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Universidade do Estado do Paraná - Campus União da Vitória

Curso: Letras Português\Espanhol 1 ano


Disciplina: Linguística
Professora: Angela Meili
Acadêmica: Paola Nigrin

Fichamento do Livro: ​Que gramática estudar na escola? Norma e uso na


Língua Portuguesa.

PARTE III

No primeiro capítulo da terceira parte do livro a autora refere-se ao tratamento da gramática


na escola. Em uma visão geral da disciplina pela sociedade a gramática é vista
negativamente tanto pelos professores quanto pela comunidade linguística. Pode-se dizer
que a fama da gramática não é boa e as concepções que tivemos na escola não é bem
como nos fizeram crer quando estávamos sentados em bancos escolares. Segundo a
autora, sobre o funcionamento da língua é importante saber que a gramática não tem
“regras rígidas de aplicação” (pg. 79) e “de modo nenhum ocorre que o falante primeiro
precise estudar as regras” (pg. 79). Isto quer dizer que a gramática que organiza a língua
acontece antes que frequentamos a escola, devido às diversas situações e contextos que o
indivíduo tem naturalmente com a língua materna antes mesmo do contato com aulas.
Neves afirma que “a gramática não é uma disciplina que se deva colocar externamente à
língua em funcionamento” (pg. 80), e também não se limita apenas às regras e estruturas
dadas por orações ou períodos.
Sobre a gramática oferecida nas escolas, é na maioria das vezes abordada por moldes e
modelos e repetidas lições para que apenas se saiba e memorize seus conceitos, fazendo
com que os alunos e a comunidade concluam que estudar gramática é desnecessário e até
ilusório.

A seguir, no segundo capítulo, ​a linguista propõe, ainda a reflexão sobre o tratamento


escolar das relações entre língua escrita e língua falada. Ao tratarmos da fala e da escrita,
não levamos em conta que uma é superior a outra ou que a escrita é derivada e a fala é
primária, duas formas de realização de um mesmo sistema linguístico.
Segundo a autora, a escola é responsável por estabelecer relações entre língua falada e
língua escrita, porém, sabe-se que “a língua escrita está no centro da atuação das escolas”
(pg. 87). Ainda a escola carrega o dever e missão de ensinar a criança a “ler e escrever” e
que também é um espaço social e cultural onde se encontra a maior diversidade e variação
linguística, apesar disso o ensino não tem como foco a comunicação oral (língua falada)
mas no ensino padrão da língua “para que os alunos possam escrever melhor” (pg. 88). O
assunto é muito discutido, mas o professor continua sem saber o que fazer para trabalhar
oralidade nas aulas já que os livros didáticos acabam causando confusão em certos
aspectos, ou seja, “produtos linguísticos que não eram nem de língua falada nem de língua
escrita” (pg. 89). Maria aborda neste capítulos as dicotomias entre língua falada e língua
escrita e da língua-padrão e língua-não-padrão e afirma que a escola é onde se vivencia a
língua materna e entre elas deve haver reciprocidade, mas a escola ainda insiste em
considerar que há diferenças entre uma e outra, valorizando apenas a escrita e
norma-padrão e as variedades sendo tratadas como “erradas” ou “imperfeitas”. Neste
capítulo a autora afirma “cabe à escola capacitar o aluno a produzir enunciados adequados,
eficientes, melhores, nas diversas situações de discurso”(pg. 94) e também “é importante no
ensino que vejam mais as similaridades entre as modalidades do que as diferenças” (pg.
94).

No terceiro capítulo Neves aborda o papel da escola na condução das atividades de


produção escrita e de análise gramatical. Ela propõe que existem complicações e questões
que devem ser refletidas e pensadas, como o fato de que os alunos são forçados a se
desprender da língua falada sem no entanto terem vivenciado em condições e contextos na
escrita. A linguista reflete a fala como algo natural e automático e que no processo de
produção da escrita ela acaba se tornando artificial e sem sentido, sendo detestada pelo
aluno. Daí vem a necessidade de a escola prover uma situação real do uso. “É isso que a
escola não consegue prover nas suas atividades de língua escrita: uma situação real, uma
situação de vida condicionando o uso linguístico.” (pg. 100). O que se fixa então são os
erros da criança na escrita. Outro grande equívoco da escola é afirmar que a língua falada
não tem valor ou nem mesmo gramática, uma vez que a criança já domina e organiza a
gramática mesmo antes de ser inserida no ambiente escolar. A autora cita exemplos de três
procedimentos relativos a mecanismos de constituição do enunciado: a referenciação
textual, a repetição e a topicalização, típicos da língua falada.

O quarto capítulo é focado em uma gramática escolar fincada no uso linguístico, Neves
coloca duas questões sobre o ensino da gramática, primeiro, o conceito de gramática como
atividade escolar e o que deve ser trabalhado. Segundo, qual é o seu papel e o seu real
funcionamento na língua, ou seja, o funcionamento da gramática dentro da linguagem. A
autora reflete algumas complexidades sobre o funcionamento da linguagem, ela cita o
famoso esquema do “circuito de comunicação” presente nos livros didáticos dos anos 80 e
critica a forma de interação linguística do mesmo e afirma “há que considerar um esquema
de interação verbal mais rico - digamos assim - e mais real do que aquele que trata dos
componentes desvinculados, que entram no circuito apenas como peças de uma máquina
de codificar e decodificar” (pg. 111). Em seguida ela determina que é por meio da interação
que se usa a linguagem, na fala e também como conhecimento e capacidade “há uma
situação interativa absolutamente singular e conjuntural: há atos de fala” (pg.111). Por fim a
linguista conclui: “graças a sua capacidade de falar e graças à sua inserção histórica numa
língua particular, o homem, efetivamente, atua linguisticamente, ele produz discurso, ele
constrói textos.” (pg. 113).
A gramática que a escola oferece é instituída de modelos e esquemas, como fórmula ideal
para o aprendizado, sendo assim a escola considera comprida o dever de ensinar
“gramática” aos seus alunos, é aí que como já foi mencionado num capítulo anterior,
orações e períodos não chegam no nível da linguagem, construído de interação,a língua em
funcionamento não é feita de regras absolutas. O português revolta e incomoda muita gente
e poucos entendem bem o que fazer com a gramática, o que se espera apenas é que o
aluno fale e escreva bem de acordo com a norma-padrão. Com isso Moura Neves enumera
três aspectos da linguagem: No primeiro, o que está realmente em questão não é um “falar
melhor” mas a competência que o falante tem naturalmente de entender e fazer
entender-se. O terceiro aspecto corresponde à questão de vivências de situações de
interlocuções. O segundo se refere à língua particular de cada comunidade, àqueles que
mesmo sem entender o que é realmente “falar e escrever bem”, preservam os padrões e
defendem a ideia de “boa linguagem”. (pg. 114). A autora finaliza o capítulo com algumas
afirmações: “Ninguém precisa primeiro estudar as regras de uma disciplina gramatical para
depois ser falante competente de sua língua…” e “A gramática como disciplina escolar terá
de entender-se como explicitação do uso de uma língua particular historicamente inserida”
(pg. 125).

No quinto capítulo a autora reflete o uso linguístico, a interação verbal e a compreensão e as


possibilidades desse sistema esquematizando um modelo de interação linguística “do lado
do falante” e “do lado do ouvinte” e o que se faz é produzir sentido tanto do emissor quanto
do receptor em condições e questões formais e informais, com língua falada e escrita, de
relação simétrica e assimétrica. “Falar e escrever bem é, acima de tudo, ser bem sucedido
na interação” (pg. 130). Neves aponta duas situações problemáticas do circuito de
comunicação e dá exemplos de interação através de tiras e quadrinhos existentes em livros
didáticos e critica a falta de consideração em um dos principais processos de constituição do
enunciado referindo-se propriamente a referenciação. E mais uma vez é dado a importância
de se estudar a gramática e a linguística uma como complemento da outra para produção e
interação assim como da utilização de um livro didático que parta do uso efetivo da língua
para o estabelecimento de normas.

O último capítulo começa com o conceito de Gramática e um breve histórico da disciplina


gramatical tradicional. A autora avalia 'velhas' dicotomias que há muito tempo acompanham
a tradição gramatical começando pela mais problemática: certo x errado. Em seguida, uso x
norma-padrão, língua-falada x língua-escrita e por fim descrição x prescrição. Dessa forma,
Maria Helena de Moura Neves insere propostas que visam à eficiência comunicativa e o
desenvolvimento linguístico, trazendo para a sala de aula todas as modalidades de língua,
pois não acredita que estudar o quadro de entidades e as definições oferecidas pelos
manuais normativos fará com que os alunos passem, simplesmente por isso, a falar ou
escrever melhor.
Sem dúvida, essa obra é uma fonte de reflexão sobre como ensinar a língua em uso sob
uma perspectiva mais realista e próxima do cotidiano e portanto, espera-se que os
profissionais responsáveis pela aplicação estejam sempre se aperfeiçoando.

NEVES, Maria Helena de Moura. 2004. ​Que gramática estudar na escola? Norma e uso na
Língua Portuguesa. 2ª ed. – São Paulo: Contexto, 174 páginas.

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