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PARTE III
O quarto capítulo é focado em uma gramática escolar fincada no uso linguístico, Neves
coloca duas questões sobre o ensino da gramática, primeiro, o conceito de gramática como
atividade escolar e o que deve ser trabalhado. Segundo, qual é o seu papel e o seu real
funcionamento na língua, ou seja, o funcionamento da gramática dentro da linguagem. A
autora reflete algumas complexidades sobre o funcionamento da linguagem, ela cita o
famoso esquema do “circuito de comunicação” presente nos livros didáticos dos anos 80 e
critica a forma de interação linguística do mesmo e afirma “há que considerar um esquema
de interação verbal mais rico - digamos assim - e mais real do que aquele que trata dos
componentes desvinculados, que entram no circuito apenas como peças de uma máquina
de codificar e decodificar” (pg. 111). Em seguida ela determina que é por meio da interação
que se usa a linguagem, na fala e também como conhecimento e capacidade “há uma
situação interativa absolutamente singular e conjuntural: há atos de fala” (pg.111). Por fim a
linguista conclui: “graças a sua capacidade de falar e graças à sua inserção histórica numa
língua particular, o homem, efetivamente, atua linguisticamente, ele produz discurso, ele
constrói textos.” (pg. 113).
A gramática que a escola oferece é instituída de modelos e esquemas, como fórmula ideal
para o aprendizado, sendo assim a escola considera comprida o dever de ensinar
“gramática” aos seus alunos, é aí que como já foi mencionado num capítulo anterior,
orações e períodos não chegam no nível da linguagem, construído de interação,a língua em
funcionamento não é feita de regras absolutas. O português revolta e incomoda muita gente
e poucos entendem bem o que fazer com a gramática, o que se espera apenas é que o
aluno fale e escreva bem de acordo com a norma-padrão. Com isso Moura Neves enumera
três aspectos da linguagem: No primeiro, o que está realmente em questão não é um “falar
melhor” mas a competência que o falante tem naturalmente de entender e fazer
entender-se. O terceiro aspecto corresponde à questão de vivências de situações de
interlocuções. O segundo se refere à língua particular de cada comunidade, àqueles que
mesmo sem entender o que é realmente “falar e escrever bem”, preservam os padrões e
defendem a ideia de “boa linguagem”. (pg. 114). A autora finaliza o capítulo com algumas
afirmações: “Ninguém precisa primeiro estudar as regras de uma disciplina gramatical para
depois ser falante competente de sua língua…” e “A gramática como disciplina escolar terá
de entender-se como explicitação do uso de uma língua particular historicamente inserida”
(pg. 125).
NEVES, Maria Helena de Moura. 2004. Que gramática estudar na escola? Norma e uso na
Língua Portuguesa. 2ª ed. – São Paulo: Contexto, 174 páginas.