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Capítulo I

O Setor Elétrico Brasileiro


Modelo Estrutural público, produção independente e autoprodução.
A produção independente possibilita a entrada de
O setor elétrico brasileiro passou, a partir de 1995 novos investidores com autonomia para realização
por uma completa reestruturação institucional e de contratos bilaterais de compra e venda de energia
regulamentar, marcada pela introdução da livre com- elétrica, de forma competitiva e com flexibilidade
petição nos segmentos de geração e de comercializa- para consolidação de suas estratégias.
ção, com a inserção de novos agentes, e pela garantia Os segmentos de transporte de energia elétrica,
do livre acesso na prestação dos serviços de energia monopólios naturais, submetem-se, de maneira mais
elétrica. Como decisão de Governo, conduzida pelo expressiva, à regulação. As atividades de transmissão
Ministério de Minas e Energia – MME, essa adequação e distribuição são exercidas contra o faturamento dos
teve como objetivos principais a redução do papel do serviços prestados com base em tarifas fixadas pela
Estado nas funções empresariais, a privatização das ANEEL e estabelecidas mediante contrato de conces-
empresas existentes e a licitação da expansão, com são. As instalações de transmissão, componentes da
atração do capital privado, e o estabelecimento e for- Rede Básica, são administradas pelo ONS, por meio de
talecimento institucional dos órgãos reguladores. contratos de prestação de serviços com os detentores
A concretização dessas metas foi alcançada com dos ativos desta natureza.
as seguintes medidas:
A inserção de
agentes privados

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nessas atividades
��� �������� � ����������
é possível nos pro-
cessos de privati-
� zação de ativos e
��������� nas concorrências
��������
������� para a implanta-
� ção de novos em-
preendimentos.
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Na distribuição, a
� participação do
capital privado
já é majoritária
0 a instituição da Agência Nacional de Energia em função da
Elétrica – ANEEL, com a atribuição de regular desestatização dos seus ativos, ocorrida nas empresas
e fiscalizar os serviços de energia elétrica; públicas estaduais (da ordem de 90% já realizado). Na
0 a desverticalização das empresas, segmen- transmissão, esse processo encontra-se em implemen-
tando as atividades de produção, transporte tação com o programa de licitações de novas linhas,
e comercialização; iniciado em 2000.
0 a instituição de um modelo comercial compe- A atividade de comercialização, estabelecida como
titivo, com a criação do Produtor Independen- forma de permitir a intermediação ou a venda direta
te de Energia, do Consumidor Livre e do Mer- aos consumidores e distribuidores, tem o objetivo de
cado Atacadista de Energia Elétrica – MAE; flexibilizar e dar efetividade ao mercado competitivo
0 a garantia do livre acesso às redes de trans- de energia elétrica. Sem os requisitos de detenção de
missão e de distribuição, com a definição da ativos, essa atividade pode ser exercida pelos agentes
Rede Básica de Transmissão e do Operador de produção e por aqueles específicos autorizados
Nacional do Sistema Elétrico – ONS; pela ANEEL, incrementando as opções de escolha e
0 a transição do ambiente regulado para o com- de negociação dos consumidores. Incluem-se aqui as
petitivo, com o estabelecimento dos Contra- possibilidades de importação e exportação de ener-
tos Iniciais. gia elétrica em relação aos países vizinhos.
No segmento de produção, no qual se ressalta o Todas essas atividades submetem-se à regulação
princípio da competição, o modelo implementado e fiscalização da ANEEL, visando garantir a continui-
abrange três modalidades de exploração: serviço dade e qualidade dos serviços prestados. A operação

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dos sistemas elétricos tem coordenação e supervisão 0 arbitrar conflitos de interesses;
do ONS, enquanto que a parte comercial do mercado 0 fiscalizar de forma ampla;
competitivo está sob a abrangência do MAE. Outras 0 defender o interesse do Cidadão-Consumi-
instituições têm papel relevante no modelo do setor dor.
elétrico brasileiro, em especial na questão do planeja- A ANEEL também exerce o papel de Poder Con-
mento e financiamento da expansão. cedente, responsável pela condução das outorgas de
concessão, autorização e permissão para exploração
Conheça quais são e que funções exercem as insti- dos serviços de energia elétrica. Outras informa-
tuições que atuam no setor elétrico brasileiro: ções sobre a ANEEL, além do conjunto das normas
que abrangem o setor de energia elétrica brasi-
Ministério de Minas e Energia – MME leiro, podem ser encontradas na página da ANEEL
Órgão do Poder Executivo responsável pelas polí- www.aneel.gov.br.
ticas governamentais, tem sob sua atuação assuntos
ligados a: Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS
a) geologia, recursos minerais e energéticos; O ONS é uma entidade de direito privado, respon-
b) mineração e metalurgia; sável pela coordenação e controle da operação das
c) petróleo, combustível e energia elétrica, inclu- instalações de geração e transmissão de energia nos
sive nuclear. sistemas interligados brasileiros, a partir do Centro
Compete ao MME, em harmonia com as diretrizes Nacional de Operação dos Sistemas e dos centros de
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do Conselho Nacional de Política Energética, elaborar operação das supridoras regionais.


políticas, programas governamentais, metas e instru- Integram o ONS empresas de geração, transmis-
mentos para a prestação dos serviços públicos de são, distribuição, importadores e exportadores de
energia elétrica aos consumidores. Tem ainda sob energia elétrica e consumidores livres, tendo o MME
sua responsabilidade o planejamento indicativo da como membro participante, com poder de veto em
expansão do sistema de geração e determinativo do questões que entrem em conflito com as diretrizes e
sistema de transmissão. O planejamento indicativo políticas governamentais para o setor. As principais
da geração consiste em um guia para que os inves- atribuições do ONS são:
tidores possam detectar oportunidades de negócios, 0 planejamento e programação da operação e
seja em termelétricas, hidrelétricas ou outras fontes despacho centralizado da geração, com vistas
de energia. na otimização dos sistemas eletroenergéticos
Outras informações sobre o MME e detalhamen- interligados;
tos das políticas governamentais para o setor elétrico 0 supervisão e controle da operação dos siste-
brasileiro podem ser obtidas na página do Ministério: mas eletroenergéticos nacionais e das interli-
www.mme.gov.br. gações internacionais;
0 contratação e administração dos serviços de
Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL transmissão de energia elétrica e respectivas
Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL condições de acesso;
foi instituída como autarquia especial, vinculada ao 0 elaboração de propostas anuais de amplia-
Ministério de Minas e Energia, com a finalidade de ções e reforços das instalações da Rede Básica
regular e fiscalizar a produção, a transmissão, a dis- de Transmissão.
tribuição e a comercialização de energia elétrica, de Na página do ONS – www.ons.org.br – podem
acordo com a legislação e em conformidade com as ser encontradas informações sobre a produção de
diretrizes e as políticas do Governo Federal. energia, intercâmbio entre regiões, balanço diário,
A ANEEL orienta suas atividades de forma a pro- demandas máximas, geração no horário de ponta,
porcionar condições favoráveis para que o desenvol- situação hidrológica dos principais reservatórios e
vimento do mercado de energia elétrica ocorra com principais ocorrências.
equilíbrio entre os agentes e em benefício da socie-
dade, tendo como principais competências: Mercado Atacadista de Energia Elétrica – MAE
0 garantir tarifas justas; As transações de compra e venda de energia elé-
0 zelar pela qualidade dos serviços prestados; trica no curto prazo, não cobertas por contratos bila-
0 exigir/promover os investimentos necessários; terais, são realizadas no âmbito do Mercado Atacadis-

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ta de Energia Elétrica – MAE. Criado como ambiente marco importante para o MAE foi a realização, no
de mercado auto-regulado pela Lei nº 9.648, de 27 primeiro semestre de 2003, das auditorias dos pro-
de maio de 1998, o MAE ganhou personalidade jurídi- gramas computacionais utilizados na contabilização,
ca de direito privado, sem fins lucrativos, submetido à deixando claro que as Regras aprovadas pela ANEEL
autorização, regulamentação e fiscalização da ANEEL estavam devidamente implementadas. Atualmente
em fevereiro de 2002, com a publicação da Medida o MAE encontra-se em dia com suas atribuições de
Provisória 29, convertida posteriormente na Lei nº contabilização e liquidação financeira das transações
10.433, de 24 de abril de 2002. Integram o MAE os de compra e venda de energia elétrica no mercado
titulares de concessão, permissão ou autorização para de curto prazo. Ressalte-se o elevado índice de adim-
geração, distribuição, comercialização, importação ou plência nas liquidações financeiras.
exportação de energia elétrica, e consumidores livres, Informações atualizadas sobre o MAE podem ser
na forma da Convenção do Mercado, instituída pela encontradas em www.mae.org.br.
Resolução ANEEL nº 102, de março de 2002.
A Convenção do Mercado é um instrumento que Centrais Elétricas Brasileiras S/A – ELETROBRÁS
estabelece a estrutura e a forma de funcionamento A Centrais Elétricas Brasileiras S/A – ELETROBRÁS é
do MAE, disciplinando as obrigações dos agentes de uma empresa pública, holding das concessionárias de
mercado, a composição e as atribuições do conselho geração e transmissão de energia elétrica de proprie-
de administração do MAE, as competências da Supe- dade do Governo Federal, com atuação em todo o ter-
rintendência do MAE, o processo de contabilização e ritório nacional através de suas subsidiárias. Possuidora

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liquidação do MAE, e outras disposições gerais. de 50% do capital da Itaipu Binacional, promove pes-
A implementação do Mercado procede em etapas, quisas no campo da energia elétrica através do Centro
inicialmente definidas pela Resolução ANEEL nº 290, de Pesquisas de Energia Elétrica – CEPEL e opera pro-
de agosto de 2000. As etapas e o cronograma para gramas do Governo Federal na área de energia elétrica,
implantação das Regras do Mercado e consolidação como o PROCEL, o Luz no Campo e o RELUZ.
do Mercado Atacadista de Energia Elétrica foram Em parceria com os governos estaduais e o BNDES,
ajustadas pela Resolução ANEEL nº 446, de agosto a ELETROBRÁS participa da administração de empre-
de 2002, e, posteriormente, pela Resolução ANEEL nº sas concessionárias de energia, com gestão vinculada
237, de maio de 2003. ao objetivo empresarial, otimizando as condições de
O processo de reestruturação do MAE, iniciado privatização dessas empresas.
nos primeiros meses de 2002 pela ANEEL, trouxe uma Maiores informações sobre a ELETROBRÁS podem
nova realidade ao mercado de energia de curto pra- ser obtidas na página www.eletrobras.gov.br.
zo. O MAE deixou de ser auto-regulado e passou a ser
regulado pela ANEEL, nos termos da Convenção do Com a reestruturação do setor elétrico, também
Mercado. Desde então, várias versões de Regras e Pro- surgiram novos agentes e novos mecanismos no
cedimentos de Mercado foram aprovadas pela ANEEL mercado. São os seguintes:
e devidamente implementadas pelo MAE, permitindo
a contabilização das transações de compra e venda Produtor Independente de Energia Elétrica
de energia no âmbito do MAE e sua conseqüente li- Consideram-se Produtor Independente de Ener-
quidação financeira. As diferentes versões das Regras gia Elétrica a pessoa jurídica ou empresas reunidas
e Procedimentos do Mercado foram necessárias para em consórcio que recebam concessão ou autorização
atender ao cronograma de implantação do MAE, defi- do Poder Concedente, para produzir energia elétrica
nidos nas Resoluções ANEEL nos 290, de 3 de agosto destinada ao comércio de toda ou parte da produção,
de 2000, 446, 22 de agosto de 2002 e 237, de maio por sua conta e risco.
de 2003, e também para a implementação do Acordo A entrada no mercado de empresas capazes
Geral do Setor Elétrico. de ampliar e melhorar as condições de oferta e
Um grande marco na história do MAE, resultante prestação de serviços, tendo como garantia o livre
de sua reestruturação de 2002, foi a liquidação finan- acesso aos sistemas elétricos e autonomia para re-
ceira das transações de compra e venda de energia alização de contratos bilaterais de compra e venda
realizadas entre setembro de 2000 e setembro de de energia, configura-se como condição primor-
2002 no âmbito de tal mercado, que ocorreu em duas dial para assegurar o desenvolvimento sustentável
etapas: dezembro de 2002 e julho de 2003. Outro do setor.

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Autoprodutores de Energia Elétrica consumidores reunidos por comunhão de interesses
Consideram-se Autoprodutor de Energia Elétrica de fato ou direito, cuja carga seja maior ou igual a
a pessoa física ou jurídica ou empresas reunidas em 500 kW, independentemente dos prazos de carência
Consórcio que recebam concessão ou autorização constantes do art. 15 da Lei nº 9.074, de 07 de julho
para produzir energia elétrica destinada ao seu uso de 1995, observada a regulamentação da Aneel.
exclusivo. Poderão comercializar também, até o limite mí-
O Autoprodutor pode comercializar, eventual ou nimo de 50 kW, quando o consumidor ou conjunto
temporariamente, seus excedentes de energia elétri- de consumidores se situarem em sistema elétrico
ca mediante autorização da ANEEL. isolado.

Agente Comercializador de Energia Elétrica Livre Acesso aos Sistemas de Transmissão e de


A comercialização tem por fundamento o es- Distribuição
tímulo à competição no fornecimento de energia O Livre Acesso é o direito de utilização das redes
elétrica aos consumidores finais. Os agentes comer- elétricas que prestam serviços públicos, independen-
cializadores são empresas sem restrições de posse de temente de suas características técnicas, para trans-
ativos ou sistemas elétricos e atuam exclusivamente portar energia desde os pontos de produção (centrais
no mercado de compra e venda de energia elétrica, geradoras) até os consumidores. O Livre Acesso viabi-
somando-se àqueles que têm o objetivo de disponi- liza a implantação da competição nos segmentos de
bilizar energia elétrica para o consumo, aumentando geração e comercialização de energia elétrica.
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a oferta e reduzindo os custos de aquisição pelo con- A utilização das redes elétricas (sistemas de trans-
sumidor final. Também podem comercializar energia missão e de distribuição) por terceiros tem o objetivo
os importadores e exportadores, os produtores inde- de permitir as transações de compra e venda de ener-
pendentes e os concessionários de serviços públicos gia entre produtores e consumidores, independen-
de geração. temente de sua localização física. As redes elétricas
de transmissão e distribuição funcionam como meio
Consumidor Livre para a entrega de energia, devendo executar uma
Consumidor Livre é o usuário do sistema elétrico a função neutra e imparcial, estando toda a capacidade
quem é dada a opção de contratação do fornecimen- disponível a quem quiser utilizá-la.
to de energia de qualquer empresa concessionária Os sistemas de transmissão e de distribuição são
ou autorizada, localizada mesmo fora da área de constituídos pelas linhas e subestações existentes,
concessão em que se encontra instalada a unidade de propriedade das várias empresas concessionárias
consumidora. dos serviços públicos de energia elétrica. Farão parte
Até 1995, todos os consumidores de energia elétri- também os novos empreendimentos, implantados
ca do Brasil eram cativos da empresa concessionária para atender o crescimento do mercado, permitindo
da área geográfica em que se situavam. Nesse ano, a o desenvolvimento econômico das diversas regiões.
legislação permitiu que os consumidores cuja unida- São usuários do serviço de transporte de energia
de possuísse demanda igual ou superior a 10.000 kW, os produtores, os consumidores livres e as concessio-
atendidas em tensão igual ou maior a 69 kV, passas- nárias de distribuição.
sem a ter o direito de optar por contratar diretamente O serviço de transmissão é feito através das insta-
seu fornecimento de energia elétrica. lações da Rede Básica, com tensão igual ou superior
Os consumidores cuja unidade possua deman- a 230 kV, e dos recursos operacionais das empresas,
da superior a 3.000 kW, atendidas em tensão igual sendo o acesso a tais empresas administrado pelo
ou superior a 69 kV, podem optar pela contrata- ONS. As redes abaixo de 230 kV geralmente prestam
ção do fornecimento de qualquer empresa con- serviço de abrangência regional (redes de distribui-
cessionária, permissionária ou autorizada para a ção), sendo sua coordenação e operação executadas
comercialização.Também têm esse direito os consu- pela concessionária de distribuição local.
midores cuja unidade tenha sido ligada após 1995, As condições gerais (atribuições, formas de solicita-
atendidos em qualquer tensão, com demanda igual ção, obrigações, direitos, índices de qualidade, formas
ou superior a 3.000 kW. de faturamento, tarifas etc.) para contratação e ope-
Atualmente, as PCHs poderão comercializar racionalização do acesso aos sistemas de transmissão
energia elétrica com consumidores ou conjunto e e de distribuição foram estabelecidas em regulamen-

16 Guia do Empreendedor de Pequenas Centrais Hidrelétricas


tação específica emitida pela ANEEL. As tarifas de uso regras de transição para o ambiente competiti-
são calculadas mediante rateio dos custos associados vo, estabelecendo mecanismos de proteção dos
aos serviços de transporte de energia elétrica a serem consumidores cativos e a evolução temporal do
pagos pelos usuários desses serviços. mercado para a competição na oferta de energia
As tarifas fornecem uma sinalização econômica elétrica.
que induz ao uso racional das redes elétricas (buscan- 0 A Lei nº 10.438, de 26 de abril de 2002, dispõe
do evitar a construção de novas linhas e subestações sobre a expansão de energia elétrica emergen-
desnecessárias) e indicam as regiões carentes de cial, a recomposição tarifária extraordinária, cria
oferta de energia ou com disponibilidade para aten- o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas
dimento de novos consumidores. (Proinfa), a Conta de Desenvolvimento Energé-
Todo este processo, formado por novas estruturas tico (CDE) e dispõe sobre a universalização do
e agentes, por meio de um modelo competitivo, visa serviço público de energia elétrica.
estimular investimentos no setor que redundarão em
aumento de eficiência e melhoria na qualidade do Regras de Transição do Ambiente Regulado para o
serviço prestado. A regulamentação específica dos Competitivo
aspectos destacados é feita pela ANEEL, com ampla
discussão com os agentes setoriais e com a sociedade. a) Contratos Iniciais
A reestruturação do setor elétrico brasileiro insti-
Marcos Regulatórios tuiu um período de transição, de modo que a migra-

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Um conjunto de leis, a partir de 1995, estabeleceu ção para um ambiente competitivo seja feita evitan-
as bases legais para a reestruturação do setor elétrico do a ocorrência de grandes impactos e possibilitando
brasileiro, dando sustentação e estabilidade para as tempo aos agentes para o aprendizado necessário.
mudanças. Entre os principais aspectos estabelecidos, Com esse objetivo, criou-se a figura dos Contratos
citam-se: Iniciais. Estes consistem em contratos bilaterais de
0 A Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995 (Lei longo prazo – até 2006 – nos quais, a partir de 2003,
de Concessões de Serviços Públicos), de caráter os volumes de energia inicialmente contratados se-
geral, e a Lei n.º 9.074, de 07 de julho de 1995, rão gradativamente reduzidos, na proporção de 25%
específica para a área de energia elétrica, forne- ao ano, e liberados para compra e venda no ambiente
ceram um ordenamento legal mínimo e os prin- de livre mercado.
cipais contornos para a reestruturação. A partir
daí, estabeleceu-se a obrigatoriedade de licita- ������� �����

ção para as concessões de serviços públicos; a

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criação do Produtor Independente de Energia ���
Elétrica; a instituição dos consumidores livres; e
a garantia do livre acesso aos sistemas de trans- ������� �����������
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missão e de distribuição;
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0 A Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996, ���������


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criou a Agência Nacional de Energia Elétrica ��������� �������� ���


���������� ����������� �� ��������
– ANEEL, com a atribuição de regular e fiscalizar
os serviços de energia elétrica. A ela foi delega-
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do, também, o papel de Poder Concedente, sen-
do responsável pelos atos de outorga relativos
às concessões, autorizações e permissões para
exploração dos citados serviços; b) Valor Normativo
0 A Lei nº 9.648, de 27 de maio de 1998, comple- Os limites de repasse dos preços de compra de
tou as bases do modelo implantado, estabele- energia, livremente negociados pelas distribuidoras,
cendo a segmentação das atividades de gera- para as tarifas de fornecimento dos consumidores
ção, transmissão/distribuição e comercialização; cativos foram regulamentados pela ANEEL. Estabe-
a criação do Operador Nacional do Sistema leceram-se fórmulas de cálculo que limitam progres-
Elétrico-ONS; e a instituição do Mercado Ataca- sivamente o repasse do preço da energia comprada
dista de Energia Elétrica – MAE. Fixou também as para as tarifas aos consumidores finais.

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O Valor Normativo (VN) definido pela ANEEL é ex- a viabilização de novos investimentos na expansão
presso em R$/MWh, sendo associado a cada Contrato da oferta de energia (geração), com estímulo para as
de Compra de Energia Elétrica o valor vigente à época Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), fontes alterna-
do fechamento do negócio, bem como a respectiva tivas e co-geração. A tabela anterior mostra os valores
fórmula de reajuste que será utilizada durante a vi- fixados com referência a janeiro de 2001, constantes da
gência do contrato. Os contratos bilaterais de compra Resolução ANEEL nº 22, de 1º de fevereiro de 2001.
de energia elétrica por parte dos consumidores livres O advento da crise de oferta de energia elétrica
não estão sujeitos a esses limites nem à aplicação do que culminou com o racionamento, encerrada em
VN. fevereiro de 2002, mostrou a necessidade de revisão
dos procedimentos, fórmulas e limites de repasse dos
VALORES NORMATIVOS EM JANEIRO DE 2001 preços de compra da energia elétrica às tarifas de for-
R$/MWh US$/MWh necimento ao consumidor final, praticadas por em-
Competitiva 72,35 36,85 presas distribuidoras e produtores independentes.
Carvão nacional 74,86 38,13 A Resolução ANEEL nº 248, de 06 de março de
PCH 79,29 40,39 2002, atualizou os procedimentos para o cálculo dos
Biomassa/Resíduos 89,86 45,77 limites de repasse dos preços de compra de energia
Eólica 112,21 57,15 elétrica, para as tarifas de fornecimento e estabele-
Solar 264,12 134,53 ceu o valor normativo único, representativo de fonte
US$ 1,00 = R$ 1,9633 competitiva, conforme o quadro a seguir:
O Setor Elétrico Brasileiro

VN (R$ MWh) F 10 min


Os Valores Normativos estabelecidos pela ANEEL
72,35 0,25
são diferenciados por tipo de fonte energética e ba-
seiam-se nos custos dos novos empreendimentos
de geração, nos Contratos Bilaterais de Compra de Atualizado para setembro de 2003, considerando
Energia Elétrica e nas diretrizes da Política Energética exclusivamente o fator de ponderação do IGPM (F1 =
Nacional. Essa medida, entre outros benefícios, permite 100%) = R$ 105,96/MWh.

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