amplamente
cada vez mais, com o cidadão” (NEVES e MELO, difundida no Governo de Minas) e a Gestão de Proces-
2007, p.09). sos (que vem ganhando maior força em especial nos
últimos anos), dentre outras.
b. A segunda geração, denominada Estado para
Resultados observada principalmente entre os

1 O Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI) define a estratégia de governo de longo prazo. Fonte: Plano Minei-
ro de Desenvolvimento Integrado 2011-2030: Gestão para a Cidadania. Disponível em: http://www.planejamento.mg.gov.br/
images/documentos/pmdi/pmdi_2011_2030.pdf

39
Figura 1: O Choque de Gestão no Governo de Minas Gerais. Fonte: Elaboração própria

Como alternativa para o alcance da Visão de Futuro


Cenário Atual das iniciativas de BPM
definida para Minas Gerais, estruturou-se a ação go-
vernamental em uma perspectiva de Estado em Rede,
Diante da trajetória apresentada, atualmente o Gover-
sustentado por três pilares principais: a gestão regio-
no de MG se encontra em um contexto que envolve
nalizada, colocando-se em pauta a heterogeneidade
três elementos principais, voltados para um maior foco
do território mineiro e a necessidade de se olhar de
nas entregas para a sociedade, em conformidade com
maneira diferenciada para as diversas regiões minei-
a terceira geração do Choque de Gestão, a Gestão para
ras e suas distintas necessidades (perspectiva de que
a Cidadania.
“Minas são muitas”); a gestão transversal e interseto-
rial de políticas públicas, visando à integração e gestão
O primeiro deles é a priorização de Processos Estraté-
de políticas públicas através de redes de desenvolvi-
gicos, que culminou em 36 processos gerenciados nos
mento que perpassam diversos órgãos e entidades
órgãos e entidades e monitorados sistematicamente
governamentais (perspectiva mais sistêmica e menos
pela SEPLAG, por meio do Sistema de Gestão da Estra-
funcional); e a gestão participativa, visando primar pelo
tégica Governamental.
envolvimento da sociedade na priorização das políticas
públicas e colocando o cidadão como protagonista do
O segundo se refere ao fortalecimento setorial, repre-
desenvolvimento do Estado.
sentado em especial pela criação (a partir da Lei Dele-
gada n° 180, de 20 de janeiro de 2011) de Assessorias
Nesse contexto, mostrou-se ainda mais evidente a ne-
de Gestão Estratégia e Inovação - AGEI em cada órgão
cessidade de fortalecimento da Gestão de Processos
da Administração Direta do Poder Executivo de MG,
no governo mineiro, tendo-se em vista seu potencial
vinculadas tecnicamente à SEPLAG e com competên-
de contribuição para o entendimento, gerenciamento e
cia para responder, dentre outros temas, pela Gestão
otimização dos diversos processos do Estado (tanto de
de Processos referentes à sua organização.
suporte quanto finalísticos2), bem como para o alcance
de maior qualidade nos resultados gerados.
O terceiro fator diz respeito ao fortalecimento e apri-
moramento das metodologias de gestão e otimização

2 Os processos finalísticos ou primários são aqueles diretamente ligados aos clientes, tendo interface direta com os mesmos,
de maneira que qualquer problema no processo será percebido pelo usuário imediatamente; já os processos de suporte ou de
apoio, como o próprio nome sugere, dão suporte aos finalísticos, sendo necessários para a subsidiar a execução dos mesmos.
Nesse caso, a ocorrência de falhas não é percebida imediatamente pelo usuário, mas podem ser no decorrer do tempo caso
não sejam sanadas. (HRONEC, 1994).

40
de processos disponibilizadas pela unidade central rados” (ABPMP, 2009, p. 24). Assim, com o objetivo de
(DCPOP) para os órgãos e entidades. fomentar o gerenciamento contínuo dos processos a
DCPOP lançou também, em 2012, o Guia para Gestão
No tocante ao desenvolvimento e consolidação de me- da Rotina de Processos no Governo de Minas Gerais5.
todologias, a primeira necessidade surgiu com relação
aos Projetos de Melhoria, que são a forma como, em Ambos os guias apresentam, portanto, metodologias
geral, o tema “Gestão de Processos” é inserido nos para orientação no Governo de MG de gestores e ana-
órgãos e entidades. É principalmente por intermédio listas de processos em BPM.
dos Projetos de Melhoria que os gestores percebem
os benefícios de se conhecer, mensurar, gerenciar e Além dos elementos citados que compõem o cenário
otimizar o funcionamento de seus processos com foco atual em que a Gestão de Processos se encontra no
nas necessidades dos clientes/cidadãos. Dessa for- Governo de Minas Gerais, são adotados também, como
ma, a DCPOP lançou em 2011 o Guia para Melhoria de pilares para as iniciativas de BPM, os que seguem: o pi-
Processos no Governo de Minas Gerais3 , que traz um lar da economia refere-se a primar por processos mais
conjunto de etapas, alinhadas aos conceitos do CBOK4 eficientes, que aproveitem da melhor forma possível
a serem seguidas no desenvolvimento deste tipo de os recursos existentes; a simplificação diz respeito a
projeto. primar por procedimentos descomplicados e simples;
a inovação volta-se para a adoção de tecnologias e de
Entretanto, sabe-se que BPM envolve mais que a rea- formas inovadoras de realizar as atividades; e a padro-
lização de projetos de melhoria, e implica em um per- nização volta-se para a definição de procedimentos
manente e contínuo comprometimento organizacional padronizados que busquem garantir a uniformidade na
de gerenciar processos da organização. “Envolve uma prestação dos serviços. Todos esses pilares devem es-
continuidade, um ciclo de feedback sem fim para ga- tar alinhados ao atendimento das reais necessidades
rantir que processos de negócio organizacionais este- dos “clientes”, no caso do governo, dos cidadãos.
jam alinhados com estratégias e desempenhos espe-

Figura 2: Gestão de Processos em MG - Cenário Atual. Fonte: Elaboração Própria.

3 Disponível em: http://www.planejamento.mg.gov.br/gestao-governamental/gestao-de-processos/metodologias-de-ges-


tao
4 ABPMP. CBOK: Guia para o Gerenciamento de Processos de Negócio (BPM) - Corpo Comum de Conhecimento. Versão 2.0.
2009
5 Disponível em: http://www.planejamento.mg.gov.br/gestao-governamental/gestao-de-processos/metodologias-de-ges-
tao

41
Frente ao contexto apresentado, muitas são as difi-
culdades percebidas para uma efetiva implantação III. fortalecer os órgãos e entidades parceiros
da Gestão de Processos no Governo de Minas Gerais. para realização dos projetos de melhoria, em es-
Dentre elas, podemos citar uma cultura de gestão de pecial a partir da criação das AGEI e capacitação
processos pouco estruturada, de maneira que a “Ges- dos gestores;
tão de Processos” muitas vezes é vista pelos gestores
como mais um problema a lidar (e não como possível IV. aprimorar a maturidade dos Órgãos/Entida-
solução); a heterogeneidade dos Órgãos e Entidades, des com relação à gestão e otimização de proces-
que possuem graus de maturidade diferentes com sos por intermédio da atuação da unidade central
relação à gestão e otimização de processos; a perma- (DCPOP) considerando a heterogeneidade dos
nência de vários órgãos/entidades com elevada de- mesmos;
pendência com relação à unidade central para realiza-
ção dos projetos de melhoria, unidade esta que possui V. buscar maior comprometimento dos órgãos/
capacidade de atendimento de demandas limitada. entidades posicionando a área central como
apoio metodológico e técnico;
Além disso, percebe-se ainda muito retrabalho na exe-
cução de projetos de melhoria em processos comuns VI. primar pela manutenção dos resultados obti-
(área meio), com pouco aproveitamento de projetos e dos por meio da capacitação dos gestores e fo-
experiências anteriores, duplicação de esforços e su- mento à gestão do dia-a-dia.
butilização de lições aprendidas; pouco aprendizado e
baixa troca de experiências entre órgãos/entidades; e Alguns Resultados Alcançados
dificuldades para a manutenção dos resultados obti-
dos com os projetos de melhoria após sua implantação Apesar dos desafios postos, a Gestão de Processos
(gestão do dia-a-dia falha). vem evoluindo significativamente no Governo de Mi-
nas. As estratégias adotadas vêm contribuindo para
Por fim, as iniciativas de melhoria dos processos são que as iniciativas neste sentido se fortaleçam e abran-
vistas como responsabilidade da área central, geran- jam o maior número possível de órgãos e entidades
do, por vezes, baixo comprometimento do órgão par- parceiras.
ceiro nos projetos e na implantação de melhorias; as
demandas são atendidas sem devido tratamento de Como resultado, desde 2003, foram otimizados mais
priorização, gerando melhorias pontuais; e, como re- de 347 processos de negócio em cerca de 50 órgãos e
sultado, perde-se em abrangência, dificultando que a entidades de Minas Gerais. De forma geral, podemos
Gestão de Processos chegue “nas pontas”, onde o ser- citar como avanços derivados dessas iniciativas:
viço é efetivamente entregue ao cidadão.
I. o maior alinhamento das informações disponi-
Frente a tais desafios, o Governo de Minas Gerais (em bilizadas ao usuário nas diversas fontes;
especial por meio da DCPOP) vem adotando algumas
estratégias de atuação. Tais estratégias, em resposta II. a redução de prazos para emissão de docu-
às limitações acima, buscam: mentos;

I. desenvolver a cultura de gestão de processos III. clareza e melhor definição de atribuições en-
por meio da apresentação de resultados já alcan- tre as unidades dos órgãos;
çados e de capacitações, com vistas a demonstrar
a importância do tema e o seu potencial para a IV. o alcance de uma visão mais sistêmica dos
geração de valor na Administração Pública, ou processos com foco nas necessidades dos cida-
seja, buscando-se apresentar a “Gestão de Pro- dãos;
cessos” como uma solução possível;
V. utilização de avaliação de satisfação como fee-
II. aumentar a integração e comunicação entre dback para melhoria dos processos;
projetos semelhantes, aproveitando-se melhor
os conhecimentos, experiências e aprendizados; VI. utilização de indicadores, metas e efetivo mo-

42
nitoramento dos mesmos; to Integrado)6;

VII. maior controle e segurança das informações; XI. prestação de um maior número de serviços via
web;
VIII. padronização de procedimentos críticos e
garantia de uniformidade do nível de qualidade XII. e aperfeiçoamento do atendimento eletrônico
da prestação de serviços; prestado ao cidadão.

IX. redução dos tempos médios de espera e de Em complemento, com vistas a multiplicar os conheci-
atendimento nas unidades de atendimento inte- mentos de BPM, a DCPOP realiza capacitações para os
grado; servidores dos órgãos e entidades do Poder Executivo
estadual, de forma gratuita. Nos últimos quatro anos
X. disponibilização de novos serviços para o cida- foram mais de 300 servidores capacitados e, para o
dão em uma estrutura de “shopping” de serviços ano de 2013, planejam-se outras 500 vagas em cur-
com maior comodidade (Unidades de Atendimen- sos oferecidos pela Diretoria.

Figura 3: Total de Processos Mapeados/Redesenhados pela DCPOP entre 2003 e 2011. Fonte: Elaboração Própria.

6 As Unidades de Atendimento Integrado (UAI) representam um novo conceito de atendimento ao cidadão em um único local
por meio de capacitação de servidores, otimização do parque tecnológico, disponibilização de equipamentos de informática
com modelos de última geração, implantação de câmeras de segurança e terminais de auto-atendimento, importantes para
redução e eliminação de filas e, conseqüentemente, diminuição do tempo de espera do cidadão. Nas UAI são oferecidos aos
cidadãos diversos serviços públicos como Carteira de Identidade, Carteira de Trabalho, Passaporte, emissão de multas de trân-
sito, Seguro Desemprego, disponibilização de vagas de trabalho, dentre outros.

43
Considerações MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Planejamento e
Gestão. Guia para gestão da Rotina de Processos no Gover-
no de Minas Gerais. 2012. Disponível em: http://www.plane-
Implantar iniciativas de BPM na administração públi-
jamento.mg.gov.br/gestao-governamental/gestao-de-pro-
ca, visando mudanças e melhorias nas entregas feitas
cessos/metodologias-de-gestao
à sociedade, bem como uma melhor estruturação in-
MINAS GERAIS. Plano Mineiro de Desenvolvimento Integra-
terna no governo que possibilite o suporte adequado
do 2011-2030: Gestão para a Cidadania. Secretaria de Es-
às suas atividades finalísticas não é tarefa fácil. Mu-
tado de Planejamento e Gestão. 2011. Disponível em http://
dar estruturas acomodadas e a forma de se pensar o
www.planejamento.mg.gov.br/images/documentos/pmdi/
funcionamento da “máquina pública” é algo complexo
pmdi_2011_2030.pdf
e improvável de se fazer repentinamente. É preciso um
NEVES, Fernanda. MELO, Frederico. O Estado para resulta-
esforço contínuo para que as melhorias e avanços gra-
dos em Minas Gerais: inovações no modelo de gestão. Artigo
dualmente apareçam. É preciso que todos se sintam
apresentado no XII Congresso Internacional do CLAD sobre
parte desse movimento e estejam dispostos a aban-
a Reforma do Estado e da Administração Pública em Santo
donar o conhecido e rumar para uma nova realidade de
Domingo – República Dominicana, 30/10 a 02/11 de 2007.
governo, em que a cultura do cidadão protagonista se
VILHENA, Renata et al (organizadores). O Choque de Gestão
mostre fortalecida.
em Minas Gerais: políticas de gestão pública para o desen-
volvimento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.
Especificamente em Minas Gerais, objetiva-se cons-
truir um estado em que o cidadão seja o foco para o
desenvolvimento do Estado, em que a priorização das
políticas públicas não seja feita de maneira unilateral
pelo governo, mas de modo participativo junto à so-
ciedade. Para tanto, é fundamental que também a Sobre a autora
sociedade esteja mobilizada e envolvida nesta trans-
formação para que os espaços de interlocução sejam
bem aproveitados, para que as oportunidades abertas
sejam, de fato, instrumentos de mudança.

Mudar exige, antes de tudo, coragem e desejo de rom-


per com o status quo e transgredi-lo abandonando
práticas tantas vezes realizadas por hábito e não por
reflexão. Envolve repensar por quês e para quês, além
de inúmeros riscos e escolhas, por vezes feitas diante
do desconhecido.

A despeito das dificuldades, muitos resultados deri-


vados do compromisso com essa mudança já têm se
mostrado visíveis e, apesar dos obstáculos, o Governo Vanice Cardoso Ferreira é graduada em
de Minas vem avançando na Gestão de Processos e Administração Pública e em Engenharia de
alcançando, gradativa e continuamente, melhores re- Produção e está cursando pós-graduação em
sultados para os cidadãos mineiros. Gestão Estratégica. É servidora de carreira
da Secretaria de Estado de Planejamento e
Referências: Gestão - SEPLAG. Atua em gestão e melhoria
ABPMP. CBOK: Guia para o Gerenciamento de Processos de de processos desde 2009. Atualmente é
Negócio (BPM) - Corpo Comum de Conhecimento. Versão diretora da Diretoria Central de Políticas de
2.0. 2009 Otimização de Processos da SEPLAG. E-mail:
MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Planejamento e vanice.ferreira@planejamento.mg.gov.br
Gestão. Guia para Melhoria de Processos no Governo de Mi-
nas Gerais. 2011. Disponível em: http://www.planejamento.
mg.gov.br/gestao-governamental/gestao-de-processos/
metodologias-de-gestao

44
Jan vom Brocke
Hilti Chair of Business Process Management

Dr. Martin Petry


ARTIGO Chief Information Officer - Hilti Corporation

Dipl. oec. Theresa Schmiedel


Hilti Chair of Business Process Management.

A TRANSFORMAÇÃO
DA HILTI
© Publicação concedida por Uhl, A., Gollenia, L.A. (eds) (2013): Business
Transformation Essentials. Case Studies and Articles. Farnham, UK:
Gower Publishing.

Em 2000, a Hilti iniciou um grande projeto de transformação, trazen-


do todas suas oito fábricas, mais de 50 regionais de vendas e 20.000
funcionários para um único ERP global. O projeto foi uma das maiores
transformações desse tipo para a empresa e mudou substancialmen-
te sua forma de fazer negócios.

45
A Hilti é uma corporação global que fornece tec- A fim de prosseguir numa direção global, a inicia-
nologia de ponta para a indústria de construção. tiva precisava ser mais ampla, incluindo uma es-
Provê ferramentas, sistemas e serviços para clien- trutura global de aplicativos de negócio, processos
tes em todo o mundo. Com uma receita anual de globais e donos de processos globais. Em 2000,
3.9 bilhões de francos suíços em 2010, a empresa a estratégia de negócio da Hilti Corporation in-
emprega aproximadamente 20.000 funcionários cluía metas globais como satisfação dos clientes e
ao redor do mundo, dos quais cerca de 1.700 tra- produtividade, a serem alcançadas através da ex-
balham na sede de Schaan, no Principado de Liech- celência operacional e da implementação consis-
tenstein. Dois terços de todos os funcionários tra- tente de iniciativas estratégicas globais. Com base
balham diretamente para os clientes com vendas nessa estratégia, a área de TI da Hilti desenvolveu
e engenharia, o que significa um total de mais de uma nova estratégia considerando iniciativas lo-
200.000 contatos com clientes diariamente. A Hilti cais e globais naquele momento. Tornou-se óbvio
possui suas próprias fábricas, assim como centros que muitas das iniciativas globais eram prejudica-
de pesquisa e desenvolvimento na Europa e Ásia. das pela inexistência de processos e estruturas de
dados harmonizados.
A empresa lançou seu projeto de transformação
intitulado “Processos e Dados Globais” (GPD – Além disso, os diferentes sistemas de TI em uso
Global Processes and Data) em 2000. O objetivo agravavam as dificuldades de iniciativas globais.
era substituir os silos de dados e processos locais, Entretanto, a principal razão para o projeto de
introduzindo processos de negócio globalmente transformação era a existência de um cenário de
padronizados e estruturas de dados padronizadas processos que resultava em uma forma lenta, in-
suportadas por uma solução de sistema e uma consistente e nem sempre global de implementar
função de TI gerenciadas globalmente. O projeto as iniciativas de excelência operacional. Então, a TI
foi coordenado de forma centralizada a partir da da Hilti decidiu implementar processos, estruturas
sede em Liechtenstein. de dados e sistemas globalmente harmonizados,
Ao final de 2010, mais de 95% da receita da Hilti, e com essa abordagem o projeto GPD foi lançado.
mais de 50 regionais de vendas e todas as oito
fábricas operavam em um único sistema global. Objetivos, Visão & Estratégia
Isso significa mais de 18.000 usuários trabalhan-
do com o ERP (Enterprise Resource Planning) da A visão do projeto de transformação GPD era obter
SAP e 6.000 usuários também trabalhando com processos, estrutura de dados e sistemas globais
soluções e aplicativos SAP Mobile. e integrados para concretizar oportunidades de
negócio além das alcançadas naquele momento.
Chamada para Ação Na primeira fase da transformação, a equipe do
projeto focou nas 25 principais regionais de ven-
A ideia de um sistema de trabalho integrado sur- das, em todas as fábricas e na sede, sendo esta
giu pela primeira vez em 1963, de acordo com Mi- etapa concluída em 2006. Aproveitando o sucesso
chael Hilti, através de seu pai. Embora não tenha se do programa, outras regionais de vendas foram in-
mostrado factível naquele momento, a ideia per- cluídas no projeto durante a segunda fase, a fim de
maneceu nos genes dos Hilti por um bom tempo, criar uma “única Hilti”. Em conjunto com o cresci-
resultando em vários esforços rumo a uma orga- mento global da Hilti, alcançou-se agora a fase
nização mais globalmente integrada. Nos anos 80 três da transformação, que visa incluir também
e 90, Hilti tentou mover a empresa nessa direção; novas regionais.
no entanto, a solução só estava levando em con-
sideração aspectos de TI, não incluindo aspectos A estratégia de TI tem sido discutida e comunicada
relevantes do negócio. em larga escala na equipe de gestores e até mes-

46
mo além deles, uma vez que os próprios gerentes vas como gestão de frotas, melhoria na estrutura
seniores da área de TI da Hilti foram às regionais de de precificação ou na definição de clientes eram
vendas para comunicar e discutir sobre a visão de lançadas como elementos do GPD. Este último
uma TI globalizada. ponto era necessário para a implementação de ini-
ciativas globais referentes aos clientes.
Bem no início da transformação, antes e depois da
aprovação da estratégia, a comunicação da visão De maneira geral, a maioria dos indicadores de de-
foi muito importante para assegurar que todos en- sempenho (KPIs) decorrentes do projeto era rela-
tendessem a estratégia. Conforme o andamento cionada ao negócio e não à TI. Para realmente criar
do projeto, tornou-se ainda mais importante en- valor adicional ao negócio e obter uma infraestru-
tregar resultados tangíveis ao invés de “um novo tura confiável, a Hilti decidiu investir uma grande
conjunto de slides”, caso contrário as pessoas te- quantidade de dinheiro na implementação da es-
riam ficado nervosas. Então, uma comunicação in- tratégia de TI. Uma vez que o projeto GPD era o
tensa no início precisou ser seguida por uma visib- oposto da estratégia de TI de redução de custos,
ilidade clara do progresso em termos de conteúdo. os quesitos valor ao negócio e confiabilidade da in-
Quanto mais alinhadas eram as entregas com a co- fraestrutura eram necessários para compensar o
municação, maior credibilidade era adquirida pelo montante investido no projeto.
projeto.
Realização
O projeto “Processos e Dados Globais”
era o oposto de uma estratégia de TI de Obtendo apoio para o Projeto de
redução de custos. Transformação

Além dos objetivos gerais de processos e dados O projeto GPD foi comunicado de forma aberta e
padronizados e de um sistema de TI integrado, a honesta, com todas as metas bem claras. Apesar
Hilti buscou uma implementação bastante suave, do enorme impacto da transformação, a equipe de
acordada e não imposta. Por exemplo, objetivos gestores tentou minimizar inicialmente a escala do
específicos do projeto de transformação estavam projeto, para não assustar as pessoas e acalmar a
relacionados à otimização do desempenho logísti- todos num certo nível que é essencial e útil para os
co. Isso incluiu metas como 95% de pedidos ent- primeiros estágios de um projeto.
regues ao cliente sem defeito ou prazo máximo de
três dias para reparos. Além disso, novas iniciati- Sabendo do caráter revolucionário do projeto GPD,

47
a equipe de gestores decidiu lidar com a transfor- As reuniões semanais com a equipe de gerenci-
mação reforçando uma mensagem de mudança amento eram vistas como o motor do projeto e
importante na direção correta. A consciência so- envolviam discussões sobre os procedimentos
bre a necessidade da mudança era um fator im- gerais, incluindo o desenvolvimento de uma ter-
portante para o sucesso do GPD, uma vez que a minologia comum. Isso foi extremamente impor-
transformação não foi forçada por uma situação tante para ser possível lidar com um público que
econômica desfavorável. não está acostumado com projetos que envolvem
Olhando para a alta gestão e gerentes das fábricas, grandes alterações técnicas.
houve um nível elevado de apoio, compreensão e
vontade de fazer parte do projeto. Um ou dois es- Além disso, o curso técnico da ação precisou ser
tavam naturalmente um pouco mais hesitantes no definido e explicado para as pessoas afetadas, in-
início, mas se arrependeram, posteriormente, de cluindo questões como “O que é um teste de in-
não terem se envolvido mais nos estágios iniciais. tegração?”, “Por que precisamos testar a unidade
antes do teste de integração?”, “Quanto tempo irá
No conjunto, o projeto GPD recebeu um imenso durar e por que demora tanto?”, e “Podemos fazer
suporte, principalmente pela existência do apoio isso antes?”. A equipe de gerenciamento do proje-
dos três principais executivos da companhia. Os to passou por uma série de discussões durante as
principais patrocinadores do projeto eram o Pres- reuniões periódicas para que fosse possível a in-
idente da Hilti e mais dois membros da Diretoria serção de todos no projeto.
Executiva, todos com mais de 25 anos na empresa. Nos primeiros anos, o projeto GPD era muito
O apoio dos gestores seniores da corporação foi o mais educação do que execução, isso porque era
primeiro fator fundamental para o sucesso. Ain- necessário apresentar à equipe de TI o sistema
da assim, era necessária uma ideia de como se- SAP, para que fosse possível integrar todo o am-
guir com o projeto na direção correta. Na verdade, biente de negócio proveniente de diferentes áreas,
foram os CIOs (atual e anterior) que apresentaram direções e funções, e para integrar as novas pes-
a ideia do projeto GPD, a qual era basicamente soas com a equipe de TI. Ao mesmo tempo, era
derivada do desenvolvimento da estratégia da TI. necessário que a equipe de gerenciamento do pro-
jeto falasse a mesma língua, o que é muito impor-
Criando a equipe de gerenciamento do projeto tante devido à confusão que pode surgir a partir de
terminologias e procedimentos ambíguos. Então
Durante os primeiros três/quarto anos, a equipe de foi crucial estabelecer esse tipo de alinhamento.
gerenciamento do projeto GPD era composta pelo
gestor da área de Processos, seus pares na área de A equipe de gerenciamento do projeto foi basica-
TI, representantes da infraestrutura de TI, além do mente liderada pelos CIOs (atual e anterior), que
CIO (atual e anterior). A reunião semanal era rela- promoveram a ideia sobre como gerenciar o projeto
tivamente longa porque servia como um ponto de de forma suave através de explicações detalhadas,
multiplicação onde, especialmente nos primeiros com enfoque no futuro, o que fez com que a equipe
dois meses, questões fundamentais eram esclare- sempre estivesse um passo a frente dos demais.
cidas. Todos os envolvidos contribuíam com ideias Assim, ela conseguia convencer os funcionários
de suas próprias equipes e levavam os resultados através da apresentação de ideias válidas. O pro-
para discussão interna em suas áreas. Aproxima- jeto, então, foi claramente liderado por esses dois
damente 15 pessoas sempre estavam presentes diretores, mas não de uma forma autoritária, di-
nas reuniões, embora houvesse certa rotatividade tatorial, mas sim encorajando as pessoas a apoiar
com o passar dos anos. Ao todo, em torno de 30 a sugestões embasadas por argumentos sólidos.
40 pessoas participaram dessa reunião durante o De fato, a ideia de uma cultura onde argumentos
projeto. fortes vencem foi acordada na primeira reunião da

48
equipe de gerenciamento: “tivemos uma grande cesso de implementação nas cidades de Vaduz,
discussão e não conseguíamos chegar a um de- Buchs, Schaan e nas regionais. Ao longo do proje-
nominador comum. Uma pessoa falou: `vamos to, isso resultou em aproximadamente 150 FTEs
fazer no modelo suíço e votar´. Outra pessoa falou: (full time equivalent) de uma só vez. O número de
`se começarmos a votar, eu irei embora imediata- pessoas envolvidas mostra claramente o envolvi-
mente´”. Ao final, eles concordaram que as decisões mento e dedicação dos recursos com o programa.
deveriam ser tomadas a partir do argumento mais Mesmo em tempos difíceis como em 2001/2002,
forte. A ideia do argumento mais forte também en- quando a indústria de construção não era tão forte,
volvia o próprio gerenciamento do projeto. Afinal, a Hilti empenhou-se ainda mais no projeto, apesar
era óbvio que alguns argumentos precisavam ser da pressão para redução de custos. Em temos de
lançados para evitar que o projeto se tornasse algo implementação, a equipe do projeto decidiu fazer
complexo. um teste de lançamento em um estágio inicial para
sincronizar tudo antes de iniciar efetivamente.
O estilo geral de gestão na Hilti é de uma cultura Assim, uma versão foi utilizada para desenvolver
de liderança situacional, que significa que um ger- todos os processos, documentação de processos,
ente ajusta o seu estilo de gerenciar de acordo com sistemas e procedimento de teste. A vantagem
as características de uma pessoa específica para a dessa estratégia é que permitiu que a implemen-
qual ele está delegando certa tarefa. Por exemplo, tação real fosse mais rápida.
um iniciante entusiasmado requer apoio e atenção
de forma diferente de um especialista. Essa regra Desenvolver as estruturas de processos e de siste-
simples forneceu um apoio efetivo para a liderança mas bem como implementá-las foi algo quase im-
no projeto GPD. pecável. Um grande roadmap ajudou a visualizar
a implementação. Também ficou decidido que o
“Se começarmos a votar, eu irei projeto GPD deveria ser lançado e que melhorias
qualitativas seriam adicionadas durante a implan-
embora imediatamente”.
tação global, que incluía tanto melhorias geográfi-
cas quanto funcionais. As estruturas dos proces-
Implementando o Projeto GPD sos e dos sistemas foram melhoradas de país para
país, adicionando-se diferentes requisitos legais e
Juntamente com a equipe do projeto, aproximada- também funcionais uma vez que não era possível,
mente 120 pessoas estavam envolvidas no pro- no início, implementar tudo de uma só vez. Então,

49
para evitar desvios de padrões e diferentes con- do com os padrões definidos durante o projeto GPD.
figurações nos escritórios, foi necessário ir e vol- Na prática, não é uma opção pensar em fazer dif-
tar nas ações, o que representou um desafio para erente. Entretanto, nem todos os processos foram
o projeto e colocou uma pressão considerável na padronizados até o momento. Então, os donos dos
equipe do projeto. processos globais e das linhas de negócio ainda
estão no processo de estabelecer quais práticas
Enquanto o GPD era implementado ao redor do locais devem ser eliminadas e quais boas práticas
mundo, a Hilti desenvolveu um conceito de fe- podem ser implementadas globalmente. Até este
cundação cruzada, onde pessoas de diferentes re- momento, não há desvios em relação aos padrões
gionais, por exemplo, se sincronizavam. Este apoio definidos, mas sim questões sobre como seria
dos pares provou ser mais eficaz do que enviar es- possível padronizar ainda mais. Nesse sentido, to-
pecialistas de processos ao redor do mundo para dos entendem o esforço extra associado a práticas
tentarem convencer as regionais em como conduz- locais que previnem a companhia como um todo de
ir o negócio. Considerou-se que seria melhor incitar avançar e realizar mais mudanças imediatas.
a transformação fazendo as pessoas aprenderem
com colegas que realmente usassem as estruturas Uma auditoria com foco na revisão de processos
de dados, processos e sistemas, do que ter uma é importante quando se trata de manter proces-
pessoa de Schaan traduzindo a teoria para a práti- sos padronizados. Assim, os donos dos processos
ca. Em termos de ideias de serviços compartilha- globais e área de TI reveem processos com base
dos, o conceito de fecundação cruzada inclusive se nos conhecimentos adquiridos, por exemplo, com
intensificou nos últimos dois a três anos. os relatórios de indicadores da Hilti e estatísticas
do sistema SAP, permitindo a identificação de pon-
O conceito de fecundação cruzada tos fracos. Essa revisão de processos é chamada de
“processo de aprovação de processos de negócio”
mediante apoio de pares provou ser
e ajuda a otimizar as operações.
mais eficaz do que ter alguém
de Schaan traduzindo a teoria Resultados e Conquistas
para a prática.
O projeto GPD resultou em uma mudança trans-
No que tange à implementação de sistemas, a co- formadora na forma como a Hilti faz negócios.
laboração intensiva com a SAP foi essencial para o Mesmo que isso estivesse claro desde o início para
sucesso do projeto. Tendo a SAP como uma forte a equipe de gestores, existiam ainda alguns aspec-
especialista em TI, a Hilti foi capaz de se concentrar tos que permaneciam indefinidos. No início do pro-
em suas necessidades de negócio. Graças a uma jeto, por exemplo, a equipe de gerenciamento não
interação sólida da SAP também no nível executivo, tinha uma visão clara sobre centros de serviços
alcançou-se uma produção bastante colaborativa. compartilhados, e isso só foi possível discutir nos
Hoje, a Hilti possui um relacionamento marcante últimos três anos. Considerando o desenvolvimen-
com a SAP em relação a apoio e respeito. Apesar de to total do projeto, quanto mais o GPD progredia,
a implementação do projeto GPD ter sido tranquila, mais a companhia como um todo se envolvia.
é obvio que um projeto desta importância também
enfrentou algumas resistências. Em geral, essa A globalização da função de TI, estruturas de da-
resistência era superada com o apoio da Diretoria dos, processos e sistemas de TI comuns são hoje
Executiva da Hilti, que ajudou a equipe de gerenci- percebidos como um trampolim para toda a orga-
amento a promover o projeto. nização em transformação. A estrutura global de
aplicativos de negócio resultou na oportunidade de
Hoje, a Hilti realmente conduz seu negócio de acor- otimização das estruturas logísticas. De manei-

50
ra similar, novas formas de organizar as vendas e • Estabeleça uma cultura em que “os
serviços aos clientes surgiram, com oportunidade argumentos mais fortes são os que ganham”.
de combinar regionais de vendas em hubs ou cen-
tros de serviços compartilhados para otimizar a • Comunique de uma forma ampla e honesta
e com metas claras.
troca de conhecimento e execução das atividades
de vendas e marketing. • Construa uma cultura organizacional sólida.
Hoje, a integração de processos está permeando
toda a empresa. Assim, o benefício mais impor- • Estabeleça um equilíbrio entre uma visão
tante para a organização é ter colocado um grande sólida e uma implementação suave.
alicerce para o futuro: a disponibilidade de proces-
sos, estrutura de dados e sistemas globais, assim • Visualize a implementação através de um
roadmap abrangente.
como uma equipe integrada e hábil de TI que está
ciente de como evoluir ainda mais. • Teste seu projeto logo no início.

Além disso, a confiabilidade na execução dos pro- • Estabeleça fecundação cruzada com apoio
cessos de negócio é outra grande conquista, em dos pares.
um nível mais detalhado. Com base nisso, grandes
oportunidades podem ser colhidas no futuro em • Ganhe credibilidade apresentando
resultados tangíveis, passo a passo.
relação à otimização de estrutura e processos.

Outras conquistas dizem respeito à satisfação dos


clientes. Durante o projeto, um gerente da Áustria Lições aprendidas
teve uma ideia de enviar todos os dados dos cli-
entes para os próprios clientes, solicitando um No começo do projeto GPD, acreditava-se que o
feedback sobre seus próprios dados. Muitos clien- impacto seria considerável para a área de TI e além,
tes apreciaram muito essa ação porque eles per- mas o impacto real acabou sendo bem maior do
ceberam que a Hilti se preocupa com eles e que a que o esperado. A transformação afetou o trabalho
Hilti também precisa de feedbacks de seus clientes no dia a dia dos mercados e também processos de
expressando satisfação com relação a pedidos e gestão e mudanças estruturais e, hoje, mudar um
reparos. serviço ou alocá-lo em outro país é muito mais fá-
cil. Muitos benefícios trazidos pelo GPD não eram
Aprendizados centrais totalmente possíveis 10 anos atrás porque, apesar
da conscientização sobre o impacto nos negócios,
• Tenha uma visão clara sobre a contribuição as pessoas eram mais focadas em TI.
de valor ao negócio.
No projeto GPD, a Hilti não se padronizou comple-
• Mire alto e seja persistente. tamente porque um dos objetivos estabelecidos
Envolva no projeto pessoas dedicadas e no início era ter uma implementação suave. Forçar
capacitadas.
a implementação para padronizar ainda mais im-
• Crie uma equipe de gerenciamento com pactaria em enfrentar maiores confrontos inter-
linguagem e habilidades comuns. nos, fazendo com que as pessoas não apoiassem
mais a ideia do projeto GPD. Então, a Hilti buscou
• Ganhe apoio dos gerentes seniores. encontrar um equilíbrio entre a padronização total
e uma implementação suave, e este equilíbrio terá
• Desenvolva o projeto pensando sempre no que ser mantido em mente para o futuro também.
futuro.
Para o sucesso do projeto, foi muito importante
ganhar o apoio total dos gerentes seniores e dos

51
demais níveis gerenciais. Também foi essencial aquela regional havia mudado sua forma de operar.
ter pessoas dedicadas e capacitadas na equipe de
transformação. E, finalmente, foi necessário entre- A transformação na Hilti pode ser percebida como
gar resultados passo a passo, implementando de uma mudança em duas camadas: com o GPD na pri-
forma contínua a visão do projeto. meira camada, lançando as bases para a Hilti glob-
al, e uma segunda camada acima desta, incluindo
Uma vez que o projeto GPD foi uma grande trans- projetos menores, como os contact centers. Esses
formação, muitos detalhes precisaram ser consid- projetos menores ainda representam uma grande
erados, especialmente no que tange à combinação transformação para os departamentos envolvidos
de sistemas de TI com processos de negócio. É pelo modo como trabalham e pela mudança na in-
importante ter uma equipe diversificada no pro- teração com os clientes, mesmo que as mudanças
jeto: pessoas que consigam entregar e consertar não sejam fundamentadas pelo GPD. Estabelecer
detalhes e pessoas que sejam visionárias e que contact centers modifica completamente a forma
consigam dar direcionamentos. Isto significa que como grupos específicos ou funções trabalham,
foi importante lidar com problemas menores para apesar de não envolver pessoas nos armazéns,
conseguir alcançar a visão como um todo. É inter- por exemplo. Então, a segunda camada está entre
essante aprender que pequenos detalhes podem a mudança fundamental do GPD e a mudança in-
mudar fundamentalmente uma iniciativa como o cremental de melhoria contínua.
GPD. Em 2003, um incidente crítico ocorreu quando
o recém-inaugurado Centro de Dados sofreu uma Leituras Recomendadas
queda de energia. Naquele momento, a entrada vom Brocke, J., Petry, M., Sinnl, T., Kristensen, B. and Son-
nen-berg, C., 2010. Global processes and data. The culture
em operação do GPD estava para iniciar nos Países journey at Hilti corporation. In: Handbook on business process
Baixos e já tinha sido finalizada na Áustria. Após o manage-ment. Strategic alignment, governance, people and
culture, J. vom Brocke & M. Rosemann (eds.), Vol. 2, Berlin:
incidente, não estava claro se todo o sistema pre- Springer, pp 539–558.
cisaria ser recuperado ou se os dados estavam
corrompidos. Isso poderia ter resultado em vários vom Brocke, J. and Sinnl, T., 2010. Applying the BPM-Cul-
ture-Model: The Hilti case. ACIS 2010 Proceedings. 21st Aus-
dias de inatividade. Mesmo que um incidente como tral-asian Conference on Information Systems, 1-3 Dec 2010,
este não significasse o encerramento do projeto, Brisbane, Australia.
poderia causar um dano considerável a sua repu- Holler, S., 2008. Unternehmensporträt: Hilti-CIO Martin Petry
tação. Por isso, é importante ter diferentes tipos in den CIO-Videonews. CIO, http://www.cio.de/knowledgecen-
de pessoas na equipe do projeto: aquelas que en- ter/erp/856177/

tregam e conseguem consertar detalhes, e aqueles Autores


que conseguem dar o direcionamento. Prof. Dr. Jan vom Brocke
Hilti Chair of Business Process Management.
Director Institute of Information Systems
Mesmo que tenha havido uma comunicação sub- University of Liechtenstein
stancial no início do projeto, um treinamento mais Vaduz, Principality of Liechtenstein
jan.vom.brocke@uni.li
tangível teria sido útil, uma vez que grande número
de pessoas subestimou o impacto do projeto. Foi Dr. Martin Petry
necessário desenvolver competências em todos os Chief Information Officer
Hilti Corporation
níveis da organização, ainda que alguns gerentes Schaan, Principality of Liechtenstein
acreditassem que o GPD era “algo de backoffice” martin.petry@hilti.com
que não influenciaria nos negócios. Na verdade, o Dipl. oec. Theresa Schmiedel
GPD mudou completamente a maneira como as Hilti Chair of Business Process Management
coisas eram executadas. Todas as equipes geren- Institute of Information Systems
University of Liechtenstein
ciais visitavam regionais que já tinham implemen- Vaduz, Principality of Liechtenstein
tado o GPD e em uma semana aprendiam como theresa.schmiedel@uni.li

52
ELO Group e Oracle firmam parceria para atuação com BPM
No dia 10 de outubro a Oracle Consulting organizou em São de sua grande experiência no mercado de Processos de
Paulo o evento Como conseguir Inovação e Diferenciação Negócios. Esta é uma parceria estratégica por unir atuações
com Resultados Mensuráveis, cujo enfoque era apresentar complementares, que visam oferecer aos clientes um
a abordagem da Oracle para BPM. programa de BPM ainda mais eficaz devido à excelente
sinergia dos portfólios de serviços das duas empresas”,
O evento contou com a participação de 40 empresas, dentre afirma Alexandre Sapia, vice-presidente de Consultoria da
elas: Bradesco, Comgás, Banco Votorantim, Claro, Nextel, Oracle do Brasil.
Makro, Odebrecht. Com a parceria, a ELO Group e Oracle poderão ofertar
soluções completas para gestão de processos, que passam
Leandro Jesus, sócio diretor da ELO Group e um dos pelo desenho, execução, automação, monitoramento e
palestrantes do evento, apresentou a importância de BPM melhoria contínua de processos ponta-a-ponta com uso de
para alinhamento entre TI e estratégia e os benefícios que tecnologias de apoio.
esse alinhamento proporciona para as organizações. No
mesmo dia, foi apresentada ao mercado a parceria firmada
entre as empresas ELO Group e Oracle. Para Leandro Jesus
“é cada vez maior a quantidade de clientes nossos demandando
projetos de automação de processos com BPMS. Ao nos
aliarmos à Oracle, integramos à nossa oferta usual experiência
e soluções tecnológicas de um líder global no tema”.

“A Oracle Consulting do Brasil atua no mercado de BPM de


forma estratégica, utilizando sua expertise em Arquitetura
para Automação de Processos, Modelo de Governança BPM
e Gestão de Ativos, Implementação Técnica de Processos Você pode ter acesso às apresentações realizadas através da
de Negócio e Metodologia para Engenharia de Processos plataforma BPM Lab (link: http:/bpmlab. com.br/moodle/
e decidiu realizar uma parceria com a ELO Group por conta course/view.php?id=105).

53
Paul Harmon
COLUNA Editor Executivo e Fundador do BPTrends e
consultor-chefe e fundador do Enterprise Alignment.

GESTÃO DO CAPITAL
HUMANO E BPM
Tradução Elisa Baruffi
© Copyright BPTrends, 2013.

Eu acompanho as ferramentas de busca de palavras que conectam visitantes ao


nosso site e recentemente notei que várias consultas são provenientes de buscas
sobre “Gestão do Capital Humano”. Isso me levou a pensar sobre como BPM se rela-
ciona com Gestão do Capital Humano. A relação é mais complexa do que se poderia
imaginar, então acompanhe meu raciocínio abaixo.

54
Departamentos e Processos
Vamos começar com uma revisão sobre a diferença entre uma estrutura departamental de uma organização e seus
processos principais. A figura 1 retrata três departamentos de uma empresa de seguros, assim como um dos pro-
cessos principais da organização – Vender Seguros de Automóveis. Nós limitamos o exemplo a três departamentos
e um único processo para deixa-lo mais simples. Como você pode ver na figura 1, o Departamento de Recursos
Humanos não atua diretamente no processo de Vender Seguros de Automóveis; entretanto, alguns processos de
RH têm papel de suporte ou gestão a esse processo.

Gestão
Corporativa

Departamento de
Departamento de Recursos Humanos Departamento de
Desenvolvimento de Marketing e Vendas
Novos Serviços
Estabelecer
Políticas de RH

Processo de Venda de
Seguros de Automóveis
Anunciar Apólices
Definir novas de Seguro
Apólices de
Seguro Clientes

Vender Apólices
de Seguro

Prover
funcionários

Figura 1. Departamento de Recursos Humanos e Processos

Existem processos do Departamento de RH que estão ou comprou um sistema ERP projetado para ajudar na
totalmente sob o gerenciamento deste departamento. gestão de RH, provavelmente utiliza softwares que
Assim, existe um processo de Prover Funcionários e apoiam os processos representados nas áreas em azul
um de Estabelecer Políticas de RH. O processo de Pro- da figura 1.
ver Funcionários é um processo suporte que examina
um pedido de outro processo – o processo de Vender A figura 2 sugere como um subprocesso do processo
Seguros de Automóveis, que neste caso chamaremos Prover Funcionários pode interagir com um subpro-
de “cliente” – e encaminha currículos de potenciais cesso do processo de Vender Seguros – o processo de
funcionários para consideração do processo de Vender Adquirir Novos Funcionários. Em essência, o processo
Seguros de Automóveis. de Vender Seguros de Automóveis é o “cliente” e dis-
para o processo Prover Funcionários quando é solici-
No caso do processo Determinar Políticas de RH, o RH tado ao RH auxiliar a contratação de um novo empre-
trabalha com gerentes sêniores para definir as políti- gado de vendas. (Note que o processo Adquirir Novos
cas que são fornecidas a outros processos e gerentes. Funcionários é um subprocesso de gestão que está in-
Exemplos podem ser uma política de férias, política de cluso no processo de Gerenciar Processo do processo
indenizações ou mesmo um plano de cargos e salários. de Vendas de Seguros de Automóveis).
Se uma organização terceirizou suas operações de RH,
55
Adiquirir
Automóveis
Seguros de Revisar,
(Clientes)
Venda de

novos Solicitar novo Triar Entrevistar Selecionar


aprovar plano
Funcionários empregado candidatos candidatos para contratar
(Cliente)
de contratação
Funcionários

Revisar
Prover

Contratar Rever Preparar plano Conduzir Identificar Marcar resultados


funcionário Solicitação de contratação pesquisa candidatos entrevistas e selecionar
funcionário

Figura 2. Fluxograma mostrando a interação entre o processo “Cliente” e o


subprocesso de RH denominado Contratar Funcionários.

Separados dos processos de RH que são gerenciados sos, e damos ênfase ao fato que existe algum empre-
pelo departamento de RH, estão os processo princi- gado envolvido na gestão do desempenho de um dado
pais – como Definir Apólices, Anunciar e Vender, nos subprocesso. Também apresentamos um processo de
quais os funcionários estão trabalhando para prover Gerenciar Processo que é responsável por gerenciar o
valor para os clientes externos. O processo de Vender processo de Vendas de Seguros de Automóveis e por
Seguros de Automóveis, por exemplo, é um dos clien- lidar diretamente com esse empregado no dia a dia.
tes dos processos de Definir Práticas de RH e Prover Você poderia imaginar que todos os processos que
Funcionários. A execução do processo de Vender Se- estão totalmente dentro do departamento de Marke-
guros de Automóveis, entretanto, está sob o controle ting e Vendas seriam gerenciados pelo diretor desse
direto daqueles que gerenciam o processo principal e departamento. Mas existe também um gerente ou um
seus subprocessos. supervisor dentro do departamento que é diretamente
responsável por vender apólices de seguro de automó-
Na figura 3, retratamos o processo de Vender Seguros veis e que é, formal ou informalmente, o gerente do
de Automóveis com três de seus inúmeros subproces- processo Vender Seguros de Automóveis.

Processo de Vender
Seguros de Automóveis Gerenciar
Processos

Figura 3. Cada conjunto de atividades possui uma pessoa que é responsável


por gerenciar essas atividades.

Mesmo que uma organização terceirize o departamento de RH ou adquira um sistema ERP para RH, provavelmen-
te continuará a manter um controle direto da gestão dos processos principais e dos funcionários que executam o
trabalho que cria valor aos clientes.

56
Então, o que é Gestão do Capital desempenho diário dos funcionários e na forma como
os gerentes gerenciam os funcionários para assegu-
Humano? rar um desempenho de alta qualidade. Existem, ob-
viamente, diferentes formas de pensar sobre análise,
Quando usamos o termo “Gestão do Capital Humano” melhoria e gestão do desempenho de funcionários.
(GCH), estamos falando sobre dois temas distintos. Alguns se concentram em como um indivíduo executa
Estamos falando (1) dos processos de RH que o depar- seu trabalho e como melhorar o desempenho individu-
tamento de RH gerencia, de uma forma mais ou menos al. Outros se concentram em como grupos executam
independente dos processos principais da organiza- seu trabalho e como melhorar o desempenho dos gru-
ção. Ou estamos falando (2) dos processos de gestão pos de funcionários. Neste artigo, vou me concentrar
que lidam com funcionários que realmente executam principalmente no desempenho de indivíduos.
os processos principais que criam valor aos clientes.

É sobre o tema (1) que as pessoas normalmente vão às


A Abordagem de Tecnologia do
convenções de RH para discutir. Existem livros publi- Desempenho Humano
cados sobre como gerenciar departamentos pessoais,
como desenvolver políticas de RH, como estabelecer Quem mais contribuiu para a compreensão dos pro-
sistemas de bônus, contratação e demissão de funcio- blemas associados ao desempenho de indivíduos é a
nários. Não é que isso não tenha nada a ver com BPM International Society for Performance Improvement
– afinal de contas, são processos e podem ser execu- (ISPI). Este é o grupo no qual Geary Rummler atuava no
tados com maior ou menor eficiência e eficácia – mas início de sua carreira e sua influência ainda é refletida
essas questões são de interesse principal dos profis- até hoje. A ISPI conseguiu, claro, ir além de Rummler
sionais de RH. em muitos aspectos e hoje tem uma abordagem ampla
de Tecnologia do Desempenho Humano (HPT – Human
Profissionais de BPM estão principalmente preocupa- Performance Technology) [1]
dos com o tema (2) e procuram ter uma visão geral das
mudanças de processo dentro de toda a organização. A figura 4 representa o modelo HPT na visão de
BPM está preocupado com diferentes questões, in- Rummler. Em essência, o modelo sugere um conjunto
cluindo tornar processos mais consistentes, eliminar de cinco questões que um analista deveria abordar se
atividades desnecessárias ou que geram desperdícios, está tentando determinar porque um funcionário não
tomar decisões que precisam ser tomadas e consi- está desempenhando bem. A tabela 1 lista algumas
derar quando e como automatizar atividades. Adicio- das perguntas específicas que podem ser perguntadas.
nalmente, essa abordagem ampla de BPM incide no Apesar de não ser tão conhecida entre a maioria dos

Suporte à atividade Especificação de atividades

Medida

Consequências

Feedback
Consequências

Habilidades, conhecimentos e
Competências Feedback

Figure 4. Visão geral da Tecnologia de Desempenho Humano

57
profissionais de processos como Lean ou Seis Sigma, a enquanto examinam cada um dos atributos do sistema
abordagem HPT é pelo menos tão importante quanto. de desempenho humano. Existem diferentes versões
A HPT se concentra em como se obter comportamen- dos conjuntos de atributos e das questões. A lista que
tos consistentes de alto desempenho de funcionários usamos é derivada da obra de Geary Rummler. Outra
em uma organização - que neste caso inclui gestores, versão está disponível através da International Society
bem como os trabalhadores da linha de produção ou for Performance Improvement (ISPI).
uma equipe de vendas.

A tabela 1 apresenta um resumo de algumas das per-


guntas que os profissionais de HPT fazem a si mesmos

Tabela 1. Questões sobre Tecnologia do Desempenho Humano

• O executor consegue facilmente reconhecer a entrada requerente da ação?


Atividades • As atividades podem ser realizadas sem a interferência de outras atividades:
suporte • Existem recursos adequados disponíveis para a performance (tempo, ferramenta,
pessoas, informação)?

• Existem atividades padrão?


Especificações • O executor sabe qual o resultado esperado e quais são as normas?
de atividades • O executor considera as normas para que seja alcançável?

• Os executores possuem as habilidades e o conhecimento necessários para atu-


Habilidades, arem?
conhecimento e • Os executores sabem a importância do desempenho desejado?
competências • Os executores estão fisica, mental e emocionalmente aptos para a
• execução?
• Problemas de conhecimento são normalmente problemas com modelos ou re-
gras – e lembre-os quando necessário
• Problemas de habilidades são normalmente problemas com conhecimento dos
procedimentos – e lembre-os quando necessário

• Os executores recebem informações sobre seus desempenhos?


Feedback • As informações que eles recebem são relevantes, oportunas, atuais, específicas e
fáceis de entender?
• Eles recebem informação quando fazem as coisas certas assim como quando
cometem algum erro?

• O que acontece se a atividade não é realizada ou se ela é realizada de forma insu-


Consequências ficiente?
• As consequências estão alinhadas para apoiar o desempenho desejado?
• As consequências são significativas de acordo com a perspectiva dos executores?
• São consequências oportunas?

58
Se você se deparar com um problema específico de um departamento quanto o gerente do processo para uma
funcionário e fizer as perguntas da tabela 1, ao final, ou mais atividades específicas.
terá uma ideia do que pode mudar para melhorar o de-
sempenho do funcionário. De um modo geral, os gerentes planejam, organizam,
comunicam, coordenam, monitoram e controlam o
A Gestão dos Funcionários trabalho. A figura 5 retrata algumas dessas atividades
e mostra como o processo de Gerenciar Processos se
Olhando para as nossas próprias atividades e fun- relaciona com atividades específicas e, consequente-
cionários sob uma perspectiva diferente, focamos no mente, com o funcionário. A maioria das preocupações
processo de Gerenciar Processos. Gerentes são fun- que descrevemos na figura 4 e na tabela 1, quando
cionários também, mas o mais importante é que são a consideramos a Tecnologia do Desempenho Humano,
interface da organização com os funcionários, são eles está sob o controle de um gerente. É este gerente que
que tomam as decisões certas ou não; que dão fee- define o trabalho, que providencia o equipamento a ser
dbacks e palavras encorajadoras ou não. Em essência, utilizado, que contrata os funcionários, que determina
olhamos as atividades desenvolvidas pelo indivíduo as metas dos funcionários, que monitora o trabalho
responsável por gerenciar aquela atividade específica. dos funcionários e que fornece aos funcionários vários
Na maioria dos casos, este indivíduo terá duas respon- feedbacks e resultados do dia a dia.
sabilidades diferentes e será tanto o gerente de um

Gerentes
superiores e pares

Comunicar &
Coordenar

Gerenciar Processo

Planejar e organizar o Trabalho Monitorar e Controlar o Trabalho

• Definir objetivos e expectativas • Monitorar processos


• Estabelecer integração entre todos • Gerenciar riscos
• Estabelecer planos e cronogramas • Incentivar o sucesso
• Estabelecer orçamento • Diagnosticar desvios e tomar ações
• Prover recursos e pessoas corretivas
• Comunicar gerente superiores e pares
• Contratar novos empregados
sobre problemas
• Estabelecer e melhorar processos

Comunicar objetivos & Visão Elogiar e tomar ações


para os Trabalhadores corretivas

Prover recursos, pessoas e Dados sobre as


definir processo atividades internas medidas

Planos, cronograma e
orçamento

Entradas Saídas

Figure 5. Processo de gerenciamento de processo e suas interações com uma atividade específica ou funcionário.

59
É sempre possível que um funcionário específico não São os gerentes e os supervisores que criam o am-
tenha um bom desempenho pelas suas próprias ra- biente de trabalho que os funcionários precisam ter
zões, mas isso é tão comum quanto um funcionário para executar seus processos – é responsabilidade do
que não tenha um bom desempenho por circunstân- gerente assegurar que os processos estejam sendo
cias que estão sob o controle do gerente. Um funcio- executados com eficiência e eficácia. Gestão do Capital
nário com as habilidades erradas é em última instância Humano é uma preocupação vital constante naqueles
uma falha na contratação ou descrição do cargo. Um envolvidos em analisar e desenhar processos de ne-
funcionário que continua a cometer erros porque nin- gócio. E é mais importante ainda para os responsáveis
guém o informa que está cometendo erros é uma falha pela gestão dos processos de negócio da organização.
no feedback. Quanto você trabalha através da tabela
HPT, está constantemente pensando se o funcionário Até a próxima,
criou um problema ou se o gerente responsável pelo Paul Harmon
funcionário criou o problema.
Notas:
Gestão de Capital Humano, RH e [1] Para maiores informações sobre a ISPI, acesse www.ispi.
org. Veja também as matérias publicadas no BPTrends dos
Gestão de Processos principais praticantes da ISPI, Guy Wallace, Roger Addison e
Carol Haig em www.bptrends.com
Gestão do Capital Humano é um componente crítico
de toda organização. Alguns aspectos deste tema são
Para informações sobre as ideias de Geary Rummler so-
questões do Departamento de Recursos Humanos e
bre HPT, veja Improving Human Performance, de Geary
são mais bem direcionados no contexto das políticas
Rummler e Alan Brache (2ª edição, 2005. Jossey-Bass)
e teorias de RH. Enquanto os profissionais de BPM es-
tão sendo convocados para trabalharem junto com o
Rummler também foi muito atuante na American Society for
RH para melhorar os processos internos de RH, exis-
Training and Development (ASTD) e eles também possuem
tem outros aspectos da Gestão do Capital Humano
uma abordagem sistemática para o desempenho humano
que envolvem a gestão do dia a dia dos funcionários
que eles chamam de HPI – Human Performance Improve-
que constituem o capital humano da organização. BPM
ment (ou Melhoria do Desempenho Humano em tradução li-
tem a responsabilidade de assegurar que todos os ge-
teral). Para maiores informações, veja http://www.astd.org/
rentes nas organizações estejam aplicando boas práti-
cas para manter o bom desempenho dos funcionários
em todos os processos que estejam sendo executados
por toda a organização, encorajando a aplicação da
HPT sempre que possível.

60
BPMDay Shared Services
Com cerca de 500 participantes presentes, o práticos de como BPM pode agregar valor para
BPM Day Shared Services apresentou relevantes os CSCs. Em seguida, o caso do CSC de alunos da
discussões no contexto de Gestão de Processos de Kroton Educacional foi apresentado por Eberson
Negócio para Centro de Serviços Compartilhados Terra, Diretor de Projetos e Processos e de Gestão
(CSC). Contando com a organização e apoio de Alunos. A palestra da International Paper,
das empresas ELO Group, Gauss Consulting representada pelo Sr. Diogenes Junior, encerrou a
e DismoreCompass e patrocínio da iProcess, primeira parte do evento, com a demonstração do
Lecom, T4Log e TOTVS, essa foi a 1º edição do case de otimização dos processos do CSC de RH.
BPM Day voltada para a realidade de CSCs e já se Na parte da tarde, o Sr. Igor Flori discursou acerca
configurou como um dos principais encontros dos da implantação de ferramenta de BPMS no CSC
profissionais da área no Brasil. Realizado no Club da Tenko e, por fim, o Sr. André Junior mostrou o
Homs em São Paulo, contou com a participação case de BPMS da Unimed Londrina.
de mais de 300 empresas, atraindo não somente
os profissionais de BPM, mas também os ligados O BPM Day Shared services atendeu a uma
diretamente à gestão e operação de CSCs. demanda até então reprimida, um fórum
focado na troca de experiências em Gestão de
A abertura do evento foi realizada pelo Sr. Processos de Negócio para Centro de Serviços
Leandro Jesus, Vice Presidente da ABPMP-Br e Compartilhados. Ao final, tanto os organizadores
Sócio Diretor da ELO Group, que apresentou um quanto o próprio público consideram o evento um
panorama geral de BPM para os CSCs. O Primeiro sucesso. Com assuntos relevantes e palestrantes
a se apresentar foi o especialista em CSC, Sr. ativos no mercado, o BPM Day CSC se mostrou
Carlos Janibelli, que mostrou tendências e casos um evento que veio para ficar.

61
ELO EM FOCO

Café da manhã: Transformando Negócios

No dia 19 de setembro, a ELOgroup reuniu em São Paulo profissionais de


diversas áreas de gestão de grandes empresas brasileiras para debater sobre os
desafios enfrentados por eles no tema de transformação organizacional.

O encontro contou com profissionais de empresas profissionais de áreas de apoio, como processos, pro-
como: Andrade Gutierrez, Banco Panamericano, jetos, dentre outras, podem se manter relevantes nes-
BBMapfre, BM&F Bovespa, Citibank, EDP, FastShop, se cenário? Uma das principais conclusões é de que,
Gafisa, Sebrae-SP, Unisoja, Whirlpool, Ypê e Embraer. embora cada organização tenha uma distribuição de
papéis e responsabilidades específica, uma maneira de
O debate, realizado por Daniel Karrer, Rafael Clemente manter-se relevante é conectando transformações de
e Leandro Jesus, foi divido em duas sessões: uma mais diversos tipos. Essa conexão, faz com que sejam pro-
ampla onde se debateram os desafios encontrados por duzidos resultados que verdadeiramente agreguem
grandes empresas que buscam obter sucesso no longo valor para a organização.
prazo, e uma mais específica, que visava posicionar os
profissionais de processo nesse contexto. Os principais tipos de transformação que oferecem
oportunidades de fortes conexões para gerar valor são:
Na primeira sessão, a ELO Group apresentou um pano
de fundo para o debate provocando a seguinte reflexão: • Transformações que buscam a melhoria contínua
“Por que a expectativa de vida das grandes empresas através da gestão do dia-a-dia
vem diminuindo ao longo do tempo?”. Um estudo da
Mckinsey, com base na expectativa de vida das empre- • Transformações que buscam saltos qualitativos atra-
sas presentes na lista da Standard and Poors afirma vés de intervenções de processo
que a expectativa de vida média de grandes empre-
sas caiu de 90 anos na década de 30 para 17 anos na • Transformações que viabilizam a criação de novos
primeira década dos anos 2000. Nesse contexto, uma produtos, serviços e experiências para os clientes da
reflexão provocativa foi proposta em torno da seguinte organização
conclusão: “Ser bem sucedida em um ponto do tempo
não é garantia de sobrevivência”. Os presentes refleti- • Transformações que habilitam a organização a cons-
ram sobre 2 principais desafios para realizar transfor- truir novas fontes de receita e atacar novos mercados,
mações nesse contexto: através da criação de novos modelos de negócio

• Desafio 1: reforçar o hoje e construir o amanhã - Ao final do evento, os participantes se sentiram mo-
Conduzir iniciativas que explorem o negócio atual e vidos pelo debate e decidiram que será formado um
iniciativas que construam o negócio futuro, concomi- grupo que se encontrará periodicamente para debater
tantemente temas associados a transformações organizacionais.

• Desafio 2: portfólio equilibrado de transformação - Deseja participar dos nossos próximos encontros?
Encontrar o correto balanceamento do portfólio de ini- Entre em contato conosco pelo email contato@
ciativas nos diversos horizontes, garantindo a jornada elogroup.com.br
contínua continua
Palestra: Transformação Organizacional - 1
Dado esse contexto, após uma breve pausa para o co-
Palestra: Transformação Organizacional - 2
ffee break, suscitou-se a seguinte reflexão: Como os

62
Mesa Redonda: Como Transformar a Administração Publica?

No dia 3 de outubro, aproximadamente 60 gestores de instituições


de Brasília se reuniram para discutir: “Como transformar os serviços
prestados pela Administração Pública?”

O evento foi estruturado com duas palestras (processos, tecnologia, pessoas e estrutura); (iii)
provocativas e debate entre os participantes. Na Reestruturação de serviços públicos;
primeira, André Macieira, Sócio Diretor da ELO Group,
falou sobre “O desafio de transformar os serviços da Na segunda palestra, Rafael Clemente, Sócio Diretor
administração pública”, mostrando como a visão e da ELO Group, falou sobre “Como reestruturar serviços
abordagem por processos é um elemento fundamental públicos e conceber experiências memoráveis para
para conectar a visão de Valor Público, a proposta de a sociedade”, mostrando como os serviços podem
valor de um serviço e os mecanismos para que estes ser repensados para criar experiências memoráveis
elementos estejam conectados com a estratégia da para o cliente. Diversas ferramentas e abordagens
instituição. Dois dos principais insights desta palestra metodológicas, foram apresentadas como: o Canvas
foram: do Serviço Público, para apoiar a estruturação de um
serviço público, a aplicação do design thinking, e a
1) A lógica de organização de uma cadeia de jornada do cliente para pensar em toda a experiência
valor do setor público não deve se limitar apenas do cidadão ao utilizar um serviço público.
aos processos da instituição, mas conectar os
processos a proposta de valor para o cliente direto No início da palestra, um dos pontos destacados foi que
e ao valor público gerado para a sociedade, de se queria apresentar coisas práticas que pudessem ser
forma tal que as abordagens de melhoria tenham aplicadas no dia seguinte pelos participantes, nas suas
um referencial claro para serem pensadas e instituições. Ao final da palestra, foi lançado um desafio
estruturadas. para que os participantes pudessem aplicar oito passos
sugeridos e que um novo evento fosse realizado para
2) Diversos tipos de transformação, que diferem que cada uma das instituições pudessem apresentar
em escopo e impacto gerado, devem ser pensadas seus resultados.
e trabalhadas em um portfólio de transformação.
“Toda organização deveria se perguntar: Que Ao final o clima era de bastante motivação e agora fica
tipo de transformação preciso?”. Desta forma, a expectativa para o próximo evento.
três principais tipos de transformação foram
discutidas: (i) Melhoria continua a partir da gestão Caso queria participar do próximo evento, envie um
do dia-a-dia; (ii) Transformação da Operação email para contato@elogroup.com.br

Palestra: O desafio de transformar a Palestra: Como reestruturar


Administração Pública os Serviços Públicos?

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