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ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS E EMOCIONAIS EVIDENCIADOS EM


PACIENTES CIRÚRGICOS COM MANIFESTAÇÃO DA ANSIEDADE1

Jean Carlos Broetto Besinella2


Débora Cristina Ignácio Alves3

INTRODUÇÃO: O estudo sobre o comportamento humano demonstra que o ser


humano é levado ao desespero quando colocado diante da possibilidade da morte.
Apesar de no reino animal os únicos seres conscientes da própria finitude ser o homem,
esse processo o inflige angustia e causa temor. Dentre as emoções suscitadas nesses
episódios, a ansiedade é a mais universal das emoções e é experimentada por todas as
pessoas em algum momento, durante as suas vidas (TAYLOR 1992). O ambiente de
Centro Cirúrgico, segundo Silva (1997) por se tratar de um local desconhecido e com
características diferentes para o paciente, constitui-lhe fator de ansiedade,
principalmente se ele estiver enfrentando a experiência cirúrgica pela primeira vez. È
notável a qualidade das reações dos pacientes frente à cirurgia, nessa situação as pessoas
tendem a mudar, elas se refazem, refinam seu autocontrole deliberadamente, limitam
suas percepções e sentimentos, negam o perigo, aceitam com estoicismo o inevitável e
conseguem até mesmo uma aparência de aceitação (ANGERAMI, 1998). O que se sabe
é que, segundo Goleman (1996), quando o organismo é exposto a estressores como um
procedimento cirúrgico, há desequilíbrio hormonal que provoca os comportamentos
disfuncionais; estes, por sua vez, retro-alimentam a disfunção e, assim, continua um
"bolo de neve". O conhecido estresse causado pela ansiedade é um processo de
respostas do organismo aos estímulos nocivos. Alterando o metabolismo de órgãos
(rins, baço, intestino, glândulas sudorípara e salivar) e reorganizando o organismo para

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Trabalho monográfico de conclusão de Curso em andamento.
2
Discente do 4º ano do Curso de Enfermagem da UNIOESTE.
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Enfermeira, Mestre em Enfermagem Fundamental pela EERP/USP, docente do Curso de Enfermagem
da UNIOESTE na disciplina de Enfermagem Perioperatória.
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essa reação aos estressores; assim, as funções digestivas, renais e sexuais ficam inibidas
e os músculos, esqueleto, coração, pulmões, e sistema linfático ficam mobilizados. Tais
transformações, quando em excesso, levam à diminuição das respostas cognitivas. A
ansiedade excessiva nos faz dissonantes, tensos, confusos e leva a perceber nossa
existência como sem finalidade. Ela pode variar desde o grau de aversão leve, até o mais
intenso. Silva (1999), por meio de seu estudo sobre a necessidade de informação ao
paciente cirúrgico no pré-operatório diz que “os pacientes manifestam medo,
desconforto geral e ansiedade, fatores psicológicos que interferem de maneira muitas
vezes intensa sobre a manifestação orgânica da enfermidade que o paciente possui”.
OBJETIVOS: Identificar os procedimentos anestésico-cirúrgicos realizados, presença
de doenças crônico-degenerativas e fatores de risco externo associados; e verificar a
freqüência com que ocorrem as alterações fisiológicas e emocionais apresentadas
durante o período de entrada do paciente no centro cirúrgico até os momentos
imediatamente anteriores ao início do procedimento anestésico-cirúrgico.
METODOLOGIA: A pesquisa caracteriza-se como descritiva, com abordagem
quantitativa, com o uso da técnica do questionário para a pesquisa de campo. De acordo
com Lakatos; Marconi (2003) os estudos descritivos pretende descrever com exatidão os
fatos e fenômenos de determinada realidade. A população foi composta por pacientes
adultos de 20 a 60 anos de idade, de ambos os sexos, internados no Hospital
Universitário do Oeste do Paraná – HUOP, com indicação de procedimento cirúrgico de
médio porte, e que tinham diagnóstico de ansiedade que segundo a Taxonomia II da
North American Nursing Diagnosis Association (2004, p. 36) é definida por “um vago e
incômodo sentimento de desconforto ou temor, acompanhado por uma resposta
autonômica; um sentimento de apreensão causado pela antecipação perigo [....]. A
amostra do tipo aleatória simples foi composta por 20 pacientes que foram submetidos a
procedimentos cirúrgicos no período de 13 de junho a 08 de julho de 2005. O
questionário, contendo questões abertas e fechadas, foi preenchido pelo pesquisador no
momento em que o paciente estava no centro cirúrgico aguardando o início da cirurgia,
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após o preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participar
da pesquisa. Os dados foram sistematizados, analisados e interpretados, a partir de
referencial teórico específico. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da UNIOESTE.
RESULTADOS: Dos 20 sujeitos participantes do estudo, 6 deles tinham idade entre 55
e 64 anos, representando 30% do total de entrevistados. Ainda, na faixa etária entre 45 e
54 anos de idade, foram encontrados 5 casos, ou seja, 25% dos participantes. Entre 15 e
24 anos tivemos 4 sujeitos, num total de 20% dos casos. A minoria dos entrevistados
tinham entre de 25 a 34 anos, sendo 15% do total da amostra e 2 deles estavam entre 35
a 44 anos, ou seja, 10% dos casos. Em relação à variável sexo, 11 (55%), dos
entrevistados são do sexo feminino, e 9 (45%), pertencem ao sexo masculino. Quanto
aos procedimentos anestésico-cirúrgicos realizados, 10 (50%) destes foram realizados
mediante o uso da raquianestesia. A anestesia geral foi utilizada em 6 casos (30%) dos
casos. As associações anestésicas foram encontradas em 4 (20%) dos casos, sendo que
destas 2 (10%) foi realizada a sedação por via endovenosa associada à raquianestesia e 2
(10%) foram utilizados a sedação endovenosa associada ao bloqueio. Dos 20
procedimentos cirúrgicos realizados 7 (35%) dos casos, foram de cirurgias
gastrintestinais; 6 (30%) de cirurgias ortopédicas; 4 (20%) de cirurgias obstétricas e
ginecológicas; e, 3 (15%) de cirurgias de cabeça e pescoço. Em relação à presença de
doenças crônico-degenerativas associadas, dos 20 pacientes entrevistados, 14 (70%) não
apresentam tais patologias. Este dado pode ser observado em 6 (30%) dos casos, sendo
que destes 5 (25%) apresentavam a hipertensão arterial sistêmica, e 1 (5%) apresentava
a hipertensão arterial sistêmica associada a Diabetes melitus. Dentre os fatores de risco
externo foi observado que dos 20 entrevistados, 6 (30%) são fumantes e 5 (25%) fazem
uso de bebida alcóolica. Dentre as alterações fisiológicas e emocionais observadas, dos
20 pacientes participantes do estudo, 18 deles (90%) apresentavam como sintoma
associado à ansiedade, a tensão facial. Os sintomas aflito, receoso , voz trêmula e “bolo
na garganta”, foram encontrados em 11 (55%) dos casos. O sintoma de “boca seca” foi
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observado em 8 (40%) dos casos. Em 7 (35%) dos casos, tivemos a insônia como fator
associado à ansiedade. Pudemos observar ainda que 6 (30%) dos participantes
apresentaram tremores das mãos e dores abdominais. A dilatação pupilar e tonturas foi
observada em 5 (25%) dos casos. Os estados de nervosismo, tremor e as náuseas foram
encontrados em 4 (20%) dos casos. Os sinais e sintomas menos frequentes foram de
pressão arterial, pulso e respiração aumentados, evidenciados em 2 (10%) dos casos.
Ambos os dados eram mensurados com os valores anteriormente apresentados pelos
pacientes contidos nos seus respectivos prontuários. Houve ainda um único caso em que
não foram detectadas alterações fisiológicas ou de ordem emocional, representando 5%
do universo de pacientes estudados.
CONCLUSÕES: A análise preliminar do estudo mostrou que 50% dos procedimentos
anestésicos foram realizados mediante o uso da raquianestesia e que em 35% dos casos,
os pacientes foram submetidos a cirurgias gastrintestinais. Ainda, 70% dos participantes
do estudo não apresentam doenças crônico-degenerativas associadas, 30% são fumantes
e 25% fazem uso de bebida alcoólica. Ainda, o fator ansiedade em pacientes cirúrgicos
pode se manifestar através de alterações fisiológicas e emocionais. Dentre as alterações
fisiológicas e emocionais observadas, em 90% dos casos foi observado a tensão facial,
como sintoma associado à ansiedade. Os sinais e sintomas menos frequentes foram de
pressão arterial, pulso e respiração aumentados, evidenciados em 10% dos casos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANGERAMI, Valdemar Augusto (Org). Urgências psicológicas no hospital. São


Paulo: Pioneira, 1998.

CAMOM, V. A. A. Psicologia hospitalar: teoria e prática. 3 ed. São Paulo: Livraria


Pioneira, 1994.

GOLEMAN, D. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica:


revista e ampliada. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003.
5
NORTH AMERICAN NURSING DIAGNOSIS ASSOCIATION. Diagnósticos de
enfermagem da NANDA: definições e classificações. Porto Alegre : Artmed, 2002.

SILVA, M. D. A.; RODRIGUES, A. L.; CESARETTI, I. U. R. Enfermagem na


Unidade de Centro Cirúrgico. 2 ed. São Paulo: EPU, 1997.

TAYLOR, C. M. Fundamentos de enfermagem psiquiátrica de Mereness. 13 ed.


Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

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