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Planejamento para a palestra sobre Técnicas de argumentação

Se fosse resumir essa palestra em uma pergunta seria “como


argumentar? ”. Porém, não acredito que esse nosso primeiro contato, dessa
palestra que se pretende como algo inicial, deveria começar com tal
questionamento. Urge uma necessidade muito mais imediata em discutirmos
outros três questionamentos que permeiam a argumentação, são eles:

1 – O que é argumentação?
2 – Por que argumentar?
3 – Para quê argumentar?

Para fazer tal discussão utilizarei o esboço do segundo capítulo sobre


escrita argumentativa da Verônica Campos intitulado “por que e para quê
argumentar? ”.
Espaço para questionar: o que vocês acham que é uma argumentação?
Por que vocês argumentam ou debatem ao invés de fazerem outra coisa ou
utilizar outros métodos para atingir o seu objetivo? Para quê, ou seja, quais
motivos vocês têm para, argumentar?

Pois então, o argumento seria uma série de proposições conectadas


sobre um certo fato, negando ou comprovando-o, tendo por fim o
convencimento. Aqui nessa definição já temos algo sobre lógica básica pois
esses argumentos precisam ser apresentados com clareza, justificando sempre
que possível as proposições que permeiam tal argumentação. Falaremos disso
um pouco mais adiante. Nesse momento o essencial à compreensão é
justamente uma definição mais fechada de “argumentação”.
Todo o debate pressupõe também a discordância pois o papel da
argumentação é justamente convencer o lado discordante de que o seu método
de pensamento é mais adequado. Nesse caso, além dos lados opostos um
debate também pressupõe que os pontos apresentados não sejam auto
evidentes, ou seja, possam ser questionados racionalmente. Pois então, mas
por que argumentar ao invés de fazer outra coisa?
A Verônica Campos responde essa pergunta dividindo-a em três
camadas. Mas basicamente podemos condensar sua perspectiva em:
argumentamos porque a argumentação é a melhor forma de tornar uma tese
mais clara e aceitável por vias racionais para alguém (incluindo para nós
mesmos). Assim a escolha da argumentação pressupõe, claro, que temos uma
discordância (ponto abordado anteriormente), mas também que os
debatedores possuem uma necessidade em repassar a sua percepção sobre
algum aspecto da realidade para outrem. Logo, acreditamos que “estamos
certos” e que precisamos passar a nossa certeza das coisas aos outros (claro,
nem sempre estamos certos de fato e assim caímos em um duplo erro: 1 - o de
acreditar na tese que defendemos; 2 – o de acreditar que estamos certos).
Além dessa necessidade de repassarmos a nossa percepção de mundo a
argumentação também é preferível a outras formas de “convencimento”, como
a guerra ou discussões (brigas), pois teoricamente seria um meio pacífico para
atingir tal objetivo. Existem muitos problemas nessa preposição, ainda mais se
pensarmos em um plano macro como a política, onde temos por um lado:
debates, conflitos teóricos, discordâncias de projetos; e por outro: declarações
de guerra, intervenções militares internas ou externas, a própria polícia que é
uma instância do estado, etc.
Enfim chegamos à terceira pergunta: para quê argumentamos? Para a
Verônica Campos existem duas camadas apara responder essa pergunta.
Seriam a “persuasão” e o “compromisso”
A primeira camada, a persuasão, é quando um partidário de uma tese
“A” tenta convencer o partidário da tese “não-A” de que seu ponto está certo,
utilizando sempre os artifícios argumentativos. É o tipo mais comum de debate
e não precisamos ficar nos alongando muito aqui. A persuasão parte de uma
crença primária da certeza de seu ponto
A segunda camada, o compromisso, possuem duas vertentes. A
primeira é quando o foco da argumentação é o desenvolvimento do
posicionamento dos autores que discutem. Nesse caso o partidário de ”A”
debateria com o partidário de “B” logrando ambos a atingirem um ponto “C” de
compreensão daquele tema. A segunda vertente do compromisso seria quando
temos duas posições totalmente divergentes e há uma tentativa de estabelecer
um consenso entre elas. Tal processo se dará através da “mitigação do
enfrentamento” para que seja possível ser minimizado e conciliado, nesse caso
cada lado terá que ceder em alguns pontos para promover a conciliação. Em
ambas as vertentes O compromisso parte de uma disposição mútua da revisão
de suas posições.
O problema dessa perspectiva é admitir como pressuposto de que
ambos os lados estão nas mesmas condições e que, qualitativamente falando,
a perda de um aspecto "x" em um lado equivaleria a um aspecto "y" de outro.
Fazendo com que elas fiquem inteiramente balanceados. Acredito ser essa
uma perspectiva idealista e que esse consenso serviria para diminuir os danos
do lado perdedor, nesse caso no debate haveria um lado ganhador e um
perdedor, porém, sendo a vitória de 5x0 ou de 4x3 continua sendo uma vitória.
Ela busca um tipo ideal de debate e tenta aplicar esse tipo a situações
específicas ao invés de analisar eventos reais e a partir deles tirar conclusões
sobre o debate.
O debate é uma tentativa de hegemonizar do seu discurso. Esse tipo
ideal de meio-termo, criado pela autora parte da premissa de uma total
desconsideração da totalidade dos interesses em uma discussão. Tentando
validar seu ponto ela exemplifica com o debate político sobre a escravidão.
Nele a autora coloca que se por um lado os abolicionistas questionavam
através da moral a escravidão, por outro, seus defensores acusavam que a
escravidão era essencial para a estabilidade da economia. Campos mostra
esse debate como uma disputa entre “moralidade vs economia” quando isso
nunca aconteceu na vida real. Peguemos o exemplo da Inglaterra. Neste país
os interesses pelo fim da escravidão também eram econômicos visto que: 1 –
acabava com o comércio transatlântico da França revolucionária; 2 – fornecia
uma possibilidade de independência às colônias e o fim do pacto colonial,
deixando o caminho livre para ela, Inglaterra, comercializar com esses “novos
países”
É importante registrar que pensar a política é fundamental para quem
um debatedor por dois motivos: 1 – a forma de se portar em um debate; 2 – a
articulação das forças. Nos debates parlamentares, até mesmo os conflitos
mais diretos, os políticos expressam seus próprios interesses e os interesses
dos seus representantes. Os debates ganham proporções muito mais
significativas do que uma conversa de boteco. Logo qualquer discurso, mesmo
que seja puro ad hominem, precisa ser no mínimo muito bem repleto de
estratégias, tanto argumentativas quanto comportamentais.
Veja bem, em um ambiente em que 400 dos 513 deputados são mais
adeptos do ponto “A” do que do ponto “B”, um deputado que se utilize do ad
hominem para xingar todos os defensores de “B” será aplaudido pela maioria
da Câmara. Ela se utiliza de uma falácia para inflamar uma posição já existente
nos seus companheiros, e talvez coibir as posições vacilantes. Do inverso, se
um deputado defende “B” e ataca “A”, tomará vaias da maioria, ainda mais se
atacá-la diretamente. Nesse caso portar-se de uma forma mais agressiva
também radicalizará as opiniões discordantes e nessa disputa, em que esse
segundo deputado já sai na desvantagem, conseguir reverter o problema será
extremamente difícil.
O papel dos acordos, “toma-lá-da-cás”, alianças e afins são basilares
para a “hegemonia do discurso”, geralmente muito mais do que um bom
discurso ou “a verdade” de um discurso. Não sei quais de vocês participaram
da simulação da ONU no ano passado. Participei como mesário e conseguia
ter uma visão geral de todos os acordos que estavam sendo feitos entre os
países e era claro como países “A, B e C” mudavam de opinião radicalmente e
quando eu lia os acordos feitos entre os países tínhamos lá tínhamos lá
vantagens econômicas para esses três países. Isso é política! Mas onde está
exatamente “a fronteira final da política”? Onde o cretinismo parlamentar e o
diálogo deixam de existir e passamos para a selvageria da guerra?! Nada
poderia ser mais falso do que essa interpretação!
Carl von Clausewitz, foi um estrategista e teórico militar prussiano. Ele
viveu a época da revolução francesa e lutou em mais de uma oportunidade
contra as tropas francesas. Em seu mais célebre tratado “Da Guerra” dizia que
“a guerra é a continuação da política por outros meios”. Talvez muitos pensem
que essa interpretação da guerra é algo restrito à época em que o Clausewitz
viveu, onde a França guerreava para expandir o seu ideário revolucionário e a
sua política para as potências ainda sob o Antigo Regime. Para Clausewitz a
guerra possui dois aspectos: o primeiro é o aspecto universal da guerra, o
conflito entre duas “coletividades humanas”; o segundo é o contingente, nesse
caso temos a conjuntura política, quais as condições que se dá o conflito e
afins. Por mais que a condição política seja variável a influência política
também é permanente, ou seja, política e guerra andam de mãos dadas.
Qualquer interpretação que oponha a barbárie da guerra ao consenso
político se esquece que a maioria, se não todos os conflitos da Revolução
Francesa para cá foram gerados por uma política de Estado, por um processo
revolucionário com o objetivo de suprimir o Estado vigente e construir um novo
ou pela impossibilidade do consenso político. A política leva à guerra e a guerra
leva à política. Sendo duas faces da mesma moeda
OBS: Antes do Clausewitz temos já algumas figuras que pensam sobre a
guerra, como o Sun Tzu. Porém a percepção de Sun Tzu sobre a guerra é que
esta seria uma arte. Clausewitz parece ser um primeiro a pensar a guerra como
ciência, um campo próprio de pesquisa (falar sobre a pesquisa de Daniel sobre
as Guerras na Gália). Com Clausewitz temos o ensino das táticas e estratégias
de guerra, formulações de como se pensar sobre a guerra baseando-se em
experiências anteriores, métodos para comandar a guerra, apresentação de
conceitos operacionais (defesa, ataque, tipos de campanha, etc.).
Mas o que exatamente a guerra tem a ver com técnicas de
argumentação? Se estudar política é fundamental para aprender a debater,
estudar sobre a guerra também pode ser uma excelente pedida. Se a primeira
nos ensina o modo de nos portarmos e a articulação interna de forças, a guerra
nos ensina a estratégia para atingir um objetivo, a tática que usaremos, a
antecipação de movimentos quase certos, qual seria a melhor forma de lidar
com elementos contingentes e adaptá-las sempre quando for necessário ou
quando um novo elemento apareça no debate. Talvez um ótimo jogo para
testarmos não só o pensamento lógico, mas a capacidade de montar
estratégias para obter êxito em um conflito seja o xadrez. No xadrez temos
uma quantidade exorbitante de possibilidades para ganhar o jogo, temos que
saber utilizar as peças da melhor forma possível contra cada adversário
específico que estamos enfrentando. Até mesmo o futebol tem seu elemento
estratégico.
Depois desses elementos mais gerais vamos sistematizar melhor as
técnicas para argumentar e debater.
Como se portar em um debate?
1 – Fique sempre tranquilo, ou deixa aparentar isso
2 – Gesticule, mas não tanto, seu corpo precisa se expressar, mas não pode
tomar a atenção do que você está falando
3 – Se estiver em um palco ou em uma sala de aula, use seu espaço, nunca
fique parado. Caminhe por ele e torne aquele lugar agradável para se estar.
Muitas pessoas, principalmente em apresentações, ficam paradas ou
escoradas na parede.
4 - Olhe para todos os cantos do ambiente e sempre tente olhar nos olhos das
pessoas para que pareça que você está falando especificamente com cada
uma delas.
5 – Tente ao máximo não manter a mesma entonação na voz, a sua fala acaba
ficando monótona e as pessoas deixam de ouvir o que você está falando.

Estratégias e táticas:
A preparação é fundamental para um bom debate. Conhecer o seu adversário
e seu próprio argumento são pontos chaves para você levar em conta quando
estiver preparando seus argumentos. Seu objetivo final é provar que sua tese
está correta e a do outro errada. Conhecendo seu adversário você saberá
quais argumentos e caminhos ele utilizará. Conhecendo seu próprio argumento
você saberá quais são os pontos fortes e fracos, assim você formulará
armadilhas que caiam nos pontos fortes e defesas para evitar os fracos (que
pode ter certeza, eles serão explorados).

Lógica:
1 - Seus argumentos precisam ser claros como o Lago Azul, mas ao mesmo
tempo feroz e impiedoso como o Cabo da Boa Esperança.

2 - Seus argumentos precisam ter proposições (conjunto de palavras com


sentido completo).

3 – Essas conexões precisam estar sempre levando a argumentação para um


mesmo lugar (não ter contradições em sua fala a não ser que exista uma nova
situação que requer uma mudança ou adaptação do argumento à nova
realidade)
4 – O desenvolvimento do argumento precisa ter uma racionalidade. Suas
conclusões precisam ser embasadas e justificadas pelas proposições antes
apresentadas. Para um argumento existir precisamos de uma preposição que
se liga à outra através da razão:
Exemplo: Todo Humano é mortal
Orlando é mortal
Orlando é humano
Temos aqui três proposições em que as duas primeiras nos dão motivos para
acreditar na última, logo, temos um argumento.

5 – Utilize tanto a Dedução quanto a Indução


5.1 – Dedução – argumentos dedutivos são precisos
Exemplo: Eu tenho 5 reais, logo posso comer em Rai
Hoje é segunda, segunda temos aula de
História, logo hoje temo aula de História
5.2 – Indução – argumentos probabilísticos
Exemplo: pessoas que estudaram tiraram nota alta
Eu estudei, logo há uma grande
possibilidade de eu ter tirado nota alta

Retórica:
A retórica é a arte de reconhecer os meios para persuadir alguém. Em linhas
gerais não pode faltar em um discurso
I – Invenção – escolha do assunto
II – Disposição – maneira de falar
III – Elocução – expressões que vai buscar
IV – Memória – decorar o discurso
V – Pronunciamento – declamação, entonação, tipo de voz

Falácias:
Possui três fundamentos gerais: 1 – Tirar conclusões com poucos dados
2 – Não imaginar alternativas
3 – Falta de evidências
As principais ou mais interessantes

Ad hominem – atacar a pessoa ao invés do argumento


1 – Negação – argumento questionado por causa de quem está o
emitindo
2 – Silenciamento – questionar o direito de uma pessoa de fazer o
questionamento
3 – Descartamento – não é confiável por causa dos seus interesses
pessoais

Apelo à autoridade
1 – Autoridade em outras áreas
2 – Consenso (questionável)

Espantalho
Você altera o argumento para que possa refutá-lo com mais facilidade
Causa Falsa
Você pega dois eventos que acontecem ao mesmo tempo ou paulatinamente e
afirma que há uma relação de causa entre eles
Apelo à Emoção
Você manipula seu adversário com um fato emocional ao invés de rebater com
argumentos válidos
A falácia da falácia
Supor que uma afirmação é falsa só porque ela não foi bem construída ou
porque há uma falácia nela
Falácia da dialética
É questionado uma contradição no seu argumento e você afirma que tal fato é
dialético
Ladeira escorregadia/Bola de Neve
Você argumenta que se permitirmos acontecer A, fará com que aconteça Z
Você também
Você evita responder as críticas, virando-as contra o seu próprio acusador
Incredulidade pessoal
Você dá a entender que algo é fácil só porque você não consegue entender
Alegação especial
Altera as regras ou abre uma exceção quando comprovação que seu
argumento é falso
Pergunta carregada
Pergunta com afirmação imbutida
Ônus da prova
Esperar que o outro prove que você está errado quando você não prova porque
está certo
Ad populum
Validar um argumento por causa da sua popularidade
Nenhum escocês de verdade
Apelo à pureza
Tornando a questão supostamente óbvia
Argumento circular em que a conclusão está incluída na premissa
Apelo à natureza
Só porque um fato é natural, aquilo é válido

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