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DIREITO URBANÍSTICO EM JUÍZO

ESTUDO DE ACÓRDÃOS DO TRIBUNAL DE


JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

FICHA TÉCNICA

Coordenação: Daniela Campos Libório e Henrique Botelho Frota


Pesquisa: Patrícia de Menezes Cardoso e Irene Maestro
Colaboração: Larissa Perez Cunha e Victor Iacovini
Conteúdo e redação: Patrícia de Menezes Cardoso
Revisão: Henrique Botelho Frota

Projeto Gráfico: Fábio Nassif

INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO URBANÍSTICO – IBDU


Gestão 2014-2015 Gestão 2016-2017
Presidente Presidente
Daniela Campos Libório Daniela Campos Libório
Vice-Presidente Vice-Presidente
Betânia de Moraes Alfonsin Betânia de Moraes Alfonsin
Tesoureira Tesoureira
Stacy Natalie Torres da Silva Vanessa Koetz
Diretora Administrativa Diretora Administrativa
Ligia Maria Silva Melo de Casimiro Ligia Maria Silva Melo de Casimiro
Diretor Administrativo Diretor Administrativo
Leandro Franklin Gorsdorf Alex Ferreira Magalhães
Secretário Executivo Secretário Executivo
Henrique Botelho Frota Henrique Botelho Frota
L696 Libório, Daniela Campos, Org ; Frota, Henrique Botelho, Org ; Cardoso, Patrícia
de Menezes, Org ; Guimarães, Irene Maestro, Org.

Direito Urbanístico em juízo: estudo de acórdãos do Tribunal de Justiça do Es-


tado de São Paulo. / Organizado por Daniela Campos Liborio, Henrique Botelho
Frota, Patricia de Menezes Cardoso e Irene Maestro Guimarães. Colaboração de
Larissa Perez Cunha e Victor Iacovini - São Paulo: IBDU, 2016.

122 p.

ISBN 978-85-68957-04-2

1. Direito Urbanístico 2. Poder Judiciário 3. São Paulo I. Título II. Instituto


Brasileiro de Direito Urbanístico III. Fundação Ford Brasil

CDD 349

CDU 34:711.4
ORGANIZAÇÃO DA OBRA

6
Daniela Campos Libório
Advogada. Doutora em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).
Fez pós-doutorado na Universidad de Sevilla sobre o tema “Gestão Normativa das Águas para
Consumo”. Possui especialização em “Políticas Ambientais e Globalização” pela Universidad
Castilla La Mancha. É professora da PUC/SP nos cursos de graduação e pós-graduação em
Direito e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Meio Ambiente Urbano. Atualmente, é Presi-
dente do Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU).

Henrique Botelho Frota


Advogado. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do
Ceará (UFC). Professor universitário - graduação e pós-graduação - com ênfase em Direito
Urbanístico, Direito Ambiental, Direito Administrativo e Direitos Humanos. Membro Fundador
do Instituto de Pesquisa Direitos e Movimentos Sociais (IPDMS). Associado da Urucum - As-
sessoria em Direitos Humanos, Comunicação e Justiça. Membro da equipe de Direito à Cidade
do Instituto Pólis. Atualmente, exerce a função de Secretário Executivo do Instituto Brasileiro
de Direito Urbanístico (IBDU).

Irene Maestro Sarrion dos Santos Guimarães


Advogada popular. Mestre pelo Programa de Direito Político e Econômico da Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Integrante da Comissão de Direitos Humanos do Sindicato dos Ad-
vogados de São Paulo. Atualmente é pesquisadora FUNDEP no âmbito do Termo de Execução
Descentralizada firmado entre o Ministério das Cidades e a Universidade Federal do ABC para
pesquisa sobre o perfil da demanda de regularização fundiária de assentamentos urbanos no
Brasil. Consultora Temática do Projeto Observatório Litoral Sustentável do Instituto Pólis.

Patrícia de Menezes Cardoso


Advogada. Mestre em Direito do Estado, área de concentração Direito Urbanístico e Am-
biental pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Atuou como pesquisado-
ra e advogada do Núcleo de Direito à Cidade Sustentável do Instituto Pólis (2001/2007), ten-
do trabalhado como especialista em direitos humanos do PNUD/Nações Unidas na Relatoria
Nacional da Moradia. Foi membro do Conselho Nacional das Cidades (2006/2007). Na gestão
pública trabalhou no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão/ Secretaria do Patri-
mônio da União (2007/2014), com atuação no planejamento regional e regularização fundiária
de áreas da União. Recentemente, coordenou as Mesas de Diálogo sobre grandes empreendi-
mentos do Observatório Litoral Sustentável/SP (2014/2016). É uma das associadas fundado-
ras do Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU).
SUMÁRIO
Apresentação 10

I. Introdução 14

II. Metodologia da pesquisa jurisprudencial 18


1. Marco teórico e normativo da pesquisa 19

1.1 Marco normativo de referência da pesquisa em Direito Urbanístico 19

1.2 Marco teórico da pesquisa jurisprudencial 20


2. Roteiro e critérios de pesquisa 25

2.1 Apresentação das etapas da pesquisa – Roteiro 25

2.2 Critérios de pesquisa para a seleção de acórdãos 29

2.3 Ferramentas da pesquisa jurisprudencial 30

2.4 Questionário da pesquisa 34

2.5 Bancos de dados da pesquisa 39

III. Produção jurisprudencial sobre Direito Urbanístico no


Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) 40
1ª etapa: Conhecendo o universo de acórdãos sobre Direito Urbanístico 41
2ª etapa: Selecionando acórdãos sobre Direito Urbanístico para estudo 55

IV. Análise jurisprudencial 60


1. Acórdãos de Direito Urbanístico estudados 61
2. Tipos de ações judiciais e partes envolvidas 65
3. Assuntos do Direito Urbanístico em juízo no TJSP 71

3.1 Assuntos mais recorrentes no conjunto dos acórdãos estudados 73

3.2 Assuntos menos recorrentes no conjunto dos acórdãos estudados 75


4. Pedidos principais das lides 76
5. Caracterização dos litígios urbanos 79

5.1 Situação dos imóveis em litígio 79

5.2 Tipos de uso e situação urbanística-ambiental 80

5.3 Outros litígios urbanos 82


6. Órgãos julgadores e estrutura do TJSP - conflitos negativos de competência –
qual o lugar do Direito Urbanístico no Poder Judiciário Paulista? 83

7. Análise das decisões judiciais 87

7.1 Marco legal utilizado na fundamentação das decisões 87

7.2 Marco legal de Direito Urbanístico utilizado na fundamentação das decisões 90

7.3 Papel do Poder Público segundo o TJSP 95

7.4 Formas de solução de conflitos sobre Direito Urbanístico 98

7.5 Constitucionalidade de institutos do Estatuto da Cidade 104

V. Considerações Finais 108


1. Apontamentos sobre o papel do Judiciário Paulista na aplicação do Direito
Urbanístico 109
2. Recomendações para o fortalecimento do Direito Urbanístico no TJSP 115

Referências 119
APRESENTAÇÃO

10
A presente publicação é resultado de pesquisa empreendida pelo Instituto
Brasileiro de Direito Urbanístico – IBDU que teve por objeto a produção jurispru-
dencial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo sobre temas de Direito
Urbanístico.
Como organização de sociedade civil vocacionada desde a sua fundação para o
fortalecimento e divulgação do Direito Urbanístico, o IBDU tem direcionado uma
significativa parcela de suas ações para a realização de estudos e pesquisas apli-
cadas que possam contribuir para o aprofundamento desse campo do conheci-
mento. Nesse sentido, após uma série de pesquisas que perpassavam por aspec-
tos judiciais1, ficou evidente a carência de dados sistematizados e análises mais
profundas sobre o grau de compreensão da ordem jurídico-urbanística pelo Poder
Judiciário.
No ano de 2014, com o apoio da Fundação Ford o instituto passou a desenvol-
ver o projeto “Fortalecendo o Direito Urbanístico e a Mobilidade Urbana para a
efetivação do Direito à Cidade”, prevendo uma série de atividades de formação
e produção de conhecimento, notadamente por meio de pesquisas. A parceria
foi fundamental para que se constituísse uma equipe de pesquisa, dando-lhe
capacidade para desenvolver os estudos por quase dois anos. No mesmo ano, foi
celebrado um Convênio com o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo – TJSP
objetivando a realização de um levantamento das decisões relacionadas ao Direi-
to Urbanístico. A partir desse instante, estavam constituídas as condições para o
desenvolvimento de uma pesquisa que pretendia investigar de forma pioneira os
posicionamentos sobre a ordem jus-urbanística, bem como a estrutura decisória
de um dos maiores tribunais do mundo.
A partir do diálogo com as instâncias do TJSP foi também possível desenvol-
ver um ciclo de palestras e debates sobre Direito Urbanístico em parceria com o
Centro de Apoio aos Juízes da Fazenda Pública do Estado de São Paulo – CAJUFA.
Dessa forma, um importante desdobramento da pesquisa foi a aproximação e o
diálogo com juízes e servidores do Poder Judiciário Paulista.
A publicação que agora apresentamos traz os dados e reflexões acerca da pro-
dução jurisprudencial do TJSP em temas de Direito Urbanístico, analisando as-
pectos da administração judiciária e o mérito das decisões. O intuito é permitir
uma visão geral de como esse ramo do Direito vem sendo tratado pelo Tribunal
e apontar quais os desafios que devem ser enfrentados para o aprimoramento
1 Dentre as pesquisas anteriores realizadas pelo IBDU, algumas tiverem como foco a atuação do Poder Judiciário ou se depa-
raram com aspectos da função jurisdicional, em especial: 1) Pesquisa Conflitos Coletivos sobre a Posse e Propriedade de Bens
Imóveis (2009), realizada em parceria com o Escritório Modelo “Dom Paulo Evaristo Arns” da PUC/SP, o Centro pelo Direito à
Moradia contra Despejos - COHRE, o Instituto Pólis e a ONG Terra de Direitos no âmbito do Projeto Pensando o Direito do Mi-
nistério da Justiça; 2) Pesquisa Regime Jurídico dos Bens da União (2010), realizada em parceria com o Escritório Modelo “Dom
Paulo Evaristo Arns” da PUC/SP e o Instituto Pólis no âmbito do Projeto Pensando o Direito do Ministério da Justiça; 3) Pesquisa
Soluções Alternativas para Conflitos Fundiários Urbanos (2013), realizada em parceria com o Instituto Pólis e o Centro de Direitos
Econômicos e Sociais – CDES no âmbito do Programa Diálogos sobre a Justiça do Ministério da Justiça; 4) Pesquisa De Olho
nos Direitos de Comunidades Atingidas por Projetos de Grande Impacto Urbano e Ambiental (2013-2015), realizada com apoio
da Fundação Ford. Todas as publicações podem ser acessadas no site www.ibdu.org.br.

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das decisões e procedimentos do Poder Judiciário. A metodologia desenvolvida
na pesquisa permite que outros Tribunais possam vir a ser estudados no futuro.
Esperamos que outros grupos de pesquisa se sintam estimulados a isso, de for-
ma que o debate seja enriquecido com base em novas experiências.
A divulgação de jurisprudência que possa representar um paradigma positi-
vo para a atuação do Poder Judiciário quanto à aplicação do Direito Urbanístico,
também é um desdobramento importante da pesquisa no âmbito da parceria
como o TJSP. Esperamos contribuir para a padronização de procedimentos de
maior diálogo e pacificação de conflitos levados ao Tribunal, bem como fomentar
iniciativas na área jurídica, especialmente no ensino e modernização da atuação
dos órgãos essenciais à Justiça.
Por fim, agradecemos a todas as pessoas e instituições que apoiaram a pes-
quisa, notadamente o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo por meio da Pre-
sidência e seus juízes assessores, bem como dos servidores do Centro de Apoio
do Direito Público – CADIP, do Centro de Apoio aos Juízes da Fazenda Pública do
Estado de São Paulo – CAJUFA e do setor de distribuição da segunda instância.
Agradecimento especial também à Fundação Ford no Brasil pelas contribuições
e pela parceria.

Daniela Campos Libório


Presidente do IBDU

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13
I. INTRODUÇÃO

14
Após quinze anos da aprovação do Esta- vas ações todos os dias3 , o Tribunal já pro-
tuto da Cidade e mais de vinte e cinco anos duziu inúmeras decisões sobre o novo mar-
da vigência do Capítulo de Política Urbana co legal jurídico-urbanístico brasileiro, que
na Constituição Federal de 1988, busca-se formam um amplo campo de estudo.
com esta pesquisa conhecer melhor a con-
tribuição do Poder Judiciário Paulista para o Investigar os entendimentos do Tribu-
Direito Urbanístico. nal de Justiça do Estado de São Paulo sobre
“Direito Urbanístico” é a questão orientado-
A crise urbana vivenciada em muitas ci- ra, o ponto de partida da presente pesquisa.
dades paulistas, explicitada pela desigualda- Como o Tribunal está aplicando o marco
de, violência e precária qualidade de vida, jurídico-urbanístico (Constituição Federal e
tem resultado em um crescente número de Estatuto da Cidade)? Como o Judiciário Pau-
litígios judiciais. Situações dramáticas que lista está utilizando o Direito Urbanístico para
envolvem conflitos fundiários coletivos ou a a solução de litígios que envolvam a função
degradação do ambienta urbano colocam- social da propriedade urbana e funções so-
-se como desafios para os juízes e desem- ciais da cidade? Qual o papel do Poder Pú-
bargadores do Tribunal de Justiça de São blico na execução das políticas públicas ur-
Paulo (TJSP), instados a proferirem decisões banas segundo o Tribunal?
em processos que tratam de assuntos rele-
vantes para os rumos de nossas cidades. Neste sentido, a presente pesquisa juris-
prudencial se propôs a observar diferentes
Os números apresentados pela presidên- aspectos da participação e contribuição do
cia do Tribunal, quanto à temática dos con- TJSP ao Direito Urbanístico. Como uma pes-
flitos fundiários, ilustram bem este contexto. quisa pioneira sobre o tema, focou-se no
Segundo declaração do então Presidente conhecimento, sistematização e análise de
do TJSP no ano de 2015, há mais de 160 mil um conjunto de 193 acórdãos do Tribunal
ações que versam sobre conflitos fundiários de Justiça de São Paulo que remetem em
em curso no Estado, das quais 35 mil correm sua ementa aos temas gerais desta disciplina
na capital, sem contar os incidentes e recur- jurídica, quais sejam: o “Direito Urbanístico”,
sos remetidos à segunda instância2. a “Política Urbana”, o “artigo 182 da Constitui-
ção Federal” e a “Lei 10.257, de 2001”.
Diante deste cenário, é certo que o TJSP,
enquanto maior corte estadual não só do Adicionalmente, considerando a relevân-
país, mas da América Latina, pode ter papel cia do artigo 183 da Constituição e da MP
relevante na promoção do acesso à justiça e 2.220/2001 para o estudo do Direito Urba-
na concretização da justiça social e urbana. nístico, focou-se na discussão de constitu-
Destaca-se, neste sentido, o papel constitu- cionalidade da concessão de uso especial
cional do TJSP na promoção da “justiça iti- para fins de moradia e sobre a usucapião es-
nerante” (art. 125, § 7º CF/88 – EC nº45/2004) pecial urbana sedimentada pelo órgão espe-
e “para dirimir conflitos fundiários” (art.126, cial do Tribunal Paulista. Considerando que a
CF/88 – EC nº45/2004). Com 360 desem- usucapião, em suas diversas modalidades, é
bargadores, mais de 2,3 mil magistrados de uma das matérias urbanísticas de maior in-
primeiro grau, quase 50 mil servidores, 20 cidência no TJSP, este também é um dos te-
milhões de processos judiciais e 23 mil no- mas indicados como relevantes para novas
2 Artigo “O Judiciário e os conflitos fundiários” de José Re-
pesquisas jurisprudenciais pelo IBDU.
nato Nalini, presidente do Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo e Wilson Levy, Diretor da Presidência, publicado
no Jornal A Folha de São Paulo, Seção Tendências e Debates, 3 Dados disponíveis em http://www.tjsp.jus.br/CemPorCen-
em 29/07/2015. toDigital/.

15
Sob uma abordagem mais ampla, por se nístico, discricionariedade administrativa,
tratar do primeiro projeto de pesquisa juris- constitucionalidade, etc.);
prudencial do IBDU, este estudo busca fo-
mentar novas pesquisas na área, bem como 1Realizar atividades de ensino sobre te-
apoiar o fortalecimento do Direito Urbanís- mas de Direito Urbanístico para os ma-
tico no TJSP. Neste sentido, foram estabele- gistrados do TJSP visando promover o
cidos os seguintes objetivos gerais da pes- debate e atualização sobre o marco legal
quisa: jurídico-urbanístico;

1Conhecer e apoiar a divulgação de ju- 1Apoiar o TJSP no aperfeiçoamento da


risprudência do TJSP sobre Direito Urba- forma de categorização de assuntos refe-
nístico que representem um paradigma rente ao Direito Urbanístico, assim como
positivo para sua aplicação em conformi- dos instrumentos de pesquisa, organiza-
dade com a Constituição Federal; ção (catalogação e indexação), publica-
ção e divulgação de jurisprudências;
1Subsidiar novas pesquisas jurisprudên-
cias sobre o Direito Urbanístico no TJSP 1Elaborar e divulgar estudo sobre o trata-
e em outros órgãos e instâncias do Poder mento do Poder Judiciário do Estado de
Judiciário Brasileiro, bem como em ou- São Paulo sobre o Direito Urbanístico – o
tras regiões do país; presente relatório de pesquisa.

1Qualificar a interlocução do IBDU com Traçados os objetivos da pesquisa juris-


o Poder Judiciário Paulista e outros ato- prudencial na etapa de projeto, a expectati-
res relevantes como o Ministério da Justi- va principal foi a de conhecer e sistematizar
ça, Educação e Cidades, seus Conselhos, o que o Tribunal Paulista, em suas decisões
e diferentes categorias profissionais de de segunda instância, nomina como “Direito
operadores do Direito, para, subsidiar o Urbanístico” ou “Política Urbana”, bem como
fortalecimento do Direito Urbanístico no quando está utilizando “artigo 182 da Consti-
Brasil e seu ensino. tuição Federal” e a “Lei 10.257 de 2001”.

Para cumprir estes objetivos gerais, os No capítulo que se segue, será explicita-
seguintes objetivos específicos resumem o do como foram definidos critérios de estu-
escopo da pesquisa: do, marco temporal e abrangência, consi-
derando as limitações e possibilidades reais
1Elaborar metodologia de pesquisa juris- da pesquisa empírica. Isto, considerando os
prudencial sobre Direito Urbanístico; recursos disponíveis para a pesquisa, tanto
do projeto de pesquisa (equipe e recursos
1Estudar acórdãos do TJSP a fim de possíveis para serem mobilizados) como pe-
identificar, por amostragem, a incidência las ferramentas de pesquisa de julgados do
e aplicação dos dispositivos da Consti- TJSP disponíveis aos cidadãos.
tuição Federal de 1988 que disciplinam a
Política Urbana e do Estatuto da Cidade
como fundamento das decisões do TJSP;
1Estudar acórdãos do TJSP para conhe-
cer a forma de aplicação dos dispositivos
da Constituição Federal de 1988 que dis-
ciplinam a Política Urbana e do Estatuto
da Cidade nas decisões judiciais paulistas,
buscando identificar tendências majori-
tárias e minoritárias de temas relevantes
para a pesquisa (competência para jul-
gamento das matérias de Direito Urba-

16
17
II. METODOLOGIA DA PESQUISA
JURISPRUDENCIAL

18
Neste capítulo será apresentado, primei- para o método que veio a ser aplicado, per-
ramente, o marco normativo do Direito Ur- mitindo compreender o caminho percor-
banístico que orientou a investigação e, em rido, as escolhas e recortes feitos ao longo
seguida, as referências teóricas da metodo- do estudo e no seu aprofundamento, bem
logia de pesquisa jurisprudencial. como fomentar novos estudos em Direito
Urbanístico nos órgãos do Poder Judiciário
O marco normativo do Direito Urbanísti- no Brasil.
co foi relevante para que pudesse ocorrer a
definição dos critérios de análise utilizados Posteriormente, serão apresentados o
na pesquisa, especialmente a escolha das roteiro, os critérios e os recortes escolhidos
palavras-chave de consulta de acórdãos na para a investigação, bem como as ferramen-
página eletrônica do TJSP e a elaboração de tas de pesquisa empírica e tecnológicas utili-
quesitos no formulário de pesquisa aplicado zadas. Esta etapa visa informar as condições
na análise das decisões judiciais. objetivas e subjetivas que condicionaram os
resultados da pesquisa, suas possibilidades e
Já as referências teóricas sobre metodo- limitações.
logia de pesquisa empírica e sobre pesqui-
sa jurisprudencial visam apontar caminhos

Federal de 1988, conferiu expressamente à


]
1. Marco teórico e normativo
União competência para editar suas nor-
mas gerais (I c/c §1º) deixando aos Estados
a competência suplementar (§2º), existente
da pesquisa também em favor dos municípios (art. 30, II).
Os objetivos da disciplina urbanística fo-
ram definidos pelo Capítulo de Política Ur-
1.1 Marco normativo de referência da bana da Constituição, sendo fixado no ar-
pesquisa em Direito Urbanístico tigo 182 o regime jurídico da propriedade
urbana que tem o plano diretor municipal
como norma definidora das exigências para
Para realizar a pesquisa jurisprudencial o cumprimento de sua função social. Veja-
sobre Direito Urbanístico, faz-se necessário mos:
primeiramente delimitar o conceito teórico Art. 182. A política de desenvolvimento ur-
e normativo de Direito Urbanístico que o bano, executada pelo Poder Público mu-
presente estudo adotou como referência. nicipal, conforme diretrizes gerais fixadas
em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
Sob o aspecto normativo, o Direito Urba- desenvolvimento das funções sociais da
nístico, enquanto disciplina jurídica autôno- cidade e garantir o bem-estar de seus ha-
ma, está previsto na Constituição de Federal bitantes.
de 1988, que firmou sua existência e fixou § 1º O plano diretor, aprovado pela
seus objetivos e instrumentos, sendo conso- Câmara Municipal, obrigatório para
lidado pelo Estatuto da Cidade. cidades com mais de vinte mil habitantes,
é o instrumento básico da política de
É no artigo 24, inciso I, que consta a desenvolvimento e de expansão urbana.
competência concorrente da União, Estados
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua
e Distrito Federal para legislar sobre Direito função social quando atende às exigências
Urbanístico. Assim, no tocante às compe- fundamentais de ordenação da cidade
tências legislativas, o art. 24 da Constituição expressas no plano diretor.

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§ 3º As desapropriações de imóveis lítica urbana”, enfatizando a ação municipal
urbanos serão feitas com prévia e justa no planejamento urbano e na definição das
indenização em dinheiro. exigências para o cumprimento da função
§ 4º É facultado ao Poder Público munici- social da propriedade urbana.
pal, mediante lei específica para área inclu-
ída no plano diretor, exigir, nos termos da Em 2001, a Lei nº 10.257, autointitulada
lei federal, do proprietário do solo urbano Estatuto da Cidade, regulamentou o Capí-
não edificado, subutilizado ou não utiliza- tulo da Política Urbana da Constituição Fe-
do, que promova seu adequado aproveita- deral. Juntamente com a Medida Provisória
mento, sob pena, sucessivamente, de:
nº 2.220/2001, tal marco legal conforma
I - parcelamento ou edificação compulsó- normas gerais que definiram as diretrizes da
rios; Política Nacional de Desenvolvimento Urba-
II - imposto sobre a propriedade predial e no, disponibilizando diversos instrumentos
territorial urbana progressivo no tempo; jurídicos, políticos, urbanísticos, tributários e
financeiros para sua implementação.
III - desapropriação com pagamento me-
diante títulos da dívida pública de emissão É competência comum de todos os en-
previamente aprovada pelo Senado Fede- tes da Federação (União, Estados, Distrito
ral, com prazo de resgate de até dez anos,
em parcelas anuais, iguais e sucessivas, as-
Federal e Municípios) “promover programas
segurados o valor real da indenização e os de construção de moradias e a melhoria das
juros legais. condições habitacionais e de saneamen-
to básico” (art. 23, IX, CF/88) como política
E, no artigo 183, a previsão dos direitos pública essencial para a garantia de moradia
subjetivos à usucapião especial urbana de digna para todos e, com isto, a promoção da
imóveis particulares e à concessão de uso ordem urbanística em nossas cidades. Va-
especial para fins de moradia de imóveis lendo destacar que a ordenação da cidade
públicos. Que constituem dois relevantes é tutelada enquanto bem coletivo e difuso
instrumentos de regularização fundiária de da sociedade pela interposição de ações
interesse social e acesso à terra urbana que coletivas – como ação civil pública e ação
possibilitam a garantia do direito social à popular - nos termos do art. 1º, inciso VI da
moradia consagrado pelo artigo 6º, enquan- Lei 7.347/1985.
to direito fundamental constitucional. Nos
seguintes termos: Não obstante os últimos quinze anos
tenham sido marcados por uma intensa
Art. 183. Aquele que possuir como sua
área urbana de até duzentos e cinquenta
produção legislativa no campo do Direito
metros quadrados, por cinco anos, inin- Urbanístico, decidiu-se centrar as atenções
terruptamente e sem oposição, utilizan- da pesquisa no marco constitucional e no
do-a para sua moradia ou de sua família, Estatuto da Cidade.
adquirir-lhe-á o domínio, desde que não
seja proprietário de outro imóvel urbano
ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de
uso serão conferidos ao homem ou à mu-
lher, ou a ambos, independentemente do 1.2 Marco teórico da pesquisa
estado civil. jurisprudencial
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao
mesmo possuidor mais de uma vez.
Para a elaboração do projeto de pesqui-
§ 3º Os imóveis públicos não serão adqui- sa jurisprudencial que orientou este estudo
ridos por usucapião. foi feito um levantamento bibliografia sobre
Conformou-se, com isto, o ramo do Di- pesquisa em direito com foco em análise de
reito centrado no desenvolvimento da “po- jurisprudências e em pesquisas empíricas, a

20
fim de orientar a metodologia do trabalho. como a instituição2 está organizada para co-
nhecer e julgar a matéria urbanística e, ain-
As principais referências utilizadas para da, como o Tribunal de Justiça está lidando
apoiar a metodologia aplicada neste traba- com os fatos e conflitos da realidade urbana
lho são apontadas a seguir. Destaca-se a na sua produção jurisprudencial.
importância destes referenciais práticos e
teóricos, mesmo que os caminhos eleitos Neste sentido a pesquisa empírica é um
no desenvolvimento deste estudo sejam método que pode contribuir para a refle-
próprios. Pois, por se tratar de uma pesquisa xão jurídica e de suas instituições. Segundo
empírica, debruça-se sobre parte da reali- KANT DE LIMA e BAPTISTA,
dade, um objeto de estudo concreto – no
o próprio campo jurídico começou a se
caso, o grupo de 193 acórdãos do TJSP que dar conta de que as respostas prontas e
remetem ao Direito Urbanístico – definido a definitivas que o Direito oferece para os
partir de recortes e critérios estabelecidos ao problemas dinâmicos e cotidianos enfren-
longo do processo de pesquisa. tados pelo Judiciário não atendem às de-
mandas diferenciadas da sociedade, e esse
A “realidade” é uma palavra importan- notório descompasso, verificado entre
te nesse trabalho, pois a pesquisa empírica aquilo que os cidadãos desejam e aquilo
que a Justiça lhes oferece, está causando
pressupõe o direcionamento do olhar para
uma incontrolável crise de (des) legitimi-
o contexto fático, não deixando de ser um dade desse Poder da República, que pre-
instrumento que mensura a realidade. No cisa resgatar a sua credibilidade para fazer
caso do Direito, enquanto objeto de pesqui- cumprir o seu papel institucional, que é
sa, a análise das práticas judiciárias é a ferra- primordial para o fortalecimento do Esta-
menta metodológica que permite lançar um do Democrático de Direito, ainda muito
espelho autorreflexivo sobre o Judiciário e distante da nossa realidade3.
suas tradições e, a partir disso, ao conhecê-
-los melhor, tentar aprimorá-los, pois, com
efeito, só é possível transformar aquilo que Os autores chamam a atenção para a
se conhece1. importância de se constituir um campo de
pesquisa empírica, de base crítica, na área do
Neste sentido, considerando o papel de Direito. Apontando a necessidade de tornar
observador que a pesquisa exige, optou-se explícitas as práticas do Judiciário para que
por apresentar as referências teóricas sobre seja possível conhecer melhor esse saber e
o Direito Urbanístico apenas quando neces-
sárias para apoiar a definição de critérios de 2 Para Diogo Coutinho, membro da Rede de Pesquisa Em-
pírica em Direito (REED) e participante do I Encontro de
pesquisa (como, por exemplo, para a defini- Pesquisa Empírica em Direito, um dos tipos de pesquisa em
ção dos princípios basilares do Direito Urba- direito inclui os estudos das instituições e de seus atores de
uma perspectiva jurídica. Como se sabe e muito se repete, as
nístico) e como referência para as conside- instituições são uma variável-chave para o desenvolvimento
rações finais do trabalho. Isto para que seja das sociedades. Pesquisas sobre instituições fazem análises
de seus elementos, de sua arquitetura, das relações e causa-
priorizada a observação e conhecimento da lidades que suscitam, dos incentivos comportamentais que
produção jurisprudencial a partir de critérios criam e dos atores que as operam. Com isso, essas pesquisas
expõem complexidades, peculiaridades e lacunas no funcio-
mais objetivos e positivos - o marco legal namento de instituições, tentando melhorá-las e aperfeiçoá-
jurídico-urbanístico. Cabendo, ao final, con- -las como uma tarefa crucial do jurista. Para saber mais,
siderações e reflexões críticas sobre a contri- consultar: IPEA, Pesquisa Empírica em Direito, 2011 - Anais
do I Encontro de Pesquisa Empírica em Direito, realizado em
buição do Poder Judiciário à consolidação e Ribeirão Preto, 29 e 30 de setembro de 2011, a partir do qual
fortalecimento do Direito Urbanístico. foi fundada a Rede de Pesquisa Empírica em Direito (REED).
Disponível em http://www.ipea.gov.br/agencia/images/sto-
ries/PDFs/livros/livros/livro_pesquisa_empirica_direito.pdf.
Para tanto, é importante observar como 3 KANT LIMA, Roberto; BAPTISTA, Bárbara Gomes Lupetti. O
o discurso jurídico das decisões judiciais lida desafio de realizar pesquisa empírica no Direito: uma contri-
com o Direito Urbanístico. Da mesma forma, buição antropológica. Instituto Nacional de Ciência e Tecno-
logia – Instituto de Estudos Comparados em Administração
Institucional de Conflitos (INCT-InEAC). http://www.uff.br/
1 DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma Introdução à Antro- ineac/sites/default/files/o_desafio_de_realizar_pesquisa_em-
pologia Social. Rio de Janeiro, Rocco, 1987, pp. 48-50. pirica_no_direito.pdf

21
as atividades que o governam, sem que o vas para a densificação semântica8 (ou sua
acesso a esses dados se restrinja aos mem- ausência) das palavras utilizadas na decisão.
bros internos e operadores do campo. De forma a verificar se há descrição das cir-
cunstancias fáticas na motivação da decisão
Assim, para a definição das etapas de pes- que justifiquem/embasem a valoração feita,
quisa, uma referência inicial utilizada sobre tornando possível identificar justificação ple-
metodologia de pesquisa jurisprudencial foi na ou déficit de justificação/arbítrio da deci-
o artigo de FREITAS FILHO e LIMA sobre o são.
‘Método de Análise de Decisões/MAD’4. Este
método pressupõe ser possível a aplicação Embora não se tenha optado por uma
de uma forma instrumental de pesquisa em análise por meio de teoria da linguagem
direito que permite comensurabilidade de dos acórdãos nesta pesquisa, esta referência
resultados, a partir de um protocolo meto- teórica mostrou-se relevante para a análise
dológico com três fases distintas: a análise de acórdãos identificados como paradigmas
jurisprudencial, o estudo de caso e a terceira positivos ou negativos no decorrer da pes-
propriamente sendo a análise de decisões. quisa. O que será apresentado pelos exem-
Propõe uma investigação por meio de teoria plos de decisões judicias ao longo da pes-
da linguagem na qual se possam identificar quisa.
os usos das palavras e expressões com as
quais a decisão é construída.
Segundo os autores a Análise de Deci- Os estudos do Projeto Pensando o Di-
sões é um método que permite: 1) organizar reito, da Secretária de Assuntos Legislativos
informações relativas a decisões proferidas do Ministério da Justiça, como por exemplo
em um determinado contexto; 2) verificar o número 7/2009 que tratou dos “Conflitos
a coerência decisória no contexto determi- Coletivos sobre a Posse e a Propriedade de
nado previamente e 3) produzir uma expli-
8 Para FILHO, Roberto Freitas; LIMA, Thalita Moraes, de forma
cação do sentido das decisões a partir de resumida, a distinção entre palavras de valor e palavras des-
interpretação sobre o processo decisório, a critivas diz respeito à função lógica das mesmas em determi-
nado discurso. Explicam: “As palavras descritivas são aquelas
forma das decisões e sobre os argumentos que não têm sentido prescritivo, não tem significado relativo
produzidos. À luz deste método, a pesquisa à qualidade de um objeto ou situação. Dizer que algo é um
automóvel é usar a palavra “automóvel” no sentido descriti-
também considerou as etapas de pesquisa vo. Essa afirmação não pede uma justificação para que seja
exploratória5, de recorte objetivo6 e o recor- plenamente compreendida. Ninguém se pergunta, de for-
te institucional7, como parte do processo de ma geral, a quem diz “Isto é um automóvel”, por que essa
pessoa descreveu o objeto como um automóvel. As pala-
pesquisa. vras descritivas tem função lógica de designar um objeto e
seu significado é menos problemático do que o das palavras
Quanto à análise das decisões judiciais avaliatórias quanto à estabilidade semântica prima facie. Por
outro lado, um proferimento como “Isto é um bom automó-
em si, o MAD propõe identificar elementos vel.” pede, naturalmente, uma justificação sobre a avaliação
narrativos com os quais as decisões cons- feita a respeito da qualidade atribuída ao objeto. Bom é uma
palavra de valor. Vejamos o que isso significa. As palavras de
troem seus argumentos e a análise crítica da valor, por terem função de qualificar um determinado obje-
decisão. Sendo necessário para tanto iden- to, não são estáveis semanticamente de forma apriorística, o
tificar palavras de valor e palavras descriti- que torna necessária a indicação, na motivação da decisão,
das circunstâncias descritivas que estão presentes no caso.
4 FREITAS FILHO, Roberto; LIMA, Thalita Moraes. Metodologia Assim, por exemplo, se um decisor diz que determinada pres-
de análise de decisões. IN: Anais do XIX Encontro Nacional do tação jurisdicional é devida por causa da dignidade da pessoa
CONPEDI/UFC – Fortaleza, 2010. Disponível em : http://www. humana, a expressão “dignidade” tem de ser densificada de
conpedi.org.br/anais_fortaleza.html. forma tal que, no caso concreto, seja possível identificar quais
5 Compilação da bibliografia básica e o marco teórico para as circunstâncias presentes determinam que tal situação gera
compor a matriz paradigmática do tema. “indignidade”. Por causa da função lógica da palavra, que tem
6 Identificação de uma questão-problema jurídica relevan- como significado descrever um estado desejável (“digno” sig-
te aos olhos do pesquisador que no nosso caso é investigar nifica algo valoroso), se o julgador não descreve ad nausean
a aplicação do instituto jurídico do Direito Urbanístico pelo as características descritivas, ou seja, quais as circunstâncias
TJSP sendo relevante a definição do seu marco normativo. fáticas que determinam que a situação é “digna”, o discurso
7 Os órgãos colegiados do TJSP no caso da pesquisa, incluin- acaba desbordando para a possibilidade de arbítrio, dada a
do as decisões do pleno do Tribunal, da Câmara Reservada falta de justificação plena. Há portanto o chamado “déficit de
de Meio Ambiente, além das Câmaras de Direito Público e justificação”. Esse é um pressuposto básico da MAD, sendo
Privado. essa a sua especificidade.”

22
Bens Imóveis” 9, também foram utilizados e abrange várias localidades/bairros/regiões
para apoiar o desenvolvimento desta pes- da cidade, com número de pessoas não
quisa. O estudo sobre conflitos fundiários identificáveis, derivado de uma somatória de
coletivo trata em um dos seus capítulos da situações de segregação social e territorial
análise jurisprudencial sobre conflitos coleti- de repercussão simultânea em um mesmo
vos urbanos e rurais, procedendo a consoli- intervalo temporal. É consequência do pla-
dação de dados observados, sendo um dos nejamento excludente e priorização do di-
subsídios utilizados para a elaboração do reito de propriedade em detrimento do di-
questionário desta pesquisa. Observou-se, reito à moradia digna.
também, que nas publicações de pesqui-
sa jurisprudencial consultadas não há uma Vale mencionar que na lista de assun-
descrição mais detalhada da metodologia e tos organizada pelo Conselho Nacional de
instrumental de pesquisa utilizado. Justiça (CNJ)11, foi incluído o assunto “con-
flito fundiário coletivo urbano” em maio de
A pesquisa sobre conflitos fundiários rea- 2014. Segundo o glossário desta ferramen-
lizada pelo IBDU, Pólis e CDES no âmbito do ta de consulta do CNJ refere-se a “assunto
Projeto “Diálogos Sobre a Justiça” da Secre- complementar a ser acrescentado nas ações
taria de Reforma do Judiciário do Ministério cíveis que tenham como pano de fundo a
da Justiça10, foi outro trabalho que apresen- existência de conflito fundiário coletivo ur-
tou referencial teórico quanto a alguns con- bano. Exemplos de ações seriam possessó-
ceitos relevantes para esta pesquisa, como o rias, reivindicatórias etc.”
conceito ‘amplo’ e ‘estrito’ de conflito fundiá-
rio coletivo. Também a reflexão crítica do es- Quanto ao papel da jurisdição para a
tudo sobre o papel da jurisdição contribuiu prevenção e mediação dos conflitos fundi-
com esta pesquisa ao identificar a função ários urbanos, este estudo do IBDU, Pólis e
‘pacificadora’ da jurisdição como essencial CDES, aponta a necessidade da compreen-
para que o Poder Judiciário assuma papel são de sua complexidade, reconhecendo o
estratégico na prevenção e mediação de grave problema social dos despejos desde
conflitos fundiários, ao mesmo tempo que o ponto de vista eminentemente jurídico-
aponta a necessidade de se superar a ‘pri- -formal-processual até as interfaces jurídicas
mazia do formalismo’ como tendência da e sociais que também são importantes no
prática judicante que leva ao acirramento momento de se decidir uma demanda judi-
dos conflitos fundiários urbanos e rurais. cial desse tipo. Segundo o estudo, compre-
ender os conflitos fundiários urbanos a partir
No tocante aos conflitos fundiários cole- de uma visão formalista ao extremo e que
tivos, o estudo aponta que podem ser carac- privilegia a supremacia da propriedade (da
terizados em “estrito” e “amplo”. O primeiro segurança jurídica e do respeito aos con-
refere-se a um caso especifico e nominável, tratos nesses casos) em detrimento do re-
no qual se identificam as partes claramente, conhecimento da posse com função social
circunscrito a um momento especifico. Por (em ocupação consolidadas ou não, de seu
exemplo, no caso de uma ação judicial, de direito à moradia digna, do direito à cidade,
atuação administrativa ou realização de obra do direito à participação na decisão pelas
que ameace o direito à moradia de famílias comunidades ameaçadas de despejo do seu
de baixa renda e grupos sociais vulneráveis. próprio destino) diminui consideravelmente
O segundo decorre da segregação territorial as chances de uma solução alternativa ao
9 BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria de Assuntos Le- conflito fundiário.
gislativos. Conflitos Coletivos sobre a Posse e a Propriedade
de Bens Imóveis. Série Pensando o Direito v. 7. Coordenação: Considerando tais referências teóricas,
Nelson Saule Junior, Daniela Libório e Arlete Aurelli. Brasília:
Ministério da Justiça, 2009.
o questionário de pesquisa deste trabalho
10 SAULE JUNIOR, Nelson; DI SARNO, Daniela Campos Li- contém quesitos em que se busca identi-
bório (coord.). Soluções Alternativas para Conflitos Fundiários
Urbanos. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria de Reforma 11 Disponível http://www.cnj.jus.br/sgt/consulta_publica_as-
do Judiciário, 2014. suntos.php . Acesso em: 05.ago.2015

23
ficar nas decisões judiciais estudadas quais que tratariam de assuntos genéricos como
pedidos principais da ação judicial dizem “atos administrativos” ou “Direito Público e
respeito a assuntos de conflitos fundiários Administrativo”, ocultando os reais assuntos
urbanos, bem como questões destinadas a de Direito Urbanístico, como a temática dos
identificar o papel da jurisdição segundo os conflitos fundiários urbanos, mesmo que
acórdãos e os mecanismos de solução de não apresentados e reconhecidos como tal.
conflitos.
Tanto a incidência quanto as ausências e
O instrumental de pesquisa será apre- problemas de categorização da prática judi-
sentado e descrito em seguida. Importante ciária foram relevantes para a análise juris-
salientar que a utilização destas ferramentas prudencial da pesquisa.
é um processo dinâmico, de inúmeros ajus-
tes e correções, bem como nas opções fei-
tas para a consolidação e apresentação dos
dados de pesquisa. Assim, o instrumental
elaborado e utilizado como o questionário e
o banco de dados de tabulação, passou por
diversas revisões no processo de pesquisa.
Sendo importante as etapas de testes e apli-
cações em conjunto pela equipe de pesqui-
sa até a formatação da ferramenta final a ser
utilizada em grande escala pelos membros
da pesquisa conforme procedimentos acor-
dados previamente. Sempre que necessário,
quando identificadas inconsistências, foram
efetuadas correções nas bases de dados já
consolidadas, para a correção, melhor apre-
sentação ou padronização de alguma infor-
mação.
Após a consolidação da tabulação dos
dados da pesquisa, foi possível visualizar os
dados globais da pesquisa, o que permitiu
identificar os quesitos e assuntos do ques-
tionário de pesquisa que foram mais utiliza-
dos e os que pouco ou não foram utilizados.
Daí percebeu-se que os “vazios” e as “ausên-
cias” de conteúdos que se buscava encon-
trar no grupo de acórdãos estudados é bas-
tante relevante para a análise da produção
jurisprudencial.
Desta forma, identificar o conteúdo jurídi-
co presente nas decisões judicias, no caso do
Direito Urbanístico, revelou-se tão importan-
te quanto identificar os assuntos, princípios,
artigos e leis não utilizadas. Ou, ainda, con-
teúdos que estão “ocultos”, são nominados
pelo TJSP ou nominados de forma genérica
e pouco compreensível para magistrados
e cidadãos. Como, por exemplo, a catego-
rização de assuntos dos processos judiciais

24
será tratada no capítulo III e a análise juris-
]
2. Roteiro e critérios de
prudencial e consolidação das informações
coletadas no IV.

pesquisa Passemos a descrição do roteiro de pes-


quisa:
2.1 Apresentação das etapas da Etapa 1: Pesquisa Exploratória
pesquisa – Roteiro
1LEVANTAMENTO DE BIBLIOGRAFIA –
Pesquisa de referências metodológicas
Nesta parte, buscamos sintetizar as eta- e teóricas de pesquisa jurisprudencial e
pas de pesquisa, a fim de facilitar a descrição pesquisa empírica.
como um roteiro de orientação, para que 1DEFINIÇÃO DA METODOLOGIA E INS-
este caminho possa ser conhecido pelos TRUMENTAL DE PESQUISA – Elaboração
leitores e também auxiliar outros pesquisa- do projeto de pesquisa com a identifica-
dores interessados e conhecer mais detalha- ção do problema e perguntas orienta-
damente experiências de pesquisa empírica doras, etapas de pesquisa e cronograma
jurisprudencial. de trabalho, estrutura para o desenvolvi-
Considerando que o desenvolvimento da mento do trabalho e equipe. Também foi
pesquisa empírica é um processo dinâmi- feita nesta etapa a definição de critérios
co e complexo, entre a definição do proje- de seleção de acórdãos e a elaboração do
to de pesquisa, a aplicação e utilização de instrumental de pesquisa, especialmente
ferramentas de pesquisa para a observação o questionário a ser aplicado em cada um
da realidade (no caso, decisões judiciais do dos acórdãos selecionados para estudo.
Tribunal de Justiça transitadas em julgado) Nesta primeira etapa foi feita a definição
para a conformação do objeto de estudo e do projeto de pesquisa, incluindo as suas
sua análise, a elaboração de um roteiro é por perguntas orientadoras1, o marco normati-
si só desafiadora uma vez que não se tra- vo de Direito Urbanístico orientador da pes-
ta de processo linear, mas sim um processo quisa, o marco teórico da metodologia de
em que várias etapas se dão de forma con- pesquisa jurisprudencial e posteriormente o
comitante, uma alimentando a outra. questionário a ser aplicado em cada um dos
Apresentamos, assim, as etapas da pes- acórdãos.
quisa compondo um roteiro de trabalho e A definição de estrutura de apoio à pes-
estudo resumido em quatro fases: (i) Pes- quisa (local de reuniões, computadores dis-
quisa exploratória; (ii) Delimitação do objeto poníveis) e equipe de apoio (possibilidade de
da pesquisa jurisprudencial – Seleção dos contratação de estagiário para apoio à pes-
acórdãos, (iii) Análise jurisprudencial e con- quisadora, que na terceira etapa do projeto
solidação das informações coletadas; (iv) foi substituída por uma assistente de pesqui-
Divulgação da pesquisa e debate sobre seus sa) também foi planejada nesta fase.
resultados.
O conhecimento, teste e manuseio da
Na primeira parte deste capítulo tratou- ferramenta de pesquisa jurisprudencial virtu-
-se da metodologia e referências bibliográfi- al do TJSP foi uma importante atividade des-
cas da primeira etapa de pesquisa. Os crité- ta fase, percebendo a suas possibilidades e
rios de pesquisa e as ferramentas utilizadas limitações. O teste e aprimoramento e salva-
(questionário, ferramenta de pesquisa juris- mento das diversas versões do questionário
prudencial do TJSP e bancos de dados), se-
rão descritos mais detalhadamente, a seguir, 1 Investigar como o Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo esta tratando o instituto do “Direito Urbanístico”, como
ainda neste capítulo. A seleção dos acórdãos está aplicando o capítulo de política urbana da Constituição
Federal e o Estatuto da Cidade.

25
de pesquisa também foi necessário. Foram do diálogo com os servidores do Judiciário
cerca de dez versões elaboradas a partir de Paulista. Pode-se assim conhecer melhor a
revisões e ajustes da organização, numera- forma atual da organização judiciária paulis-
ção e conteúdo dos quesitos. ta, assim como as suas limitações e desa-
fios, bastante relevantes para compreender
A partir das definições metodológicas e a prática judiciária em relação à organização
manuseio da ferramenta de pesquisa juris- jurisprudencial e quanto ao tratamento dos
prudencial do TJSP, foi realizada a definição assuntos relacionados ao Direito Urbanísti-
de alguns critérios de seleção de acórdãos, co.
considerando: o tipo de acórdãos (decisões
finais transitadas em julgado); o tipo de re- Foram realizadas reuniões com as equi-
cursos judiciais (apelação e arguição de pes das seguintes instâncias do Tribunal,
inconstitucionalidade); e o órgão julgador buscado aprofundar o conhecimento da or-
(Câmaras de Direito Público, Privado, Reser- ganização, acervo, pesquisa de jurisprudên-
vadas de Meio Ambiente e Órgão Especial). cia e disseminação de informação no TJSP:
Etapa 2: Delimitação do objeto da pesquisa bJunho/2014: CADIP – Centro de Apoio ao
jurisprudencial – Seleção dos acórdãos Direito Público
1INTERLOCUÇÃO COM O TJSP - Diálo- bSetembro/2014: Biblioteca
go com instâncias do Tribunal (Biblioteca,
CADIP, CAJUFA, Secretaria Judiciária da bSetembro/2014: Assessoria da Presidência
2ª instância, Presidência) bSetembro/2014: CAJUFA – Centro de
1SELEÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO BAN- Apoio aos Juízes da Fazenda Pública2
CO DE ACÓRDÃOS – Definição das pala- bOutubro/2014: Secretaria Judiciária da 2ª
vras-chave de pesquisa e organização de Instância
banco de acórdãos objeto de estudo
Conhecer o organograma atual da es-
A interlocução com o TJSP e a compre- trutura do TJSP é bastante importante para
ensão da forma de organização da 2ª ins- entender a distribuição de competências.
tância do Tribunal, de como é feita a catego- Nesse sentido, foi crucial compreender a Re-
rização dos assuntos dos recursos judiciais solução nº. 623/2013, que organizou a com-
(originários ou não da primeira instância), a petência das três Seções do Tribunal (Seção
temporalidade do banco de acórdãos dis- de Direito Criminal, Seção de Direito Público
ponível para consulta jurisprudencial no site e Seção de Direito Privado).
do Tribunal (considerando a migração dos
Tribunais de Alçada Cível e Criminal para o A seleção dos acórdãos de estudos e or-
TJSP) que no caso de estudo se limita ao ganização do banco de acórdãos também
ano de 2009, a impossibilidade de acessar se deu concomitante à definição da meto-
banco de jurisprudências além do disponí- dologia de pesquisa, sendo na verdade parte
vel na consulta da página eletrônica do TJSP dela. Isto é, o detalhamento de metodologia
via equipe de tecnologia da informação do do projeto de pesquisa. Também neste mo-
Tribunal, subsidiaram e conformara a deli- mento foi iniciada a elaboração do relatório
mitação do objeto de pesquisa. Etapas estas de pesquisa, registrando as etapas de reco-
que se deram concomitantes à elaboração nhecimento do universo de acórdãos e as
do projeto de pesquisa e posteriormente. etapas de seleção do grupo a ser estudado.

A definição da metodologia considerou O registro de trabalho foi feito numa es-


as informações disponíveis na página ele- pécie de “diário de bordo” da pesquisa, com
trônica do Tribunal – especialmente de pes- a anotação regular de todas as atividades da
quisa jurisprudencial – que precisaram ser 2 CAJUFA... http://tj-sp.jusbrasil.com.br/noticias/130186668/
cajufa-auxilio-aos-magistrados-que-atuam-no-direito-pu-
complementadas e contextualizadas a partir blico

26
pesquisa, dificuldades, descobertas, escolha acórdãos selecionados. Tarefa que foi feita
de critérios, observações, etc.. Este foi uma no dia 09/08/2014, que é a data de referên-
‘bússola’ importante para subsidiar a descri- cia da pesquisa. A realidade jurídica sobre a
ção da metodologia que ora se apresenta e, qual esta pesquisa se debruçou é, portanto,
consequentemente, para a elaboração do a produção jurisprudencial à produção juris-
relatório da pesquisa. prudencial relacionada ao Direito Urbanísti-
co do TJSP no período de 2009 a 2014.
A seleção dos acórdãos objeto de estudo
da pesquisa foi feita pela definição das pala- Apesar de no projeto de pesquisa ter se
vras-chave de consulta de acórdãos do TJSP. idealizado uma leitura da prática judicante
Para definição das palavras-chave a serem relacionada ao Direito Urbanístico no Tribu-
eleitas como critério de pesquisa foi identifi- nal desde a promulgação da Constituição
cado inicialmente os assuntos do Direito Ur- Federal de 1988, as limitações do banco de
banístico já classificados pelo TJSP e, a partir acórdãos virtual do TJSP e a escolha de utili-
disto, o universo de acórdãos resultantes da zar como fonte de pesquisa a ferramenta de
busca por estes assuntos. consulta jurisprudencial do próprio Tribunal
Paulista limitaram o lapso temporal3 da pes-
Também foi mapeado o universo de acór- quisa.
dãos pela busca livre por diversas palavras-
-chave relevantes para o Direito Urbanístico A ferramenta de consulta completa de
no inteiro teor dos acórdãos (texto) e ape- jurisprudência do TJSP será apresentada
nas na ementa. As palavras e expressões de a diante e detalhada seu manuseio como
pesquisa utilizadas incluíram tanto os dispo- instrumental utilizado neste trabalho, bem
sitivos legais (como artigos da Constituição como suas fragilidades. Cabendo, por ora,
Federal e números de leis), como expressões registar que a mesma ferramenta de pesqui-
que correspondem à direitos, princípios, sa jurisprudencial utilizada pela pesquisa é a
instrumentos, presentes no marco legal de ferramenta utilizada pelos servidores, juizes
referência (direito à moradia, ordem urbanís- e desembargadores do Tribunal.
tica, plano diretor, etc.), ou ainda expressões
correspondentes a situações fáticas relevan- Na etapa de depuração e seleção dos
tes para nossas cidades (favela, ocupações julgados, foi necessário identificar as repeti-
urbanas, etc.). ções de acórdãos selecionados por diferen-
tes palavras-chave, erros e duplicações nos
Posteriormente a este reconhecimento resultados do sistema @-SAJ/TJSP. A partir
do universo de acórdãos, o grupo de jul- do cruzamento de dados e checagem foi
gados a serem estudados foi definido, cor- possível identificar inconsistências e definir
respondendo a um total de 193 acórdãos. O critérios para solucioná-las.
critério de seleção utilizado foi a busca por
campo específico pelas seguintes palavras- Embora previsto na metodologia de pes-
-chave situadas nas ementas dos acórdãos quisa etapa de exclusão dos julgados que
de recursos de apelação e ações de incons- 3 Segundo informação da página eletrônica do Tribunal:
titucionalidade: “Direito Urbanístico”, a “Po- “Encontram-se disponíveis as decisões registradas no Tribu-
nal de Justiça e nos extintos Tribunais de Alçada/TACs a par-
lítica Urbana”, o “artigo 182 da Constituição tir de 1998, havendo variação neste período de acordo com
Federal” e a “Lei 10.257 de 2001”. o Tribunal que proferiu a decisão. Neste caso, é necessário
dirigir-se a uma das centrais de fornecimento de cópia de
acórdãos do Tribunal de Justiça (prédios Palácio da Justiça,
Para a organização do banco de acórdãos 2º andar, João mendes, s/n, 18º andar ou Pátio do Colégio,
objeto de estudo, o salvamento seguro dos 73 - sobreloja, levando o número do processo desejado. Em
reunião com a equipe da Biblioteca foi informado que o pro-
arquivos foi feito em dois espaços de arma- cesso de migração dos acórdãos dos Tribunais de Alçada Cí-
zenamento. Para a catalogação e sistema- veis e Criminais/TACs se deu a partir de 2004 (ano da EC nº
tização das informações foi necessário em 45 que previu a extinção dos TACs), e apenas posteriormente
a isto iniciada a migração dos acórdãos para a este banco
um único dia – o marco temporal da pes- virtual. Disponível em: http://www.tjsp.jus.br/Institucional/
quisa - salvar todos os números dos 193 CanaisAtendimentoRelacionamento/DuvidasFrequentes/Ju-
risprudencia.aspx

27
não tratariam de Direito Urbanístico identi- “coração da pesquisa”, uma vez que foi feita
ficou-se apenas um caso após a aplicação a leitura e aplicação dos questionários em
do questionário, caso em que há menção à relação aos 193 acórdãos, a partir do preen-
Lei 10.257/2001 na ementa, afastando a apli- chimento de suas vinte e cinco questões.
cação do Estatuto da Cidade por se tratar de Enquanto pesquisa empírica, este é o mo-
adjudicação compulsória de bem imóvel4. mento privilegiado de conhecimento e con-
Não se identificou, portanto, a incidências tato com a realidade fática da produção ju-
de “falsos positivos” em que há a citação das risprudencial sobre o Direito Urbanístico do
palavras-chaves de pesquisa na ementa dos TJSP.
julgados como analogia às normas de Direi-
to Urbanístico em casos que versem sobre Esta fase do trabalho durou oito meses:
outra área do Direito. de setembro/2014 a maio/2015, a etapa mais
longa e de maior fôlego de trabalho de pes-
Nesta etapa da pesquisa foi, então, orga- quisa.
nizado e consolidado o banco de 193 acór-
dãos e sua planilha resumo, para facilitar a Na fase de tabulação das informações
consulta dos acórdãos, descritos mais deta- dos questionários de pesquisa, o trabalho foi
lhadamente adiante na parte dos bancos de dividido na elaboração do banco de dados
dados. (planilha no Programa Excel) para a tabula-
ção dos dados (incluindo parte em separado
Vale lembrar, que devido aos limites obje- para extração dos textos referentes às ques-
tivos da pesquisa (prazo, equipe, quantidade tões subjetivas), na alimentação da planilha
de acórdãos possíveis de serem analisados) com os 193 questionários aplicados e, ao fi-
e subjetivos (recortes e objetivos definidos nal, na consolidação dos dados da pesquisa
- opção por uma abordagem geral do Direi- e produção dos gráficos, tabelas, mapas e
to Urbanístico e não em seus instrumentos), organogramas respectivos.
focou-se na seleção de acórdãos que men-
cionam o artigo 182 e a Lei 10.257/2001 e Para a elaboração do relatório final de
suas ementas, além daqueles que também pesquisa, foi possível observar os resultados
em sua ementa mencionam expressamente dos dados consolidados e verificar os princi-
“Direito Urbanístico” e “Política Urbana”. pais resultados obtidos. Esta observação ini-
cial dos resultados, deram números e pesos
Etapa 3: Análise jurisprudencial e à análise dos acórdãos feita da fase de apli-
consolidação das informações coletadas cação dos questionários. Com isto, foi possí-
vel partir para a elaboração do sumário final
1ANÁLISE DAS DECISÕES – Leitura e do estudo, o que foi feito em conjunto com
aplicação dos questionários de pesquisa o roteiro de consolidação gráfica dos dados
nos 193 acórdãos, a partir do preenchi- (gráficos, tabelas, mapas e organogramas)
mento de suas vinte e cinco questões. correspondente a cada item do sumário.
1TABULAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS – Etapas que se deram de forma concomitan-
Elaboração da planilha de tabulação dos te considerando o prazo final da pesquisa,
dados, alimentação da planilha e consoli- ficando a equipe concentrada na interpre-
dação dos dados da pesquisa. tação dos resultados obtidos, elaboração
do relatório de pesquisa e na produção dos
1ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO DE PES- gráficos, tabelas, mapas e organogramas de-
QUISA – Elaboração do sumário em con- sejados.
junto com o roteiro de consolidação grá-
fica dos dados, e análise dos resultados.
Esta etapa de análise das decisões é o Etapa 4: Divulgação da pesquisa e debate
sobre seus resultados
4 Recurso nº 9168539-29.2007.8.26.0000, Acórdão nº 52 do
Grupo 10.257/2001, linha 53 da Tabela Resumo (APÊNDICE
III). 1APRESENTAÇÃO DA PESQUISA – Dis-

28
cussão da metodologia e resultados da maras de Direito Público, Câmaras de Di-
pesquisa com o IBDU, Poder Judiciários reito Privado e Câmaras Reservadas de
e parceiros. Meio Ambiente.
Ao final da primeira etapa de trabalho, Optou-se por conhecer a produção juris-
após a consolidação da proposta de meto- prudencial de todos os órgãos colegiados
dologia de pesquisa, foi feita uma apresenta- do TJSP com o intuito de analisar a con-
ção da para diálogo com a Diretoria do IBDU tribuição de cada uma delas para o forta-
em novembro de 2014. lecimento do Direito Urbanístico.
Após a consolidação do relatório de pes-
quisa, ocorreu apresentação de alguns dos
resultados da pesquisa no mês de setembro r Definição dos tipos de julgados
de 2015 no Ciclo de Palestras sobre Direi- Acórdãos transitados em julgado de 2º
to Urbanístico5 organizado pelo CAJUFA/ grau.
TJSP em parceria com o IBDU, resultante da
aproximação iniciada por este trabalho de
pesquisa. Nesta ocasião participaram atores
r Definição das classes de ações
como magistrados, defensores públicos, ad-
vogados e procuradores, bem como núcle- Acórdãos de apelação ou arguição de in-
os de pesquisa relacionados ao Direito Ur- constitucionalidade.
banístico.
As ações coletivas (ação civil pública e
A apresentação dos principais resultados ação popular) foram identificadas dentre
da pesquisa ocorreu também durante o VIII os dois tipos de classe de ação prioriza-
Congresso Brasileiro de Direito Urbanístico, dos.
realizado em Fortaleza (CE) entre 4 e 7 de
outubro de 2015.
Todas as contribuições e debates realiza- r Marco temporal
dos nesta etapa favoreceram a reflexão crí- Planejado: Pós Constituição Federal
tica para a consolidação da presente publi- (1988) ou pós Estatuto da Cidade (2001)
cação.
Realizado: Entre 15/12/2009 e 09/08/2014
15/12/20096: Data de julgamento do acór-
dão mais antigo do grupo de acórdãos
selecionados, pelas palavras-chave utili-
2.2 Critérios de pesquisa para a zadas como critério de pesquisa (apenas
seleção de acórdãos 2 acórdãos são de 2009, 191 são de 2010
A partir da metodologia de pesquisa ju- a 2014) na pesquisa completa de jurispru-
risprudencial em Direito Urbanístico descri- dência do Portal @-SAJ/TJSP.
ta neste capítulo, resumimos em seguida 09/08/2014: Marco temporal da pesqui-
os principais critérios de pesquisa utilizados
para a delimitação do objeto de pesquisa e 6 Conforme esclarecido em reunião com a equipe da Bi-
blioteca do Tribunal, em 16/09/2014, os acórdãos disponíveis
seleção dos 193 acórdãos estudados: para consulta no Portal @-SAJ/TJSP (https://esaj.tjsp.jus.br/
cjsg/resultadoCompleta.do) estão em processo de migração
r Definição do órgão julgador iniciado em 1998. Considerando a unificação dos Tribunais
(TAC - Tribunais de Alçada Cível e TACrim - Tribunais de Al-
Decisões do Órgão Especial do TJSP, Câ- çada Criminal) com o TJSP entre 2004 e 2006 , a partir de
2009 passou a ser consolidados um novo banco de acórdãos
5 Realizado entre abril e setembro de 2015 para um público no Portal @-SAJ/TJSP. Quanto a temporalidade do banco de
de Juízes da Fazenda Pública, assessores e assistentes de ga- acórdãos da 2ª instância, também deve ser considerado o
binete, membros do ministério público, defensores públicos, tempo de tramitação dos processos de cinco a seis anos, da
procuradores, advogados e estagiários. entrada na 1ª instancia ao julgamento na 2ª instância.

29
sa, correspondente à data de salvamento dução jurisprudencial do TJSP sobre Direito
dos dados dos 193 acórdãos selecionados Urbanístico, optou-se por priorizar os acór-
para estudo. dãos do Tribunal oriundos de recursos de
apelação e arguição de inconstitucionalida-
de cujos próprios relatores na ementa fize-
r Palavras-chave da pesquisa jurispru- ram menção expressa aos principais dispo-
dencial sitivos legais da política urbana e aos seus
institutos.
Optou-se pela busca por campo específi-
co “ementa” e não pela busca livre (no in- Pelo exposto, a pesquisa jurisprudencial
teiro teor do acórdão) ou pelos assuntos focará nos acórdãos transitados em julgado,
categorizados pelo TJSP. proferidos após a vigência da CF/88 e Estatu-
to da Cidade, oriundos de recursos de ape-
O grupo dos 193 acórdãos estudados lação e das ações de inconstitucionalidade,
corresponde àqueles em que as quatro julgados pelos diferentes órgãos colegiados
palavras-chave de pesquisa foram en- do TJSP. Isto em busca de decisões judiciais
contradas nas ementas dos acórdãos mais relevantes e definitivas sobre a matéria
de recursos de apelação e arguições de jurídico-urbanística.
inconstitucionalidade. Ou seja, palavras-
-chave utilizadas pelos Desembargadores
Relatores e suas equipes na redação da
ementa e não pela categorização de as-
suntos dos recursos feita pela Secretaria
Judiciária de 2ª Instância do TJSP.
2.3 Ferramentas da pesquisa
jurisprudencial
A fim de detalhar o método de pesquisa
As quatro palavras-chave de pesquisa uti- empírica jurisprudencial utilizado, apresen-
lizadas foram as seguintes: taremos o instrumental de pesquisa utiliza-
do, composto por:
r Portal de Serviços @-SAJ do TJSP -
3 “Direito Urbanístico”, nome da disciplina ferramentas de consulta jurisprudencial
urbanística expresso no art. 24, I, CF/88; completa
3 “Política Urbana”, nome do capítulo da r Questionário de pesquisa jurispruden-
Constituição Federal referente ao Direito cial
Urbanístico (Capítulo II Da Política Urbana)
r Bancos de dados da pesquisa
3 “Art. 182, CF/88”, principal artigo constitu-
cional referente à Política Urbana definidor 3 Banco dos 193 acórdãos de Direito
do regime jurídico da propriedade urbana, Urbanístico estudados
que junto com o art. 183 que define os ins-
3 Banco de 193 questionários aplica-
trumentos da usucapião especial urbana e
dos
da concessão de uso para fins de moradia;
3 Banco de dados tabulados com os
3 “Lei 10.257/2001”, principal lei de Direito resultados da pesquisa
Urbanístico, norma geral que define as di-
retrizes gerais da Política Nacional de De- Para definir o universo de julgados do TJSP
senvolvimento Urbano, junto com a Medida a serem estudados foi necessário na primei-
Provisória 2.220/2001 que regulamenta a ra etapa exploratória da pesquisa identificar
concessão de uso para fins de moradia. as possibilidades de filtros e buscas na fer-
ramenta de consultas de jurisprudência do
Assim, dentre o amplo universo da pro-
Tribunal Paulista sobre Direito Urbanístico.

30
No Portal de Serviços @-SAJ do TJSP há A consulta de jurisprudência no Tribu-
ferramentas de consulta “simples” e comple- nal, como exposto acima, pode ser feita
ta” de jurisprudência, optamos pela segunda por “pesquisa livre” e/ou “por campos es-
que está disponível no endereço eletrônico: pecíficos”. Na primeira opção se busca por
https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/resultadoComple- “palavras-chave” e na segunda por “palavras-
ta.do e pode ser vista detalhadamente abai- -chave” na ementa, por número de recurso,
xo: por número do registro do acórdão, nome

31
do relator(a), nome do magistrado prolator, ritários sobre determinada questão jurídica,
classe da ação judicial, assunto, comarca, utilizando como critério quando mais de
órgão julgador do Tribunal, data do julga- 75% das decisões são no mesmo sentido.
mento, data do registro do acórdão, origem As fragilidades da consulta de jurisprudência
do acórdãos (2º grau, Colégios Recursais), do Portal de Serviços @-SAJ dificulta, assim,
tipo de decisão (Acórdão, Homologação de a pesquisa das orientações das decisões do
Acordo, Decisão Monocrática). Tribunal para a consolidação dos enuncia-
dos.
Para conhecer os recortes possíveis pela
consulta jurisprudencial do Portal de Servi- Em relação à categorização de assuntos
ços @-SAJ do TJSP, utilizou-se tanto a busca utilizados pelo do Tribunal, a partir do diálo-
livre por palavras-chave (no inteiro teor do go com a Secretaria Judiciária da 2ª Instân-
acórdão) como a busca por campos espe- cia8, foi possível compreender como ocorre
cíficos (assuntos, classes da ação e palavra- a classificação dos processos. Como regra
-chave contida na ementa), como critérios geral, a partir da implantação dos processos
de consulta. eletrônicos, os advogados autores das ações
passaram a indicar o assunto, que pode ser
As limitações encontradas na ferramen- corrigido pelos servidores na distribuição do
ta de consulta jurisprudencial do TJSP e as processo ou por solicitação de juízes e de-
fragilidades verificadas na categorização de sembargadores. É a Secretaria de Tecnologia
assuntos da 2ª instância do Tribunal condi- de Informação do TJSP que atualiza a lista
cionaram as escolhas dos critérios de con- de assuntos do campo específico da con-
sulta, optando-se pela busca por campo es- sulta completa do Portal de Serviços @-SAJ.
pecífico (palavras-chave contidas na ementa Essa classificação dos assuntos é que orienta
e seleção de classes de ação). Já na pesquisa a distribuição dos recursos para julgamento
por campo específico não é possível fazer pelas diferentes Seções e Câmaras do Tribu-
busca por prazo superior a um ano, devendo nal. Portanto, ainda que pareça uma atribui-
o período entre data de inicio e data de fim ção meramente de suporte administrativo,
de pesquisa ser de no máximo 1 ano. esses setores influenciam diretamente na
Quanto às fragilidades da consulta de distribuição dos processos com base nas
jurisprudência do Portal de Serviços @-SAJ, competências de cada Câmara.
identificou-se problemas na pesquisa livre Verificou-se uma situação bastante pre-
como: a função “E”, de soma de palavras de ocupante no Tribunal quanto ao sistema
busca não funciona; a função “OU”, de busca cadastral dos processos judiciais. Não há
alternativa de palavras, também não funcio- integração entre os sistemas da 1ª e 2ª ins-
na, limitando assim este tipo de consulta. As tância, apesar de terem sido desenvolvidos
dificuldades de uso da ferramenta de busca pela mesma empresa e dos cadastros das
do Tribunal são apontadas pelas instâncias duas instâncias possuírem a campos co-
do próprio TJSP, como o CADIP – Centro de muns (como as partes envolvidas, assunto,
Apoio ao Direito Público 7, vez que a mesma comarca). Esta situação exige que todos os
ferramenta de consulta utilizada pelos cida- processos sejam cadastrados novamente
dãos é utilizada pelos servidores do Tribunal pela equipe da Secretaria Judiciária de 2ª
e Desembargadores e Magistrados. Instância.
A dificuldade de acesso à informação so- Segundo a Secretaria, cerca de 3.700 pro-
bre a produção jurisprudencial do Tribunal cessos judiciais de recursos chegam por dia
cria obstáculos para que ele mesmo conhe- na 2ª instância do TJSP, correspondendo a
ça as orientações majoritárias da Corte Pau- aproximadamente 1.200 ações originárias
lista. O CADIP elabora enunciados de Direito (quase 100% digital) e 2.500 recursos da 1ª
Público considerando entendimentos majo-
8 Reunião com a Secretaria Judiciária de 2ª Instância foi rea-
7 Reunião com o CADIP foi realizada em 02/06/2014. lizada em 10/10/2014.

32
instância (maioria não é digital). Represen- Diante desta investigação, optou-se por
tando assim uma tarefa desafiadora fazer utilizar outro critério de consulta jurispru-
com que o fluxo processual seja eficien- dencial. A escolha foi pela pesquisa de pa-
te sem uma integração de sistemas. Além lavras-chave no teor das ementas de cada
disto, verificou-se que não há uma padro- decisão, considerando que elas sintetizam a
nização da categorização dos recursos por temática tratada pelo acórdão.
assunto ou para a correção dos assuntos.
No caso dos recursos originários corrige- Foi utilizada, então, a consulta por pala-
-se o assunto colocado pelo advogado na vras-chave nas ementas dos acórdãos de 2ª
petição eletrônica, buscando o assunto do instância de recursos de apelação e ações de
recurso na petição inicial e tendo como re- inconstitucionalidade. As fragilidades identi-
ferência o glossário da Tabela de Assuntos ficadas neste caso dizem respeito à organi-
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)9. Já zação da jurisprudência do TJSP, uma vez
nos recursos vindos da 1ª instância, que cor- que não há uma padronização das ementas
respondem à maior parte dos processos que dos julgados elaboradas pelos Desembar-
ainda são físicos, os servidores da Secretaria gadores Relatores e suas equipes, havendo
tentam obter capturar o assunto que será in- também alta carga de subjetividade neste
dicado como principal a partir da sentença. caso.

Assim, cada servidor responsável por ca- No último capítulo deste estudo são
dastrar o assunto do recurso poderá fazê-lo apresentadas propostas para o aprimora-
com um entendimento, vez que o assunto mento da prática judiciária, considerando
é extraído da leitura do processo e de sua as inconsistências mapeadas, e os objetivos
interpretação, havendo um alto grau de sub- de colaboração técnica do Convênio IBDU-
jetividade. A dinâmica adotada pela equipe -TJSP firmado em junho de 2014.
que lida com o cadastro e distribuição dos
recursos originários parece mais adequada
quando consulta a petição inicial, já que a
decisão pode não contemplar o pedido
apresentado e por utilizar a definição de as-
suntos e conceitos da Tabela do CNJ. rente ao recurso de apelação nº 1009527-43.2013.8.26.0053,
que teve o Desembargador Luis Fernando Camargo de Barros
Quanto à classificação de assuntos do Vidal como Relator. Sendo a ementa a seguinte: Conflito fun-
TJSP verificou-se que há assuntos relevan- diário coletivo urbano – Legitimação ativa das associações
reconhecida – Desnecessidade da autorização dos associa-
tes para o Direito Urbanístico na lista como dos – Dispensa do requisito temporal da pré-constituição nos
“Conflito fundiário coletivo urbano”, “Mora- termos do art. 5º, § 4º, da LACP – Pertinência temática com
os estatutos sociais comprovada – Defesa processual rejeita-
dia”, “Ordem Urbanística” e “Ordenação da da – Restrições convencionais instituídas pelo loteador – Re-
cidade/Plano Diretor”. Entretanto, conside- serva do loteamento para uso residencial unifamiliar – Restri-
ção de vizinhança ao direito de construir de espécie geral e
rando as fragilidades identificadas na atribui- interpretada conforme a intenção do loteador nos termos do
ção destes assuntos aos recursos distribuí- art. 112 do Código Civil - Prevalência sobre nova e posterior
possibilidade de uso multifamiliar em condomínio horizontal
dos, é possível presumir que o número de autorizada pela Lei de Zoneamento - Aplicação da regra da
processos judiciais que tratam dos assuntos maior restrição adotada no Art. 247, caput, da Lei nº 13.885/04
da lista não corresponde à realidade, sendo da Cidade de São Paulo – Novas possibilidades de uso previs-
tas no § 1º do Art. 247 da Lei 13.885/04 que não excepcionam
um critério pouco confiável. O caso dos as- a proteção da maior restrição e nem a limitação aos critérios
suntos “Conflito fundiário coletivo urbano” de ocupação - Irrelevância da consolidação do uso descon-
forme a restrição convencional no mesmo bairro – Função
ilustra bem esta situação, uma vez que não social da propriedade que se concretiza no cumprimento dos
foi identificado nenhum acórdão, no marco objetivos da política urbana, e não no uso desconforme a res-
trição convencional – Princípio da igualdade que não confere
temporal da pesquisa10. direito ao mesmo uso desconforme e que se aplica em ga-
9 Disponível em http://www.cnj.jus.br/sgt/consulta_publi- rantia do direito das gerações presentes e futuras ao gozo da
ca_assuntos.php. cidade sustentável – Ação ora julgada procedente – Recurso
10 Até a finalização deste estudo foi identificado um acórdão provido. Verifica-se a correta categorização do assunto vez
categorizado como “Conflito fundiário coletivo urbano”, jul- que a lide trata de demanda coletiva dos moradores da Vila
gado em 03/08/2015 pela 4ª Câmara de Direito Público, refe- Madalena relacionada as normas de uso e ocupação do solo.

33
2.4 Questionário da pesquisa dor, a classe da ação judicial (identificando
dentre as apelações e arguições de incons-
titucionalidades as ações civis públicas e
O questionário de pesquisa jurispruden- ações populares), a comarca (considerando
cial soma 25 questões, estruturadas em qua- as regiões metropolitanas e aglomerações
tro partes assim nominadas: urbanas de São Paulo).

1 Dados do acórdãos informados pelo TJSP; A segunda parte do questionário trata de


informações sobre a ação judicial, que cul-
1 Dados da ação judicial; minou na interposição de recurso de ape-
lação ou arguição de inconstitucionalidade
1 Dados sobre a situação do imóvel, da área
ao Tribunal, julgados pelos acórdãos sele-
em litígio;
cionados. Nesta etapa, além de conhecer e
1 Informações decorrentes da análise da qualificar as partes, litisconsortes e saber se
decisão. houve pedido liminar11, buscou-se identificar
o assunto relacionado ao Direito Urbanístico
No questionário há três tipos de cam- do pedido principal da ação judicial impetra-
pos, em relação ao preenchimento. Campos da. Cabe registrar, que além de identificar o
abertos, em que há uma pergunta que pode pedido principal da lide, verificou-se a con-
ser respondida livremente; campos fechados formidade deste com o assunto categoriza-
de escolha excludente, em que apenas uma do pelo próprio TJSP.
alternativa pode ser preenchida por item;
campos fechados de escolha múltipla, em Na terceira parte buscou-se conhecer a
que quantas alternativas forem necessárias situação da área urbana em litígio, sob os as-
para informar sobre o conteúdo do acórdão pectos urbanísticos, ambientais, bem como
podem ser assinaladas. sua titularidade e situação de uso e ocupa-
ção. Aqui verificou-se também litígios que
A primeira parte refere-se à coleta de in- não recaem sobre imóveis, mas sobre ativi-
formações que resumem o acórdão, con- dades e questões difusas como a mobilidade
tendo a maioria dos campos da pesquisa urbana, a poluição e a gestão democrática.
completa da consulta de jurisprudência do
Portal @-SAJ/TJSP, disponível em https:// Na quarta e última parte do questionário,
esaj.tjsp.jus.br/cjsg/consultaCompleta.do. Os encontram-se os itens de investigação refe-
quesitos são: o número do recurso, a data rente à análise da decisão judicial. Iniciando,
do registro, data do julgamento, nome do por saber a procedência do pleito pela Corte
relator(a), o assunto classificado pelo TJSP/ 11 Com a aplicação dos questionários, percebeu-se que por
se tratar de acórdãos de 2ª instância, houve dificuldade de
SAJ (conforme seleção feita pela pesquisa- apuração dos assuntos tratados na 1ª instância. Assim, não
dora considerando os mais relevantes para utilizaremos os dados numéricos obtidos por entender que a
fonte de pesquisa sendo acórdãos não é precisa. Entretanto,
o Direito Urbanístico ou com interfaces com nos casos em que é mencionada a ocorrência de decisões
esta disciplina jurídica, incluindo a possibili- liminares no histórico/relatório da decisão, é possível identifi-
car por exemplo em que classe de ações judiciais ocorreram,
dade de inserção de outros), o órgão julga- sendo um esta análise importante para a pesquisa.

34
Paulista e sobre a concessão do pedido li- tes quesitos, buscou-se extrair trechos dos
minar12. acórdãos que mencionavam argumentos
relacionados ao papel do Poder Judiciário e
Na parte seguinte temos questões rela- da Jurisdição, se priorizado o formalismo do
cionadas aos mecanismos e forma de re- rito processual ou a função pacificadora da
solução de conflitos utilizados, objetivando- atuação jurisdicional. Para preenchimento
-se identificar a utilização de vistorias em destas respostas focou-se no conteúdo ex-
campo, audiências de conciliação, perícias, presso nos argumentos dos julgadores rela-
ajustamento de condutas, acordos para tores, evitando interpretações.
a solução dos conflitos. Há como no caso
das liminares aqui também há limitação da Apesar da subjetividade destas questões,
precisão da mensuração numérica pelo fato mais do que os resultados numéricos, inte-
destas etapas ocorrerem primordialmente ressa à observação jurisprudencial identifi-
na 1ª instância para formar a convicção do car tendências e comportamentos. Sendo
magistrado. possível identificar, por exemplo, que muitas
vezes diante de direitos contrapostos argu-
Mapear a incidência de argumentação ju- mentações que primam pelo formalismo
rídica na fundamentação das decisões que processual utilizam mais a prevalência de
utilize a prevalência de um direito sobre o um direito sobre o outro que a ponderação.
outro, ou, a ponderação e harmonização
entre direitos em conflito; decisões que re- No tocante à fundamentação da decisão,
conhecem direitos ou que corrigem atua- buscou-se identificar os princípios, disposi-
ções do Poder Público; também foi interes- tivos constitucionais e legais, que embasam
se de investigação mediante formulação de a tomada de decisão, os ramos do Direito
questão de múltipla escolha em que é possí- mais utilizados nos acórdãos selecionados.
vel identificar outros modos de solução dos
conflitos. Outros modos recorrente identifi- Quanto aos acórdãos que tem como fun-
cados foram a alegação de conflito negativo damento o marco legal jurídico-urbanístico,
de competência para julgar assunto de Di- o questionário contém quesitos específi-
reito Urbanístico pela Câmara Reservada de cos sobre os princípios específicos do Di-
Meio Ambiente. reito Urbanístico (sistematizados segundo
LIBÓRIO, 200413), quanto à observância das
Em seguida questiona-se sobre o pa- diretrizes do Estatuto da Cidade (art. 2º, Lei
pel da Jurisdição segundo argumentação 10.257/2001), a natureza jurídica reconhe-
do Desembargador. Para responder as es- cida ao Direito Urbanístico e as obrigações
12 Com a aplicação dos questionários, percebeu-se que por do Estado exigidas para sua efetivação. Aqui
se tratar de acórdãos de 2ª instância, houve dificuldade de importando identificar a posição do Tribunal
apuração dos assuntos tratados na 1ª instância. Assim, não
utilizaremos os dados numéricos obtidos por entender que a nos acórdãos quanto à discricionariedade
fonte de pesquisa sendo acórdãos não é precisa. Entretanto, administrativa face às demandas judiciais re-
nos casos em que é mencionada a ocorrência de decisões
liminares no histórico/relatório da decisão, é possível identifi- lacionadas ao Direito Urbano.
car por exemplo em que classe de ações judiciais ocorreram, 13 DI SARNO, Daniela Campos Libório. Elementos de Direito
sendo um esta análise importante para a pesquisa. Urbanístico. Barueri/SP: Manole, 2004

35
36
Em relação aos assuntos de Direito Urba-
nístico, elencados na questão 12, buscou-se
sistematizar14 e listar os principais assuntos
de Direito Urbanístico, organizados nas se-
guintes tipologias:

14 São diversas as possibilidades de categorização de assun-


tos desta disciplina jurídica, este exercício de sistematização
é importante para que se tipifique o rol de assuntos de com-
petência do Direito Urbanístico no sentido de fomentar a es-
pecialização na organização judiciária deste ramo do Direito
para melhor conhecer e julgar.

37
Quanto à caracterização da situação am- ficar o perfil socioeconômico da ocupação,
biental da área sob judice, os quesitos dizem seja quanto à faixa de renda, seja quanto ao
respeito ao patrimônio ambiental e cultural, tipo de assentamento informal urbano. Para
além de áreas de risco. Em relação às tipo- a renda utilizou-se como critérios os concei-
logias de áreas ambientalmente protegidas, tos da Lei 11.977/2009 (2ª parte da Lei de Re-
buscou-se identificar as Unidades de Con- gularização Fundiária Urbana) para interesse
servação e as Áreas de Proteção Permanen- social (baixa renda) e interesse específico
te, destacando-se dentro desta categoria os (média e alta renda). No tocante às tipologias
mananciais. No caso de uso para fins de mo- de informalidade urbana, a ocorrência em fa-
radia dos imóveis em litígio, interessa identi- velas, um cortiços ou ocupações de imóvel
urbano, Zona Especial para Fins de Moradia
(ZEIS) na legislação municipal de planeja-

38
mento urbano, tentou ser identificada. dãos e arquivados em separado referente às
palavras-chave “Direito Urbanístico”, a “Po-
O questionário de pesquisa jurisprudencial lítica Urbana”, o “artigo 182 da Constituição
possui, portanto, a maior parte de questões Federal” e a “Lei 10.257 de 2001”, organizados
objetivas e na quarta parte especialmente, pelo número do acórdão.
algumas questões abertas15 (destacadas em
vermelho no questionário) relacionadas à Foi consolidada planilha com as informa-
análise da decisão. ções das 25 questões dos questionários inte-
grando os quatro grupos de acórdãos (refe-
As questões objetivas constituídas por rente as palavras-chave “Direito Urbanístico”,
campos fechados (de única ou múltipla es- a “Política Urbana”, o “artigo 182 da Constitui-
colha) é a parte que os dados numéricos e ção Federal” e a “Lei 10.257 de 2001”) em uma
porcentagens consolidadas serão apresenta- única base de dados.
dos como resultados da pesquisa no capitulo
quatro. A partir desta tabulação foram feitas as
análises dos resultados numéricos da pes-
Já as questões mais subjetivas de campo quisa, que geraram a produção dos gráficos,
fechado e de campo aberto, serão utilizadas tabelas e mapas apresentados.
para identificar tendências e comportamen-
tos da prática judicante relacionada à discipli- Esta planilha de tabulação foi acompa-
na urbanística. nhada de uma outra aba em que foram reu-
nidos os textos das respostas às perguntas
de campo aberto subjetivas, como sobre o
papel da jurisdição segundo os Desembarga-
2.5 Bancos de dados da pesquisa dores (q.21), facilitando-se assim a análise.
Importante trabalho de consolidação e
Foi organizado o banco dos 193 acórdãos solução de inconsistências nesta etapa, foi o
referente ao Direito Urbanístico estudado. A tratamento dos ‘vazios’ e ‘outros’ na planilha
organização dos arquivos salvos foi feita em final e nos gráficos gerados a partir delas.
quatro pastas diferentes referente à cada pa-
lavras-chave de pesquisa jurisprudencial “Di-
reito Urbanístico”, a “Política Urbana”, o “artigo
182 da Constituição Federal” e a “Lei 10.257
de 2001”, em ordem cronológica.
Também foi organizada uma tabela re-
sumo no Programa Excel, organizada em
quatro abas uma por cada um dos quatros
grupos referente às palavras-chave de pes-
quisa, com os seguintes campos: número do
recurso, órgão julgador/câmara, relator, tipo
de ação, assunto TJSP, comarca e data do
julgamento. Esta planilha foi bastante útil ao
longo do processo de pesquisa, por conter a
catalogação das principais informações dos
acórdãos.
Os 193 questionários em planilha Excel
foram aplicados nos quatro grupos de acór-
15 Campos abertos: quesitos 1, 2, 3 (I parte) e 21, 22.1,
23.2, 23.3, 23.4, 24.2.3. e 27 (IV parte).

39
III. PRODUÇÃO JURISPRUDENCIAL
SOBRE DIREITO URBANÍSTICO NO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
(TJSP)

40
Neste capítulo inicia-se o reconhecimen- Na segunda etapa, tratou-se dos critérios
to do universo de acórdãos do Tribunal de eleitos para delimitar o conteúdo jurispru-
Justiça de São Paulo relacionados ao Direi- dencial objeto de análise mais detalhada na
to Urbanístico. Cada etapa de investigação pesquisa. O grupo de 193 acórdãos selecio-
e grupo de decisões encontrado será apre- nados para estudo do Direito Urbanístico.
sentada, até chegar ao foco de estudo – os
acórdãos selecionados para análise pela A descrição e apresentação das etapas de
aplicação do questionário de pesquisa. investigação pode também despertar inte-
resse para novas pesquisas na área. Consi-
No marco temporal da pesquisa, 09 de derando os diversos universos mapeados e
agosto de 20141, diversos recortes foram sua importância para o estudo da disciplina
feitos até a escolha pelos critérios (palavras- urbanística.
-chaves) priorizados nesta pesquisa jurispru-
dencial.
Os critérios utilizados para delimitação do
objeto de pesquisa, para conhecer e selecio- 1ª etapa: Conhecendo o universo de
nar os acórdãos do TJSP foram os seguintes: acórdãos sobre Direito Urbanístico do
r pesquisa por campo específico de as- TJSP
suntos relacionados ao Direito Urbanís- No marco temporal da pesquisa foi feita
tico já classificados na organização da a busca por campo específico de assuntos
ferramenta de pesquisa de acórdãos pelo identificados pela pesquisa como relevantes
TJ; para o Direito Urbanístico já definido na or-
r pesquisa livre no inteiro teor do acór- ganização dos acórdãos pelo TJSP (Grupo A)
dãos e por campos específico da ementa e a pesquisa por campo específico (emen-
por palavras chave referente a assuntos ta) por palavras-chave - tanto referente a
relevantes de Direito Urbanísticos; assuntos relevantes de direito urbanísticos
(Grupo B1) como pelos principais dispositi-
r pesquisa livre no inteiro teor do acór- vos constitucionais e legais do Direito Urba-
dãos e por campos específico da ementa nístico (Grupo B2).
por palavras chave referente aos disposi-
tivo legais da Constituição Federal e Esta- Nesta etapa preliminar não foi feito ne-
tuto da Cidade. nhum filtro temporal, por classe de ação ou
referente a acórdãos transitados em julgado
Buscou-se compreender na primei- ou não.
ra etapa a incidência dos temas de Direito
Urbanístico na produção jurisprudencial do Também não foi feito tratamento ou ex-
maior Tribunal de Justiça Estadual do país clusão de duplicidades que possam existir
de forma geral. Testando diferentes critérios entre os resultados de pesquisa no Grupo B
de pesquisa jurisprudencial para subsidiar a (pesquisa na ementa de assuntos relativos ao
escolha daqueles que pareceram mais rele- Direito Urbanístico), não havendo em tese
vantes para os objetivos da pesquisa e mais esta possibilidade de repetição no Grupo A
precisos para alcançar estes objetivos. Para (pesquisa por assunto classificado pelo TJSP
tanto, foi feita uma análise sobre a forma relativo ao Direito Urbanístico), pelo fato da
como o TJSP está categorizando os assun- categorização ser feita pelo próprio TJSP e
tos de Direito Urbanístico em sua jurispru- não sendo cumulativa, ou seja, cada acór-
dência. dão é categorizado por um único assunto.
Por esta razão, só foi feita a soma de acór-
dãos no Grupo A, indicando um quantitativo
1 Data de 09/08/2014, marco temporal em que todos os da-
dos foram coletados no Portal SAJ do TJSP, conforme já apre- real sobre acórdãos com assuntos de Direito
sentado na metodologia e roteiro de pesquisa no segundo Urbanístico.
capítulo.

41
A existência de repetições do mesmo 1 Ramo do “Direito Civil”, tema “Coisas”/”Pro
acórdão em resultados de pesquisa por priedade”/”Aquisição”:
palavras-chave ou campo específico de as-
suntos diferentes, repetições de acórdãos bUsucapião Especial (Constitucional);
idênticos por erro da ferramenta de busca bUsucapião Especial Coletiva;
do TJSP em uma mesma busca, bem como
a exclusão de duplicidades de acórdãos de bConflito fundiário coletivo urbano
natureza diferente no mesmo processo (ex.
1 Ramo do “Direito Administrativo e outras
um acórdãos fruto de uma apelação sobre
matérias de Direito Público”:
o mérito da decisão de 1ª instância e outro
fruto de demandas incidentais ou acessórias, bOrdem Urbanística, composto pelos sub-
como no caso de embargos de declaração, temas: Parcelamento do Solo, Comércio
infringentes etc.), também não foi objeto Ambulante, Operações Urbanas Consorcia-
desta primeira análise. Da mesma forma, os das, Posturas Municipais e Segurança em
“falsos positivos”, correspondentes aos acór- Edificações.
dãos que, apesar de citada a expressão refe-
rente ao Direito Urbanístico não tratam de 1 Ramo do “Direito Administrativo e outras
fato sobre a matéria no mérito do acórdão matérias de Direito Público”, tema “Domínio
(como por exemplo casos em que o acór- Público”:
dão versa sobre outra matéria e faz-se uma bOrdenação da cidade / Plano Diretor;
analogia à disciplina de Direito Urbanístico),
também não foram excluídos. bSubtema Bens Públicos, em que os assun-
tos selecionados foram:
bLocação-Permissão / Concessão / Au-
torização / Cessão de Uso;2
bUtilização de bens públicos.
bSubtema Garantias Constitucionais:
Grupo A: Pesquisa por assuntos bMoradia
classificados pelo TJSP relacionados ao
Direito Urbanístico Quanto às imprecisões deste critério de
pesquisa (assunto por campo específico da
Dentre os assuntos já classificados pelo consultada completa de jurisprudência do
TJSP, foram identificados e selecionados Portal de Serviços SAL do TJSP) importante
aqueles considerados relevantes para o Di- registrar que também é um recorte do uni-
reito Urbanístico. verso total de acórdãos do Tribunal, visto
Como não existe ainda uma categoria que em 10/08/2014, 578.380 mil acórdãos
de assunto autônoma de “Direito Urbanísti- estão categorizados como “Assunto não Es-
co” na organização dos temas tratados pelo pecificado” (de um total de cerca de 7.265.313
TJSP em seus acórdãos, importa descrever acórdãos disponíveis para consulta no TJSP).
os assuntos escolhidos. Foram identificados Verificamos que se trata de aspecto residu-
assuntos inseridos nos ramos de “Direito al, a que se deve ter atenção na análise dos
Administrativo e outras matérias de Direito resultados.
Público” e “Direito Civil”, relacionados à disci- 2 Verificou-se que existem também os assuntos “Serviços” e
plina jurídico-urbanística. “Concessão / Permissão / Autorização” que tratam dos sub-
temas “energia elétrica”, “transporte terrestre” etc., somando
4.507 acórdãos em 09/082014. Estes assuntos não foram se-
Foram selecionados oito assuntos, consi- lecionados por não dizerem respeito à matéria de Direito Ur-
derados com maior relação com o Direito banístico, embora tenha sido notado que, equivocadamente,
esta classificação foi utilizada para categorizar alguns acór-
Urbanístico: dãos que tratam da concessão de uso especial para fins de
moradia (art. 183, p. 1º c/c MP 2.220/2001).

42
Aqui podemos visualizar um exemplo
da pesquisa por campo específico de as-
suntos do Portal de Serviços do TJSP, em
09/08/2014:

O único filtro de pesquisa utilizado neste


recorte foi a pesquisa por assunto, dentro da
pesquisa por campos específicos da consul-
ta completa de jurisprudência do Portal de
Serviços SAL do TJSP.
Passamos a apresentar os resultados des-
ta primeira etapa de investigação.

43
Ao realizar a busca de jurisprudência por
campo específico de assunto já existentes
na organização de julgados do TJSP, iden-
tificados como pertinentes para o Direito
Urbanístico um total de 3.466 acórdãos do
TJSP. Decisões judiciais de 2ª instância, dos
órgãos colegiados do Tribunal Paulista, as-
sim distribuídos por ordem crescente de in-
cidência:

maior incidência no Tribunal, destacando os


Data da consulta: 09/08/2014, Portal SAJ/TJSP (https://esaj.
tjsp.jus.br/cjsg/consultaCompleta.do ) dois últimos como matérias afetas direta-
mente ao Direito Urbanístico.
Este recorte possibilita observar que as
diversas modalidades de transferência de Em relação ao tema de transferência de
bens públicos (cessão, concessão, permis- uso de bens públicos3, assunto de maior in-
são, autorização, locação), a usucapião es- cidência e associado diretamente ao Direito
pecial constitucional urbana e ordenação da
3 Referente ao assunto “Locação / Permissão / Concessão /
cidade/plano diretores são os assuntos com Autorização / Cessão de Uso” de bens públicos, que totalizou
1.879 acórdãos em 09/08/2014, registrados desde 1998.

44
Administrativo, há ocorrência desde 1998. Pesquisando os assuntos5 referente ao
Diferente dos assuntos afetos mais especi- usucapião existentes na organização de ju-
ficamente à disciplina urbanística que ocor- risprudência do TJSP, somam-se 15.715 acór-
rem em acórdãos mais recentes do Tribu- dãos. A despeito da previsão constitucional,
nal4. apenas 820 (ou pouco mais de 5%) corres-
ponderiam à usucapião especial constitu-
Situa-se dentre os temas relacionados ao cional urbana, e somente 28 (ou aproxima-
uso de bens públicos os instrumentos de damente 0,18%) a sua modalidade coletiva,
regularização fundiária e provisão de habi- prevista no artigo 10, da Lei 10.257/2001, Es-
tação de interesse social em áreas públicas, tatuto da Cidade.
com destaque para a concessão de uso es-
pecial para fins de moradia e concessão de Resguardadas as fragilidades desta afe-
direito real de uso, ambas previstas no art. 4º, rição, que depende da categorização pelo
V, ‘g’ e ‘h’ da Lei 10.257/2001, essencialmente assunto “usucapião especial coletiva” pela
atrelados ao Direito Urbanístico. Isto, tanto equipe da Secretaria Judiciária de 2ª Instân-
pela regulamentação do art. 183 da CF/88 cia do Tribunal, chama atenção a irrisória
feita pela MP 2.220/2001, tanto porque pro- presença de ações de coletivas e usucapião
movem do direito à moradia como forma julgadas pelo Tribunal. Assunto que merece
de efetivação da função social da proprieda- também ser estudado, seja no tocante às
de pública urbana, também disciplinada no dificuldades para interposição destas ações,
Capítulo de Política Urbana da Constituição seja quanto à sua recepção pelo Poder Ju-
(art. 182), e do direito às cidades sustentáveis diciário.
(art. 2º, I, da Lei 10.257/2001).
Notou-se que diante de temas novos ou
O acórdão de 30/01/2013 do Órgão Es- pouco conhecidos a tendência da orga-
pecial do Tribunal que assentou a constitu- nização judiciária é categorizá-los de for-
cionalidade da concessão de uso especial ma abstrata e genérica. O que permite que
para fins de moradia (Recurso nº 0041454- ações coletivas de usucapião não estejam
43.2012.8.26.0000), por exemplo, está de- devidamente categorizadas, não sendo os
vidamente categorizado como “Locação / resultados numéricos de absoluta precisão.
Permissão / Concessão / Autorização / Ces- Entretanto, é patente que o a usucapião co-
são de Uso” de bens públicos. Já o acórdão letiva é ainda um tema pouco conhecido e
de 16/12/2013 entendeu pela inconstitucio- reconhecido pelo TJSP.
nalidade do instituto jurídico foi categoriza-
do como “Indenização por Dano Material” A menor incidência de assuntos de Di-
(recurso nº 0130464-75.2008.8.26.0053). reito Urbanístico classificados pelo TJSP, na
seleção de estudo, diz respeito aos assuntos
Outra observação importante, é que a “Conflito fundiário coletivo urbano”, “Usuca-
usucapião aparece como uma das matérias pião especial coletiva”, “Moradia” e “Utilização
urbanísticas mais tratadas e conhecidas pelo de bens públicos”.
Tribunal Paulista. Julgados de cunho acen-
tuadamente individual, considerando a dis- É possível identificar um dos fatores que
ciplina civil do tema. determina este resultado se analisarmos o
conjunto de acórdãos encontrados sob o
aspecto temporal, verificando desde quando
4 Na pesquisa de assuntos (campo específico) classificados há acórdãos categorizados por estes temas
pelo TJSP, encontramos acórdãos categorizados pelos assun- pelo TJSP.
tos “Locação-Permissão / Concessão / Autorização / Cessão
de Uso” desde 1998, “Ordenação da cidade/plano diretor” A categorização de assuntos relativos à
desde 2008, em ações de apelação desde 2010, “Usucapião
especial (constitucional)” e “Usucapião especial coletiva” des- 5 Os assuntos referentes à usucapião são os seguintes: Usu-
de 2010, “Ordem Urbanística” desde 2013, “Utilização de bens capião Especial (Constitucional), Usucapião Extraordinária,
públicos” desde 2013, “Moradia”, desde 2013, “Conflito fundiá- Usucapião Ordinária, Usucapião Especial Coletiva, Usucapião
rio coletivo urbano” nenhum acórdão assim categorizada até da L 6.969/1981, e, dos assuntos antigos do SAJ, Usucapião e
09/08/2014. Usucapião de coisa móvel.

45
matéria de Direito Urbanístico pelo TJSP é Já o assunto “Ordem Urbanística”, com-
bastante recente. Do universo de 3.466 acór- posto por outros assuntos definidos pelo
dãos encontrados, a maioria foi registrada Tribunal como “Parcelamento do Solo”, “Co-
no sistema do Tribunal especialmente a par- mércio Ambulante”, “Operações Urbanas
tir de 2008, com maior ênfase entre 2010 e Consorciadas”, “Posturas Municipais”, “Segu-
2014, exceção feita ao assunto sobre transfe- rança em Edificações”, teve resultado me-
rência de uso de bens públicos tratada ante- nos expressivos em relação à quantidade
riormente, que ocorre desde 1998. de acórdãos categorizados e temáticas tra-
tadas para o Direito Urbanístico, exceto em
No decorrer da pesquisa, em 2014, verifi- relação ao primeiro tema que corresponde a
camos que foram incluídos novos assuntos 50% dos julgados encontrados.
como “conflito fundiário coletivo urbano” e
“conflito fundiário coletivo rural”, que passou Verifica-se que, apesar da “Ordem Urba-
a contar com um único acórdão após o mar- nística” nos termos da Lei 7.347/1985 (LACP,
co temporal da pesquisa, em 03/08/2015. art. 1º, VI) ter natureza de direito difuso e
coletivo, passível de tutela pela interposi-
Chama atenção a inexistência de confli- ção de ações civis públicas, a definição dos
tos coletivos urbanos segundo a organiza- temas pelo Tribunal para este assunto não
ção judiciária por assuntos do Tribunal, ao guarda relação com isto. Tampouco com as
mesmo tempo em que, segundo o próprio diretrizes do Estatuto da Cidade (art. 2º, Lei
Tribunal6 há em curso no Estado mais de 160 10.257/2001) sobre “ordenação e controle do
mil ações que versam sobre conflitos fundi- uso do solo”, “direito a cidades sustentáveis”,
ários, das quais 35 mil correm na capital. “regularização fundiária e urbanização de
A inserção destes assuntos na parte de áreas ocupadas por população de baixa ren-
Direito Civil suscita dúvidas considerando da”, dentre outros.
as demandas coletivas que envolvem a re- Os assuntos definidos dentro deste tema
gulação do uso do solo urbano na cidade, pelo TJSP parecem guardar correspondência
o direito social à moradia, para os quais já com a disciplina urbanística antes da Consti-
há diretrizes gerais do Estatuto da Cidade e tuição Federal de 1988 e edição do Estatuto
instrumentos específicos de ordenação da da Cidade, referente a antigos Códigos de
cidade e regularização fundiária. Parecendo Postura ou Código de Obras municipais. De
estar mais atrelada à perspectiva privada do forma que temáticas como “Comércio Am-
direito de propriedade que a existência de bulante”, “Posturas Municipais”, “Segurança
normas de ordem pública que a regulam. em Edificações” podem dificultar o enqua-
Em relação aos 547 acórdãos categori- dramento dos acórdãos conforme os temas
zados pelo próprio TJSP pelo assunto “Or- definidos no Capítulo de Política Urbana da
denação da cidade/Plano Diretor”, trata de Constituição e do Estatuto da Cidade, e de-
produção jurisprudencial relevante para mais marco legal jurídico-urbanístico per-
novas pesquisas de Direito Urbanístico, in- tinente para esta disciplina, bem como a
cluir demandas de caráter coletivo e difuso. informação e conhecimento sobre as ma-
Ações civis públicas que tratam da situação térias tratadas pelo Poder Judiciário Paulista.
de loteamentos clandestinos ou irregulares, Em relação à disciplina urbanística, e suas
constitucionalidade, questionamento de interface, verificamos ainda que tanto os te-
planos diretores à luz das diretrizes do Es- mas de “Direito Ambiental” como de “Direito
tatuto da Cidade, zoneamento, situação de Urbanístico” não existem de forma autôno-
obras irregulares, são exemplos de assuntos ma na organização temática de acórdãos do
incidentes. TJSP. Também não havendo relação entre
6 Artigo “O Judiciário e os conflitos fundiários” de José Renato ambos na categorização de assuntos, ou al-
Nalini, presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo guma relação entre meio ambiente e meio
e Wilson Levy, diretor da presidência, publicado no Jornal a Fo-
lha de São Paulo, Seção Tendências e Debates, em 29/07/2015. ambiente urbano. Em ambos os casos há

46
uma concentração de assuntos inseridos em r Conflito fundiário coletivo urbano
“Direito Administrativo e outras matérias de
Direito Público”, e parte em “Direito Civil”. No bGlossário: Assunto complementar a ser
caso do Direito Ambiental existe também o acrescentado nas ações cíveis que tenham
assunto “matéria relativa a Direito Ambiental” como pano de fundo a existência de con-
(nos assuntos antigos do SAJ/TJSP, referente flito fundiário coletivo urbano. Exemplos de
à categorização antiga dos TACs. ações seriam possessórias, reivindicatórias
etc..
Vale uma nota em relação à recente pe-
riodicidade dos acórdãos encontrados nesta Percebe-se que os conceitos apresen-
etapa da pesquisa. Não significa os assun- tado embora importantes para basilar o
tos relacionados ao Direito Urbanístico não trabalho dos servidores do Judiciário res-
eram tratados anteriormente a estes acór- ponsáveis pela categorização por assunto
dãos ou em quantidade muito maior que e distribuição de processos judiciais devem
os devidamente classificados, mas apenas ser aprimorados para permitir sua aplicação
que não estão sendo reconhecidos como de forma mais didática e ampla na organiza-
assuntos que orientam a organização judi- ção da Justiça.
ciária e distribuição de processos. Situação
que acarreta problemas na distribuição dos
recursos para as diferentes Câmaras Julga- Grupo B: Pesquisa por palavras-chave
doras do Tribunal, incluindo aí, por exemplo, relacionadas ao Direito Urbanístico
temas de direito público tratados sob uma (assuntos e dispositivos legais)
ótima privada, negando o caráter de normas
Como visto, verificou-se que não há uma
de ordem pública do Direito Urbanístico.
categorização de assuntos específica para
Verificamos que a listagem do SAJ/TJSP o Direito Urbanístico na organização de ju-
é importada do Conselho Nacional de Justi- risprudências do TJSP e CNJ. Dessa forma,
ça – CNJ, conforme informado em reunião diversas temáticas relevantes para essa dis-
com a Secretaria Judiciária da 2ª instância ciplina jurídica estão sendo tratadas na ati-
do TJSP. Embora, ainda pouco utilizados, os vidade do Poder Judiciário Paulista sem, ne-
cerca de 3.500 acórdãos encontrados indi- cessariamente, assim estarem classificadas.
cam a incidência de temas relevantes sobre
Nesta segunda etapa de seleção de acór-
conflitos urbanísticos e meio ambiente ur-
dãos, foi realizada a pesquisa por palavra-
bano submetidos ao julgamento Judiciário
-chave tendo como referência os seguintes
Paulista.
recortes:
O Sistema de Gestão de Tabelas Proces-
r pesquisa livre no acórdão e na ementa
suais Unificadas do CNJ (http://www.cnj.jus.
(campo específico) por assuntos relevan-
br/sgt/consulta_publica_assuntos.php) apre-
tes para o Direito Urbanístico, não exis-
senta lista de assuntos, códigos e glossário.
tente na organização dos julgados por
Neste conceitua da seguinte forma, alguns
assuntos do TJSP (Grupo B1);
assuntos de nosso interesse:
r pesquisa livre no acórdão e na ementa
r Ordenação da cidade / plano diretor (campo específico) por assuntos coinci-
bGlossário: Questões sobre controle admi- dentes com aqueles já definidos como
nistrativo da edificação e ocupação urbana. “assuntos” na pesquisa por campo espe-
cífico do TJSP, para possibilitar a compa-
r Ordem Urbanística ração (Grupo B1);
bGlossário: Questões relacionadas ao orde- r pesquisa livre no acórdão e na ementa
namento das cidades, nelas se incluindo a (campo específico) pelos principais dis-
regularização do espaço urbano. positivos constitucionais e legais do Di-

47
reito Urbanístico (art. 182 e 183, CF/88; Lei cidade”, “zonas especiais de interesse social”,
10.257 e MP 2.220/2001) (Grupo B2). “concessão de uso especial para fins de mo-
radia”, “regularização fundiária de interesse
Como critérios para a definição das pa- social”), e expressões mais informais, porém
lavras-chave foram utilizadas expressões significativas para a temática jurídico-urba-
de pesquisa idênticas ou correspondentes nística (como “favela”, “movimento de mora-
àquelas utilizadas na Constituição Federal dia”, “ocupação urbana”, “invasão urbana”).
(como “direito urbanístico”, “política urbana”,
“funções sociais da cidade”, “função social Aqui podemos visualizar um exemplo da
da propriedade urbana”, “plano diretor”) e pesquisa livre por palavra-chave no Portal de
no Estatuto da Cidade (como “direito a ci- Serviços do TJSP, em 09/08/2014:
dades sustentáveis”, “gestão democrática da

Assim, nesta etapa o único filtro de pes- Tribunal . O que torna a síntese da ementa,
quisa utilizado foi a pesquisa por palavra- relevante para os nosso estudo, vez que é
-chave, colocada entre aspas, com sinôni- fruto da própria reflexão jurídica dos Desem-
mos, pela ferramenta de consulta completa bargadores do Tribunal sobre as lides.
de jurisprudência do Portal de Serviços SAL
do TJSP. Como mencionado anteriormente, não
foi feito nenhum outro filtro (temporal, por
Estes critérios foram utilizados para verifi- tipo de ação, etc.), ou tratamento para ex-
car a ocorrência das palavras-chave em duas clusão de duplicidades que possam existir
situações: (i) no texto do acórdão como um entre os diferentes assuntos resultados de
todo, (ii) apenas no texto da ementa. Sendo pesquisa ou exclusão de “falsos positivos”,
que neste último caso, cabe ao Desembar- que podem ocorrer com maios frequência
gador Relator do acórdão a incumbência de na busca por palavras-chave. Por esta razão,
redigir a ementa, sistematizando e resumin- diferente da tabela que consolida os resul-
do o conteúdo da decisão proferida pelo tados de acórdãos encontrados na pesquisa

48
por campo específico de assunto relaciona- Vejamos os resultados desta etapa de
do ao Direito Urbanístico (Grupo A), nessa investigação. Ao realizar a busca de juris-
etapa (Grupo B) da pesquisa sem tratamen- prudência por pesquisa de palavras-chave
to, não é possível somar o resultado encon- relevantes para o Direito Urbanístico, foram
trado por cada palavra-chave para alcançar encontrados os seguintes acórdãos de 2ª
a quantidade total de acórdãos sobre Direito instância, dos órgãos colegiados do Tribunal
Urbanístico. Isto, considerando a possibilida- Paulista, que conteriam as palavras de bus-
de de um mesmo acórdão conter diferentes ca em seu texto ou exclusivamente em sua
palavras chaves pesquisadas. ementa, organizados em ordem crescente
de incidência:

Data da consulta: 09/08/2014, Portal SAJ/TJSP (https://


esaj.tjsp.jus.br/cjsg/consultaCompleta.do )

49
Este recorte possibilita observar que há ta essa pesquisa, destacam-se os seguintes
diversos assuntos sobre Direito Urbanístico acórdãos em que foram encontrados em
tratados pelo Tribunal de Justiça Paulista, sua ementa, os assuntos que seguem: 191
existindo farta produção jurisprudencial que resultados para “Direito Urbanístico”, 217 para
apresenta no inteiro teor dos acórdãos, bem “Política urbana”, 282 para “Funções sociais
como em sua ementa temas de Direito Ur- da cidade”, 457 para “Estatuto da Cidade”,
banístico. 1.222 para “Plano Diretor” e 1.518 para “Fun-
ção social da propriedade urbana”, 580 para
Entretanto, grande parte destes acórdãos “usucapião especial urbana” e 44 para “Con-
ainda não são classificados na organização cessão de uso especial para fins de moradia”.
por assunto do TJSP como assuntos de Di-
reito Urbanístico. O que reflete a necessida- Este recorte de pesquisa indicou a locali-
de de atualização e aprimoramento desta zação de palavras-chaves relevantes para o
classificação e melhor organização do Poder Direito Urbanístico na ementa dos acórdãos
Judiciário para tratar do tema. como um critério de interesse para a seleção
de acórdãos a serem estudados nesta pes-
Pode-se verificar, também, que a classifi- quisa. Para além das fragilidades da catego-
cação por assunto que está sendo feita pelo rização por assuntos dos recursos judiciais,
TJSP dos acórdãos, aparenta pouca precisão. texto da ementa trata da síntese do acórdão
Possibilitando que acórdãos sobre assuntos elaborada pelos próprios julgadores - no
similares de Direito Urbanístico sejam clas- caso o Desembargador Relator e sua equipe.
sificados de forma relativamente aleatória Interessando investigar quando estão utili-
quanto ao mérito e pedido judicial pelo Tri- zando expressões como “Política urbana” e
bunal. “Direito Urbanístico”.
É o que se pode aferir, ao comparar os No marco temporal do estudo também
resultados desta tabela com os da anterior foi feita a pesquisa pelos principais dispositi-
(Grupo A), por exemplo, sobre o assunto vos constitucionais e legais do Direito Urba-
“Ordenação da cidade/plano diretor” que re- nístico (art. 182 e 183, CF/88; Lei 10.257 e MP
sultou em 547 acórdãos assim classificados 2.220/2001).
pelo Tribunal. Na pesquisa livre por palavra-
-chave, foi encontrado número maior, em Este critério tem como fundamento o
que a ferramenta de pesquisa jurispruden- marco normativo positivo central da disci-
cial identifica 8.054 acórdãos em que é en- plina urbanística, referindo-se aos artigos do
contrada a expressão “plano diretor” em seu Capítulo da Política Urbana da constituição e
texto (inteiro teor) e 1.222 em sua ementa, às leis que constituem o Estatuto da Cidade,
e a ocorrência da expressão “Ordenação da que regulamentou este Capítulo, definindo
cidade” em 1.538 acórdãos, em seu inteiro as normas gerais da Política Nacional de De-
teor, e em 115 acórdãos, em sua ementa. senvolvimento Urbano.
Considerando apenas os acórdãos em que
estes temas “Plano diretor” e “Ordenação Foram utilizadas expressões similares re-
da cidade” foram identificados nas ementas ferentes aos dispositivos constitucionais e
(ressalvando os casos que possam represen- legais de interesse (exemplo: “10.257/2001”
tar “falsos positivos”), verifica-se que mais do e “10.257 de 2001”), para testar os resultados
que o dobro de acórdãos fazem referência a encontrados. Os resultados de acórdãos en-
esta matéria de Direito Urbanístico por este contrados foram bastante díspares entre si
critério de pesquisa. quantitativamente para cada expressão, de-
monstrando a falta de padronização da cita-
Em relação às palavras-chave, conside- ção a dispositivos legais na elaboração dos
rando o marco normativo central do Direi- acórdãos. A possibilidade de repetição entre
to Urbanístico (art. 24, I, 182 e 183 da CF/88 os acórdãos encontrados para cada critério
c/c Lei 10.257 c/c MP 2.220/2001) que orien- de pesquisa impede que os resultados sejam

50
somados neste recorte, também. A citação ao dispositivo legal de Direito
Urbanístico foi considerada relevante como
Diversas dificuldades são encontradas, critério de pesquisa. Por esta razão, apesar da
portanto, na pesquisa de jurisprudência a pesquisa utilizar como referência metodoló-
partir de expressões numéricas referente a gica o marco normativo constitucional do
artigos e números de lei. A diferente redação Direito Urbanístico e o Estatuto da Cidade,
dos dispositivos normativos, abreviados ou este critério não será utilizado isoladamente
não, a ocorrência destes números em ou- para a seleção de acórdãos foco da pesquisa.
tros tipos de numeração presentes no inteiro
teor dos acórdãos (número de processo, da Visualiza-se abaixo a ferramenta de pes-
ação judicial, datas, outros dispositivos legais quisa livre por palavra-chave referente aos
etc.) são fatores tornam este critério sujeito a dispositivos legais da Lei 10.257/2001 com
imprecisões. Sendo necessário o tratamento resultados diferentes para expressões di-
e exclusão de acórdãos que não dizem res- versas (“10.257/2001”, com 516 resultados, e
peito ao marco legal urbanístico na etapa de “10.257 de 2001” com 16 resultados) no Por-
depuração dos acórdãos selecionados. tal de Serviços do TJSP, em 09/08/2014:

51
Superadas as dificuldades da utilização de teriormente, não foi feito nenhum outro fil-
expressões numéricas referentes a dispositi- tro (temporal, por tipo de ação, etc.) nem tra-
vos legais como palavras-chave para a pes- tamento de duplicidades entre os resultados
quisa livre de acórdãos, importante apresen- das diferentes palavras-chave, ou ainda ex-
tar que nessa etapa, este foi o único filtro de clusão de “falsos positivos” neste momento.
pesquisa utilizado. Palavras-chave colocadas
entre aspas, com sinônimos, pela ferramenta Assim, da mesma forma que na tabela
de consulta completa de jurisprudência do anterior (Grupo B1), nessa etapa não é pos-
Portal de Serviços SAJ/TJSP. sível somar o resultado encontrado por cada
palavra-chave para alcançar a quantidade
Estes critérios foram utilizados, como no total de acórdãos sobre Direito Urbanístico.
Grupo B1, para verificar a ocorrência das pa- Este resultado total seria impreciso devido à
lavras-chave em duas situações: (i) no texto possibilidade de um mesmo acórdão conter
do acórdão como um todo, (ii) apenas no diferentes palavras chaves pesquisadas.
texto da ementa. Como já mencionado an-
Os resultados desta etapa de investigação

52
seguem apresentados em duas tabelas. dos as seguintes acórdãos de 2ª instância,
dos órgãos colegiados do Tribunal Paulista,
Ao realizar a busca de jurisprudência por que contem as palavras de busca em seu in-
pesquisa de palavras-chave referente aos teiro teor ou exclusivamente em sua emen-
principais dispositivos constitucionais de Di- ta:
reito Urbanístico, aqueles que constituem o
Capítulo de Política Urbana, foram encontra-

Data da consulta: 09/08/2014, Portal SAJ/TJSP (https://


esaj.tjsp.jus.br/cjsg/consultaCompleta.do)

53
Em relação à data de julgamento dos Quanto aos 355 acórdãos identificados
acórdãos encontrados, o grupo que contém com a expressão “183 da Constituição” em
“182 da Constituição” em sua ementa foi re- sua ementa, os seguintes assuntos categori-
gistrado desde 1998 e o grupo de acórdãos zados pelo TJSP predominaram: Usucapião
que contém “183 da Constituição” em sua Extraordinária, Usucapião Ordinária, Usuca-
ementa desde 1997. pião Especial (Constitucional), Usucapião
rural/Lei 6.969/1981, Meio Ambiente, Bens
Em relação aos 170 acórdãos que con- Públicos e transferência sobre eles, Desapro-
tém “182 da Constituição” em sua ementa, priação, Possessórias (posse/aquisição/imis-
verificou-se predominante a incidência de são/esbulho/reivindicação).
lides relacionados ao IPTU – Imposto Pre-
dial Territorial Urbano. Apesar deste artigo da Há coincidência de 35 acórdãos com
Constituição prever o Plano Diretor Munici- usucapião constitucional (categorização por
pal como principal instrumento da política assunto são 820), demonstrando que se trata
urbana, percebe-se que não há correspon- de um tema mais conhecido pelo Tribunal,
dência com o grupo de acórdãos classifica- e que não há necessária relação/coerência
dos pelo TJSP com o assunto “Ordenação da entre ementa/categorização por assunto.
Cidade / Plano Diretor”.
Ao realizar a pesquisa por palavra-chave
Há neste grupo a predominância de de- referente aos principais dispositivos legais
mandas individuais, sendo as ações coletivas (Lei 10.257 e MP 2.220 de 2001) do Direito
residuais. Neste grupo há grande quantidade Urbanístico foram identificados os seguintes
de acórdãos categorizados como “Assun- conjuntos de acórdãos do Tribunal que fa-
to não Especificado” e desapropriação por zem referência expressa ao marco legal que
utilidade pública. Em relação às ações co- integra o Estatuto da Cidade, em seu inteiro
letivas, destacam-se as ações civis públicas teor e ementa:
ambientais.

Data da consulta: 09/08/2014, Portal SAJ/TJSP (https://esaj.


tjsp.jus.br/cjsg/consultaCompleta.do)

54
Quanto ao marco temporal dos acórdãos 2ª etapa: Selecionando acórdãos sobre Di-
identificou-se que as expressões referen- reito Urbanístico para estudo
tes à Lei 10.257/2001 aparecem na ementa
de acórdãos desde 2002, e referente à MP Nesta etapa delimitou-se o objeto de
2.220/2001 desde 2004. pesquisa jurisprudencial, definindo o grupo
de 193 acórdãos a ser estudado pela aplica-
O banco de acórdãos virtual disponível ção do questionário jurisprudencial. Foram
do TJSP é mais adequado para a análise do utilizado os seguintes critérios:
Estatuto da Cidade, vigente desde 2001, do
que do Capítulo de Política Urbana da Cons- r pesquisa na ementa (campo específi-
tituição Federal. Já que não contém acór- co) por assuntos relevantes para o Direito
dãos de 1988 à 1998. Lembrando que ape- Urbanístico, não existente na organização
nas em 1992 houve a divisão da Seção Civil dos julgados por assuntos do TJSP;
do Tribunal de Justiça em Direito Privado r pesquisa na ementa (campo específi-
e Público, que desde 1951 era organização co) pelos principais dispositivos constitu-
apenas em Câmaras Cíveis e Criminais (con- cionais e legais do Direito Urbanístico.
forme linha do tempo sistematizada pela
pesquisa no APENDICE I). Considerando as fragilidades verificadas
na categorização de assuntos dos proces-
As seções de Direito Público são assim as sos judiciais no TJSP verificada na primeira
mais jovens do Tribunal, sendo elas as prin- etapa, exclui-se estes como critério de pes-
cipais julgadoras das matérias de Direito Ur- quisa.
banístico, como veremos nesta pesquisa.
Dentre o amplo universo da produção
Nesta fase, identificou-se a presença dos jurisprudencial do TJSP sobre Direito Urba-
artigos da Política Urbana e leis do Estatuto nístico mapeado, optou-se por priorizar os
da Cidade na ementa dos acórdãos como acórdãos em recurso de apelação em rela-
critério de pesquisa importante. Fazendo-se ção aos acórdãos selecionados por tipo de
necessário algumas providências para sele- ação. Isto pelo interesse na decisão final do
cionar o critério a ser utilizado: Tribunal quanto ao mérito dos recursos judi-
r fazer filtros que selecionem apenas as ciais e não em questões incidentais ou pro-
decisões finais de mérito, como de re- cessuais.
cursos de apelação excluindo embargos, Dentre os incidentais, selecionou-se ape-
agravos etc.; nas a arguição de inconstitucionalidade.
r somar o resultado de busca por dife- Para verificar a o posicionamento do TJSP a
rentes formas de redação das normas de respeito dos institutos urbanísticos.
referência (ex. “182 CF” + “182 da Consti- Optou-se por combinar dois critérios de
tuição” + “art. 182 CF” etc.) pesquisa, correspondentes a palavras-cha-
r priorizar artigos e leis mais relevantes ves de assuntos e normas de Direito Urba-
e abrangentes considerando a quantida- nístico.
de de acórdãos que poderá ser estudada Em relação aos assuntos, optou-se por
nesta pesquisa (conforme equipe e pra- investigar quando os Desembargadores es-
zos) e os objetivos pré-definidos. tão utilizando expressões “Política urbana”
e “Direito Urbanístico” na ementa dos acór-
dãos. Correspondendo a primeira ao objeto
e a segunda ao nome da disciplina jurídica
urbanística.
Quanto aos dispositivos legais priorizados
foi necessário excluir o artigo 183 da Cons-

55
tituição e a MP 2.220/2001, considerando o conhecer o tratamento das normas gerais
volume de acórdãos que seria possível es- de Direito Urbanístico pelo Tribunal e não se
tudar na pesquisa, bem como a opção por instrumentos específicos.

Data da consulta: 09/08/2014, Portal SAJ/TJSP (https://


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Assim, a partir do marco normativo cons-


titucional do Direito Urbanístico, optou-se
por utilizar como critério de pesquisa pala-
vras-chaves que reflitam a essência cons-
titucional da disciplina urbanística de que
trata o art. 24, I e o capítulo de Política Urba-
na da Constituição de 1988. Considerando Gráfico 1 - Acórdãos por dispositivo normativo
que a política urbana é o objeto central da IBDU, 2015 (Fonte TJSP/SAJ em 09/08/2014)
regulação da disciplina urbanística, o arti-
go 182 da Constituição foi escolhido como Como vemos acima, o artigo 183 da
sua principal referência constitucional. A Lei Constituição é o tema de maior incidência.
10.257/2001 (Estatuto da Cidade) foi escolhi- Este grupo de cerca de 170 acórdãos não foi
da como principal marco regulamentador estudado pela aplicação dos questionários
do regime constitucional da propriedade ur- de pesquisa nesta oportunidade, tema suge-
bana e da ordenação da cidade. rido para novas pesquisas jurisprudenciais.
Isto porque disciplinam importantes instru-
Tais dispositivos normativos correspon- mentos jurídicos de regularização fundiária
dem ao principal marco regulador da Polí- e garantia do direito fundamental à moradia
tica Nacional de Desenvolvimento Urbano. previsto no artigo 6º de nossa Lei Maior, seja
Interessando-nos saber quando e para que em áreas privadas como públicas.
estão sendo mencionados pelos Desembar-
gadores em seus acórdãos. Entretanto, nos debruçar-nos-emos so-

56
bre a discussão de constitucionalidade as- Primeiro foram salvos7, no marco tempo-
sentada pelo Órgão Especial do Tribunal a ral da pesquisa, os dados de todos os acór-
respeito do instituto da concessão de uso dãos resultantes da pesquisa completa, feita
de imóveis públicos regulamentada pela a partir das quatro palavras-chave prioriza-
MP 2.220/2001 e sobre o artigo 13 da Lei das. Em seguida, todos os arquivos dos acór-
10.257/2001 que trata da usucapião especial dãos dos quatro grupos foram organizados
urbana como matéria de defesa. Isto, con- em ordem cronológica, ordenados do mais
siderando a relevância de tais instrumentos antigo para o mais recente.
para a concretização da função social da
propriedade urbana e da cidade. Posteriormente foi feito o cruzamento
dos resultados obtidos por palavra-chave,
Foram, assim, selecionados os acórdãos checagem feita dentro de cada grupo de
cujos próprios relatores incluíram na ementa acórdãos e entre os respectivos grupos. Isto,
as expressões “Direito Urbanístico”, “Política a fim de se obter a consolidação do número
Urbana”, “182 da Constituição” e “10.257/01”. total de acórdãos selecionados, excluindo-
Com os filtros definidos, o grupo de 193 -se os erros e repetições.
acórdãos de recursos de apelação e argui-
ção de inconstitucionalidade, julgados entre Nesta etapa de depuração foram iden-
2009 e 2014, ou seja, os últimos seis anos. tificadas três causas de exclusões de acór-
dãos, daqueles que serão objeto de estudo
Quanto à busca por palavras-chave refe- da pesquisa, quais sejam: (i) erro no siste-
rente a expressões numéricas de dispositi- ma SAJ TJSP que apresentou repetições; (ii)
vos legais, importante que registrar que os acórdãos repetidos em diferentes grupos de
resultados contemplam as expressões “182 palavra-chave; (iii) mais de um acórdão do
da Constituição” e “182 CF”; “10.257/01” e TJSP no mesmo processo judicial.
“10.257/2001”.
Entre os acórdãos disponibilizados pelo
A organização e consolidação dos dados sistema SAJ/TJSP, verificou-se que no resul-
dos acórdãos foram feitas em várias etapas. tado de pesquisa da palavra-chave “Direito
Sendo cada passo importante para organi- Urbanístico” houve repetições de acórdãos
zação do banco de dados e acórdãos objeto idênticos, como os itens 65, 66 e 67 abaixo.
da pesquisa. Neste caso, o mesmo acórdão é apresenta-
do com números de registros diferentes.
7 O salvamento foi feito pela captura da imagem de tela (“prit
screem”) do resultado da pesquisa completa de jurisprudên-
cia de 2ª instância do SAJ/TJSP a partir das quatro palavras-
-chave na data de 09/08/2014.

7 O salvamento foi feito pela captura da imagem de tela (“prit


screem”) do resultado da pesquisa completa de jurisprudên-
cia de 2ª instância do SAJ/TJSP a partir das quatro palavras-
-chave na data de 09/08/2014.

57
Data da consulta: 09/08/2014, Portal SAJ/TJSP (https:// Diferente das primeiras repetições encon-
esaj.tjsp.jus.br/cjsg/consultaCompleta.do) tradas – derivadas de aparente erro do sis-
tema - a repetição aqui se deu pela existên-
Encontrou-se três repetições do acórdão
cia de dois acórdãos do Tribunal proferidos
dos autos 9099469-90.2005.8.26.0000, op-
na mesma lide e nos mesmos autos. Desta
tando-se pela exclusão das duas repetições
forma, optou-se pela seleção dos acórdãos
encontradas.
mais recentes para análise e pela exclusão
Identificou-se, também, casos8 de pro- dos mais antigos, vez que aqueles manifes-
cessos judiciais com mais de um acórdão do tam o posicionamento final do Tribunal a
TJSP, como na pesquisa pela palavra-chave respeito da temática urbanística objeto da
“10.257/01”, em que os autos de nº 012408- controvérsia judicial.
61.2007.8.26.0000 possui dois acórdãos, em
Por fim, identificou-se pelo cruzamen-
função da interposição de recurso extraordi-
to dos números dos acórdãos os casos9 em
nário e da devolução dos autos a turma jul-
que um mesmo acórdão foi selecionado por
gadora para adequação ou manutenção da
apresentar mais de uma palavra-chave de
decisão. Houve também casos de mais de
pesquisa, por exemplos acórdãos que con-
um acórdão do Tribunal em um mesmo pro-
tém tanto as expressões “Política Urbana”
cesso, em razão da redistribuição do recurso
como “10.257/01” em sua ementa. Nestes
de apelação da Câmara Reservada de Meio
casos, exclui-se o acórdão da contagem do
Ambiente para a de Direito Público, ou devi-
maior grupo, para obter-se o número total de
do a propositura de incidente de inconstitu-
acórdãos de cada grupo e total, sem repeti-
cionalidade pela Câmara de Direito Público
ções.
ao Órgão Especial do TJSP e sua nova apre-
ciação após o julgamento do incidente.
9 Número dos processos em que as ementas dos
acórdãos apresentam mais de uma palavra-chave:
8 Número dos processos dos quais o acórdãos mais an- 0463875-30.2010.8.26.0000, 0013386-21.2012.8.26.0053,
tigo foi excluído: 0024916-98.2009.8.26.0482, 0052406- 0003408-96.2009.8.26.0482, 0011984-44.2010.8.26.0482,
15.2011.8.26.0001, 0048586-60.2010.8.26.0053, 012408- 0002976-43.2010.8.26.0482, 9067111-33.2009.8.26.0000,
61.2007.8.26.0000. 0012109-38.2010.8.26.0053.

58
Ao final dos cruzamentos de dados treze
correções foram feitas, alcançando-se um
número total 193 acórdãos sobre Direito Ur-
banístico selecionados para estudo, median-
te a aplicação do questionário de pesquisa,
conforme detalhado na tabela abaixo.

Data da consulta: 09/08/2014, Portal SAJ/TJSP (https://


esaj.tjsp.jus.br/cjsg/consultaCompleta.do)

Importante registrar que outros acórdãos


identificados como paradigmáticos fora des-
te grupo serão utilizados no capítulo quarto,
na análise jurisprudencial, especialmente na
discussão de constitucionalidade de institu-
tos do Estatuto da Cidade. Ao mesmo tempo,
todos os resultados numéricos obtidos pela
tabulação dos dados da pesquisa é fruta da
análise dos 193 acórdãos acima descritos,
derivados da aplicação do questionário de
pesquisa.

59
IV. Análise jurisprudencial

60
]
1. Acórdãos de Direito
Urbanístico estudados

O grupo de acórdãos de Direito Urbanísti- encontrou-se a maior parte da incidência


co estudado totaliza 193 acórdãos do Tribu- (53%) nas ementas dos acórdãos seleciona-
nal de Justiça do Estado de São Paulo sobre dos para estudo, seguida pelo nome da disci-
Direito Urbanístico. Destes 103 (cento e três) plina jurídica que ora se investiga no Tribunal
fazem menção no texto de sua ementa à Lei Paulista, “Direito Urbanístico”.
10.257/2001 (Estatuto da Cidade), 73 (setenta
e três) mencionam a expressão Direito Urba- A predominância da menção a Lei do Es-
nístico, 10 (dez) a expressão Política Urbana tatuto da Cidade nas ementas dos acórdãos
e 7 (sete) fazem referência ao artigo 182 da elaborados pelos Desembargadores Rela-
Constituição Federal de 1998. tores dos acórdãos estudados e suas equi-
pes aponta para a relevância dada à regula-
mentação do Capítulo de Política Urbana da
Constituição.
Pelo arranjo normativo e federativo defi-
nido no artigo 182, é a combinação do Esta-
tuto da Cidade, como norma geral de Direito
Urbanístico, com os Planos Diretores Muni-
cipais, que conformam o regime jurídico da
propriedade urbana e garantem a plena apli-
Gráfico 2 - Divisão dos acórdãos estudados por palavra- cabilidade das exigências para o cumprimen-
-chave to de sua função social.
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
@-SAJ/TJSP)
De tal forma, que a aplicação dos ins-
trumentos de indução do cumprimento da
Conforme apresentado no capítulo dois função social da propriedade urbana depen-
e três, que tratam da metodologia de pes- derá da vontade do Poder Local, pois não ha-
quisa, escolha das palavras-chave de con- vendo a previsão no Plano Diretor Municipal
sulta jurisprudencial e etapas de seleção de das áreas passíveis de aplicação do parcela-
acórdãos, os julgados do TJSP selecionados mento, edificação e utilização compulsória
são de recursos de apelação e arguições de (PEUC), do IPTU progressivo e da desapro-
inconstitucionalidade. Acórdãos transitados priação sanção, tais exigências não poderão
em julgado que apresentam decisões finais ocorrer.
do Tribunal Paulista.
Quanto à distribuição temporal dos acór-
Verifica-se a incidência secundária das ex- dãos estudados, os recursos de apelação e
pressões associadas diretamente ao Capítulo arguição de inconstitucionalidade aos ór-
de Política Urbana da Constituição Federal gãos colegiados da 2ª instância do TJSP fo-
de 1988 nas ementas dos acórdãos do TJSP, ram julgados entre 15/12/2009 e 09/08/2014.
como “art.182 CF/88” ou ainda “Politica Urba- Isto é, correspondem à amostra da produ-
na”, apesar de decorridos 27 anos da sua pro- ção jurisprudencial de Direito Urbanístico do
mulgação. Já em relação às expressões refe- Tribunal Paulista de um período recente de
rente ao Estatuto da Cidade, especificamente aproximadamente cinco anos.
ao seu principal marco legal, “Lei 10.257/01”

61
julgados pelo TJSP, com exceção ao ano de
2012 (17%).
Conforme apresentado na descrição da
metodologia de pesquisa a idade do banco
de acórdãos disponível para consulta virtual
do TJSP, por cidadão e membros do Tribunal,
limitou temporalmente o objeto de pesquisa
aos últimos cinco anos.
Gráfico 3 - Data de julgamento dos acórdãos estudados

IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal Em relação à distribuição territorial dos
@-SAJ/TJSP) acórdãos analisados, a Comarca de Presi-
dente Prudente destaca-se com 57 acórdãos,
seguida pela capital São Paulo com 47 acór-
dãos do total. No primeiro caso, tratam-se de
Dos 193 acórdãos estudados, apenas dois
acórdãos relacionados à tentativa de aplica-
são de 2009 e mais de 80% foram julgados
ção pela Municipalidade do IPTU progressivo
após dez anos de vigência do Estatuto da Ci-
sobre imóveis vazios ou ociosos previsto no
dade (Lei 10.257 e MP 2.220/2001).
artigo 182 da Constituição Federal, no segun-
A maior parte dos acórdãos é de 2013 do a casos variados relativos a disputas sobre
(30,5%) seguido por 2011 (25,9) e 2010 (12,4%). a posse de imóveis urbanos, loteamentos ur-
Entre 2010 e 2013 verificou-se o aumento do banos irregulares dentre outros.
número de acórdãos de Direito Urbanístico

62
Mais da metade dos acórdãos julgados O grupo dos 193 acórdãos de Direito Ur-
tem origem em Comarcas de fora das áreas banístico estudados refere-se a processos ju-
metropolitanas e aglomerações urbanas do diciais originados em 52 Comarcas Paulistas,
Estado de São Paulo (51,3% ou 99 acórdãos), parcela reduzida das 326 Regiões Adminis-
em razão da concentração de acórdão em trativas Judiciárias (APENDICE VI – Mapa) ou
Presidente Prudente. considerando as 1.462 Varas Instaladas do Es-
tado (APENDICE VII – SIC/TJSP nº 123326 de
Considerando as Regiões Metropolitanas 27/08/2015), menos de um quinto do total.
do Estado Paulista, a maior incidência dos
acórdãos se dá na de São Paulo (35,75% ou A maioria dos acórdãos estudados con-
69 acórdãos), seguida pelas Regiões Metro- centra-se nas Comarcas de Presidente Pru-
politanas de Sorocaba (4,1% ou 8 acórdãos), dente (57 acórdãos), São Paulo (47), Guaru-
Campinas (3,6% ou 7 acórdãos), Baixada San- lhos (8), São José do Rio Preto (7) e Campinas
tista e Vale do Paraíba/Litoral Norte (ambas (4).
com 2,1% ou 4 acórdãos), havendo ainda in-
cidência na Aglomeração Urbana de Jundiaí Poderíamos imaginar que a maioria das
(1% ou 2 acórdãos), respectivamente. cidades paulistas estaria levando à Justiça
Estadual demandas relacionadas ao plane-
jamento urbano, gestão democrática da ci-
dade, direito à cidade, ao direito à moradia e
temas da política urbana em geral. Conside-
rando a vigência do marco legal urbanístico
constitucional desde 1988 com plena regula-
mentação desde 2001, e especialmente por
se tratar do Estado da Federação que con-
centra o maior contingente populacional do
Brasil residindo em áreas urbanas (39.585 mil
pessoas), com taxa de urbanização de 95,9%
Gráfico 4 – Acórdãos estudados por Região Metropolitana
(SEADE1 , IBGE 2010).
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
@-SAJ/TJSP)

Gráfico 5 – Acórdãos estudados por Comar- 1 O Estado de São Paulo concentrou o maior contingente po-
ca
pulacional do Brasil residindo em áreas urbanas (39.585 mil
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal pessoas) e a sua taxa de urbanização (95,9%) situa-se em ter-
@-SAJ/TJSP) ceiro lugar no país, abaixo apenas do Rio de Janeiro (96,7%) e
do Distrito Federal (96,6%). No conjunto dos demais Estados,
tal indicador foi bem menor (81,2%), assim como no total do
país (84,4%). Somente 5,6% da população rural brasileira vive
no território paulista. http://produtos.seade.gov.br/produtos/
retratosdesp/view/index.php?indId=20&temaId=1&locId=1000

63
Entretanto, o grupo de acórdãos de Direi- Não há, também, nenhum acórdão da re-
to Urbanístico estudado ainda concentra-se gião mais pobre do Estado de São Paulo – o
nas Comarcas mais populosas do Estado e, Vale do Ribeira. Situação que ilustra as limi-
exceto Presidente Prudente, nos municípios tações para ao acesso à justiça e defesa da
mais ricos2 (São Paulo, Campinas, Ribeirão ordem urbanística no Estado.
Preto).

2 Segundo a Fundação SEADE são 11 os municípios que apre-


sentam proporcionalmente mais domicílios de classe alta
(com renda domiciliar per capita superior a R$ 914) do que de
classe média: – Águas de São Pedro, Campinas, Jundiaí, Pau-
línia, Ribeirão Preto, Santo André, Santos, São Caetano do Sul,
São Paulo, Valinhos e Vinhedo. Disponível em: http://www.se-
ade.gov.br/83-dos-domicilios-do-estado-de-sao-paulo-sao-
-de-classe-media-ou-alta/

64
]
2. Tipos de ações judiciais e partes
envolvidas

Dos 193 acórdãos em que o questionário


de pesquisa foi aplicado, 192 são derivados
de recursos de apelação ao TJSP e apenas
Gráfico 6 – Acórdãos estudados por classe de ação judi-
um de arguição de inconstitucionalidade jul- cial (%)
gada pelo Tribunal.
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
Relevantes entendimentos sobre a cons- @-SAJ/TJSP)
titucionalidade do Estatuto da Cidade foram
Os 63 acórdãos que tratam do IPTU en-
assentados pela Corte Paulista no período
quanto instrumento da política urbana, ori-
da pesquisa. Especificamente quanto à apli-
ginaram-se de ações em que particulares -
cação do instituto jurídico da concessão
pessoas físicas ou jurídicas - questionaram
de uso especial para fins de moradia a imó-
individualmente as Municipalidades de Co-
veis públicos previsto no Estatuto da Cida-
roados (Comarca de Birigui), Mirassol, Pre-
de (Lei 10.257/2001 combinada com a MP
sidente Prudente, Paranapanema (Comarca
2.2220/2001), incluindo os bens do Estado
de Avaré) e São José do Rio Preto sobre a
de São Paulo e Municípios, e a constitucio-
cobrança do IPTU extrafiscal, utilizado para
nalidade. Trataremos do assunto, no item 6.5.
induzir o cumprimento da função social ur-
deste capítulo de forma detalhada.
bana de imóveis vazios e não utilizados, nos
Quanto aos tipos ou classe das ações ju- termos do art. 182, p. 4º da CF/88 c/c Lei
diciais impetradas, cujos recursos de apela- 10.257/2001.
ção, foram julgados pela 2ª instância do Tri-
Em todos os acórdãos a cobrança do IPTU
bunal, a maior parte dos acórdãos estudados
foi afastada, vez que a Municipalidade não
é oriunda de ações relativa à cobrança de
cumpriu as exigências previstas no artigo 182
tributos (33,2% ou 64 acórdãos), mais espe-
parágrafo 4ª da Constituição Federal de 1988.
cificamente ações anulatórias ou de repeti-
Seja pela ausência de previsão das áreas pas-
ção de indébito referente à cobrança do IPTU
síveis de aplicação do IPTU progressivo no
progressivo no tempo. Destes 63 casos refe-
Plano Diretor Municipal, seja pelo descum-
rem-se à tributação extrafiscal do IPTU inci-
primento da ordem das penalidades suces-
dente sobre imóveis vazios ou ociosos que
sivas previstas no art. 184, p. 4º, faltando a
não cumprem a função social da proprieda-
notificação para o parcelamento, edificação
de, e apenas um caso não é assunto de Di-
e utilização compulsória (PEUC) prévia à ma-
reito Urbanístico por tratar do IPTU fiscal (art.
joração das alíquotas do IPTU sobre o imóvel
156, CF – acórdão de Diadema).
urbano não utilizado.

65
Posteriormente às ações judiciais sobre pra moradia).
IPTU progressivo, o maior número de ações
impetradas julgadas pelos acórdãos de Direi- As ações de reintegração de posse (art.
to Urbanístico estudados refere-se a Ações 927 CPC) e demais possessórias, em 70% dos
Civis Públicas impetradas pelo Ministério Pú- casos (14 de 20 acórdãos) são confrontadas
blico Estadual de São Paulo (33 acórdãos). com pedido reverso dos réus à usucapião do
imóvel urbana, como forma de defesa do di-
Tais ações coletivas tratam da regularização reito à moradia.
de loteamentos urbanos irregulares e clan-
destinos, bem como de conflitos em torno da Chama atenção que o reconhecimen-
posse de imóveis urbanos em que é solicitada to da usucapião muitas vezes se dá por vias
a remoção e relocação de famílias de assen- transversas para diversas famílias de baixa
tamentos informais urbanos em áreas de risco renda devido às limitações ainda existentes
ou proteção ambiental. Nestes casos a obriga- para seu acesso à justiça. Ou seja, uma vez
ção de fazer da Municipalidade é evocada. réus em ações de reintegração de posse de
áreas privadas onde moram e que não são
de sua propriedade, é solicitada a usucapião
como matéria de defesa.
Esta é a situação de diversas áreas urba-
nas onde pelo tempo e natureza da posse
para fins de moradia, as famílias já cumpri-
ram os requisitos para a aquisição originária
da propriedade abandonada pelos proprietá-
rios. Proprietários que deixaram de cumprir a
função social do imóvel e impetraram ações
Gráfico 7 – Acórdãos estudados por classe de ação judicial de reintegração de posse após a prescrição
(nº acórdãos)
aquisitiva da usucapião especial urbana que
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
é de cinco anos, nos termos do artigo 183 da
@-SAJ/TJSP)
Constituição c/c art. 9 a 14 da Lei 10.257/2001
As disputas sobre a posse de imóveis ur- (Estatuto da Cidade).
banos privados somam 41 acórdãos, o que Neste sentido, a discussão de constitu-
compreendem 21, 2% dos acórdãos estuda- cionalidade do art. 13 da Lei 10.257/2001 que
dos. Destes, 21 acórdãos referem-se a ações prevê o registro da sentença declaratória da
de usucapião e 20 acórdãos a ações posses- usucapião especial urbano, alegado como
sórias, predominantemente ações de reinte- matéria de defesa é relevante. Tema que será
gração de posse, mas também ações reivin- tratado no item 6.5. deste capítulo.
dicatórias, ações de rescisão contratual de
contratos ou promessas de compra e venda Se as ações de usucapião correspondem
de lote urbano combinadas com pedido de ao terceiro tipo de ação judicial mais recor-
reintegração de posse e poucas ações de rente no grupo de acórdãos sobre Direito
imissão na posse de imóveis em processo de Urbanístico do TJSP estudado, as ações que
desapropriação. pleiteiam a concessão de uso de imóveis pú-
blicos para fins de moradia correspondem a
As ações judiciais pleiteando a usucapião apenas três (1,5%) acórdãos.
de imóveis urbanos dizem respeito tanto a
pleitos da usucapião constitucional urbana Em dois casos foi arguida ou suscitada
(art. 183 CF c/c art. 1240 CC, com 5 anos de a inconstitucionalidade da MP 2.220/2001,
prescrição aquisitiva), como da usucapião norma que integra o Estatuto da Cidade e re-
extraordinária (art. 1238 CC, com 15 anos de gulamenta o art. 183 da Constituição Federal
prescrição aquisitiva, 10 anos no caso de uso no que tange aos imóveis públicos.

66
A CUEM – Concessão de Uso Especial centenas de ações judiciais desta natureza
Para Fins de Moradia foi solicitada via re- foram movidas pela construtora face aos
cursos de apelação na modalidade indivi- adquirentes de lotes e moradores, além de
dual face à Municipalidade de São Paulo uma ação civil pública movida pelo Minis-
(recurso nº 0305571-64.2009.8.26.0000) tério Público Estadual. Situação de cobran-
e na modalidade coletiva (recurso nº ças abusivas tratadas individualmente como
0169354-19.2006.8.26.0000) face ao Es- matéria exclusiva de direito do consumidor,
tado de São Paulo. Já a única arguição de mas que por dizerem respeito ao direito à
inconstitucionalidade (recurso nº 0274211- moradia e posse de imóveis urbanos em lo-
77.2010.8.26.0000) encontrada no conjunto teamento urbanos irregulares, revelam situ-
de acórdãos selecionados foi primeiramente ações de conflitos fundiários coletivos não
acolhida para afastar a aplicação do instituto identificadas ou reconhecidas como tal pelo
aos bens do Estado de São Paulo e Municí- TJSP durante décadas.
pios Paulistas (art. 3º da MP 2.220/2001). No
entanto, em 2013, tal precedente foi supe- Neste caso, centenas de lides conexas (art.
rado pelo Órgão Especial no TJSP que por 103, CPC) foram analisadas de forma dispersa e
ampla maioria, que reconheceu a constitu- individualmente pela 1ª e 2ª instância do TJSP,
cionalidade art. 3º da MP 2.220/2001 (recur- apesar de exigirem procedimentos próprios
so nº 0041454-43.2012.8.26.0000), aplicável para a análise conjunta da situação de confli-
também aos bens públicos do Estado de São to coletivo urbano. Neste sentido, desde 2014
Paulo e Municípios Paulistas. é este o primeiro caso que está sendo tratado
pela Câmara de Mediação e Conciliação Socio-
Percebe-se que, somando as ações de ambiental e Urbanístico4 do Tribunal de Justiça
usucapião e concessão de uso, as reinte- de São Paulo. O que aponta para a necessidade
grações de posse e demais possessórias e de especialização de Varas e Câmaras do TJSP
as ações civis públicas, a maioria (87%) das para tratar de conflitos coletivos urbanos, a fim
ações judiciais decididas pelos acórdãos de de efetivar a missão do tribunal no tocante a
Direito Urbanístico analisados dizem respei- promoção da pacificação social bem como
to a litígios em torno da posse ou uso e ocu- buscar maior eficiência em relação a casos
pação (parcelamento) de imóveis urbanos. complexos que envolvem coletividades urba-
nas.
Em relação às ações de rescisão contra-
tual de contratos ou promessas de compra Quanto à caracterização dos autores e réus
e venda de lote urbano combinadas com das ações judiciais julgadas pelos acórdãos
pedido de reintegração de posse, vale uma estudados, mais da metade das ações foram
nota. Há casos simbólicos como os dos lo- ações individuais (como o acórdão de 2013 que julgou a Apela-
teamentos irregulares e clandestinos do ção nº 0117525-28.2008.8.26.0000) que reconheceu as cobran-
ças abusivas pleiteadas pela Imobiliária e Construtora Continental
Parque Continental de Guarulhos3 em que Ltda., mas não discutem a situação do loteamento clandestino
e as questões de ordem pública e urbanística decorrentes, tam-
3 Milhares de famílias, que a mais de 30 anos começaram a adqui- pouco o direito à moradia dos adquirentes dos imóveis urbanos.
rir lotes para construção de suas casas próprias nos bairros Parque Em 2010 foi impetrada ação civil pública ambiental interposta
Continental 1, 2, 3, 4 e 5, no município de Guarulhos, na região pelo Ministério Público Estadual/MPE (apelação nº 0266261-
metropolitana de São Paulo, estão sofrendo ameaças, ações de 51.2009.8.26.0000) que trata a regularização do loteamento mas
despejo e outras consequências das irregularidades cometidas não dialoga com as ações de reintegração de posse decorrente
pela Imobiliária e Construtora Continental. Segundo relatos dos dos contratos de rescisão contratual propostos em massa pela
moradores, em janeiro de 1981 foram iniciadas as vendas dos lo- Construtora. Situação dramática sobre a qual foi dada ciência ao
tes para a população, principalmente para famílias de baixa renda, Presidente do TJSP em audiência realizada em 17/07/2014 por
no entanto o loteamento está irregular. No último ano, a Imobi- comitiva de Guarulhos integrada por vereadores integrantes da
liária e Construtora Continental iniciou uma ofensiva jurídica pe- Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Câmara de Gua-
sada, com cerca de 40 a 100 ações por mês contra os moradores rulhos, pelo presidente da Associação dos moradores do Parque
com o objetivo de tirá-los dos loteamentos Parque Continental 1, Continental e representantes da Secretaria de Habitação e Secre-
2, 3, 4 e 5, exigindo a rescisão contratual, a cobrança de aluguel taria de Desenvolvimento Urbano de Guarulhos. Ver também:
desde a data da compra do terreno, a retirada destes morado- http://www.ivanvalente.com.br/moradores-de-guarulhos-sao-
res sem o pagamento das benfeitorias feitas (construção de suas -vitimas-de-golpe-de-construtora/
casas), a cobrança de multa por ter construído as casas fora de 4 http://www.tjsp.jus.br/Institucional/Imprensa/Noticias/Noti-
padrões de mercado e outros pedidos. Tramitam centenas de cia.aspx?Id=25147&f=3

67
movidas por particulares (pessoas físicas) indi-
vidualmente (55%). Especialmente se opondo à
cobrança do IPTU progressivo (art. 182, p. 4º, CF)
pelas Municipalidades ou ações de usucapião
ou reintegração de posse de imóveis urbanos.
Em seguida foi o Ministério Público do Esta-
do de São Paulo o autor mais recorrente (apro-
ximadamente 17%), referente às ações coletivas
de tutela do meio ambiente especialmente, e
da ordem urbanística excepcionalmente.

lacionado ao parcelamento da cidade (lote-


amentos urbanos irregulares e clandestinos).
Observa-se que por existirem pólos ati- Já o Estado de São Paulo é réu em apenas
vos e passivos com mais de um autor e réu, 1,8% dos casos estudados. A competência
ou seja, casos de litisconsorte facultativo e comum do Estado de São Paulo de “promo-
necessário, a soma dos resultados identifica- ver programas de construção de moradias e
dos é maior que 193 (número de acórdãos a melhoria das condições habitacionais e de
estudado). saneamento básico” (artigo 23 IX da Consti-
tuição) praticamente não é considerada na
Somado os acórdãos cuja autoria da ação definição do pólo passivo das ações relacio-
judicial é de pessoas físicas ou jurídicas pri- nadas ao Direito Urbanístico que envolvem
vadas, verifica-se que cerca de 70% das lides reintegração de posse ou remoção e reloca-
sobre Direito Urbanístico estudadas foi pro- ção de famílias.
vocada por particulares. Correspondendo a
menos de 30% os casos suscitados por ór- Identifica-se a exigência do cumpri-
gãos públicos, incluindo o Ministério Públi- mento desta competência comum em
co do Estado de São Paulo (33 acórdãos), os apenas um acórdão (recurso nº 0252542-
Municípios (20 acórdãos) e em apenas um 65.2010.8.26.0000) em que a Defensoria Pú-
caso a Defensoria Pública Estadual. blica do Estado é autora da ação e o Municí-
pio e Estado de São Paulo compõem o pólo
O Município é réu na maioria (aproxima- passivo conjuntamente. Caso em que se tra-
damente 54%) dos processos judiciais que ta da consolidação de assentamento urbana
originaram os acórdãos estudados. O que e da relocação parcial de famílias, exigindo
é compreensível considerando seu papel de ambos os entes federativos obrigação de
central no desenvolvimento da política de fazer relacionada à provisão de habitacional.
desenvolvimento urbano e ordenação do
uso do solo urbano (art. 182, § 1º c/c art. 30, A outras lides em que o Estado é réu se
VII da CF/88), especialmente a competência referem a ações que envolvem bens públi-
sobre o licenciamento urbanístico. Seja rela- cos estaduais, casos de solicitação do reco-
cionada ao direito de construir (demolição / nhecimento do direito à concessão de uso
interdição de edificação residencial) seja re- para fins de moradia de imóveis urbanos es-

68
taduais ou de indenização por remoção de criado apenas em 20065 no Estado Paulista
áreas pública de famílias que pleiteiam este e que os acórdãos estudados são de 2009
direito. E apena uma ação relacionada à área a 2014. Ao mesmo tempo é expressiva nu-
tombada pelo CONDEPHAAT - Conselho de mericamente as ações coletivas interpostas
Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueoló- pelo MPE/SP.
gico, Artístico e Turístico do Estado de São
Paulo. Já no tocante ao mérito das ações e
bens jurídicos tutelados pela DPE/SP e MPE/
Particulares pessoas físicas individual ou SP nos acórdãos estudados, nota-se que a
coletivamente são réus em cerca de 27% tutela do direito fundamental à moradia en-
dos casos, sendo a maior parte litígios entre quanto componente da ordem urbanística
particulares pela posse de imóveis urbanos marca a atuação coletiva da Defensoria. Já a
(entre proprietários e moradores). Em outros tutela ao patrimônio ambiental a do Ministé-
casos como os loteamentos urbanos irregu- rio Público, chamando atenção que muitas
lares ou clandestinos pessoas físicas e jurí- vezes a solicitação de reparação dos danos
dicas privadas são acionadas pelo MPE/SP ambientais e desfazimento dos loteamentos
isoladamente ou pela Municipalidade para a irregulares e clandestinos feitas pelo MPE/SP,
regularização do parcelamento do solo ur- não é acompanhada de exigências de solu-
bano. ções pelo Poder Público para a garantia do
direito à moradia dos moradores das áreas
Quanto às ações civil públicas, 94% foi em litígios.
impetrada pelo Ministério Público do Es-
tado de São Paulo (MPE/SP) e apenas uma, Em relação à caracterização das partes
ou 3%, pela Defensoria Pública do Estado de dos acórdãos estudados, buscou-se identi-
São Paulo (recurso de apelação nº 0252542- ficar os casos e que a(s) parte(s) contavam
65.2010.8.26.0000), além de outra pela Mu- com a assistência jurídica gratuita.
nicipalidade de São Paulo, referente à soli-
citação de desfazimento de loteamento Vale observar que esta situação foi verifi-
irregular (recurso de apelação nº 9121029- cada pela menção expressa no acórdão da
64.2000.8.26.0000). 2ª instância de referência à assistência gra-
tuita na descrição das partes, à presença da
Defensoria Pública como parte ou ainda à
menção no inteiro teor do acórdão a esta
condição. Não sendo possível identificar os
casos em que houve assistência jurídica e
não houve qualquer menção no texto do
acordão. A ferramenta de consulta de juris-
prudência do TJSP tampouco permite que
seja feito este filtro.

Gráfico 8 – Partes beneficiárias de assistência jurídica gratuita


Verifica-se que a atuação da Defensoria
Pública do Estado de São Paulo (DPE/SP) é IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal @-SAJ/TJSP)
numericamente inexpressiva nos acórdãos 5 Lei Complementar Estadual nº 988 de 09 de janeiro de
estudados. Isto considerando que órgão foi 2006.

69
Em 43 acórdãos (22,3%) há parte assistida neficiária da justiça gratuita.
pela assistência jurídica gratuita compondo a
lide sobre o Direito Urbanístico. Nos casos de reintegração de posse, na
maioria dos casos há assistência jurídica gra-
Em quatro destas lides ambas as partes fo- tuita (55%), sendo que em mais de 80% dos
ram beneficiárias da assistência jurídica gra- casos o benefício da justiça gratuita é do réu
tuita, sendo que dois casos foram de ações da ação.
possessórias com pedido reverso de usu-
capião e um de usucapião. Demonstrando
também a existência de litígios sobre a posse
entre famílias de baixa renda, proprietárias e
posseiras.
Na maioria dos casos, cerca de 40% (76
acórdãos), não consta esta informação no
acórdão analisado e em aproximadamente
38% (74 acórdãos) não se aplica a justiça gra-
tuita considerando a natureza das partes (ex.
MPE, Municipalidade, etc.).

Gráfico 9 - Assistência gratuita por tipo de ação judicial


IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Por-
tal @-SAJ/TJSP)

A maior parte (29 acórdãos ou 67,4%) dos


43 acórdãos em que há parte beneficiária da
assistência jurídica gratuita refere-se a litígios
sobre a posse imóveis urbanos. Sendo que
34,8% correspondem a pleitos de usucapião
e 32,5% a reintegrações de posse e outras
possessórias.
Percebe-se que o principal pleito referente
ao Direito Urbanístico da população de me-
nor renda presente no TJSP é a regularização
fundiária de interesse social por intermédio
da usucapião urbana. Prova disto é que 71,4%
dos casos de usucapião envolvem parte be-

70
co tratar de normas de ordem pública, re-
]
3. Assuntos do Direito
lacionadas à tutela de ordem urbanística e
meio ambiente urbano, as demandas indivi-
duais seja classificadas como Direito Civil ou
Urbanístico em juízo no TJSP Tributário tiveram maior ocorrência que as
nominadas como de Direito Administrativo/
Direito Público – que em diversos casos en-
Agora passaremos a analisar a temáti- volvem demandas coletivas.
ca dos 193 acórdãos estudados, definidos
Passemos a observar os principais assun-
segundo a categorização por assunto1 fei-
tos dos acórdãos classificados pelo TJSP por
ta pelo Tribunal Paulista. Classificação que
ramo do Direito, a fim de entender como os
tem como referência a tabela do Conselho
pleitos relacionados ao Direito Urbanístico
Nacional de Justiça - CNJ (http://www.cnj.
estão sendo classificados na organização ju-
jus.br/sgt/consulta_publica_assuntos.php),
diciária paulista.
conforme apresentado detalhadamente na
apresentação da metodologia e instrumen- Gráfico 11 - Assuntos TJSP de Direito Administrativo/Di-

tal de pesquisa no segundo capítulo.

reito Público dos acórdãos estudados


Gráfico 10 – Assuntos TJSP dos acórdãos estudados por
ramo do Direito IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal

IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal @-SAJ/TJSP)

@-SAJ/TJSP)
Os assuntos de Direito Urbanístico iden-
Na organização de assuntos do CNJ utili- tificados como matéria de Direito Público
zada pelo TJSP o Direito Urbanístico e o Di- pelo Tribunal são na maior das vezes clas-
reito Ambiental não constam como ramos sificados por assuntos genéricos que não
do Direito. As matérias relacionadas a estas revelam o pedido principal da lide, isto é, o
disciplinas jurídicas estão dispersas em ou- verdadeiro mérito processual. Assim, cerca
tras categorias, especialmente Direito Admi- de 46% dos 74 acórdãos enquadrados neste
nistrativo/ Direito Público e Direito Privado. ramo foram caracterizados com assuntos de
“Ato administrativo” e “Direito Administrativo/
Dos acórdãos analisados a maioria foi Direito Público.
classificada pelo Tribunal como matéria de
“Direito Administrativo/ Direito Público” (38% Cerca de 15% acórdãos foram classifica-
ou 74 acórdãos), seguido pelo “Direito Tribu- dos com o assunto “Meio Ambiente” e 5,4%
tário” (cerca de 35% ou 67 acórdãos) e “Direi- como “Unidades de Conservação”. Entre-
to Civil” (cerca de 26% ou 50). tanto, que estas classificações muitas vezes
estão equivocadas, como o caso do recur-
Nota-se que apesar do Direito Urbanísti- so nº 0180585-09.2007.8.26.0000 em que
1 Campo específico da consulta completa de jurisprudência
acórdãos que tratam de ocupação em área
do Portal de Serviços @-SAJ - https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/re- de risco foi classificado com o assunto “Uni-
sultadoCompleta.do

71
dade de Conservação”. Em dois casos discutiu-se a cobran-
ça da outorga onerosa, que conforme
Apenas um acórdão foi classificado com decido pelo TJSP nos recursos de ape-
o assunto “Parcelamento do solo urbano” lação nº 0166692-82.2006.8.26.0000, nº
pelo Tribunal, apesar deste ser um assunto 9085862-73.2006.8.26.0000 e nº 9134489-
bastante recorrente nas ações civis públicas 11.2006.8.26.0000 não tem natureza jurídica
e ações sobre regularização de loteamentos de tributo. Nestes recursos os assuntos atri-
urbanos irregulares ou clandestinos de que buídos foram respectivamente “repetição de
tratam os acórdãos estudados. indébito” e “taxas municipais”.
Observa-se, assim, que há assuntos de
Direito Urbanístico já existentes na lista de
assuntos do TJSP que são pouco utilizados
ou compreendidos pelos servidores da Se-
cretaria de 2ª Instância Judiciária que cum-
prem o papel de classificar ou reclassificar os
recursos os recursos originários e oriundos
da 1ª instância que chegam ao Tribunal.

Gráfico 13 - Assuntos TJSP de Direito Civil dos acórdãos


estudados

IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal


@-SAJ/TJSP)

Gráfico 12 - Assuntos TJSP de Direito Tributário dos acór- Os acórdãos identificados pelo Tribunal
dãos estudados
com assuntos de Direito Civil somam 50 de
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal 193, sendo possível perceber a presença pre-
@-SAJ/TJSP) dominante de assuntos relacionados a con-
flitos pela posse de imóvel urbano (36%) e de
Os acórdãos identificados pelo Tribunal
diferentes modalidades de usucapião (34%).
com assuntos de Direito Tributário somam
67 de 193, incluindo acórdão que tratam No primeiro caso somamos os assun-
basicamente de litígio sobre a aplicação do tos de “esbulho/turbação/ameaça”, “posse,
IPTU progressivo face ao descumprimento “imissão”, “reivindicação”. No segundo, 22%
da função social da propriedade (art. 182, p. de acórdãos que referem-se às modalida-
4º, CF), bem como caso de IPTU fiscal (art. des de usucapião do Código Civil (ordinário
156, CF). e extraordinário), 10% à usucapião especial
constitucional (art. 183 Constituição) e 2% à
Verifica-se que diferentes assuntos da
usucapião coletiva.
tabela do CNJ utilizada pelo @-SAJ/TJSP
foram utilizados para classificar o assunto De forma geral, falta um ramo específico
IPTU, demonstrando a pouca precisão da de Direito Urbanístico ou uma subcategoria
categorização por assunto que é feita pelo no ramo de Direito Público/Administrativo
Tribunal Paulista. Assim, os 57 casos de Pre- que concentre os assuntos da disciplina ur-
sidente Prudente, embora tratem do mesmo banística, como: ordenação da cidade/plano
assunto (a aplicação do IPTU previsto no art. diretor, gestão democrática de cidade, regu-
182, p. 4º, CF) foram classificados de diferen- larização fundiária urbana (incluindo usu-
tes formas: IPTU, crédito tributário, anulação capião e concessão de uso), conflito cole-
débito fiscal, repetição indébito, lançamento tivo urbano, parcelamento urbano, moradia,
etc. PEUC – parcelamento, edificação, utilização

72
compulsória, desapropriação sanção (art.
182, p. 4º, CF), IPTU (art. 182, p. 4º, CF), ou-
torga onerosa de construir.
Muitas vezes os erros na classificação dos
assuntos dos recursos que chegam na 2ª
instância do TJSP provocam distribuição dos
processos judiciais para Câmaras que não
tem a competência para tratar do assunto,
aumentando a morosidade e pouca eficiên-
cia processual da organização judiciária.
É o caso, por exemplo, do encaminha-
mento de matérias urbanísticas como ou-
torga onerosa para as Câmaras Especializa-
das de Tributos da Seção de Direito Público.
Ou ainda, a categorização de processos
que tratam de litígio sobre a posse de imó-
vel urbano em loteamentos urbanos como
se fossem matérias de direito comercial ou
consumidor classificadas como “compra e
venda” ou “promessa de compra e venda”,
caso de aquisição de lotes urbanos para fins
de moradia por coletividades de um memso
loteamento em que os pedidos são combi- Para que seja possível compreender o
nados com solicitação de reintegração de mérito dos julgamentos dos processos judi-
posse e desocupação dos imóveis, e na ver- ciais classificados como “Ato Administrativo”,
dade configuram conflitos coletivos urbanos “Meio Ambiente”, “Direito Administrativo/Di-
mas não é identificada a conexão entre os reito Público” pelo Tribunal, faz-se necessário
processos e reconhecido tratar-se de confli- identificar os pedidos principais dos recursos
tos coletivo urbano. de apelação classificados com tais assuntos.
Para tanto, fizemos o cruzamento destas
informações coletadas nos questionários de
pesquisa, quais sejam: o “Assunto SAJ/TJSP”
(questão 8) e “Pedido principal / Assunto”
(questão 12).
3.1.Assuntos mais recorrentes no conjunto
dos acórdãos estudados

Identificando os assuntos mais recorren-


tes, segundo a classificação do TJSP, inde-
pendentemente do ramo do Direito em que
se encontram.
O “IPTU” é o tema de maior incidência,
seguido por “Ato Administrativo”, “Meio Am- Gráfico 16 - Assunto TJSP ‘ato administrativo’ X

biente”, “Direito administrativo/direito pú- Assuntos dos acórdãos classificados pela pesquisa
blico” e “Outras modalidades de usucapião” IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
aglutinadas nesta opção. @-SAJ/TJSP)

73
Dos 23 recursos judiciais ao TJSP classi- Merece nossa atenção, investigar o trata-
ficados com o assunto “Ato Administrativo”, mento das matérias de meio ambiente pelo
87% na verdade dizem respeito à matéria so- Tribunal, uma vez que a disciplina urbanísti-
bre Uso e Ocupação do Solo Urbano, mais ca e ambiental tem relação direta e interde-
especificamente sobre Parcelamento Urba- pendente. Ambas compondo as normas de
no e Direito de Construir. Havendo ainda, re- ordem pública que buscam zelar por cida-
cursos sobre Conflito fundiário urbano, Meio des sustentáveis e pelo meio ambiente equi-
ambiente urbano, Ordenação da Cidade/ librado. Vejamos.
Plano Diretor referente a gestão ordenação
da cidade. Quase 90% destes recursos judiciais são
Ações Civis Públicas impetradas pelo MPE/
SP julgadas pelas Câmaras Reservadas de
Meio Ambiente do TJSP. Entretanto, como
veremos adiante ao tratar dos órgãos jul-
gadores dos acórdãos estudados, na maio-
ria das vezes estas Câmaras Especializadas
Ambientais suscitaram conflito negativo de
competência por entenderem que não se-
riam matéria relacionadas ao meio ambien-
Gráfico 17 - Assunto TJSP ‘Direito Administrativo/Público’
X Assuntos dos acórdãos classificados pela pesquisa te natural.
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal Percebe-se então que, tais recursos po-
@-SAJ/TJSP) dem ser melhor classificados com assuntos
já existentes na lista TJSP/CNJ como Parcela-
Nos recursos nominados com o assun-
mento Urbano, Conflito Coletivo Urbano. No
to “Direito Administrativo/Direito Público”
entanto, em sentido amplo o meio ambiente
a maior incidência também é de pedidos
inclui tanto o habitat natural como o artificial
principais relacionados à matéria de Uso e
ou urbano, segundo uma visão integrada
Ocupação do Solo Urbano (72,7%). Haven-
desta matéria de ordem pública. Desta for-
do da mesma forma, recursos sobre Conflito
ma, a negativa de competência das Câmaras
fundiário urbano e Meio ambiente urbano.
Reservadas de Meio Ambiente para matérias
relacionadas ao meio ambiente urbano de-
monstra uma abordagem desintegradora de
meio ambiente nas cidades paulistas.
Observando, a forma de classificação dos
assuntos mais recorrente segundo o SAJ/
TJSP no conjunto de acórdãos estudados,
verifica-se que o Direito Urbanístico ainda
está “oculto” nas lides que chegam ao Tri-
bunal. Carecendo ser visto, reconhecido e
Gráfico 18 - Assunto TJSP ‘Meio Ambiente’ X Assuntos tratado como tal pela organização judiciá-
dos acórdãos classificados pela pesquisa
ria paulista. Apesar de constar no pedido de
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal recursos judiciais impetrados na Corte Pau-
@-SAJ/TJSP) lista, ainda são pouco utilizados oficialmen-
Dos 11 recursos judiciais ao TJSP classifi- te para a classificação de assuntos realizada
cados com o assunto “Meio Ambiente”, 81,8% pelo Tribunal.
dizem respeito à matéria sobre Uso e Ocu-
pação do Solo Urbano, aparecendo também
recursos sobre Conflito fundiário urbano e
Meio ambiente urbano.

74
3.2 Assuntos menos recorrentes no TJSP em julho de 20152 havia em curso no
conjunto dos acórdãos estudados Estado mais de 160 mil ações que versam
sobre conflitos fundiários, das quais 35 mil
correm na capital, sem contar os incidentes
Além de visualizar os assuntos de maior e recursos remetidos à segunda instância.
incidência, destacar os assuntos da tabela do Tais ausências são, portanto, revelado-
TJSP/CNJ menos recorrentes também é im- ras de uma organização judiciária que ain-
portante para o estudo do Direito Urbanísti- da pouco reconhece as matérias urbanísti-
co no Tribunal de São Paulo. cas que habitam e se multiplicam em suas
instâncias. Importando-nos investigar as
consequências disto para a estruturação da
organização judiciária paulista e para a pro-
dução jurisprudencial ora em análise.
Apenas em 03 de agosto de 2015, foi re-
gistrado no SAJ/TJSP o primeiro acórdão
categorizado pelo assunto “conflito fundiá-
rio coletivo urbano”, referente ao recurso de
apelação nº 1009527-43.2013.8.26.0053, que
trata de empreendimento imobiliário que
viola as restrições convencionais de lotea-
mento no Bairro da Vila Madalena, São Pau-
lo, reservado a moradias unifamiliares.

Dos 193 acórdãos estudados, que citam


expressões relevantes para a disciplina urba-
nística em sua ementa, não houve nenhuma
ocorrência de recursos classificados com os
assuntos “ordem urbanística”, “moradia”, “con-
flito fundiário coletivo urbano”.
Estes assuntos são relevantes para o Di-
reito Urbanístico, assim como sua presença
na lista do TJ-SP/CNJ. Entretanto, explicita-
-se que a organização judiciária do TJSP não
está reconhecendo tais matérias jurídicas e
classificando os recursos julgados pela 2ª
instância do TJSP de forma adequada. Seja
ao tempo da distribuição, seja ao tempo do
julgamento.
Chama atenção que durante o período
em que foram proferidos os acórdãos estu-
dados (2009/2014), nenhum acórdão esteja
classificado com o assunto ”Conflito fundi-
ário coletivo urbano” ou “moradia” ao mes-
mo tempo em que diversas decisões de
reintegração de posse coletiva estão sendo 2 Artigo “O Judiciário e os conflitos fundiários” de José Re-
executadas na Região Metropolitana de São nato Nalini, presidente do Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo e Wilson Levy, diretor da presidência, publicado no
Paulo. Segundo a própria presidência do Jornal a Folha de São Paulo, Seção Tendências e Debates, em
29/07/2015.

75
]
4. Pedidos principais das
lides

No questionário de pesquisa aplicado aos


193 acórdãos estudados, buscou-se identifi-
car o pedido principal das lides sobre Direito
Urbanístico como referência para classifica-
ção do assunto pela pesquisa. Possibilitando
também checar e investigar a classificação
de assuntos feita pelo TJSP dos acórdãos.

Gráfico 14 – Pedido principal/Assuntos dos acórdãos es-


tudados identificados na pesquisa IBDU

IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal


@-SAJ/TJSP)
r 29 acórdãos tratam do direito de construir
Verificamos que dos assuntos relaciona- (interdição e/ou demolição de edificações
dos ao Direito Urbanístico relacionados às residenciais e de outros usos);
nossas cidades, a maior incidência nos acór-
dãos estudados é de litígios sobre o uso e r 21 acórdãos tratam do Parcelamento do
ocupação do solo (74 acórdãos). Solo Urbano (Lei 6.766/1979). A regularização
de loteamentos irregulares e clandestinos e
Em seguida destacam-se os litígios de- implantação de infraestrutura é a mais re-
correntes da aplicação de instrumentos de corrente, além de casos em que se pleiteia
ordenação da cidade previstos no art. 182 a reparação de danos ambientais, outros de
da Constituição (66 acórdãos). Mais espe- litígio decorrente da implantação de lotea-
cificamente o IPTU progressivo em imóveis mentos urbanos em área rural;
vazios ou subutilizados que não cumprem
a função social da propriedade urbana (art. r 10 acórdãos tratam de interdição de ati-
182, p. 4ª, II, CF/88). vidades como o caso de estação rádio-base
de comunicação;
Dentre os 74 acórdãos que julgaram as-
suntos que tratam da utilização do solo ur- r 14 acórdãos julgaram outras lides relacio-
bano: nadas ao uso e ocupação do solo.

76
Dentre os 66 acórdãos que julgaram as- são residuais, apenas 3, destes apenas
suntos classificados pela pesquisa como re- um na modalidade coletiva.
lacionados à Ordenação da cidade e ao Pla-
no diretor. Dentre estes acórdãos: Dos 18 acórdãos que julgaram assuntos
classificados pela pesquisa como relaciona-
r 63 acórdãos referem-se ao afastamen- dos a Possessórias / Reintegração de posse
to das cobranças do IPTU progressivo so- de imóvel urbano sendo este combinados
bre imóveis que não cumprem a função com pedido reverso/incidental de usuca-
social, sem a exigência prévia do parcela- pião (11 acórdãos), com rescisão contratual
mento, edificação e utilização compulsó- (3 acórdãos) e com indenização por danos
ria (PEUC), definição de áreas de incidên- morais e materiais (2 acórdãos).
cia no Plano Diretor Municipal e previsão
em lei específica. Nos casos de Coroados Em 06 acórdãos decidiu-se obre a obri-
(Comarca de Birigui), Mirassol, Presiden- gação de fazer da Municipalidade relaciona-
te Prudente, Paranapanema (Comarca da à remoção de ocupação desordenada de
de Avaré) e São José do Rio Preto as co- moradia e relocação (4) ou sua consolidação
branças foram consideradas irregulares parcial e relocação (1), caracterizados como
devido a aplicação do IPTU progressivo conflitos fundiários coletivos urbanos.
como medida apenas arrecadatória, sem Em 05 discutiu-se em juízo sobre o meio
adotar as providências necessárias para a ambiente urbano, em sentido estrito. A po-
consecução de seus objetivos parafiscais luição urbana foi matéria de 4 acórdãos que
relacionados à ordenação da cidade, na julgaram controvérsias sobre a poluição vi-
ordem sucessiva definida no art. 182, p. 4º sual de anúncios de publicidade (3, com
da Constituição; destaque para Lei Cidade Limpa do Municí-
r 02 acórdãos julgou-se matéria relativa pio de São Paulo) ou sonora (1 caso referen-
à gestão democrática da cidade, relacio- te ao “Minhocão” na cidade de São Paulo),
nada a ações civis públicas impetradas e ainda um caso sobre patrimônio histórico.
pelo Ministério Público Estadual de São Para o estudo dos conflitos fundiários
Paulo face as Municipalidades de Assis urbanos foram considerados tanto os acór-
(recurso nº 0013558-78.2012.8.26.0047) dãos que julgaram pedidos de reintegração
e Santo André (recurso nº 9256581- de posse, de obrigação de fazer remoções/
20.2008.8.26.0000), sendo que o primei- relocações de famílias pelo Poder Público,
ro acórdãos foi caracterizado como “ato como pedidos de regularização fundiária
administrativo” e o segundo como “orde- discutidos em juízo.
nação da cidade / plano diretor”. No caso
de Santo André faz-se referência às previ- Mesmo consideradas individualmente, as
sões do Plano Diretor Municipal. disputas sobre a posse de imóveis urbanos
foram caracterizadas como conflito, vez que
Somam 27 acórdãos os que julgaram em caso de não reconhecimento do direito
assuntos classificados pela pesquisa como subjetivo à moradia o desfecho é o despejo
relacionados à Regularização fundiária dos ou desocupação da área pelas famílias que
moradores do imóvel urbano. Destes acór- pleiteiam a regularização fundiária. Sendo
dãos: que muitas vezes casos conexos podem se
r a maior parte dos acórdãos referem-se referir a litígios judicializados de forma indi-
a pedidos de usucapião (20), predomi- vidual, mas presentes em um mesmo assen-
nantemente a especial urbana constitu- tamento ou loteamento urbano.
cional (17), coletiva (2); Assim, adotou-se o critério de acórdãos
r os acórdãos sobre o direito à conces- que julgaram recurso de processos judi-
são de uso especial para fins de moradia ciais que decidiram conflitos sobre a posse
de imóveis urbanos, para este recorte so-

77
bre conflito fundiário urbano. A partir desta à cidade sustentável não tiveram ocorrência
abordagem, individual e coletiva, 48 acór- dentre os 193 acórdãos estudados, e outro
dãos enquadram-se neste critério. como a gestão democrática da cidade ape-
nas duas incidências.
Considerando as palavras-chave utiliza-
das para a pesquisa jurisprudencial, situadas
nas ementas dos acórdãos, podemos averi-
guar também os assuntos do pedido princi-
pal (questão 12) identificados pela pesquisa
pela aplicação dos questionários. É possível
assim identificar os assuntos de maior ocor-
rência dos acórdãos selecionados por pala-
vra-chave identificada na ementa do acór-
Gráfico 15 – Acórdãos estudados sobre conflitos fundiá- dão.
rios urbanos

IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal r Palavra-chave “182 CF” (Tabela 12 - IBDU)
Pedido Principal Nº %
@-SAJ/TJSP)
Meio ambiente urbano (poluição visual) 2 28,58
A maior parte (48%) diz respeito a acór- Meio ambiente urbano (Patrimonio histórico e cultural) 2 28,58

dãos que julgaram pedido de usucapião (20) Uso e ocupação do solo / direito de construir -
1 14,28
interdição de atividade
ou concessão de uso para fins de moradia IPTU (art. 182,p. 4º CF) 1 14,28
(3), sendo que no caso dos bens públicos es- Utilização de Bem Público 1 14,28
taduais foi discutida a constitucionalidade da TOTAL 7 100
aplicação do artigo 183, CF/88 c/c com a MP
2.220/2001. r Palavra-chave “Politica Urbana” (Tabela 13 - IBDU)
Pedido Principal Nº %
Em seguida, 18 acórdãos (37,5%) julgaram IPTU (art. 182,p. 4º CF) 5 50
pedidos de reintegração de posse, incluindo Parcelamento do solo urbano (loteamento irregular) 2 20
aqueles com pedidos reversos de usucapião. Uso e ocupação do solo / direito de construir /
1 10
Por fim, 06 acórdãos (12,5%) julgaram pedi- interdição de edificação residencial
dos de remoção/relocação de famílias pelo Gestão democrática da cidade 1 10
Meio ambiente urbano (poluição sonora) 1 10
Poder Público.
TOTAL 10 100
Nos 48 acórdãos que tratam de conflitos
fundiários urbanos identificados pela pes- r Palavra-chave “Direito Urbanístico” (Tabela 14 – IBDU)
quisa dentre os 193 estudados, o litígio se dá Pedido Principal Nº %
Uso e ocupação do solo / parcelamento urbano (loteamento
em 80% dos casos entre particulares pesso- irregular/clandestino) e direito de contruir (interdição de imóvel urbano)
59 80,8

as físicas, ou entre empresas e réus pessoas Conflito fundiário coletivo urbano / remoção de assentamento urbano 5
4
6,8
5,5
Outros
físicas. CUEM individual/coletiva 3 4,1
Gestão democrática da cidade 1 1,4
Em 62,5% dos casos há assistência jurí- Meio ambiente urbano (poluição visual)
TOTAL
1
73
1,4
100
dica gratuita a uma das partes e em 52% há
litisconsorte necessário em um dos pólos da r Palavra-chave “10.257/2001” (Tabela 15 - IBDU)
ação judicial, caracterizando assim uma co- Pedido Principal Nº %
letividade de famílias. É o caso de pessoas IPTU (art. 182, p. 4º CF) 58 56,40%
Usucapião Especial Constitucional/Outras
e famílias em litisconsorte ativo necessário modalidades de usucapião
21 20,30%
que pleiteiam a usucapião de imóvel urba- Reintegração de posse / com pedido reverso
21 20,30%
no ou de pessoas e famílias que são rés em usucapião e CUEM / Possessórias
ações de reintegração de posse. Conflito fundiário coletivo urbano / Remoção de
1 1,00%
assentamento urbano
Outro - Registro de Mandado Judicial de Usucapião 1 1,00%
Alguns assuntos de interesse da pesquisa Não é assunto do direito urbanístico 1 1,00%
como o plano diretor municipal e o direito TOTAL 103 100,00%

78
Nos imóveis urbano privados sobre os
]
5. Caracterização dos
quais recaem as decisões dos acórdãos es-
tudados, quase 60% (111 acórdãos) são de
propriedade de particulares pessoas físicas
litígios urbanos nacionais e uma menos parte (49 acórdãos)
de pessoas jurídicas nacionais - empresa e
sociedades comerciais.
5.1 Situação dos imóveis em litígio

Nesta etapa serão analisados os tipos de


litígios urbanos encontrados nos acórdãos
selecionados para estudo. No caso de lides
que recaem sobre imóveis urbanos será ca-
Gráfico 21 – Propriedade púbica por tipo de proprietário
racterizada a situação dominial do imóvel,
os tipos de uso e ocupação encontrados, a IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal

situação ambiental e urbanística. @-SAJ/TJSP)

No caso dos imóveis públicos, que so-


mam apenas 14 acórdãos, 9 tratam áreas
urbanas de propriedade dos Municípios,
sendo 5 da Administração Municipal Direta,
2 da Administração Municipal Indireta (ex.
COHAB) e 2 áreas de uso comum do povo
como ruas e praças transferidas para Muni-
cipalidade pelo registro do parcelamento do
solo urbano. Apenas 5 são áreas públicas do
Estado de São Paulo (ex. CDHU), sendo 3 da
Administração Estadual Indireta e 2 da Ad-
Gráfico 19 – Propriedade do imóvel em litígio nos acórdãos ministração Estadual Direta.
estudados
É justamente quanto à exigência de
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal cumprimento da função social dos imóveis
@-SAJ/TJSP) públicos estaduais paulistas que foi assen-
tada a constitucionalidade da aplicação do
Os acórdãos estudados tratam predominan- direito subjetivo à concessão de uso para
temente de lides sobre imóveis privados (170 fins de moradia. Situação em que o Ór-
acórdãos), sendo a menor parte sobre imóveis gão especial do TJSP (recurso nº 0041454-
públicos (14 acórdãos). Em 6 casos não foi pos- 43.2012.8.26.0000) em 2013 consolidou o
sível identificar a propriedade do imóvel. entendimento de que os imóveis públicos
estaduais e municipais também confor-
mam-se à exigência da função social e ao
ato vinculado da concessão de uso especial
para fins de moradia, quando cumpridas as
exigências da MP 2.220/2001. Norma que in-
tegra o Estatuto da Cidade e regulamenta o
art. 183 da Constituição Federal.
Gráfico 20 – Propriedade privada por tipo de proprietário Neste julgamento, o Desembargador Re-
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal lator Renato Nalini chamou atenção para
@-SAJ/TJSP) relevância da regularização fundiária de in-

79
teresse social também dos imóveis públicos
dos Estados e Municípios. Apontando que
também o patrimônio público é alvo da es-
peculação imobiliária que atenta contra o
interesse público e sua função social:
Por fim, não parece crível, num país
que ainda não regulamentou o direito 5.2 Tipos de uso e situação
de greve e o imposto sobre as gran- urbanística-ambiental
des fortunas, que Estados e Municípios
se disporiam a regulamentar, por si só,
a destinação dos imóveis públicos
para fins de regularização fundiária A função social da propriedade urbana
de interesse social. Pelo contrário: as depende da afetação e utilização efetiva dos
iniciativas dirigidas à tutela específica, imóveis urbanos. Cabendo avaliar se o uso
sobretudo pelos Estados, de questões da propriedade urbana está em conformida-
ambientais, revela o inverso: movido de com as exigências constitucionais, defi-
pelo imperativo econômico, não se nidas no Estatuto da Cidade e Plano Diretor
mede esforços para legislar contra o Municipal.
combalido patrimônio ambiental. Buscou-se caracterizar a situação fática
É preciso ser categórico nessa afirma- dos imóveis e áreas urbanas sobre o qual
ção, sob pena de cobrir fatos notórios aplicam-se as decisões do TJSP estudadas.
com o véu de discussões técnicas es- Vejamos.
téreis. Por mais paradoxal que pareça,
os
Estados e Municípios, em especial os
mais ricos – a contrariar o comando
constitucional aqui enunciado – se
beneficiam dos processos especula-
tivos imobiliários e com ele mantêm
promíscua relação. Declarar incons-
titucional a incidência da CUEM ape-
Gráfico 22 – Utilização dos imóveis em litígio nos acór-
nas e tão somente abre caminho para dãos estudados
a intensificação deste processo, que IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
cresce vertiginosamente no momento @-SAJ/TJSP)
em que o país se prepara para receber
Quanto à utilização dos imóveis urbanos
megaeventos esportivos como a Copa
de que tratam os 193 acórdãos de Direito Ur-
do Mundo e as Olimpíadas. [grifamos]
banístico estudados, a maior parte se refere
a imóveis que não cumprem a função social
por estarem “vazio/ não utilizado / subutiliza-
do” (65 acórdãos). São propriedades urbanas
sem qualquer utilização ou função social
para a cidade, muitas vezes abandonados
e de retenção especulativa que se tornam
áreas inclusive perigosas para os habitantes
da cidade.
Em seguida, a maior quantidade é de
decisões sobre imóveis urbanos utilizados

80
para fins de “moradia de interesse social”1 cas tratarem da reparação de danos ambien-
(52 acórdãos), caracterizada pela moradia tais, não é detalhado no acórdão qual seria o
da população de baixa renda em assenta- patrimônio ambiental afetado e o dano am-
mentos urbanos precários como ocupações biental efetivo causado.
urbanas, favelas, cortiços e loteamento clan-
destinos ou irregulares. Em menos de 5% dos acórdãos houve a
caracterização de patrimônio ambiental na
Outros usos encontrados foram “comér- área em litígio. Destes 9 acórdãos (4,6%), 3
cio” (21 acórdãos), “moradia de interesse es- situam-se em áreas de manancial, 5 em ou-
pecífico” (11 acórdãos) e “lazer” (4 acórdãos). tro tipo de APP- Área de Proteção Ambiental
A moradia de interesse específico é a de Permanente, e um em área de proteção am-
média ou alta renda, que também se dá em biental não identificada.
loteamentos clandestinos ou irregulares, ou
ainda, condomínios irregulares. Ocorreram também 6 acórdãos (3,1%)
que trataram de ocupações urbanas em área
A caracterização do perfil de renda dos risco e 5 acórdãos (2,6%) em áreas com pa-
moradores das áreas urbanas sob as quais trimônio histórico cultural.
recaem as decisões estudadas pôde ser afe- Gráfico 24 – Situação urbanística dos imóveis em litígio
rida pela existência da assistência gratuita à
parte, pela menção a assentamentos como
favelas, pela citação expressa à situação so-
cioeconômica dos sujeitos envolvidos.

nos acórdãos estudados

IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal


Gráfico 23 – Situação ambiental dos imóveis em litígio @-SAJ/TJSP)
nos acórdãos estudados
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal Quanto à situação urbanística, do uso e
@-SAJ/TJSP) ocupação do solo urbano, dos imóveis tra-
tados nas decisões de 2ª instância do TJSP
Quanto à situação ambiental dos imóveis
estudadas, a maioria, como já visto, são imó-
urbanos de que tratam os acórdãos do TJSP
veis vazios ou abandonados, sem qualquer
analisados, chama atenção que em 75% dos
utilização urbana (73 acórdãos ou quase
acórdãos não conste a caracterização da si-
40%) ou que não tratam sobre imóvel ur-
tuação ambiental da área urbana sob judice.
bano específico mas sim direito coletivo e
Muitas vezes, apesar das Ações Civis Públi-
difuso como a gestão democrática da cida-
1 Sobre a caracterização do interesse social
e específico, a 2ª parte da Lei 11.977/2009, que trata de ou casos de poluição no meio ambiente
da Regularização Fundiária de Assentamentos Urba- urbano.
nos, define o art. 47: (...) VII – regularização fundiária
de interesse social: regularização fundiária de assen- Em seguida, a maior incidência é de acór-
tamentos irregulares ocupados, predominantemente,
por população de baixa renda, nos casos: a) em que dãos que tratam de obras ou edificações ur-
a área esteja ocupada, de forma mansa e pacífica, há, banas irregulares (35 acórdãos), em imóveis
pelo menos, 5 (cinco) anos; (Redação dada pela Lei nº
12.424, de 2011) b) de imóveis situados em ZEIS; ou c) de uso residencial, comercial, lazer. Em se-
de áreas da União, dos Estados, do Distrito Federal e guida por casos de parcelamento/loteamen-
dos Municípios declaradas de interesse para implanta-
ção de projetos de regularização fundiária de interesse to irregular ou clandestino (28 acórdãos),
social; VIII – regularização fundiária de interesse espe- utilizados como moradia de interesse social
cífico: regularização fundiária quando não caracteriza- ou específico e por situações de ocupação
do o interesse social nos termos do inciso VII. (...).

81
ou invasões urbanas (22 acórdãos) de popu- 5.3 Outros litígios urbanos
lação de baixa renda.
Em poucos casos há caracterização des-
tes assentamentos urbanos como se apre- Em 2 casos não se tratava de lide que recai
sentam na realidade da cidade, como em sobre um imóvel ou área urbana específica,
7 acórdãos que fazem menção expressa à mas sim sobre gestão democrática da cidade
área em litígio como favelas e apenas em (recurso nº 0013558-78.2012.8.26.0047)
um a existência de cortiço. e poluição visual (recurso nº 0005591-
É notório que a situação fática dos imó- 88.2010.8.26.0099).
veis urbanos em litígio é muitas vezes des- No primeiro caso trata-se de Ação Civil
prezada pelos julgadores. Sem qualquer Pública impetrada pelo MPE/SP no Municí-
menção à situação ambiental, urbanística e pio de Assis que questiona as atribuições do
realidade efetiva da área sob a qual se profe- Conselho Municipal de Desenvolvimento
re o julgamento. Argumentações abstratas, Urbano (COMDURB), enquanto órgão muni-
que não relacionam os dispositivos legais cipal e colegiado de política urbana, no que
citados ao caso concreto julgado, aos fatos toca ao transporte público. Discute-se o pa-
são bastante recorrentes. pel do COMURB em relação às alterações de
sentido de direção das vias públicas e quais
Muitas vezes, a análise fundamentada nos
seriam as decisões de significativo impacto
elementos processuais e recursais é preteri-
na mobilidade urbana que exigiram a prévia
da, em nome de uma aparente celeridade
apreciação do COMDURB.
processual, que não se confunde com efici-
ência. É recorrente a utilização do artigo 252 No segundo caso, mediante também
do Regimento Interno do TJSP que dispõe uma Ação Civil Pública impetrada pelo MPE/
que ”Nos recursos em geral, o relator poderá SP no Município de Bragança Paulista face
limitar-se a ratificar os fundamentos da deci- à Municipalidade objetivando condená-la a
são recorrida, quando, suficientemente mo- regularizar a colocação de anúncios, carta-
tivada, houver de mantê-la”. Casos em que, zes e avisos publicitários em locais públicos,
são reiterados os argumentos da decisão de nos termos da Lei Municipal n.º 2.725/93. A
1ª instância e não é feira qualquer nova aná- ação foi julgada parcialmente procedente,
lise sobre o mérito recursal. definindo multa diária para o Município apli-
car a referida lei e fiscalizar a poluição visual
decorrente de publicidade em locais públi-
cos.
Vemos que, em ambos os casos, os acór-
dãos tratam da tutela de bens difusos rela-
cionados à gestão democrática das cidades
e preservação do meio ambiente urbano de
forma a evitar a poluição e a degradação
ambiental (art. 2º, II e VI, g, Lei 10.257/2001 –
Estatuto da Cidade), previstos nas diretrizes
gerais da Política Nacional de Desenvolvi-
mento Urbano.

82
77.2010.8.26.0000) e um pelo Conselho Su-
]
6. Órgãos julgadores e
perior da Magistratura, que tratou do registro
de mandado judicial de usucapião no muni-
cípio de Santa Isabel (recurso nº 0000424-
estrutura do TJSP - conflitos 82.2011.8.26.0543).
negativos de competência
– qual o lugar do Direito
Urbanístico no Poder
Judiciário Paulista?

Compreender a organização judiciária do


TJSP nesta pesquisa empírica sobre Direito
Urbanístico, significa também desvendar o
organograma e organização da instituição
do Tribunal, buscado responder perguntas Gráfico 26 – Câmaras que mais julgaram os acórdãos es-
como: Quais são as instâncias que mais jul- tudados
gam as matérias urbanísticas? Qual o espaço IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
que o Direito Urbanístico tem hoje na estru- @-SAJ/TJSP)
tura do Tribunal?
As Câmaras do TJSP que mais julgaram
os acórdãos selecionados para estudo foram
as Câmaras de Direito Público Especializadas
em Tributos, especificamente a 15ª e 18ª, so-
mando 51 acórdãos (26,4%).
Tais instâncias julgaram os acórdãos
que tratam do IPTU progressivo extra-
fiscal (art. 182, p. 4º CF) predominan-
temente. No caso dos recursos sobre
Gráfico 25 – Órgãos julgadores dos acórdãos estudados outorga onerosa do direito construir (ape-
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
lações nº 0166692-82.2006.8.26.0000, nº
@-SAJ/TJSP)
9085862-73.2006.8.26.0000 e nº 9134489-
11.2006.8.26.0000) alegou-se conflito ne-
Cerca de 75% dos 193 acórdãos de Direito gativo de competência pela outorga ser um
Urbanístico selecionados para estudo foram instrumento da política urbana e não um
julgados na Seção de Direito Público. Mais tributo, devendo ser julgada pelas Câmaras
de 60% (120 acórdãos) pelas Câmaras de não especializadas de Direito Público.
Direito Público (especializadas ou não) e 24
acórdãos pelas Câmaras Reservadas de Meio A rigor apenas os casos do IPTU fiscal (art.
Ambiente que também compõe a Seção de 156 CF) deveriam ser julgados nas Câmaras
Direito Público. de Direito Público Especializadas em Tribu-
tos, vez que o IPTU progressivo extrafiscal
Na Seção de Direito Privado foram julga- (art. 182, p. 4º CF) também é um instrumen-
dos 47 acórdãos, ou menos de 25%. to da política urbana, especificamente de in-
dução da adequada utilização dos imóveis
Nos órgãos superiores, apenas um acór- urbanos abandonados ou ociosos.
dão foi julgado pelo Órgão Especial do TJSP,
tratando da arguição de inconstitucionalida- Em seguida as Câmaras Reservadas de
de da MP 2.220/2001 (recurso nº 0274211- Meio Ambiente foi a que mais recebeu os

83
acórdãos estudados (24 acórdãos). Entre- do a decisão de 2ª instância sobre as ações
tanto, na maioria dos casos alegou conflito de usucapião e reintegração de posse.
negativo de competência, como veremos a
seguir. Como podemos verificar abaixo, as maté-
rias de Direito Urbanístico não possuem Câ-
Na sequência identifica-se a 4ª e 7ª Câ- maras Especializadas para julgamento na 2ª
maras de Direito Público Não Especializadas instância do TJSP. Concentrando-se conse-
(somando 20 acórdãos). cutivamente nas Câmaras de Direito Público
Especializadas e Câmaras de Direito Público
Já na Seção de Direito Privado, a 8ª e 2ª Não Especializadas, Subseção I da Seção de
Câmara que compõe a I Subseção foram as Direito Privado e Câmaras Reservadas de
que mais julgaram os acórdãos, concentran- Meio Ambiente.
Incidência dos acórdãos estudados no Organograma TJSP

IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014,


Fonte: Portal @-SAJ/TJSP)

84
Além de não possuir instâncias especia- Desta forma, a recusa de competência
lizadas em Direito Urbanístico, verificou-se se dá de matérias típicas de meio ambiente
que a matéria perdeu espaço na estrutura urbano. Valendo citar trecho de decisão do
do TJSP ao longo do período da pesqui- Desembargador Renato Nalini que trata da
sa, considerando as reiteradas negativas de indissociável relação entre meio ambiente
competência da Câmara Reservada de Meio urbano e meio ambiente saudável:
Ambiente em relação aos acórdãos estuda-
dos, vejamos. Indaga-se, assim: o que é o direito à cida-
de? É o direito difuso e coletivo de toda
uma comunidade de usufruir do espaço
da cidade. Espaço que pode ser caracte-
rizado como verdadeiro meio ambiente
urbano, a fazer incidir, em sua prote-
ção, toda a principiologia constitucio-
nal aplicável ao direito fundamental ao
meio ambiente saudável. (...)”. (recurso n°
0041454-43.2012.8.26.0000, Renato Nali-
Gráfico 27 – Acórdãos de Direito Urbanístico distribuídos
às Câmaras Reservadas de Meio Ambiente ni) [grifamos]
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
@-SAJ/TJSP)
No dia 12 de fevereiro de 2015, conside-
Assim, dos 24 acórdãos distribuídos para rando a reiteração de conflitos de compe-
as Câmaras Reservadas de Meio Ambiente, tência em ações de indenização por danos
em 16 ou 72% foi suscitado pelo Relator con- pessoais, que tenham matéria ambiental
flito negativo de competência, direcionando como pano de fundo, a jurisprudência do
o recurso para as Câmaras de Direito Público Colendo Órgão Especial a respeito da ques-
Não Especializadas. tão, que, de forma iterativa, tem reconhecido
a incompetência das Câmaras Reservadas
A negativa de competência da CMA re-
ao Meio Ambiente quando a pretensão não
cai tanto sobre recursos que tratam de lote-
está ligada diretamente ao meio ambiente
amentos irregulares (parcelamento do solo
natural, foi publicada a Resolução TJSP nº
urbano), como de conflitos coletivos urba-
681/2015 que modificou o inciso I e II, do
nos que envolvem remoções de famílias, ir-
artigo 4º, da Resolução nº 623/2013, restrin-
regularidades em edificações urbanas, como
gindo a competência das Câmaras Reser-
exigência da Municipalidade realizar obras
vadas ao Meio Ambiente ao meio ambiente
em áreas de risco de inundação e sobre po-
natural.
luição visual.

RESOLUÇÃO TJSP Nº 623/2013 (alterada pela Re-


solução 681/2015)

Dispõe sobre a composição do Tribunal de Justi-


ça, fixa a competência de suas Seções e dá outras
providências

(...)

Art. 4º. Além das Câmaras referidas, funcionarão na


Gráfico 28 – Assuntos dos acórdãos de Direito Urbanís- Seção de Direito Público a 1ª e a 2ª Câmaras Re-
tico não recebidos pelas Câmaras Reservadas de Meio Am- servadas ao Meio Ambiente, que formarão o Gru-
biente po Especial de Câmaras de Direito Ambiental, com
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal competência para:
@-SAJ/TJSP) I - Ações cautelares e principais que envolvam a
aplicação da legislação ambiental e interesses di-

85
fusos, coletivos e individuais homogêneos direta- As Câmaras Reservadas ao Meio Am-
mente ligados ao meio ambiente natural, inde-
pendentemente de a pretensão ser meramente
biente alegam conflito de competência re-
declaratória, constitutiva ou de condenação a pa- metendo o processo para as Câmaras de
gamento de quantia certa ou a cumprimento de Direito Público não especializadas (ex. re-
obrigação de fazer ou não fazer; (Redação dada cursos nº 9099469-90.2005.8.26.0000). Ora
pela Resolução nº 681/2015)
a matéria relativa à regularização de lotea-
II - Ações em que houver imposição de penalida- mento urbano é remetida das Câmaras de
des administrativas pelo Poder Público e aquelas
relativas a cumprimento de medidas tidas como
Direito Público Não Especializadas à Seção
necessárias à preservação ou correção dos incon- de Direito Privado (ex. recursos nº 0007052-
venientes e danos provocados pela degradação 18.2011.8.26.0566), ora são remetidas de Câ-
da qualidade ambiental (Lei nº 6.938/1981, art. 14, maras de Direito Provado para a Seção de
“caput” e §§ 1º a 3º). (Redação dada pela Resolução
nº 681/2015) Direito Público (ex. recursos nº 0002816-
75.2002.8.26.0586).
Parágrafo único - As Câmaras Reservadas ao Meio
Ambiente compõem-se de cinco membros titula- Ao mesmo tempo, o Conselho Superior
res, na forma dos §§ 1º e 2º do art. 34 do Regimento
Interno, atuando sem prejuízo de suas atribuições da Magistratura analisa proposta de criação
nas Câmaras e Seções de origem, com compen- de Varas e Câmaras Especializadas de Con-
sação na distribuição dos feitos nestas entrados. flitos Fundiários Coletivos Urbanos e Rurais.
[grifamos] Se aprovadas podem significar relevante
avanço para a efetivação do papel do Poder
Considerando que é pela aprovação e
Judiciário Paulista na tutela da ordem urba-
implementação do parcelamento urbano
nística e pacificação social nas cidades. Do
regular nas cidades que são criadas as áre-
contrário, o compasso da organização judi-
as verdes, praças e áreas de uso comum do
ciária paulista é de omissão quanto a me-
povo, a interdependência entre meio am-
lhor estruturação para a defesa dos direitos
biente natural e urbano em nosso habitat, a
coletivos e difusos relacionados ao direito á
restrição da competência das Câmaras Re-
cidade sustentável.
servadas ao Meio Ambiente de forma a ex-
cluir o meio ambiente urbano denota uma
visão fragmentada das cidades do TJSP. Tal
falta de integração e visão sistemática do Di-
reito, vai contra ao julgamento das matérias
relacionadas às cidades saudáveis e susten-
táveis segundo o princípio da maior espe-
cialização.
A tutela da ordem urbanística carece de
instâncias aptas e preparadas para julgar sua
complexidade, ainda sendo prejudicada por
disputas de competências que recusam es-
paço para o julgamento destas causas no
Tribunal Paulista.
Os recursos judiciais que tratam dos lote-
amentos irregulares e clandestinos urbanos
são simbólicos, ou melhor, demonstram a
situação dramática que os conflitos negati-
vos de competência do TJSP sobre recursos
que versam sobre Direito Urbanístico geram
para a eficiente tutela jurisdicional da ordem
urbanística.

86
]
7. Análise das decisões
judiciais
A 4ª parte do questionário aplicado aos tivos legais de maior incidência, consideran-
193 acórdãos de Direito Urbanístico do TJSP do os princípios constitucionais utilizados,
estudados contem questões que buscaram os dispositivos constitucionais e legislações
identificar o fundamento legal das decisões, federais/estaduais/municipais, dentre outros
a presença de argumentação jurídica rela- como súmulas dos Tribunais Superiores e
cionada à natureza do Direito Urbanístico e Regimento Interno do TJSP.
às diretrizes da Política Nacional de Desen-
Na fundamentação feita a partir do Di-
volvimento Urbano definidas no Estatuto da
reito Urbanístico, por exemplo, será possível
Cidade (art. 2º, lei 10.257/2001), as formas de
observar que é predominante a utilização de
solução dos conflitos, e os posicionamen-
leis municipais sobre normas e padrões ur-
tos dos Desembargadores Relatores sobre o
banísticos muitas vezes sem dialogar com o
papel da jurisdição e o papel do Estado na
Capítulo de Política Urbana da Constituição
solução das lides.
e o Estatuto da Cidade.

7.1 Marco legal utilizado na


fundamentação das decisões

Passemos a observar a análise das de-


cisões do TJSP sobre Direito Urbanístico
quanto à fundamentação legal utilizada.
Gráfico 30 – Uso de princípios na fundamentação dos
acórdãos estudados
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
@-SAJ/TJSP)

Quanto à utilização de princípios na fun-


damentação das decisões de 2ª instância do
TJSP, apenas em 64 acórdãos dos 193 foram
utilizados. Em 129 acórdãos ou quase 67%
não há menção aos princípios da Constitui-
ção ou gerais do Direito. Podemos observar
Gráfico 29 – Ramos do Direito utilizados na fundamenta- abaixo os princípios mais utilizados.
ção dos acórdãos estudados
Verificamos que embora o princípio da
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
função social da propriedade urbana seja o
@-SAJ/TJSP)
de maior incidência, os princípios relaciona-
O Direito Urbanístico e Constitucional fo- dos aos aspectos formais do processo judi-
ram os ramos do Direito mais utilizados na cial são predominantes se somados. Neste
fundamentação das decisões estudadas, se- sentido, destaca-se a incidência dos princí-
guido pelo Direito Processual Civil, Tributá- pios relacionados à celeridade processual,
rio, Civil, Ambiental e Administrativo. ao devido processo legal, à legalidade e se-
gurança jurídica, se destacam.
Em seguida é possível verificar os disposi-

87
Sobre o uso da Constituição Federal nas
decisões de 2ª instância do TJSP, mais de
70% ou 138 acórdãos dos 193 acórdãos estu-
dados fez menção a artigos da CF/88 como
argumentação da decisão. Em 55 acórdãos
ou cerca de 30% nenhum fundamento
constitucional foi utilizado pelos Relatores
Desembargadores para fundamentar o jul-
gado.

Analisando os artigos constitucionais


mais utilizados nos acórdãos do TJSP, veri-
fica-se que a maior incidência é dos artigos
Princípios como a dignidade da pessoa 182 e 183 da Constituição, que compõe o
humana relacionados tanto aos direitos e Capítulo de Política Urbana. Especificamente
garantia fundamentais constitucionais como o 182, p. 4º que trata das sanções aplicáveis
os fundamentos de nossa República tiveram aos imóveis urbanos que descumprem a
menor incidência, utilizados apenas em 4 função social especialmente o inciso II que
acórdãos ou 2% dos acórdãos. trata do IPTU progressivo. Também há sig-
nificativa incidência do art. 183 que trata do
Também o princípio da razoabilidade e direito à usucapião e concessão de uso es-
proporcionalidade teve baixa incidência - 5 pecial para fins de moradia. Lembrando que
acórdãos ou 2,5%. O que aponta que a pon- o art. 182 foi utilizado como critério de sele-
deração entre direitos em conflito, no caso ção de acórdãos pela pesquisa e o 183 não.
dos acórdãos do TJSP sobre Direito Urbanís-
tico, ainda é um recurso de solução de con- Os artigos que tratam da competência
flitos pouco utilizado. municipal na defesa do interesse local e or-
denamento urbano também apareceram
entre os mais recorrentes, vez que os Mu-
nicípios foram os principais réus das ações
que culminaram nos acórdãos estudados.
Também se destacou a fundamentação
nos direitos e garantias fundamentais pre-
vistas no art. 5º. Predominando as garantias
individuais relacionadas ao direito à proprie-
Gráfico 31 – Uso de artigos da Constituição Federal de
1988 na fundamentação dos acórdãos estudados dade, respeito ao direito adquirido e coisa
julgada, celeridade processual e ampla de-
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
fesa.
@-SAJ/TJSP)

88
A utilização da legislação infraconstitu-
cional também foi estudada, percebendo-se
que em cerca de 90% ou 173 acórdãos foram
utilizadas na fundamentação dos acórdãos.
Apenas em 10% ou 20 acórdãos não sendo
utilizadas.

Gráfico 32 – Uso de leis na fundamentação dos acórdãos


estudados

IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal


@-SAJ/TJSP)

Nota-se que a principal fundamentação


dos acórdãos não se dá pelos princípios ou
pelos dispositivos constitucionais, mas sim
pela legislação infraconstitucional, com des-
taque para a Lei 10.257/2001 do Estatuto da
Cidade (especialmente os dispositivos sobre
a usucapião), para Leis Municipais e para o
Código de Processo Civil. Sendo necessário
recordar que a primeira foi utilizada como
critério de seleção dos acórdãos estudados.
A Lei de Parcelamento Urbano (Lei
6.766/1979) também é recorrente na funda-
mentação dos acórdãos, considerando os
diversos casos de loteamentos irregulares e
clandestinos julgados (Tabela 18).

Sobre a legislação municipal utilizada


como fundamentação dos acórdãos, apro-
ximadamente 95% ou 91 acórdãos fazem Gráfico 33 – Uso de leis municipais e do Plano Diretor na
menção a leis municipais específicas que
Fundamentação dos acórdãos estudados
definem padrões urbanísticos ou regras so-
bre o uso e ocupação do solo urbano, sendo IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
que em apenas 5% ou 5 acórdãos utiliza-se @-SAJ/TJSP)
o Plano Diretor Municipal como fundamen-
to do acórdão.

89
Apesar do Plano Diretor Municipal ser o 7.2 Marco legal de Direito Urbanístico
marco legal que define o regime jurídico da utilizado na fundamentação das
propriedade urbana e as exigências para o decisões
cumprimento da função social da proprie-
dade urbana nas cidades brasileiras, sua aná-
lise e utilização pelos Desembargadores no Nos casos em que o Direito Urbanístico
TJSP como fundamento da decisão é inex- foi utilizado como fundamento dos acór-
pressiva, ou melhor, inexistente em quase dãos estudados, interessou-nos verificar
95% dos acórdãos. como o marco legal jurídico-urbanístico foi
tratado pelo TJSP.

Verificamos nesta parte, que a fundamen-


tação dos acórdãos de Direito Urbanístico
do TJSP se dá principalmente pela utilização
de leis infraconstitucionais, por dispositivos
da Constituição e princípios, consecutiva-
mente.
Verificou-se que a interpretação sistemá-
tica do sistema jurídico orientada pelos prin-
cípios ainda é minoritária, e sua utilização Gráfico 34 – Uso de princípios de Direito Urbanístico na
fundamentação dos acórdãos estudados
como meios para a ponderação e propor-
cionalidade também. Por vezes um princípio IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
constitucional é utilizado isoladamente, de @-SAJ/TJSP)
forma a justificar uma prevalência entre di-
Dos 193 acórdãos estudados do TJSP, 159
reitos que não é compatível com os demais
ou 82% não utilizaram princípios de Direito
princípios vigentes.
Urbanístico na fundamentação da decisão.
É o caso do acórdão da 19ª Câmara de Apenas em 34 acórdãos, ou cerca de 18%
Direito Privado do TJSP (Apelação com re- os princípios desta disciplina jurídica foram
visão nº: 0052406-15.2011.8.26.0001, de citados.
12/08/2015) que suscitou incidente de in-
constitucionalidade do art. 13 do Estatuto da
Cidade (Lei 10.257/2001) que trata da usuca-
pião especial urbana como matéria de de-
fesa e do registro da sentença declaratória
deste direito. Em que o princípio da celerida-
de processual foi considerado em detrimen-
to da função social da propriedade. Caso
em que o Órgão Especial do TJSP julgou a
Gráfico 35 – Princípios de Direito Urbanístico utilizados
improcedência da arguição, assentando a na fundamentação dos acórdãos estudados
constitucionalidade do art. 13 considerando
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
os demais princípios constitucionais.
@-SAJ/TJSP)

Nos 34 acórdãos dos 193 em que são


utilizados princípios do Direito Urbanístico
como fundamento dos acórdãos, o princí-
pios da Função Social da Propriedade Urba-
na (art. 5º, XXIII c/c art. 182 p. 2º, CF/88) é
o mais recorrente – utilizado em 80% dos
casos.

90
De forma residual o princípio da Função de esgotamento das possibilidades de
Social da Cidade (art. 182, caput, CF/88) apa- regularização ou de prova da impossibi-
receu em 14% ou 5 acórdãos e o da Coesão lidade. Ônus da prova não cumprido. De-
Dinâmica das Normas de Direito Urbanísti- molição que não pode ter caráter mera-
co1 5,6% ou 2 acórdãos. O princípio da justa mente sancionatório. Improcedência da
distribuição dos ônus e bônus do processo ação que se impõe. Recurso provido.
de urbanização (art. 2º, IX Lei 10.257/2001)
não foi citado nenhuma vez.
Outro assunto de interesse da pesquisa Diretriz utilizada como fundamento:
foi averiguar a utilização das Diretrizes do Lei 10.257/2001, Art. 2º, XIV - regulari-
Estatuto da Cidade (previstas no art. 2º, da lei zação fundiária e urbanização de áreas
10.257/2001) na fundamentação dos acór- ocupadas por população de baixa renda
dãos do TJSP selecionados para estudo. mediante o estabelecimento de normas
especiais de urbanização, uso e ocupa-
ção do solo e edificação, consideradas a
situação socioeconômica da população e
as normas ambientais.

rRecursos nº 0013558-78.2012.8.26.0047
- Relator Desembargador Vicente de
Abreu Amadei. Ementa do Acórdão: APE-
LAÇÃO Ação Civil Pública Município de
Gráfico 36 – Diretrizes do Estatuto da Cidade utilizadas na
fundamentação dos acórdãos estudados Assis Gestão democrática da cidade Atri-
buições do Conselho Municipal de De-
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
senvolvimento Urbano (COMDURB), en-
@-SAJ/TJSP)
quanto órgão municipal e colegiado de
Verificou-se que apesar da Política Nacio- política urbana, no que toca ao transporte
nal de Desenvolvimento Urbano ser orien- público Perda ulterior do interesse de agir
tadas pelas diretrizes gerais do Estatuto da (ou perda de objeto da demanda por fato
Cidade, elas são ainda menos conhecidas superveniente), em relação às alterações
pelos Desembargadores do TJSP que os de sentido de direção das vias públicas,
Planos Diretores Municipais. Citadas como construções de rotatórias e instalação de
argumento dos acórdãos em apenas 3 dos semáforos, precedentes ao ajuizamento
193 acórdãos. Vejamos as diretrizes gerais do da ação, em razão da superveniente apro-
Estatuto da Cidade utilizadas pelos TJSP: vação das alterações de trânsito efetuadas
no município pelo COMDURB - Preten-
r Recursos nº 9067111-33.2009.8.26.0000 são cominatória de impor à municipali-
– Relator Desembargador Luis Fernando dade o dever de abster-se de promover
Camargo de Barros Vidal – Ementa do alterações no trânsito da cidade, sem pre-
Acórdão: Ação demolitória. Imóvel urba- via apreciação do COMDURB - Pedido
no e residencial edificado sem licença e genérico e de amplitude excessiva, que
pagamento de taxas. Sentença de proce- não comporta acolhida Distinção entre
dência. Direito social de moradia. Direito política urbana no âmbito do transporte
à regularização fundiária que constitui público e execução destas diretrizes po-
diretriz da política urbana. Necessidade líticas fixadas em Planos, Planejamentos,
1 Princípio definido pela doutrina, no seguinte sentido: “(...) denomi- Programas e Projetos correlatos Altera-
namos coesão dinâmica a essa particularidade das normas urbanís- ções de trânsito, despidas de significa-
ticas, a fim de denotar que sua eficácia somente (ou especialmente)
decorre de grupos complexos e coerentes de normas e tem seu tivo impacto na mobilidade urbana, de
sentido transformacionista da realidade” (SILVA, 2008, p. 63).

91
raiz eminentemente técnica, não justifi- tal não restou comprovado no feito –
cam prévia apreciação do COMDURB - Recursos desprovidos neste ponto Ação
Determinação de impacto significativo Civil Pública - Ocupações irregulares
dependente de avaliação concreta, não em área de risco – Dever do Município
se admitindo, a priori, assim qualificar, de alojamento dos ocupantes – Alegada
abstratamente, toda alteração no trânsi- prevalência da discricionariedade admi-
to da cidade Sentença de improcedência nistrativa – Inadmissibilidade – Conceito
mantida RECURSO DESPROVIDO. de interesse público, no qual se erige a
discricionariedade, que não se confunde
com interesse do Estado – Recursos des-
Diretriz utilizada como fundamento: providos neste ponto Ação Civil Pública
- Ocupações irregulares em área de ris-
Lei 10.257/2001, Art. 2º, II - gestão demo- co – Dever do Município de alojamento
crática por meio da participação da po- dos ocupantes - Direito à moradia digna
pulação e de associações representativas que foi erigido como direito fundamen-
dos vários segmentos da comunidade tal – Poder Público Municipal que possui
na formulação, execução e acompanha- papel central na garantia deste direito,
mento de planos, programas e projetos que possui aplicação imediata, a teor
de desenvolvimento urbano. do art. 5º, §1ª, da CF/88 - Recursos des-
providos neste ponto Ação Civil Pública
- Ocupações irregulares em área de risco
r Recursos nº 0180585-09.2007.8.26.0000 – Dever do Município de alojamento dos
– Relator Desembargador José Renato ocupantes – Condenação ao pagamento
Nalini. Ementa do Acórdão: Ilegitimida- de honorários advocatícios ao Ministério
de ativa ad causam e falta de interesse de Público – Descabimento – Recursos pro-
agir – Inadmissibilidade – Ministério Pú- vidos neste ponto.
blico é ator legítimo em feitos a envolver
a tutela dos direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos, dentre os quais Diretriz utilizada como fundamento: I, V,
a ordem urbanística e o meio ambiente VI, VIII, X, XIII, XIV e XV, com destaque para
– Bem por isso, presente o interesse de a defesa do direito à moradia digna en-
agir – Preliminares rejeitadas Ilegitimi- quanto componente do direito à cidade
dade passiva ad causam – Descabimen- sustentável
to – Município que tem papel central na
ordem urbanística – Inteligência do art. Lei 10.257/2001, Art. 2º, incisos:
30 da CF/88 e de todo o rol de determi- I – garantia do direito a cidades susten-
nações contidos na Lei nº 10.257/01 – Li- táveis, entendido como o direito à terra
tisconsórcio necessário com ocupantes urbana, à moradia, ao saneamento am-
irregulares Inocorrência – Precedentes biental, à infraestrutura urbana, ao trans-
jurisprudenciais – Preliminar rejeitada porte e aos serviços públicos, ao trabalho
inépcia da inicial – Inocorrência – Versa e ao lazer, para as presentes e futuras ge-
propriamente sobre o descumprimento rações;
de cláusulas de Termo de Ajustamen-
to de Conduta – Pedidos que decorrem Em outros cinco acórdãos percebeu-se
logicamente do fundamento da ação – argumentação contrária a tais diretrizes que
Preliminar rejeitada Ação Civil Pública – compõe a norma geral de Direito Urbanís-
Ocupações irregulares em área de risco tico.
– Dever do Município de alojamento dos
ocupantes – Descabida a alegação de Destes, dois casos questionaram a consti-
ausência de recursos, na medida em que tucionalidade da aplicação da MP 2.220/2001
reafirmada pelo Órgão Especial do TJSP.

92
Certo que o direito à concessão de uso para prevê o direito à regularização fundiária nos
fins de moradia dá cumprimento à diretriz termos do art. 183 CF/88 c/c Lei 10.257/2001
que trata da “regularização fundiária e urba- pela usucapião, no caso de imóveis privados.
nização de áreas ocupadas por população Desconhecer os efeitos jurídicos da posse
de baixa renda mediante o estabelecimento para fins de moradia é desconhecer que a
de normas especiais de urbanização, uso e função social da propriedade urbana decor-
ocupação do solo e edificação, consideradas re da utilização efetiva da propriedade urba-
a situação socioeconômica da população e na. A posse de fato para fins de moradia gera
as normas ambientais” (Lei 10.257/2001, Art. direitos, incluindo a prescrição aquisitiva da
2º, XIV) em imóveis públicos. usucapião e da concessão de uso, dado que
é ela que efetiva a função social.
Em outros três casos a diretriz geral da
Política Nacional de Desenvolvimento Urba- O desconhecimento do marco legal jurí-
no também foi desrespeitada, vejamos um dico-urbanístico e dos instrumentos da po-
deles: lítica urbana é notório, chegando até a con-
fundir a aplicação dos artigos 182 e 183 da
r Recursos nº 0004193-15.2005.8.26.0477 Constituição Federal. Se a situação fática do
– Relator Desembargador Roberto Mac imóvel urbano é desconsiderada, a adequa-
Cracken - 37ª Câmara de Direito Privado. da aplicação do marco legal jurídico-urba-
Ementa do Acórdão: REINTEGRAÇÃO DE nístico ao caso concreto é prejudicada.
POSSE. Réu que não comprova o exercí-
cio da posse e que alega que, por estar
o imóvel abandonado, passou a possuí-lo
e, assim, a cumprir com sua função social.
Eventual abandono do imóvel não legiti-
ma terceiro a exercer sua posse, mesmo
porque, para se atingir a função social do
imóvel urbano, necessário se faz o cum-
primento das regras estabelecidas em pla-
no diretor municipal, e, somente em caso
de descumprimento, o Município é que
poderá promover atos visando compelir
Gráfico 37 – Referência à natureza do Direito Urbanístico
o seu proprietário a cumprir com a res- nos acórdãos estudados
pectiva função social, conforme disposto
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
no artigo 182 e §§ da CF/88, bem como no
@-SAJ/TJSP)
Estatuto da Cidade (Lei n° 10.257/2001),
mas, tal situação não autoriza o terceiro Buscou-se averiguar também a discussão
ao exercício da posse, ainda que o imóvel em juízo sobre a natureza jurídica do Direito
seja não edificado, não utilizado ou subu- Urbanístico nos acórdãos estudados. Identi-
tilizado. Recurso não provido. ficamos que em 31 dos 193 acórdãos ou 16%
houve menção à natureza jurídica da disci-
Neste acórdão chama atenção o enten-
plina urbanística nas decisões do TJSP.
dimento de aplicação o art. 182 CF/88 a
imóvel urbano ocupado para fins de mora- Observou-se que a reflexão e argumen-
dia. Vez que o parágrafo 4º deste dispositivo tação jurídica sobre a natureza desta disci-
constitucional trata do imóvel urbano “não plina se dá predominantemente nos acór-
edificado, subutilizado ou não utilizado” e dãos em que as Câmaras Reservadas de
das sanções que podem ser aplicadas aos Meio Ambiente suscitam conflito negativo
proprietários destes imóveis pelo Município. de competência, justificando porque não
seria sua atribuição julgar matérias de Direi-
Nas áreas ocupadas para fins de moradia,
to Urbanístico. Como no caso do acórdão
caso do acórdão mencionado, a Constituição

93
da CMA que julgou o recurso nº 0029682- derar que o direito urbanístico tem por
65.2005.8.26.00532: objeto organizar os espaços habitáveis, de
modo a propiciar melhores condições de
(...) A matéria objeto da discussão não en- vida ao homem na comunidade.
volve direitos difusos, coletivos ou indivi-
duais homogêneos diretamente relacio- Segundo comentaristas do Estatuto da Ci-
nados ao meio ambiente. (...) dade (Lei nº 10.257/2001 - Obra Coorde-
nada pelos Professores ODETE MEDAUAR
A questão não é de natureza ambiental, e FERNANDO DIAS MENEZES DE ALMEI-
é estritamente administrativa, urbanísti- DA, RT, 2ª Ed/2004, p. 24/25), “A expressão
ca, ante a situação fática da irregularidade estabelece normas de ordem pública e
apontada, embora com desdobramentos interesse social, TRIBUNAL DE JUSTIÇA
que, como quase sempre, podem ter refle- PODER JUDICIÁRIO São Paulo Apelação
xos ambientais, mas não se discute dano nº 9001172-43.2009.8.26.0506 - Ribeirão
ambiental efetivo ou risco de que ocorra. Preto 6 embora pareça redundante, não se
(...) mostra despropositada. Pareceria redun-
dante, pois, tratando-se de normas urba-
Houve argumentação sobre a nature- nísticas, inseridas no âmbito do Direito
za jurídica do Direito Urbanístico também Público, configuram logicamente precei-
em alguns acórdãos em que as Câmaras tos de ordem pública. No entanto, o le-
receberam e julgaram os recursos sobre gislador talvez quisesse ressaltar e tornar
clara uma nova conformação de direitos
a matéria, como o recurso nº 9001172- ou de figuras jurídicas classicamente vis-
43.2009.8.26.05063 remetido da Seção de lumbradas sob o ângulo privado”. (...) “Tais
Direito Público para a 3ª Câmara de Direito normas, segundo o parágrafo único do art.
Privado que o julgou, tratando na natureza 1º, regulam o uso da propriedade urbano
do instituto caracterizado por normas de em prol do bem coletivo, da segurança e
do bem-estar dos cidadãos e, ainda, do
interesse público, compulsórias e cogentes, equilíbrio ambiental”. (...) “Portanto, o uso
que conformam o uso da propriedade públi- da propriedade urbano não mais se dire-
ca e privada: ciona somente ao interesse do proprietá-
rio; este deve conciliar-se com o interes-
se geral, pois está permeado pela função
social da propriedade, mencionada no
Ressalte-se que a Lei Complementar Mu-
art. 5º, XXIII, da Constituição Federal”.
nicipal nº 2.157/07, na hipótese em julga-
mento, com vistas a garantir o bem estar O Professor JOSÉ AFONSO DA SILVA (in
dos habitantes do município, tornou obri- Direito Urbanístico Brasileiro, Malheiros, 7ª
gatória a construção e/ou destinação de Ed/2012, p. 60), também citado pelo Minis-
vagas para estacionamento de veículos, tério Público em suas razões de recurso e
tanto para os usos residenciais quanto no parecer da d. Procuradoria Geral de Jus-
para os não residenciais (art. 15). tiça, leciona: “(...) as normas urbanísticas,
por serem de direito público, são compul-
Neste contexto, assume relevância pon-
sórias, cogentes. E são de direito público,
2 Ementa: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Regularização de lo- como já vimos, precisamente porque
teamento. Questão ligada ao direito urbanístico, sem reflexo regulam (regram, normatizam, impõem
ambiental direto ou na solução da causa. Matéria que não modo de agir) uma função pública que é
se insere na competência desta Câmara Reservada ao Meio
Ambiente. Conflito negativo de competência suscitado.
a atividade urbanística do Poder Público ,
3 Ementa: APELAÇÃO - Ação Civil Pública - Obrigação conformando, por outro lado, a conduta
de Fazer - Preliminar: Nulidade da sentença por cerceamento e as propriedades dos particulares a seus
de defesa - Prova pericial - Desnecessidade - Rejeição. Mé- ditames”. [grifamos]
rito: Discussão centrada na obrigação da ré construir e/ou
disponibilizar vagas de estacionamento de veículos - Alega-
ção de direito adquirido e ato jurídico perfeito em razão de
concessão de “habite-se” sob a égide da legislação anterior
- Inocorrência - Exigência fundada em Lei Complementar
editada pelo município de Ribeirão Preto (nº 2.157/07), que
não afronta e/ou colide com os direitos assegurados pela ré
nos exatos limites em que concedido o primitivo “habite-se” -
Direito urbanístico que tem por objeto organizar os espaços
habitáveis, de modo a propiciar melhores condições de vida
ao homem na comunidade - Decisão mantida - Preliminar
rejeitada. Recurso improvido.

94
7.3 Papel do Poder Público segundo Dos acórdãos do TJSP estudados sobre
o TJSP Direito Urbanístico a maioria define obri-
gações ao Poder Público na decisão (103
acórdãos ou 53%). Destes na quase absoluta
maioria há referência ao papel do Município
em 101 acórdãos e do Poder Público em ge-
A implementação das políticas públicas ral em outros 5 acórdãos.
urbanas tem papel fundamental da efetiva-
ção do direito à cidade sustentável (art. 2º, I,
Lei 10.257/2001) e direito fundamental à mo-
radia (art. 6º, CF/88). O posicionamento da
Corte Paulista a respeito do papel do Poder
Executivo na implementação e execução
destas políticas ilustra o papel que o Judici-
ário vem desempenhando frente aos desa-
fios para a solução dos conflitos em nossas Gráfico 40 – Posição quanto à discricionariedade estatal
cidades. nos acórdãos estudados

IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal


Neste sentido, na análise da decisão con-
@-SAJ/TJSP)
tida nos acórdãos estudados, buscou-se
identificar o papel do Poder Público em re- Na maioria dos acórdãos não externa-se
lação aos direitos em litígio, segundo os De- posição quanto à discricionariedade admi-
sembargadores Relatores do TJSP. nistrativa relativa à matéria urbanística sob
judice.
Naqueles acórdãos em que o TJSP se po-
sicionou sobre a discricionariedade estatal,
em 79 acórdãos ou cerca de 41% o Tribunal
entendeu que não há discricionariedade do
Poder Público em relação à obrigação de fa-
zer relacionada ao Direito Urbanístico, e em
um menor número de casos (10 acórdãos
Gráfico 38 – Referência ao papel do estado na efetivação
do Direito Urbanístico nos acórdãos estudados ou 5%) entendeu que há sim discricionarie-
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal dade.
@-SAJ/TJSP)
Vale conhecermos os argumentos utili-
Na maioria dos acórdãos (57% ou 111 zados pelo TJSP para definir obrigações de
acórdãos) há referência ao papel do Poder fazer ao Poder Público.
Público na decisão. Em 42% ou 82 acórdãos A aplicabilidade imediata do direito fun-
não há menção ao papel do Estado na efeti- damental à moradia (art.6º, CF/88), o interes-
vação do Direito Urbanístico. se público não se confundir com o interesse
estatal e a não comprovação da ausência de
recursos foram apontadas pelo TJSP como
motivações que fundamentam o Judiciário
Paulista compelir o Poder Público Municipal
a atuar, nos seguintes termos:
rRecursos nº 0180585-09.2007.8.26.0000
Gráfico 39 – Acórdãos estudados quanto à definição de – Relator Desembargador José Renato
obrigações do Poder Público relacionadas à política urbana
Nalini. Ementa do Acórdão: Ilegitimidade
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal ativa ad causam e falta de interesse de agir
@-SAJ/TJSP) – Inadmissibilidade – Ministério Público é

95
ator legítimo em feitos a envolver a tutela ção local a fazer aquilo que é seu dever
dos direitos difusos, coletivos e individuais de ofício. O instrumento de que se valeu
homogêneos, dentre os quais a ordem ur- o Parquet está previsto no ordenamento
banística e o meio ambiente – Bem por como a via adequada à obtenção do bem
isso, presente o interesse de agir – Preli- da vida de interesse de toda a comunida-
minares rejeitadas Ilegitimidade passiva ad de.”
causam – Descabimento – Município que
tem papel central na ordem urbanística – “Não comprova o Município que não dis-
Inteligência do art. 30 da CF/88 e de todo põe de numerário suficiente para o cum-
o rol de determinações contidos na Lei primento das ordens emanadas na senten-
nº 10.257/01 – Litisconsórcio necessário ça, das quais não pode se escusar com o
com ocupantes irregulares Inocorrência argumento retórico da reserva do possível.
– Precedentes jurisprudenciais – Prelimi- Não se pode olvidar que a Norma Fundan-
nar rejeitada inépcia da inicial – Inocor- te não é um texto composto de promes-
rência – Versa propriamente sobre o des- sas inatingíveis. É uma Constituição Diri-
cumprimento de cláusulas de Termo de gente, com um preâmbulo que delineiam
Ajustamento de Conduta – Pedidos que e vinculam a atuação de todas as esferas
decorrem logicamente do fundamento da da Administração Pública. E, compreendi-
ação – Preliminar rejeitada Ação Civil Pú- do o direito à moradia digna como direito
blica – Ocupações irregulares em área de fundamental, há que se atender à regra de
risco – Dever do Município de alojamento art. 5o , § Io , 12 BINENBOJM, Gustavo. Te-
dos ocupantes – Descabida a alegação de mas de Direito Administrativo e Constitu-
ausência de recursos, na medida em que cional artigos e pareceres. Rio de Janeiro:
tal não restou comprovado no feito – Re- Renovar, 2008, p. 09. APELAÇÃO CÍVEL N°
cursos desprovidos neste ponto Ação Civil 994.07.180585-2 - SÃO PAULO - VOTO N°
Pública - Ocupações irregulares em área 17.263 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE
de risco – Dever do Município de aloja- JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO SE-
mento dos ocupantes – Alegada prevalên- ÇÃO DE DIREITO PÚBLICO CÂMARA RE-
cia da discricionariedade administrativa – SERVADA AO MEIO AMBIENTE para o qual
Inadmissibilidade – Conceito de interesse “As normas definidoras dos direitos e ga-
público, no qual se erige a discricionarie- rantias fundamentais têm aplicação ime-
dade, que não se confunde com interesse diata”.
do Estado – Recursos desprovidos neste
ponto Ação Civil Pública - Ocupações ir- Quanto aos loteamentos urbanos irregu-
regulares em área de risco – Dever do lares e clandestinos, as obrigações do Mu-
Município de alojamento dos ocupantes nicípio promover o ordenado uso e ocupa-
- Direito à moradia digna que foi erigido ção do solo e a fiscalização foram firmadas
como direito fundamental – Poder Públi-
co Municipal que possui papel central na pelo TJSP. O Tribunal também afastou a
garantia deste direito, que possui aplicação argumentação de ausência de recursos e
imediata, a teor do art. 5º, §1ª, da CF/88 - afirmou que a expedição das licenças urba-
Recursos desprovidos neste ponto Ação nística é ato vinculado e não discricionário.
Civil Pública - Ocupações irregulares em Vejamos:
área de risco – Dever do Município de alo-
jamento dos ocupantes – Condenação ao rRecursos nº 0032158-38.2011.8.26.0224–
pagamento de honorários advocatícios ao Relator Desembargador Leonel Costa - 5ª
Ministério Público – Descabimento – Re- Câmara de Direito Público. Ementa do
cursos providos neste ponto. Acórdão: AÇÃO CIVIL PÚBLICA Direito
Urbanístico Loteamento Irregular em área
Trechos do voto do relator: pública A responsabilidade do Município
decorre não só do fato de ser pública a
“Frise-se, ademais, que a Lei Federal n°
área loteada clandestinamente, mas, tam-
10.257/01 - o Estatuto da Cidade - foi cla-
bém, do seu dever constitucional de pro-
ro em incluir o direito à cidade como ele-
mover o adequado e regular ordenamen-
mento de uma ordem urbanística passível
to urbano e manter o padrão urbanístico,
de tutela judicial coletiva, através do ins-
conforme disposto no artigo 182 e seguin-
trumento do qual lançou mão o parquet.
tes da CF/88, bem como no artigo 4º e 18,
Da mesma forma, reveste-se de legítimo
da Lei 6.766/79 Sentença de Procedência
interesse de agir. Viu-se obrigado a acionar
que merece reforma apenas quanto ao
o Estado-juiz para compelir a Administra-
prazo para implementação das obras e de-

96
mais ajustes. Recurso oficial e de apelação de São Paulo, não alcança projeto subs-
parcialmente providos. titutivo apresentado em sua vigência. 2.
Encontrando-se a edificação em descon-
Trecho do voto do relator: formidade com as novas posturas edi-
lícias, seria o caso de reposição do statu
“Muito embora seja conhecido o déficit or-
çamentário dos municípios, não há como, quo ante, mediante demolição do que foi
construído em desconformidade com o
nos tempos de hoje, avalizar a conduta
zoneamento local. 3. A alienação de ex-
desidiosa de seus administradores que, a
pressivo número de unidades antes da
pretexto da ausência de fundos e/ou exis-
revogação administrativa do alvará indevi-
tência de infindáveis outras prioridades
damente concedido, entretanto, impede a
administrativas, permitem a ocupação ir-
execução da obrigação de fazer, sob pena
regular do solo local.”
de se deixar à míngua grande contingen-
rRecursos nº 9064691-31.2004.8.26.0000 te de adquirentes de boa-fé. Incidente o
– Relator Desembargador Osni de Souza - art. 461 do CPC, é convertida em perdas e
8ª Câmara de Direito Público. Ementa do danos, cuja quantificação deverá ter lugar
Acórdão: Apelação Cível. Ação civil pú- em artigos de liquidação. 4. Ação julgada
blica. Loteamento irregular. Execução de parcialmente procedente. Recursos par-
parcelamento de solo sem observância cialmente providos, exclusivamente para
das normas legais, omitindo-se o muni- revogar a ordem demolitória.
cípio do seu dever de fiscalização (Lei nº
Trechos do voto do relator:
6.766/79). Preliminar de impossibilidade ju-
rídica do pedido afastada. Admissibilidade “As licenças, como atos administrativos
de pedidos cumulados em sede de ação vinculados, devem obedecer prévios re-
civil pública. Prescrição, ademais, inocor- quisitos legais, de maneira que somente
rida. Controvérsia de Direito Urbanístico, podem ser expedidas quando observadas
enquanto aspecto do Direito Ambiental. todas as normas legais, inclusive por se
Danos permanentes e contínuos, a reno- tratar de ato de controle”
var o direito à propositura de ação. Discri-
cionariedade administrativa que não obsta Mesmo não sendo o entendimento ma-
a possibilidade de condenação do Muni- joritário encontrado nos acórdãos de Direito
cípio. Precedentes. Prova pericial que de-
monstra a criação de loteamento irregular, Urbanístico do TJSP estudados, há ainda en-
com desvio de utilização do solo. Descum- tendimentos4 de que haveria discricionarie-
primento, pela Administração municipal, dade estatal relacionada à matéria urbanísti-
do dever de controle do uso, ocupação ca. E que ir contra ela configuraria violação
e parcelamento do solo (artigo 30, inciso da independência e autonomia entre os po-
VIII, da Constituição Federal). Instituição
deres da República (art. 2º, CF/88).
de loteamento regular e dotado de infra-
estrutura adequada que constitui obriga-
ção essencial do empreendedor. Sentença
de procedência mantida, excluindo-se a
condenação na verba honorária. Recurso
provido em parte.
Trecho do voto do relator:
“Não vinga, tampouco, o argumento da
discricionariedade administrativa a obstar
a possibilidade de condenação do Muni-
cípio: é ressabido que não há discriciona-
4 Recursos nº 0252542-65.2010.8.26.0000 – Relator Desem-
riedade do administrador frente a direitos bargador Coimbra Schmidt - 7ª Câmara de Direito Público.
consagrados constitucionalmente”. Ementa do Acórdão: AÇÃO CIVIL PUBLICA. Direito urbanísti-
co e política pública habitacional. Pretender ditar à Adminis-
rRecursos nº 0012087-14.2009.8.26.0053 tração a forma pela qual desenvolverá determinada política
– Relator Desembargador Coimbra Schmi- social, no concernente à guarida de famílias que sofreram
dt - 7ª Câmara de Direito Público. Ementa reintegração de posse, envolve inadmissível intromissão na
discricionariedade da Administração, com consequente vio-
do Acórdão: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. Direito lação do art. 2o da CR. Notadamente quando se pretende
urbanístico. 1. O direito de protocolo as- condicionar execução de sentença passada em julgado.
segurado pelo art. 242 da LM 13.885/04, Ação julgada improcedente. Sentença confirmada. Recurso
não provido.

97
7.4 Formas de solução de conflitos
sobre Direito Urbanístico

Ao analisar os acórdãos do TJSP sobre o


Direito Urbanístico, buscou-se identificar o
papel da Jurisdição para os Desembargado-
res Relatores dos acórdãos estudados, bem
como averiguar os mecanismos e modos de
solução de conflito considerados e pratica-
dos pelo Tribunal Paulista para o julgamento
atendimento dos requisitos legais (previsão
da lide.
das áreas no Plano Diretor, existência de lei
No tocante à função do Poder Judiciário específica e prévia notificação dos proprietá-
segundo os magistrados que proferiram os rios de imóveis vazios para o parcelamento,
acórdãos, em quase 90% ou em 169 dos 193 edificação, utilização compulsória).
acórdãos estudados não houve qualquer
Em seguida, acórdãos que reconhecem
referência expressa sobre o papel da Juris-
direitos como à regularização fundiária e
dição. Sendo majoritária a ausência de re-
urbanística, em loteamentos urbanos, em
flexão sobre a missão do Tribunal no caso
ações de usucapião (em ação própria ou
julgado.
como matéria de defesa de ações de rein-
tegração de posse), foram os de maior inci-
dência.
Nos casos de conflito entre direitos, in-
cluindo direitos fundamentais, como direito
à moradia e meio ambiente, ou ainda direito
à moradia e direito à propriedade, observa-
mos que a argumentação jurídica sobre a
prevalência de um direito sobre o outro é
Gráfico 41 – Papel do Poder Judiciário segundo os acór- mais recorrente do que a ponderação entre
dãos estudados
os direitos envolvidos.
IBDU, 2015 (Data de referência 09/08/2014, Fonte: Portal
@-SAJ/TJSP) É possível identificar, por exemplo, que
muitas vezes diante de direitos contrapostos
Em 24 acórdãos ou menos de 13% houve
argumentações que primam pelo formalis-
alguma reflexão por parte do Desembarga-
mo processual recorrem à prevalência de
dor Relator sobre a função do Poder Judici-
um direito sobre o outro para a solução do
ário na solução da lide. Destes, em 14 acór-
conflito.
dãos fez-se menção à função pacificadora
da Jurisdição, e em outros 10 destacou-se o Certo que a supressão de um direito fun-
seu papel na segurança das relações jurídi- damental em nome de outro, não é forma
cas ou outro argumento calcado na prima- de solucionar o conflito de fato, mas muitas
zia do formalismo e da dogmática jurídica. vezes de acirrá-lo.
Nos modos de solução de conflitos iden- Ilustra esta forma de decidir o acór-
tificados nos acórdãos, identificou-se de for- dão da 19ª Câmara de Direito Privado do
ma predominante o Tribunal sendo provo- TJSP (Apelação com revisão nº: 0052406-
cado por particulares para corrigir a atuação 15.2011.8.26.0001, de 12/08/2015), que en-
estatal, definindo obrigações de não fazer, tendeu pela prevalência do direito à celeri-
como por exemplo vedando a cobrança do dade processual em detrimento da função
IPTU progressivo para fiscal sem o prévio social da propriedade urbana e do acesso à

98
justiça, ao suscitar a inconstitucionalidade
Tribunal de Justiça de São Paulo, que com
do registro da sentença da usucapião alega-
fundamento do voto do Relator Designado
da como matéria de defesa. Dentre os argu-
Grava Brazil negou a Arguição de Inconsti-
mentos apresentados na decisão, o Desem-
tucionalidade acima citada é um exemplo.
bargador Relator Ricardo Pessoa de Mello
Belli afirmou: Afirmou-se a constitucionalidade da se-
(...) esquecem-se de que a jurisdição, a par
gunda parte do art. 13, da Lei nº 10.257, de
de servir à pacificação social, presta-se, 10/07/2001 (Estatuto da Cidade), consideran-
antes de tudo, a conferir segurança às re- do que previsão de celeridade processual,
lações jurídicas e que a admissão de am- não teve o intuito de garantir um processo
pliação procedimental de tal magnitude, rápido em detrimento de outros princípios
no âmbito de ação petitória ou possessó- constitucionais, respeitando o objetivo de
ria, conturbaria em muito o processamen-
to da causa, provocando demasiada de- diminuir a desigualdade social e atender à
mora na prestação da tutela jurisdicional função social da propriedade, facilitando aos
reclamada pelo autor e, de conseguinte, mais pobres seu acesso à justiça:
abrindo portas largas a todo tipo de chi-
Definitivamente essa solução não se amol-
cana. (...) [grifamos].
da à ordem constitucional, que se volta a
Este acórdão ilustra a relevância da aná- um contexto maior, que privilegia o Estado
Democrático, destinado a assegurar, den-
lise do discurso e das palavras de valor utili- tre outros, “o exercício dos direitos sociais
zadas nas decisões judiciais como objeto de e individuais... a igualdade e a justiça como
análise. valores supremos de uma sociedade fra-
terna, pluralista e sem preconceitos, fun-
A expressão “chicana” no jargão jurídico dada na harmonia social...”1.
trata de uma manobra para dificultar o an-
Por isso, penso que a hipótese não é de
damento de um processo. Verifica-se que
reconhecimento da inconstitucionalidade,
o Desembargador Relator Ricardo Pessoa mas de típica situação de interpretação
entendeu pela prevalência do princípio da conforme. Isso porque, ao apurar-se a in-
celeridade processual ao direito à moradia constitucionalidade, é preciso considerar a
no caso. As expressões grifadas revelam que Constituição como um todo, e não apenas
não houve um exercício de ponderação en- suas normas e princípios isoladamente.
tre os direitos envolvidos, mas sim escolha (...)
por um em detrimento do outro. Foram uti-
Assim, foi com o intuito de diminuir a de-
lizadas palavras de valor para qualificar de
sigualdade social e atender à função so-
forma negativa os mecanismos de acesso à cial da propriedade, facilitando aos mais
justiça e de garantia da segurança jurídica da pobres seu acesso, que o poder consti-
posse previstos em lei. tuinte cuidou, expressamente, de tratar
sobre a ‘Política Urbana’ em seus artigos
Por outro lado, em um menor conjunto 182 e 183, posteriormente regulamenta-
dos acórdãos estudados, verificou-se que dos pela Lei 10.257/2001, cuja redação dos
fundamentações que tratam do papel da Ju- respectivos caputs é a seguinte:
risdição com foco na pacificação social são (...)
as que mais utilizaram da ponderação entre
os direitos fundamentais envolvidos, para a Importante consignar que a repetição
quase idêntica do caput do artigo 183, da
solução dos conflitos urbanos. Nestes casos, Carta Maior, na Lei nº 10.257/2001 (arti-
a aplicação dos princípios da proporcionali- go 9º) e no Código Civil de 2002 (artigo
dade e razoabilidade, busca apenas restrin- 1.240), reforça ainda mais o objetivo de re-
gir, mas nunca sacrificar um dos direitos en- gularização fundiária e garantia do direito
volvidos. fundamental à moradia para a população
de baixa renda. Por isso, não é à toa que a
A própria decisão (recurso nº 0191412- modalidade de usucapião especial urbana
69.2013.8.26.0000) do Órgão Especial do se diferencia das demais, possuindo prazo
prescricional aquisitivo reduzido (5 anos),

99
limitando quem poderá usucapir (não tucionais - a função social da propriedade
pode ser proprietário de outro imóvel rural e a igualdade social - quando é possível
ou urbano) e o tipo de imóvel a ser usuca- adotar solução menos radical, mais bené-
pido (urbano, área de até 250m², utilizado fica, definitiva e de acordo com os prin-
para moradia). cípios que estariam sendo desrespeitados.
[grifamos]
E é com mira na função social da proprie-
dade e na redução da desigualdade social
que a lei regulamentadora nº 10.257/2001,
em seu artigo 13, prevê que a usucapião Neste exemplo, o acórdão do Órgão Es-
especial urbana possa “ser invocada como pecial do TJSP, combate o formalismo que
matéria de defesa, valendo a sentença que
“dá à forma ou às solenidades processuais
a reconhecer como título para registro no
cartório de imóveis.”, de modo a facilitar o maior importância que o fim almejado pelo
acesso à primeira moradia pelos hipossu- constituinte” (trecho da decisão).
ficientes.
Nesse foco, o questionamento da in-
constitucionalidade da aplicação literal do
mencionado artigo afigura-se, respeitado
o entendimento em contrário, como um
pensamento isolado do contexto consti-
tucional, dando à forma ou às solenida-
des processuais maior importância que o
fim almejado pelo constituinte. É preciso,
então, procurar solução adequada tanto
ao devido processo legal e à razoável du-
ração do processo, quanto à concretiza-
ção dos ideais constitucionais de função Quanto aos mecanismos de solução de
social da propriedade e de redução das conflitos, verificou-se em menos de 10% dos
desigualdades sociais, presentes nos arti- 193 acórdãos estudados houve menção a
gos 182 e 183 da Constituição Federal. vistorias na área em litígio ou realização de
(...) perícias no processo judicial.
A demora não traria, data venia, prejuízo A argumentação sobre a realidade urba-
de grande dimensão, e vale lembrar que na sobre a qual o TJSP está se posicionando
o legislador, quanto à previsão de celeri- muitas vezes não é feita. Percebeu-se tam-
dade processual, não teve o intuito de ga-
rantir um processo rápido em detrimento bém que na maioria das vezes a caracteriza-
de outros princípios constitucionais. O es- ção da situação urbanística e ambiental das
copo do comando constitucional é evitar lides e bens jurídico envolvidos não é feita.
delongas injustificadas. De outro lado, predomina a argumentação
(...) abstrata sobre a lei em tese, sem relacioná-
-la a aspectos probatórios presentes no pro-
Assim, a fim de se cumprir o devido pro- cesso judicial e fatos concretos sob judice.
cesso legal, seria suficiente trazer ao pro- Fatores que dificultam inclusive a adequada
cesso todos os interessados, encerrando
de vez qualquer litígio sobre o imóvel e aplicação das normas aos fatos.
garantindo sem reservas a propriedade (se
Percebe-se que a excessiva demanda
ela for reconhecida) ao réu usucapiente.
Não haveria prejuízo à razoável duração processual e a preocupação com a celeri-
do processo porque, embora este passasse dade ou distribuição do processo judicial da
a demorar mais do que originalmente de- Câmara em que se encontra, muitas vezes
mora uma ação petitória ou possessória, prejudica o julgamento de mérito e qualida-
as vantagens de uma solução segura e de- de das decisões analisadas. E por vezes, sua
finitiva compensariam ao autor a espera.
Prejuízo verdadeiro seria declarar inconsti- efetividade e o próprio papel do Poder Judi-
tucional um dispositivo cuja função é con- ciário na realização da justiça.
cretizar outros princípios e ideais consti-
Neste sentido é bastante recorrente a uti-

100
lização do artigo 252 do Regimento Interno blica para a tutela de interesses difusos e
do TJSP que dispõe que ”Nos recursos em coletivos. Inteligência dos artigos 5º, VI,
geral, o relator poderá limitar-se a ratificar alíneas “b” e “g”, da LCE nº 988/06 e 5º, II, da
Lei Federal nº 7.347/85. Decisão reforma-
os fundamentos da decisão recorrida, quan- da. Recurso provido. AÇÃO CIVIL PÚBLI-
do, suficientemente motivada, houver de CA DIREITO URBANÍSTICO LIMINAR DE
mantê-la”. Casos em que, são reiterados os DESOCUPAÇÃO QUE NÃO PODE SERVIR
argumentos da decisão de 1ª instância e não COMO SUBSTITUTIVO DE REINTEGRA-
é feira qualquer nova análise sobre o mérito ÇÃO DE POSSE NÃO CUMPRIDA PELO
PROPRIETÁRIO NÚMERO ELEVADO DE
recursal. FAMÍLIAS AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO
Para além dos 193 acórdãos selecionados PARA INTEGRAR PODERES PÚBLICOS NA
SOLUÇÃO DO CONFLITO E REALOCA-
para estudo, identificamos outros que mere- ÇÃO DE MORADORES. Indisfarçável natu-
cem ser citados por contribuírem para definir reza possessória da demanda. Ausência de
procedimentos adequados para a prevenção determinação de qualquer medida de ca-
de conflitos fundiários urbanos coletivos. ráter urbanístico ou de resguardo ambien-
tal, tentativa de regularização fundiária ou
Um deles é do próprio Tribunal Paulista, negociação para a própria desocupação.
que em sintonia com recomendação do Despejo indiscriminado e sem destino de
TJSP para processos que tem por objeto milhares de pessoas que não resolve os
problemas urbanísticos e ambientais a que
grandes desocupações, definiu providências a ação civil pública se propôs a evitar. Ine-
efetivas para a conciliação e mediação do xistência de interesse de agir para a deso-
conflito. cupação, já determinada em ação posses-
sória. Ilegitimidade do Ministério Publico
O acórdão proferido é paradigmático na para a proteção de imóvel de propriedade
medida em que sustou os efeitos da ante- privada, gravado com dívidas fiscais, deso-
cipação de tutela concedida para a deso- cupado e ocioso há décadas. Responsabi-
cupação da área por milhares de famílias, lidade municipal de tutela dos terrenos e
edifícios urbanos, nos termos dos artigos
determinando a realização de audiência de 182 da CF e 5º do Estatuto das Cidades.
conciliação que contemple a presença das Impossibilidade de dissociação do direito
partes e dos órgãos públicos envolvidos no à moradia do sentido de sustentabilida-
conflito. Se trata de área urbana utilizada de da cidade, nos termos do art. 2º, I, Lei
para fins de moradia que é propriedade da 10.257/01. Decisão reformada. Agravo pro-
vido para sustar os efeitos da antecipação
massa falida da Empresa SOMA no municí- de tutela concedida para a desocupação,
pio de Sumaré. No caso também é relevante com determinação.
a decisão quanto à ilegitimidade do Minis-
tério Publico para a proteção de imóvel de Trecho do acórdão:
propriedade privada, gravado com dívidas “O despejo indiscriminado e sem destino
fiscais, desocupado e ocioso há décadas, em das milhares de pessoas, assim, tende a
detrimento da realização da justiça social e não resolver os problemas urbanísticos e
defesa da ordem urbanística que também ambientais a que a ação se propôs a evi-
tar, não servindo a antecipação de tutela,
se pauta pela efetivação da função social da tal como deferida, de cautela efetiva aos
propriedade interesses postulados na ação civil pública.
rRecursos nº 2005658-83.2014.8.26.0000 O Judiciário não pode, de outro lado,
– Relator Desembargador Marcelo Semer abrir mão de sua função pacificadora, ins-
- 10ª Câmara de Direito Público. Ementa tado a resolver não apenas os processos
do Acórdão: AGRAVO DE INSTRUMENTO que lhe chegam às mãos, como também
AÇÃO CIVIL PÚBLICA OCUPAÇÃO IRRE- os conflitos que fundamentam as lides.
GULAR DE ÁREA URBANA INGRESSO DA
DEFENSORIA PÚBLICA EM DEFESA DOS Neste sentido é que se deu a concessão
OCUPANTES POSSIBILIDADE. Afastadas as do efeito ativo deste agravo de instru-
matérias preliminares de intempestividade mento que não só permitiu que a De-
e descumprimento do artigo 526 do CPC. fensoria Pública interviesse na qualidade
No mérito, legitimidade da Defensoria Pú- de assistente diante da legitimidade para

101
a tutela de interesses coletivos que hoje sustar os efeitos da antecipação de tutela
assume, e da notoriedade de que os inte- concedida para a desocupação, determi-
resses em discussão se dão por pessoas nando, ainda, a realização de audiência
hipossuficientes como sustou a ordem de conciliação que contemple a presença
de desocupação, viabilizando inclusive das partes e dos órgãos públicos envol-
a articulação da própria Defensoria com vidos no conflito (Ministério das Cidades,
órgãos públicos para a inserção das famí- CDHU, Secretaria do Estado da Justiça,
lias em programas habitacionais conside- Prefeitura Municipal, Ministério Público,
rando, ademais, manifestações no mesmo Defensoria Pública, Massas Falidas e ad-
sentido de órgãos públicos colacionadas vocacia dos moradores), sem prejuízo de
no agravo. que, mostrando-se necessário e conve-
niente, a critério do juízo, seja o feito sus-
Tudo isso na convicção de que tanto o penso por prazo determinado, para con-
direito à moradia, quanto a dignidade hu- clusão das negociações eventualmente
mana são valores que diante do expresso encaminhadas. [grifamos]
regramento constitucional não podem ser
relegados a um plano secundário, pois a Outro importante precedente jurispru-
consequência do abrupto desalojar das
famílias, no caso, tenderia a ser mais pre- dencial é o acórdão do Superior Tribunal de
judicial para o balanço dos direitos envol- Justiça que julgou mandado de segurança
vidos, do que a providência que se plei- nº 48.316 em 17 de setembro de 2015.
teou pretensamente pela defesa da ordem
urbanística. O STJ definiu que face à indeterminação
do modus operandi a ser adotado no caso
Considerando que a desocupação como
da desocupação da área urbana por milha-
antecipação de tutela é medida a que pro-
cessualmente falece o interesse de agir no res de famílias é cabível a interposição de
quesito necessidade, por já existir ordem Mandado de Segurança. Ação cabível para
judicial no mesmo sentido, e no quesito exigir das autoridades (Governador do Esta-
adequação, pela natureza eminentemen- do de Minas Gerais e Comandante Geral da
te satisfativa de que se reveste no pedido Polícia Militar de Minas Gerais) as garantias
inicial tenho, ademais, que não há como
mantê-la em vigor neste momento. de que serão cumpridas as medidas legais
e administrativas vigentes para salvaguardar
Isto porque a urgência na retirada das fa- os direitos e garantias fundamentais das pes-
mílias, sem a procura de mecanismos de soas que serão retiradas.
realocação condigna, e antes da realiza-
ção de qualquer medida preparatória ou rRECURSO EM MANDADO DE SEGU-
regularizadora de cunho urbanístico e RANÇA Nº 48.316 - MG (2015/0106718-5)
ambiental, circunscreveria o pleito exclu- – Relator Ministro OG FERNANDES. Emen-
sivamente na indevida seara possessória, ta do Acórdão: PROCESSUAL CIVIL E AD-
em relação à qual, repita-se, falece legiti- MINISTRATIVO. RECURSO EM MANDADO
midade ao Ministério Público. DE SEGURANÇA. OCUPAÇÃO DO ISIDO-
RO. CUMPRIMENTO DE ORDEM DE REIN-
De outro lado, a necessidade de que o TEGRAÇÃO DE POSSE. PRETENSÃO DE
próprio poder público dimensione a pos- OBSERVÂNCIA DE DIRETRIZES E NORMAS
sibilidade de intervenção no imóvel (em ATINENTES AOS DIREITOS HUMANOS.
consideração à plêiade de créditos tribu- EFEITOS NATURAIS DA DECISÃO DE DE-
tários envolvidos) para eventual regulari- MANDA INDIVIDUAL SOBRE TERCEIROS.
zação fundiária, ou ainda a recolocação POSSIBILIDADE. ILEGITIMIDADE ATIVA
alternativa das famílias, com inserção em AFASTADA. INCOMPETÊNCIA DO ÓRGÃO
programas habitacionais que permitam PROLATOR. NULIDADE DO ACÓRDÃO.
equacionar o racional aproveitamento do CORRETA INDICAÇÃO DO GOVERNADOR
solo, sem malferir o direito à moradia, exi- DO ESTADO E DO COMANDANTE-GERAL
gem provimento do agravo, nos termos DA PMMG COMO AUTORIDADES SUPOS-
do pedido. TAMENTE COATORAS. INTERESSE PRO-
Pelo meu voto, portanto, dou provimen- CESSUAL. EXISTÊNCIA. INDEFERIMENTO
to ao agravo para permitir o ingresso da DA EXORDIAL PELA CORTE DE ORIGEM.
Defensoria Pública como assistente e TEORIA DA CAUSA MADURA. INAPLICA-
mantenho definitiva a medida liminar para BILIDADE.

102
1. Além da coisa julgada, que só opera en- Rel. Ministro Gilson Dipp, Corte Especial,
tre as partes litigantes, a sentença pode julgado em 1º/7/2014, REPDJe 6/8/2014,
gerar, indiretamente, consequências na DJe 5/8/2014; STJ, IF-92/MT, Rel. Ministro
esfera jurídica de terceiros, favorecendo- Ministro Fernando Gonçalves, Corte Es-
-os ou prejudicando-os, conforme o caso. pecial, julgado em 5/8/2009; STF, IF 2915,
Rel. Ministro Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão
2. É o que ocorre no mandamus em aná- Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, DJ
lise. Embora impetrado por apenas qua- 28/11/2003.
tro moradores da comunidade de 30.000
(trinta mil) pessoas, sobre a qual recai uma 8. O juízo de proporcionalidade a ser re-
ordem de reintegração de posse, a segu- alizado quanto ao modo de intervenção
rança pretendida - exigir do Estado o cum- policial não recai no Judiciário, mas na
primento de determinadas normas e dire- hierarquia da Corporação, em cujo topo
trizes atinentes aos direitos humanos, no se encontram o Governador do Estado e,
procedimento de remoção - surtirá efeitos subordinado a ele, o Comandante-Geral.
naturais sobre toda aquela coletividade. Tanto assim que estes agentes públicos e
a cadeia de comando que deles se origina
3. Não há falar, portanto, em utilização do - e não o magistrado - responderão por
mandado de segurança individual como eventuais excessos, na medida de sua cul-
sucedâneo de demanda coletiva, razão pabilidade.
pela qual não se deve acolher a preliminar
de ilegitimidade ativa arguida pelo recor- 9. Ausente, portanto, qualquer anomalia
rido. na indicação do Governador e do Coman-
dante-Geral como supostamente coato-
4. Em se tratando de mandado de segu- res, uma vez que a eles se atribui possível
rança, o critério para fixação da compe- ameaça de lesão a direito líquido e certo
tência é estabelecido em razão da função dos demandantes.
ou da categoria funcional da autoridade
indicada como coatora (ratione auctori- 10. Ao contrário do que asseverou o Tri-
tatis). No caso, apontado como coator o bunal de Justiça mineiro, o writ não
Governador do Estado de Minas Gerais, fir- busca provimento inócuo e genérico. A
mada está a competência do Órgão Espe- matéria posta em discussão envolve a
cial do respectivo Tribunal de Justiça para proteção dos direitos à dignidade da pes-
o deslinde da causa, a teor do disposto no soa humana, especialmente no tocante à
art. 33, I, “d”, do RITJMG. integridade física, à segurança e à mora-
dia, consoante o disposto nos arts. 17 do
5. Assim, competia ao Órgão Especial do Pacto Internacional dos Direitos Civis e
TJ/MG - e não à Sexta Câmara Cível, como Políticos, 16 da Convenção dos Direitos
de fato ocorreu - processar e julgar o feito, das Crianças e 6º da Constituição Federal.
inclusive, se fosse o caso, para denegar a
segurança sem resolução do mérito, ante 11. Para a implementação desses postula-
suposta inadequação da via eleita e a au- dos, existem recomendações do Escritório
sência de interesse processual. Nulidade de Direitos Humanos de Minas Gerais, ins-
do acórdão recorrido, por incompetência tituído pelo Decreto estadual n. 43.685/03,
do órgão julgador. a Lei estadual n. 13.053/98, e a Diretriz para
Prestação de Serviços de Segurança Pú-
6. O mandado de segurança não foi ajui- blica 3.01.02/2011-CG da Polícia Militar do
zado contra a requisição das medidas Estado de Minas Gerais, que tratam de pro-
policiais para apoiar o cumprimento de cedimentos específicos voltados a opera-
mandado de despejo, mas, com o fito de ções de desocupação de imóveis.
prevenir ilegalidades, abusos e o uso da
violência pelo Estado no cumprimento da 12. Não raro, porém, a despeito de toda
ordem judicial. normatização e do preparo da digna Polí-
cia Militar, tais medidas, quando atingem
7. Esta Corte Superior e o Supremo Tribu- avultada população - na espécie dos au-
nal Federal já tiveram oportunidade de se tos, trata-se de 30.000 (trinta mil) assenta-
manifestarem no sentido de que o prin- dos -, vêm desacompanhadas da atenção
cípio da proporcionalidade tem aplicação devida à dignidade da pessoa humana e,
em todas as espécies de atos dos pode- com indesejável frequência, geram atos
res constituídos, vinculando o legislador, de violência. Por essa razão, a Suprema
o administrador e o juiz: STJ, IF 111/PR, Corte e o STJ, nos precedentes mencio-

103
nados, preconizam que o uso da força re- 7.5 Constitucionalidade de institutos
quisitada pelo Judiciário deve atender ao
primado da proporcionalidade.
do Estatuto da Cidade
13. Constituído esse quadro, exsurge o
interesse processual dos impetrantes, Duas importantes discussões sobre a
cujo pleito mandamental consiste em
exigir, das autoridades apontadas na ini- constitucionalidade de institutos do Estatu-
cial, garantias de que serão cumpridas as to da Cidade (Lei 10.257 e MP 2.220/2001)
medidas legais e administrativas vigentes ocorreram no Tribunal de Justiça de São
para salvaguardar os direitos e garantias Paulo no marco temporal da pesquisa. Seja
fundamentais das pessoas que serão re- nos acórdãos selecionados para estudo pela
tiradas. E a indeterminação do modus
aplicação de questionário, seja outros acór-
operandi a ser adotado no caso em tela
consubstancia, ao menos em tese, prova dãos relevantes para o Direito Urbanístico
pré-constituída do direito alegado. também identificados e analisados na pes-
quisa.
14. Embora insubsistentes os óbices pro-
cessuais levantados pela Corte de origem O TJSP consolidou entendimento sobre a
ao conhecimento do mandado de segu- aplicação dos instrumentos de regularização
rança, não é possível ao STJ prosseguir no
julgamento de recurso ordinário quando o fundiária de imóveis públicos e privados pre-
mandado de segurança foi denegado sem vistos no artigo 183 da Constituição Federal
resolução do mérito por indeferimento da de 1988.
petição inicial. Isso porque é inaplicável,
nesta sede recursal, a teoria da causa ma- O Órgão Especial do TJSP proferiu julga-
dura, prevista no art. 515, § 3º, do Código mento sobre os instrumentos jurídicos da
de Processo Civil. usucapião especial urbana e da concessão
15. Recurso ordinário em mandado de se- de uso especial para fins de moradia, regu-
gurança a que se dá provimento para anu- lamentados pelo Estatuto da Cidade, nos se-
lar o acórdão de e-STJ, fls. 517/533, em ra- guintes termos:
zão da incompetência do órgão julgador,
e, por conseguinte, determinar o retorno 1Constitucionalidade da aplicação da
dos autos ao Tribunal de Justiça do Esta- concessão de uso especial para fins de
do de Minas Gerais, a fim de que prossiga moradia (CUEM) a imóveis públicos do
no julgamento da ação mandamental, em
Estado de São Paulo e Municípios, bem
observância ao disposto no art. 33, I, “d”,
do RITJMG. Prejudicados os agravos regi- como seu reconhecimento como direito
mentais. [grifamos] subjetivo (Art. 3º, MP 2.2220/2001);
1Constitucionalidade do o registro da
sentença declaratória da usucapião es-
pecial urbano alegada como matéria de
defesa (Art. 13, Lei 10.257/2001).
Constitucionalidade do artigo 3º da MP
2.2220/2001 - concessão de uso especial
para fins de moradia de imóveis públicos
estaduais e municipais
A MP 2.220/2001, parte integrante do Es-
tatuto da Cidade, dispõe sobre a concessão
de uso especial de que trata o §1º do art. 183
da Constituição.
A MP com força de lei define que aquele
que, até 30 de junho de 2001, possuiu como
seu, por cinco anos, ininterruptamente e

104
sem oposição, até 250 metros quadrados de QUESTÃO DE FUNDO PRELIMINAR -
imóvel público situado em área urbana, utili- NECESSIDADE DE RELATIVIZAÇÃO DE
zando-o para sua moradia ou de sua família, PRECEDENTE ACERCA DA MATÉRIA DA
ARGUIÇAO NESTE C. ÓRGÃO ESPECIAL-
tem o direito à concessão de uso especial INTELIGÊNCIA DO ART. 481 DO CÓDIGO
para fins de moradia em relação ao bem ob- DE PROCESSO CIVIL, C.C. ART. 191, PA-
jeto da posse, desde que não seja proprie- RÁGRAFO ÚNICO, DO REGIMENTO IN-
tário ou concessionário, a qualquer título, TERNO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
de outro imóvel urbano ou rural (art.1º). Tal ESTADO DE SÃO PAULO – EXISTÊNCIA
DE “MOTIVO RELEVANTE”, CONSISTENTE
direito, tratando-se de população de baixa TANTO NA PRESENÇA DA DEFENSORIA
renda, pode ser pleiteado coletivamente (art. PÚBLICA NESTE FEITO, ENQUANTO INS-
2º). TITUIÇÃO ESSENCIAL À JUSTIÇA, QUAN-
TO NA NECESSIDADE DE EVITAR A MAN-
Em 12/09/2011, arguição de inconstitu- TENÇA DE DECISÃO QUE REPRESENTAVA
cionalidade n° 0274211-77.2010.8.26.0000 foi VULNERAÇÃO A DIREITO SOCIAL FUN-
suscitada pela 8ª Câmara de Direito Público DAMENTAL - OCORRÊNCIA, ADEMAIS, DE
e acolhida pelo Órgão Especial do TJSP em DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL ACER-
CA DA CULTURA DO PROCEDENTE NO
12/09/2011. BRASIL - QUESTÃO DE FUNDO PRELIMI-
Nesta decisão do Órgão Especial do TJSP NAR AFASTADA.
acolheu-se a arguição por unanimidade ARGUIÇAO DE INCONSTITUCIONALIDA-
para reconhecer a inconstitucionalidade das DE – MEDIDA PROVISÓRIA N° 2.220/2001
expressões “dos Estados, do Distrito Federal CONCESSÃO DE USO ESPECIAL PARA FINS
e dos Municípios” constantes do art. 3º da DE MORADIA (CUEM) – ALEGADA VULNE-
RAÇÃO AO ART. 24, I, DA CONSTITUIÇÃO
Medida Provisória 2.220/2001. FEDERAL INOCORRÊNCIA - CONTOR-
NOS DE VERDADEIRA POLÍTICA PÚBLICA
Nesta linha, os argumentos das Apela- DE ABRANGÊNCIA NACIONAL - DEVER
ções 0305571-64.2009.8.26.0000 e 0129801- DO ESTADO-JUIZ DE INTERPRETA-LO
28.2007.8.26.0000 desta Corte também sus- CONFORME A CONSTITUIÇÃO, A PRES-
citaram a inconstitucionalidade da MP. As TIGIAR A CORRETA NARRATIVA DA NOR-
pretensões alegam conforme defendido por MA FUNDANTE, DECORRENTE, IN CASU,
Maria Sylvia Zanella Di Pietro que pela auto- DE HISTÓRICA REIVINDICAÇÃO DOS
MOVIMENTOS PELA REFORMA URBANA -
nomia federativa o possuidor de imóvel pú- SITUAÇÃO FUNDIÁRIA DO PAÍS E, EM ES-
blico não é titular de direito subjetivo oponí- PECIAL, DO ESTADO DE SÃO PAULO QUE
vel à Administração. DESAUTORIZA DESREGULAMENTAÇÃO
DA MATÉRIA - PERIGO DE REPETIÇÃO DO
Em 30/01/2013 o Órgão Especial do TJSP QUE SE OBSERVA NO CASO DO DIREITO
revoga tal precedente afirmando a constitu- DE GREVE, NA MEDIDA EM QUE INEXISTI-
cionalidade da MP 2.220/2001 e do seu arti- RIA, DE FORMA INEQUÍVOCA, INTERESSE
go 3º, sendo este o entendimento consoli- EM DISCIPLINAR ASSUNTO QUE TOCA
ASPECTOS PATRIMONIAIS DE ENOR-
dado pelo TJSP. ME RELEVO DE ESTADOS E MUNICÍPIOS
- RISCO, ADEMAIS, DE VER VULNERADO
A Arguição de Inconstitucionalidade n° DIREITO SOCIAL FUNDAMENTAL, NA ME-
0041454-43.2012.8.26.0000, suscitada pela DIDA EM QUE A CUEM REPRESENTA UMA
6ª Câmara de Direito Público, por maioria de DAS POUCAS HIPÓTESES LEGAIS DE RE-
votos foi rejeitada, sendo revogado o prece- GULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE INTERESSE
dente de inconstitucionalidade. SOCIAL EM IMÓVEIS PÚBLICOS URBANOS
PRECEDENTES DOUTRINÁRIOS ARGUI-
rArguição de Inconstitucionalidade nº ÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE RE-
0041454-43.2012.8.26.0000, Relator José JEITADA.
Renato Nalini; Comarca: São Paulo; Ór-
gão julgador: Órgão Especial; Data do Afastada a questão de fundo preliminar,
julgamento: 30/01/2013; Data de registro: rejeita-se Arguição de Inconstitucionali-
22/03/2013. Ementa do Acórdão: dade.

105
Constitucionalidade da segunda parte do rArguição de Inconstitucionalidade nº
artigo 13 Lei 10.257/2001 – registro da sen- 0191412-69.2013.8.26.0000, Relator Grava
tença de usucapião alegado como matéria Brazil; Comarca: São Paulo; Órgão julga-
dor: Órgão Especial; Suscitante: 19ª Câ-
de defesa mara de Direito Privado - Data do julga-
A Lei 10.257/2001, parte integrante do Es- mento: 26/02/2014. Ementa do Acórdão:
tatuto da Cidade, dispõe sobre a usucapião Arguição de inconstitucionalidade - Art.
especial urbana de que trata o art. 183 da 13, da Lei nº 10.257, de 10/07/2001 (Esta-
Constituição. tuto da Cidade) - Incidente suscitado pela
19ª Câmara de Direito Privado – Referido
O artigo 13 da Lei 10.257/2001 define que artigo busca dar concretude a outros ide-
a usucapião especial de imóvel urbano po- ais constitucionais, como a função social
da propriedade e a redução das desigual-
derá ser invocada como matéria de defesa, dades sociais - Sentença que reconhecer
valendo a sentença que a reconhecer como a usucapião invocada em defesa poderá
título para registro no cartório de registro de servir como título para registro no cartório
imóveis. de registro de imóveis, desde que observa-
dos os princípios do devido processo legal
Em 12/08/2013 acórdão da 19ª Câmara e da razoável duração do processo – Inter-
de Direito Privado do TJSP (Apelação com pretação do Art. 13 da Lei nº 10.257 à luz
revisão nº: 0052406-15.2011.8.26.0001, de da Constituição, não sendo o caso de aco-
lher a arguição de inconstitucionalidade
12/08/2015) suscitou incidente de inconsti- em prejuízo de outros princípios e ideais
tucionalidade da segunda parte do art. 13 da constitucionais – Não acolhimento – Im-
Lei 10.257/2001. procedência da arguição, com atribuição
de interpretação conforme.
A 19ª Câmara de Direito Privado defen-
deu a prevalência do papel da Jurisdição na
defesa da segurança às relações jurídicas ao
seu papel de promoção da pacificação so-
cial, e do princípio constitucional da celeri-
dade processual ao direito à moradia.
Em 26/02/2014 a arguição de inconstitu-
cionalidade nº 0191412-69.2013.8.26.0000
da segunda parte do art. 13, da Lei nº 10.257,
de 10/07/2001 (Estatuto da Cidade) foi julga-
da, por maioria de votos, improcedente pelo
Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São
Paulo, com fundamento do voto do Relator
Designado Grava Brazil.
O Órgão Especial do TJSP consolidou o
entendimento de que o referido artigo bus-
ca dar concretude a outros ideais constitu-
cionais, como a função social da proprieda-
de e a redução das desigualdades sociais.
Assentou que a sentença que reconhecer a
usucapião invocada em defesa poderá ser-
vir como título para registro no cartório de
registro de imóveis, desde que observados
os princípios do devido processo legal e da
razoável duração do processo. Foi julgada a
improcedência da arguição, com atribuição
de interpretação conforme.

106
107
V. CONSIDERAÇÕES FINAIS

108
reintegrações de posse e usucapião;
]
1. Apontamentos sobre o
1Chama atenção que o reconhecimen-
to da usucapião muitas vezes se dá por vias
papel do Judiciário Paulista transversas para diversas famílias de baixa
na aplicação do Direito renda devido às limitações ainda existentes
Urbanístico para seu acesso à justiça. Ou seja, uma vez
réus em ações de reintegração de posse de
áreas privadas onde moram e que não são
de sua propriedade, é solicitada a usucapião
A partir do estudo empírico da produção
como matéria de defesa;
jurisprudencial e organização judiciária do
TJSP sobre o Direito Urbanístico realizado 170% das lides sobre Direito Urbanístico
entre 2014 e 2015, é possível compreender estudadas foram provocada por particulares
melhor o papel do Tribunal Paulista na efe- (pessoas físicas ou jurídicas privadas), e me-
tivação do marco legal jurídico-urbanístico. nos de 30% suscitadas por órgãos públicos;
O estudo de aproximadamente 200 acór- 1O Município é réu na maioria (aproxi-
dãos da 2ª instância do TJSP proferidos en- madamente 54%) dos processos judiciais
tre 2009 e 2014 sobre a matéria, ilustram o que originaram os acórdãos estudados.
papel que a Corte Paulista vem desempe- Considerando, especialmente sua compe-
nhando diante dos conflitos urbanos que tência sobre o licenciamento urbanístico.
são submetidos a sua jurisdição. Seja relacionada ao direito de construir (de-
molição / interdição de edificação residen-
Quanto à produção jurisprudencial sobre
cial) seja relacionado ao parcelamento da
Direito Urbanístico observou-se:
cidade (loteamentos urbanos irregulares e
1Predominância de acórdãos que fa- clandestinos);
zem menção no texto de sua ementa à “Lei
1Nas ações coletivas a tutela do direito
10.257/2001”, seguida pelos que contém a
fundamental à moradia enquanto compo-
expressão “Direito Urbanístico”. Acórdãos
nente da ordem urbanística marca a atuação
que citam a expressão “Política Urbana” e o
da Defensoria Pública do Estado de São Pau-
“Artigo 182 da Constituição Federal” são me-
lo e a tutela ao patrimônio ambiental a do
nos recorrentes;
Ministério Público do Estado de São Paulo;
1Concentração de acórdãos nas Comar-
1A maior parte (67,4%) dos acórdãos em
cas mais populosas do Estado e, exceto Pre-
que há parte beneficiária da assistência jurí-
sidente Prudente, nos municípios mais ricos
dica gratuita refere-se a litígios sobre a posse
como São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto;
imóveis urbanos;
1Julgamento preponderante de ações
1A maior incidência nos acórdãos estu-
relativas à cobrança de IPTU progressivo
dados é de litígios sobre o uso e ocupação
aplicado incorretamente por municípios
do solo, litígios decorrentes da aplicação do
paulistas, seguido por acórdãos que julgam
IPTU progressivo em imóveis vazios ou su-
conflitos sobre a posse e uso e ocupação de
butilizados, regularização fundiária por usu-
áreas urbanas, incluindo: Ações Civis Públi-
capião ou reintegrações de posse;
cas impetradas pelo Ministério Público Esta-
dual de São Paulo sobre a regularização de 1Nos acórdãos que tratam de conflitos
loteamentos urbanos irregulares e clandes- fundiários urbanos identificados pela pes-
tinos, bem como de conflitos em torno da quisa o litígio se dá em 80% dos casos entre
posse de imóveis urbanos em que é solici- particulares pessoas físicas, ou entre empre-
tada a remoção e relocação de famílias de sas e réus pessoas físicas. E em 62,5% dos ca-
assentamentos informais urbanos, ações sos há assistência jurídica gratuita a uma das

109
partes e em 52% há litisconsorte necessário 1Utilização do Plano Diretor Municipal
em um dos pólos da ação judicial, caracte- como parâmetro para a decisão sobre a fun-
rizando assim uma coletividade de famílias; ção social da propriedade e da cidade, ape-
nas em 5 acórdãos;
1Quanto à utilização dos imóveis urba-
nos, a maior parte se refere a imóveis que 1A reflexão e argumentação jurídica so-
não cumprem a função social por estarem bre a natureza desta disciplina se dá pre-
“vazio/ não utilizado / subutilizado” e por dominantemente nos acórdãos em que
imóveis urbanos utilizados para fins de “mo- as Câmaras Reservadas de Meio Ambiente
radia de interesse social”, caracterizada pela suscitam conflito negativo de competência,
moradia da população de baixa renda; justificando porque não seria sua atribuição
julgar matérias de Direito Urbanístico;
1Em 75% dos acórdãos não consta a ca-
racterização da situação ambiental da área 1Na maioria dos acórdãos há referência
urbana sob judice. Muitas vezes, apesar das ao papel do Poder Público na decisão, destes
Ações Civis Públicas tratarem da reparação a maioria define obrigações para o Municí-
de danos ambientais, não é detalhado no pio. Sendo que nos acórdãos em que o TJSP
acórdão qual seria o patrimônio ambiental se posicionou sobre a discricionariedade es-
afetado e o dano ambiental efetivo causado; tatal, em 41% o Tribunal entendeu que não
há discricionariedade do Poder Público em
1Quanto à situação urbanística, a maio- relação à obrigação de fazer relacionada ao
ria trata de imóveis vazios ou abandonados, Direito Urbanístico;
sem qualquer utilização urbana, seguido por
acórdãos que tratam de obras ou edifica- 1Em menos de 13% dos acórdãos houve
ções urbanas irregulares e casos de parcela- alguma reflexão por parte do Desembarga-
mento/loteamento irregular ou clandestino, dor Relator sobre a função do Poder Judi-
utilizados como moradia de interesse social ciário na solução da lide. Destes, em 7% dos
ou específico; casos fez-se menção à função pacificadora
da Jurisdição, e em 5% destacou-se o seu
1Quanto à fundamentação dos acór- papel na segurança das relações jurídicas
dãos, embora o princípio da função social da ou outro argumento calcado na primazia do
propriedade urbana seja o de maior incidên- formalismo processual;
cia, os princípios relacionados aos aspectos
formais do processo judicial são predomi- 1Nos modos de solução de conflitos
nantes se somados. Destaca-se a incidên- identificados nos acórdãos, identificou-se de
cia dos princípios relacionados à celeridade forma predominante o Tribunal sendo pro-
processual, ao devido processo legal, à lega- vocado por particulares para corrigir a atu-
lidade e segurança jurídica; ação estatal, definindo obrigações de não
fazer. Em seguida, acórdãos que reconhe-
1A principal fundamentação dos acór- cem direitos como à regularização fundiária
dãos não se dá pelos princípios ou pelos e urbanística;
dispositivos constitucionais, mas sim pela
legislação infraconstitucional, com destaque 1Nos casos de conflito entre direitos, in-
para a Lei 10.257/2001 do Estatuto da Cidade cluindo direitos fundamentais, como direito
(especialmente os dispositivos sobre a usu- à moradia e meio ambiente, ou ainda direito
capião), para Leis Municipais e para o Código à moradia e direito à propriedade, observa-
de Processo Civil; mos que a argumentação jurídica sobre a
prevalência de um direito sobre o outro é
1Desconhecimento por parte dos julga- mais recorrente do que a ponderação entre
dores das diretrizes gerais da Política Nacio- os direitos envolvidos;
nal de Desenvolvimento Urbano (art. 2º Es-
tatuto da Cidade); 1Quanto aos mecanismos de solução
de conflitos, verificou-se que em menos de

110
10% dos acórdãos estudados houve menção São números relevantes do TJSP hoje:
a vistorias na área em litígio ou realização de
perícias no processo judicial; b2,3 mil magistrados de 1º grau;

1Percebe-se que a excessiva demanda b360 desembargadores (maioria homens e


processual e a preocupação com a celeri- brancos);
dade ou distribuição do processo judicial da bCerca de 52.350 servidores (43340 efetivos
Câmara em que se encontra, muitas vezes + 9010 terceirizados);
prejudica o julgamento de mérito e quali-
dade das decisões analisadas. E por vezes, b23 mil novas ações judiciais todos os dias;
sua efetividade e o próprio papel do Poder
b1.462 Varas Instaladas (1.700 previstas);
Judiciário na realização da justiça. É bas-
tante recorrente a utilização do artigo 252 b26,1 milhões processos judiciais tramita-
do Regimento Interno do TJSP que dispõe dos em 2014, sendo 5,7 milhões de casos
que “Nos recursos em geral, o relator poderá novos e 20,3 milhões processos pendentes,
limitar-se a ratificar os fundamentos da deci- resultando em 4,8 milhões de sentenças e
são recorrida, quando, suficientemente mo- 5,3 milhões processos baixados;
tivada, houver de mantê-la”. Casos em que,
são reiterados os argumentos da decisão de b160 mil ações sobre conflitos fundiários,
1ª instância e não é feita qualquer nova aná- das quais 35 mil correm na capital (Presidên-
lise sobre o mérito recursal; cia do TJSP, Folha de SP - 29/07/2015).

1Decisões relevantes sobre a constitu-


cionalidade do Estatuto da Cidade foram
proferidas pelo Órgão Especial do TJSP, re-
ferente à aplicação da concessão de uso
especial para fins de moradia a imóveis pú-
blicos estaduais e municipais (art. 3º da MP
2.220/2001) e ao registro no Cartório de
Imóveis da sentença declaratória do direito à
usucapião alegado como matéria de defesa
e (art. 13 da Lei 10.257/2001).
No tocante à organização judiciária bus-
cou-se compreender a estrutura atual do
TJSP, sua evolução histórica e missão insti-
tucional, além dos desafios atuais para a or-
ganização do maior tribunal estadual do país
e da América Latina.
O diálogo com diversos servidores de di-
versas instâncias do TJSP (Biblioteca, CADIP,
CAJUFA, Secretaria Judiciária da 2ª instân-
cia, Presidência) foi muito relevante para se
compreender o Tribunal por dentro e sua
lógica de funcionamento. Bem como a soli-
citação de informações via SIC – Serviço de
Informação ao Cidadão do TJSP.

111
112
foram definidos como indicadores: Índice
de Confiança no Poder Judiciário SP (FGV)
(referência 31/dez/2014), Taxa de Congestio-
Planejamento Estratégico TJSP namento (referência 31/dez/2014), Taxa de
2015/2020 atendimento à demanda (referência 2014),
Índice de Satisfação do Jurisdicionado (refe-
No ciclo do Planejamento Estratégico do rência pesquisa em 2015).
TJSP 2015/2020 a Missão, razão da existência
das organizações, foi revisada para “Resolver No do objetivo estratégico “Adotar mé-
conflitos da Sociedade, no âmbito de sua todos adequados de soluções de conflitos”
competência, para preservação dos direitos, foi definida a Meta nº 14.1: Elevar em 10%
por meio do julgamento de processos ou o índice de sucesso nas audiências nas fa-
de métodos adequados” e a Visão tornou- ses pré- processual e processual até 31/
-se “Ser reconhecido nacionalmente como dez/2020 (referência 31/dez/2014). A promo-
um Tribunal moderno, célere e tecnicamen- ção de acordos pré-processuais e processu-
te diferenciado, tornando-se um instrumen- ais, por meio de mediações e conciliações
to efetivo de Justiça, Equidade e Paz Social”. será considerada para o indicador Índice de
Para conhecer todo o plano: http://www. sucesso nas audiências – fases pré-proces-
tjsp.jus.br/Download/PlanejamentoEstrate- sual e processual. Tal medida visa atender a
gico/PlanejamentoEstrategico_2015_2020. Resolução CNJ 198/2014 e também à meta
pdf. 3/2015 (aumentar os casos solucionados por
conciliação). Além disso, a Alta Administra-
A celeridade processual, a confiança e a ção do TJSP elencou a disseminação da cul-
satisfação do jurisdicionado compõe as me- tura da desjudicialização, mediante estímulo
tas do planejamento do Tribunal. Para tanto à multiplicação de CEJUSCs por todo o Esta-
do, dentre as prioridades apontadas.

113
Assim, a partir da pesquisa empírica reali- envolvem coletividades urbanas;
zada verificou-se em relação à organização
judiciária do TJSP: 1Cerca de 75% dos acórdãos estudados
de Direito Urbanístico selecionados para es-
1Na organização de assuntos dos pro- tudo foram julgados na Seção de Direito Pú-
cessos judiciais do CNJ utilizada pelo TJSP blico, que inclui as Câmaras Reservadas de
nos sistema @-SAJ de pesquisa completa de Meio Ambiente. Na Seção de Direito Privado
jurisprudência, o Direito Urbanístico e o Di- foram julgados menos de 25%;
reito Ambiental não constam como ramos
do Direito. As matérias relacionadas a estas 1Dos 24 acórdãos distribuídos para as
disciplinas jurídicas estão dispersas em ou- Câmaras Reservadas de Meio Ambiente,
tras categorias, especialmente Direito Admi- em 72% dos casos foi suscitado pelo Relator
nistrativo/ Direito Público e Direito Privado; conflito negativo de competência, direcio-
nando o recurso para as Câmaras de Direito
1Há inconsistências na categorização Público Não Especializadas;
dos assuntos de Direito Urbanístico dos re-
cursos distribuídos pelo TJSP, gerando erros 1Em 2015 houve restrição da competên-
no banco de dados do Tribunal e na distri- cia das Câmaras Reservadas de Meio Am-
buição para as Seções de Direito Público e biente ao meio ambiente natural, excluindo
Privado; o julgamento das matérias relacionadas ao
meio ambiente urbano de ordem pública da
1Dos cerca de 200 acórdãos estudados, Câmara Especializada;
que citam expressões relevantes para a dis-
ciplina urbanística em sua ementa, nenhum 1Não há Câmaras ou Varas Especializa-
foi classificado com os assuntos “ordem ur- das na temática do Direito Urbanístico no
banística”, “moradia”, “conflito fundiário co- TJSP. Em 2015, proposta de criação de Va-
letivo urbano”, apesar de existirem diversos ras e Câmaras Especializadas de Conflitos
processos judiciais e recursos impetrados Fundiários Coletivos Urbanos e Rurais, em
tratando desta matéria. Outras diversas ca- conformidade com as exigências do CNJ e
tegorias de assuntos já existentes na clas- artigo 125 da Constituição Federal foi sub-
sificação do TJSP como “Parcelamento do metida à análise no Conselho Superior da
solo urbano” são pouco utilizadas mesmo Magistratura o TJSP;
havendo grande número de recursos sobre 1Há matérias de ordem pública relacio-
o assunto; nadas aos direitos urbanos (ex. parcelamen-
1Inúmeras lides conexas foram analisa- to urbano, direito social à moradia e direito à
das de forma dispersa e individualmente pela cidade sustentável) julgadas pelas Câmaras
1ª e 2ª instância do TJSP, como o caso dos de Direito Privado com foco no direito do
loteamentos urbanos irregulares dos Parque consumidor, direito comercial e civil;
Continental de Guarulhos, exigindo procedi- 1Percebe-se o desconhecimento dos
mentos próprios para a análise conjunta da julgadores (Desembargadores Relatores)
situação de conflito coletivo urbano. Neste da jurisprudência e precedentes do próprio
sentido, desde 2014 é este o primeiro caso TJSP sobre matérias urbanísticas.
que está sendo tratado pela Câmara de Me-
diação e Conciliação Socioambiental e Ur-
banístico do Tribunal. O que aponta para
a necessidade de especialização de Varas
e Câmaras do TJSP para tratar de conflitos
coletivos urbanos, a fim de efetivar a missão
do tribunal no tocante a promoção da paci-
ficação social bem como buscar maior efi-
ciência em relação a casos complexos que

114
Para o jurista Boa Ventura de Souza Santos,
]
2. Recomendações para o
ao desvendar a “sociologia das ausências”1,
tais ausências são socialmente produzida,
algo ativamente produzido como não exis-
fortalecimento do Direito tente. Como a procura de direitos de grande
Urbanístico no TJSP maioria dos cidadãos das classes populares.
Esta “procura suprimida” se for considerada
levaria a uma grande transformação do sis-
A importância da atuação do Poder Ju- tema judiciário e do sistema jurídico em ge-
diciário e de suas instituições é indiscutível ral, tão grande que faz sentido falar em uma
em um Estado Democrático de Direito. Cada revolução democrática da justiça. Para San-
vez mais este Poder tem influído nos rumos tos são vetores principais desta necessária
do país. Nesse contexto, os Tribunais se transformação profundas reformas proces-
configurariam como um local de exercício suais, novos mecanismos e novos protago-
e concretização da cidadania. Se, historica- nismos no aceso ao direito e à justiça, nova
mente este ainda é um desafio da sociedade organização e gestão judiciária, revolução
e Estado Brasileiro, é urgente que esse qua- na formação de magistrados desde as Fa-
dro seja alterado. culdades de Direito até a formação perma-
nente, novas concepções de independência
Esta pesquisa empírica identificou diver- judicial, uma relação do poder judicial mais
sas “ausências” relacionadas ao Direito Ur- transparente com o poder político e a mídia,
banístico na organização judiciário do TJSP e mais densa com os movimentos e orga-
foram identificadas ao longo da pesquisa. O nizações sociais, assim como uma cultura
não reconhecimento de lides que tratam de jurídica democrática e não corporativa.
conflitos fundiários urbanos e matérias urba-
nísticas pelo TJSP na classificação de assun- Neste cenário, o aprimoramento da orga-
tos que orienta a distribuição dos recursos, os nização e funcionamento do Poder Judici-
diversos conflitos negativos de competência ário é estratégico para sua maior eficiência
suscitados pela Câmara Reservada de Meio na promoção de justiça nas cidades. Assim
Ambiente sobre os recursos que tratam de como, a consolidação de jurisprudência que
matérias sobre o meio ambiente urbano e fortaleça a efetividade do avançado marco
a recente restrição da especialização destas legal urbano brasileiro, com destaque para o
instâncias especializadas ao meio ambien- Estatuto da Cidade.
te natural, o predominante julgamento das
A realidade mostra que há um descom-
matérias relacionadas aos instrumentos de
passo entre a atuação do Poder Judiciário
política urbana como o IPTU progressivo pa-
e as necessidades sociais. Isto decorre do
rafiscal nas Câmaras de Direito Público Espe-
Modo de Produção do Direito que preva-
cializadas em Tributos, a divergência sobre a
lece nos tribunais em geral. O jurista Lênio
competência da Seção de Direito Público e
Luiz Streck, aponta que o Poder Judiciário dá
Privado sobre as matérias sobre o parcela-
tanta primazia às normas processuais que
mento do solo urbano, a inexistência de pro-
quando encontra um caso incomum envol-
cedimentos e Câmaras específicas para tra-
vendo direitos difusos não consegue encon-
tar dos Conflitos Fundiários Urbanos, e desta
trar a resposta correta. Lembra de um indig-
forma seu adequado tratamento, prevenção
nado comentário de um juiz de São Paulo,
e conciliação, a aplicação da disciplina civil
José Roberto Lino Machado, que ilustra bem
privada para conflitos de ordem pública re-
essa problemática: ‘Não há emprego para os
lacionados ao direito difuso à ordem urba-
pobres. Não há moradia para os pobres. Mas
nística, compões um quadro que pode ser
os juristas insistem em defender a intangibi-
sintetizado pelo “não lugar do Direito Urba-
lidade da propriedade dos bens de produção
nístico” no TJSP.
1 SANTOS, Boaventura de Sousa. Para uma revolução demo-
crática da justiça. São Paulo: Cortez, 2007, p.32 e 33.

115
e de terras não utilizadas para nenhum fim rica em Direito. Uma vez aberta a “caixa de
social com a única intenção especulativa ou Pandora” restaria também a esperança, que
por simples inércia de seu proprietário”2. para ele seria “a possibilidade de a dogmáti-
ca jurídica melhorar, no sentido de auxiliar a
É neste sentido, se a pesquisa empírica produzir decisões mais aderentes à realidade
para a dogmática jurídica pode ser ilustrada social”.
como “uma caixa de Pandora”3 com o po-
tencial de revelar seus males, conforme sin- Desta forma, conhecer a realidade da
tetizou Carlos Alberto de Salles, nas reflexões produção jurisprudencial e da organização
e debates do I Encontro de Pesquisa Empí- o Poder Judiciário são essenciais para que
2 STRECK, Lênio Luiz. Hermenêutica Jurídica e(m) Crise: se possa tomar medidas concretas para seu
uma exploração hermenêutica da construção do direito. p. fortalecimento e democratização para que
66.
3 Para Carlos Alberto de Salles, Desembargador do TJSP pelo quin- possa de fato promover a justiça e ser efi-
to constitucional do Ministério Público, de forma bastante resumi- ciente na solução de conflitos urbanos, cada
da, para a dogmática jurídica, a pesquisa empírica pode ser ilustrada
como a “Pandora, que abre a caixa de todos os males”. Desde a soli- vez mais recorrentes e desafiadores do pa-
dão e isolamento da dogmática jurídica até a dificuldade de se saber
como se conhecem os limites do real para as normas jurídicas. Para pel da Jurisdição.
ele, talvez a resposta seja mesmo a pesquisa empírica. Entendendo
a dogmática, a grosso modo, como o conjunto de conhecimen- É com esta inspiração que se deu a obser-
tos de que o jurista precisa para decidir ou para propiciar a terceiro
condições para uma tomada de decisão envolvendo o fenômeno vação e estudo da produção jurisprudencial
da normatividade, tanto estatal como social. Para ele os “males” liber- do TJSP, buscando entender tanto o conte-
tados por “Pandora” podem ser resumidos em três principais deses-
truturações do pensamento jurídico dogmático: 1) Desestruturação údo das decisões selecionadas e sua con-
do próprio discurso do jurista. Porque o discurso jurídico tem como
característica central uma imputação de valor. O dever ser, material tribuição para o Direito Urbanístico, como
básico do estudioso do direito, é uma afirmação de valores encon- os aspectos que as conformam, na própria
trados na norma e projetados na realidade social. E esses valores são
extremamente relativizados quando expostos à realidade dos fatos. organização do Poder Judiciário Paulista.
Muitas vezes, o discurso jurídico resta, então, fragilizado pela consta-
tação empírica de sua ineficácia. 2) Desestruturação sistêmica, isto
é, do próprio sistema jurídico. O jurista, até pela necessidade de es- Por mais assustadora que possa ser a
tabilização do seu pensamento e do seu modo decisório, precisa imagem refletida no espelho do Judiciário, a
enxergar o direito – a contribuição kelseniana leva a esse sentido
– como um sistema, como uma concatenação de normas que fa- partir das pesquisas empíricas a serem reali-
zem um sentido, não só apenas exteriormente, mas também entre zadas, é possível enfrentar, sem criminalizar
si. Por essa razão, a noção de sistema é muito cara aos estudiosos
do direito. Nesse aspecto, mais uma vez, a ciência dos fatos acaba nem estigmatizar. Descrever suas práticas e
mostrando que o sistema não funciona como deveria funcionar. Se
nós pegarmos a CF mesma, a norma de maior hierarquia, vamos explicitá-las permite aos operadores do Di-
ver que há direitos só no papel, que não são minimamente efetivos. reito conhecer aquilo que estão fazendo e
Nossa Pandora, que é a pesquisa empírica, libera a consciência de
que há conceitos que não funcionam. O Judiciário, como objeto de ao tomar consciência, optar se querem con-
pesquisa, desvenda-se muito distante daqueles princípios que de-
veria seguir. A empiria desestrutura a noção de sistema que, longe tinuar fazendo mais do mesmo ou se que-
dos fatos, parece funcionar. Em geral, o jurista tradicional, não gosta rem partir para novas perspectivas de atua-
da pesquisa empírica, porque os dados fáticos o incomodam. 3) De-
sestruturação funcional da dogmática jurídica. Uma desestruturação ção.
que diz respeito ao próprio modus faciendi de como o jurista traba-
lha. Porque é preciso trabalhar com um dado empírico, um dado Considerando a função pacificadora do
que é móvel, que é relativo, que é referenciado no tempo. A maneira
tradicional como o profissional do direito trata os fatos não funciona Poder Judiciário Paulista, instado a resolver
adequadamente nessas condições. Como trabalhar com fatos que
vão contra a lógica normativa? Aponta que nos Estados Unidos o não apenas os processos que lhe chegam às
dado de fato tem mais consideração na construção do pensamento mãos, como também contribuir para a solu-
jurídico e na maneira de decidir. A própria common law e a ma-
neira pela qual a normatividade nela se produz, a existência do júri, ção dos conflitos que fundamentam as lides,
mesmo para causas cíveis, e o impacto do legal realism, que chegou
à Suprema Corte americana, são fatores que talvez expliquem essa seu papel na implementação do marco legal
diferença para ele. Para finalizar lembra que uma parte interessan- jurídico-urbanístico brasileiro, das políticas
te dessa narrativa mitológica diz que, quando se soltaram todos os
males, inclusive com danos físicos à Pandora, algo ainda teria ficado públicas e na garantia de direitos fundamen-
na caixa. Era justamente a esperança. Afinal, ela só passaria a fazer tais para que vivamos em cidades mais jus-
sentido depois de liberados todos os males. Entende que a pesquisa
empírica traz para o direito e para a dogmática jurídica uma liberação tas e saudáveis, apresentamos contribuições
de vários males, mas traz também esperança. No caso, essa esperan-
ça é, exatamente, a possibilidade de a dogmática jurídica melhorar, para que tais objetivos sejam alcançados.
no sentido de auxiliar a produzir decisões mais aderentes à realidade
social. Para saber mais, consultar: IPEA, Pesquisa Empírica em Direito, São recomendações para o fortalecimen-
2011 - Anais do I Encontro de Pesquisa Empírica em Direito, realizado
em Ribeirão Preto, 29 e 30 de setembro de 2011, a partir do qual foi to do Direito Urbanístico no TJSP, elaboradas
fundada a Rede de Pesquisa Empírica em Direito (REED). Disponível
em http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/livros/ a partir das constatações da pesquisa empí-
livro_pesquisa_empirica_direito.pdf.

116
rica realizada. nados, dentre outros.
rModernização do sistema cadastral de
processos do TJSP: Integração do sistema
Produção jurisprudencial do Direito Urba- da 1ª e 2ª instância a fim de agilizar e sim-
nístico plificar distribuição de processos e aprimo-
rDivulgação de jurisprudência de refe- ramento dos campos de cadastro de forma
rência sobre o Direito Urbanístico: que seja possível uma melhor caracterização
das partes (beneficiárias da assistência jurídi-
Informativo para juízes e desembargado- ca gratuita) e da lide dos processos judiciais
res sobre acórdãos paradigmáticos para co- (ações coletivas, ações similares impetradas
nhecimento pelo próprio Tribunal; em massa).
Elaboração de banco de jurisprudências rProdução de Súmulas e Enunciados4
paradigmáticas sobre Direito Urbanístico; sobre Direito Urbanístico: Elaboração de
orientação a partir das matérias assentadas
rCiclos de palestras e curso de especia-
pelo Órgão Especial e de posicionamento
lização sobre Direito Urbanístico:
majoritário das Seções de Direito Público e
Formação permanente sobre o marco de Direito Privado, para a padronização de
legal jurídico-urbanístico, suas alterações, e entendimentos relacionados temas de Direi-
políticas públicas relacionadas; to Urbanístico.
Parcerias do IBDU com o CAJUFA, Escola rPlanejamento Estratégico: definir me-
Superior de Magistratura, Escola Superior do tas específicas para a prevenção e mediação
Ministério Público de São Paulo, Escola da de conflitos fundiários coletivos e procedi-
Defensoria Pública do Estado de São Paulo, mentos mais eficientes para julgamento de
Escola Superior da Procuradoria Geral do Es- processos individuais conexos impetrados
tado, Centro de Estudos Jurídicos da Procu- em grande escala.
radoria Geral do Município de São Paulo.
Interlocução dos magistrados e do TJSP
com outras áreas do conhecimento para o
aprimoramento do Sistema Judiciário.

Organização judiciária do Direito Urbanís-


tico: padronização e aprimoramento de
procedimentos internos: 4 ENUNCIADOS CAJUFA APROVADOS NA DATA DE
05/3/2013:
rPadronização ementas: Para aperfeiço- 1- No controle judicial de políticas públicas, a justa resolução
ar consulta no SAJ/TJSP para cidadãos, ser- das demandas coletivas exige do magistrado conhecimento
sistemático da ação ou programa governamental, alcançan-
vidores e magistrados; do a sua dimensão sociológica e finalística.

rTabela de assuntos utilizado para clas- 2- Nas tutelas de urgência, o direito à moradia qualifica-se
como direito público subjetivo, equiparável ao direito de pro-
sificação dos processos e jurisprudências: priedade do Poder Público na proteção possessória, a exigir
Criar categoria de assunto autônoma de “Di- um juízo de ponderação no caso concreto.
reito Urbanístico” na organização dos temas 3- Na tentativa de solução das ações que envolvam conflito
entre o direito à moradia e o direito de propriedade, o Poder
tratados do CNJ e SAJ/TJSP; Judiciário deverá adotar preponderantemente uma postura
mediadora, coordenadora, articuladora, em última instância,
rCorreções de problemas do sistema conciliadora.
SAJ/TJSP de pesquisa jurisprudencial: fun- 4- Em restrição ao controle de políticas públicas a reserva
ções da pesquisa livre como soma de pala- do possível alegada pelo Poder Público é insuficiente se não
houver a respectiva contextualização e demonstração de
vras, lapso temporal dos acórdãos selecio- medidas concretas realizadas pelo Governo.

117
Organização judiciária do Direito Urbanís-
tico: Estruturação do TJSP:
rFortalecimento do Grupo de Trabalho
de Mediação e Conciliação Socioambien-
tal e Urbanístico do Centro Judiciário de
Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc):
Ampliação para todas as Comarcas. Prioriza-
ção dos de litígios envolvendo coletividades
de baixa renda com o direito fundamental à
moradia em situação de risco e vulnerabili-
dade;
rCâmaras Reservadas de Meio Ambien-
te: Devem tratar o meio ambiente de forma
integrada tanto o natural como o artificial/
urbano para a concretização do direito à ci-
dade sustentável;
rCriação de Varas Especializadas de
Conflitos Fundiários Coletivos Urbanos e
Rurais: objetivando a uniformização das
decisões e o desenvolvimento de procedi-
mentos específicos, calcados numa cultura
de pacificação e diálogo e adequados às
particularidades desse tipo de conflito;
rCriar procedimento de prevenção,
mediação e conciliação para casos de con-
flito fundiário: elaboração de normativo so-
bre procedimento a ser adotado por juízes
de 1ª e 2ª instância em caso ações de reinte-
gração de posse ou remoção de famílias de
baixa renda com a exigência de:
1vistoria na área urbana e constatação
do tempo de posse, número de família e
cumprimento da função social da área ur-
bana;
1realização de audiência de conciliação
envolvendo autoridades competentes pela
provisão habitacional e política de desenvol-
vimento urbano;
1ponderação entre direitos fundamen-
tais envolvidos e medidas efetivas para a pa-
cificação social e realização da justiça.

118
Referências

BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria de Assuntos Legislativos. Conflitos Coletivos sobre


a Posse e a Propriedade de Bens Imóveis. Série Pensando o Direito v. 7. Coordenação: Nelson
Saule Junior, Daniela Libório e Arlete Aurelli. Brasília: Ministério da Justiça, 2009.
DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma Introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro,
Rocco, 1987.
DI SARNO, Daniela Campos Libório. Elementos de Direito Urbanístico. Barueri/SP: Manole,
2004.
FREITAS FILHO, Roberto; LIMA, Thalita Moraes. Metodologia de análise de decisões. IN:
Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI/UFC – Fortaleza, 2010. Disponível em : http://
www.conpedi.org.br/anais_fortaleza.html.
KANT LIMA, Roberto; BAPTISTA, Bárbara Gomes Lupetti. O desafio de realizar pesquisa
empírica no Direito: uma contribuição antropológica. Instituto Nacional de Ciência e Tecno-
logia – Instituto de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos (INCT-
-InEAC). http://www.uff.br/ineac/sites/default/files/o_desafio_de_realizar_pesquisa_empirica_
no_direito.pdf
SANTOS, Boaventura de Sousa. Para uma revolução democrática da justiça. São Paulo:
Cortez, 2007.
SAULE JUNIOR, Nelson; DI SARNO, Daniela Campos Libório (coord.). Soluções Alternativas
para Conflitos Fundiários Urbanos. Brasília: Ministério da Justiça, Secretaria de Reforma do
Judiciário, 2014.
SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. 5ª edição. São Paulo: Malheiros, 2008.

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