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Wilson Dizard Jr.

A Nova Mídia
A comunicação de massa
na era da informação

Tradução:
ANTONIO QUEIROGA
EDMOND JORGE

Revisão técnica:
ANTONIO QUEIROGA
Professor da Universidade Veiga de Almeida
e da Faculdade Carioca, mestre em comunicação
e tecnologia da imagem pela ECO/UFRJ

Jorge Zahar Editor


Rio de Janeiro

A Nova Mídia (Diza)


Rediagramação
1ª Rev.: 21/02/2000
2ª Rev.: 09/03/2000 – Cad. 0
Produção: Textos & Formas
Para: Jorge Zahar Editor
Para Ithiel de Sola Pool (1917-84),
que previu tudo isso

Título original:
Old Media, New Media:
Mass Communications in the Information Age

Tradução autorizada da terceira edição norte-americana


publicada em 2000 por Addison Wesley Longman,
de Nova York, Estados Unidos

Copyright © 2000, Addison Wesley Longman Inc.


Copyright © 2000 da edição brasileira:
Jorge Zahar Editor Ltda.
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A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo
ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98)

Capa: Carol Sá

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

Dizard, Wilson
D652n A nova mídia: a comunicação de massa na era da
2.ed. informação / Wilson Dizard Jr.; tradução [da 3ª ed. norte-
americana], Edmond Jorge; revisão técnica, Tony Quei-
roga. — 2.ed. rev. e atualizada. — Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 2000
Tradução de: Old media, new media: mass commu-
nications in the information age
Contém apêndice e glossário
Inclui bibliografia
ISBN 85-7110-446-8
1. Comunicação de massa. 2. Inovações tecnológio-
cas. 3. Sociedade da informação. I. Título.
CDD 302.23
00-0105 CDU 659.3

A Nova Mídia (Diza)


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INTRODUÇÃO INT RODUÇÃO

Para começar, qualquer compreensão real da comunicação de massa na


era moderna exige uma sensibilidade incomum à tecnologia e à mudança,
bem como um profundo conhecimento de história, economia, política e
sociologia. Também é essencial uma base em tecnologia e mudança
tecnológica — não apenas no que Arthur C. Clarke denominou “vozes do
céu” no futuro, mas também no sistema às vezes anacrônico de comuni-
cação, tal como o expressa a mídia atual. Somente uma pessoa com
intelecto, experiência, capacidade de erudição e habilidade em comunica-
ção incomuns poderia realizar uma tarefa assim. Mas foi exatamente isso
que Wilson Dizard, diplomata, especialista em tecnologia e comunicações,
erudito e comentarista, fez aqui.
Este livro contém, no fundo, uma explicação transmitida em tons
francos e sutis da convergência da mídia — aquela condição que significa
um estado unido de mídia no qual todas as formas e instrumentos da mídia
se reúnem por efeito dos computadores e da digitalização. Mas mesmo
enquanto todas as mídias estão se desvanescendo e fundindo-se no que,
na realidade, é um sistema único ou um conjunto de sistemas inter-rela-
cionados, também as mídias individuais estão acentuando suas caracterís-
ticas. O mundo que Wilson Dizard apresenta em A nova mídia: a comuni-
cação de massa na era da informação une meios de comunicação antigos
e tradicionais aos que hoje somente os futuristas imaginam. É essa rica tra-
ma de formas de mídia consolidadas — juntamente com as que estão
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10 A NOVA MÍDIA

atualmente ameaçadas e outras que ainda estão sendo concebidas em la-


boratórios — que faz deste livro uma fonte única e valiosa de informações
para estudantes, pesquisadores de mídia, profissionais e para o público.
Reconhecendo, com razão, que o futuro das comunicações está na
confluência das mídias antiga e nova, o professor Dizard escreveu um livro
rico em seu alcance e perspectiva sobre as formas presente e futura da
comunicação de massa e profundo em sua compreensão do processo que,
na verdade, definirá e determinará o tipo e a natureza da mídia que as
pessoas experimentarão no século XXI. Todos os livros são um produto
da experiência dos seus autores, e Wilson Dizard observou e participou
das comunicações no mundo inteiro, tanto em nações em desenvolvimento
como em sociedades industriais. Sua compreensão do processo e da
estrutura da mídia antiga e das tecnologias de impressão e de transmissão
— incluindo publicações, filmes e televisão — relaciona-se e coincide com
sua especialidade em redes de informações e várias tecnologias novas e
sistemas de dados.
A história das mídias antiga e nova não pode ser narrada apenas em
termos tecnológicos, envolvendo somente relações entre pessoas e máqui-
nas. Também é preciso vê-la pelo prisma da política e da economia, que
permite que coisas novas, como satélites e computadores, estejam no palco
da mídia e que, às vezes, possibilita que veteranos, como os jornais,
mantenham por mais algum tempo o seu fastígio.
Parte da preocupação deste livro é com o ritmo da nova mídia determi-
nado pelas forças da invenção, da criatividade, da demanda de mercado e
da liberdade de regulação. O estudo se desenvolve em termos políticos
gerais e enfoca segmentos industriais novos e em desenvolvimento, como
o cabo. Ele é fortalecido por uma avaliação da mídia antiga, como os
jornais e o cinema, que estão sofrendo um processo de remodelação, num
esforço para sobreviver e florescer na nova era da informação.
Tudo isso ajuda a explicar por que boas idéias e tecnologias viáveis,
que poderiam libertar as pessoas fornecendo-lhes fontes maciças de infor-
mação, gráficos e recuperação atualizados minuto a minuto, nem sempre
são transformados em realidade. Os fatores humanos intervenientes, como
são chamados, são eficazmente catalogados e analisados pelo professor
Dizard, que compreende que mesmo a mais refinada inovação tecnológica
ou a mais brilhante nova forma de mídia não passará além do laboratório
de pesquisa e desenvolvimento, a menos que a demanda do mercado, o
baixo custo e o clima político-regulador sejam favoráveis. Quando ouvi-
mos previsões sobre o espaço da mídia no futuro, ou sobre as perspectivas
de determinada indústria de mídia, muitas vezes nos esquecemos de que

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INTRODUÇÃO 11

a lógica pura e a magia da invenção não bastam para fazer a nova mídia
acontecer. Por estas e outras razões, este livro também nos permite apreciar
ainda mais a mídia antiga, muito engenhosa, e explica ainda por que uma
mídia aparentemente obsoleta como o rádio se revigorou, mesmo diante
da expansão da televisão.
Temos aqui a história da família da mídia, escrita contra o pano de fundo
de todo o sistema de comunicações e que não se limita a um só país ou
cultura, mas é vista de uma perspectiva global. Atores veteranos ou
membros da “família da mídia” são observados em diferentes estágios de
desenvolvimento e avaliados de acordo com as suas contribuições, efême-
ras ou duradouras. Escrito de maneira elegante, baseado em pesquisa
sólida, este livro é um guia primoroso para o consumidor para o futuro dos
veículos de comunicação, tendo a rara distinção de ligar lembranças do
passado ao presente e ao futuro. Wilson Dizard consegue manter-se firme
no mundo dos legisladores (ele próprio foi um deles), debatendo com
especialistas técnicos sobre questões como o fluxo limite de dados cruza-
dos e o futuro do rádio, ao mesmo tempo em que discute qual sistema
deveria reger determinada tecnologia antiga ou uma inovação tecnológica.
O livro de Dizard não está aturdido com os “brinquedos” tecnológicos do
nosso tempo, mas não subestima o seu potencial. Ao mesmo tempo, o autor
avalia o heroísmo e a durabilidade da mídia convencional e dá sentido a
grande complexidade, enquanto oferece um tema e uma estrutura coe-
rentes para a compreensão unificada da comunicação de massa na era da
informação.
Evitando o jargão técnico da engenharia ou dos legisladores, o livro é
eminentemente prático em sua explicação paciente da justaposição da
economia e da política como determinantes do panorama da mídia em
modificação. Sem se deixar seduzir pelas novas máquinas e sem subes-
timar o poder da tecnologia como força social e como uma metáfora para
a mudança, o livro é um exame magistral do sistema nervoso central da
sociedade e de sua infra-estrutura de comunicação, que são apresentados
numa forma altamente acessível. Sem dúvida, será recebido com entusias-
mo por todos os que estudam a mídia e a comunicação, quer estejam
entrando agora no campo ou já ocupem postos de destaque há muito tempo.
Novamente, Wilson Dizard nos deu um tratado importante para nos
posicionarmos nesse novo mundo.
EVERETTE E. DENIS
Professor Emérito da Fordham University
Graduate School of Business

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PREFÁCIO À 3ª EDIÇÃO
NORTE-AMERICANA PRE FÁCI O À 3ª E DIÇÃO NORT E- AME RI CANA

A transformação da mídia americana tem se mantido acelerada nos três


anos que se seguiram ao lançamento da segunda edição deste trabalho.
Esta edição revista apresenta, de forma coerente e detalhada, as contínuas
mudanças ocorridas na mídia conforme ela se adequa às realidades da era
da informação.
Focalizo basicamente a mídia de massa — mídia impressa e eletrônica.
Para ser mais conciso, divido a discussão entre mídia antiga e nova mídia,
isto é, as formas tradicionais e os novos desafiantes. Uma lista parcial
desses últimos inclui os computadores multimídia, discos laser, CD-ROM,
os aparelhos de fac-símile de última geração, bancos de dados portáteis,
livros eletrônicos, redes de videotextos, telefones inteligentes, satélites de
transmissão direta e a Internet com seus novos recursos multimídia. O
elemento comum a cada um desses serviços é a computadorização, uma
tecnologia que vem apagando todas as antigas diferenças que separavam
os serviços de mídia do passado.
As mudanças no campo da mídia estão acontecendo em três níveis —
técnico, político e econômico. Tecnicamente, todas as mídias estão se
adaptando às novas perspectivas abertas pela digitalização dos seus pro-
dutos tradicionais. Politicamente, novas leis e regulamentações ao nível
federal, estadual e local estão reduzindo as barreiras que limitavam as
organizações de mídia no aproveitamento completo das novas tecnologias.
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14 A NOVA MÍDIA

Economicamente, duas tendências dominam o cenário. Em um nível, há


em andamento uma consolidação do poder dentro dos grandes conglome-
rados de mídia. Em oposição a isso está o aparecimento de novas empresas
de pequeno porte que estão desafiando esses conglomerados, tanto no
campo da produção inovadora quanto na agilidade comercial desses novos
atores.
Temos então a Internet, cujo exuberante crescimento está influenciando
todas essas tendências. Na década de 90, a Internet deixou de ser uma
província “habitada” por um pequeno grupo de fanáticos por computa-
dores para se tornar um recurso de consumo de massa para 10 milhões de
americanos. Além disso, a Internet evoluiu de um simples canal de texto
para distribuir serviços digitalizados de impressos, voz e vídeo. No pro-
cesso, ela vem representando um desafio à forma como toda o setor de
mídia de massa produz e comercializa seus produtos.
A influência da Internet sobre a indústria de mídia americana está ainda
nos seus primeiros estágios. Esta pesquisa descreve seu impacto inicial e
examina seu papel potencial nos padrões de mídia nos primeiros anos do
século XXI. Não é exagero dizer que a forma como vamos lidar com o
novo ambiente midiático criado pela Internet e por outras tecnologias
definirá os contornos e a direção da sociedade pós-industrial americana.
Esses desenvolvimentos da mídia são parte de uma mudança mais
ampla nas comunicações americanas. As tecnologias digitais estão nos
conduzindo para um serviço nacional de informação. Os resultados serão
redes baseadas em computadores e circuitos de última geração que forne-
cerão informações sob qualquer forma — verbal ou sonora, impressa ou
em vídeo — praticamente em toda parte, assim como agora captamos
eletricidade ou água das empresas de serviços públicos. Atualmente, a
infra-estrutura de informação está semipronta, mudando radicalmente as
maneiras como as empresas e o governo funcionam. A próxima década
verá o aumento do consumo desse serviço de informação que afetará a
maioria dos lares americanos.
Isso não será uma transição suave. As opções tecnológicas terão de ser
traduzidas em realidades políticas e econômicas. As forças poderosas
opostas às mudanças no status quo são tão numerosas quanto as que as
apóiam. O debate é marcado por vozes dissonantes. Nas indústrias, os
entusiastas vêem mercados lucrativos para produtos e serviços fulgurantes.
Em todos os níveis da vida pública, políticos se preocupam com o impacto
sobre o padrão de governo e, mais diretamente, sobre suas próprias
carreiras.

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Por último, temos o consumidor final dos recursos da nova mídia, que,
até agora, têm exercido uma cautela salutar quanto à publicidade exage-
rada sobre novas tecnologias que, garantem, mudarão suas vidas. Existem
perguntas concretas sobre como ou se os computadores multimídia e
outros serviços prometidos satisfarão as necessidades pessoais. Que infor-
mação eu realmente quero? Quanto ela custará? O que está faltando? O
quanto é o bastante? Tais perguntas foram significativamente resumidas
por Neil Postman, o vigilante da mídia: “Qualquer tolo lhe dirá para que
serve a tecnologia. Mas é preciso raciocínio concreto para imaginar do que
os computadores nos privarão.” O debate tem sido freqüentemente domi-
nado por pessoas que, nas palavras de Evelyn Waugh, jamais foram
conhecidas por um pensamento muito preciso da questão.
Em suma, não existem fórmulas simples. A pergunta decisiva é como
todas essas possibilidades podem nos beneficiar numa democracia pós-in-
dustrial mais complexa. Durante mais de dois séculos, nossa estrela-guia
para definir as liberdades de informação tem sido a Primeira Emenda.
Originalmente, ela se referia somente às publicações impressas, mas suas
proteções foram ampliadas nas últimas décadas de modo a incluir a mídia
eletrônica. Será cada vez mais difícil expandir ainda mais sua esfera de
ação, dada a introdução de tecnologias de mídia mais complexas.
Existem indícios perturbadores de que os novos recursos de informação
poderiam forçar ainda mais o tecido social americano. Isso se revela na
crescente divisão entre aqueles que têm acesso fácil à informação e aqueles
que são privados de informação mais ampla. A continuar a atual tendência,
os primeiros dominarão totalmente os recursos de informação de que todos
necessitamos para sobreviver e prosperar, e os segundos se tornarão um
lumpem proletariado pós-industrial, relegados ao entretenimento irracio-
nal e outras trivialidades. A garantia de acesso eqüitativo aos recursos de
informação de última geração parece ser a questão mais urgente que
enfrentamos à medida que penetramos no padrão da nova mídia.

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AGRADECIMENTOS AGRADE CIME NTOS

Muitas pessoas me ajudaram a preparar este estudo. Primeiro, sou muito


grato ao conselho do falecido Ithiel de Sola Pool, um professor e sábio que
inspirou tantos de nós a tentar entender o ambiente da nova mídia. O título
do seu último livro sobre recursos da informação, The Technologies of
Freedom, resume tudo o que este estudo procura expressar. Sou igual-
mente grato aos colegas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacio-
nais e da Universidade de Georgetown, em particular a Diana Lady
Dougan, chefe do programa de política de comunicações do Centro, e a
Peter Krogh, ex-decano da Escola de Relações Exteriores, que me deram
espaço, tempo e recursos para que este trabalho fosse realizado.
Entre outros que me ajudaram estão Elena Androunas, Walter Baer, Porter
Bibb, Leo Bogart, Hodding Carter, Jannette Dates, Marcia DeSonne, Charles
Firestone, Michael O’Hara Garcia, Henry Geller, Willina Garrison, Cheryl
Glickfield, Robert Hilliard, Eri Hirano, Craig Johnson, Leland Johnson, Carol
Joy, Montague Kern, Anton Lensen, Lawrence Lichty, Brenda Maddox,
Robert Pepper, Marsha Siefert, Anthony Smith, Gregory Staple, John Von-
dracek, David Webster, Ernest Wilson e George Wedell. Quero agradecer
também a cortesia do Dr. Elie M. Noam, do Instituto de Teleinformação da
Columbia University, que me permitiu reeditar, num apêndice, seu imagina-
tivo “Princípios para a Lei das Comunicações de 2034”.
Finalmente, uma homenagem ao meu editor-chefe local e crítico aten-
cioso dos trabalhos em andamento, Lynn Wood Dizard.
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I

COMUNICAÇÃO DE MASSA
NA ERA DA INFORMAÇÃO
COMUNICAÇÃO DE MASSA NA E RA DA I NFORMAÇÃO

Os anos 90 foram uma década problemática para as três grandes redes de


televisão americanas — NBC, ABC e CBS. Pela primeira vez desde que
começaram a registrar dados sobre o assunto, a audiência combinada das
redes somou menos de 50%. Foi um grande choque para um negócio que
havia atraído uma assistência de mais de 90% dos lares americanos por
mais de quarenta anos. Agora, essa hegemonia estava seriamente ameaça-
da. Em 1998, os canais da TV a cabo superavam, pela primeira vez, as
grandes redes de tv em número total de telespectadores, audiência e
participação de audiência no horário nobre noturno. Era um sinal claro de
que o papel da televisão como o mais bem-sucedido meio de comunicação
de massa dos tempos modernos estava se transformando.
Hoje em dia os executivos das televisões reconhecem que a perda de
audiência do veículo é permanente: “Nós pensávamos que as perdas iriam
parar”, declarou, em 1998, o presidente da ABC Robert Iger. “Nós fomos
ingênuos. Isso nunca vai ter fim.”1
Há diversas razões para essa mudança, mas a mais importante é que a
televisão e os demais veículos clássicos de comunicação estão sendo
desafiados pela Internet e por outras tecnologias que oferecem opções mais
amplas de serviços de informação e entretenimento. A fragmentação da
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sólida audiência da televisão é apenas um exemplo dessa tendência. Outras


mídias também estão sendo afetadas. Por exemplo, nos últimos anos da
década de 90, a leitura de jornais diários por adultos diminuiu de cerca de
78% (índice do final da década de 40) para menos de 60%.
Neste trabalho exploraremos o impacto da emergente combinação entre
mídias clássicas e novas mídias nos Estados Unidos. A transição vem
ocorrendo há uma década ou mais e será acelerada nos anos vindouros. É
difícil medir a mudança. A indústria americana de mídia é muito grande e
diversificada para ser traduzida em generalizações simplistas. Ela inclui
mais de 1.500 estações de televisão, 12.000 estações de rádio, 11.000
sistemas a cabo e 15.000 jornais e periódicos, entre outros recursos. A
indústria se estende desde o New York Times, oferecendo “todas as notícias
dignas de serem publicadas”, até a estação KPQD, em Bighorn, Texas, que
oferece o melhor em country music para todo o pessoal da Radiolândia.

IMPLICAÇÕES PARA AS CARREIRAS NA MÍDIA

As mudanças em curso na mídia têm especial importância para os jovens


com pretensões a fazer carreira nesse campo. Os velhos estereótipos da
mídia estão desaparecendo. Entre eles, o repórter de jornal — sempre um
homem branco — com seu chapéu caído de lado, berrando “Dê-me um
furo!” quando telefonava em busca de detalhes de um incêndio ou de um
escândalo político. Os mitos sobrevivem, mas a vida real no mundo da
mídia é totalmente diferente desses mitos. Quando o autor deste livro
começou sua carreira jornalística na agência de notícias do New York
Times, há mais de 40 anos, as tecnologias disponíveis para ele eram
canetas, blocos de papel, um telefone e uma velha máquina de escrever
que se recusava a bater a letra p.
As redações de hoje são dominadas por terminais de bancos de dados,
aparelhos de fax, videocassetes e outros dispositivos computadorizados.
Muitas dessas máquinas serão substituídas em poucos anos por versões
mais avançadas, ou mesmo por tecnologias completamente novas que irão
transformar ainda mais o local de trabalho e exigir habilidades mais
sofisticadas.
Enquanto isso, nos níveis executivos das companhias de comunicação,
o ritmo da mudança tecnológica está forçando os administradores a
adaptarem-se a um novo ambiente de negócios. O resultado, como vere-
mos, são contínuas fusões, alianças, aquisições de controle e liquidações
das antigas empresas de comunicação à medida que se preparam para um
futuro incerto.

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COMUNICAÇÃO DE MASSA NA ERA DA INFORMAÇÃO 21

Para os estudantes que planejam uma carreira na mídia, essas mudanças


oferecem uma intrigante mistura de esperanças e dúvidas sobre o futuro.
Por um lado, eles estarão ingressando em um negócio — a produção e
distribuição da informação — que se expande de maneira extraordinária.
As tradicionais empresas de mídia continuarão a desempenhar um papel
fundamental em virtude de sua grande experiência em reunir e comercia-
lizar informação. Mas também há oportunidades desafiadoras no campo
das novas mídias. Acima de tudo, o progresso nessas áreas promete
carreiras mais criativas e recompensadoras que em qualquer época desde
que a primeira tecnologia moderna de mídia — a impressora tipográfica
de Gutenberg — foi desenvolvida, no século XV.
Uma das poucas certezas com que os novos profissionais de mídia
podem contar no futuro é que estarão constantemente lidando com o
impacto das mudanças tecnológicas e com a intensificação da demanda
por maior envolvimento intelectual e habilitação acadêmica. Esse proces-
so já vem ocorrendo e será acelerado à medida que nos aproximamos de
um novo século. Em que consistirão essas mudanças? Fortunas, e car-
reiras, serão construídas ou destruídas de acordo com as respostas. Bill
Gates, dono da Microsoft, que já fez sua fortuna em cima de uma aposta
tecnológica, prevê (em seu livro de 1995, A estrada do futuro) que as
pessoas obterão informações através de computadores do tamanho de uma
carteira ligados a vastos bancos de dados. Isso não indicaria a extinção,
depois de um longo declínio, dos meios de comunicação clássicos? Ou
não sugeriria que o jornal, os veículos eletrônicos, as companhias cinema-
tográficas, entre outras mídias atuais, têm agora uma oportunidade de ouro
de prosperar aplicando sua experiência ao novo contexto?
O computador de bolso de Bill Gates é só o começo. O tamanho dos
computadores já se aproxima do tamanho de carteiras. Nesse intervalo,
outros visionários vêm propondo idéias que fazem o computador de bolso
de Sr. Gates parecer uma pena de escrever. Considere-se, por exemplo, os
pesquisadores que vêm buscando caminhos para ampliar o processo de
expansão da informação humana através da implantação de microchips no
cérebro. Itiel Dror, professor-titular do Laboratório de Neurociência Co-
gnitiva da Universidade Miami de Ohio, assinala:

O cérebro é um instrumento de processar informação. Pode ser expandido para


aumentar a capacidade de processamento ou memória exatamente como você
pode acrescentar RAM ou atualizar seu CPU em um computador pessoal. O
cérebro também produz uma saída que é transmitida via comando motor.
Portanto, não há problemas — teoricamente — em conectar máquinas direta-

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22 A NOVA MÍDIA

mente ao cérebro de modo que comandos de saída se dirijam diretamente para


o computador...2

Hoje as indústrias de mídia não estão diretamente ameaçadas pela pos-


sibilidade de implantes de microchips no cérebro ou pela proposta de Bill
Gates do computador-carteira. No entanto, seria imprudente para qualquer
um que planeje trabalhar na mídia ignorar as implicações profissionais de
tais progressos tecnológicos. Este livro não é sobre implantes no cérebro
ou outras idéias futurísticas que podem ou não alterar os padrões da mídia.
Ele focaliza os progressos em curso, dando particular atenção aos fatores
políticos, econômicos e tecnológicos que influenciam os métodos pelos
quais as indústrias de comunicação irão produzir e distribuir seus produtos
nos próximos anos.
Grandes mudanças já ocorreram. A televisão a cabo, os videocassetes
domésticos e a Internet são os exemplos mais familiares das tecnologias
recentes que estão atualmente causando grande impacto nos padrões da mídia.
Essas novas tecnologias têm roubado audiência das transmissões televisivas
abertas e de outros serviços tradicionais. Como resultado, num tempo relati-
vamente curto, esses novos veículos se transformaram em parte substancial
da mídia, juntamente com a TV, o rádio, o cinema e as publicações.
A mídia tradicional ainda estará presente por muito tempo como parte
do panorama da comunicação de massa americana. Mas ela será diferente.
Os ventos da mudança varreram as suposições confortáveis que orienta-
vam suas operações em décadas recentes. A mídia tem uma nova agenda.
Quem competirá, com que produtos e para que públicos num mercado mais
complexo? Haverá muitos vencedores e perdedores nos processos trans-
formatórios que agora ocorrem na indústria. Os sobreviventes serão as
organizações que se adaptarem às realidades tecnológicas e econômicas
em transformação. Os perdedores serão os dinossauros empresariais,
grandes e pequenos, que não podem ou não querem mudar — todos
candidatos a fusões, aquisições ou simplesmente à falência.

UMA NOVA GERAÇÃO TECNOLÓGICA

O elemento crítico nesse novo padrão é o grupo de serviços de ponta


baseados em computadores, que competirão nas indústrias de entreteni-
mento e informação. Esses serviços incluem a televisão de alta definição,
transmissões radiofônicas digitais, computadores multimídia, bancos de
dados que cabem na palma da mão, sistemas de distribuição multiponto,
CD-ROM (compact disc read-only memory), discos laser, satélites de

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COMUNICAÇÃO DE MASSA NA ERA DA INFORMAÇÃO 23

transmissão direta, aparelhos de fax de última geração, telefones inteli-


gentes, redes de computadores para consumidores, jornais eletrônicos
portáteis e serviços nacionais de videotexto.
O mecanismo final para fornecer os serviços de mídia de ponta nos lares
pode ser o telecomputador, uma fusão das tecnologias da televisão e do
computador numa só caixa, oferecendo uma gama de serviços de vídeo,
voz e dados. (Cada uma dessas tecnologias é estudada em detalhes nos
capítulos II e III.) A América corporativa está em uma corrida para ver
quem consegue desenvolver e vender um novo leque de serviços de
tecnologia avançada de multimídia.
Será que essas novas tecnologias se adequam à antiga definição de
meios de comunicação de massa? Certamente não, se levarmos em consi-
deração o sentido que o dicionário dá ao termo. Mídia de massa, his-
toricamente, significa produtos de informação e entretenimento central-
mente produzidos e padronizados, distribuídos a grandes públicos através
de canais distintos.3 Os novos desafiantes eletrônicos modificam todas
essas condições. Muitas vezes, seus produtos não se originam de uma fonte
central. Além disso, a nova mídia em geral fornece serviços especializados
a vários pequenos segmentos de público. Entretanto, sua inovação mais
importante é a distribuição de produtos de voz, vídeo e impressos num
canal eletrônico comum, muitas vezes em formatos interativos bidirecio-
nais que dão aos consumidores maior controle sobre os serviços que
recebem, sobre quando obtê-los e sob que forma. Como dizem os analistas
econômicos John Browning e Spencer Reiss, “a mídia velha divide o
mundo entre produtores e consumidores: nós somos autores ou leitores,
emissoras ou telespectadores, animadores ou audiência; como se diz
tecnicamente, essa é a comunicação um-todos. A nova mídia, pelo contrá-
rio, dá a todos a oportunidade de falar assim como de escutar. Muitos falam
com muitos — e muitos respondem de volta.”4

LARANJAS E MAÇÃS DIGITAIS

Os puristas podem argumentar que a nova mídia é substancialmente


diferente da velha: confundi-la com a mídia convencional seria misturar
laranjas com maçãs, canais tradicionais com a nova mídia eletrônica. A
verdade, no entanto, é que a linha divisória entre as duas está sendo diluída
todos os dias. Como podem os telefones competir com os sistemas a cabo?
Os compact discs com os livros? Os aparelhos de fax com os jornais? Em
cada caso, eles já competem. Os próximos anos verão mudanças seme-
lhantes na medida em que as tecnologias de ponta da mídia corróem os

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Rediagramação
1ª Rev.: 21/02/2000
2ª Rev.: 09/03/2000 – Cap. 1
Produção: Textos & Formas
Para: Jorge Zahar Editor
24 A NOVA MÍDIA

estilos operacionais da mídia antiga e lutam por crescentes parcelas de seus


públicos e suas receitas. Será indispensável aos jovens ingressando no
mercado de trabalho de mídia entender essas novas tecnologias, o quanto
elas diferem das práticas antigas, como irão afetar nossas vidas, pessoal
ou coletivamente, num novo tipo de sociedade da era da informação.
Essa transição está sendo liderada por várias tendências interrelaciona-
das — políticas, econômicas e tecnológicas. Muitos observadores concor-
dam que a tecnologia é, pelo menos inicialmente, a primeira causa da
mudança. Os meios de comunicação de massa estão entre os vários setores
da comunicação que estão sendo transformados pelas novas formas de
coletar, armazenar e transmitir informação.
O fator comum nessa transição é a mudança para a informação na forma
digital. Os produtos de voz, impressos e em vídeo estão cada vez mais sen-
do criados e distribuídos como bits e bytes, o código básico dos computa-
dores. O antigo modo de distribuir os produtos da mídia por canais separa-
dos e diferentes está desaparecendo. No seu lugar estão surgindo redes que
não fazem distinção entre voz, vídeo ou a informação impressa que trans-
mitem. Cada vez mais esses dados circulam em uma rede digital comum.
Um fio de fibra-ótica, por exemplo, pode transmitir o conteúdo total de
um jornal, de uma novela de televisão ou de um filme de hollywood
simultaneamente e na velocidade da luz. A capacidade de transmissão da
informação nesses circuitos é extraordinária: um cabo de fibra, tão fino
quanto um fio de cabelo humano, pode transmitir todo o conteúdo da
Enciclopédia Britânica em menos de um minuto.

O FATOR INTERNET

No capítulo II, vamos analisar mais detalhadamente essa revolução tec-


nológica que acontece na mídia americana. Entretanto, examinemos pri-
meiro a Internet, a tecnologia que promete dominar a revolução digital no
novo século.
Até o fim dos anos 80, a Internet era um obscuro brinquedo tecnológico
usado basicamente por pequenos grupos de fanáticos por computadores.
Desde então, ela se transformou na rede de computadores com maior
crescimento no mundo inteiro, com cerca de 300 milhões de PCs, em mais
de 150 países, que estarão conectados à Internet na virada do século, de
acordo com uma pesquisa da Merril Lynch.5 A rede se expandiu em 50%
a cada ano durante a década de 90, impulsionada pelo interesse dos
usuários comuns de computadores na World Wide Web e nas demais
ferramentas da Internet. (v. tabela 1.1)

A Nova Mídia (Diza)


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