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Rio de Janeiro, 01 de julho de 2016

ISSN: 2446-7014 • Número 37

BOLETIM GEOCORRENTE CONSELHO EDITORIAL


O Boletim Geocorrente é uma publicação quinzenal vinculada ao
Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC), do Conselho de Estudos Editor Responsável
Político-Estratégicos (CEPE) da Marinha do Brasil. O NAC possui Leonardo Faria de Mattos (EGN)
o objetivo de acompanhar a Conjuntura Internacional sob o olhar Editor Científico
teórico da Geopolítica, a fim de ampliar o conhecimento por meio
da elaboração deste boletim, além de outros produtos que porventura Francisco Eduardo Alves de Almeida (ISCSP- Univ. Lisboa)
venham a ser demandados pelo Estado-Maior da Armada. Editores Adjuntos
Para isso, o grupo de pesquisa ligado ao Boletim conta com integrantes Danillo Avellar Bragança (UERJ)
de diversas áreas de conhecimento, cuja pluralidade de formações e Felipe Augusto Rodolfo Medeiros (EGN)
experiências proporciona uma análise ampla de contextos e cenários Jéssica Germano de Lima Silva (EGN)
geopolíticos e, portanto, um melhor entendimento dos problemas Noele de Freitas Peigo (FACAMP)
correntes internacionais. Assim, procura-se identificar os elementos
agravantes, motivadores e contribuintes para a escalada de conflitos Pesquisadores do Núcleo de Avaliação da Conjuntura
e crises em andamento, bem como, seus desdobramentos. Adriana Escosteguy Medronho (PUC - Rio)
André Figueiredo Nunes (UFRJ)
NORMAS DE PUBLICAÇÃO Ariane Dinalli Francisco (PUC - Rio)
Esse Boletim tem como objetivo publicar artigos curtos tratando de Carlos Henrique Ferreira da Silva Júnior (UFRJ)
assuntos da atualidade e, eventualmente, de determinados temas de Dominique Marques de Souza (UFRJ)
caráter geral sobre dez macrorregiões do Globo, a saber: América do Ely Pereira da Silva Júnior (UERJ)
Sul; América do Norte e Central; África Subsaariana; Oriente Médio Eliza Carvalho Camara Araujo (UERJ)
e Norte da África; Europa; Rússia e ex-URSS; Sul da Ásia; Leste Franco Aguiar de Alencastro Guimarães (PUC - Rio)
Asiático; Sudeste Asiático e Oceania; Ártico e Antártica. Ainda, Gabriela da Conceição Ribeiro da Costa (UERJ)
algumas edições contam com a seção “Temas Especiais”, voltada a Jéssica Pires Barbosa Barreto (UERJ)
artigos que abordam assuntos não relacionados, especificamente, a João Victor Marques Cardoso (UFF)
uma das regiões supracitadas. José Gabriel de Melo Pires (UFRJ)
Para publicar nesse Boletim, faz-se necessário que o autor seja Lais de Mello Rüdiger (UFRJ)
pesquisador do Grupo de Geopolítica Corrente, do Núcleo de Louise Marie Hurel Silva Dias (PUC - Rio)
Avaliação da Conjuntura do CEPE e submeta seu artigo contendo, Luciane Noronha Moreira de Oliveira (EGN)
no máximo, 350 palavras ao processo avaliativo. A avaliação é feita Luma Teixeira Dias (UFRJ)
por pares, sem que os revisores tenham acesso ao nome do autor Marcelle Siqueira Santos (UERJ)
(blind peer review). Ao fim desse processo, o autor será notificado Marcelle Torres Alves Okuno (IBMEC)
via e-mail de que seu artigo foi aceito (ou não) e que aguardará a Matheus Souza Galves Mendes (UFRJ)
primeira oportunidade de impressão. Pedro Allemand Mancebo Silva (UFRJ)
Pedro Emiliano Kilson Ferreira (UFF)
CORRESPONDÊNCIA Pedro Mendes Martins (UERJ)
Escola de Guerra Naval – Conselho de Estudos Político-Estratégicos. Philipe Alexandre Junqueira (UERJ)
Av. Pasteur, 480 - Praia Vermelha – Urca - CEP 22290-255 - Rio de Raissa Pose Pereira (UFRJ)
Janeiro/RJ - Brasil (21) 2546-9394 Stefany Lucchesi Simões (UNESP)
E-mail: geo.corrente@yahoo.com.br. Thayná Fernandes Alves Ribeiro (UFRJ)
Aos cuidados do Editor Responsável do Boletim Geocorrente. Vinícius de Almeida Costa (EGN)
Vinicius Guimarães Reis Gonçalves (UFRJ)
Vivian de Mattos Marciano (UFRJ)
Viviane Helena Silva da Rocha (UERJ)

Os textos contidos nesse Boletim são de responsabilidade única dos membros do Grupo, não retratando a opinião
oficial da Escola de Guerra Naval nem da Marinha do Brasil.

SUMÁRIO
• Novas questões de segurança no Norte da Amazônia (Pag. 2) • OCX e Índia: Rumo a uma esfera de segurança eurasiática? (Pag.6)
• Inaugurado o “novo” Canal do Panamá (Pag. 2) • Coreia do Norte ignora sanções e segue com programa nuclear (Pag.7)
• Os Vingadores do Delta do Níger (Pag.3) • A eterna disputa entre a China e o Japão (Pag.7)
• O espaço marítimo do Kuwait (Pag. 3) • Engajamentos no Mar do Sul da China e as frotas pesqueiras (Pag. 8)
• Reino Unido: Independência ou morte? (Pag. 4) • Novo Livro Branco Neozelandês e a prioridade para a Antártica (Pag. 8)
• Reação da União Europeia ao “Brexit” (Pag. 5) • Noruega para além da OTAN (Pag. 9)
• Ucrânia pós-Brexit: o sonho europeu acabou? (Pag. 5) • Artigos selecionados e notícias de Defesa (Pag. 10)
• Conflito da Caxemira: As “novas” velhas militâncias (Pag. 6)
América do Sul
Novas questões de segurança no Norte da Amazônia Por: Adriana Medronho
Em informe publicado em junho, a ONG Global Witness informou que a América Latina detém os
maiores números de assassinatos de ecologistas no mundo. Em 2015, 185 mortes se deram principalmente
por conta das disputas por território em áreas de extração ilegal de madeira. No Brasil, esse recurso natural
representa 25% do comércio madeireiro mundial e, junto às disputas oriundas da mineração ilegal e à presença
do narcotráfico na região, resumem o grave
cenário de instabilidade nas fronteiras entre
Brasil, Colômbia, Peru e Venezuela. A
política de intensificação do papel do Exército
Brasileiro na região enfrenta desafios,
neste ano, em razão da atual conjuntura de
instabilidade política e econômica dos países
fronteiriços.
Na Colômbia, o acordo de paz
recém firmado com as Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (FARC) Foto: Revistaepoca.globo.com
revela problemas advindos da priorização histórica do combate e, posteriormente, negociação com o
grupo guerrilheiro, em detrimento do segundo maior, o Exército de Libertação Nacional (ELN). Este vem
intensificando seus ataques desde 2011, conta com 2 mil membros ativos e, embora o governo colombiano
tenha anunciado em março o início da fase formal de negociações com o ELN, estas não aconteceram. O
incentivo à filiação de guerrilheiros desmobilizados ao ELN e o crescimento do neoparamilitarismo com
vistas a assumir o vácuo de poder deixado em territórios anteriormente dominados pelas FARC urgem à
segurança regional.
Em março, 28 mineiros desapareceram em Bolívar, Venezuela. A região possui a segunda maior reserva
aurífera do mundo e os confrontos armados oriundos da mineração ilegal cresceram exponencialmente desde
2014, em virtude do aumento do preço dos minerais e da profunda crise econômica que assola o país. Embora
a necessidade de diversificação de fontes de renda possa incentivar a maior presença do governo na região, a
crise político-institucional paralisa quaisquer planos de organização para tal, abrindo espaço à consolidação de
novos grupos armados na região. Ademais, após atentado no Peru, em abril, executado pelo grupo extremista
Sendero Luminoso, a eleição, em junho, do congressista Modesto Minaya é alarmante dado o seu alegado
envolvimento com Baca Casas, clã dono da principal produtora ilegal de ouro da região amazônica de Madre
de Dios.

América do Norte e Central


Inaugurado o “novo” Canal do Panamá Por: Marcelle Santos
No dia 26 de junho foi inaugurada a ampliação do Canal do Panamá, após atrasos de 20 meses e
aumentos nos custos finais. As obras iniciaram-se em 2006, sendo concluídas com grande êxito na última
semana do citado mês. Inaugurado em agosto de 1914, o Canal, que foi uma das mais importantes construções
da história mundial, agora possui capacidade para suportar embarcações de até 12.500 contêineres (antes
comportava até 4.500). As obras foram realizadas por um consórcio com a liderança da empresa espanhola
Sacyr e visam a diminuição dos “engarrafamentos” que ocorrem no estreito. Além disso, a nova dimensão
permitirá a utilização do Canal para cruzeiros de passageiros, navios que transportam carvão e navios-tanque
de gás.
A inauguração da ampliação foi marcada pela travessia do navio chinês Neopanamax Cosco Shipping
Panama nas novas eclusas, diferente de 1914, ocasião em que o navio a vapor americano, SS Ancon, inaugurava
o Canal. Vale relembrar que os Estados Unidos tentaram conseguir a licitação para a ampliação, entretanto, a
empresa espanhola atingiu este objetivo. Ainda assim, os Estados Unidos continuarão sendo o maior utilizador
do Canal do Panamá, seguido pela China e Chile (ver imagem).
[2]

Foto: Mican aldepanama.com
Mesmo com a ampliação, não estão exclusas as
controvérsias: recentemente, nas mídias panamenhas, foi
divulgada a declaração chinesa de incentivar seus navios
mercantes a tomarem uma rota alternativa ao Canal do
Panamá. A rota seria pelo Oceano Ártico, possível devido
ao aumento do degelo na região. Essa notícia provocou
apreensão, visto que, sem o mercado asiático, o fluxo de
trânsito no Canal diminuiria substantivamente. A rota a
ser empreendida pelo Canal da Nicarágua, financiada
pelo grupo chinês HKND, também pode afetar o Canal
do Panamá caso o projeto, ainda não fisicamente iniciado,
realmente saia do papel. Apesar destas alterações no contexto mundial e das rotas alternativas apresentadas, a
via panamenha permanece como a melhor opção aos armadores. As demais rotas ainda não estão consolidadas
e o Canal do Panamá possui todo um histórico, preço e segurança confiáveis.

África Subsaariana
Os Vingadores do Delta do Níger Por: Vivian Mattos
Desde a ascensão do grupo extremista Boko Haram, o Estado nigeriano tem vivenciado dificuldades
internas. Este cenário conturbado foi acentuado pela queda do preço internacional do petróleo e vem sendo
agravado com o surgimento de um novo elemento potencializador da crise nigeriana: os Vingadores do Delta
do Níger. A origem do grupo ainda é desconhecida, porém seus objetivos são claros e preocupantes. Os
Vingadores praticam ataques contra a infraestrutura de petróleo e gás, por meio da explosão de plataformas e
sequestro de trabalhadores, com a finalidade de sabotar a produção petrolífera nigeriana.
Os ataques perpetrados pelos militantes têm derrubado a produção de petróleo de 2,2 milhões de barris
por dia para 1,5 milhões, agravando os problemas econômicos do país, que é extremamente dependente da
exportação de hidrocarbonetos. A região do Delta do Níger é uma área que sofre com a ingerência do Estado
nigeriano e uma parcela considerável de sua população ganha menos de um dólar por dia. Posto isto, uma
das reivindicações do grupo é o repasse dos lucros da produção de petróleo para a região, visto que considera
que os moradores do Delta do Níger sofrem consequências econômicas e ambientais com a produção de
petróleo. Os Vingadores defendem que as empresas petrolíferas estariam desviando os recursos da região e,
o governo, desviando recursos que deveriam ser investidos no Delta do Níger, através da corrupção estatal.
A amplitude da problemática é intensificada quando se analisa o Golfo da Guiné, região estratégica
pelo vasto potencial energético. A insegurança marítima na região é elevada por apresentar casos de
pirataria, tráfico em geral e pesca ilegal. A presença dos Vingadores no Golfo da Guiné representa um
risco para a produção de petróleo e para o desenvolvimento dos Estados vizinhos, também dependentes
da exportação de hidrocarbonetos, além de contribuir com o aumento da periculosidade das águas no
local, podendo reduzir os investimentos externos na região, aumentando o valor dos seguros marítimos.

Oriente Médio e Norte da África


O espaço marítimo do Kuwait Por: André Nunes
Localizado ao norte da península Arábica, o Kuwait é um Estado árabe, possuidor da oitava maior
reserva de petróleo do mundo, com uma população de, aproximadamente, 4,2 milhões de pessoas e faz
fronteira terrestre com o Iraque e a Arábia Saudita. No que diz respeito ao seu espaço marítimo, dispõe de
acordos sobre delimitação com ambos os vizinhos. O limite com os sauditas foi elaborado em julho de 1965,
contudo a delimitação definitiva da fronteira foi prejudicada por dois motivos: primeiro, a existência da
Zona Neutra entre os dois países (1922-1970); e, segundo, uma disputa de soberania sobre as ilhas de Qaru e
Umm al-Maradin. Em julho de 2000, houve a formalização de um novo acordo, junto à Arábia Saudita, que
concedera a soberania das ilhas ao Kuwait, mas que ignorara o espaço marítimo das mesmas na construção
de uma linha de fronteira equitativa.
[3]
A delimitação marítima com o Iraque foi realizada pela ONU após a Guerra do Golfo (1990-1991). O
Iraque, por possuir uma pequena faixa litorânea, reivindicou durante muitos anos a soberania sobre o território
do Kuwait, principalmente sobre as ilhas Bubiyan e Warbah, geograficamente posicionadas na entrada do
canal Khawr Abd Allah, a única hidrovia de acesso ao porto de Umm Qasr, um dos maiores do país. Após o
conflito no início da década de 1990, a ONU delimitou a fronteira entre os dois Estados estabelecendo uma
linha divisória no canal de Khawr Abd Allah e confirmando a soberania das ilhas ao Kuwait.
Dessa forma, pode-se concluir que o espaço
marítimo kuwatiano foi concebido de forma complexa
devido às disputas territoriais com seus vizinhos. É
possível considerar que suas fronteiras marítimas,
no presente momento, estejam relativamente seguras
devido ao atual estado de enfraquecimento do Iraque.
Contudo, a história nos faz lembrar que as questões de
fronteira ainda possuem grande influência nas decisões
políticas dos Estados, levando-os muitas vezes ao
conflito armado.
Foto: elmundoenargentina.com

Europa
Reino Unido: Independência ou morte? Por: Matheus Mendes
Nas últimas semanas, o foco de todos os meios de comunicação do continente europeu estava no referendo
do dia 23 de junho, no Reino Unido, que votaria a permanência ou saída do mesmo da União Europeia (EU).
Seguido da vitória conservadora no parlamento britânico ano passado, a campanha para o “Brexit” ganhou
forte impulso quando o primeiro-ministro, David Cameron, prometeu o dito referendo caso fosse reeleito. O
resultado oficial do referendo foi de 51,9% a favor à saída da UE contra 48,1% dos votos para a permanência
no Bloco. Para Nigel Farage, líder do partido de extrema-direita do Reino Unido, o UK Independence
Party (UKIP, em inglês), esse foi o “dia da independência” do país. Já o próprio David Cameron anunciou
que pretende deixar o cargo em setembro e os principais nomes para sucedê-lo são: Michael Gove e Theresa
May, já que Boris Johnson, ex-prefeito de Londres, desistiu da corrida à liderança do Partido Conservador.
Com o “Brexit”, o Reino Unido se isola geopoliticamente. Mesmo com o processo de desfiliação
durando, pelo menos, dois anos, o país terá que tomar importantes decisões nos campos econômico e
político durante esse período, o que será crucial para seu futuro. No campo econômico, a diversificação dos
parceiros será fundamental, uma vez que não se sabe até que ponto as negociações com a UE impactarão
no comércio. O cenário, no curto prazo, indica uma
queda na balança comercial e nos investimentos,
fato que deve atrapalhar, e muito, o processo de
renovação do sistema de defesa Trident, já que os
altos custos serão proibitivos ao momento atual.
O campo político, por sua vez, torna-se novamente
o centro das atenções. O referendo demonstrou que o país
está dividido: Londres, centro urbano e profundamente
integrado ao bloco, votou em permanecer; Escócia e
Irlanda do Norte também, mas visando seus interesses
nacionais. Já o restante da Inglaterra e País de Gales, mais Foto: Bbc.co.uk
conservadores, votaram pela saída e foram fator preponderante para o “Brexit”. Agora, os discursos nacionalistas
de esquerda e direita devem se destacar e os rumos da política britânica poderão ser definidos nesse campo.
É cedo para afirmar se o Reino Unido vai se beneficiar ou se prejudicar com a decisão tomada. O
país possui uma economia forte e maior liberdade econômica para atrair novos parceiros e mercados
consumidores, como o Brasil, por exemplo, algo que já foi aventado pelo Ministro das Relações Exteriores,
José Serra. A “independência” britânica fica, portanto, como incógnita e muitas análises surgirão no porvir.

[4]
Europa
Reação da União Europeia ao “Brexit” Por: Ariane Francisco
Podemos dizer que as primeiras reações ao voto de saída do Reino Unido da União Europeia foram
desiguais. Entre declarações sobre como o processo de saída deve ser feito, incluíndo possíveis problemas na
interpretação do Artigo 50 do Tratado de Lisboa (esse, um tanto quanto vago), a França anunciou que espera
que o mesmo seja rápido, discurso similar aos do ministro das Relações Exteriores da Alemanha, do presidente
da Comissão Europeia, Martin Schulz, e o do Conselho Europeu, Donald Tusk. Por outro lado, Angela
Merkel não vê necessidade de tanta pressa, acompanhada do ministro de Relações Exteriores da Polônia.
Durante toda a campanha, a mídia europeia esteve claramente evidenciando o papel fundamental
do conceito de integração europeia e agora, com o cenário incerto sem o grupo de países, o Bloco deverá
reformular sua estratégia, sobretudo do ponto de vista econômico. O peso recairá sobre Alemanha e França
que, antes dividindo a posição de maiores contribuidores ao bloco com o Reino Unido, constituirão o novo
eixo de poder nesse aspecto e deverão lidar com o antigo problema grego, somado à questão dos refugiados,
ainda insolúvel. Questão de maior importância também, diz respeito aos imigrantes econômicos que se
beneficiam da livre circulação entre as fronteiras da União Europeia. A própria demanda pelo referendo
foi claramente influenciada pelas altas taxas de migração do país: em 2015, recebeu 330.000 imigrantes.
Percebe-se que a maior preocupação, no momento, diz respeito à ascensão do nacionalismo e da extrema-
direita nos vários países da Europa, como na Áustria, na Hungria, Espanha, Bélgica, etc. E esta parece ser a
tônica dos próximos movimentos político-partidários de outros países dentro do bloco. Na França, Marine Le
Pen, líder da extrema-direita conversou com o Presidente Hollande no sábado. Enquanto o presidente percebe
que a saída da UE tem fortes consequências, Le Pen tem tentado começar uma campanha para o “Frexit”
(alusão a uma desfiliação francesa da UE).

Rússia e Ex-URSS
Ucrânia pós-Brexit: o sonho europeu acabou? Por: Pedro Mendes
A vitória do “sair” da União Europeia por parte do Reino Unido surpreendeu todos os atores
e especialistas envolvidos, sobretudo a Ucrânia, candidata à adesão ao bloco. Em nota, o presidente
ucraniano, Petro Poroshenko, lamentou a decisão e desejou que os britânicos mantivessem seu
comprometimento com os valores europeus e com a manutenção das sanções contra a Rússia.
O desejo de aderir à União Europeia foi o estopim para a crise ucraniana, em 2014, posto que a recusa
do então Presidente Viktor Yakunovitch, de assinar um tratado de livre comércio com o bloco, em novembro de
2013, serviu de catalisador para os protestos no país, levando à sua deposição, em fevereiro do ano seguinte. A
anexação da Crimeia à Rússia, em março, e o levante das províncias do Leste da Ucrânia foram o ápice da crise.
Com a votação pela saída do Reino Unido, a adesão de novos membros, especialmente a Ucrânia,
torna-se bem mais difícil. Se antes a população extensa, critério base para representação no Parlamento
Europeu, e as dificuldades econômicas que o país passa, vigoravam como obstáculos à sua entrada, com
a saída de um dos seus paymasters do bloco (os outros dois são a Alemanha e a França), a inclusão da
Ucrânia se torna duvidosa; uma vez que a União Europeia provavelmente perderá força política e
econômica com o resultado do referendo, causando incerteza aos que almejavam a entrada de Kiev e
conferindo maior poder político aos separatistas das províncias do leste nas futuras mesas de negociação.

[5]
Sul da Ásia
Conflito da Caxemira: As “novas” velhas militâncias Por: Luciane Noronha
A política externa da Índia esteve em evidência durante o mês de junho. Com a visita aos EUA, a

aceitação da mesma no Missile Technology Control Regime (MTCR) e a discussão acerca da admissibilidade
do país no Grupo de Fornecedores Nucleares, a mídia internacional destacou, entre outras coisas, o sucesso
da diplomacia do primeiro-ministro Narendra Modi. Todavia, na política regional, a Índia enfrenta mais
um desafio sem solução à vista.
A Caxemira permanece como local de um conflito silencioso. Além dos enfrentamentos quase
diários entre os exércitos da Índia e do Paquistão e da militância anti-paquistanesa no Gilgit-Baltistão,
emerge, mais uma vez, a militância contra a ocupação indiana na região de Jammu. O primeiro movimento
expressivo deste tipo ocorrera no início da década de 1990. Em 2016, o grupo separatista voltou à ativa,
com algumas diferenças do primeiro momento.
Desta vez, trata-se de uma militância composta
de jovens com alta escolaridade, que procuram
o Talibã e outros grupos armados para receber
treinamento de guerrilha e praticar atos terroristas
contra instalações militares indianas.
A análise inicial deste cenário aponta para a
tentativa de fortalecimento de uma identidade
própria da Caxemira, como há muito não ocorria
– e que afeta Índia e Paquistão. Embora não haja
um nacionalismo propriamente dito na região, as
militâncias recorrem à história para mostrar que a
independência é uma questão de autodeterminação
da população kashmiri. Em segundo lugar, a
Foto: DailyFT (Sri Lanka) escalada na agressividade do governo indiano frente
à Caxemira tende a prejudicar ainda mais a possibilidade de diálogo com as militâncias, e mostra que a
política regional de Délhi não encontra o mesmo sucesso da diplomacia em outras regiões. Por fim, embora
ainda não seja possível dimensionar o alcance desse novo momento do movimento separatista, é provável
que este seja mais um aspecto de deterioração na já complexa relação entre Índia e Paquistão.

Sul da Ásia
OCX e Índia: Rumo a uma esfera de segurança eurasiática? Por: Franco Alencastro

A reunião de cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), no dia 23 de junho, trouxe


um avanço: a entrada da Índia e do Paquistão. Criada a partir de um acordo para a resolução de disputas
fronteiriças entre a China e três de seus vizinhos centro-asiáticos em 1996, a OCX não admitia novos
membros deste a entrada do Uzbequistão, em 2001. A organização, que procura aumentar a cooperação
econômica e militar entre os países da Eurásia, contará com 8 membros, incluindo também China, Rússia,
Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão e Tajiquistão.
A entrada da Índia e do Paquistão mostra uma guinada na orientação da OCX, centrada originalmente
na aproximação política entre China, Rússia e as ex-Repúblicas Soviéticas. O interesse crescente da China
na Ásia meridional é motivado por seu plano de criar um corredor econômico sino-paquistanês para ampliar
o acesso chinês ao Oceano Índico, parte da ambiciosa estratégia da nova “Rota da Seda”. É possível que a
China tenha calculado que trazer o Paquistão para a OCX, mas excluir a Índia, levaria a atritos indesejados
com esta.
Tal participação pode, em todo caso, trazer benefícios para a Índia: criada, afinal, para resolver
disputas fronteiriças, a OCX pode renovar as negociações das mesmas, mantidas entre a Índia com a China
e Paquistão. A participação também traz vantagens estratégicas ao criar um “cordão sanitário” em torno do

[6]
Afeganistão; a ação conjunta dos membros pode atacar de frente a proliferação da atividade terrorista na
região, que inclui a presença de membros do Estado Islâmico na Caxemira. Porém, as relações ainda frias
entre Índia e Paquistão, sem mencionar a posição algumas vezes ambígua do estado paquistanês para com
o terrorismo, podem esvaziar a união e torná-la inócua.

Leste Asiático
Coreia do Norte ignora sanções e segue com programa nuclear Por: Ely Pereira
Ignorando os esforços da comunidade internacional para barrar o desenvolvimento de seu programa
nuclear, a Coreia do Norte realizou, no final do mês de junho, mais um teste utilizando mísseis balísticos
de alcance intermediário Musudan. Tais mísseis podem percorrer cerca de 4 mil quilômetros, o que seria
suficiente para atingir a Coreia do Sul, o Japão e as bases norte-americanas em Guam, deixando os países
em estado de alerta. Além disso, Kim Jong-un afirmou estar disposto a utilizar todo seu poder nuclear
naqueles que se colocarem contra os seus planos.
Apesar de sanções internacionais afetarem negativamente o país, sobretudo no âmbito econômico,
elas não são radicais o bastante para impedir o avanço do programa nuclear, já que o regime se mantém
isolado da economia global. A China seria um ator importante no cerceamento de Pyongyang, mas além de
não ter colaborado na aplicação de sanções mais duras sobre a Coreia do Norte, também tem contribuído
para que o dinheiro entre no país por meio de uma “economia paralela”. Ademais, Kim Jong-un poderia
usar a situação para angariar apoio da população, propagando a ideia de aversão do resto do mundo para
com a sua nação e, deste modo, prosseguir com o programa.
Assim, com a ideia de ser uma potência nuclear capaz de atacar o território continental dos Estados
Unidos, o líder norte-coreano ignora as sanções que vem sofrendo e aumenta a tensão da região, o que pode
gerar maior militarização e um possível conflito no Pacífico.

Leste Asiático
A eterna disputa entre a China e o Japão Por: Vinícius Reis
Em 9 de junho, uma fragata chinesa da classe Jiangkai I adentrou a zona contígua das ilhas Senkaku/
Diaoyu, causando mais uma tensão diplomática entre Japão e China. Considerando tal movimento como
uma provocação direta, o governo japonês convocou o embaixador chinês para efetuar um protesto e,
apoiado no acordo de segurança EUA-Japão, se prontificou a incrementar a presença de meios navais na
região. A peculiaridade do ocorrido, já que é frequente a presença de embarcações chinesas em territórios
considerados como disputados, advém do fato de ter envolvido pela primeira vez um navio de guerra.
Incidentes anteriores só envolveram navios de patrulha, pesquisa ou pesqueiros chineses.
As relações entre China e Japão passaram a se deteriorar com a nacionalização das ilhas Senkaku,
pelo Japão, em 2012. Todavia, em nenhum momento os países se encontraram diante de um cenário de
conflito, devido, em grande parte, ao apoio da Marinha norte-americana ao Japão. A resposta chinesa,
de que não se sentia responsabilizada por “navegar em seu território”, demonstra a vontade política
de Pequim de reforçar sua reinvindicação, testando sempre que possível os limites da convenção das
Nações Unidas sobre o Direito do Mar.
O Japão tem se colocado constantemente na defensiva em relação à sua segurança marítima,
reagindo a “micro agressões” chinesas nos espaços disputados, apenas com medidas de caráter
diplomático. Mesmo com a presença dos navios da Sétima Esquadra norte-americana, sediada no
Japão, constantemente realizando exercícios nas águas do Pacífico Oeste, Tóquio não deve confiar
apenas nessa aliança para se defender de possíveis agressões de Pequim. O aumento do poder naval
japonês parece ser uma medida inevitável.

[7]
Oceania e Sudeste Asiático
Engajamentos no Mar do Sul da China e as frotas pesqueiras Por: Vinícius Costa
Uma corveta da classe Kapitan Pattimura (Parchim I), pertencente à Tentara Nasional
Indonesia Angkatan Laut (Marinha de Guerra da Indonésia) engajou um grupo de 12 navios
de pesca chineses detectados nas águas em torno das ilhas Natuna, no dia 18 de junho.
Segundo Jacarta, tiros de aviso foram desferidos a fim de dissuadir o grupo. Uma
embarcação foi alvejada e identificada como Qiong Zhou Dan 19038, sendo posteriormente
detida com a sua tripulação de seis homens e uma mulher na base naval de Ranai, nas Ilhas Riau.
O restante dos navios de pesca se retirou do local. Segundo o Vice-Almirante Edi
Sucipto, chefe de relações públicas da Marinha, as águas do entorno da região das ilhas Natuna
são da Indonésia. Patrulhas marítimas fazem parte da rotina de guarnição do espaço marítimo
indonésio. Nesse sentido, a pesca nas referidas águas foi considerada ilegal por parte de Jacarta.
Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores da China emitiu um comunicado
apresentando um protesto diplomático contra Jacarta, condenando as ações indonésias sob
alegação de violação da lei internacional, além de colocar em risco a vida e a propriedade dos seus
pescadores. Ele reiterou ainda que o grupo de embarcações desempenhou suas atividades em locais
tradicionais de sua atuação. Em contrapartida, a Indonésia reforçou sua soberania sobre as ilhas.
O episódio é mais um ponto dentro de um longo espectro de tensões regionais que gradativamente
escala. As hostilidades entre os países lindeiros do Mar do Sul da China passam a contar com engajamentos
assimétricos e/ou contra alvos não militares, que podem se espraiar para um enfrentamento de facto entre
forças armadas.

Oceania e Sudeste Asiático


Novo Livro Branco Neozelandês e a prioridade para a Antártica Por: Thayná Fernandes
No início de junho deste ano, a Nova Zelândia lançou seu Livro Branco de Defesa. O documento
busca estabelecer os novos objetivos do país na esfera da segurança e os desafios que entende como sendo
os principais: conter e lutar contra o terrorismo em sua Zona Econômica Exclusiva, e desenvolver relações
externas mais robustas com outros países.
O gasto estimado com as forças de defesa, segundo consta no novo Livro Branco, será de US$20
bilhões pelos próximos 15 anos. Não parece muito, se comparado ao australiano – fixado em 2% do PIB,
variável que chega à casa dos trilhões. De acordo com os dados do CIA Factbook de 2015, o PIB neozelandês
chegou a US$172 bilhões; sendo assim, US$20 bilhões representariam, aproximadamente, 0,12% ao ano
durante 15 anos, isolando-se as variações de aumento ou diminuição dessa renda total.
Essa previsão de gastos é criticada não só pelo fato de ser incomum, em se tratando de defesa, mas
também pelas afirmações no documento terem caráter generalista e impreciso – diferentemente do australiano
– principalmente no que tange ao Mar do Sul da China. Ocorre que, opostamente à Canberra, Wellington
tem como principal preocupação a Antártica: no Livro Branco, essa palavra aparece 35 vezes, enquanto
“antártico”, 29. A Nova Zelândia reivindica, desde 1923, a posse de uma pequena parte do território desse
continente, a Ross Dependency. Assim, as forças militares atuam principalmente patrulhando as regiões
próximas e apoiando na logística do Programa Antártico neozelandês, alegando a necessidade de manutenção
de paz e segurança neste território.
Sabe-se que as alterações climáticas afetariam, primariamente, a Nova Zelândia; entretanto, seriam as
pesquisas ambientais o principal catalisador da atenção do país ao território antártico? Canberra também patrulha
o Oceano Austral, contudo, não utiliza suas forças de defesa para apoio logístico e, tampouco, reitera preocupação
exacerbada com a segurança nessa região.

[8]
Ártico e Antártica
Noruega para além da OTAN Por: Pedro Allemand
O Ministério da Defesa da Noruega lançou o novo planejamento de segurança nacional
para o período de 2017-2020. Uma das declarações de abertura do documento reconhece que a
situação de segurança se deteriorou desde o último planejamento e que isso exigiria um maior gasto
militar, bem como a reorganização da defesa de determinadas porções do território norueguês.
Com o lançamento dessa nova política de defesa, foi anunciado também o plano de criação de
uma unidade do exército na região de Finnmark, fronteira com a Federação Russa. A unidade contará
com armamento leve, equipado para a defesa contra blindados, bem como antiaérea, e reforçará a já
existente guarnição da fronteira russa (de 600 homens) em Sør Varanger. É importante notar que a
Noruega, além de ser um dos oito membros permanentes do Conselho do Ártico, também integra a
OTAN e tem trabalhado para criar um complexo de segurança nórdico voltado para o atendimento dos
interesses da organização na região – atuando especificamente no esforço de contenção da projeção russa.
Não se pode, porém, ver nesse projeto apenas uma tentativa de atender aos interesses externos da
organização; deve-se, também, compreender os
interesses noruegueses. Tem-se visto, desde 2014,
um processo de crescente militarização do Ártico,
bem como de deterioração das relações entre a
Rússia e os membros da OTAN. Seja com a reforma
do North American Aerospace Defense Command
pelos EUA, pela criação do Arctic Joint Strategic
Command nas forças armadas russas ou, ainda, com
a estratégia canadense de ter a capacidade de realizar
operações diárias no ambiente polar, a dinâmica da
região mudou. Dessa forma, esse movimento da
Noruega pode ser lido como uma forma do país se
adaptar ao novo ambiente de segurança regional,
cada vez mais tenso e militarizado.

Foto: rohrmannspace.net

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