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Globalização, interculturalidade e identidade cultural:

Os estudantes brasileiros no contexto da faculdade de medicina da UNR .

Nas palavras de Garcia Canclini (2009) o século XX foi o século do reconhecimento da


diversidade. Houve um avanço na aceitação das primeiras formas de cidadania
multinacional e em algumas cidades conseguiu-se que grupos diferentes convivessem com
certa legitimidade. Porém, a complexidade das relações entre comunidades culturais
diferentes confluiu, no século XXI, na passagem da “diversidade como riqueza para a
interculturalidade como desordem” (Canclini, 2009, p. 143).

Rosário é uma cidade que se caracteriza por oferecer um amplo leque de opções para quem
decide empreender, retomar ou continuar, sua formação universitária. A urbe tem sido, nos
últimos anos, o destino escolhido por muitos estrangeiros para desenvolver seus estudos na
Universidade Nacional de Rosário- UNR. O caso de alunos de nacionalidade Brasileira que
migraram para estudar medicinana Faculdade de Ciências Médicas da UNR,
particularmente desde 2016 até hoje, tem se tornado um fenômeno indiscutível.

Em 2016, de um total de 343 alunos estrangeiros inscritos em medicina, 313 eram do


Brasil1. Segundo o decano da Faculdade Riccardo Nidd, de um 15% de alunos não-
argentinos que se cadastraram em medicina, em 2018 “10 % del estudiantado [...] es
brasileño” . Segundo o referido reitor, trata-se de alunos que vivem em um “exilio
educativo” provocado pelo caráter restritivo do ingresso às universidades no Brasil.
Contrariamente, ao modelo de acesso irrestrito que opera na Argentina.

O quadro apresentado anteriormente é perceptível uma vez que se passeia pelas imediações
da faculdade de ciências médicas, onde é comum ouvir à pessoas falarem em português,
situação que segundo uma voz do jornalismo (2016) propiciaria “una mirada abierta y una
faceta multicultural a Rosario”. 

O presente trabalho tem como objetivo refletir a respeito de fenômenos como a


globalização e a interculturalidade tomando como foco de analise o caso dos brasileiros que
se transferem à cidade de Rosário, para estudar medicina, na Universidade Nacional de
Rosario.
1
Fuente: UNR, Boletin estadístico nº 68, 2017.
O trabalho articula-se em xxx instâncias: revisão dos conceitos chaves inerentes ao
conteúdo temático da análise, exposicao de aspectos gerais relatios às políticas de educação
superior na argentina e no brasil, exposição das vozes, concideracoes finais.

Para começar, algumas definições:

A globalização

Apesar de que vários autores têm se dedicado a conceituação da globalização, não existe
uma definição unívoca. Tal dificuldade decorre das diferentes dimensões que o referido
processo atinge, econômicas, sociais, políticas, jurídicas, culturais, religiosas, e a
complexidade que geram as inter-relações produzidas entre cada uma delas. Trata-se de um
fenômeno de caráter “multifacetado” (Santos, 2002, p. 26)” multidimensional” (Castells:
2000, P. 5)

“[...] resultante de la capacidad de ciertas actividades de funcionar como


unidad en tiempo real a escala planetaria. En las dos últimas décadas del
siglo XX se ha constituido un sistema tecnológico de sistemas de
información, telecomunicaciones y transporte [...] Las redes globales
articulan individuos, segmentos de población, países, regiones, ciudades o
barrios (Castells: 2000, pp. 5- 7)

As “redes de fluxo” (Castells: 2000, p. 5), facilitadas pelo desenvolvimento das tecnologias
da comunicação, têm transformado o panorama cultural dos territórios. A relação entre as
culturas e os territórios “[...] está sendo modificada pelos deslocamentos de massas de
imigrantes, exilados, turistas e outros viajantes, assim como pela crescente
interdependência de cada sociedade e muitas outras, próximas e distantes, propiciadas pelas
industrias comunicacionais" (Canclin: 1999, p.144).

O entretecido que se gera a partir do novo cenário global provoca mudanças de forma
generalizada e implica a necessidade de refletir a respeito da forma em que se pensam
aspectos como a identidade e a cultura. Empreender a definição destes dois conceitos pode
conduzirmos por diversos caminhos. Todavia, para um melhor alcance do escopo que aqui
se propõe, serão explorados os pressupostos teóricos do Grimson, Camclini e Barbero.

Segundo Alejandro Grimson (2010), a identidade se associa a nossos sentimentos de


pertencia a um coletivo. Ela se forma por indivíduos cujos vínculos estão determinados por
aspectos comuns como: a região, os símbolos, representações sociais, idade, géneros,
regiões, entre outros. As mudanças que suscitou o processo da globalização têm influído na
diversificação dos espaços de pertencimento. Falar em identidade implica, hoje, duas
dimensões diametralmente opostas:

“(….) hablar de territorio y de raíces (…) de memoria ancestral y


simbólica (…) Pero (…) también hablar de redes, y de flujos, de
migraciones y movilidades, de instantaneidad y desanclaje. Antropólogos
ingleses han expresado esa nueva identidad a través de la espléndida
imagen de moving roots, raíces móviles, o mejor raíces en movimiento”.
(Barbero 2003)

Antigamente, o Estado Nação funcionava como agente regulador da vida social através da
língua, as fronteiras geopolíticas, os símbolos pátrios, entre outros. Hoje, os discursos sobre
a representação da identidade são constituídos na mídia, nas redes de computadores, na
publicidade. Ambientes que sustentam práticas de vida, comportamentos, pensamentos e
gostos. Nesses universos culturais estão surgindo novas comunidades e sendo sedimentadas
as identidades contemporâneas.

A globalização quebrou os esquemas tradicionais do que se consideravam aspectos


constitutivos da identidade. Do mesmo modo influenciou para as mudanças que se deram
na forma em que concebemos a cultura. Segundo García Canclini (2004), a cultura alude ao
conjunto de los procesos sociales de significación as prácticas, creencias y significados
rutinarios, fuertemente sedimentados. de un modo más complejo, la cultura abarca el
conjunto de procesos sociales de producción, circulación y consumo de la significación en
la vida social". A diferença, sabemos, é essencial ao significado, e o significado
é crucial à cultura
O sociólogo argentino, propõe, então, falar em cultura como adjetivo:“lo Cultural”, o que,
segundo o autor, nos abre a possibilidade de pensá-la desde um enfoque heurístico como
um recurso para tratar da diferencia. Para isto, o referido autor traça uma distinção entre
duas formas de como a diferença é abordada: desde uma ótica da multiculturalidade, ou da
interculturalidade. Ambos os termos supõem dois modos de produção do social: a
multiculturalidade supõe a aceitação do que é heterogêneo; e a interculturalidade implica
que os diferentes são o que são em relações de negociação, conflitos e empréstimos mútuos.

A interculturalidade é uma abordagem que se concentra em:

“el conjunto de procesos a través de los cuales dos o más grupos


representan e intuyen imaginariamente lo social, conciben y gestionan las
relaciones con otros, o sea las diferencias, ordenan su dispersión y su
inconmensurabilidad mediante una delimitación que fluctúa entre el orden
que hace posible el funcionamiento de la sociedad, las zonas de disputa
(local y global) y los actores que la abren a lo posible” (Canclini, 2004:
40)

A globalização representa a chave de leitura para compreender as dinâmicas


culturais atuais.

O ingresso à educação superior no Brasil e Na argentina, aspectos gerais.

Nesta seção do trabalho serão abordados alguns aspectos gerais sobre as diretrizes politico-
legislativas vinculadas ao ingresso `educação superior no Brasil e na Argentina para
realizar um contraste entre ambos os casos.

A situação de ingresso à universidade no Brasil.

No Brasil a Lei n° 9.394 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LBD, sancionada


em 2 dezembro de 1996, estabelece que a educação é:

“(...) dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e


nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho” Art. 1°

A LDB prevê que a educação será de caráter obrigatória e gratuita “ (...) dos 4 (quatro) aos
17 (dezessete) anos de idade”, isto é, em todos os níveis da educação básica: o ensino pré-
escolar, fundamental e médio. Em relação ao ensino superior a norma expressa que este
será oferecido por instituições públicas ou privadas e seu acesso será restringido àqueles
“(...) candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e
tenham sido classificados em processo seletivo (…) O processo seletivo
referido no inciso II considerará as competências e as habilidades
definidas na Base Nacional Comum Curricular” Art. 44 inc .

Observa-se, a partir do exposto, que não se faz menção ao ensino superior no que tange a
obrigatoriedade e gratuidade desta fase educativa. Por outro lado, manifesta-se que o acesso
à educação superior dependerá de um processo avaliativo posterior à conclusão da
Educação Básica.

Formas de acesso2

A admissão nas instituições de ensino superior dependerá de uma série de avaliações que os
candidatos deverão superar para concorrer por uma vaga de estudo. As mais destacadas são:

 O Vestibular: exame dos conhecimentos do estudante nas disciplinas cursadas no


ensino médio. Pode ser aplicado pela própria instituição ou por empresas
especializadas, e é o modo mais tradicional

 O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio): prova que avalia o desempenho dos


estudantes de escolas públicas e particulares do Ensino Médio.

Para realizar o ENEM, os interessados devem pagar uma taxa de inscrição de R$ 82,
aproximadamente. A Isenção do imposto no Enem pode ser solicitada por Estudantes que
estiverem matriculados em escolas públicas, ou com baixa renda familiar entre outros
aspectos.

Desde 2009, o Enem tornou-se também uma avaliação que seleciona estudantes de todo o
país para instituições federais de ensino superior e para programas do governo federal, cuja

2
Ministério da Educação www.mec.gov.br
finalidade é financiar a graduação na educação superior de estudantes que não têm
condições de fazê-lo autonomamente.

A situação dos ingressantes ao ensino superior em solo Argentino

Na Argentina, a lei de Educação Superior N° 27.204, modificada em outubro de 2015,


estabelece, no artigo 1°, que o Estado nacional, as províncias e a Cidade Autónoma de
Buenos Aires são os principais e indelegáveis responsáveis da educação superior. No
marco desta norma, declara-se o Estado Nacional “ (…) responsable de proveer el
financiamiento, la supervisión y fiscalización de las universidades nacionales, así como la
supervisión y fiscalización de las universidades privadas”. Desde modo, assegura-se a
gratuidade da educação no nível superior permanecendo proibida a oferta educativa com
fins lucrativos em instituições estatais, como esclarece-se no artigo 2° a seguir:

“Prohíbase a las instituciones de la educación superior de gestión estatal


suscribir acuerdos o convenios con otros Estados, instituciones u
organismos nacionales e internacionales públicos o privados, que
impliquen ofertar educación como un servicio lucrativo o que alienten
formas de mercantilización" Ley Nº 27.204, 2015, Art.2.

No que tangue ao ingresso em instituições de ensino superior do Estado, a norma aclara


que “Todas las personas que aprueben la educación secundaria pueden ingresar de manera
libre e irrestricta a la enseñanza de grado en el nivel de educación superior". Por sua vez, a
lei prescreve que:
" (…) el ingreso debe ser complementado mediante los procesos de
nivelación y orientación profesional y vocacional que cada institución de
educación superior debe constituir, pero que en ningún caso debe tener un
carácter selectivo excluyente o discriminador”.

Observa-se a partir do exposto que, na Argentina, o ingresso ao ensino superior em


instituições de gestão estadual é irrestrito, garantindo-se por sua vez a gratuidade dos cursos
que as mesmas oferecem. Por outro lado, as fases propedêuticas que cada estabelecimento
constitua devem se destinar à nivelação ou orientação profissional, mas em nenhum caso
devem adquirir um caráter excludente.

A faculdade de Medicina da UNR e o bom da chegada dos Brasileiros.


O aumento do número de vizinhos ñas instituicoes e a crise no ensino superior argentino (reitores de universidades
públicas dizem que o ornamento nao será suficiente neste ano por causa da inflacáo) exacerbaran! o preconceito
contra os estudantes estrangeiros.
"Nao sao todos, mas tem muito argentino que diz que a gente ocupa espaco e gasta material e equipamentos deles",
diz a paulista Tamiris Bianchi, 21 anos, estudante da Universidade de Rosario.
Neste ano, houve urna invasáo de brasileiros na instituido. Foram cerca de 700 matriculados em medicina. Até 2015,
a media era de 300.
Na Argentina, a ausencia do vestibular permite um grande número de ingressantes. As provas universitárias, no
entanto, costumam ter um grau de dificuldade elevado e acabam eliminado os estudantes no decorrer dos anos. Na
UBA (Universidade de Buenos Aires), o primeiro ano é bastante pesado, mas, na Universidade de Rosario, mais
tranquilo -e os brasileiros descobriram isso.
A falta do processo seletivo no ensino público, que é gratuito, já vinha atraindo há alguns anos brasileiros que nao
podem pagar urna faculdade ou que nao conseguem passar no vestibular.
Chegando á Argentina, porém, há dificuldades de adaptacáo e preconceito, contam os estudantes. Segundo Gustavo
Richard Ferreira, 25, aluno da UBA, a resistencia aos estrangeiros é maior na sociedade em geral do que dentro da
faculdade.
"Na UBA, apenas urna vez urna colega me falou que nós, brasileiros,

Referências bibliográficas:

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UNR (2007) Boletín estadístico nº 68 [Em línea] [Acessado ferreiro 23, 2017] Disponível


em: http://www.unr.edu.ar/noticia/1387/boletines-estadisticos

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