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Aula de Aspectos Cognitivos do Envelhecimento

Envelhecimento cognitivo normal

O envelhecimento está associado a alterações em todos os sistemas e órgãos do corpo


humano. O cérebro também sofre alterações importantes como:
1. Morte das células nervosas (neurônios), o que acarreta em uma diminuição no
volume e peso cerebral;
2. Diminuição na concentração cerebral de neurotransmissores, como a serotonina e a
acetilcolina importantes para o humor e para novas aprendizagens e o comportamento
motor, respectivamente;
3. Aumento na quantidade de alterações microscópicas no cérebro, como os
emaranhados neurofibrilares e placas senis.
Estas alterações no cérebro, aliadas às mudanças que ocorrem na visão e audição, geram
algumas mudanças nas principais funções mentais, como a memória, a linguagem, as
funções executivas e visuoespaciais, mesmo na ausência de doenças neurológicas. Um
achado universal que afeta todas as funções é a diminuição da velocidade de
processamento de informações. Assim, pessoas idosas precisam de mais tempo para
aprender novos dados, para lembrar-se de informações e realizar ações rotineiras.

A memória subdivide-se em memória de curta e longa duração. São observadas


mudanças na capacidade de memorizar, ou seja, um aspecto da memória de longa
duração. Com o envelhecimento, pode ficar mais difícil realizar a codificação profunda
de novos dados, envolvendo detalhes do contexto físico e temporal. Pessoas mais velhas
precisam ter maior exposição às novas informações. A repetição, as estratégias de
memórias e as pistas emocionais podem facilitar a memorização.

Quanto à linguagem, observa-se que os idosos saudáveis tendem a:


1. Usar várias palavras o invés de optar pelo substantivo ou adjetivo alvo;
2. Descrever a função do objeto ou suas características, ao invés do objeto em si;
3. Ter dificuldade com a compreensão e produção de sentenças complexas, a
organização e a precisão do discurso.
Estas alterações não devem causar dificuldades na realização de atividades diárias,
sociais ou ocupacionais.

O conceito de funções executivas está associado a habilidades como formular um


objetivo, planejar e executar ações de modo eficiente, avaliar e corrigir o desempenho.
No cotidiano, estão envolvidas com a estimativa de tempo, capacidade de alternar entre
duas tarefas, ordenar ações, controlar impulsos e ações inadequadas. Idosos saudáveis
apresentam alterações significativas nestas funções que são essenciais para a realização
das atividades diárias e para a autonomia, podendo ocorrer lentidão e necessidade de
uso de apoio externo, como listas de tarefas, agendas e alarmes. 

A memória de trabalho/operacional, um aspecto das funções executivas, responsável


pela manutenção e processamento simultâneos de dados sofre alterações no
envelhecimento. Assim, pode tornar-se mais difícil realizar cálculos mentais, solucionar
problemas do cotidiano que envolvam muitos aspectos, ordenar mentalmente tarefas a
serem realizadas.
As funções visuoespaciais encontram-se preservadas em idosos saudáveis, que na
ausência de alterações visuais significativas ou compensadas, devem ter boa orientação
no espaço físico, dentro e fora de casa. O manuseio de utensílios domésticos e
ferramentas, assim como a utilização do espaço de uma mesa ou folha de papel estão
preservados. Os idosos saudáveis devem vestir-se e imitar gestos e ações sem
dificuldades. 

Como síntese das alterações cognitivas em pessoas idosas, até os 60 anos, observa-se
aumento no desempenho em habilidades que são fruto do acúmulo de processamento
realizado no passado, como desempenho em tarefas de vocabulário e conhecimentos
gerais sobre o mundo (associados aos conceitos de memória semântica e inteligência
cristalizada). Entretanto, observa-se declínio linear após o início da vida adulta em
tarefas que exigem foco atencional e transformações no momento da avaliação, como
tarefas de memória episódica e memória de trabalho (associadas ao conceito de
inteligência fluida).

Prof. Dra. Monica Yassuda

Referências
Yassuda MS & Porto CS (2011). Avaliação Neuropsicológica. Em: Teixeira AL,
Caramelli P (Orgs.). Neurologia Cognitiva e do Comportamento. Rio de Janeiro:
Revinter, p. 43-54.
Yassuda MS, Viel TA, Lima-Silva TB & Albuquerque MS (2011). Memória e
envelhecimento: aspectos cognitivos e biológicos. Em: Freitas EV, Py L. (Eds.) Tratado
de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara, p. 1477-1485. 

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