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ARTIGO

DIVÓRCIO, RECASAMENTO E A RELAÇÃO ENTRE


PADRASTOS E ENTEADOS: REFLEXÕES ENDEREÇADAS
AOS TERAPEUTAS DE FAMÍLIA

DIVORCE, REMARRIAGE AND THE RELATIONSHIP BETWEEN STEPFATHERS


AND STEPCHILDREN: REFLECTIONS ON THE DYNAMICS OF REMARRIED
FAMILIES

RESUMO: Com o advento do divórcio, o número ABSTRACT: With the advent of divorce, the num- MARCELO RICHAR
de famílias constituídas a partir do recasamen- ber of families constituted from remarriage has ARUA PIOVANOTTI
to tem crescido significativamente. Padrastos, grown significantly. Stepfathers, stepmothers and
Psicólogo, Secretaria
madrastas e enteados estão cada vez mais pre- stepchildren have become more present in peo-
Municipal de Saúde de
sentes no cotidiano familiar. O padrasto ainda é ple’s daily lives. The stepfather is still seen with Florianópolis, SC, Brasil.
visto com ressalvas no meio social, tanto pelos reservations in the social environment, both due
preconceitos existentes, quanto pelas incertezas to the existing prejudices and uncertainties about
sobre sua função na dinâmica familiar, especial- their role in the family dynamics, especially when
DENISE DUQUE
mente nas situações em que o pai ainda participa the father actively participates in his children’s Coordenadora do Familiare
ativamente do cotidiano dos filhos. Neste cená- daily life. In this scenario, what aroused the in- Instituto Sistêmico de
rio, o que despertou o interesse para a reflexão terest for the reflection described in this article is Florianópolis, SC, Brasil.
descrita neste artigo é a dinâmica familiar con- the family dynamics configured by the insertion
figurada a partir da inserção do padrasto. A ideia of the stepfather. The idea defended is that the fa-
defendida é que a função paterna e a função de ther and the stepfather can coexist harmoniously,
padrasto não precisam entrar em conflito, uma each one with their specificities. The objective of
vez que podem conviver dialogicamente, sem se this article is problematize the challenges that the
sobrepor, cada uma com suas especificidades e family therapist may face in working with recasted
em consonância com as características de cada families, with emphasis on the particularities of
família. O presente texto busca problematizar os the stepfather’s role and how systemic thinking
desafios que o terapeuta de família poderá enfren- can contribute to this understanding. Studies on
tar no trabalho com famílias recasadas, com ên- the new family arrangements are relevant, since
fase nas particularidades da função do padrasto traditional marriage is no longer the only form of
nesta dinâmica e buscando refletir de que forma o family formation.
pensamento sistêmico pode colaborar para esse
entendimento. Estudos sobre os novos arranjos KEYWORDS: divorce; remarriage; stepfather;
familiares mostram-se pertinentes, uma vez que stepchildren; systemic epistemology.
o casamento tradicional já deixou de ser a única
forma de constituição familiar aceita socialmente.

PALAVRAS-CHAVE: divórcio; recasamento; pa-


drasto; enteados; epistemologia sistêmica.

INTRODUÇÃO

Após o advento do divórcio, definido legalmente como a dissolução definitiva


do casamento e que confere às partes o direito de novo casamento civil (IBGE, Recebido em: 06/01/2018
2010), um fenômeno que se tornou cada vez mais frequente é a formação de nú- Aprovado em: 30/04/2018

http://dx.doi.org/10.21452/2594-43632018v27n61a03
cleos familiares a partir de um novo alguma polêmica e muitas incertezas
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casamento. Neste cenário, parece in- é a presença das funções de padrasto,
teressante considerar a existência de madrasta e enteados, decorrente da
novos elementos para a compreensão provável e quase inevitável existência
e definição de família. de filhos provenientes do relaciona-
O número de recasamentos já al- mento anterior. Segundo Pasley e Gar-
cança uma proporção significativa no neau (2016), a presença de filhos de
contexto social em diferentes países um relacionamento anterior impõe à
do mundo, a exemplo da Alemanha, família recasada um contexto de maior
Canadá e Estados Unidos, nos quais o complexidade.
número de famílias em que pelo me- Da mesma forma, torna-se cada vez
nos um dos cônjuges era divorciado mais comum a inserção de novas pes-
ou viúvo no momento da união vem soas – até então desconhecidas – na
aumentando significativamente. Nos rotina familiar, mas que precisarão ser
Estados Unidos, por exemplo, o nú- realocadas nessa dinâmica, e que serão
mero de recasamentos já alcançou a apresentadas como “novos avôs e avós”,
faixa de 50% dos casamentos registra- “novos tios e tias”, “novos irmãos e ir-
dos (Soares, 2012). mãs”, e assim por diante, mesmo que
No Brasil, o número de recasamen- ainda não se tenha clareza sobre a no-
tos também tem crescido em uma menclatura dos papéis que passarão a
proporção bastante importante. Inú- exercer na nova configuração familiar.
meros portais on-line de notícias têm Neste cenário de incertezas, ajustes
divulgado nos últimos anos dados do e adaptações, o padrasto ainda costu-
Instituto Brasileiro de Geografia e Es- ma ser visto com ressalvas, tanto pelos
tatística (IBGE) que ilustram essa re- preconceitos ainda presentes no meio
alidade. De acordo com esses dados, social, quanto pela pouca clareza so-
a taxa de recasamento vem crescendo bre a sua função na dinâmica familiar,
significativamente ao longo dos anos, principalmente no que diz respeito às
com registros de 12% do total das uni- responsabilidades parentais. As dúvi-
ões formalizadas em 2001, de 13,7% das tendem a ser maiores nas situações
em 2004, de 17,6% em 2009 e de 23,8% em que a figura do pai se faz presente
em 2015, um aumento de aproximada- nas rotinas da criança, já que o con-
mente 98% em apenas 14 anos. ceito de padrasto tem em sua origem
Assim, com o gradativo aumento histórica a noção de substituição da
dos núcleos familiares constituídos a figura paterna. Uma vez que o pai par-
partir do recasamento, temos como re- ticipa da vida de seus filhos, fica mais
sultado uma ampliação do contexto de complexo definir para a figura do pa-
relações familiares que ocorrem muito drasto quais seriam as suas funções e
além do espaço da família nuclear, e responsabilidades junto aos filhos de
com características potencialmente di- sua nova companheira.
ferentes nos diversos núcleos de convi- Assim, uma pergunta que ainda não
vência. As novas rotinas familiares irão encontra uma resposta clara é: qual
envolver pelo menos dois núcleos de a função parental de um padrasto em
moradia em que os filhos terão algum um recasamento pós-divórcio, espe-
tipo de participação, já que pai e mãe cialmente nas situações em que o pai
passarão a viver em locais diferentes. é participativo? Essa pergunta pode
Dentre as implicações desses novos ser de interesse dos terapeutas de fa-
arranjos familiares, a que ainda gera mília, na medida em que ela tem se

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tornado cada vez mais frequente em parentais, a ampliação do contexto fa- Divórcio, recasamento e a
seus consultórios e considerando que miliar e o grande número de vínculos relação entre padrastos e 3
enteados: reflexões
o conceito de padrasto como substitu- que se sobrepõem justificam a realiza- endereçadas aos
terapeutas de família
to da figura paterna já deixou de ser ção de pesquisas sobre o tema (Cano, Marcelo Richar Arua Piovanotti
suficiente. Gabarra, Moré, & Crepaldi, 2009). Os Denise Duque

Nesse sentido, o presente texto tem terapeutas de família precisarão es-


como objetivo problematizar e refletir tar atentos às novas possibilidades, de
a respeito das especificidades que o te- modo a evitar a reprodução de velhos
rapeuta de família pode encontrar no preconceitos. Ao ampliarem a reflexão
trabalho com famílias recasadas, es- sobre a realidade das famílias, poderão
pecialmente no que se refere à função realizar uma prática condizente aos de-
do padrasto nesta dinâmica e de que safios impostos aos novos arranjos fa-
modo o pensamento sistêmico pode miliares (Carter & McGoldrick, 1995).
colaborar para esse entendimento.
Para embasar a problematização
apresentada, os autores fazem uso de O PENSAMENTO SISTÊMICO
autores clássicos do pensamento sis-
têmico, de modo a exibir uma breve Dentre as inúmeras implicações do
explanação do seu impacto na prática pensamento sistêmico na observação
profissional com famílias, em particu- dos fenômenos humanos, mudanças
lar no que tange à temática de estudo significativas no processo de terapia se
aqui explorada. Em seguida, apresenta mostraram inevitáveis, principalmen-
um sucinto histórico das mudanças no te em termos de sua organização, con-
código civil brasileiro que tornaram dução e da postura do terapeuta diante
o processo de divórcio mais acessível das famílias que o procuram (Ander-
à população, e como essas reformu- son & Goolishian, 1998; Hoffman,
lações na lei abriram espaço para o 1998; McNamee & Gergen 1998).
recasamento. Oferece, também, com Partindo dos pressupostos da comple-
base na literatura pesquisada, refle- xidade, da instabilidade e da intersub-
xões sobre os possíveis desafios que as jetividade, com os quais se estabelece
famílias enfrentarão durante o divór- uma ênfase na observação de sistemas
cio e o recasamento, e também sobre amplos, contextualizados e que se re-
os desafios que o terapeuta de família lacionam em rede, entende-se que o
terá diante dos novos arranjos familia- mundo está em constante transforma-
res decorrentes desses dois processos. ção e em contínua auto-organização
Por último, o texto destaca as particu- (Vasconcellos, 2010).
laridades da relação entre padrastos e Nesse sentido, quando se trabalha
enteados, problematizando as possí- com famílias e suas relações, busca-
veis consequências dessa relação no -se o reconhecimento dos seus con-
contexto familiar. textos de interações, de modo a am-
Estudos sobre os novos arranjos fa- pliar a imagem da situação- problema
miliares mostram-se pertinentes, pois (Grandesso, 2000). A premissa para o
o casamento tradicional deixou de terapeuta é de que a família seja vista
ser a única forma socialmente acei- como um sistema entre tantos outros,
ta de constituição de uma família. O sendo essencial para a compreensão
aumento significativo no número de de sua dinâmica a constante explora-
divórcios, o crescente número de reca- ção das relações interpessoais e das
samentos, a reestruturação nas rotinas normas que regulam o seu funciona-

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mento nos diferentes grupos signifi- ainda geram muitas dúvidas (Cano et
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cativos dos quais faz parte (Andolfi, al,. 2009; Carter, 1995; Soares, 2012;
1996; Minuchin, 1982). Valentim de Sousa & Dias, 2014).
Um dos pontos do pensamento
sistêmico fundamentais para a refle-
xão descrita neste artigo é o princí- DIVÓRCIO E RECASAMENTO
pio dialógico apresentado por Morin
(1982), a partir do qual se considera A história do divórcio no Brasil
ser possível articular e unir conceitos começa oficialmente em 1977, com a
costumeiramente vistos como opostos Emenda Constitucional nº 9, de 28 de
ou antagônicos. Um dos efeitos desse junho, que foi regulamentada como lei
entendimento é compreender que di- em 26 de dezembro do mesmo ano,
ferentes papéis podem atuar concomi- sob o nº 6.515, e recebeu o nome de a
tantemente nos contextos familiares, Lei do Divórcio. Inicialmente, a nova
mesmo que tenham a aparência de lei impunha uma série de critérios bu-
conflitantes, redundantes ou incompa- rocráticos para definir a dissolução do
tíveis. Essa compreensão será de suma casamento, instituindo o divórcio tipo
importância para a reflexão sobre a conversão, no qual somente após um
possibilidade de coexistência harmo- período obrigatório de três anos de se-
niosa das funções de pai e de padrasto. paração judicial é que o casal poderia
Nesta perspectiva, postula-se que os encerrar definitivamente a conjugali-
conceitos vigentes, a exemplo do con- dade, ao requerer sua conversão para
ceito de família, variam de acordo com divórcio (Freitas, 2013).
o momento histórico, com os eventos A separação judicial, nos termos
marcantes de um período e em conso- jurídicos, serviria como um recur-
nância com o padrão cultural de uma so válido para o casal manifestar sua
época (Capra, 1996; Morin, 1982). Por vontade de suspender os deveres con-
esse motivo, na abordagem de base jugais, formalizando as condições de
sistêmica, parece interessante aos pro- tal suspensão, sem ter que romper
fissionais que atuam na área o devido definitivamente o vínculo conjugal.
cuidado para não se fixarem em valo- Conforme argumenta Silva (2013), no
res ou padrões de comportamento de entendimento dos agentes do direito,
uma determinada época, como se es- poderia restar alguma dúvida quanto
tes fossem os únicos modelos de con- à dissolução definitiva do casamento,
duta a serem seguidos. sendo mais adequado aos cônjuges
No que se refere às temáticas do di- que dissolvessem inicialmente apenas
vórcio, recasamento e da relação entre a sociedade conjugal, para, posterior-
padrasto e enteados, os pressupostos mente, caso tivessem reconsiderado
do pensamento sistêmico são úteis sua decisão, poderem se reconciliar.
para a compreensão desses fenômenos Nessa época, o divórcio era admitido
e para sua abordagem clínica no con- somente uma única vez.
texto de terapia de família, uma vez Contudo, concomitante às modifi-
que a presença da figura do padrasto cações históricas no contexto socioe-
na dinâmica familiar, assim como o conômico e cultural do Brasil, a Lei do
divórcio e o recasamento, ainda são te- Divórcio sofreu alterações significati-
mas que demandam adaptação cultu- vas a partir da década de 1980. Com
ral, trazem consigo uma grande carga a Constituição Federal de 1988, por
de preconceitos e desconhecimento, e exemplo, o prazo para conversão da

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separação judicial em divórcio redu- transformações culturais do país, apa- Divórcio, recasamento e a
ziu de três para um ano e já não havia rece no rol dos fenômenos que cola- relação entre padrastos e 5
enteados: reflexões
mais limites no número de divórcios. boram para o crescimento da taxa de endereçadas aos
terapeutas de família
Outra mudança importante neste pro- nupcialidade legal no Brasil. O casa- Marcelo Richar Arua Piovanotti
cesso vem a ocorrer em 2007, com a mento ainda se apresenta como uma Denise Duque

Lei 11.441, na qual fica definido que o instituição valorizada no contexto


divórcio e a separação consensuais po- social, ao ponto de muitos casais op-
dem ser requeridas por via adminis- tarem pelo divórcio justamente por
trativa. O casal poderia comparecer a acreditarem que o casamento possa
um tabelionato e apresentar o pedido, ser mais do que os seus relacionamen-
diminuindo, assim, a burocracia jurí- tos atuais. Diante de uma relação con-
dica envolvida no processo. Tinham jugal aquém das expectativas do casal,
direito a tal procedimento somente os o divórcio seria uma estratégia válida
casais sem filhos menores de idade ou na busca por relacionamentos mais sa-
incapazes (Silva, 2013). tisfatórios (Bernardi, Dias, Machado,
A mudança mais recente ocorre a Nonato & Féres-Carneiro, 2016; Car-
partir da Emenda Constitucional nº twright & Gibson, 2013; Silva, Trinda-
66 de 2010, que acaba com a necessi- de, & Silva, 2012).
dade da separação judicial prévia para O divórcio e o recasamento já fa-
que o divórcio seja concretizado e não zem parte da realidade brasileira em
impõe restrições em relação à idade uma proporção significativa, em to-
dos filhos. A vontade do casal passa a dos os seguimentos da sociedade.
ser a única condição para o pedido de Nesse sentido, evidencia-se mais uma
divórcio. Com a simplificação do pro- vez a importância de ampliar a com-
cesso, obtida a partir da nova redação preensão de seus impactos nas rotinas
do código civil brasileiro, em 2010, o familiares, de modo a oferecer uma
divórcio se tornou um recurso de fácil melhor abordagem do tema e um le-
acesso a todos aqueles que, indepen- que maior de opções para o enfrenta-
dente dos motivos para tal, desejassem mento dessas questões durante o ciclo
encerrar seus casamentos (Silva, 2013). de vida familiar.
Dados do Instituto Brasileiro de Ge-
ografia e Estatísticas (IBGE) mostram
o aumento progressivo no número de QUESTÕES PARA TERAPIA FAMILIAR
divórcios à medida que as alterações SISTÊMICA NO PROCESSO DE
no Código Civil foram ocorrendo. Au- DIVÓRCIO E RECASAMENTO
mento semelhante também aparece no
número de casamentos. Para o IBGE, o Os estudos na área de família res-
aumento do número de divórcios e o de saltam que o divórcio é um processo
casamentos estariam relacionados. As complexo, pluridimensional e que
mudanças na legislação que facilitaram ocorre de forma diferenciada em cada
a obtenção do divórcio também teriam família (Cano et al., 2009). O grau do
permitido novas uniões legais, ou a for- impacto que a família sofrerá depende,
malização das que já existiam, mas que entre outros fatores, da fase do ciclo de
ainda não haviam sido oficializadas em vida que a família estiver vivendo no
virtude de impedimentos da lei. momento do divórcio e de questões
Portanto, o recasamento, impulsio- relacionadas ao contexto, uma vez que
nado por alterações do Código Civil, o divórcio aumenta significativamente
por mudanças socioeconômicas e por a complexidade das tarefas desenvol-

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vimentais que deverão ser enfrentadas do conjunto de sentimentos, que po-
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naquela e também nas fases seguintes dem incluir a solidão, a angústia e o
do ciclo de vida familiar (Carter & medo do abandono, principalmente
McGoldrick, 1995). nas situações em que pais e filhos não
Portanto, é prudente que os terapeu- conversam a respeito da separação
tas de família estejam atentos ao fato (Saccu & Montinari, 1995; Wallerstein
de que os membros da família estão & Kelly, 1998; Wallerstein, Lewis, &
emocionalmente em risco diante do Blakeslee, 2002).
divórcio, pois precisarão lidar com o Os filhos irão vivenciar momentos
enfrentamento de eventos que são, ine- de tensão e sofrimento durante o di-
vitavelmente, fonte de ansiedade e an- vórcio de seus pais. Diante da frustra-
gústia, tais como o período de tomada ção de expectativas comuns ao enlace
de decisão, o anúncio da decisão para matrimonial e das mudanças signifi-
o restante da família e amigos, a sepa- cativas na rotina familiar que surgem
ração concreta, as discussões a respeito em decorrência do divórcio, acaba
das finanças e dos filhos, possíveis con- sendo um tanto quanto inevitável que
sultas com advogados e, finalmente, a os filhos acompanhem ou enfrentem
redefinição para uma nova vida (Car- algum tipo de sofrimento, seja como
ter & McGoldrick, 1995). espectadores da dor do outro ou como
Nesse sentido, o divórcio é visto aqueles que a sentem diretamente.
como uma crise que cria um estado Nesse sentido, o processo de terapia
de desequilíbrio para todas as pessoas pode ter um papel importante para a
envolvidas, em todos os níveis gera- dinâmica familiar, colaborando para
cionais e por todo o sistema familiar a abertura de canais claros de comu-
(Cano et al., 2009). A família que pas- nicação, de modo a evitar, principal-
sa pelo processo de divórcio apresenta mente nos filhos pequenos, fantasias
questões complexas para as quais não ou culpabilizações desnecessárias.
existem soluções simples. O conflito Apesar das dificuldades inerentes
vivenciado pelo casal responde a ques- ao processo de divórcio, na maio-
tões enraizadas na história de cada ria das vezes, ele se apresenta como
indivíduo e que não são compensadas uma situação inevitável e desejada,
apenas pela separação física. O divór- em virtude da amplitude dos proble-
cio demanda ajustes pessoais tanto em mas vividos pelo casal (Travis, 2003).
níveis emocionais, quanto em ques- O processo de divórcio tem o poten-
tões práticas do cotidiano. O divórcio cial de aumentar as dificuldades, mas
se configura, portanto, como um po- também o de estimular o crescimento
tencializador de conflitos emocionais, pessoal de uma maneira que não era
que devem ser reconhecidos e consi- possível anteriormente. A carga emo-
derados no processo de terapia (Cano cional decorrente do divórcio, tanto
et al., 2009; Saccu & Montinari, 1995). negativa quanto positiva, resulta em
Segundo Soares (2012), após o di- mudanças importantes na maneira
vórcio, os filhos passam a ter um papel como cada pessoa se percebe e se co-
central no contexto familiar, pois é em loca no mundo, sendo este, talvez, um
torno deles que o casal recém desfeito dos principais motivos da ambiva-
precisará manter algum contato, mes- lência inerente ao processo (Saccu &
mo que a conjugalidade tenha sido Montinari, 1995).
rompida. As mudanças costumam Nesse sentido, parece interessante
vir acompanhadas por um intrinca- que os terapeutas de família estejam

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abertos a compreender o divórcio de romper com os modelos tradicionais Divórcio, recasamento e a
modo abrangente, considerando as de família vigentes na sociedade. A fa- relação entre padrastos e 7
enteados: reflexões
diferentes possibilidades do sistema, mília recasada passará por um período endereçadas aos
terapeutas de família
tanto em termos das dificuldades, por de intensas reestruturações, mediante Marcelo Richar Arua Piovanotti
um lado, quanto dos recursos, por ou- a integração e inserção de novos ele- Denise Duque

tro. Cano et al. (2009) apontam que, mentos no contexto de convivência do


com o passar do tempo, o divórcio sistema familiar.
pode ser benéfico para os membros Soares (2012) apresenta uma contri-
da família, que passam a perceber uma buição importante para o debate desse
melhora na qualidade de vida, tanto tema, ao destacar duas das principais
a dos ex-cônjuges como a dos filhos, dificuldades encontradas pelas famí-
contribuindo, assim, para a resiliência lias recasadas. A primeira consiste na
e para o amadurecimento emocional dificuldade de encontrar uma nomen-
de todos os envolvidos. clatura que identifique com clareza
Um exemplo dessa situação é a os integrantes do novo sistema e que
pesquisa realizada por Souza (2000) evidencie seus vínculos, uma vez que
com adolescentes que vivenciaram a ainda prevalece como legítima a ima-
separação dos pais durante a infância. gem da tradicional configuração pai,
A partir dos dados coletados, eviden- mãe e filhos. A segunda diz respeito à
ciou-se que os adolescentes pesqui- dificuldade das pessoas em responder
sados concluíram que a separação de quem faz parte de sua família, diante
seus pais foi uma solução adequada da incerteza a respeito de quais crité-
para os conflitos do casal e da família, rios devem ser utilizados para respon-
mesmo que inicialmente tenham pre- der a essa pergunta.
valecido sentimentos negativos. Re- Da mesma forma, o estudo de Travis
sultado semelhante foi encontrado por (2003), cujo objetivo era o de verificar
Valentim de Sousa e Dias (2014), em as percepções de terapeutas de família
recente pesquisa com famílias recasa- a respeito do recasamento, mostrou
das, na qual os participantes referiram que esses profissionais também apre-
um número significativamente maior sentam dificuldade semelhante ao de-
de aspectos positivos na nova confi- finir o que é família e quem faz parte
guração familiar, mesmo que tenham dela. Tal dificuldade foi atribuída à
experimentado algumas dificuldades presença de múltiplos modelos com os
após o divórcio de seus pais. quais os profissionais precisam lidar
Para o casal que se divorcia, a for- em sua prática cotidiana. De alguma
mação de um novo relacionamento forma, a multiplicidade de arranjos
apresenta importantes desafios ao familiares e as diferentes formas de in-
sistema familiar, uma vez que vem teração dentro desses sistemas a par-
acompanhada de expectativas de recu- tir do recasamento geraram uma crise
peração da autoestima e de vivências conceitual em torno desse fenômeno.
positivas que não puderam ser plena- A esse respeito, Martins, McNamee
mente alcançadas no relacionamento e Guanaes-Lorenzi (2015) apresentam,
anterior (Carter & McGoldrick, 1995). a partir de uma perspectiva constru-
O recasamento, a exemplo do divórcio, cionista, contribuições importantes do
altera a estrutura e a dinâmica familiar que seja a família. Os autores argumen-
como um todo, à medida que modifi- tam que a família se configura enquan-
ca formas de conduta, relações paren- to uma realização discursivamente
tais, espaços de convivência, além de produzida e em constante processo de

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construção, a partir das interações so- potencializa as dúvidas e aumenta a
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ciais existentes. Este intercâmbio social necessidade de ajustes comuns a todo
se configura enquanto o espaço privi- enlace afetivo. Dentre as questões a
legiado no qual as pessoas negociam, serem elaboradas e ajustadas entre as
estabelecem e legitimam um concei- famílias que estão se unindo median-
to que defina o mundo que as cerca. te recasamento, Carter e McGoldrick
Nesse sentido, na tentativa de alcançar (1995) salientam que as conflitivas
alguma definição capaz de explicar, referentes ao casamento anterior e ao
mesmo que minimamente, o que é o processo de divórcio são as de maior
sistema familiar, se recorre a “vocabu- repercussão.
lários socialmente produzidos, situa- Outro ponto que vale destacar e
dos em tempos históricos específicos e que tem forte impacto na organização
que permitem produzir versões do que das novas rotinas familiares após o di-
uma família pode ser” (p. 17). vórcio é a guarda dos filhos. No Brasil,
De acordo com Martins, McNamee a partir de 22 de dezembro de 2014,
e Guanaes-Lorenzi (2015), a princi- passou a prevalecer a lei que define
pal implicação para os terapeutas ao a regra da guarda compartilhada em
adotarem uma concepção discursiva casos de divórcio. A nova regra tem
de família é a possibilidade de manter como prerrogativa que a divisão do
uma postura aberta, que permita en- tempo de convivência dos filhos seja
tender as diferentes formas como as equilibrada com cada um dos pais,
pessoas descrevem suas conexões com exceto em situações específicas, como
os demais integrantes de seu contexto quando um dos pais abre mão da guar-
de interações e de que forma esses re- da voluntariamente ou o juiz entende
lacionamentos funcionam em seu coti- que uma das partes não apresenta os
diano. Ao perceber a família por uma requisitos mínimos para o cuidado de
ótica construcionista, o terapeuta assu- uma criança.
miria uma postura de genuína curio- No entendimento de Levy (2009),
sidade, que o auxiliará a compreender os agentes do direito favoráveis à guar-
de que forma as pessoas atribuem sen- da compartilhada entendem que o en-
tidos ao contexto familiar e às funções volvimento de ambos os genitores na
que cada um ocupa nesse sistema. Por- criação dos filhos amenizaria os senti-
tanto, durante o processo conversacio- mentos negativos decorrentes da sepa-
nal que se desenrola no atendimento ração conjugal. A premissa básica é de
familiar, a conversa terapêutica se esta- que os pais cooperem entre si, mesmo
belece enquanto um contexto de pro- separados, de modo a não expor os
dução de sentidos, no qual poderão ser filhos a seus conflitos, minimizando
construídas diferentes versões do que possíveis desajustes e diminuindo a
seja a família e de qual função cada in- probabilidade de desenvolverem pro-
tegrante deve exercer. blemas emocionais, escolares e sociais.
Nesse sentido, o divórcio e o recasa- Apesar das possíveis críticas à lei da
mento direcionam os profissionais da guarda compartilhada, ela se apresen-
área a ampliar sua compreensão sobre ta ao contexto social como uma nova
o sistema familiar, a partir da inclu- realidade que precisa ser considerada
são de outros fatores que não estavam quando se pensa na estruturação da
presentes no primeiro relacionamen- dinâmica familiar. Com a formação de
to. Também é necessário considerar dois núcleos diferentes de moradia, a
que o a nova configuração da família casa do pai e a casa da mãe, os filhos

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terão que enfrentar um processo de e papéis que serão assumidos diante da Divórcio, recasamento e a
adaptação a pelo menos dois conjun- nova configuração da família. relação entre padrastos e 9
enteados: reflexões
tos diferentes de regras de convivência Vale salientar que há uma série de endereçadas aos
terapeutas de família
doméstica, principalmente se houver tarefas desenvolvimentais relativa- Marcelo Richar Arua Piovanotti
uma diferença significativa entre os mente estáveis a serem enfrentadas em Denise Duque

estilos de vida do pai e da mãe. cada uma das etapas do ciclo familiar,
De todo modo, mesmo diante dos e que podem apresentar resultados
riscos, das ambivalências e polêmicas positivos para todos, caso sejam escla-
inerentes ao processo, as famílias reca- recidas e trabalhadas a contento (Car-
sadas podem oferecer um exemplo in- ter & McGoldrick, 1995). O processo
teressante de união familiar e de novos terapêutico se mostra importante na
valores aos jovens. De modo geral, os adaptação ao novo estilo de vida, prin-
filhos têm demonstrado capacidade de cipalmente nos casos em que a resolu-
aceitar as diferentes modalidades de ção das perdas inerentes ao divórcio
união conjugal e de conceber a família não foram suficientemente elaboradas
a partir de critérios variados, indican- (Souza, 2000).
do que as múltiplas possibilidades de Por esse motivo, os profissionais
rearranjos familiares são válidas e po- acabam se vendo no lugar de repensar
dem ser produtivas (Cano et al., 2009; suas práticas, seu modo de entender
Souza & Ramires, 2006; Valentim de a conjugalidade e o próprio concei-
Sousa & Dias, 2014). to de família. A perspectiva dialógica
Independente da configuração, a se mostra como uma estratégia inte-
família se estrutura enquanto um es- ressante para lidar com este impasse,
paço de experiências e emoções in- uma vez que destaca a possibilidade
tensas, determinantes para os seres de múltiplos padrões e configurações
humanos, tanto em aspectos positivos, familiares compartilharem o mesmo
quanto negativos (Wagner, 2002). Se- momento histórico, sem necessaria-
gundo Oliveira, Siqueira, Dell’Aglio e mente entrarem em conflito conceitu-
Lopes (2008), o bem-estar da criança al. Afinal, a família contemporânea já
não estaria associado ao fato dela con- não comporta mais apenas uma única
viver na mesma residência com outro definição (Féres-Carneiro, 2005; Ger-
par parental (padrasto ou madrasta); gen & Davis, 1997).
o que predomina como fator deter-
minante para o bem-estar dos filhos e
da família é o desempenho dos papéis, A RELAÇÃO ENTRE PADRASTO E
das funções e a qualidade das relações ENTEADO
existentes entre seus membros.
Nesse sentido, fica evidente a ne- Conforme apontado por Soares
cessidade dos terapeutas de família (2012), no recasamento, há duas for-
estarem atentos às questões intrínse- mas básicas para uma família com
cas aos conflitos emocionais que po- padrasto e madrasta se constituir: a
tencialmente irão surgir em todos os viuvez e o divórcio. Nas situações de
envolvidos; de modo a considerar a viuvez, o padrasto e a madrasta ocu-
complexidade de todo o processo, que pariam um lugar no contexto familiar
começa com a decisão de divorciar-se, a partir da ausência definitiva de um
passa pelo momento de estabelecer um dos genitores, em substituição, até
núcleo familiar diferente do anterior, e certo ponto, da figura parental que
segue pela definição das novas funções não está mais presente. No divórcio,

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por outro lado, a figura parental bio- Conflitos de lealdade podem surgir a
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lógica, mesmo que em maior ou me- esse respeito, uma vez que os filhos
nor grau, está potencialmente presen- podem se sentir divididos entre a fi-
te na vida da família. gura paterna e o padrasto, ao nutri-
Historicamente, a figura do pa- rem sentimentos positivos pelos dois
drasto se fazia presente quase que ex- (Rocha, 2015).
clusivamente nas situações de viuvez. A construção de um relacionamen-
As dissoluções do casamento eram to afetivo com os enteados não é uma
incomuns em outras épocas, princi- tarefa fácil (Saraiva, 2013). O novo
palmente por questões pertinentes relacionamento amoroso da mãe in-
ao estigma social e à tradição religio- dica para os filhos, por exemplo, que a
sa. Conforme a tradição católica, por separação dos pais tende a ser defini-
exemplo, “o que Deus une, o homem tiva, o que pode resultar em conflitos
não separa” (Marcos 10:9, Bíblia Sa- entre padrasto e enteados (Carter &
grada). O termo padrasto remete, por- McGoldrick, 1995; Rocha, 2015; Soa-
tanto, à época em que a figura do pa- res, 2012). O padrasto também carre-
drasto entrava na família basicamente ga o peso de um mito social. Sobre ele
em substituição à figura paterna, tor- recai a desconfiança da representação
nando-se a nova referência masculina da figura do abusador, que inevitavel-
do lar (Soares 2009). mente irá maltratar os enteados (Soa-
A ideia de padrasto como substi- res, 2009; Valentim de Sousa & Dias,
tuto do pai parece estar relacionada 2014; Wagner, 2002). Prevalece a ideia
à idealização do modelo de família de que somente os pais, sob a égide do
nuclear e aos papéis ainda atribuídos vínculo biológico, seriam capazes de
ao homem no contexto social (Alves cuidar adequadamente das crianças.
& Arpin, 2017; Valentim de Souza & Contudo, dados de pesquisas re-
Dias, 2014). As famílias recasadas ten- centes, a exemplo de Trindade et al.
dem a se basear no modelo da família (2014) e Serafim et al. (2011), mos-
nuclear intacta, por ainda entenderem tram que o padrasto não é o principal
que o modelo tradicional é o mais agente de violência contra as crianças,
adequado socialmente (Guimarães & e que não há diferenças significativas
Amaral, 2009; Saraiva, Levy, & Ma- entre o índice de abuso perpetrado
galhães, 2014). Contudo, nas famí- por pais e padrastos. Nesse sentido,
lias recasadas pós-divórcio, a ideia de o abuso infantil, seja ele sexual ou
substituição da figura paterna já não de outra ordem, se caracteriza como
faz tanto sentido, uma vez que o pai uma prática de abusadores, indepen-
ainda está potencialmente presente na dente do vínculo que tenham com a
vida dos filhos. criança. O abuso infantil responde a
Segundo Soares (2012), a noção uma condição psicológica do abusa-
substitutiva em torno do termo pa- dor e não ao fato de ocupar o lugar de
drasto teria o potencial de intensificar padrasto, ou qualquer outro, na dinâ-
conflitos latentes entre os genitores, mica familiar.
típicos do processo de divórcio, espe- Outros dados demonstram que pa-
cialmente no que tange à figura pater- drastos podem desempenhar de for-
na, que pode sentir seu lugar perante ma exitosa o papel parental, indepen-
os filhos ameaçado, ainda mais nas dente do vínculo sanguíneo. Wagner,
situações em que os filhos venham a Ribeiro, Arteche e Bornholdt (1999),
se conectar afetivamente ao padrasto. por exemplo, em sua pesquisa sobre

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o bem-estar de adolescentes em fa- dinâmica familiar decorrente do re- Divórcio, recasamento e a
mílias recasadas, encontraram dados casamento podem gerar sentimentos relação entre padrastos e 11
enteados: reflexões
consistentes demonstrando que dos positivos com o passar do tempo. endereçadas aos
terapeutas de família
149 adolescentes que vivem com seus Caso o novo casamento seja minima- Marcelo Richar Arua Piovanotti
padrastos, 125 (83,9%) possuem um mente harmonioso e gere satisfação, Denise Duque

nível de bem-estar entre muito bom os filhos começam a perceber que


e bom, não havendo diferença signi- seus pais estão mais felizes, tranqui-
ficativa entre os adolescentes de famí- los e que seu relacionamento com
lias de primeiro casamento e famílias eles melhorou, o que possibilita o
recasadas. O fator prevalecente para o sentimento de pertencimento a uma
bem-estar dos adolescentes nas famí- família completa novamente (Cano et
lias estudadas foi a dinâmica relacio- al., 2009; Ferraris, 2002; Valentim de
nal familiar, e não a sua configuração. Sousa & Dias, 2014).
Os conflitos entre padrasto e en- Outro ponto da relação entre pa-
teados acabam recebendo maior des- drasto e enteados a ser observado diz
taque no contexto social, provavel- respeito especificamente aos casos em
mente, por ainda haver uma relativa que o pai participa ativamente da ro-
estranheza e desconhecimento sobre tina dos filhos. Diante da necessidade
a configuração das famílias recasadas, de ampliar e relativizar o conceito de
mesmo que ela venha ocupando cada família, o papel atribuído ao padrasto
vez mais espaço na sociedade. Por ou- também deve ser repensado. Mais do
tro lado, os conflitos entre pai e filhos, que a superação dos preconceitos ain-
inerentes ao contexto da família tra- da vigentes no contexto social, tam-
dicional, acabam sendo banalizados bém caberia ao terapeuta de família
por fazerem parte do cotidiano das abrir espaço para a reflexão junto às
pessoas há muitas gerações e já terem famílias sobre qual função será con-
entrado na categoria da normalidade. ferida ao padrasto e que expectativas
Ainda é comum ouvir pessoas co- recairão sobre ele. Apesar de parecer
mentando que os filhos de casais se- uma obviedade, essa questão traz
parados e que convivem com padras- consigo uma sutileza que merece ser
tos e madrastas serão inevitavelmente observada.
problemáticos. Costuma prevalecer Costumeiramente, as pessoas di-
a concepção de que são crianças em zem que o bom padrasto é aquele que
profundo sofrimento, perturbadas ocupa o lugar de “outro pai”. Frases
pelo processo que viveram e que pos- populares como “cuida tão bem que
sivelmente ainda vivem (Travis, 2003). até parece um pai”, “ele é um homem
Muitas vezes, o padrasto acaba sendo muito bom, é um pai para os filhos
culpabilizado por esses problemas, dela” ou “Deus é pai, não é padrasto”
por ser visto como um potencial per- indicam uma clara oposição entre as
petrador de maus tratos e negligência figuras do pai naturalmente bom, por
para com os filhos de sua esposa. um lado, e do padrasto inevitavel-
No entanto, já há na literatura de mente mau, por outro. A sutileza des-
família um conjunto consistente de se discurso social já não está mais na
informações e dados, a exemplo dos necessidade de superação dos precon-
que já foram referidos neste texto, ceitos em torno do homem que casou
demonstrando que a chegada de um com uma mulher com filhos – a socie-
novo membro parental e a conse- dade até se mostra capaz de reconhe-
quente estruturação de uma nova cer que esse homem seja bom, mas na

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ideia de que ele precise ocupar o lugar rentemente, essas expectativas não
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de pai. No ideário popular, parece que teriam como ser alcançadas, pois, de
somente seria possível a construção modo geral, quando o padrasto che-
de um vínculo positivo com seus en- ga à família, a história de vinculação
teados, se o padrasto ocupasse um lu- inicial com a figura parental mascu-
gar que não é seu. lina já ocorreu, deixou marcas que
Os terapeutas de família que não não poderão ser apagadas e quem fez
estiverem atentos a essa questão e que parte dela ainda está presente no coti-
compartilharem dessa crença corre- diano da criança.
rão o risco de assumirem a postura O processo de inserção do padrasto
de trabalhar com pais e padrastos de na vida de seus enteados e a história
modo a conduzi-los a aceitar que as de formação desse vínculo talvez pre-
crianças ganharam um novo pai. Os cisem ser entendidas por outra ótica.
riscos desse modo de pensar recaem Afinal, pai e padrasto ocupam luga-
sobre o pai, a criança e o padrasto. O res diferentes no tempo e no espaço
homem que acompanhou a gestação da família. O vínculo entre padrasto e
e o nascimento, concedeu o primeiro enteados é de outra ordem, com uma
colo, acompanhou os primeiros pas- história específica e não tem paralelo
sos e viveu o processo inicial de cons- com a história vivida entre a criança
trução de vínculo com aquele peque- e seu pai. Pode-se dizer que sendo o
no ser, pode entender que seu lugar script diferente, o desenrolar da histó-
de pai está ameaçado, apenas por ter ria também o será, demandando pos-
deixado de ser marido da mãe de seus turas e posicionamentos específicos
filhos. Também pode passar a criar para cada ocasião e contexto.
fantasias de que as pessoas o consi- Novos questionamentos precisam
deram um pai falho, ausente, incapaz, ser considerados no processo de te-
incompleto e ultrapassado, que preci- rapia a partir dessa reflexão. O tera-
saria ter seus erros compensados por peuta também poderia se fazer per-
um novo homem. guntas como:
Podem ocorrer situações, inclusive,
em que esse discurso venha a ser refor- Vale a pena atribuir tanto ao pai
çado por mães que ainda vivem as má- quanto ao padrasto a mesma função
goas inerentes ao processo de divórcio. e correr o risco de fomentar a dispu-
A criança, por sua vez, poderá ser co- ta de quem é o melhor? A função do
locada em uma posição desfavorável, padrasto está clara para o sistema fa-
por ter que lidar com ciúmes, disputas miliar? A presença do padrasto teria
e ambivalências em torno do seu amor. outra função, ainda pouco conhe-
O padrasto corre o risco se ver apenas cida, mas que também poderia ser
como um pai substituto, de segunda importante para o desenvolvimento
grandeza, de importância marginal e das crianças e das relações familia-
incapaz de desempenhar a contento a res? Atribuir ao padrasto o status
função que lhe for atribuída. de “pai” responde aos preconceitos
Nesse sentido, colocar sobre a rela- arraigados na sociedade de que o
ção padrasto e enteados expectativas padrasto é mau, enquanto o pai é
afetivas e comportamentais análogas indiscutivelmente bom? O padras-
às colocadas sobre a relação pai e fi- to é “complementar” ou vê-lo dessa
lhos pode se configurar como mais forma dá a entender que ele preci-
um peso para os envolvidos. Apa- sa compensar um pai supostamente

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ausente? O pai está mesmo em falta dade também se configuram enquanto Divórcio, recasamento e a
ou, no momento, isso é tudo o que constantes construções no contexto relação entre padrastos e 13
enteados: reflexões
ele pode oferecer? social. Afinal, a história mostra que endereçadas aos
terapeutas de família
vinculação biológica não é, nunca foi e Marcelo Richar Arua Piovanotti
e as provavelmente mais importantes, dificilmente será garantia de bons cui- Denise Duque

dados e de afetos positivos.


Pai e padrasto precisam ocupar o
mesmo papel, ou podem cada um
ter uma função com características CONSIDERAÇÕES FINAIS
próprias, já que os lugares que ocu-
pam na história da criança e da fa- O estudo a respeito do divórcio, do
mília são, inevitavelmente, diferen- recasamento e da relação entre pa-
tes? Pai e padrasto podem legitimar drasto e enteados se configura como
um o papel do outro junto às crian- um campo abrangente e fascinante,
ças, de modo a diminuir a possibi- justamente por se tratar de questões
lidade de elas criarem fantasias de ainda recentes e de difícil compre-
que devem se posicionar a favor de ensão no momento histórico em que
um e contra o outro? vivemos. A infinidade de variáveis
envolvidas nesse processo reflete a
Aparentemente, esses questio- complexidade inerente às diferentes
namentos, ainda com respostas em possibilidades de configuração fami-
construção, aumentariam a possibi- liar que surgem a partir do divórcio e
lidade de um entendimento sobre a do recasamento.
dinâmica familiar que preserve e as- O terapeuta de família se vê convi-
segure o lugar de cada um de seus in- dado a ampliar seu foco de observação
tegrantes, minimizando as possíveis a respeito dos fenômenos relacionais
disputas entre pai e padrasto. Parece que surgem no contexto familiar e a
prudente que o lugar do pai seja pre- rever conceitos sobre o que é família.
servado, assim como o de padrasto, Diante dessa realidade, considerando
justamente para que não sejam vistos que o conceito de família já deixou
como rivais em constante batalha. de ter como parâmetros definidores
Desse modo, as crianças encontra- apenas a clássica consanguinidade e a
riam a tranquilidade para se vincular, tradicional coabitação, também pare-
sem o receio de ferir os sentimentos ce interessante repensar o setting tera-
de um ou de outro. pêutico de modo a comportar os ou-
Ainda sobre essa questão, a refle- tros integrantes que passam a compor
xão a respeito da possibilidade de o o sistema familiar.
padrasto ser visto como um integrante Seguindo com a ideia de novos
do sistema familiar com particulari- questionamentos que devem acompa-
dades e atribuições próprias, que de- nhar o terapeuta em sua prática, sur-
mandam um processo de construção gem perguntas a respeito do processo
e compreensão, sem precisar ocupar terapêutico e de como ele deve ser or-
o lugar de pai, traz consigo a necessi- ganizado, tais como:
dade de também questionar as crenças
existentes em torno da figura paterna. Quem deveria ser convidado a par-
Parece apropriado evitar a naturaliza- ticipar das consultas? Poderiam pai,
ção da função paterna, já que as práti- mãe, madrasta e padrasto ocupa-
cas parentais e o conceito de paterni- rem seus assentos no consultório do

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terapeuta, na presença de seus filhos/ O segundo passo, e talvez o mais
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enteados, para debaterem os assuntos importante, seja a ampliação da com-
pertinentes à família? Quais recur- preensão sobre o que seja a família.
sos o terapeuta de família precisará Ao compreender que a família é um
utilizar e desenvolver para fomentar fenômeno em processo constante de
conversações e lidar com o enfren- construção e transformação, que pre-
tamento de possíveis conflitos que cisa ser entendida de acordo com a
irão surgir nesse sistema, tais como amplitude das relações estabelecidas
ciúmes, disputas de poder e mágoas nos inúmeros contextos em que se in-
latentes? Quem deveria participar da sere e da complexidade subjetiva que
discussão referente à escola, às regras mantém seus integrantes conectados,
de comportamento, às finanças e à o terapeuta de família poderá ter in-
idade certa para começar a namorar? cursões produtivas nesse sistema, de
Como ajudar as famílias a definirem modo a colaborar para o seu desen-
os direitos e deveres atribuídos a cada volvimento como um todo. Dessa
integrante do sistema? Quais os limi- forma, as famílias que passaram pelos
tes da autoridade do padrasto sobre processos de divórcio e recasamento,
os enteados? Como obter a coopera- e que hoje contam com a presença
ção de todos os envolvidos nessa di- das funções de padrasto, madrasta e
nâmica, de modo a construírem em enteados, poderão receber a atenção
conjunto estratégias para lidar com necessária em suas dificuldades coti-
as dificuldades esperadas em cada dianas da dinâmica familiar.
fase do ciclo de vida familiar? Como Os terapeutas de família serão
compreender os ciclos de vida fami- convidados a participar intensamen-
liar mediante a presença dos novos te desse processo, emprestando seus
integrantes da família e novas formas conhecimentos técnicos para orientar
de se relacionar com eles? as famílias que os procuram na rees-
truturação de suas rotinas familiares.
entre tantas outras que, inevitavel- Para poderem realizar a contento seu
mente, passarão a ser cada vez mais trabalho, parece interessante terem
frequentes na prática dos profissionais em mente que pode ser necessário
que recebem essas famílias em seus revisitar suas próprias convicções
consultórios. e concepções do que seja a família,
Talvez, um primeiro passo para en- despindo-se de preconceitos e acei-
contrar as respostas para esses questio- tando a diversidade de possibilidades
namentos passe pelo investimento em de vinculação familiar que se impõe
novas pesquisas a respeito desses fe- na atualidade.
nômenos e por relatos de experiências
de intervenção terapêutica que possam
ampliar o debate sobre o tema. A dis- REFERÊNCIAS
seminação dessas novas configurações
precisa estar representada de maneira Alves, A. P. & Arpin, D. M. (2017). Con-
clara e ampliada, ao ponto de colaborar jugalidade e os conflitos vivencia-
com a estruturação dos relacionamen- dos. Pensando famílias, 21(1), 3-19.
tos interpessoais, uma vez que o divór- Anderson, H. & Goolishian, H. (1998). O
cio e o recasamento são realidades cada cliente é o especialista: uma aborda-
vez mais presentes nos diferentes seg- gem para a terapia a partir de uma
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Nova Perspectiva Sistêmica, n. 61, p. 100-119, agosto 2018.

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