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22 ' G RA M Á TICA DESCRITJVA DO PORTUGUÉS

das se se deseja identificar as entida­ se um século de atraso, portante.


des que eias pretendem definir. Um Aconteceu muita coisa nesse tempo,
dos exemplos dados no livro mencio­ e muito pouco foi assimilado; como
nado é a defmi^áo d e sujeito como uo resultado, as gramáticas, além de to­
term o do qual se afirma alguma coi­ dos os seus outros defeitos, sáo tam­
sa"; é bem fácil verificar que os ter­ bém arcaicas, tanto na descrigáo que
mos usualmente analisados como su­ oferecem quanto ñas teorias em que
jeito freqüen temen ce náo exprimem se baseiam.
o ser do qual se afirma alguma coisa. Este livro é também urna tenta­
No encanto, continua man te nao-se tiva de enfrentar este último proble­
tanto a definicáo quanto a análise, ma. Procuro apresentar urna análise
m uito em bora as duas estejam em que leve em conta os resultados obti-
contradicáo. dos nos últimos tempos pela pesqui­
A falta de adequa^áo á realida- sa na área de gramática portuguesa.
de da língua aparece quando a gra­ Minha p reocupado inicial foi man-
mática descreve (ou “recom enda”) ter-me tao próximo quanto possível
verdadeiras ficgóes lingüísticas: da análise tradicional, para náo exi­
c o n stru y e s que caíram de moda há gir do leitor um esforco m aior do
séculos, ou mesmo que jamais existi- que o estritamente necessário. Ape­
ram. Um exemplo é a afirmacáo de sar disso, como se verá, a análise fi-
que só se coloca um pronom e clítico cou muito diferente da tradicional;
(oblíquo átono) entre um auxiliar e acontece que sete ou oito décadas de
o verbo principal ligando-o ao auxi­ atraso náo podem ser transpostas
liar por énclise, isto é, estou-me divor­ com um pequeño passo. O grande
ciando e náo estou me divorciando. desafio, em última análise, é encon­
Ora, sabem os que, apesar da opi- trar urna linguagem capaz de expri­
niáo dos gramáticos* a segunda for­ mir os resultados da investigacáo lin­
ma é a mais comum na língua atual. güística das últimas décadas e que
Q uanto ao norm advism o sem náo exija para sua compreensáo um
controle, terei algo a dizer a respeiio treinam ento previo que, sei bem, a
mais aaiante, nase?áo 1.3.4. im ensa maioria dos professores e
O utro aspecto da desatualiza- al unos náo possui.
?áo dos estudos gramaticais é a falta Para 1er, estudar e com preen-
de incorporagáo dos resultados teó­ der este livro, portanto, e para tra-
ricos e práticos da pesquisa lingüísti­ balhar com ele, nao é necessário ter
ca das últimas décadas. Náo é exage­ formagáo específica em lingüística.
ro afirm ar que as gramáticas portu­ Mas é indispensável estar armado-d^
guesas de boje representam a situa- duas coisas: m otivado para apren­
cáo dos estudos lingüísticos por volta der urna proposta nova de análise
dos principios do século XX —•qua- da estrutura do portugués; e, claro.
23

um pouco de tempo para 1er, pen­ No encanto, o term o “língua


sar, trabalhar exem plos etc. Desse portuguesa’’ é bastante ambiguo e se
modo, acredito que o leitor interes­ aplica a diversas variedades nítida­
a d o conseguirá assimilar o essen- mente diferenciáveis. Por exemplo,
cial desta Gramática com seu próprio todos podemos distinguir claram en­
esforco. te a fala de um portugués de Lisboa
Finalmente, pode valer a pena da de um brasileiro de Belo H ori­
observar que, como proposta nova, zonte; podem os igualm ente distin­
este livro tem certo caráter polémi­ guir a fala de um individuo criado
co. A todo mom ento pode tornar-se na cidade, com segundo grau com­
necessário confrontar a análise com pleto, da de urna pessoa criada no
sua concorrente tradicional, procu­ campo e analfabeta. E podem os
rando m ostrar a superioridade da também distinguir entre um texto
primeira. Isso é inevitável, claro; mas escrito e a transcricáo literal de um
náo se espere encontrar aqui urna texto falado. Como exem plo desta
crítica completa e pormenorizada da últim a distingáo, vejam-se os dois
análise tradicional, que me levaría textos abaixo:
. adém dos limites já um tanto ampios
do tema do livro, O próprio leitor (1) A tarefa de Jangar as bases da nova
poderá, muitas vezes, fazer o con­ gramática é muito longa e comple­
fronto, exercício que me parece útil xa; devemos, portanto, deixá-la para
e instrutivo. Eu náo postaría de ver a próxima semana
ninguém aceicar idéias (nem mesmo (2) A nova gramática do portugués, ela
as minhas) sem saber por qué. vai ser muito difícil a gente escrever.
Melhor a gen ce deixar ela pra sema­
na que vem.
1.2. A LÍNGUA PADRÁO DO O exemplo (1) deve ter sido re­
BRASIL tirado de um texto escrito; já o exem­
plo (2) parece ser a tran sc rib o d e
um trecho de fala espontánea. Náo
^ 1.2.1. Variedades da língua
-só as duas passagens estáo organizar-
das de man eirá diferente, mas há di-
O prim eiro problema a enfren­ ferencas propriam ente gramaticais
tar quando se pretende elaborar entre elas: é muito raro, por exem­
urna gramática é o de definir que lín­ plo, encontrar em textos escritos
gua vai ser descrita. No caso do pre­ (principalm ente textos técnicos) o
sente liyro, isso pode parecer supér- pronom e ela como objeto (deixar
íluo: txata-se de urna gramática por­ ela) y ou a form a pra funcionando
tuguesa e, portante, a língua descrita como contracáo de p(a)ra + a (pra
é a portuguesa. [= para al sema,na que vem) .
24 y GFTfcM&riCA DESCRmVA DO PORTUGUÉS

Nao é necessário entrar em de- exem plo, o autor de um rom ance


talhes acerca dessa diferenga grama- pode incluir muitos traeos coloquiais
ücal entre a língua escrita e a falada. nos diálogos, a fim de dar-lhes maior
Todos nos já tivemos contato com realismo; ou, inversamente, alguém
ela e sabemos que é urna das dificul- pode tentar falar escritamente segun­
dades que os escolares precisam en­ do o padráo ao fazer um discurso ou
frentar ao aprenderem a 1er e escre- urna declaragáo em público. Mas es-
ver. Para efeitos deste livro, vou cha­ sas s itu a re s sáo de certo modo m ar­
mar a variedade ilustrada no texto gináis, e, em geral, pode-se associar o
(1) de “p a d rá o ”, e a variedade do padráo com a escrica, e o coloquial
texto (2) de “coloquial”. com a fala.
Devo deixar bem claro que E im portante assirialar que ca­
nem o padráo nem , principalmente, da variedade tem seu conjunto de
o coloquial sáo totalmente homogé­ situagóes específicas e em geral náo
neos. Existe urna imensa grama de va- pode ser substituida por outras sem
riedades de língua, que váo desde as provocar estranheza ou mesmo des­
mais inform áis até as mais formáis e truir a possibilidade de com uni-
estereotipadas. Além disso, há, prin­ cacáo. Imagine-se, por exemplo, a si-
cipalm ente no que se refere ao colo­ tuacáo em que urna pessoa escreve
quial, certo grau de v ariado regio­ um com pendio de economía e uti­
nal (a fala espontánea de um gaúcho liza urna linguagem próxima da co­
difere da de um cearense) e social loquial:
(um operário náo fala da mesma ma­
ne ira que um m édico). Essa variado A gente já íalou aquí que pra
agricultura desenvolver direito ela
(regional, social e individual) é mui­
precisa mésmo ter urna porgáo de
to mais m arcada no caso do colo­
gente pra trabalhar no campo —
quial do que no do padráo. quer dizer, aquí no Brasil, que náo
As diferentes variedades da lín­ t-em muita maquinaria agrícola, o
gua sáo utilizadas em situagóes ra- trabalho tem que ser feito é na
zoavelm ente bem definidas. Assim, unha mesmo.
qualquer pessoa modifica sua manei-
ra de falar conform e esteja discudn- O texto vai chocar os leitores.
do no bar com os amigos; ou respon- Mesmo que o autor tenha urna men-
dendo a urna entrevista para obter sagem inteligente a dar, é possível
em prego. De m odo geral, pode-se di- que ela fique perdida para m uitas
zer que a variedade coloquial (ou pessoas, sim plesm ente po rq u e o
m elhor, o con ju n to de variedades com péndio náo se adequa as con-
que chamam os “coloquiais”) é utili­ vencóes lingüísticas vigentes.
zada na fala; já a variedade padráo é Por outro lado, a variedade pa­
própria da escrita. Há excegóes; por dráo tam pouco pode ser utilizada
j I.níTRODUCÁO 25

em quaiquer situa^áo. Digamos que serv a re s; acredito que sairá conven­


alguém chegiie para seus amigos na cido de que essa é a realidade.
mesa do bar e diga, textualmente, o
seguinte:

Amigos, sugiro que discutamos 1.2.2. 0 padráo brasileiro


hoje a sensacional vitória do nosso
clube na última partida, disputada
no Mineiráo, e que Ihe atribuamos Este livro é urna tentativa de
todo o mérito de que indmamente descrigáo de urna variedade padráo
o sabemos credor. da língua portuguesa. Por conse-
guinte, ocupa-se básicamente da lín­
A mensagem será interpretada gua escrita. Gostaria de acentuar que
como urna brincadeira. Mas, se a pes­ isso náo significa que as variedades
soa insistir em continuar falando eoloquiais náo sejam dignas de estu­
dessa maneira (ou, pior, se resolver do e que náo seja urgente levar a
falar assim a vida toda), vai acabar efeito a tarefa de descrevé-las. Na
sendo excluida da maioria de seus verdade, tem-se feito muita pesquisa
círculos de amizade. Ainda aqui, trata­ sobre o portugués coloquial, em suas
se de simples co nvengo social; mas variantes regionais, sociais, situado-
convences sociais sáo coisas muito nais etc., mas talvez ainda seja cedo
poderosas. Todos nos sabemos disso para se tentar urna síntese que possa
muito bem — tanto assim que esta­ ser chamada a “gramática” do portu­
mos sempre ajustando nossa lingua- gués falado. Caminha-se nesse senti­
gem a cada situagáo. do, entretanto, e tal gramática terá,
. O que se pode concluir daí é quando for feita, imenso interesse
que. cada variedade tem seus domi­ teórico e prático.
nios próprios, onde é senhora quase O presente livro náo trata do
absoluta. Náo existe, simplesmente, portugués falado em nenhum a de
urna variedade “certa”. Cada situa- suas variedades. Aqui vamos consi­
cáo de com unicado (ensaio científi­ derar apenas o portugués padráo es­
co, pe?a teatral, conversa de bote- crito — a variedade, aliás, que é es-
quim, discurso de formatura, pedido tudada pelas gramáticas tradicio-
de informacóes na rúa etc.) impóe nais. Mesmo esse padráo admite va­
urna variedade própria, que é a “cer­ riantes, e por isso vou deter-me na
ta” naquela situagáo. E “errado” es- questáo da definicáo da variedade a
crever um livro de economía em co­ ser descrita, tentando defini-la com
loquial; mas é igualmente “errado” algum a ohjetividade. Retomo aqui
nam orar ou conversar com os ami­ as c o n sid e ra re s do quinto capítulo
gos utilizando o padráo. O leitor é de meu livro Para urna nova gramáti­
convidado a fazer suas próprias ob­ ca do portugués.
26 GRAMÁTICA OeSCftlTIVA DO PORTUGUÉS!

Conforme apontei naquele vo- gu a-que se manifesta de m aneira


iume, existe urna Iinguagem padráo uniforme nos textos técnicos e jo rn a -
utilizada em textos jornalísticos e iisticos de todo o país. As razóes fo
técnicos (como revistas semanais, ram expostas em meu livro acima ci-;
jornais, livros didádcos e científicos), tado. e aqui vou apenas m encioná-
iinguagem essa que apresenta urna las: prim eiro, tais textos oferecemJ
grande uniform idade gramatical, e urna uniform idade de estrunira que :
mesmo estilística, em todo o Brasil. perm ite elaborar a descrigáo com -j
Assim, seria difícil distinguir lingüís­ maior coeréncia, pois ficam neutrali­
ticam ente o editorial de um jo rn al zadas as inova<;óes pessoais freqüen- }
de Curitiha do de um jornal de Cuia- ternente utilizadas em textos litera-i
bá ou Sáo Luís. Igualm ente, a lingua- rios. Depois, parece-me que a pró­
gem de um livro técnico ou didádco pria Iinguagem literária cosnima serj
publicado em Recife náo se distin­ estudáda em termos de desvios a par­
gue da de um livro publicado em Sáo tir de um padráo básico — o que
Paulo ou Porto Alegre; os regionalis­ pressupóe, naturalmente, um estudo-;
mos náo penetram em tais textos. prévio des se padráo.
Pode-se concluir que existe um por­ As gramáticas usuais costumam
tugués padráo altam ente uniform e trazer exemplifica^óes tiradas predo­
no país. m inantem ente de obras literarias eT
Esse padráo é encontrado em portanto, aparentem ente partem de
textos técnicos e jornalísticos em ge­ urna decisáo diferente da m inha
ral, mas nem sempre nos textos lite­ quanto ao corpus da análise. Mas essa |
rarios. O texto literario náo apenas diferenca é mais aparente do qu e^
reflete as decisóes pessoais do autor real. Os exemplos literários sáo sem-3
(que freqüenternente rióla as regras pre seccio n ad o s de m aneira a ex- i
do padráo a ñm de obter efeitos esté­ cluir idiossincrasias ou desvios — ou •
ticos), mas ainda pode conter tragos seja, acabam sendo "filtrados”, e o fil­
do coloquial de urna ou outra re­ tro me parece ser baseado exatamen-
gí áo. Nesse sentido, pode-se identifi­
te no padráo geral, náo-literário, que
ca.! a regiáo de origem de um autor
me proponho escudar uesta Gramáti­
(ou mesmo identificar o próprio au­
ca. Por exemplo, embona Mario de
tor) através de um exame de sua iin­
Andrade seja urna díás autoridades
guagem: Jorge Amado é baiano, e is­
mencionadas na maioria das gramá­
so se refiere era sua Iinguagem, que
ticas, nem tudo o que ole escreveu
nunca se confundirla com a de Eneo
pode ser incluido acias, como, por
Veríssiixjo, por exemplo.
exemplo,
Na e la b o ra d o da presente
Gramática^ optei por considerar o pa­ k c baste apenas lemhrar... [An-
dráo geral, aquela variedade da iíli­ dnide, 1980, p. 5]
Y. ir^TRODUCÁO 27

Esse posicionam ento do pro- dem um bocado dé gramática duran­


nome clícico me nao é considerado te sua vida escolar, que provéito ti-
padráo. Logo, prefere-se náo ver ram eles desse conhecimento?
que Mario de Andrade, um dos au­ Náo quero dizer que cada dis­
tores nos quais se baseia a análise, o ciplina do curriculo deva necessaria-
utiliza com freqüéncia. mente encontrar urna aplicacáo mais
É, pois, como se as gramáticas ou menos imediata na vida cotidiana
se baseassem em um padráo iiterário ou profissional dos alunos; mais
expurgado de idiossincrasias pes­ adiante desenvolverei esse ponto.
soais, regionalismos e coloquialis- Mas certam en te é preciso justificar
mos. O resultado, acredito, é muito de alguma forma a presenca de cada
semeihance ao padráo técnico-jorna- disciplina; a pergunta se reformuia,
íístico que forma a base da presente entáo, como um pedido de justifica­
describo. tiva para o caso dos estudos gramati­
cais. Vou a seguir dar minhas idéias
sobre isso — idéias que tém condi­
1.3. OBJETIVOS DO ESTUDO DA cionado todo o trabalho que venho
realizando no campo da gramática e
GRAMÁTICA
de seu ensino.
Concorda-se, geraimente, que
4 1.3.1. Para que estudar o grande objetivo do ensino de lín-
gramática? gua portuguesa é levar os alunos a
ler e escrever razoavelm ente bem.
Pergunto, entáo: será que o estudo
Urna das m o tiv ares que me le-
varaiíi a escrever esta Gramática foi a da gramática pode ajudar na aquisi-
demanda por urna renovacáo no en­ cáo da leí tura e da escrita?
sino de gramática poraiguesa no pri- Acredito que a resposta é nega­
meiro e segundo graus, dem anda tiva. Tenho encontrado pessoas que
manifestada com igual insistencia créem na eficácia de um conheci­
por professores e aiunos. Por isso, mento de gramática para melhorar o
vou deter-me um pouco na discussáo aesem penho naqueles dois campos
de urna pergunta náo propriamente fundam entáis. Mas nunca podem
gramatical, mas ant£$ de caráter pe­ apresentar evidencia em favor de sua
dagógico: cren$a. Ninguém, que eu saiba, con-
seguiu até hoje levar um aluno fraco
Para que se incluí o ensino de gramá­
em leitura ou reda^áo a m elhorar
tica no curriculo de prim eiro e se­
sensivelmente seu desempenho ape­
gundo graus?
nas por meio de inscrugáo gramati­
Mesmo que admitamos (contra as cal. Muito aa contrario, toda a expe­
evidencias) que nossos aiunos apren- riencia parece mostrar que enere os
28 GRAMÁTICA OESCRITIVA DO PORTUGUÉS.

pré-requisitos essenciais para o estu­ remos discutindo também um aspec-I


do da gramática estáo, primeiro, ha- to da formagáo de aticudes. Ora, o |
bilidade de leitura fluente e, depois, ensino cognitivo pode ser analisadol
um dom inio razoável da língua pa­ em tres componentes, a saber: i
dráo (já que esta é o objeto das gra­ (a) Com ponente de aplicagáo ime-l
máticas disponíveis). Assim, para es- diata: trata-se de conhedm entos q u ef
tudar gramática com proveito, é pre­ seráo im ediatam ente úteis na vidaí
ciso saber 1er bem — o que exclui a profissional ou cotidiana dos alunos. jj
possibilidade de se utilizar a gramáti­ Por exemplo, é preciso aprender aslj
ca como um dos caminhos para a lei­ quatro operagóes para saber dar e re-^j
tura. Creio que o mesmo vale, muta- ceber o troco correto; é predso 1er:
tis mutandis, para a redacáo. fluen temen te para adquirir as infor-
Somos forjados a concluir que magóes necessárias etc.
o estudo de gram ática náo oferece (b) Componente “cultural” : trata-se:
um instrum ento para atingir o gran­ de conhecim entos sem nenhum a
de objetivo da língua portuguesa no aplicagáo visível á vida prática, mas
prim eiro e segundo graus. que nossa sociedade considera essen­
Será entáo totalm ente inútil? ciais á formagáo do individuo. Por
Náo necessariamente, é claro; e vou exemplo, aprendemos na escola que
defender a idéia de que o ensino de a Terra gira em tom o do Sol, e naoj
gramática pode ter um papel im por­ vice-versa. Essa informagáo náo tem
tante na form agáo intelectual dos im portancia prática, mas todos con^
alunos. Para expor m inha posicáo, cordariam que precisa ser fomecida.:
com egarei fazendo urna breve di- O que pensaríam os de urna escola;
gressáo sobre o conteúdo do ensino que resolvesse voltar ao ensino do
de prim eiro e segundo graus. sistema geocéntrico de Ptolomeu?-
A prendem os igualmente a historia^
do Im pério Romano, da ídade Mé-j
dia e do Brasil; aprendemos as capi-j
1.3.2. Componentes do ensino tais dos países da Asia e assim por j
diante. Muito poucas pessoas che--j
Consideremos os objetivos pro- gam a aplicar diretamente esses co--
priam erite cognitivos, intelectuais, nhecimentos; mas ninguém pensaría
do ensino; ou seja,, excluindo os au­ seriamente em retirá-ios dos progra­
tomatismos, assim como a formagáo mas. Esse tipo de informacáo, no
de atitudes. Vamos limitar-nos ao en­ que pese sua falta de sentido prático,
sino en q u a n to transmissáo (e cria- é absolutam ente indispensável á for­
gáo) de conhecim ento, sem negar magáo do cidadáo moderno.
que haja .outros ingredientes impor­ (c) C om ponente de formagáo de
tantes — aliás, como se verá, acaba­ habilidades: finalm ente, o ensino
i. ¡n t r o o u c á o 29

tem também a responsabilidade de que alguém encontre, ao 1er, urna


desenvolver nos alunos habilidades palavra desconhecida e queira olhá-
intelectuais de observagáo e racioci­ la no dicionário. Se a palavra for, di­
nio. É por isso que náo nos limita­ gamos, regurgitássemos, surgirá um
mos, ao ensinar ciencias, a comuni­ problema: regurgitássemos náo consta
car os “fatos” tais como sáo vistos pe­ em nenhum dicionário. O dicioná­
los ciendstas modernos. .Há sempre rio tem regurgitare também regurgitar
algum esforgo no senddo de mos­ gao; qual dessas palavras é a relevante
trar aos alunos a trilha que foi segui­ para se conhecer o sentido de regur­
da para o descobrimento desses fa­ gitássemos? E evidente que aqui preci­
tos: fazer o b serv ares, raciocinar e samos aplicar informagóes de ordem
drar conclusóes juntam ente com os gramatical: regurgitássemos é um uver­
alunos. O cidadáo da nossa era náo bo", e os “verbos” aparecem no dicio­
é primariamente urna pessoa que sa­ nário em sua form a de “infinitivo”; e
be muito, mas antes urna pessoa que q “infinitivo” encontrado no dicioná­
sabe pensar por si só. rio é regurgitar, e náo regurgitacáo. Es­
Algumas matérias concentram se é um exemplo da aplicagáo de co-
sua contribuigáo ao ensino em um nhecimento gramatical a urna situa-
ou dois desses com ponentes. O que gáo prática. Temos de concluir que o
devemos.perguntar agora é se a gra­ conhecim ento de ogram ática tem
mática p o d erá en co n trar ai o seu aplicagáo im ediata, em bora talvez
lugar. bastante modesta.
Passo agora ao segundo com­
ponente, ao qual chamei (por falta
de termo melhor) “cultural”. Aqui a
m1.3.3. Os objetivos do ensino argumentagáo é mais difícil, mesmo
v de gramática
porque as pessoas em geral náo estáo
devidamente conscientes da im por­
Vamos voltar aos tres compo­ tancia do com ponente cultural na
nentes, para ver se a gramática tem formagáo dos estudantes. Mas creio
algo a oferecer no ámbito de cada que se pode defender que o estudo
um. de gramática tem tam bém algo a
Comecemos com o componen­ contribuir dentro do com ponente
te de aplicagáo imediata. Se rejeitar- cultural.
mos a aplicagáo do ensino gramati­ Considerem os prim eiro o
cal ao aesenvoivimento da leitura e quanto nossa sociedade é orientada
da escrita (que é o que sugerí aci- para o conhecim ento científico. O
m a), a impórtáncia da gramática pa­ faco de alguém ser advogado ou lo­
ra este componente será bastante re- cutor de rádio náo o isenta da obri-
duzída. Náo e nula, porém: digamos gacio de ter alguma idéia do estado
30 GRAMÁTICA OESCRiTIVA DO PORTUGUÉS

da ciéncia. É isso que justifica a pre­ velmente a que mais desenvolvimen-


senta de estudos relativamente avan­ to tem experim entado nos últimos
zados de física, química, matemática tempos. Além disso, trata da lingua-
e biología no segundo grau. A imen- gem, que é o mais básico dos fenó­
sa maioria dos alunos nunca aplicará menos sociais, por perm ear todas as
esses conhecim entos diretam ente atividades de urna com unidade.
em sua atividade profissional. Mas es- Creio que a presenga de urna forma­
pe ra-se do cidadáo de urna nagáo do gáo iingúística em geral (e gramati­
século XX que saiba que os corpos se cal em particular) é defensável no
dilatam com o calor; que o sal é com­ ensino de primeiro e segundo graus
posto de sodio e cloro; que nossos exatamente pelas mesmas razóes que
corpos sáo compostos de células, ca­ justificam a preocupagáo de dar aos
da urna das auais contendo núcleo e alunos alguma formagáo em quími­
citoplasma etc. E urna m ultidáo de ca, biología, historia ou astronomía.
, in fo rm a le s cuja existencia é pressu- Além disso, o conhecimento da
posta quando se encontra urna frase. língua — e falo aqui do conhecimen­
como uele come comida sem sal por­ to explicitado de sua estrutura, náo
que náo tolera o sodio ”, ou en tio “o apenas do seu uso correto — é urna
terceiro m undo funciona como um faceta importante do conhecimento
satélite das nagóes industrializadas”. da própria nagáo. Assim como a ne-
Essa massa de informagóes científi­ cessidade de preservar nossa cultura
cas é parte im portante do corpo de (e o amor-próprio nacional) nos leva
conhecim entos com uns ás pessoas a estudar a historia, a geografía e o
instruidas, e sua presenca nos perm i­ folclore do Brasil, náo podemos dei­
te a c o m u n ic a d o no nivel exigido xar de escudar a língua que falamos
pela sociedade m oderna. (e a que escrevemos), em seus mui-
Desconfío que a im portancia tos aspectos: dialetológicos, históri­
desse com ponente é freqüentem en- cos, sociais e também gramaticais.
te subestim ada pelos planejadores Sem estender-me mais sobre esse vas­
de currícuios e programas, a julgar to e mal explorado assunto, chamo a
pela énfase habiDaal na “utilidade” atengáo do leitor para esse im por­
dos conhecim entos transmitidos. tante aspecto do ensino.
Por outro lado, faltam estudos que Chegamos agora ao terceiro
nos permitam avaliar as dimensóes e com ponente, a saber, a formagáo de
a im portancia $o coiíiponente cultu­ habilidades intelectuais. E aqui que,
ral no atual sistema de ensino. acredito, os estudos gramaticais tem
Mas, volian do á gramática, é mais a oferecer; e é aqui que eles
im portante lem brar que ela é (ou tem sido, na prática, mais nocivos. O
deverra ser) urna aplicagáo da lin­ assunto requer, ponam o, nossa aten­
güística am a ciéncia social, prova- gáo cuidadosa.
1. iNfROQUCÁO 31

Relembremos primeiro que as servar: náo dependem os de labora­


habilidades de raciocinio, de obser­ torios (como os químicos), nem de
vado, de fo rm u lad o e testagem de penosas viagens ao campo (como os
hipóteses — em urna palavra, de in­ geólogos) para apresentar aos alu­
dependencia de pensamento — sáo nos dados em prim eira máo. Esses
um pré-requisito á fo rm ad o de indi­ dados, basta elucidá-los dentro da sa­
viduos capazes deNaprender por si la de aula, pois estáo program ados
mesmos, cridcar o que aprendem e no cérebro de cada íalante da língua
criar conhecim ento novo. E justa­ (náo quero dizer que náo existam se­
mente neste setor que o estudo de rios problemas m etodológicos na
gramática pode dar sua contribuido obtengáo de dados para a análise
mais relevante; e é neste setor que gramatical; mas é possível evitá-los
nosso sistema educacional se tem em urn estágio inicial do estudo).
mostrado particularm ente falho: se Em segundo lugar, existem teorías
há algo que nossos alunos em geral *azoavelmente desenvolvidas de gra­
náo desenvolvem durante sua vida mática, capazes de sugerir questóes
escolar é exatamente a independen­ de profundidade variada: algumas,
cia de pensamento. O estudante bra- pelo menos, ao alcance da argum en­
sileiro (e, m uitas vezes, também o ta d o de um aluno de prim eiro graiL
professor) é típicamente dependen­ Se acrescentarm os que a lin-
te, submisso á autoridade académica, guagem, em todos os seus aspectos,
convencido de que a verdade se en- permeia a vida social a todo momen­
contra, pronta e acabada, nos livros e to, sendo um fenóm eno altam ente
na cabeca das sumidades. Dai, em importante na vida das pessoas, vere­
parte, a perniciosa idéia de que edu­ mos com clareza que a gram ática
cad o é antes de tudo transmissáo de oferece um campo privilegiado para
conhecimento — quando deveria ser o exercício das atividades de pesqui­
em prim eiro lugar procura de co­ sa. O estudo de gramática pode ser
nhecim ento e desen volví meneo de um instrumento para exercitar o ra­
habilidades. ciocinio e a observado; pode dar a
Como é que o estudo gramati­ oportunidade de form ular e testar
cal poderia ajudar na formagáo des- hipóteses; e pode levar á deseo berta
sas habilidades^1 Como se poderia de tanas aessa admirável e complexa
dar a urna aula de gramática o cará- estrutura que é urna língua natural.
ter de um m om ento de pesquisa? O aluno pode sentir que está partici­
Nossa disciplina desfruta de pando desse ato de deseo berta, atra­
urna situ ad o fávorável, se a compa­ vés de sua contribuido á discussáo,
ramos com outras disciplinas científi­ ao argumento, á procura de novos
cas Primeiro, os fenómenos estada- exemplos e contra-exempíos cruciais
dos sao relativamente fáceis de ob­ para a testagem de urna hipótese da­
32 GRAMÁTICA DESCRITIVA 00 PORTUGUÉ!

da. Nesse sencido a ^ram ádca tem análise igualm ente oficial) para a
im ensas potencialidades como ins­ gramática. N om enclaturas como a
trum ento de formagáo intelectual. NGB acabam sendo aceitas com o ¡
Concluo que a grande contri- obligatorias — ou seja, a NGB, cuja
buicáo que o ensino gramatical en- motivagáo inicial foi provavelmente;
cerra reside na possibilidade de aju- apenas a de evitar a proliferagáo de­
dar o desenvolvimento das habilida­ termos distintos para a mesma no-
des m encionadas; isto é, o ensino gáo, tornou-se, na prática, urna dou-j
gram adcal pode ser um dos meios trina oficial, fora da qual n en h u m l
pelos quais nossos alunos cresceráo e texto é aceitável para uso ñas escolas.:
se libertaráo intelectualm ente. Eu Isso náo se admite em nenhum a ou-j
gostaria que este livro se tornasse, tra disciplina e é igualmente absurdo.''
en tre outras coisas, urna fonte de em gramática. A única razáo aceitá--
material de apoio para que o profes- vel para a adogáo de urna doutrina.
sor e os alunos realizarsem essa po- gramatical é o reconhecim ento de
tencialidade do estudo de gramática. que ela descreve os fatos com maion
Esse objetivo só poderá ser atin­ adequagáo do que suas concorren-
gido, evidentemente, se ficar perfei- tes. Se isso acarretar, como é prová-
tam ente claro e entendido que o es­ vel, alguma heterogeneidade no en­
tudo d a gramática é parte da forma­ sino gramatical do país, será um pre^
gáo científica dos alunos; que trata da go a pagar pela possibilidade de se;
descrigao, interpretagáo e compreen- utilizar a gramática como espago pa-i
sáo de um aspecto do universo social ra o exercício do pensam ento. Um;
que nos cerca;: e, principalm ente, prego, acredito eu, muito baixo, em
que é um corpo de conhecim entos vista da qualidade da mercadoria. .<u
em constante revisáo, sujeito a críti­ O grande problem a da adogáo
ca, acréscimos e refutagóes. Urna gra­ da NGB e de uniformizagóes oficiáis |
mática, enquanto descrigao d e urna em geral náo é a sua inadequagáoí
língua, é na verdade um conjunto de enquanto descrigáo da estrutura d a j
hipóteses, mais ou menos bem funda­ língua, mas sua aceitagáo passiva co- -
mentadas. O mínimo que se pode fa- mo doutrina oficial, acima de ques-
zer é conhecer a argumentagáo que tionamentos e reformulagóes. A mu-
está po r trás da descrigáo proposta; danga a em preender com urgencia
sem isso, náo se está estudando gra­ náo está na gramática, mas na atitu-
m ática. Em outras palavras, náo se de srerai
O
frente á OCTamática. Substi- i
pode estudar gramática sem ao mes­ tuir a NGB por urna descrigáo mais i
mo oempo fazer gramática. correrá e atualizaaa é im portante,
Por isso, considero negativa a mas náo é o mais im poriante; conse-;
adogáo oficial ou semi-oficial de urna qüen temen te, a proposta desta Gra- \
nom enclatura (inseparável de urna máiica só se com preende se for enea-
~T. jrfTKOOUCÁO 33

rada de maneira nao-dogmática. Só vez, alguns poucos privilegiados, co­


assim este trabalho poderá atingir mo os que se especializam em publi­
seus objedvos dentro do ensino. car livros com listas de centenas ou
milhares de “erros de portugués”.
Acaba-se desencorajando nos
alunos qualquer iniciativa no campo
& 1.3.4. Gramática normativa da Iinguagem, em especial no da es­
crita. Todos conhecem os a figura do
Antes de encerrar esta segáo, adulto bastante bem-educado, com
vou fazer urna advertencia a respeito formagáo profissional e intelectual
do ensino normativo da língua. De- adequada, e que teria algo a dizer,
fendo a idéia de que o ensino nor­ mas que náo se arrisca a escrever
mativo náo é um mal em si, mas que urna página para publicagáo, ou
tem sido aplicado (como tanta coisa mesmo um simples relatório, justa­
no nosso campo) de maneira preju­ m ente porque “náo sabe portu­
dicial aos alunos. gués”. Se o professor de portugués
Já vimos que o estudo de gra­ tem diante de si um desafio, é o de ir
mática náo é um cam inho conve­ contra essa tradigáo repressiva, que
niente para desenvolver o desempe- deform a a imagem de nossa discipli­
nho na leitura e na escrita (muito na aos olhos de alunos e ex-alunos.
menos na fala). O utra coisa que a Essa imagem de “polícia da lingua-
gramática náo deveria ser é um ins­ gem ” se manifesta a todo momento,
trum ento de ensino normativo. por exem plo quando, ao saberem
Aqui, sua acáo tem sido mais que que trabalham os com pesquisa em
inútil, tem sido desastrosa. língua portuguesa, sem pre acabam
O grande perigo é transformar nos perguntando se esta ou aqueia
a gramática — urna disciplina já em construgáo é.a “certa”. Isso pode nos
si um tanto difícil — em urna doutri­ dar alguma pequeña parcela de po­
na absolutista, dirigida mais ou me­ der, é certo; mas náo contribuí para
nos exclusivamente á “corregáo” de que nos estimem, nem para que nos
pretensas im propriedades lingüísti­ respeitem enquanto trabalhadores
cas dos alunos. A cada passo, o aluno intelectuais.
que procura escrever enconara essa Náo quero dizer com isso que
arma apontada contra sua cabega: o ensino normativo deva ser supri­
“Náo é assim que se escreve (ou se fa­ mido. E preciso, apenas, colocá-lo
la) ”, wIsso náo é portugués” e assim em termos mais realistas. Náo se tra­
por diante. Daí só pode surgir aque- ta de confrontar um “portugués cer­
le com plexo de inferioridade lin­ to” e um “portugués errad o ”, defini­
güístico táo comum entre nos: nin- dos ambos em termos absolutos, in-
guém sabe portugués — exceto, tai- dep en d en tem en te do contexto si-
34 GRAMÁTICA OESCHITíVA DO PORTUGUÉS -,

tuacional ou social. Trata-se, antes, com o desenvolvimento da leicura


de defender a idéia de que a cada si- fluente e do hábito da leitura, a
tuagáo corresponde urna variedade maior parte do problema acaba desa-
distinta da língua (ver a segáo 1.2.1. parecendo por si só. O que restar po-
acim a). derá ser objeto de ensino, mas sem­
Concordo, portanto, que é ne- pre deixando bem explícito o verda- -
cessário ensinar o portugués padráo; deiro papel do padráo escrito frente
mas esse ensino (o '‘ensino normati­ ás variedades coloquiais. Náo levar
vo ” da língua) deve ser atacado com isso em conta resultará, fatalm ente,;
muita cautela e com toda a diploma­ em agravar os já sérios problem as «
cia. Como qualquer material poten­ que infestam nossa disciplina, o ensi­
cialmente explosivo, deve ser m ane­ no em geral e, em última análise, a
jad o com cuidado. Acredito que, vida de nossos alunos.
cípios do estudo de
ática

2.1. METODOLOGIA repetitivo), direi aínda que o estudo


da gramática de urna língua náo pode
dispensar o estudo da teoría e da me­
Antes de atacar o estudo da todología lingüísticas.
gramática portuguesa, é importante
Aiém dos pontos de metodolo­
ter aiguma nocáo dos principios em
gía abordados neste capítulo, varios
que se baseia a descricáo das línguas.
outros sao tratados á medida que se
Esse prelim inar é particularm ente
tornam necessários; por exempio,
importante porque nossa tradi^áo de
no capítulo 12, discuto os principios
estudo gramatical freqüentem ente
em que se baseia a classificacáo das
despreza a fundam entado teórica e
palavras.
metodológica — e, como resultado,
apresen ta urna descricáo cheia de in­
consistencias e as vezes sem grande
conexáo com a língua real. Assim, £ 2.1.1. Os dados
embora nosso objetivo nesta Gramá­
tica sejz estudar a estrutura da língua
portuguesa, é indispensável dedicar Conforme vimos no capítulo 1,
aiguma atencáo a cerros pontos teóri- esta Gramática é urna descricáo do
*cos: Neste capiculo vou apenas esbo­ portugués padráo brasileiro, a mo-
zar, muito sumariamente, os pontos dalidade de língua utilizada no Bra­
mais importantes; mas o estudioso de sil na maior parte dos textos escritos.
gramática deverá m anter um cons­ Boa parte da populacáo tem algum
tante interesse em questóes de teoría dominio dess^ modalidade do portu­
e metodología. A qualidade da gra­ gués: em geral, as pessoas funcio™
m ática depende crucialm ente de nalm ente alfabetizadas conseguem
urna atencáo permanente a tais ques­ com preender adequadam ente o pa­
tóes. Dizendo a mesma coisa de ou- dráo, em bora nem sem pre o utili-
tro modo (e correndo o risco de ser zem cornetamente na escrita. Mas é

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