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RIO – Publicado: 08/04/14 - 16h 30min – Atualizado: 03/12/16 - 1h 37min

Complexo da Maré já teve aeroporto, inaugurado na década de 1930


Aeródromo de Manguinhos funcionou por décadas em área próxima à Fiocruz. Em maio de 2006, o primeiro museu sobre uma
favela foi inaugurado na comunidade

Gustavo Villela

No coração do Complexo da Maré havia hangares, pistas, torre de controle e até um hotel para os
seus frequentadores. Era o Aeroporto de Manguinhos, inaugurado em 1936 e que ficava ao lado
da Avenida Brasil, em frente ao Instituto Oswaldo Cruz. Este, por sua vez, fora instalado, a partir
de 1900, na então bucólica Fazenda de Manguinhos, Zona Norte do Rio de Janeiro.
Hoje na área do Aeroporto de Manguinhos foi erguida a Vila do João, uma das comunidades do
Complexo da Maré, que em 8 de maio de 2006 ganhou um museu, o primeiro sobre uma favela,
que resgata a história das 16 comunidades localizadas entre a Baía de Guanabara e a Avenida
Brasil. Com a aproximação do início da Copa do Mundo no Brasil, por medida de segurança o
complexo foi ocupado, em abril de 2014, por militares do Exército, da Marinha e da PM, que só
mais de um ano depois, em junho de 2015, deixaram o local.
Criado com o apoio do governo de Getúlio Vargas, incentivador da aviação brasileira, o
Aeródromo de Manguinhos, oficialmente Aeroclube do Brasil, formou as primeiras gerações de
pilotos do país. Fundado em 1911, o aeroclube teve como primeiro presidente de honra e sócio-
fundador o lendário Alberto Santos Dumont. Na década de 1960, o aeroclube se transferiu para o
Aeroporto de Jacarepaguá, na Barra da Tijuca.
Na edição de 29 de março de 1934, O GLOBO publicou reportagem com o título “Azas! Para o
novo campo Aero Club do Brasil”. Anunciava que decreto do presidente Vargas destinava
recursos para as obras de construção do aeroporto nos “terrenos da baixada de Manguinhos”.
Nas comemorações da Semana da Asa em 1935, o jornal noticiava o “desfile aéreo sob o céu de
Manguinhos”, com a participação de aviadores do Exército e da Marinha. Já em setembro de
1936, uma sexta-feira, publicou outra reportagem com o título “Manhã de aviação em
Manguinhos”. Informava que no domingo seguinte, no Campo de Manguinhos, seria apresentada
a Escola Brasileira de Aviação Civil e realizada a prova de “brevet” da sua primeira turma de
pilotos.
Durante mais de quatro décadas, o campo de pouso de Manguinhos foi usado como aeroporto.
Em dezembro de 1959, nas proximidades do aeroporto, um avião da Vasp se chocou com uma
aeronave de treinamento da FAB e deixou mais de 40 mortos. Os destroços dos aviões caíram
sobre seis casas no bairro de Ramos, matando também moradores. A tragédia, a maior da
aviação brasileira na época, criou dúvidas sobre os riscos de o tráfego aéreo em Manguinhos
interferir em vôos dos aeroportos Galeão e Santos Dumont.
Após o fechamento do Aeroporto de Manguinhos no início dos anos 70, seus hangares e torre de
controle foram demolidos. Em 1982, na área do antigo aeroporto, o governo federal construiu
1.500 casas para pessoas que moravam em palafitas da favela da Maré. O novo bairro, batizado
de Vila do João — em homenagem ao então presidente da República, o general João Figueiredo,
que governou o país de 1979 a 1985 —, fica próximo à Ilha do Pinheiro, ligada ao continente por
meio de aterros.
e. Avião
Arquivo / Agência O Globo

In: http://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/complexo-da-mare-ja-teve-aeroporto-inaugurado-na-decada-de-1930-12129816 Acesso em


09.10.2017

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