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O r d e m dos A d v o g a d o s d o Brasil

0 1 0 AB na P r i m e i r a R e p ú b l i c a

Rubens A p p ro b a to M achad o
P r e s id e n t e d a O A B

H e r m a n n Assis Baeta
C o o rd e n a d o r

Lucia M aria P aschoal G uim arães,


Tânia M aria Tavares Bessone
M a rly Silva da M o tta
A u to ra s -P e s q u is a d o ra s CONSELHU FEDERAL
________H i s t ó ria d a
O r d e m dos Advogados do Brasil
0 lOAB na Primeira República
História da Ordem dos Advogados do Brasil: O lO A B na P rim eira R epública

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no todo ou em parte, constitui violação de direitos autoais. (Lei n° 5,988)

r Edição • 2003

C o n s e l h o C o n s u l t iv o

Rubens Approbato Machado - Presidente da CAB/ CF

Ivan A lkim ln - Presidente do lAB


Hermann Assis Baeta - Coordenador - Projeto História da CAB
José Geraldo de Sousa Júnior -A dvogado
Anna Maria Bianchini Baeta - Ffedagoga

Projeto gráfico, capa e diagiamação:


Studio Creamcrackers

D a d o s I n te r n a c io n a is d e C a t a lo g a ç ã o - n a - p u b lic a ç ã o (CIP)
E la b o ra d a p e la B ib lio t e c á r ia M a r ia H e le n a d e A m o r im
C RB 1 4 /0 1 8

H is tó r ia d a O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il /
H e r m a n n Assis Baeta, c o o r d e n a d o r . - B ra s ília :
H673 O A B - E d .,2 0 0 3
V. 3

C o n te ú d o : v .3 . O l O A B na P r im e ir a R e p ú b lic a
/ L ú c i a M a r ia Paschoal G u im a rã e s , M a r ly S ilv a d a M o tta ,
T â n ia Bessone.

T. O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra s il - H i s t ó r i a
2 . A d v o g a d o s - Bra sil - Im p é r io I. Baeta, H e r m a n n Assis

C D D -1 8 .e d .

3 40 .0 6 0 8 1
Histór,ía_da
O r d e m dos Advogados do Brasil
0 lOAB na Primeira República

Diretoria da Ordem dos Advogados do Brasil

Rubens A p prob ato M achado - Presidente


Roberto A n to n io Busato - Vice-Presidente
G ilberto Gomes - Secretário-Gera!
Sergio Ferraz - Secretário-Gera! A d ju n to
Esdras Dantas de Souza - Diretor-Tesoureiro
AS AUTORAS

Lucia Maria F^schoal Guimarães

Professora T itular de Historiografia do D ep artam en to de H istória e do


Program a de Pós-G raduação de H istória do In stitu te de Filosofia e Ciências
H u m an as da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. D outora em H istória
Social pela Universidade de São Paulo. Pesquisadora do CNPq. Publicou diversos
artigos e capítulos d e livros no exterior e no Brasil. D e n tre estes últim os,
destacam -se “Debaixo da Im ediata Proteção de Sua M ajestade Im perial: O
Instituto H istórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889)”, in Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro., n° 388, Rio de Janeiro, 1995; “O tribunal da
p o s te rid a d e ”, in O Estado como vocação (Rio de Janeiro: ACCESS, 1999,
organização M aria Emilia Prado); “Francisco Adolfo de Varnhagen - H istória
geral do Brasil”, in Introdução ao Brasil. Um banquete no trópico (São Paulo:
E ditora SENAC, 2001, organização Lourenço D an tas M ota); “Liberalism o
m oderado: postulados ideológicos e práticas políticas n o p erío d o regencial
(1831 -1837)”, in O liberalismo no Brasil imperial: origens, conceitos eprática (Rio
de Janeiro: Editora Revan, 2001, organização de Lucia M aria Paschoal Guimarães
& M aria Emilia P rado). Colaboradora do Dicionário do Brasil Imperial (T^io de
Janeiro: Editora Objetiva, 2002, organização de R onaldo Vainfas).
M arly Silva da Motta

P e s q u is a d o ra do C e n tro de P esquisa e D o c u m e n ta ç ã o de H istó ria


C o n tem p o rân ea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getulio Vargas e professora
da Escola de Econom ia da Fundação Getulio Vargas. D o u to ra em História Social
pela Universidade Federal Flum inense. Publicou livros e capítulos de livros,
d estacan d o -se A nação f a z cem anos: a questão nacional no centenário da
independência (1992); “Economistas: intelectuais, burocratas o u ‘m ágicos’?”, in
A ngela de C astro G o m es (o rg .), Engenheiros e economistas: novas elites
burocráticas (1992); Saudades da Guanabara: o campo político da cidade do Rio
de Janeiro (1960-75 (2000); Rio de Janeiro: de d d a d e-ca p ita l a estado da
Guanabara (2001); Am érico Freire, Marly M otta e Carlos E duardo Sarm ento
(orgs.), Um estado em questão: os 25 anos do Rio de Janeiro (2001). Publicou
ainda, entre outros, os seguintes artigos: “Frente e verso d a política carioca: o
lacerdismo e o chaguism o”, in Estudos Históricos (1999); “O relato biográfico
com o fonte para a história”, in Vydia (2000); “Carism a, m em ória e cultura
política: Carlos Lacerda e Leonel Brizola n a política d o Rio de Janeiro”, in Locus
Tania Maria T. Bessone da Cruz Ferreira

Professora A djunta do D epartam ento de História, do Program a de Pós-


G raduação em H istória e Vice-diretora d o Instituto de Filosofia e Ciências
H u m an as da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). D outora em
H istória Social pela Universidade de São Paulo (USP). Pesquisadora do CNPq.
Publicou livro, artigos e capítulos de livros no exterior e n o Brasil destacando-
se: Palácios de destinos cruzados: bibliotecas, homens e livros (1999, Prêm io
Arquivo Nacional de Pesquisa de 1997); colaboradora n o Dicionário do Brasil
Imperial 1822-1889, (2002), Ronaldo Vainfas (org). “As bibliotecas cariocas: o
Estado e a constituição do público leitor”, in M. E. P rado (org.): O Estado como
vocação: idéias e práticas políticas no Brasil oitocentista (1999); “Bibliotecas de
médicos e advogados: dever e lazer n u m só lugar” in Márcia Abreu (org.): História
da leitura e do livro no Brasil (1999); '"le publique et le privé dans les relations
culturelles entre le Brésil et le Portugal, 1808-1922” com Lúcia M aria Bastos P.
das Neves, in Katia M aria Q ueirós M attoso e Rolland Denis (org.): Le Brésil,
VEurope et les équilibres internacionaux, XVV au X X ‘ siècle (1999); “circulação
de idéias nas bibliotecas privadas do Rio de Janeiro no final dos oitocentos” m
T roncoso, H ugo C a n cin o e o u tro s (org.): N uevas perspectivas teóricas y
metodológicas de la Historia intelectual de América Latina (1999).
SUMÁRIO

Apresentação ____________________________________________________________ 11

In tr o d u ç ã o ______________________________________________________ 15

C a p ítu lo I - O In s titu to da O rd em dos A dvogados B rasileiros e a R epúpiica


nascente ________________________________________________________________ 19

1. O s n o v o s t e m p o s ______________________________________________________________ 19

2. A v o lta d o p r e s t í g i o ____________________________________________________________34

3. O C o n g re ss o Jurídico A m e r i c a n o ______________________________________________ 39

C apítulo II - O Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros e a beíle époque


tro p ic a l_________________________________________________________________ 53

1. N o S ilo geu B ra s ile iro __________________________________________________________ 53

2. O P rim e iro C o n g re ss o Ju ríd ic o B ra sile iro ______________________________________ 65

3. O fim d a belle ép o q u e__________________________________________________________ 73

A p ê n d ic e s a o C a p ítu lo II ________________________________________________________ 84
Capítulo III - A busca da renovação: o Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros
nos anos 2 0 _____________________________________________________________ .91

1. “O C o n g re ss o Ju ríd ic o é u m congresso científico” _____________________________ 91

2. T em p o s de e sta d o d e s í t i o ___________________________________________________ 102

3. T em p o s de re f o rm a c o n s t i t u c i o n a l ___________________________________________113

4. R elações d e l ic a d a s ____________________________________________________________ 1 18

5. A d ifu sã o d a c u ltu ra j u r í d i c a __________________________________________________122

Considerações F in a is ____________________________________________________ 129

índice O n o m á stic o ______________________________________________________ 133

Fontes e Bibliografia_____________________________________________________ 141

B ib lio g ra f ia ____________________________________________________________________ 147

Anexo I - Biografia dos presidentes do lOAB na primeira República__________ 153

Anexo II - D isc u rso da posse de Rui B arbosa com o sócio n o I n s titu to dos
Advogados _____________________________________________________________ 165

Anexo III - Discurso da posse de Rui Barbosa como presidente n o Instituto dos
Advogados _____________________________________________________________ 197

Anexo IV - Estatutos do Instituto dos Advogados __________________________ 233

Ex Presidentes do lO A B _________________________________________________ 439

Antigas Sedes das Instituições Nacionais 453


V o lu m e i ( ) lO A R n ,i I ' r i n u ' i i . i R i'p u b l it a

APRESENTAÇÃO

C om o já ficou esclarecido n o segundo livro - HISTÓRIA DA ORDEM


DOS ADVOGADOS D O BRASIL - LUTA PELA CRIAÇÃO E RESISTÊNCIAS,
em 1888, em decorrência da reform a estatutária realizada pelos associados da
instituição, m udou-se o n o m e de lAB - Instituto dos Advogados Brasileiros -
para lOAB - Instituto da O rd em dos Advogados Brasileiros (Cf. Anexo n° 3).
Este terceiro livro, portanto, com o subtítulo de O lOAB E A PRIMEIRA
REPÚBLICA, reporta-se ao período com preendido entre a Proclam ação da
República e a Revolução de 30. Nele se encontra registrada a atuação do lOAB,
nos term os da m udança estatutária imposta em 1888, até a data da criação da
O rdem dos advogados Brasileiros, o u seja, até 18 de novem bro de 1930, p o r força
do art. 17 do decreto 19.408, publicado na referida data, cuja instituição mais
tarde passou a denominar-se, até hoje, ORDEM DOS ADVOGADOS D O BRASIL.
Q uerem os despertar a atenção dos leitores para acontecim entos relevantes
ocorridos nesse rico e co n tu rb ad o período da vida brasileira. O prim eiro deles
é o aparecim ento e inserção da m ulher na advocacia: MYRTES GOMES DE
CAMPOS, form ada em 1898, torna-se a prim eira m u lh er advogada no País.
Sua adm issão no lOAB, em 1906, foi precedida de m uitas resistências e críticas
tendo em vista preconceitos preexistentes em nossa sociedade e particularm ente
entre profissionais do sexo m asculino. MIRTHES, crim in alista de talento
com provado, propôs, logo de início, que se adm itisse a discussão sobre o tem a
Devem ser abolidas as restrições à capacidade civil da mulher e à incapacidade da
mulher casada? Em 1922, a brilhante advogada defende a constitucionalidade
do voto fem inino n o Segundo Congresso Jurídico do Rio de Janeiro realizado
no C entenário da Independência do Brasil. MIRTHES p u b licou os seguintes
livros, sem pre relacionados à luta pela inclusão da m u lher n a advocacia e na

•Al 77
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

vida pública: A propósito da mulher jurada (1933) e Os advogados brasileiros e a


advocacia fem in ina (1937).
C onvém observar que outras advogadas tiveram participação destacada
não só n a advocacia q uanto n a O rdeni dos Advogados, com o verem os nos
próxim os volumes.
As pesquisas de autoria das doutoras Lúcia G uim arães, T ânia Bessone e
M arly M o tta d e m o n s tra ra m q u e, d u ra n te a P rim e ira R ep ú b lica, fo ram
organizados três congressos jurídicos, na cidade d o Rio de Janeiro, assim
discrim inados: o Congresso Jurídico A m ericano, realizado n o ano de 1900, por
ocasião do 4° Centenário da Descoberta do Brasil; o Prim eiro Congresso Jurídico
Brasileiro, n o an o de 1908, em razão das com em orações do C entenário da
Abertura dos Portos do Brasil às Nações amigas; e o Segundo Congresso Jurídico,
n o an o de 1922, d u ran te os festejos do aniversário da Independência do Brasil.
Nestes conclaves, foram exam inadas e debatidas questões de direito público e
p riv ad o , b em co m o de interesse específico da categ o ria do s advogados,
no tad am en te sobre a reform a do ensino jurídico.
A prática desses grandes eventos, aban d o n ad a após 1922, ressurgiu em
1958, graças à criatividade e iniciativa de Nehemias Gueiros, com a denom inação
de conferências nacionais, tem a que será abordado no m o m en to o p o rtu n o e
no livro próprio.
É im p o rta n te ressaltar que, n a P rim eira R epública, aparece a figura
im poluta e carism ática de Rui Barbosa (1849/1923) ao ingressar no lOAB, em
1911, e, logo depois, ao exercer a sua Presidência em 1914.
C um pre assinalar que u m dos predicados de Rui, que m erece registro, é o
seu respeito intransigente às instituições da sociedade política e da sociedade
civil, e seu acatam ento às solenidades, aos ritos e à liturgia dos cargos e funções
previstos nos estatutos e regimentos. Observa-se p o r isso que seu ingresso no
lOAB se deu seguido de brilhante discurso, e bem assim sua posse na Presidência
da Instituição. Esses discursos ainda hoje são considerados fontes inesgotáveis
de conhecim ento e cultura (Cf. Anexos n°s 1 e 2).
A personalidade de Rui exerceu, n a verdade, grande fascínio n o seu tem po,
e, ain d a hoje, irra d ia u m sen tim en to in q u estio n áv el de luta, lib erd ad e e
independência.
N ão é sem razão que m ais tard e to rn o u -s e o P atro n o do s advogados
brasileiros, e seu n o m e foi im p rim id o em m ed a lh a de o u ro p ela O rd e m dos
A dvogados do Brasil p ara agraciar advogados e ju ristas qu e se destacassem

72 m àM
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ira K c p ú b lic a

entre seus pares em razão de relevantes serviços p re sta d o s ao D ireito, à


Justiça, e à Advocacia.
Sobressaíram-se, ainda, neste período, entre outras, cinco figuras das quais
não poderem os esquecer: M anoel Álvaro de Souza Sá V ianna, 1° Secretário do
lOAB, que p rom oveu a revitalização do Instituto logo após a Proclam ação da
República e foi o responsável pela Exposição Jurídica de 1894 e pela realização
do Congresso Jurídico A m ericano de 1900; José M aria da Silva Paranhos Júnior,
Barão do Rio Branco (1845-1912), M inistro das Relações Exteriores, que, em
virtude de seu grande relacionam ento nacional e internacional, tornou-se grande
colaborador do Instituto, co n tribuindo para o ingresso de vários profissionais
no seu quad ro social; Evaristo de M oraes (1871-1939), grande trabalhista e
criminalista, que, tendo iniciado a profissão com o rábula, form ou-se depois
em direito, tran sfo rm an d o -se n u m excepcional advogado e publicista; Clóvis
Beviláqua (1859/1944), au to r do Código Civil Brasileiro; e Francisco Cavalcanti
Pontes de M iran d a (1892/1979), jurista e filósofo do direito, a u to r de obras
relevantes e do fam oso Tratado de Direito Privado.
N ão se deve olvidar, com o já observou a autora M arly M otta, que a década
de 20, final da Prim eira República, caracteriza-se com o u m a fase de ebulição
social, de agitação dos espíritos em face dos quatro grandes acontecim entos
surgidos na sociedade o n d e atuavam e exerciam a profissão os advogados
brasileiros; a criação do Centro D om Vital, que co n trib u iu para am p liar o
conhecim ento da religião católica diante dos problem as nacionais; a fundação
do PCB {Partido Comunista do Brasil)y que passou a influir na esfera político-
partidária do País; o m ov im en to político-m ilitar dos tenentes, d en o m in ad o Os
18 do Forte de Copacabana; e a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo,
onde foram propostos novas form as e valores artísticos.
É p ro v á v e l q u e estes a c o n te c im e n to s te n h a m in flu íd o , d ir e ta ou
indiretam ente, na form ação dos advogados da época.
Fato contem porâneo do lOAB, como a 1^ Guerra M undial (1914/1918, não
mereceu, ao que parece, a devida atenção dos advogados no plenário do lOAB,
u m a vez que não foi encontrada, nas fontes prim árias da pesquisa realizada, isto
é, nas atas das reuniões do órgão, nenhum a referência ao referido evento.
Releva notar, ainda, que os art. 21 e 22 do Estatuto inspiraram polêm icas
interm ináveis en tre os associados, visto que, en q u a n to u n s sustentavam o
argum ento de que o lOAB não poderia ficar om isso o u indiferente às questões
de ordem político-jurídica do Estado, outros se esforçavam para justificar que

•A B 13
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

a entidade deveria ater-se exclusivamente aos problem as inerentes à categoria


d entro dos estreitos limites da corporação (instituição).
U m a questão final merece ser focalizada nesta apresentação. Refiro-me às
correntes de p en sam en to p red o m in an tes à época n u m a R epública recém -
proclam ada após u m longo passado colonial e escravista: a) - o liberalism o de
inspiração n o rte-am erican a, cultuado entre civis; b) - o jaco b in ism o m ais
identificado no pensam ento dos militares; e c) - o positivism o presente entre
os civis e militares. Estas três formas de pensar tiveram forte influência, não só
p o lític a , co m o cie n tífic a e e d u c acio n a l n o s p rim e iro s an o s do p e río d o
republicano (Ver esta questão em Os bestializados e Construção da ordem, do
historiador José M urilo de Carvalho).
É possível q u e a ten são g erada p o r essas c o rre n te s d e p e n sa m e n to
contraditórias ten h a contribuído tam bém para o retardam ento d a criação da
O rd em dos Advogados do Brasil.

H erm an n Assis Baeta


C oordenador

14 «Al
V t)lu n H ' ) ( ) K J A B n.i I ’ r i n u - i i a K c ' p i i h l i c ,i

INTRODUÇÃO

Este livro dá continuidade à o b ra O lA B e os advogados no Império. C om o


se sabe, a corporação foi criada em 1843, com o nom e de Instituto dos Advogados
Brasileiros e>por força de revisão estatutária, a partir de 1888, passou a se cham ar
Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros (lOAB). Se, p o r u m lado, n unca
chegou a fazer parte da estru tu ra do governo im perial, p o r outro, ocu p o u um a
posição de órgão sem i-oficial,por assim dizer. Integrava o rol das instituições
acadêmicas que desfrutavam d a proteção do im perador D. Pedro II, tal com o o
Instituto H istórico e Geográfico Brasileiro, a Academ ia Im perial de M edicina e
a Sociedade de Geografia d o Rio de Janeiro. Mas o que teria sucedido ao grêm io
dos bacharéis com o fim da monarquia?
Os relatos acerca da atuação do lOAB na Prim eira República são todos de
autoria de sócios. Ao recuperarem a sua trajetória, esses estudiosos privilegiam,
s o b re tu d o , os esfo rço s ali e m p re e n d id o s p ara estab elecer a O rd e m do s
Advogados. De um m o d o geral, seguem a abordagem estabelecida p o r Joaquim
Nabuco, no clássico Um estadista do Império. Assunto, aliás, em q u e não irem os
nos deter, po rq u e está sendo focalizado em u m o u tro volum e desta coleção,
Luta pela criação e resistências.
A m em ó ria escrita p o r M anuel Álvaro de Souza Sá V ianna, p o r ocasião do
jubileu de ouro, em 1893, oferece algum as pistas a respeito d a situação do
In s titu to d a O rd e m do s A dvogados Brasileiros n o s an o s su b seq ü e n te s à
proclam ação de 1889. Apesar de lacônico, Sá V ianna deixa entrever que a
agrem iação teria perm anecido inativa p o r quase dois anos. Por o u tro lado,
sabe-se que o Instituto esteve presente em im portantes eventos das prim eiras
décadas republicanas, a exem plo das com em orações qu e tiveram lugar n o Rio
de Janeiro, para celebrar os quatrocentos anos do descobrim ento do Brasil.

•à M 15
_____________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

P a rticip o u ta m b é m do p ro g ram a da Exposição NacionaU p ro m o v id a pelo


governo do presidente Afonso Pena em 1908, a propósito da passagem de u m
o u tro centenário, o da “A bertura dos Portos”.
O que aconteceu, afinal, ao Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros após
0 advento da República? Como conseguiu sobreviver e qual a sua inserção na nova
ordem? Reabilitou-se? E as relações com os recém-chegados ao poder, por que
caminhos passaram? Estas são as principais indagações que tentaremos responder.
N osso tra b a lh o p reten d e, p o rta n to , ra strear o p a ra d e iro d a Casa de
M ontezum a, em meio ao vendava! republicano, investigando-lhe as estratégias
d e sobrevivência. Segredos q u e, p o r certo, Sá V ia n n a ficou a n o s dever.
Tencionam os ac o m p an h ar a sua reabilitação, conhecer a form ação dos seus
quadros sociais, exam inar as iniciativas mais im portantes, identificando possíveis
relações com o poder. Resgatar, enfim, o pape) desem penhado pela corporação
dos bacharéis n o processo de institucionalização d o regim e republicano.
Os m arcos desse recorte tem poral decorrem d a abordagem escolhida. A
p rim eira d ata refere-se à proclam ação da República, q u an d o o lOAB deixou de
desfrutar as prerrogativas tan to de órgão semi-ofícial do governo, q uan to de
instituição acadêm ica patrocinada p o r D. Pedro II. A segunda corresponde ao
fim da Prim eira República, Trata-se de u m p erío d o m u ito rico d a história do
Instituto, podem os desde já antecipar ao leitor.
A com provar nossas premissas trabalharem os com dois conjuntos de fontes
básicas, am bos d a docum entação oficial do lOAB. O prim eiro form ado pelas
publicações do grêm io: o periódico Rev/sífl do Instituto da Ordem dos Advogados
Brasileiros, d a q u i p o r dian te d e n o m in a d o apenas Revista, e os Relatórios,
p reparados pelos secretários. O segundo, integrado p o r m anuscritos, e que
constitui a coleção das atas de sessões do período que se estende de 1907 a 1930,
organizada sob o título Livro de Atas. Vale lem brar, ainda, que aquelas duas
publicações n ão fo ram regulares, co m o b em assin alo u em 1910, o en tão
prim eiro-secretário, D r. A ntonio M outinho D ória. A p ar disso, constatam os
alg u m as d iferen ças en tre o c o n te ú d o das atas o rig in ais e as respectivas
transcrições na Revista. Para suprir as lacunas existentes n a docum entação,
procuram os os testem unhos dos memorialistas, de jornais e de revistas de época,
o que nos ajudou a com p o r o qu adro político, econôm ico, social, que serviu de
p an o de fu nd o para o exame das atividades desenvolvidas pelo instituto.
Assim, no prim eiro capítulo, intitulado O Instituto da Ordem dos Advogados
Brasileiros e a República nascente, abordarem os a atuação do grêm io à luz da

16 9àM
V 'tilu m c J () lO A H Pel I ' l i i i i c i i j K e |)ú l)lic \i

turbulência que m arcou os prim eiros tem pos republicanos. C entrarem os nosso
foco nas estratégias de sobrevivência utilizadas para superar as vicissitudes que
a Casa de M ontezum a enfrentou com a queda do Im pério, em especial, a ênfase
que seus dirig en tes co n feriram às iniciativas acadêm icas. T ratarem o s dos
prim eiros passos d a reabilitação ju n to ao governo, p o r m eio da prestação do
serviço de assistência judiciária gratuita. Nesta fase, destacarem os, ainda, o
Congresso Jurídico Americano, idealizado pelo secretário de M anuel de Souza Sá
Vianna, evento-chave naquele processo de reabilitação, no nosso entender.
No segundo capítulo, O Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros e a
belle époque tropical analisaremos, n u m prim eiro m o m en to , as relações da
associação dos bacharéis com a cham ada “República dos Conselheiros”, quando
o Instituto voltou a assum ir as funções de consultor do governo, papel que
desem penhara com desenvoltura d urante o Segundo Reinado. Procurarem os
salientar de que m od o a proxim idade com o poder possibilitou a transferência
do grêmio para o Silogeu Brasileiro e a realização do Primeiro Congresso Jurídico
B rasileiro, em 1908, em m e io à p ro g ra m a ç ã o d a E x p o siçã o N acio n al.
Exam inarem os as principais questões discutidas pelos bacharéis a propósito
das tran sfo rm açõ e s eco n ô m icas e sociais que o país atravessava n aqu ele
m om ento, bem com o a m etam orfose que com eçou a se o p erar na corporação
dos advogados, em virtude do processo de desintegração da Prim eira República.
A historiografia consagrou os anos 1920 com o u m m arco n a história
republicana brasileira. Pode-se ir além e afirm ar que a década que se seguiu ao
fim da Prim eira G uerra M undial representou um a ru p tu ra co m o passado, que
se trad u z iu , em to d o s os d o m ín io s do pen sam en to , p o r u m a v o n tad e de
renovação.
C o m o verem os n o terceiro, e último, capítulo, A busca da renovação: o
Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros nos anos 20, o lOAB, com o órgão
de representação dos advogados, não ficará de fora desse m ovim ento geral da
sociedade. C om eçando pela realização do Congresso Jurídico do C entenário
da Independência do Brasil (1922), no âm bito da program ação da Exposição
In tern acio n al organizada para co m em o rar os 100 an o s do 7 de setem bro.
P autada pela fé n a ciência, e an ten ad a no debate das novas questões que
mobilizavam o m u n d o pós-guerra, a agenda do Congresso de 1922 perm itirá
um a análise dos tem as que suscitavam o interesse dos advogados naquele
m om ento.
M om ento que, sabemos, era extrem am ente delicado, principalm ente para

77
História da
Ordem dos Advogados do Brasil___________ ___________________________________

a atividade dos advogados, ligada um bilicalm ente ao livre fijncionam ento das
instituições político-jurídicas. Em julho de 22, fora decretado o estado de sítio,
com o resposta do governo Epitácio Pessoa (1919-22) à m obilização m ilitar
representada pelo m ovim ento tenentista qu e ficou conhecido co m o “os 18 do
forte”. O exam e das estratégias desenvolvidas pelo In stitu to d u ran te os quase
cinco anos em que vigorou esse estado de exceção p erm itirá o leitor com preender
as sutilezas e as am bigüidades de u m processo m arcado p o r avanços e recuos,
distante, p o rtan to , de análises simplificadas que acabam p o r em pobrecer um a
história cheia de nuances.
A delicadeza do relacionam ento do lOAB com o governo A rtu r Bernardes
(1922-26) n ã o implicou, de jeito n en h u m , n a desqualifícação da instituição
com o órgão tradicionalm ente cham ado a opinar sobre o aparato legal d o país.
Ao co n trá rio . N a m ed id a em que o ím p eto geral d e renovação a tin g iu o
arcabouço jurídico - até m esm o a C onstituição iria ser reform ada ao m esm o
tem p o em que se dava a especialização de saberes, p ô d e o In stitu to se firm ar
co m o instância privilegiada de consultoria. P o r isso mesmos a análise sobre os
limites e o alcance desse tipo de atuação jogará luz sobre a participação do j
Instituto em “tem pos de reform a constitucional”. ;
Se os constrangim entos “externos” foram poderosos n o delineam ento do j
perfil d a atuação do lOAB nos anos 20, não m a io s im p o rtan te foi a dinâm ica j
“interna" institucional. Aqui, o leitor entrará n ão apenas nos m eandros das '
disputas travadas entre os conselheiros do Instituto, co m o nos cam inhos, às j
vezes to rtu o so s, p o r o n d e circulavam os conflitos e as co m p o siçõ es q u e j
m arcavam as delicadas relações entre juizes e advogados. |
A virada para os anos 30 lançaria u m enorm e desafio para o Instituto:
com o atualizar a instituição de m odo a sintonizá-la com os “novos tem pos”
m arcados pela técnica e eficiência? A resposta, em larga m edida, foi dada pela
inclusão, no s novos Estatutos aprovados em 1928, d e u m q u arto objetivo do
Instituto: a difusão da cultura jurídica. O “ap rim o ram en to ” do saber jurídico
dos advogados que, para além de “práticos do foro”, qu eriam ser reconhecidos
com o m em bros d a elite que visava a co n stru ir u m a “nova”República, será |
analisado n a parte final do livro. \
Se a década de 20 se abriu com a aposta na renovação do Instituto, podem os [
dizer que o jogo foi ganho, com vantagem, porque, m ais do que renovação, o I
q u e se teve foi a criação, em n o v em b ro de 1930, d e u m a nova e n tid ad e I
representativa dos advogados: a O rdem dos Advogados do Brasil (OAB). 1

18 «ái I
V o lu m e ' ; ( ) K ) A [ i n a P n m c i r . i [\c,>()úhlic a

Lucia Maria Paschoal Guimaraes


Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira

Capítulo I
O Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros e a
República nascente

1. O s novos te m p o s

A queda d a m o n arq u ia certam ente deve ter afetado o Institu to d a O rdem


dos Advogados Brasileiros'. C om o já foi visto no prim eiro volum e desta coleção,
se p o r u m lado o lOAB n u n ca chegou a fazer parte da estru tu ra do governo
im perial, por o utro, desde os prim eiros dias m ereceu a elevada consideração
dos altos escalões m onárquicos, ocupando u m a posição de órgão semi-oficial,
p o r assim dizer. Além disso, n ão se pode esquecer q u e a co rp o ração dos
advogados, em bora presidida desde 1873, p o r u m dos próceres d o novo regime,
0 republicano histórico Saldanha M arinho, fazia parte d o rol das instituições
acadêmicas que desfrutavam da proteção do ex-im perador D. Pedro II, com o o
Instituto H istórico e Geográfico Brasileiro, a Academia Im perial de M edicina e
a Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, dentre outras.
Sabe-se, hoje em dia, que com o advento da República tanto o Instituto
Histórico qu anto a Sociedade de Geografia passaram p o r m om entos difíceis e
quase se viram obrigados a cerrar as portas^. Percebidos pelos recém-chegados
ao p o d e r co m o u m a h eran ça do ancien regime e focos de e m p e d ern id o s

‘ F u n d a d o e m 1843, c o m o n o m e d e In s titu to dos A dvogados Brasileiros, a p a r tir d e 1880, p o r força de


revisão e sta tu tá ria , a c o rp o ra ç ã o d o s b a ch aréis passou a se c h a m a r o fic ia lm e n te In s titu to d a O r d e m dos
A dvogados B rasileiros. C o m o já foi esclarecido n o p rim e ir o v o lu m e d e sta coleção, u s a m o s as d u a s
d e n o m in a ç õ e s , c o n s o a n te essa c ro no logia .
^ A respeito d a situação d o In s titu to H istórico e G eográfico e G eográfico Brasileiro ap ós a q u e d a da m o n a rq u ia ,
ver Lucia M aria Paschoal G uim arães. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro: da Escola Palatina ao Silogeu
(Í889-J93S). Tese d e Professor Titular. Rio d e Janeiro: UERJ, 2000. S o b re a situação d a S o c ie d a d ed e Geografia
d o Rio d e Janeiro, ver Luciene Pereira C arris C ardoso, Sociedade de Geografia do R io de Janeiro: Identidade
e Espaço N acional (1883-1909). D issertação d e M estra d o apresentada ao P P G H /U E R J ,R io d e Ianeiro,2003.

19
_____________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

m onarquistas, os dois redutos intelectuais sofreram sucessivos cortes de verbas


públicas, sendo que no caso do IHGB, o novo titular da pasta dos Negócios do
Interior, o m inistro Aristides Lobo, chegou m esm o a preparar um decreto para
extingui-lo, sendo im pedido p o r Tristão de Alencar Araripe Júnior^.
Q u an to ao Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros, não se conhece
qual a destinação que as autoridades do Governo Provisório p reten d iam dar-
lhe. Na docum entação disponível não h á n en h u m a pista, seja de vestígios de
atas de sessões, seja de quaisquer outras atividades desenvolvidas n o correr dois
anos seguintes à proclamação da República. O que é de se estranhar, pois naquele
lapso de tem p o estavam em m archa os trabalhos do Congresso C onstituinte,
instalado em 15 de novem bro de 1890, cujas discussões sem dúvida devem ter
m obilizado os cultores do direito. Afinal, preparava-se a nova o rd em jurídica
do país. Ademais, na ocasião, o próprio presidente da Casa, o Dr. Saldanha
M a r in h o (1 8 7 3 -1 8 9 2 ), c u m p r ia m a n d a to d e d e p u t a d o c o n s titu in te e
desem penhava papel dos m ais ativos naquela Assembléia.
P o r sua vez, u m testem unho da m aior confiabilidade, o Dr. M anuel Álvaro
de Sousa Sá V ianna, que sucessivas vezes exerceu o cargo de Prim eiro-Secretário
do lOAB, guarda absoluto silêncio a respeito do período aludido. Na m em ória
circunstanciada que apresentou em 1894, nas com em orações do jubileu de ouro
do Instituto resgatando-lhe a trajetória desde a fundação, não há u m a palavra
sobre a participação do grêm io no processo de redefinição das instituições
nacionais. C o m en ta apenas, de m o do lacônico, que:

(...) Em 1889 0 Instituto havia caído em u m estado apático, de maneira que


proclamada a República facilmente deixou-se ficar no olvido, como se por ventu­
ra a suspensão da lei em suas normalidade pudesse afetar o estudo da ciência
jurídica, como se, sucumbindo a lei em um momento dado, até que fossem
lançadas as bases de um novo regime político, pudesse perecer o Direito ^.

De q u alq u er m o d o , os registros disponíveis in d icam que o In stitu to só


v o lto u a se re u n ir co m re g u la rid ad e a p a r tir de ab ril d e 1892, já sob a
presidência do Dr. A ntonio José R odrigues Torres N etto (1892-1893). Há

' C f M ax Fleiüss, a p u d A m é ric o Jacobina Lacom be. “ L ideranças e expressões d o In s titu to H istó ric o ”. In: A rno
W ehling, Origens do In stitu to Histórico e Geográfico Brasileiro: suas idéias filosóficas e sociais e estruturas
de p o der tio S egundo R einado. Rio d e Janeiro: IH G B /Im p re n s a N acional, 1989, p. 97.
■' Cf. M an u e l Á lvaro de O liveira Sá V ianna, In stitu to dos A dvogados Brasileiros, 5 0 anos de existência. Rio de
Janeiro: Im p re n s a N acional, 1894, p. 62.

20 •Ál
Volume 3 O lOAB na Primeira República

indícios seguros, n o en tan to , de q u e as conferências estiveram suspensas por


u m b o m tem p o , Só n ão se p o d em precisar com exatidão o p erío d o , n em os
m otivos q u e teriam provocado sua interrup ção . A prova d isto está em u m a
p e q u e n a n o ta , n a a ta da sessão o rd in á ria d e 22 de j u n h o d a q u e le an o ,
in fo rm a n d o sobre o recebim ento de u m ofício, expedido pelo Presidente da
C o rte de A p e la ção , a g ra d e c e n d o a c o m u n ic a ç ã o d e h a v e r o I n s titu to
recom eçado seus trabalhos^.
De aco rd o co m o citad o relato d e Sá V ien n a, com a re a b e rtu ra das
atividades renovaram -se os quadros sociais:

E m 1892, (...) uma novageração nova, vigorosa, fanática na religião do Direito


afluiu espontaneamente a tomar parte dos nossos trabalhos, a buscar lugar
nas fileiras, m uito convencida de que era um ato de acrisolado patriotismo
cercar com prestígio a autoridade de um a nobilissima classe, defender com
seus talentos, em benefício quase exclusivo da nação...^.

C om efeito. Naquele exercício realizaram-se trinta e um a sessões ordinárias.


M ovim ento que só se com para com o período operoso e fecundo da gestão de
Agostinho M arques Perdigão M alheiro (1861-1866). Exam inou-se, em especial,
a legislação baixada pelo Governo Provisório que d isp u n ha sobre a organização
do po d er judiciário n o D istrito F ed eraF . A esse respeito, a plenária d o Instituto
firm ou ju risp ru d ên cia de que a investidura dos juizes d a capital d a República
seria da com petência do Chefe da Nação, contrariando os argum entos favoráveis
à nom eação pela via de concurso público, o u através de eleição, tal qual ocorria
e ainda ocorre nos Estados Unidos. O parecer reconhecia, ainda, a m anifesta
falta de atribuição d o p o d er executivo para adm inistrativam ente, p o r si, o u p o r
seu secretário respectivo, suspender u m juiz o u u m m ag istrad o *.
Dentre outras antigas rotinas, a Mesa Diretora retom ou a prática de oferecer
patrocínio aos necessitados, p o r meio do serviço de assistência judiciária gratuita,
iniciada n a década de 1860, n a gestão do Dr. U rbano Sabino Pessoa de Mello
(1857-1861). Na ata d a sessão de 19 de julho de 1892, consta, inclusive, u m

* lO A B, “Ata d a sessão d e 22 d e ju n h o d e 1892”. Revista do I n s titu to da O rd em dos Advogados Brasileiros, Rio


d e Jan eiro, t o m o X III, 1893, p. 334.
‘ M a n u e l Álvaro d e S o u sa Sá V iatina, o p .c it., p . 63.
' Lei n ° 1030, d e 14 d e n o v e m b ro d e 1890.
®I OAB. "Ata d a sessão d e 22 d e ju n h o d e 1892”. R e v ista d o I n s titu to da O rdem dos Advogados Brasileiros, Rio
d e Jan e iro , t o m o X III, 1893, p.338

m àM 21
_____________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

Sá V iann a. P rim e iro Secretário. U m eficiente a d m in is tra d o r d o IHGB.

22
V o lu m e O l O A i ; 11,1 r r i n u ’ i i a K c p ú l i l i t ,t

ofício do presidente d o Tribunal do Júri agradecendo o concurso prestado pelo


lOAB na defesa dos réus miseráveis^.
Apesar das atas das sessões ordinárias do exercício de 1892 do p o n to de
vista acadêm ico d em on strarem intensa atividade, sua leitura atenta revela que
os tem as tratad o s n ão abordavam a agitação política do m o m en to , nem a
fragilidade das re cém -in stau rad as instituições rep ub lican as, abaladas em
decorrência da renúncia do generalissimo D eodoro d a Fonseca d a presidência
do país, em 23 de n ovem bro de 1891’°. Sobre esses acontecim entos e suas
conseqüências o Instituto não se pronunciou. Em bora a posse do vice-presidente
Floriano Peixoto tivesse sido alvo da contestação de diversos juristas e políticos
de renom e, sob o argum ento de que o marechal Deodoro, ao deixar a presidência
da República, não c u m p rira m etade do m an d ato p ara que fora eleito pelo
Congresso Nacional. E, neste sentido, cum p ria realizar novas eleições, segundo
o disposto na C arta de 1891, bradavam os legalistas.
As q u estõ es ju ríd ic a s trazid as para d eb a te n a c o rp o ra ç ã o , to d av ia,
revelam pistas d a g ra v id a d e de u m o u tro tip o d e in q u ie ta ç ã o , de q u e o
p aís ta m b é m so fria n a q u e la c o n ju n tu ra tã o adversa; a crise ec o n ô m ic o -
fm an ceira trib u tá ria da refo rm a im p la n tad a no s p rim eiro s dias do G overno
P ro v isó rio , p elo m in is tro d a F azenda Rui B arbosa, m ais co n h e c id a co m o
p o lític a do E n c ilh a m e n to " . Vale le m b ra r q u e Rui p r o c u r o u la n ç a r m ão
do m e sm o e x p e d ien te usad o p o r A b ra h am L in co ln no s E stados U nidos:
s u b s titu iu o o u ro p o r títu lo s de d ív id a federal co m o la stro das em issões
b an c ária s. A lém disso, esten d e u o d ireito de e m itir p a p e l-m o e d a a v ário s
b a n c o s . P or m e io d e ste m e c a n is m o , im a g in a v a p o d e r fin a n c ia r no v as
in d ú s tria s e m o d e rn iz a r o p a í s '\
Entretanto, como se sabe, os resultados dessa reforma foram decepcionantes.
Perdeu-se o controle das emissões, desarranjaram-se as finanças públicas e a maior
parte dos recursos desviou-se para toda a sorte de negócios, aos quais o governo
acabou concedendo amplas concessões. C om numerário abundante e o crédito fócil,

lOAB, “Ata d a sessão d e 19 d e ju lh o d e 1892”. Id e m , p. 337.


O m a re c h a l D e o d o r o dissolveu o C o n g re ss o e m 23 d e n o v e m b ro d e 1891, o q u e prcrvocou a re v o lta da
e sq u a d ra n o R io d e Janeiro. N a q u e le m e sm o dia, d ia n te d a am eaça d a d e fla g ra ç ão d e u m a g u e rra civil,
re n u n c io u à p re sid ência. S obre a c h a m a d a República dos M arechais, v e r F rancisco Iglésias, Trajetória
política do Brasil (1500-1964). 2 “ reim pressão. São Paulo: C o m p a n h ia das L etras, 1993, p. 220-202.
" A po lítica financeira to m o u e m v irtu d e da gíria tu rfística, e m p re g a d a p a ra d e sig n a r o m o m e n to e m q u e os
cavalos se p r e p a r a m p a r a e n tr a r tia ra ia e inic ia r a c o rrid a . N o fu n d o , tra ta v a -s e , d e fa to , d e c o rrid a à
m o e d a e ao c ré d ito fácil.
D e cretos n “‘ ]6 5 e 165-A, d e 17 d e ja n e iro d e 1890.

23
_____________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

da noite para o dia foram criadas sociedades anônimas aparentemente garantidas


pelo poder central, prometendo lucros fabulosos aos seus acionistas. A maioria dos
empreendimentos, porém, nunca saiu do papel, servindo tão-somente à especulação.
N ão cabe aqui tecer maiores considerações a respeito dos desdobramentos
dessa política econômica mal-sucedida, nem entrar em detalhes sobre a febre de
negociatas fantásticas que assolou o país, ou a jogatina desenfreada que tom ou
conta da bolsa de valores e dilapidou antigas e sólidas instituições financeiras
fluminenses. Temas, aliás, bastante explorados pelo Visconde de Taunay, um a das
vítimas do trem endo craque de 1891-1892, no romance O encilhamento, sob o
p seu d ô n im o de H eito r M alheiros‘\ Por ora, é im p o rtan te salientar que as
conseqüências funestas reverberaram no Instituto. Sobretudo quando os investidores
ao se sentirem logrados começaram a consultar os advogados, n a tentativa de reverter
os prejuízos o u de procurar fazer valer seus direitos, até m esm o n o caso de
empreendim entos bastante suspeitosos.
Concorrência entre com panhias proprietárias de ações, bolsas em queda
súbita, empresas falindo, inflação acelerada, fuga do ouro, corre-corre do povo
p o r causa da depreciação cambial, enfim, o panoram a se m ostrava desalentador.
Afinal, a exceção dos grandes especuladores que fizeram fo rtu na n u m piscar de
olhos e dos estelionatários que criaram empresas fictícias e venderam suas ações
n a Bolsa de Valores, tanto o Tesouro Nacional quanto os investidores privados
saíram lesados daquela desorganização econômico-financeira, que foi considerada
a prim eira crise especulativa da econom ia brasileira.
D ian te desse q uadro, os litígios judiciais se m ultiplicavam . A debacle
atingira desde as grandes fortunas até as pequeninas poupanças. Os advogados
p ro c u ra v a m e n c o n tr a r saíd as ju ríd ic a s p a r a p ro te g e r a q u e le s a q u e m
representavam , com o tam b ém a si próprios. Tanto assim, que n o correr das
reuniões do m ês de ju n h o de 1892, o D r José Luís Sayão Bulhões de Carvalho
trouxe para exam e d a plenária do lOAB o seguinte co n ju n to de questões''*:

P u b lic a d o so b a fo r m a d e fo lh e tim d a G azeta de N otícias, d o Rio d e Jan eiro, e m 1893, o ro m a n c e O


en cilh am en to o b te v e g ra n d e sucesso ju n to ao p ú b lic o leitor. P o u c o d e p o is a liv raria M agalhães e d ito u -o
e m v o lu m e , c o n se rv a n d o , e n tre ta n to , o p s e u d ô n im o d o a u to r: H e ito r M alh e iro s. S o m e n te n a segun da
e d iç ão foi revelado o v e rd a d eiro n o m e d o autor.
lO A B, Revista do I n s titu to da O rd em dos Advogados Brasileiros, R io d e Jan eiro, to m o XII, 1892, p. 331-335.

24 •41
V o lin iic ) (.) l O A B n . i I ' l i n u ' i r . t K c p ú b i i i a

Q u a d ro n° 1
lO A B : SÍNTESE DAS QUESTÕES JURÍDICAS APRESENTADAS
PELO DR. B U L H Õ E S DE C A R V A L H O , DECORRENTES D A
P O LÍT IC A D O E N C IL H A M E N T O .

1. Pelo nosso Direito vigente quando é a escritura pública necessária à substância ou à


prova dos contratos?
2. Depois do Decreto n “ 164, de 17 de novembro de 1890 as sociedades anônim as podem
em itir obrigações preferenciais por séries com prelaçào das anteriores sobre as posteriores?
3. O artigo 17 do Código Comercial tam bém é aplicáwl às sociedades anônimas?
4. Pelo nosso Direito vigente não é mais necessária a prova do estado de cessação de
pagam entos para a falência?
5. Deve ser esta (a falência) declarada, ainda quando as dívidas protestadas estiverem extintas
por novação ou outra qualquer forma de pagamento?
6. Q uais são os rios públicos e a quem pertence atualm ente o leito, as margens e a
navegação deles?
7. Ê lícito aos incorporadores das com panhias anônim as ccbrar pela responsabilidade e
trabalho na incorporação um a comissão deduzida das primeiras entradas dos acionistas?
Fonte: Q u a d ro ela b o ra d o a p a r tir das atas das sessões do lOAB, p u b lic ad a s na
R evista do Institu to da Ordem dos Advogados, t. X III, a n o de 1893, p. 331-335.

C om o se percebe, além da evidente quebradeira e do desam p aro a que


ficaram expostos os investidores, já n ão se sabia m ais n e m se os rios eram
p ú b lico s o u priv ad o s! O certo é q u e os debates so b re aq u e las q u estõ es
alongaram -se p o r meses e, de certo m odo, lo n b ra m a agitação que se instalou
nas sessões do Instituto em 1864, p o r ocasião da crise bancária provocada pela
b ancarrota do Banco Souto, a qual nos reportam os em o u tra o p o rtu n id ad e
nesta coleção.
Seja com o for, pode-se dizer que as discussões travadas n o lOAB constituem
u m testem u n h o expressivo n ão apenas das conseqüências do m o v im e n to
especulativo e das falcatruas que foram praticadas d urante o Encilhamento, com o
tam b ém do insucesso das m edidas tom adas pelo governo, que n a tentativa de
debelar a crise baixou sucessivos e contraditórios atos, a p ro pósito de recolher
o din h eiro em itido e retrair o crédito.
N a e s te ir a d o m o v im e n to d e re n o v a ç ã o q u e v i n h a m a r c a n d o a

25
_____________ H istória da.
O rdem dos Advogados do Brasil

r e to m a d a d as su as a tiv id a d e s , o I n s t i t u to d a O rd e m d o s A d v o g a d o s
B rasileiros c u id o u , a in d a , de rev isar seus E statutos e R egim ento Interno. A
re fo rm a, q u e só iria e n tra r em v ig o r a p a r tir de 5 d e ju n h o de 1893, n ão
a p r e s e n ta v a m u ita s m u d a n ç a s e s t r u t u r a i s , em re la ç ã o ao r e g im e n to
ap ro v a d o em 1 8 8 0 '\
D e u m m o d o g e ra l, fo r a m m a n tid a s as fin a lid a d e s d o g rê m io ,
enfatizando-se o seu papel de órgão voltado para o (...) estudo do direito no
seu mais amplo desenvolvimento, nas suas aplicações práticas e comparação com
diversos ramos da legislação estrangeira. Ao lado dos pro p ó sito s acadêm icos,
salientava-se a prestação de assistência judiciária, seja p o r m eio de consultoria
aos órgãos públicos, sg a oferecendo patrocínio (...) aos miseráveis, que sofrerem
constrangimento ilegal ou estejam sujeitos a processo crim inal'^ .
Tal co m o já v in h a o c o rre n d o desde a p rim e ira rev isão estatu tária,
prom ulgada em 1880, novos Estatutos não fazem qualquer m enção a aspirações
co rp o rativ as o u à au to -reg u lam en ta ção d a profissão. D e m o n stra v am , no
entan to , a intenção de intensificar o diálogo com o governo, influência dos
tem pos republicanos por certo, na medida em que previam o encam inham ento
de representações do In stitu to aos poderes públicos a respeito de leis, projetos
e r e g u la m e n t o s '^ A p a r disso, am p liav am a a b ra n g ê n c ia d a assistência
judiciária, in stitu in d o u m p rogram a de visitas às casas de detenção, com o
in tu ito de (...) inquirir os presos sobre o estado de seus processos, promovendo os
dos pobres que não tenham patrocínio, bem como a liberdade dos que esteiam
sofrendo constrangimento ilegal (o grifo é nosso)'®. Este últim o propósito, aliás,
p o d e ser indicativo de um a certa preocupação do In stitu to diante dos excessos
com etidos pela República da Espada, para reverter o q u ad ro de instabilidade
política que o país atravessava.
O quadro social, além das classes tradicionais - efetivos, correspondentes e
honorários, doravante ficaria acrescido de mais duas categorias de associados: os
beneméritos e os avulsos. A primeira, destinada ao graduados em Direito, nacionais
e estrangeiros que fizessem u m donativo ao Instituto não inferior à quantia de
2:000$00‘^ . A segunda seria integrada por m em bros efetivos que se afastassem

D ecreto Im p e ria l n ° 7.836, d e 28 d e s e te m b ro d e 1880.


C f lO A B, Estatutos, Regim ento Interno e A nexo s. Rio e Janeiro: Im p r e n s a N a cion a l, 1893, p. 3-4.
" lO A B, Estatutos, A rtigo 3<>, $ 2°. Idem , p . 4
Idem , p. 19.
É inte re ssa n te n o ta r q u e p o r essa m e sm a o c asião o In s titu to H is tó ric o e G eo gráfico B rasileiro ta m b é m
in s titu iu n o seu q u a d ro social a classe d o s sócios b e n e m é rito s, c o m igual v a lo r d e co n trib u iç ã o .

26 •á l
\'< )in n i(’ S ( ) IO A I3 n.i P r i m c i M K c p ü l i l i c n

tem porária o u definitivamente do exercício da profissão, o u que p o r qualquer


im pedim ento deixassem de residir no Distrito Federal.
O s c r ité rio s d e filiação p e r m a n e c ia m in a lte ra d o s . O s c a n d id a to s
continuavam obrigados a apresentar o diploma de conclusão do curso de Direito
e as propostas de adm issão deveriam ser chanceladas p o r dois m em b ro s da
Casa, ficando o ingresso condicionado ao parecer favorável da comissão de
sindicância, encarregada de avaliar a conduta ética e profissional d o candidato.
Alterou-se, entretanto, a fórm ula do ju ram en to dos sócios p o r ocasião da posse
no Instituto^". Doravante, ao to m ar assento, o bacharel passaria a proferir apenas
as seguintes palavras: Prometo cumprir com lealdade os deveres de membro efetivo
do Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros. A despeito d o to m m ais
d e m o c rá tic o im p rim id o ao co m p ro m isso solene, p re s e rv a ra m -s e certas
prerrogativas outorgadas pelo antigo regime, sobretudo as do decreto im perial
n° 393, de 23 de novem bro de 1844, que concedia assento aos m em bros do
Instituto den tro dos cancelos dos tribunais no exercício d a profissão, b em com o
a licença para o uso de veste talar em cerim ônias públicas.
Q u an to à estru tu ra adm inistrativa, a diretoria passava a ser com posta por
um presidente, dois vice-presidentes, prim eiro e segundo secretários, o ra d o r e
tesoureiro, os quatro últim os eleitos anualm ente, ju n to co m os respectivos
suplentes. Os trabalhos seriam distribuídos p o r seis com issões perm anentes, a
saber: de justiça, legislação e jurisprudência; de guarda da constituição e das
leis; de redação da revista; de polícia; de sindicância e assistência judiciária.
No fundo, os novos diplom as legais ocupavam -se, em especial, com a
norm atização do funcionam ento do Instituto, regulam entando as atividades,
d ando m aio r organicidade ao trabalho das comissões, definindo com m inúcias
com petências e prazos. Para se ter um a idéia, o Regimento Interno determ inava
até o tem p o das sessões ordinárias, estipulando que as atividades não poderiam
ultrapassar duas horas e m eia de d u ração ^'.
Se, ao longo das atividades do ano de 1892 a corporação dos advogados
dem onstrava sinais de renascimento, ao final daquele exercício m ais u m passo
seria dado no sentido de consolidar essa nova fase. Em novem bro, p o r sugestão
do primeiro-secretário, M anuel Álvaro de Sousa SáVianna aprovou-se o programa
da festa do jubileu de ouro, a ser celebrada em 7 de setem bro de 1893^^.
“ D u ra n te a m o n a rq u ia , a o ser a d m itid o n o In stitu to , o ba ch a re l p ro feria a seg u in te p ro m e ssa ; (...) Juro ser
fie l à Constituição, ao Im perador, e aos deveres do m eu m inistério.
lO A B, R eg im en to Interno, op, cit., p. 34.
“ IO A B ,“Ata d a sessão d e 3 d e n o v e m b ro d e 1892”. O p. cit., to m o XIV, p. 346.

27
_____________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

A com em oração com preendia duas atividades acadêmicas: a prim eira, um


concurso de monografias, destinado a prem iar com m edalha de ouro o m elhor
trabalho jurídico apresentado no prazo de seis meses sobre assunto a ser definido
p o r u m a comissão de jurisconsultos. A segunda, u m a exposição de trabalhos
ju ríd ic o s , n ac io n ais e in te rn a c io n a is. A p ro v ad a a p ro p o s ta , a com issão
encarregada form ulou o seguinte tem a para dissertação: “D o d o m ín io da União
e dos Estados segundo a C onstituição Federal do Brasil” .
Diga-se de passagem, o assunto escolhido era d a m aio r relevância. Os
prim eiros anos do regime republicano foram marcados por sucessivas e acirradas
d isp u tas e n tre o p o d e r ce n tral e os p o d eres reg io n ais. B asta le m b ra r as
motivações que desencadearam a revolução federalista do Rio G ran d e do Sul,
d entre o u tro s m ovim entos do gênero. Por o u tro lado, n ão se p o d e deixar de
acen tu ar q u e o país carecia de trad ição federalista. Afinal, u m dos traços
característicos do E stado m o n árq u ic o foi a centralização ad m in istrativ a,
im plantada em especial pelos gabinetes conservadores que do m in aram o cenário
político n o Segundo Reinado e se o rien tav am pela conhecida m áx im a do
visconde de Uruguai: (...)orei reina, governa e administrat‘d. Ademais, conforme
apreciação do próprio Sá Vianna, ao elaborar a Carta M agna de 1891 o Congresso
C onstituinte passara ao largo dos m ais com ezinhos princípios jurídicos:

(...) fizeram -se importantíssimas reformas sem que a palavra dos homens do
Direito fosse ouvida efo i assim que bebericando aqui, saltitando ali, colheu-
se o que havia de mais sedutor nos códigos das nações cultas, sem unidade no
todo, inviável na prática, confuso, ilógico, perturbador en fim ..P

A escolha do tem a, portanto, n ão poderia ser m ais o p o rtu n a. E, o m ais


significativo, a idéia da festa do jubileu parece ter sido bem recebida pelo governo
d o m arechal Floriano. A prova disto é que apesar de todos os percalços políticos
e d a precariedade do Tesouro Nacional, Sua Excelência assinou u m decreto em
29 de julho de 1893 destinando u m auxílio pecuniário de 10:000$ 00, a título
de auxiliar na realização do pretendido evento^^.
A benesse concedida merece breve reflexão. A gestão de Floriano Peixoto

lO A B, “A la d a sessão d e 10 d e n o v e m b ro d e 1892”. íd e m , p. 349.


Cf. V iscond e d o U rugu ai, Ensaio sobre o D ireito A d m in istra tivo . R io d e Janeiro , 1862, t . l , p. IV.
” M a n u e l Á lvaro d e Sousa Sá V ia n n a, op, cit., p. 63.
D ecreto N® 149 C, d e 29 d e ju lh o d e 1893.

28 • â m
V o lu m e ) I) IÜ A 13 n . i P r i i i i c i i a K c p i ' i h l i c ,i

foi perm eada p o r revoluções, m otins nos quartéis, arruaças e em pastelam entos
de órgãos da imprensa. Basta dizer que mal assumiu a chefia do Estado, o marechal
decretou três dias de estado de sítio^^. Na verdade, Floriano desde o prim eiro
m om ento despertou sentim entos contraditórios. Se, por u m lado, foi o prim eiro
chefe populista na vida política brasileira, por outro, perseguiu de m od o implacável
seus opositores. E, dentre estes, sobressaíam-se os legalistas que, conform e já disse,
contestavam sua ascensão ao poder, a exemplo de Rui Barbosa, que qualificava o
governo de Floriano de inconstitucional. Mas os preceitos legais ainda seriam
ignorados em m uitas outras circunstâncias, com o denuncia Rui:

(...) Mas miséria ainda mais triste do que essa é a degeneração do senso moral,
efeito da impunidade dos abusos do poder e dos artifícios ilegítimos, à custa dos
quais essa impunidade assegura. A política brasileira não conhecia a crueldade,
com que o militarismo acaba de dotá-la; e essa alteração orgânica dos elementos
do caráter não tarda em se transmitir dos opressores aos oprimidos. Dantes os
homem políticos se separavam por idéias, ou interesses. Hoje separam-se por
crimes. H á verdugos; há vítimas. E essas classificações, essas separações não se
estabelecem impunemente, não passam com a violência que as cavou.^^

O próprio Rui Barbosa, meses depois de escrever essas linhas, viu-se compelido
a viver fora do país. Perseguido e tomado como inimigo do governo, devido à sua
atuação como advogado, ao impetrar diversos pedidos de habeas corpus junto ao
Supremo Tribunal Federal, em favor do almirante Wandenkolke de outros implicados
na segunda revolta da armada e na revolução federalista do Rio Grande do Sul.
Mas havia tam bém as restrições aos direitos individuais e à liberdade de
im prensa e tribuna^^. O Jornal do Brasil, na edição de 13 de julho de 1893,
publicava na prim eira página n ota denunciando que a censura se estendera à
Repartição dos Correios e Telégrafos: (...) Temos recebido inúmeras queixas contra
0 estado de sítio a que foi reduzido o telégrafo, pela proibição absoluta que o governo

impôs a todas as linhas telegráficas de receberem comunicações em cifras ou suspeitas


de subordinação a códigos^^. Até m esm o o poeta Olavo Bilac, republicano
confesso e ad m irado r de Aristides Lobo, foi atingido pela sanha fiorianista^'.

D ecreto N° 791, de 10 d e abril d e 1892.


Rui B arb osa,/orjííi/ íio Brasil, Rio de Janeiro, 22 d e ju lh o de 1893.
A rt. 72. d a C o n stitu iç ão d e 1891.
^ J o r n a l do Brasil, Rio de Janeiro, 13 d e ju lh o de 1893, p. 1.
•*' A expressão é d o h is to ria d o r 1'rancisco Iglésias.

29
_____________ História_da
Ordem dos Advogados do Brasil

Perm aneceu insulado nas m asm orras da Fortaleza da Laje p o r u m b o m tem po,
em v irtu d e de suas opiniões constitucionalistas, ex tern ad as n o s folhetins
literários d o Rio de Janeiro^^.
Além de cercear a opinião pública; o governo expedia ofícios reservados
prom ovendo um a caça às bruxas avant la lettre, a pretexto de identificar os possíveis
inimigos do regime: A situação tom ou-se tão constrangedora, a p o n to do Dr.
M anuel Francisco Correia, ex-senador do Im pério e presidente do Tribunal de
C ontas da União, ao receber um certo expediente reservado d o m inistro da
Fazenda, decidiu depositá-lo em envelope lacrado na Arca do Sigilo^^, do Instituto
H istórico e Geográfico Brasileiro^^ Vale a pena rever docum ento, im portante
testem unho de um a fase da história republicana, que os estudiosos ainda não
exam inaram com a devida atenção. Sua leitura talvez possa ajudar a com preender
p or que até o escritor Machado de Assis, que era um apolítico notório, foi incluído
entre os servidores públicos que conspiravam contra as instituições republicanas:

(...) Reservado. Gabinete do M inistro da Fazenda. (...) N ã o sendo estranho


ao governo o fa to aliás criticável de em pregados cujas opiniões são
c o n tr á r ia s às a tu a is in s titu iç õ e s , e se n d o co n d iç ã o e sse n c ia l ao
fu n cio n a m e n to regular da adm inistração a m aior confiança e lealdade
no funcionário, vos ordeno que m e inform eis se na repartição que dirigis
há algum empregado, cujas opiniões sejam contrárias às novas instituições.
C ham o m u i diretam ente a vossa atenção sobre o valor da informação
que peço, e da qual vão em anar resoluções deste m inistério, cientificando-
vos que sereis o único responsável p o r qualquer omissão ou excesso que
dêem lugar a atos injustos. Felisbelo Freire^^.

Se p o r um lado o Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros, desde a


sua criação, não costumava em itir opiniões sobre acontecim entos de natureza
política, nem em itir juízo sobre ponto de interesse privado, s ^ n d o seus novos
" Cf. M ax Fleiüss, R ec o rd a n d o ... (Casos eperfis). R io d e Janeiro: Im p r e n s a N acion al, 1941, p . 28-29.
A Arca do Sigilo era u m a espécie d e cofre -forte idealizado n o In s titu to H is tó ric o e G eo g rá fic o B rasileiro p o r
F ran cisco Freire A lem ão em 1847. D estinava-se a a b rig a r noticias h is tó ric a s, te ste m u n h o s , d o c u m e n to s
e p apéis afins, q u e os sócios d esejassem deixar p a r a a p o s terid a d e. Estes m a te ria is d e v e ria m s e r entreg ues
e m envelopes lacrado s, só p o d e n d o ser ab e rto s e m d a ta d e te rm in a d a pe lo p r ó p r io do a d o r.
M a n u e l Francisco C o rre ia d e p o sito u este oficio, ; u n to c o m o u tr o s pap éis n a A rca d o Sigilo e m 3 d e m a rç o
de 1893. Estabeleceu q u e o m e sm o só p o d e ria ser a b e r to e lid o ap ós a sua d e m is sã o d o carg o q u e ocupava.
O d o c u m e n to foi p u b U c ad o n a Revista do In stitu to H istórico e Geográfico Brasileiro, e m 1896.
IH G B , “Im p o r ta n te d o c u m e n to . S ubsídio p a r a a h is tó ria d a a d m in is tra ç ã o p ú b lic a ”. Revista do Institu to
H istórico e Geográfico Brasileiro, 59 (93); 2 09 ,1896.

30 •á l
V 'o liim i' 1 ( ) l ( ) / \ | - ) n<i i ' r i i n c ' i r a k c p u l ) l i ( , ,i

Estatutos^^, por outro, é paradoxal que o centro dos agitadores e dos cultores do Diréto,
não tenha se manifestado sobre nenhum a dessas práticas, ainda que as mesmas
afetassem o que hoje em dia se entende por estado de direito. Ademais, são conhecidas
as arbitrariedades cometidas por Floriano contra o Supremo Tribunal Federal^^.
Assim, o patrocínio concedido pelo Marechal de Ferro à celebração do
cinqüentenário do lOAB, quando analisado à luz do contexto político da época,
induz ao levantam ento de duas questões: Estaria o Instituto com pactuando
com a política do Marechal de Ferrd^. O u se utilizava a pretensa neutralidade
acadêm ica com o estratégia de sobrevivência naqueles dias tão incertos?
De qualquer m odo, apesar do auxilio financeiro recebido, a festa do jubileu
de ouro teve de ser adiada p o r u m acontecim ento político que tra n sto rn o u a
capital federal; a 6 de setem bro de 1893 eclodiu a segunda revolta da arm ada,
liderada pelo A lm irante C ustódio José de Melo. O centro da cidade do Rio de
Janeiro foi alvo dos bom bardeios, tanto da esquadra sublevada, que estava
fundeada na baía de G uanabara, q uanto dos canhões das fortalezas do ento rno
da baía, q u e p erm a n ec era m fiéis ao governo. Em vista disso, o In stitu to
suspendeu suas atividades, reabrindo som ente em 1894, quando pôde finalmente
com em orar a passagem do qüinquagésim o aniversário.
O s p re p ara tiv o s p ara c o m e m o ra r a passagem d o 50° aniversário do
In stitu to da O rd e m dos Advogados, já o dissem os, com eçaram com bastan te
antecedência. C riaram -se duas com issões de trabalho, con so ante o p ro g ram a
p rop osto. Para tra ta r do co ncurso de m onografias, fo ram convocados os
associados D rs. B ulhões de C arvalho, C arlos de C arvalho e U b a ld in o do
A m aral. Já a organização da Exposição de Trabalhos Jurídicos ficou sob a
re s p o n sa b ilid a d e d o s D rs. M an o e l P ortella, V illela dos S an to s, A lfredo
M ad ureira Frederico Borges, e Sá V ianna, sendo que este ú ltim o p rep aro u
tam b ém u m a m em ó ria in titu lad a Instituto dos Advogados Brasileiros, 50 anos
de existência, lida n a sessão solene de aniversário.
Em bora já tenham os feito m enção ao ensaio de Sá V ianna n o início deste
capítulo, \^le a pena retomá-lo, pois ao resgatar a m em ória da entidade e de seus
fundadores, o texto marca o início da reabilitação de u m dos m ais conceituados
vultos da cultura jurídica nacional, o Dr. Augusto Teixeira de Freitas.
É interessante pontuar que Teixeira de Freitas se afastara do Instituto em 1857,
em virtude de áspera contenda travada com os pares, a respeito de u m a questão de
1 0 AB, a rtig o 63, Estatutos, 1893, o p . cit., p. 24.
Cf. EmíU a V io tti d a C o sta , O Su p rem o Tribunal Federal e a construção d a cidadania; o rg a n iz a çã o A lbino
A d vogados A ssociados. São Paulo: lEJE, 2001, p.26-27.

31
_____________ História_da,
Ordem dos Advogados do Brasil

jurisprudência sobre a liberdade dos filhos das statuliber^^. A partir daí seu nom e í
seria relegado ao mais completo esquecimento, apesar da notoriedade alcançada í
pelo civilista até no exterior, sobretudo devido ao seu projeto de Código Civil^^.
O ensaio de Sá Vianna não apenas o reabilitou perante o ínstituto^'^, com o
ainda teve o m érito de recuperar a sua breve passagem pela presidência da Casa,
fato até então desconhecido pelas novas gerações de associados;
[
(...) o Dr. Teixeira de Freitas oaipou efetivamente a cátedra presidencial. Não l
podíamos proceder às averiguações que no caso seriam úteis, visto que o fato era \
tão desconhecido para nós, como para os nossos contemporâneos, sendo raríssimos I
hoje os advogados que em 1857já faziam parte do Instituto edois a quem dirigimos I
algumas perguntas sobre a vida e a obra do Mestre ficaram mergulhados na (
indiferença (...) consumindo os últimos dias de inglória existência feridos pelo |
espinho da inveja que ainda os feria (...), consultando na Biblioteca Nacional i
velhos jornais, dentre eles o Diário do Rio de Janeiro, de 1857, deparamos com «
diversas atas das sessões do Instituto (...) e então vimos, e bem nos certificamos |
que ao Dr. Teixeira de Freitas (...) coube a presidência do Instituto^'. ;
i
No que se refere ao concurso da m elh or dissertação sobre o tem a Do |
dom ínio da União e dos Estados segundo a Constituição Federal do Brasil, i
apresentou-se apenas um candidato, o jovem advogado Dr. Rodrigo Octavio |
Laangard de Menezes, que anos mais tarde, p o r duas vezes, exerceria a presidência í
do Instituto (1916-1918 e 1926-1928).A contribuição de Rodrigo Octávio além ;
da prem iação com m edalha de ouro m ereceu n o ta elogiosa, u m a vez que se ;
tratava de (...) matéria nova, interessante, difícil e de alto proveito, em face da j
nova ordem das c o i s a s . . \
Q u a n to à E x posição de T rab alh o s Ju ríd ico s, a b e rta ao p ú b lic o em 7 |
de s e te m b ro de 1894, re u n iu 1.635 o b ra s, d as q u ais 635 d e a u to re s e [
in s titu iç õ e s n a c io n a is e 970 de e s tra n g e iro s . D o e x te rio r v ie ra m |
c o n trib u iç õ e s d o C h ile, P eru , B olívia, V enezuela, U ru g u a i, A rg e n tin a , [
M éxico, H a iti, P o rtu g al, E spanha, F ran ça, Itália, Bélgica, Á u stria , G récia e j
In g la te rra . S eg u n d o seus idealizado res, (...) não se tratava de u m a feira de \
Ver n o v o lu m e I desta coleção a sín tese da c o n te n d a e n tre Teixeira d e Freitas e seu s pares. f
Cf. Pontes de M iranda, Fontes e evolução do direito civil brasileiro. 5» edição. Rio de Janeiro: Forense, 1981, p.80-82. (
Sobre a reabilitação d e vultos e obras históricas, insp ira m o-n os n a o bra d e Philipp e /o u ta rd , “ La réhabiJitation”. |
In ; La légende des carnisards:. Une sensibilité au passé. Paris: G allim ard, 1977, p. 187- 212. ;
M an u e l Á lvaro d e Sousa Sá V ianna, op. cit., p,32-34. f
" Id em , p. 64.____________________________________________________________________________________________ %

32 •à M
Volume .1 O lO A Ii n.i i'rin ifir a Rc-púhlica

livros, m as sim a m ostra de u m acervo sobre o progresso da ciência ju ríd ica


em todos os países civilizados^^
O C atálogo da E x p o siçã o m ere c e u ed iç ã o p r im o r o s a . Teve c o m o
organizador o Dr. D eodato Villela dos Santos, que classificou e reu n iu as obras
expostas de acordo com a divisão das especialidades do Direito e áreas correlatas.
Abriu espaço, tam bém , para a divulgação de inéditos, com o teses, dissertações
e m em oriais. A rrem atando o Catálogo-, havia um a seção especial voltada para a
apresentação de program as de disciplinas, com entários -técnicos, m em órias e
material didático em geral, produzidos por docentes das Faculdades de Direito^'*.
A título de inform ação, transcrevem os no quadro adiante as especialidades que
em 1894 integravam o cam p o dos estudos jurídicos e as respectivas áreas
correlatas, segundo a classificação do lOAB:

Q uadro n° 2
C L A S S IF IC A Ç Ã O DAS ESPECIALIDADES D O S E STUDO S
JU R ÍD IC O S E ÁREAS A FINS, S E G U N D O O IN S T IT U T O D A
O R D E M D O S A D V O G A D O S BRASILEIROS

1. Direito Comercial, Terrestre e 9.Processo Civil, Comercial e criminal


M arítim o
2. Direito Civil lO.Economia Política, Finanças e
Contabilidade d o Estado
3. Direito C rim inal, Penal e Militar 11.Legislação C om parada sobre Direito
Privado
4. Direito das Gentes e Diplomacia 12.Higiene
5. Direito Administrativo 13. Medicina Legal
6. D iráto Público, Constitucional 14. Direito eclesiástico, Relações da Igreja
e Federal com 0 Estado
7. Direito Romano 15. Leis de Organização Judiciária e Projetos
8.Filosofia e História do Direito 16. Jurisprudência
Fonte: Quadro montado a partir das informaçc es do Catálogo da Exposição de Trabalhos Jurídicos,
realizada pelo Instituto da Ordem dosAdvogac os Brasileirosa7desetembrode 1894,organizado
por Deodato C. Villela dos Santos. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1892.

" Idem .
*^Cf.IOAB, C flíói^O íii £íp05Ífflc? de Tríjbaí/ios/wríííícos, realizada pelo Instituto d a O rd e m dos Advogados Brasileiros
a 7 d e setem bro d e 1894, organizado p o r D eodato C. Villela dos Santos. Rio d e Janeiro: Im prensa nacional, 1892.

33
_____________ Historia da
O rdem dos Advogados do Brasil

Se é certo que o Instituto ganhou novo fôlego, p o r m eio das atividades


acadêmicas e da renovação dos seus quadros, do p o n to de vista político o grêmio
com eçaria a recuperar o prestígio com a volta das oligarquias ao poder, após a
posse de P rudente de M orais na presidência d a República, em 1894. Isto pode
ser percebido não apenas pela série de iniciativas que o Instituto veio a tom ar
n o cam po da assistência judiciária, com o pelas sucessivas consultas que os órgãos
públicos passaram a lhe dirigir. A pro blem ática da criação da O rd e m dos
Advogados, bem com o as aspirações autonom istas, contudo, perm aneceriam
fora das cogitações do grêm io, por u m b o m tem po.

2. A v o lta d o p restígio

Em 1894, a propósito de aperfeiçoar a assistência jurídica prestada aos


necessitados, o Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiro encam inho u um a
representação ao governo federal defendendo a necessidade e a urgência de
in s titu c io n a liz a r aquele serviço. D e n tre o u tro s a rg u m e n to s, alegava (...)
gravíssimos abusos admitidos no foro criminal onde campeia desassombradamente
a mais torpe especulação contra aqueles que se acham presos e submetidos a processo.
C om efeito. O Decreto n° 1.030, baixado em 1890, pelo G overno Provisório,
organizando a Justiça no Distrito Federal, instituía u m a com issão destinada a
oferecer patrocínio aos réus pobres no crim e e n o cível. Este dispositivo, no
entanto, nunca chegou a ser cum prido. O serviço continuava sendo prestado
graciosam ente pelo Instituto, que o iniciou na década de 1860 e retom ara a
p rática a p artir de 1892, a despeito da falta de regulam entação oficial.
A dem anda recebeu boa acolhida do então m inistro da Justiça, o Dr. Amaro
Cavalcanti, que in cu m b iu a corporação de p rep arar u m anteprojeto, a ser
su b m etid o ao p o d e r legislativo. O p lan o elaborad o pelo lOAB serviu de
docum ento-base ao Decreto n° 2.457 de 8 de fevereiro de 1897, que estabeleceu
a A ssistência Judiciária do D istrito Federal'^®. D en tre o u tra s providências,
determ inava que todos os integrantes das comissões de defesa gratuita deveriam
ser indicados ob rig ato riam en te pelo Instituto, à exceção do presidente da
com issão central, cuja nom eação caberia ao p o d er executivo^®.

o Jornal do Brasil d e 9 de fevereiro de ! 897, na su a p rim e ir a pá g in a , tra z u m lo n g o e elogioso c o m e n tá r io


a respeito d o tra b a lh o realizado pe lo lO A B n a re g u la m e n ta çã o da A ssistência Judiciária.
D ecreto n ° 2.457, d e 8 d e fevereiro de 1897.

34 •à M
V o liin u '

A Assistência Judiciária do Distrito Federal foi inaugurada em 5 de m aio


de 1897, nas dependências do p ró p rio Instituto , q u e colocou duas salas à
disposição do serviço, n o prédio alugado que ocupava n a ru a da C onstituição
n° 43. P ara d irig ir o n o v o ó rg ão foi d esig n ad o o D r. José C â n d id o de
A lb u querque M ello M attos, do q u ad ro efetivo do lOAB. No Relatório do
m inistro Am aro Cavalcanti, relativo ao exercício de 1897, encontra-se u m a longa
referência a respeito dessa iniciativa:

(...) Logo que se iniciaram os trabalhos não se fizeram esperar os benéficos


resultados dessa utilíssima instituição, quer nas pretorias, quer nos tribunais,
mas com especialidade no Júri e na Câmara Criminal da Tribuna Cível e
Criminal (...)A execução do citado decreto encontrou na prática algumas difi­
culdades que foram resolvidas pela comissão central, usando do arbítrio que
lhe é para essefim concedido pela lei. Para facilitar o conhecimento da instituição
0 presidente Dr. Mello M attos publicou em volume, impresso à sua custa, na

tiragem de 500 exemplares, o mesmo deaeto com anotações e comentários


acompanhado de u m formulário e de um a notícia histórica, destinado à
distribuição gratuita (...) No intuito de comemorar a fundação da Assistência
0 dito presidente m andou fazer a expensas suas dois medalhões (...) acham-se

ambos esses medalhões numa das paredes da sala de sessões do Instituto.

M as o Dr. A m aro Cavalcanti, n o citado d ocum ento, iria ainda m ais longe
sua avaliação bastante positiva da atuação do lOAB. Conclui o relato pleiteando
ju n to ao governo, (...) que esta instituição seja dotada pelo Congresso Nacional
com um auxílio pecuniário^^.
Em 1896,cu m p rin d o dispositivo estatutário'*'*, o Instituto d eu início a um
program a de visitas às casas de detenção da cidade do Rio de Janeiro, com o
objetivo de elaborar u m relatório circunstanciado sobre a situação das mesmas.
O e m p re e n d im e n to ta m b é m m ereceu o aval do m in istro da Justiça, que
incum biu o Chefe de Polícia do Distrito Federal de colaborar com os sócios
en carregados de p ô r em prá tic a o p rojeto, fo rn ece n d o -lh es to d a a ajuda
necessária para o cum p rim en to da missão.
Ao m esm o tem po em que se fortalecia junto ao governo, o lOAB começava
a ensaiar algum as manifestações diante dos principais problem as jurídicos que

Brasil, Relatório do M in istro da Justiça e Negócios do Interior, 1897-1998, p , 383-384.


lO A B , Estatutos, A rtig o 3°, § 2®, op. cit. p. 19.

• à B 35
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

afetavam não apenas o funcionam ento da justiça, com o tam b ém a vida da


população em geral. Via de regra, tais dem andas eram encam inhadas ao poder
legislativo. Este foi o caso, por exemplo, da representação dirigida à Câm ara
dos D eputados em 1894, a propósito de um projeto de lei com o objetivo de dar
autorização ao governo para rever o regim ento de custas judiciárias nos feitos
julgados pela Justiça Federai. As ponderações do In stitu to foram acatadas,
em bora o projeto só tenha sido aprovado pelo Legislativo em 1899“*^.
D o m esm o m odo, pro ced eu em relação à p ro p o sta de C ódigo Penal
apresentada na Câm ara em 1893.0 tem a foi exaustivamente exam inado p o r um a
comissão integrada pelos sócios Drs. Mello M attos, Lima D ru m o n d e Carvalho
M ourão, em 1896. No ano seguinte, porém , a suspendeu-se a discussão, um a vez
que a m atéria fora retirada de pauta na Assembléia Legislativa. Somente em 1899
reiniciaram -se os debates, quando o projeto voltou a tram itar na Assembléia.
O u tro assunto, que tam bém provocou u m a representação do Instituto à
C âm ara Federal, foi a prom ulgação da Lei n° 559 de 31 de dezem bro de 1898. A
Lei, que aprovava o orçam ento geral da União para o exercício de 1899, trazia
em seu bojo u m conjunto de deliberações destinadas a prom over o saneam ento,
as finanças e a reorganizar a econom ia do país. As m edidas decorriam das
n eg o c iaçõ e s firm a d a s p elo p re s id e n te C a m p o s Salles co m os cred o res
internacionais, em especial a Casa Rothschild de Londres. Os banqueiros ingleses
aceitaram a m orató ria da dívida externa brasileira p o r três anos, d u ran te os
quais seria concedido ao país u m fu n d in g loan, o u seja, u m em préstim o para
pagam ento dos juros e da dívida externa^®. Em contrapartida, o governo Campos
Salles se com prom etia a p ô r em prática u m a política m on etária de deflação, de
ajuste fiscal e, com o não poderia deixar de ser, de au m en to da arrecadação
tributária, o que significava m ajorar os tributos já existentes, bem com o criar
outros tantos. Fórm ula, diga-se de passagem, que até hoje p erm anece na ordem
do dia, em term os de política econôm ica n o Brasil.
A Lei de 31 de dezem bro de 1898, além de fixar o orçam ento da União,
instituiu novos im postos de selo sobre serviços públicos, n o que se refere ao
re g is tro d e títu lo s , c e rtid õ e s , d o c u m e n to s e o u tr o s p a p é is afin s. Sua
Ver, D e creto n<> 3.320, d e 19 d e ju n h o de 1899.
D e a c o rd o co m o co n tra to d o fu n d in g loan, a p a rtir de ja n e iro d e 1899 o go v e rn o federal c o m p ro m e tia -se a
d ep ositar e m p a p el-m o e d a, nos bancos ingleses c alem ães n o R io d e /aneiro, o eq uivalenteà parcela liberada
pelo fu n d in g , ser in c in e ra d o o u en tã o convertido em o u ro e utilizado p a ra p a g a m e n to d a dívida ex te rna .
M as C am p o s Sales parecia não h aver esquecido as lições d o B ncilham ento. R eceando q u e esse d in h e iro
acabasse a u m e n ta n d o as disp on ib ilidad es bancárias e viesse a g erar u m a o n d a d e especulação cam bial,
c o nsegu iu q u e a C âm ara dos D e p u ta d o s aprovasse a incin e ra çã o d e to d o o p a p e l-m o e d a recolhido.

36
V o lu m e 3 ü K.)AB tici l’rim('ir,i Republica

regulam entação, baixada poucos meses depois, discrim inava quais as taxas de
selo que a União e os Estados poderiam decretar. O m esm o decreto, porém ,
tornava nulos todos os títulos e papéis que não fossem selados no prazo de
noventa dias^^. A m edida, sem dúvida, visava au m en tar as receitas públicas.
Mas, por o u tro lado, representava u m transtorn o para a população em geral,
que de u m a hora para o u tra viu-se com pelida a pagar taxas e selar os mais
diversos tipos de docum entos, desde a mais simples certidão de nascim ento,
sob pena dos m esm os perderem a fé pública. Aliás, ao que parece, foi depois
dessa deliberação que o presidente Cam pos Salles passou a ser cognom inado
pelos cariocas de Campos Selos.
O Instituto form ou um a comissão para discutir essa questão e encam inhou
um a representação à C âm ara dos D eputados, advertindo que o preceito era
(...) inconstitucional, pois fere os princípios fundam entais do direito público, que
são os pressupostos da nossa Constituição (...) N enhum a razão de nulidade pública
a justifica, e ao contrário, é iníqua, pelos prejuízos que tem motivado e há de motivar,
sem vantagem para oftsco^^ .O s argum entos foram aceitos pelos parlam entares,
que revogaram tal dispositivo.
Os poderes republicanos, por seu turno, dem onstravam reconhecer os
m éritos do lOAB. Solicitavam estudos e pareceres sobre diversas questões, a
exem plo de u m substitutivo apresentado em 1898 na C âm ara dos D eputados
ao projeto de lei n° 225 de 1895, que reform ava a organização da G uarda
N acionaP ^. A m atéria d e sp e rto u controvérsias. H avia p a rla m e n ta re s que
consideravam a instituição com o de âm bito federal, o que constituía um m odo
de evitar que os Estados interviessem a sua formação, adm inistração e direção.
O utros defendiam idéia oposta, ou seja, de descentralizá-la, p o r assim dizer, o
que significava retirar a G uarda Nacional do controle do M inistério d a Justiça.
N o fundo, a discussão que se travava constitui m ais u m a evidência das
dificuldades que p erm earam a im plantação do sistem a federalista, n u m Estado
de tradição centralizadora. Convocada para exam inar a m atéria, a C om issão de
J u stiç a , L egislação e J u r is p r u d ê n c ia d o I n s titu to p r o n u n c io u - s e pela
inconstitucionalidade do projeto de 1895. De qualquer m odo, o debate ainda

•''' D ecreto n ° 585, de 31 cie ju lh o de 1899.


lOAB, Relatório d o exercício d e 1901, p. 40.
C abe aq u i le m b ra r que, ao ser cria d a em 1831, d u ra n te o p e río d o regencial, p e lo e n tã o m in is tro d a Justiça,
o p a d re D io g o A n to n io Feijó, a G u a rd a N acio nal era su b o rd in a d a à C o ro a e foi u m do s m ais im p o r ta n te s
in s tru m e n to s d o g o v e rn o c en tra l n a repressão às rebeliões q u e e c lo d ira m n a q u e le p e río d o , m otiv adas
pelas p re te n sõ e s a u to n o m is ta s das províncias.

•ái
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

iria p e rd u ra r até 1918, qu an d o a cham ada milícia cívica foi reorganizada,


passando seus efetivos e reservas a serem considerados com o forças de segunda
linha do Exército^'*.
A cooperação do In stituto com os órgãos públicos to rn o u -se cada vez
m ais estreita. A tal pon to , que apesar de co n stituir u m a en tidade privada, o
grêm io p o r in ú m era s vezes teve seus trabalhos registrados n os Relatórios do
M inistério da Justiça, ao lado das atividades dos dem ais órgãos integrantes
da e s tru tu ra desta pasta. N o Relatório co rresp ondente ao exercício 1897, p o r
exem plo, lê-se que:

(...) Esta corporação, fundada em 1843, sob as vistas do governo geralfunciona


com a maior regularidade (...). Ela tem atendido com a m aior solicitude as
consultas que são feitas, quer pelo governo da União, quer pelo dos Estados,
ou p ela M u nicip a lid a d e e, tom ado p a rte na elaboração de diversos
regulamentos que o Poder Executivo há promulgado; realizou exposição de
trabalhos jurídicos, na qual tomaram parte universidades e instituições
jurídicas e jurisconsultos dos povos mais cultos; (...) conseguiu que por
iniciativa sua fosse criada nessa Capital aAssistência Judiciária e proporciona
para o serviço um numeroso e competente pessoal; (...) o Instituto funciona à
rua da Constituição n° 43, em um prédio particular, que não oferece as
condições para que, ao menos, ser convenientemente desenvolvida a biblioteca
(...) M uito conviria que o Congresso Nacional em sua próxim a reunião
atendendo à importância dos trabalhos e serviços desta instituição decretasse
um pequeno auxílio pecuniário com que possa ter o desenvolvimento'^^.

Passo a passo, o In s titu to c o n q u is ta ra a c o n fia n ça das a u to rid a d es


republicanas. Voltara, p o r assim dizer, a assum ir as funções de órgão consultor
do governo. Papel que desem penhara com desenvoltura ju n to aos gabinetes
im periais, ao longo do Segundo Reinado.
Ao mesmo tempo em que se aproximava dos novos poderes constituídos, o
grêmio envidava esforços para recuperar sua posição de vanguarda na cultura jurídica
nacional. Além dos tradicionais estudos de jurisprudência, outras deliberações foram
tomadas, destacando-se a criação da Biblioteca do Instituto dos Advogados Brasileiros.
Inaug urada na sessão m agna de aniversário de 7 de setem bro de 1895, nas

" D e creto n° 1.3040. d e 29 d e m a io d e 1918.


" Brasil. R elatório d o M in istro da íustiça, op. cit. p. 384.__________________________________________________

38
Y o k im c > ( ) lO A B iici l - ' i i t n e i r d K c p ú b l i c a

proxim idades do edifício do Foro e aberta para consultas, a Biblioteca possuía


expressivo acervo, integrado p o r (...) raros exemplares de obras antigas e outras
das mais modernas publicadas em todos os países, legislação da União e dos Estados
Por sua vez, a Revista da Ordem dos Advogados Brasileiros, instituída em
1862 p o r Perdigão M alheiro, g an h o u m aio r atenção e p erio d icid ad e m ais
regular^^. Além disso, a partir de 1897, o lOAB passou a realizar serões literários,
abrindo espaço para os associados fazerem leituras públicas dos seus trabalhos^*.
A iniciativa de m aior im pacto, contudo, ainda estava p o r acontecer, apesar
de anunciada em 1896. Tratava-se da realização de um evento pioneiro no cam po
do Direito brasileiro, idealizado pelo prim eiro-secretário M anuel Álvaro de
Sousa Sá Vianna: o Congresso Jurídico Americano, convocado para celebrar a
passagem do quarto centenário do descobrim ento do Brasil.

3. O C ongresso J u ríd ic o A m e ric a n o

A proximidade da passagem do IV centenário do descobrimento do Brasil


suscitou grande agitação entre as agremiações literárias e científicas do Rio de Janeiro.
Desde meados da década de 1890, a celebração da efeméride era cogitada no Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, no Clube de Engenharia, na Academia Nacional
de Medicina, no Real Gabinete Português de Leitura entre outros redutos intelectuais.
N o âm bito do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, conforme já se
viu, a idéia de festejar o IV centenário tam bém vinha sendo cogitada desde 1896,
quando Manuel Álvaro de Sousa Sá Vianna propôs a realização de um a jornada
acadêmica: o Congresso Jurídico Americano. Segundo Sá Vianna, na justificativa que
apresentou à Mesa Diretora do Instituto, o m om ento se afigurava bastante oportuno
para prom over um a reunião dessa natureza. Tomara com o inspiração, o sucesso
um evento semelhante - o Congreso Jurídico Ibero-Americano - que tivera lugar em
M adrid, na segunda de o utubro de 1892, chancelado pela Real Academ ia de
Jurisprudência y Legislación, com o intuito de solenizar a passagem dos quatrocentos
anos da chegada de Cristóvão Colombo no Novo Mundo^^.

Cf. Idem , p.383.


A comissão d e redação da Revista, form ad a a p a rtir de 1893 pelos Drs. Bulhões de C arv alh o, Sousa Bandeira,
Valent im Magalhães, Isaías d e M elo e Rodrigo Octávio, conseguiu editar c o m m a io r regularidade o periódico.
Tanto a Biblioteca q u a n to os c h am ad o s serões literários foram criados na gestão de A ugusto Álvares de Azevedo.
Cf. Real A cadem ia de lu ris p ru d é n c ia y Legislación, Congreso Iiiridico Ibero-Am ericano re u n id o en M ad rid ,
o u tu b r o d e 1892. M a d rid , 1893 (C oleção In s titu to H istórico).

•▲I 39
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

A proposta logo ganhou as páginas dos principais jornais cariocas^°. No


âm bito do Instituto, a Comissão de Justiça, Legislação e Jurisprudência aprovou
a iniciativa, destacando que (...) os Congressos, como as Exposições Internacionais
facilitam e prom ovem o estudo comparativo das legislações, cooperando assim,
eficazmente para a hodierna orientação científica que integra o saber jurídico na
evolução naturalista do século atuaP '.
E n tre ta n to , o clim a de en tu siasm o que co n ta g io u a intelectualidade
carioca foi arrefecendo à p roporção que a data da efem éride se aproxim ava.
C om eçou-se a perceber que os planos dificilm ente iriam adiante, pois, para
concretizá-los, contava-se com o ap o rte de recursos públicos. O governo, por
sua vez, se m ostrava indiferente aos sucessivos pedidos de verbas e patrocínios.
Em plena negociação do fu n d in g loan, o presid ente R odrigues Alves fazia
ouvido m ouco a tais apelos, deixando entrever que não tin h a a m en o r intenção
de usar o Tesouro N acional para cobrir os gastos das festividades.
D iante do quadro pouco alvissareiro, coube à iniciativa privada, liderada
p o r alguns oficiais da M arinha, em agosto de 1898, to m ar a decisão de constituir
u m a co m issão especial en c arre g a d a de o rg a n iz a r o p ro g r a m a geral das
comemorações^^. Para agilizar os trabalhos, o grupo decidiu criar u m a sociedade
civil, destin ad a a an g ariar fu ndos para custear as despesas e co o rd e n a r a
realização dos eventos - a Associação do Quarto Centenário do Descobrimento
do Brasil, cuja presidência foi confiada a Benjam im Franklin Ramiz Galvão, o
Barão de Ramiz, antigo diretor da Biblioteca N acional e professor do Colégio
Pedro II, na época denom inado Ginásio Nacional, figura que desfrutava de
grande prestígio nos círculos intelectuais e políticos do Rio de Janeiro . Para
secretariar os trabalhos da recém -criada entidade, designou-se o Dr. Sá Vianna,
da Mesa D iretora do lOAB.

‘’'’Ver, C idade do R io de janeiro. Rio de Janeiro, 5 d e n o v e m b ro d e 1896. Jornal do C om ntercio, Rio de Janeiro,
6 de n o v e m b ro dc 1896.
lOAB, “ Parecer d a C om issã o d e Justiça, Legislação e Ju ris p ru d ê n c ia ”. Relatório de 1901 - A nexo n° 2. Rio de
Janeiro; Im p re n s a N acio nal, 1901, p. 24-25. Ao q u e tu d o indica, a idéia ta m b é m d e s p e r to u e n tu siasm o
e m o u tr a s capitais la tin o -a m e ric a n a s. N o referido Relatório, lê-se q u e o p e rió d ic o p e r u a n o El Diário
Judiciário, n a edição de 10 dc d e z e m b r o d e 1896, destacav a q u e o c e r ta m e p o d e ria s e rv ir de: (...) im pulso
poderoso na resolução de questões que iiiquie tavam os americanistas. preocupados ern estabelecer u m a espécie
de "trate d 'u n io n ” en tre as repúblicas do continente. Id e m , p.26-27.
Associação d o Q u a r to C e n te n á rio d o D e sc o b rim e n to d o Brasil. Livro do C entenário (1 500-1900). Rio d c
Janeiro: Im p re n s a N acional, 1900; 1901; 1902, 3 v.
Sobre R am iz Galvão, ver IHGB, Dicionário Biobibliográfico de historiadores, geógrafos e antropólogos brasileiros;
sócios falecidos e n tre 1921/1961. P re p a ra d o p o r V icente Tapajós c o m a co la b o ra ç ã o d e P e d ro T õ rtim a ,
Rio de Janeiro: IH G B , 1993, v. 3, p.128-130.

40 9ÂM
V o lu n u ' ) ( ) l O A I^ j n . i P r i t i K ' i r i i K c p ú b l i t a

A im prensa, de pronto, apoiou aquela decisão. O jornal O Paiz, que se


auto proclam ava a folha de maior circulação na América do Sul, abriu espaço
na sua prim eira página para editar diariam ente a coluna 4° Centenário do Brasil,
ora divulgando as atividades da Associação, ora prom ovendo cam panhas de
adesão e de arrecadação de fundos e> p o r fim, convocando os leitores para
participarem das festividades
A Associação do Quarto Centenário estabeleceu u m a program ação oficial,
p o r assim dizer, fo rm a d a p o r u m conju n to de eventos a serem realizados ao
longo do an o de 1900 ^ . O plan o incorporava, tam bém , algum as atividades
acadêm icas, cujos p rep arativos já estavam em an d a m e n to , a exem p lo do
C ongresso de E ngenharia e Indústria, planejado pelo Clube de Engenharia^^,
e do Congresso Jurídico Am ericano, in tentado pela corp o ração dos advogados.
D e fato. E m 1898, q u a n d o se c o n s titu iu a A ssociação do Q u a rto
Centenário, as bases d o certam e já haviam sido definidas pelo In stitu to , tanto
do p o n to de vista tem ático, q u an to da sua e s tru tu ra e fu n c io n a m en to . A
co m issão executiva p re p a ra ra , inclusive, u m R eg im en to p ara o r ie n ta r a
consecução das atividades^^. Paralelam ente, expediram -se convites aos órgãos
da m ag istratu ra da esfera federal e da estadual, ao Senado e à C âm ara dos
D eputados, às Faculdades de D ireito, aos Institutos dos Advogados de o u tras
capitais e de algum as republicas sul-am ericanas.
O Congresso Jurídico Americano pretendia privilegiar dois cam pos do Direito:
Direito Público e Direito Privado. Para lim itar a abrangência desses campos,
vastíssimos por sinal, os organizadores prepararam o tem ário sob a form a de
dois questionários, cada qual contendo quinze proposições, denom inadas teses, a
serem desenvolvidas pelos participantes sob a forma de monografias.

A fora a estátua d e P e d ro Á lvares C ab ral, o b ra d e R o d olfo B ernadelli, in a u g u ra d a c o m m issa c am p a l e m


frente ao ou te iro d a Glória, a c o m issã o realizou c on cu rsos e p ro g r a m o u e v en to s c o m o : Sessão S o le n e n o
C assin o F lu m in en s e ; a p re se n ta ç ão d a ó p e ra Jupira, do celeb rado m a e s tr o Francisco Braga, n o Teatro
Lírico do Rio d e Janeiro; E xposição A rtístico In d u s tria l Flu m inen se , n o Liceu d e A rtes e Ofícios; desfiles
cívicos e u m a p a r a d a m ilitar. P ro m o v e u , ta m b é m , regatas n a P raia d o Russel e bailes p o p u la re s na
e n se a d a da G lória. S ob re as festas d o Q u a r to C en te n á rio , ver, M arcelo R. W anderley, Ju bile u N acional; A
com em oração do Q u a d rk e n le n á rio do D escobrimento do Brasil e a refim dação da id e n tid a d e nacional.
D issertação d e M es tra d o . Rio d e Janeiro: IFCS/UFRJ, 1998.
O ev en to d o C lu b e d e EngenJiaria inicio u-se n o dia 24 d e z e m b r o d e 1900.
A p ro gram ação foi divulgada nos principais jorn ais d o Rio de Janeiro. Ver, d entre outros, Gazeta de Notícias, Rio
de Janeiro, 4 de ju n h o d e 1898, p. 1. Integravam a Comissão Executiva, além d o Dr. Sá Vianna, os seguintes
sócios d o lOAB: Afonso Celso de Assis Figueiredo, Alfredo Bernardes da Silva, A ugusto Álvares de Azevedo,
Anfilóquio d e C arvalho, Barão d e Loreto, Carlos A. de França C arvalho, D ídim o A gapito da Veiga, E d m u n d o
M uniz Barreto, Josc Alves d e Azevedo Magalhães, José Carlos Rodrigues, José H igino D u a rte Pereira, José
M aria I,citão d a Cun h a, José Viriato de Freitas, Júlio d e Barros Raja Gabaglia e Lúcio d e M endonça.

47
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Para cada tese haveria um relator, encarregado de julgar o mérito científico das
monografias, comentá-las e coordenar os debates, ficando tam bém responsável pela
redação das conclusões sobre a matéria discutida nas sessões ordinárias. Tais conclusões
deveriam ser submetidas ao plenário, com vistas à aprovação e emissão de um parecer.
O evento seria antecedido p o r quatro sessões preparatórias, a fim de que
os relatores analisassem os trabalhos inscritos e redigissem as respectivas
apreciações críticas. Para d ar conta da extensa p auta de estudos, estipulou-se a
realização de doze reuniões ordinárias, além das solenidades de ab ertu ra e de
encerram ento. Finalmente, previa-se a publicação dos A nais do Congresso,
com registros das atas das sessões, as m onografias apresentadas, as sínteses dos
relatores, b em com o as conclusões finais.
A program ação do In stituto recebeu m enção especial do m in istro da
Justiça, o Dr. Epitácio Pessoa, no seu Relatório de atividades apresentado ao
presidente da República em 1898. Além de reconhecer-lhe o valor acadêmico.
Sua Excelência fez questão de salientar os m éritos da cuidadosa organização:

(...) 0 Instituto consagra sua maior atividade na realização do Congresso Jurídico


Americano, com o qual vai dar realce e excepcional interesse à comemoração do
4° centenário do descobrimento do Brasil. (...) A idéia (...) o mais franco
acolhim ento dos governos da União e dos Estados que nom earam seus
representantes, bem assim de todos os Tribunais de Justiça, faculdades de Direito,
Ministério Público, Institutos Jurídicos e notáveis jurisconsultos pátrios. (...) O
Governo Federal, por este Ministério, tem feito tudo que é possível para que esse
Congresso possa cumprir sua alta Missão. (...) O ato de convocação, eregulamento
e 0 questionário estãojá publicados e mereceram a maior aceitação dos profissionais
edaimprensa.^^.

Adiante, transcrevem os as questões que deveriam ser alvo de reflexão


d u ran te o Congresso. Cabe de pronto esclarecer que não é da nossa intenção
fazer u m a análise técnica a respeito do tem ário pro p o sto pelo lOAB, nem
pretendem os discutir aspectos doutrinários em um a obra desta natureza, o que
certam ente deverá ser objeto dos especialistas. N o m o m en to im porta-nos tão-
som ente identificar quais os tem as e/o u problem as nacionais eleitos pelos
ju risc o n su lto s p ara exam e, e estab elecer algum as artic u la çõ e s e n tre tais
proposições e o contexto político, econôm ico e social da época.

Brasil, Relatório d o m in is tro da Justiça Dr. Epitácio Pessoa, relativo ao exercício d e 1898, p. 115.

42 m àB
V o lu m e > ( ) IO A R na P t i n i c i u R(.‘púl)liCci

Q uadro n° 3
lOAB, CONGRESSO JURÍDICO AMERICANO: Q UESTIO NÁRIO
DE DIREITO PÚBLICO.

1. É admissível, em face dos princípios, a doutrina da um a soberania divida entre Estado


Federal (União) e os Estados Federados (m embros da União).
2. A dm itido o princípio da unidade do Direito privado, é justificável o sistem a da
diversidade do processo, cabendo à União e aos estados a competência para legislarem
sobre este assunto segundo as regras estabelecidas na Constituição Nacional?
3. A forma federativa exige dualidade paralela da Justiça federal e das Justiças dos estados,
ainda que tenha sido m antido o princípio da unidade do direito privado? Dado o sistema
de Justiça dual estabelecido pela Constituição brasileira, as justiças locais são absolutas nas
decisões sobre matéria de sua competência, ou estão sujeitas e, dentro de que limites, à
revisão do Supremo Tribunal Federal?
4. Há atos de administração, ou de governo que escapem à apreciação do Poder Judiciário?
N o caso afirmativo qual o princípio que dever de critério?
5. O impeachment do presidente da República c um a simples medida política? Nesse caso
pode a pena consistir, além da perda do cargo, na incapacidade para exercício de quaisquer
outros cargos políticos? Deve responder a impeachment o presidente que renunciou o cargD?
6. Pode um a I^ei ordinária federal vedar aos Estados e Municípios a emissão de títulos ao
portador, quando estes títulos representem obrigações verdadeiras o u simuladas, de exíguo
valor pecuniário e sirvam para exercer a função de m oeda liberatória divisionária?
7. Os Estados federados e seus m unicípios podem c o n trair em préstim os em país
estrangeiro sem autorização do governo nacional? (..) Manifestada a insolvéncia do estado
o u m unicípio devedor e o em préstim o w ntraído sem a garantia ou autorização do governo
nacional, que direitos poderão ter contraste os credores prejudicados? No caso de ter sido
o em préstim o contraído com a autorização daquele governo, qual é a sua responsabilidade,
e qua! a sanção positiva e prática para o cum prim ento das obrigações decorrentes do
contrato?
8. O princípio absoluto de não extradição do p róp rio súdito se com padece com a
assistência judiciária entre as nações e a boa adm inistração da justiça penal?
9. Dcve-se restringir o direito de asilo nos crimes políticos? Q uai a fónnula da restrição?
10. C onvém abolir a prisão celular? No caso negativo, com que condições deve ser
estabelecida para preencher os intuitos de u m bom sistema educativo e repressivo?
11. São convenientes, e em que casos podem ser adm itidas a condenação condicional e a
condenação indeterminada?

•Ai 43
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

12. Q ual o verdadeiro conceito do dolo crim inal e da culpa stricto sensu. H á graus
interm ediários entre o dolo e a culpa? É admissível o dolo nas contravenções?
13. Dada a diversidade de caracteres que a instituição do júri apresenta nos países que a
tem adotado e quais desses caracteres podém ser assinalados como essenciais?
14. Qual a maneira mais eficaz de combater, sob o ponto de vista preventivo, a mendicidade
e a vagabundagem? Quais são os fatos que precisamente devem ser considerados como
constituindo o delito de mendicidade e vagabundagem? Em que limites, e por que meios,
convém reprim ir fatos desta natureza?
15. C om o convém organizar os estabelecimentos destinados aos jovens que absolvidos
por se reconhecer que obraram discernimento?

No cam p o do D ireito Público, a m aio ria das proposições contem pla


problem as que perm earam o processo de institucionalização do regim e político
inaugurado em 15 de novem bro de 1889. Neste sentido, não seria exagero afirmar
que a República, d o m odo com o fora im p lan tad a n o Brasil, estava sendo
colocada em discussão pelo lOAB. Das quinze questões oferecidas, sete abordam
tem as referentes ao sistema de governo, ao m odelo de organização federativa e
à distribuição de poderes e responsabilidades entre a U nião e os Estados. Aliás,
no discurso que pronunciou na abertura do Congresso, o presidente do Instituto,
o D r. João Evangelista Sayão Bulhões de Carvalho, realçaria essa problem ática
com bastante ênfase, ao afirmar:

(...) A mudança do regime político me obriga a dizer alguma coisa sobre


federação, cuja natureza institucional e política é um a das partes mais
interessantes do questionário sujeito à deliberação deste egrégio Congresso.
(...) A federação fo i de fa to um a revolução em nosso direito público
constitucional. Creio, porém, e estou convencido de que há poucos brasileiros
de alguma cultura e experiência dos negócios públicos, que duvidem ainda
que ela teria necessariamente de vir como evolução do Direito, se a revolução
não tivesse precipitado o acontecimento.

Logo adiante, o Dr. Bulhões de Carvalho seria ainda m ais incisivo na


discussão que levanta sobre a m aneira com o foi introduzido o m odelo federalista
no país, arg um entand o que:

44 9ÀM
V o lu m e 5 O lO A l^ Hi! l’ i i i i K ‘iia R e p ú b lic a

(...) A federação, tal como hoje é explicada pelos publicistas e foi adotada no
Brasil, é realmente uma engenhosa criação dos ilustres americanos (...) na
convenção de Filadélfia (...). Quem for justo há de reconhecer que a Nação deveria
resolverprimeiro, segundo o seu sentimento jurídico, se lhe convinha ou não adotar
0 regime da federação. Resolvida a conveniência de adotá-lo, deveria

necessariamente também escolher a forma mais perfeita e bem definida^^.

O outro foco das atenções dos jurisconsultos n o âm bito do Direito Público


- m endicidade, vadiagem e delinqüência de jovens - tam b ém espelha um
problema contem porâneo: o em pobrecim ento crescente da população, decorrente
da conjuntura econômica adversa que o país atravessava. Revela, ainda, um a outra
questão de fundo, o u seja, os impasses advindos da incapacidade do m ercado de
trabalho de absorver a m ão-de-obra liberada com o fim da escravidão. Vejamos
agora o rol de assuntos propostos no âm bito do Direito Privado:

Q uadro n° 4
lOAB, CONGRESSO JURÍDICO AMERICANO:
QUESTIO NÁRIO DE DIREITO PRIVADO

1. As obras publicadas em u m país estrangeiro devem gozar da m esm a proteção que a lei
civil de outro país dispensa às obras neste publicadas?
2. A lei civil deve assegurar o cônjuge sobrevivente em direito sucessório sobre os bens do
predefunto, ainda que concorram parentes à herança?
3. Q uais as medidas a tom ar em relação aos pais dissidiosos.que descuram da sorte da
educação dos filhos e os abandonam aos perigos do ócio e da malandragem? Essas medidas
podem se estender até a privação, perm anente o u temporária, do pátrio poder ou a de
algum dos direitos que lhe são inerentes?
4. O homestead satisfaz m elhor do que a enfiteuse o aproveitam ento das teiras incultas?
5. Dissolvido o casamento p o r divórcio, segundo a lei pessoal dos cônjuges, qualquer
deJes pode casar-se de n w o em país onde o^divórcio não é admitido?
6. Q ual é a lei que deve regular a capacidade e o estado civil dos estrangeiros? A lei da sua
nacionalidade, ou a lei do seu domicílio?

Cf. João Evangelista S. B u lh õe s de C a r v a lh o ,“D iscu rso de a b e r tu ra d o C o n g re sso Ju ríd ic o A m e ric a n o ”. In:
A ssociação d o Q u a r to C e n te n á rio d o D e s c o b rim e n to d o Brasil. Livro do C entenária (15 00-1900). Rio de
Janeiro: Im p re n s a N acio nal, 1900; 1901; 1902, v. 1, p. 325-326.

•41 45
_____________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

7. Qual a lei que deve reger a formação, validade e efeitos de u m contrato ajustado por
correspondência entre duas pessoas que se acham em países diferentes, quando um a fez a
oferta e a outra aceitou?
8. A lei deve proibir, sob pena de nulidade, como contrária a m oral e aos bons costumes,
toda convenção sobre vendas a prazo, em que a intenção das partes seja som ente o
pagam ento da diferença, e não a entrega e o recebimento da aoisa vendida? Deve a lei
conceder ação a u m dos contratantes para repetir o que h o u \ç voluntariam ente pago?
9. Q ual deve ser a sanção da violação das regras atinentes à constituição das sociedades
p o r ações? A nulidade em absoluto, ou com restrições? O u deve a sanção consistir na
responsabilidade penal e civil dos fundadores e dos prim eiros administradores?
10. As formas principais de sociedade comercial são adaptáveis às sociedades cooperativas,
o u deve a lei para estas criar novas formas?
11. No caso de conflito de leis, qual delas deve decidir as questões que, relativamente às
letras de câmbio, se suscitarem: 1° sobre a capacidade das partes? 2° sobre a forma da letra
de câmbio? 3®sobre os efeitos das respectivas obrigações e a solidariedade dos co-obrigados?
4" sobre os pagamentos: 5° sobre os recursos?
12. A lei deve considerar a letra de câmbio só como u m instrum ento do contrato de câmbio,
ou com o u m instrum ento do contrato de câm bio e ao m esm o tempo com o u m título de
crédito, o u oomo um simples título de crédito independentem ente de todo contrato de
câmbio? São ODndições essenciais da letra de câmbio: 1° a remessa de u m lugar para outro?
2® a declaração do valor recebido? 3° a existência de provisão n o vencimento? 4° o endosso?
13. A cessão de bens deve ser substituída pelo instituto da falência, e s ^ u n d o as mesmas
norm as da falência comercial?
14. Devem-se admitir, com ou sem restrições, a unidade e a universalidade da falência? Aceito
o princípio da universalidade, qual é o juiz competente para proferir a sentença declaratória da
falência?
15. A lei deve adm itir a hipoteca marítima?

N o cam p o do Direito Privado, com o se pode perceber, a m aioria das


questões incide sobre controvérsias advindas da crise econôm ico-fm anceira,
que atingia o país desde o advento do Endlham ento. D entre os quinze quesitos
fo rm u la d o s, sete p riv ileg iam tó p ico s específicos, c o m o o rg a n iz aç ão de
sociedades anônim as, falência, hipotecas, pagam ento de dívidas. Poderíam os
incluir ainda neste con junto o item o que aborda a m endicância, o ócio e a
vadiagem , pois, n o fundo, tais problem as sociais tam bém decorriam daquela

46 màM
V o l u n u ' ,i O IOAI3 11.1 I’ l i n i c i i , ! Ri'|)Lil)lic a

crise. A esse respeito, é interessante frisar que os assuntos mendicância, ócio,


vadiagem, abandono e delinqüência de menores m ereceram atenção especial dos
organizadores do tem ário proposto pelo lOAB, já que deveriam ser focalizados
tanto sob a perspectiva d o Direito Público, quanto a d o Direito Privado.
As seis questões restantes, de u m m odo geral, expressavam novas dem andas,
derivadas das transform ações que o país experim entava na passagem do século
XIX para o século XX. Vejam-se, p or exemplo, as três teses que versam sobre o
casam ento de estrangeiros. T ratam de pro b lem as d ire ta m e n te ligados ao
crescim ento do fluxo de entrada de im igrantes europeus no Brasil, fenôm eno
que se intensificou nos anos subseqüentes à abolição da escravatura.
Observação semelhante pode ser estendida que aborda modelos de
concessão de direitos sobre terras incultas. O tópico estava relacionado com a
multiplicação de projetos voltados para a abertura e povoamento de novas áreas, com
base n o regime de pequeno e m édio estabelecimento rural, trabalhado pelos
proprietários e suas famílias. Via de regra esses projetos destinavam-se a programas
de imigração espontânea ou subsidiada®^. Diga-se de passagem, questão m uito
interessante, pois buscava cotejar o tradicional sistema de aforamento com a política
de distribuição de terras introduzida por Abraham Lincoln {Homestead Act, 1862) .
Já a tese que versava sobre a garantia do direito autoral, sabe-se que a
problemática fora introduzida pela primeira vez na pauta do lOAB pelo advogado,
escritor e jo rn alista V alentim M agalhães, em 1893. Ele criticou u m projeto
apresentado na Câm ara dos Deputados, regulam entando aquele direito e fixando
norm as sobre a propriedade literária e artística, sobretudo quanto ao tratam ento
dispensado a autores adventícios^*. A dem anda, portanto, não era nova. Provinha
de antigos e recorrentes protestos de autores e de editores portugueses jun to ao

Em 23 de s e te m b r o de 1 8 9 3 ,p o r e xem plo, o Jornal do C om m ercio pub licav a o seg u in te a n ú n c io , sob o títu lo


C o lo n o s d e E n c o m e n d a ; (...) E m presa C entral de Colonização - M a n u e l Ferreira Ponto, com escritório na
rua D ireita ti° 39, encarrega-se d e m a n d a r v ir colonos alemães, irlandeses, etc., co n firm e as condições, que
são patentes, (...). Cf. Jornal do C om m ercio, R io d e Janeiro, 23 d e se te m b ro d e 1893, p. 2.
Vale le m b r a r q u e e n q u a n t o o a fo ra m e n to era u m a p rá tic a d esenvolvida d e sd e o te m p o colonial, a política
d o hom estead, in a u g u ra d a p o r A b ra h a m Lincoln e m 1862, p revia q u e q u a lq u e r p e sso a c o m m a is d e vin te
e u m an o s, h o m e m o u m u lh e r q u e fosse respo nsável pelo su ste n to da família, p o d ia se c a n d id a ta r a u m
lote de te rra d e 160 acres c o n c e d id o pelo governo. O hoesteader era o b rig a d o a v iver n a te rra recebida,
fazer m e lh o ra m e n to s , c o n s tr u ir casa e m a n te r ativ id ade ru ra l p ro d u tiv a . Ao final d e cin c o ano s, dep ois
de c o m p ro v a re m s u a c ap a c id a d e de tra b a lh o , recebiam a p ro p r ie d a d e d a terra,
" O p rojeto foi a p resentado e m 7 d e ag osto d e 1893, assinado pelo d e p u ta d o A ugusto M o n ten e g ro , determ in ava
q u e os a u to re s e stran g e iro s d e v eria m c o n stitu ir p r o c u ra d o r legal n o Brasil p a r a fazer à q u e le d ire ito e
fixava o p ra z o d e d e z a n o s d e d u ra ç ã o d a p ro p rie d a d e in telectual a p ó s a m o r t e d o a u to r. V alentim
M agalhães c o n s id e ro u o p ro je to acanhado e incom pleto. C f V alentim M agalhães, “ D ire ito A u to ra l”. A
S e m a n a , Rio d e Janeiro, 26 de ag osto d e 1893, p.2.

47
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

governo brasileiro, no sentido de proibir a publicação e comercialização de obras


sem as devidas autorizações, livros piratas, por assim dizer.
Em síntese, os questionários preparados pelo lOAB refletiam aspectos bem
pontuais de problem as que afetavam a nossa organização política, econôm ica e
social. D onde se pode deduzir que a program ação oferecida deve ter suscitado
enorm e interesse não apenas entre os cultores e os agitadores do Direito, mas
tam bém ju n to às altas esferas da adm inistração republicana. M o rm en te porque
já se sabia de antem ão que o Instituto pretendia firm ar ju risprudência sobre
aquelas questões’^.
N os dias que precederam a abertura d o Congresso, a im prensa deu am pla
cobertura à iniciativa pioneira do Instituto. O ra publicando inform ações sobre
o andam en to das sessões preparatórias, ora divulgando notícias a respeito de
congressistas e personalidades envolvidas na jo rn ad a acadêm ica. A Gazeta de
Notícias de 29 de m arço de 1900, por exemplo, anunciava a chegada ao Rio de
Janeiro do desem bargador Francisco da C unha M achado, representante do
S u p erio r T ribun al de Justiça do M a ran h ão D ias depo is, o m esm o jo rn al
inform ava que o D r. Lisandro Segovia^^, em inente jurista de Buenos Aires, já
h av ia e n c a m in h a d o aos o rg a n iz a d o re s a su a c o n trib u iç ã o ao c e rta m e ,
respondendo a todas as teses de am bos aos questionários^^.
A cerim ônia de instalação do Congresso teve lugar n o salão da Biblioteca
do Real G abinete Português de Leitura, no dia 3 de m aio de 1900, d ata em que
se co m em o rav a oficialm ente o desco b rim en to d o B rasiF^. C o n to u com a
presença do presidente da República Cam pos Salles e do general Francisco M aria
d a C u n h a , en viad o especial do R eino de P o rtu g al às celebrações do IV
C entenário. A solenidade reuniu cerca de duzentos e quarenta convidados, entre
a u to r id a d e s fe d e ra is , d ele g ad o s d o s g o v e rn o s e s ta d u a is , m e m b ro s da

N o â m b ito in te rn a c io n a l, o te m á rio d o C on gresso ta m b é m a lc an ç o u b o a recep tiv id ade. N a cidad e d o


P o rto (P o rtu g a l), o jo rn a l O Com m ercio do Porto p u b lic o u -o e m 26 d e ja n e iro d e 1900. T a m b é m foi
d iv u lg a d o c m Lim a, (P eru), n o p e rió d ic o A/iVj«za Liberal e m 29 de m a rç o d e 1899. Cf. l O A B , d e
1901, Rio d e Janeiro: Im p re n s a N acional, p.35-39.
Ver, re sp ec tiv a m e n te , G azeta de Notícias, R io de Janeiro, 29 de m a rç o de 1900, p. 2. G azeta de N otícias, Rio
d e Janeiro , 19 d e ab ril dc 1900, p. 1.
Cf. “A p ênd ice c o n te n d o as respostas dad as aos q u e stio n á rio s de D ire ito P ú b lico e P rivad o, pelo Dr. Lisandro
Segovia”. lOAB, Congresso Jurídico Am ericano. R io de Janeiro: Im p r e n s a N acio nal, v.3, 1901, p. 327-342.
” A p e sa r d o s p ro te s to s d o I n stitu to H istó ric o e G eográfico B rasileiro, q u e ba se a d o n a C a r ta d c P ero Var de
C a m in h a afirm av a q u e a e s q u a d ra p o rtu g u e s a a p o r to u n o Brasil e m 22 d e ab ril d e 1500, o d e sc o b rim en to
era celeb rad o o ficialm ente n o dia 3 d e m aio. A c o m e m o ra ç ã o d a e fe m é rid e na d a ta c o rre ta só veio a ser
alterad a e m 1949, apó s a realização d o IV C o ng resso de H istó ria N acional, d e vido à iniciativa d o d e p u ta d o
A u re lin o Leite.

48 •àB
V o lu m t ' 5 O l ( ) / \ [ ^ n a Pi i m c i r a R c p ú l i l i c ,1

m agistratura, diplom atas e parlam entares, representantes das Faculdades de


Direito e da Associação dos Advogados de Lisboa.
Coube ao próprio presidente do lOAB, Dr. João Evangelista Sayão Bulhões
de Carvalho dirigir os trabalhos da jornada científica, que teve com o secretário-
geral o Dr. Sá Vianna. Realizaram-se treze reuniões ordinárias, p o rtan to um a a
mais do que previa a program ação original. A m édia de freqüência diária às sessões
girou em to rno de cento e cinco congressistas dos quais treze estrangeiros^^, o
que dem onstra um a resposta positiva dos advogados à convocação do Instituto.
Inscreveram -se vinte e nove m onografias. Foram abordadas vinte dentre
as trin ta teses form uladas nos dois questionários distribuídos. Os jurisconsultos
deram preferência ao exame de tem as de Direito Público, com destaque para
aqueles que privilegiavam o sistema de governo federativo. Basta dizer que as
questões de núm eros 1, 2 e 3 m ereceram cada qual três dissertações de autores
diferentes. Já n o que diz respeito ao elenco de Direito Privado, som ente oito
quesitos despertaram a atenção dos especialistas, sendo que a m aior incidência
de contribuições recaiu sobre a problem ática das form as de d istribuição e
aproveitam ento de terras incultas, contem plada p o r quatro estudiosos. Ao final
do capítulo, o leitor encontrará um quadro, com os nom es dos autores cujos
trabalhos foram publicados e o registro das respectivas dissertações, de acordo
com a num eração estipulada nos questionários.
Ao longo das treze sessões de trabalho, a plenária debateu e votou quatorze
teses, deixando de discutir seis, por absoluta falta de tempo. Ficou acordado, porém,
que os relatórios seriam publicados, juntam ente com as monografias^’ . À guisa de
informação, transcrevemos algumas das resoluções mais im portantes do Congresso.
No d o m ínio do Direito Público, dentre outras deliberações, concluiu-se
que a soberania sendo suprema expressão da integridade nacional é indivisível, e
por isto nas repúblicas federativas está integralmente na União {questão n° 1).
Prevaleceu, entre os jurisconsultos, a idéia da unidade da magistratura para a
aplicação da Lei na União e nos Estados, sendo declarado que a form a federativa
não exigia a dualidade paralela da Justiça Federal e da Justiça dos Estados, desde
que fora m antido na Constituição o princípio da unidade do Direito Privado
D e n tre os congressistas estran ge iros, desta c a vam -se os Drs. João V itorio P a re to (A ssociação d os A d vogados
de Lisboa); Salinas Veiga (B olívia), C o n d e A n tonelli (Itália), Barão d e la B arre e Juan C a p p lo n c h y
P u e rto [E span ha), Olkey J o h n so n (E U A );L isan dro Segovia, Angel P izarro, E leo d o ro Lobos. D a rd o Rocha
e R ic ard o Aldao (A rg e n tin a ).
N ã o fo r a m v o ta d a s as teses d e n ú m e r o s 8, 12, 13 e 14, d o q u e s tio n á r io d e D ire ito P ú blico. O m e sm o
o c o rre n d o c o m as teses d e n ú m e r o s 4 e 8 d o q u e stio n ário de D ire ito P riv ado . Cf. lO AB, Congresso Jurídico
Am ericano, v. 1, o p . cit., p.264.

•Al 49
_____________ Historiada
Ordem dos Advogados do Brasil

{questão n°3). Do m esm o m odo, entendeu-se que os Estados e os M unicípios


podem contratar empréstimos com o estrangeiro sem o consentimento da União,
não tendo porém esse contrato o caráter de internacionalidade, nem podendo ter
como garantia qualquer parte do território nacional... (questão n°7). Declarou-
se que o impeachment do presidente da República é u m a simples m edida política;
que 0 Senado no caso de uma sentença condenatória deve limitar-se a impor como
pena a destituição do culpado, e que não pode ser submetido a im peachm ent o
presidente depois de renunciar ao cargo (questão n° 5)?*.
N a esfera do Direito Privado, dentre outras deliberações, definiu-se que É
a lei do domicilio a que deve regular a capacidade civil do estrangeiro (questão n°
5), predo m inand o entre os congressistas a interpretação p roposta p o r Teixeira
de Freitas, n o seu Esboço do Código Civil. D ecidiu-se que o direito de asilo nos
crim es políticos não se deve estender ao crime com um preponderante ou distinto
na classificação do Direito, ainda quando praticado com fim político ou em
concorrência com o crime politico (questão n° 9). Assegurou-se, ainda, que as
obras publicadas em um país estrangeiro devem gozar da mesm a proteção que a
lei civil de outro país dispensa as obras neste publicadas (tese n° 15)^^.
Na sessão encerramento do Congresso, após a leitura e aprovação do relatório
final, foram apresentadas algumas m oções e votos de louvor. O grande destaque
foi a proposta encam inhada pelo desem bargador Francisco de Salles M eira e Sá,
n o sentido do ÍOAB encabeçar um a cam panha nacional, com a finalidade de
angariar fundos para erigir um m o num ento em hom enagem a Augusto Tebceira
de Freitas, (...) o príncipe dos nossos jurisconsultos (...) grande glória das nossas
letras jurídicas. Idéia que mereceu aclamação unânim e da plenária.
A m anifestação de apreço concretizou-se em 1905, q u an d o a corporação
dos advogados m a n d o u erguer a estátu a do ju risco n su lto . A ssinado pelo
a fa m a d o a rtis ta R odolfo B ernardelli, q u e a b riu m ã o inclusive d o s seus
h o n o rá rio s profissionais, o bronze de corpo inteiro foi fu n d id o em Paris e
in au g u rad o nas proxim idades do cam po de São D om ingos, em u m a praça
q u e t o m o u o seu nome®®. A so len id ad e p re s tig ia d a p elo p re sid e n te da
R epública R odrigues Alves e o m in istro d a Justiça José Joaqu im Seabra*',
Id e m , p.255-258.
” Id e m , p . 261-263.
“ O C a m p o d e São D o m in g o s , o n d e se situava a refe rida p ra ç a, c o rre s p o n d e à área q u e h o je e m dia se
este nd e e n tr e o C a m p o de S a n ta n a e a P raç a T iradentes.
*' Cf. Brasil, Relatório do M in istro da Justiça e Negócios do Interior, 1905-1906, p, 321 -322. N este d o c u m e n to ,
o m in is tro J.J. Seabra re p o rta -s e às p rov id ê n c ia s to m a d a s ju n t o à P refeitu ra d o D is trito F ederal e ao
M in isté rio da V iação e O b r a s Pú blicas p a r a u rb a n iz a r a refe rid a p ra ç a e v iab ilizar a ob ra .

50
V o lu m e ! C) l O A B n a F r i n i u i r a R ( ‘i ) ú l ) l i ( . .t

com pletou a reabilitação de Teixeira de Freitas n o In stitu to da O rdem dos


Advogados Brasileiros®^.

Q uadro n° 4
lOAB, CONGRESSO JURÍDICO AMERICANO: AUTORES E TESES.
Autor Categorias/ Q uestões Desenvolvidas
Direito Público Direito Privado
Dr. João Ftereira M onteiro Quesfões 1, 11 e III Questão VI
Dr. A maro Cavalcanti Questão 11
Conselheiro Aquino e Castna Questão III
Dr. Olkey Johnson Questão I
Dr. Francisco de Salles Meira e Sá Questão I e 11
Dr. Lúcio de Mendonça Questão 111
Dr.O Godofredo Xavier da Cunha Questão IV
Dr. Gabriel Luiz Ferreira Q uestão V
Dr. A ntonio de Paula Ramos Júnior Q uestão IX
Dr.Lisandro Segóvia Q uestão XIII
Dr. Carlos Leôncio de Carvalho Q uestão VII
D r. Alfredo Russel Q uestão II
Desembargador Francisco da Cunha Machado Questão IV
Dr. Clóvis Bevilacqua Q uestão V
Dr. João Vieira de Araújo Q uestão VIII
D r Solidônio Leite Q uestão XIV
Dr. Franklin Dória (Barão de Lcreto) Q uestão XII
Dr. D ídim o Agapito Ferreira Q uestão VI
Dr. E dm undo Muniz Barreto Questão VIII
Desembargador A. Bezerra de R. Moraes Q uestão X
Desembargador João da Costa Lima D m m ond Questão XII
Dr. A rthu r Pinto da Rocha Questão XIII
Dr. Eleodoro Lobos Q uestão IV
Dr. M anuel do N ascimento Fonseca Galvão Q uestão IV
Dr. João M artins de Carvalho M ourão Q uestão XIV

Fonte: Associação do Quarto Centenário do Descobrimento do Brasil. “Congresso Jurídico Ameri­


cano" Ifvro do OMíenário (1500-1900). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1900; 1901; 1902,3 v.
P o s te rio rm e n te , a e sc u ltu ra seria deslo c a d a p a ra a av en ida Beira-M ar, de fro n te ao Silogeu, e d e p o is p a ra a
avenida M arec h a l C â m a r a , o n d e até h o je se e n co n tra , e m fren te à sede d o I n s titu to e d a seccional da
O rd e m d o s A dv og ado s Brasileiros.

•41 51
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

52
V o lu m e 5 ü lO A B n.i P r im e ira R c |u 'ih iic a

Lucia Maria Paschoal Guimarães


Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira

Capítulo II
O Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros e a
belle époque tropical

1. N o S ilo ge u B ra sile iro

N o Relatório que apresentou ao presidente Rodrigues Alves, relativo ao


exercício 1903-1904, o m in istro da Justiça, D r. José Joaquim Seabra, m ais
conhecido p o r J.J. Seabra, dentre outros inform es, prestava esclarecimentos
acerca da construção de u m certo edifício público, que vinha sendo erguido na
praia da Lapa, nas proxim idades do Passeio Público. C om unicava que o prédio
deveria acolher qu atro instituições de grande projeção nos m eios literários e
científicos do D istrito Federal: a Academ ia Brasileira de Letras, o Instituto
H istórico e G eográfico e Brasileiro, a A cadem ia N acional de M edicina e o
Instituto da O rd e m dos Advogados Brasileiros.
Mais adiante, o m inistro explicava as razões que m otivaram a partilha,
salientando que a Lei n° 726, de 8 de dezem bro de 1900, dentre o utras benesses
concedidas à Casa de Machado de Assis, autorizava o governo a dar-lhe instalação
perm anente em prédio público^. Já a decisão, to m ad a p o r Sua Excelência, de
estender a regalia às dem ais entidades e abrigá-las naquele m esm o espaço,
m ereceu u m a ju stific ativ a m ais c irc u n stan ciad a , co m o se d e p re e n d e da
argum entação que se segue:

(...) promovendo a acomodação permanente dos dois Institutos e da Academia


de M edicina em prédio próprio nacional, atendeu o M inistério a meu cargo

' C o n sta q u e foi M ário A lencar, secretário d o m in is tro d a Justiça e N egócios In te rio re s, J. J, Seabra, q u e o
c on venceu d o p ro je to p a ra alo ja r a A cadem ia Brasileira de Letras.

9Ál 53
_____________ Historia da
O rdem dos Advogados do Brasil

aos relevantes serviços que essas antigas instituições prestam ao Estado, sendo
que 0 Instituto dos Advogados Brasileiros e a referida Academ ia são órgãos
de consulta do governo^.

D e fato. O In s titu to da O rd e m dos A dvogados B rasileiros desde a


retom ada das suas atividades em 1892, pouco a pouco, aproxim ou-se dos novos
p o d eres co n stitu íd o s, passan d o a d e se m p e n h a r fu n ç õ es de c o n su lto r do
governo, tal com o costum ava a tu a r em relação aos gabinetes im periais do
Segundo Reinado. Em 1901, p o r exem plo, o lOAB recebeu a convocação da
C âm ara dos D eputados para exam inar o novo pro jeto de C ódigo Civil, que
tram itav a n o Legislativo^. A pedido do m inistério da Justiça, apresentou um
plano (...) perfeitam ente concebido e de fácil execução, para se edificado o Palácio
da Justiça. P a rtic ip o u , ain d a, do s tra b a lh o s da co m issão in c u m b id a de
organizar o C ódigo de Processo Civil e C rim inal, sendo ali representado pelos
sócios Drs. João Evangelista Bulhões de Carvalho, C arlos A ugusto de Carvalho
e Am aro Cavalcanti**. Ainda no âm bito dos trabalhos regulares que desenvolvia
ju n to ao governo, a corporação dos bacharéis, a p a rtir de 1897, to rn ara-se
responsável, oficialm ente, pelo patrocínio dos réus pobres. Os serviços da
Assistência Judiciária do D istrito Federal funcionavam , inclusive, nas próprias
dependências do Instituto, u m a casa alugada n o centro da cidade, à ru a da
C onstituição n° 43.
De m ais a mais, o lOAB, durante a passagem de R odrigues Alves pela
presidência da República, dera expressivas provas de apoio às autoridades
constituídas, em especial ao m inistro J. J. Seabra. M anifestou-se favorável ao
D ecreto n ° 939, d e 29 de d ezem bro de 1902, q u e alte ro u a o rg anização
adm in istrativa d o D istrito Federal, e concedeu am plos poderes ao prefeito
Pereira Passos para prom over u m conjunto de reform as urbanas, qu e incluía a
m odernização do p o rto e a remodelação da cidade, com a construção de grandes
avenidas e edifícios públicos^. C om o se sabe, o plano das reform as não visou

^ Brasil, Relatório do M in istro da Justiça e Negócios do In terio r José Joaquim Seabra, 1903-1904, p, 321-322.
’ Ver, lOAB, A ta s das reuniões da Com issão Revisora do Projeto de Código Civil. R io d e Janeiro: Im p ren sa
N acion al, 1906 (p u b lica ç ão a u to riz a d a pelo M in is tro d o In terior, E xm o . D r. Felix G aspar).
'* Brasil, Relatório do M in istro da Justiça e Negócios do In terio r José Joaquim Seabra, 1904-1905, p. 130-131.
* S ob re o p r o g r a m a d e re m o d e la çã o d o Rio d e Jan eiro, ver, d e n tre o u tro s , Jaim e L a rry B en chim ol. Pereira
Passos: u m H au ssm a n tropical: a renovação u rb a n a d a cidade do Rio de Janeiro no inicio do século XX. Rio
de Janeiro; Secretaria M u n icipal e C u ltu ra, D e p a rta m e n to G eral d e D o c u m e n ta ç ã o e In fo rm a ç ã o C ultural,
D ivisão de E d itoração, 1992. Ver, ta m b é m , A m érico Freire. U m a capital p a ra a República: p o d er fed era l e
forças políticas locais no R io de Janeiro na virada pa ra o século X X . R io d e Janeiro: E d ito ra Revan, 2000.

54 m àM
V o lu n u * C) l O A H n<i f r í H H - i i c i í \ ( ' [ ) u l ) l i c . i

apenas o em belezam ento da capital do país, livrando-a dos andrajos coloniais.


Elegeu o ideal do progresso^, com o objetivo coletivo da ordem republicana.
Nas palavras do poeta Olavo Bilac: O Brasil entrou - e já era tempo - em fase de
restauração do trabalho. A higiene, a beleza, a arte, o conforto já encontraram
quem lhes abrisse as portas (...) O Rio de Janeiro, principalmente, vai passar e já
está passando por um a transformação radical. A velha cidade, feia e suja, tem os
seus dias contados^.
Entusiasm ado com a m odernização, p o r certo, o poeta se esqueceu dos
m étodos pouco ortodoxos utilizados p o r Pereira Passos p ara im plem entá-la.
N a consecução do program a de obras, que ficou conhecido com o o Bota-Abaixo,
o prefeito notab ilizo u -se pelo d esc u m p rim e n to de dispositivos legais, no
processo de desapropriação e dem olição das casas condenadas da área central
do Rio de Janeiro. A p ar disso, o despejo da população pob re que ali residia foi
m arcado p o r práticas violentas. Sobre esses assuntos, tal qual Olavo Bilac, o
Instituto p erm an eceu indiferente.
Do m esm o m odo, a corporação dos advogados esquivou-se dos debates
que precederam a votação da lei que tornava obrigatória a vacina contra a varíola
em todo o território nacional. Sabe-se que o projeto enfrentou grande resistência,
tanto da população de u m m odo geral, quanto do próprio legislativo, sob as mais
diferentes alegações. Havia m esm o quem considerasse inconstitucional o poder
público invadir o recesso dos lares, tanto para inspeção e desinfecção, quanto
para a remoção de doentes, o que era qualificado com o seqüestro. O utro ponto
dos mais controvertidos dizia respeito à aplicação da vacina, se p o r médicos do
governo, o u da escolha das pessoas, segundo o h isto riad o r José M urilo de
Carvalho*.
N ão vem ao caso en trar em m aiores detalhes sobre os desdobram entos
provocados pela prom ulgação daquela Lei, em 30 de o u tu b ro de 1904. Nem
trata r do projeto para regulam entá-la, preparado pelo m édico Oswaldo Cruz, e
que serviu de estopim dos levantes populares, seguidos da insurreição d a Escola
M ilitar, q u e c o n fla g ra ra m o Rio de Janeiro e n tre 11 e 18 de n o v e m b ro de
1904, e f ic a r a m c o n h e c id o s c o m o R ev o lta d a V a c in a . E n t r e ta n t o , é
i m p o r t a n t e p o n t u a r q u e o lO A B n ã o se p r o n u n c i o u s o b r e e s s e s

^ Cf. N ic o la u Sevcenko. Literatura com o missão: tensões sociais e criação cu ltu ral na Prim eira República. 2®
edição. São Paulo; Brasiliense, 1985, p. 30.
' O lavo Bilac, a p u d N ic o la u Sevcenko. Idem .
* Sobre a Revolta da Vacina, ver José M u rilo de Carvalho, “Q d a d ã o s ativos: a Revolta da Vacina”, i n ; , Os
bestializados: O R io de Janeiro e a República que não fo i. São Paulo: C o m p a n h ia das Letras, 1987, p.9 1 -í60 .

•Ál 55
_____________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

acontecim entos® . N em esboçou qualquer manifestação sobre a d u ra repressão


aos revoltosos, m ovida pelo m inistro JJ. Seabra, inclusive com prisões e desterros
para a selva am azônica.
Seja com o for, para o Instituto, a benesse concedida p o r J. J. Seabra respondia
a antigos anseios. Desde a sua criação, a Casa de M ontezum a vinha lutando para
conseguir acom odações próprias. Isto sem falar na perspectiva de trazer para a
futura sede a Biblioteca da corporação, que funcionava nas cercanias do foro.
Ademais, a construção que se erguia na praia da Lapa não era u m m ero
im proviso, o u u m a simples reform a de instalações já existentes. Diga-se de
passagem , fato m uito corriqueiro no serviço público. Tratava-se de u m (...)
palácio, seg u n d o a expressão de Olavo B ilac'°. O pro jeto concebido para
congregar em u m m esm o espaço os m ais expressivos redutos intelectuais da
c a p ita l d o país, d ig n o de fig u ra r n o n o v o décor u rb a n o im p o s to p ela
m odernização de Pereira Passos. Tanto assim, que o prédio situava-se num a
espécie de prolongam ento do centro recém -rem odelado e dava frente para a
Praça Paris. A iniciativa recebeu aplausos de personalidades da elite letrada.
Benjam im Franklin de Ramiz Galvão, o mais entusiasm ado com a idéia, resolveu
batizar a edificação de Silogeu Brasileiro. A expressão Silogeu, aliás, foi criada
pelo próprio Ramiz Galvão e significa casa onde se reúnem sociedades dedicadas
às letras e às ciências.
Nas fontes disp o n ív eis", não encontram os a data precisa da transferência
do Instituto e da respectiva biblioteca para a ala direita d o Silogeu^^. Tudo leva
a crer que ten h a se efetivado entre o fmal de 1905 e o com eço de 1906, pois no
Relatório do m inistério da Justiça relativo àquele exercício, n a listagem dos

’ De ac o rd o c o m Em ilia V iotti da C osta, P edro Lessa, 1908, e n ta o m in is tro do S u p r e m o Trib u n a l Federal, cm


u m estu d o so b re a in te rv e n ç ão oficial e m m a té ria de h ig ie n e pú blic a a rg u m e n ta v a qu e o (...) Estado não
só p o d ia com o d evia obrigar,pelo emprego da força m aterial, ao c u m p rim e n to d o preceito higiênico, eficaz e
inócuo, àqueles que p o r ignorância, p o r preconceito ou p or qualquer outro m o tivo inadm issível não satisfazem
esse d ever m oral. É d e se s u p o r q u e a o p in iã o d o lO A B n ã o fosse m u ito d ife re n te d a o p in iã o ex te rn a d a
p o r Lessa m e m b r o h o n o r á r io d a Casa. Cf. Em ilia V iotti d a C o sta , 0 S u p rem o Trib u n a l Federal e a
construção d a cidadania; org anização A lbino A dvogados Associados. São Paulo: lEJE, 2001, p. 40.
O lavo Bilac, “C rô n ic a ”. Kosmos, Rio de Janeiro, n° 4, abril d e 1905, p.4
" S o bre a p ro b le m á tic a d a s falhas n a d o c u m e n ta ç ã o d o lO A B .c f. P lín io D oy le, U m a vida. 2« ed ição. R io de
Janeiro: Casa d a Palavra: F u n d a ç ão Casa de R ui B arb o sa, 1999, p. 49-50. D oyle n a r r a q u e , ao a ss u m ir o
cargo d e p rim eiro -s ec re tá rio , n a déca d a de 1930, o rg a n iz o u to d a a d o c u m e n ta ç ã o d o grê m io , até en tã o
d isp ersa e m p a co tes e m b ru lh a d o s p o r velhos jo rnais. Revela, ta m b é m , q u e as atas eram lavradas em
fo lh a s soltas e não e m u m livro, com o é normal.
A A c ad e m ia Brasileira d e Letras instalou-se n o flanco e sq u e rd o d o SUogeu, e m 1905. Já o In s titu to H istórico
e G eog ráfico B rasileiro só ve io a se tra n s fe rir p a r a o p ré d io e m 1913, q u a n d o fo i erg u id a u m a ala n o v a
p a r a acolhê-lo.

56 •41
V o lu m e O IOAI-5 n a P r i m e i r a K c p ú h l i c a

próprios nacionais, consta o registro do Silogeu Brasileiro, com o edifício moderno


e ocupado’-^. Por outro lado, revendo a docum entação desse período, percebemos
que a plenária do lOAB m ostrava-se m uito envolvida na discussão de um
assunto, p o r certo bem m ais palpitante do que a m u d an ça para a nova sede:
tratava-se da proposta de admissão de um bacharel do sexo feminino, a advogada
M yrthes G om es de Campos.
Sabe-se que a criação das Faculdades Livres de Direito favoreceu o acesso
de m oças aos bancos acadêmicos. No âm bito do Instituto, em 1888, segundo
T ânia Rodrigues de Araújo, n a obrav45 mulheres na carreira jurídica, ensaiou-se
até u m breve debate se a m ulher graduada em Direito deveria o u n ão exercer a
m agistratura. C ontudo, o assunto não foi adiante, ao que parece, devido à forte
influência m açônica que dom inava a corporação na ép o ca'".
Na verdade, a querela em torn o da candidatura da Dra. M yrthes ao Instituto
iniciou-se em 1899. D iplom ada em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade
Livre de Ciências Jurídicas do Rio de Janeiro, na tu rm a de 1898, a jovem requereu
ingresso na classe dos sócios estagiários, um a categoria recém -criada no grêmio,
aberta aos bacharéis que tivessem m enos de dois anos de exercício na profissão'^.
Naquela ocasião, a Comissão de Justiça, Legislação e Jurisprudência pronunciou-
se a favor da candidata, considerando que:

(...) não se pode sustentar, contudo, que o casamento e a maternidade constituam


a única aspiração da mulher ou que só os cuidados domésticos devem absorver-
lhe toda atividade. (...) N ão é a lei, é a natureza, que a fa z mãe de família. (...)
liberdade de profissão, é, como a igualdade civil da qualpromana, um princípio
constitucional (...) a mulher casada sofre restrição na sua capacidade jurídica,
a mulher livre, não; esta tem a plenitude de todos os direitos que lhe.são inerentes,
mas a incapacidade da mulher casada não é absoluta, cessa com a autorização
marital (...) nos termos do texto do art. 72, § 22 da Constituição o livre exercício
de qualquer profissão deve ser entendido no sentido de não constituir nenhuma
delas monopólio ou privilégio, e sim carreira livre, acessível a todos, e só
dependente de condições necessárias ditadas no interesse da sociedade e por
Relatório do M inistro da Justiça e Negócios do Interior Felix Gaspar de Barros e Alm eida, 1905-1906, v. 6, p. 26.
C f T à n i a R o d rig u e s d e A raú jo , “As m u lh e re s n a c arreira ju ríd ic a ”. I n ; _________(o rg .) A j m ulheres na carreira
jurídica. Rio d c Janeiro; M a n a im , 2002, p. 85-86,
Em 1899, o lO A B p r o m o v e u a alteração d o s seus Estatutos in s titu in d o a categ oria do s sócios estag iário s. A
m e d id a foi to m a d a p a ra fazer frente às d e m a n d a s crescentes d o serviço d e A ssistência Ju diciária. Cf.
IOAB,Dfrtíwros a p ro v a d o s nas sessões d e 27 de abril, 4,12 e 18 de m a io d e 1899. Rio de Janeiro; Im p ren sa
N acional, 1899, p. 4-5.

57
_____________ História da_
Ordem dos Advogados do Brasil

dignidade da própria profissão; (...) o direito de advogar é um direito civil e,


portanto ninguém pode ser privado de exercer a advocacia se exibe título de
capacidade ou habilitação, sem que a lei tenha expressamente estabelecido as
causas de incapacidade, em que se achar compreendido; (...) não há lei que
proíba a mulher de exercer a advocacia e que, importando essa proibição em
um a causa de incapacidade, deve ser declarada por lei (...)’^

O parecer, m uito bem fundam entado p o r sinal, foi im pugnado pelo Dr.
Carvalho M ourão na plenária do Instituto. De nada adiantaram os esforços dos
sócios Barão de Loreto, Baptista Pereira e João Evangelista Sayão Bulhões de Carvalho,
m em bros da Comissão de Justiça, para reverter o quadro. As opiniões se dividiram
e a polêmica se instaurou. Melhor dizendo, deixou a sala de sessões do lOAB para
continuar nas páginas do Jornal do Commercio, com a pubHcação de um artigo,
assinado p o r Carvalho Mourão, em que repudiava a opinião dos confrades.
N o arrazoado, o jurisconsulto, dentre outras alegações, declarava que as leis,
(...) segundo o costume e a tradição, não perm itiam à m ulher exercer a profissão de
advogado - ofício que a lei romana classificava de viril. A rrem atando a censura,
fazia um a advertência aos três integrantes da Comissão de Justiça, p o r ousarem
adm itir que até m esm o a m ulher casada poderia advogar, quando autorizada
pelo m arido: (...) sejam coerentes; reclamem a abolição do poder marital (...) E
assim teremos um a sociedade sem autoridade, o ideal da anarquia no lar. A tanto
chega a virulência orgânica, inata, corrosiva, da opinião dos feministas'^.
As premissas levantadas p o r Carvalho M ourão acabaram prevalecendo no
lOAB e o parecer da Comissão de Justiça foi rejeitado pela assembléia dos sócios
p o r dezesseis votos contra onze^®. A Dra. M /rth es Cam pos, entretanto, mostrava-
se disposta a enfrentar os romanistas da corporação. Estabelecida com escritório
à rua d a Alfândega n® 83, conseguira ser adm itida no Tribunal do Júri, tom ando-
se assim a prim eira m ulher a exercer a profissão de advogada n o Brasil‘S De
qualquer m odo, a questão permaneceu latente, sendo retom ada com vigor, alguns
anos m ais tarde, quando a Dra. Myrthes voltou a requerer ingresso na Casa de
M ontezum a, desta feita candidatando-se ao quadro dos sócios efetivos.
“ P arecer d a C o m is sã o d e Justiça. Legislação e J u risp ru d ê n cia d o lO A B ” e m itid o e m 6 d e ju lh o d e 1899,
a p u d “A m u lh e r e o exercício d a advocacia n o Brasil e m 1900”. Revista A JU R IS , n ° 5, P o r to Alegre:
Associação d o s Juizes d o Rio G ra n d e d o Sul, 1975, p.6-12.
'^ jornal do Com m ercio, R io d e J an e iro l ° d e d e ze m b ro d e 1899, a p u d “A m u lh e r e o exercício d a advocacia n o
Brasil e m 1900”. Id e m , p.12-35.
'*“A m u lh e r e o exercício d a advocacia n o Brasil e m 1900”. Id e m , p. 12,
Cf. T â n ia R o d rig u e s A raújo, op. cit., p. 86.

58 m àM
V o lu m e í C) IO A 1 3 n a l ^ r i m c i r a R c | > ú h l i t . t

A proposta deu entrada em 1905 e, ao invés de ser subm etida à apreciação


d a C om issão de Sindicância, encarregada de analisar os pedidos de adm issão
de sócios, sorrateiram ente foi rem etida à Com issão de Justiça, a pretexto de
dirim ir um a velha dúvida: se a m ulher legalmente diplom ada pode exercer a
advocacia. Os integrantes desta Comissão, p o r sua vez, protelaram o exame da
questão p o r sucessivas vezes, alegando os m ais diversos m otivos. A tal ponto,
que na sessão de 26 de abril de 1906, o D r. Joào M arques solicitou ao presidente
do Instituto que intercedesse ju n to à dita Comissão, nos term os regim entais, a
fim de que apresentasse o respectivo parecer^°.
R e a s c e n d e u - s e a p o lê m ic a . O s t r a d i c io n a i s a r g u m e n t o s d o D r.
C arv a lh o M o u rã o , m ais u m a vez, fo ram usados de e sc u d o p a ra aqueles
que se o p u n h a m à presença fem in in a na corporação. N o fu n d o , a discussão
servia tã o -s o m e n te de p re te x to p ara p o ste rg a r a decisão so b re o caso, po is
era fato qu e a D ra. M y rth es há m u ito q u e m ilitav a n o T rib u n a l. D e n tre
o u tr a s v itó ria s ali o b tid a s , em 1906, d e fe n d e ra e g a n h a ra u m a cau sa
im p o rta n te , d e r ro ta n d o u m p ro m o to r c o n sid e ra d o invencível. O c e rto é
q u e os deb ates a lo n g a ra m -s e p o r u m b o m te m p o , e u m a n o v a com issão
foi c o n s titu íd a p a ra so lu c io n a r o p ro b lem a.
Finalmente, após três meses de impasse, a Comissão de Justiça, Legislação e
Jurisprudência concluiu o óbvio, o u seja, de que (...) Não há lei que proíba a mulher
de exercer a advocacia. M esmo assim, a tese não foi aceita p o r unanim idade. Ao
ser subm etida à assembléia do lOAB, em 28 de ju n h o de 1906, recebeu aprovação
p or dezesseis votos contra dez, com voto em separado do Dr. Carlos de Gusmão^^.
O resultado, porém , não encerrava a dem anda da Dra. M yrthes. Apenas
abria cam inho para que o seu requerim ento de adm issão viesse a ser exam inado
pela C om issão de Sindicância. Mas o jogo prom etia novos lances, agora por
m eio de u m indicativo do Dr. Carlos de Gusmão, a respeito da m ulher casada
advogada^^ Tentava-se, deste m o do, ob stru ir a p au ta das sessões e deixar o
caso em suspenso, m ais u m a vez.

^'’ C f,IO A B ,“A ta d a sessão d e 03 d e a b ril d e 1906". Revista do lu stitu to da O rdem dos Advogados Brasileiros. Rio
d e Janeiro; Im p r e n s a N a cio nal, t o m o XVII, 1906, p.,*220.
Cf. lO A B , A ta d a sessão d e 28 d e / u n h o d e 3906. O p , cit„ p. 229. V otaram a fa v o r d a tese o s sócios; P r u d e n te
de M o ra is Filho, F á b io Leal, lo â o M arq u es, Solid ô n io Leite, T h e o d o r e M agalhães, F red e ric o Russel,
N o d d e n Pin to , P e d ro M o acy r, Sá Freire, C o elh o Lisboa, M o n te iro d e B arros Lima, V isco n d e d e O u ro
Preto , W ald em iro Soares, C u n h a Vasconcellos, Taciano Basílio e Lim a R o ch a. P r o n u n c ia ra m - s e c o n tra ,
o s d r s . Luiz d e C a s tro , B aeta Neves. C a rv a lh o M o u rã o , Soares B ra n d ã o S o b r in h o , P in to Lima, Viilela
dos San to s, Isaias G u e d es d e M ello, M o itin h o D ó ria e Q u e im a d o M o nte.
Cf. lOAB, “Ata d a sessão d e 5 d e ju lh o d e 1906’’. Idem , p. 232.

59
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Os partidários da presença fem inina n o Instituto, en tretanto, m ostraram -


se m ais diligentes d o que s u p u n h a m os seus adversários. O u m e lh o r, j á
conheciam suas estratégias. Os fem inistas d esen cadearam u m a verdadeira
operação de guerra. Em duas sem anas conseguiram obter o parecer favorável
da Com issão de Sindicância, arregim entaram forças e sub m eteram a proposta
da advogada à plenária do Instituto na sessão de 12 de julho de 1906. Os esforços
foram recom pensados. Basta dizer que com pareceram àquela sessão trin ta e
oito sócios. A assembléia aprovou p o r vinte e três votos contra quinze, o ingresso
da Dra. M yrthes Gom es de C am pos no quadro efetivo da Casa de M ontezum a^^.
P or outro lado, o estabelecim ento do Instituto n o Silogeu, onde tam bém
se localizavam agremiações congêneres, propiciou a ab ertu ra de novas frentes
de atuação. A proxim idade da A cadem ia N acional de M edicina ensejou a
apresentação de u m projeto de trabalho conjunto (,..)para o exam e e estudo dos
serviços médicos legais . O tem a foi considerado relevante, tendo em vista o
atraso de tais serviços no Brasil, e constituído u m com itê especial encarregado
de analisar a viabilidade da proposta^^.
A idéia da parceria parece ter sido bem recebida entre os discípulos de
Hipocrates. O presidente da Academia Nacional de Medicina, Dr. Azevedo Sodré,
fez questão de com parecer ao lOAB para assistir a u m a sessão ordinária e,
aproveitando a ocasião, convidou os advogados a participarem d a solenidade
de aniversário do tradicional reduto científico. A troca de gentilezas entre os
vizinhos do Silogeu prosseguiu, porém , lam entavelm ente, na docum entação
do Instituto não há maiores inform ações sobre o and am ento daquele projeto.
H á registro apenas da votação de um volum oso relatório, apresentado pelo
sócio D r. Isaías Guedes de Mello, com o diagnóstico da precária situação dos
serviços de m edicina legal n o país e sugestões para aprim orá-los^^.
R eco n h ecid o p elos órgão s do gov erno , a p la u d id o p o r sua atu ação
acadêm ica, prestigiado pela sociedade carioca e localizado n o Silogeu Brasileiro,
o In stitu to da O rdem dos Advogados não apenas rejuvenesceu., segundo as

“ lOAB, “A ta d a sessão d e 12 d e ju lh o d e 1906”. Idem , p. 233. A D ra M y rth e s G o m e s d e C a m p o s t o m o u posse


n o In stitu to n o d ia 19 d e ju lh o d e 1906. Sócia a tu a n te, in te g ro u diversas com issões d e estudos, destacando-
se n a defesa d e te m a s b a sta n te p olêm ico s c o m o a in stituiç ã o d o d iv ó rc io n o Brasil.
1 0 A B ,“A t a d a sessão I 9 d e a b r i l d e 1906". Idem , p . 218,
Id e m , p . 2 2 1. A p r o p o s ta foi aceita e m 26 d e a b ril d e 1906. In te g ra v a m o c o m itê o s associados, Z e fe rin o d e
Faria, le ã o M arq u es e Isaías G u e d es d e Mello. P o rém , os tra b a lh o s d o g r u p o s o fre ra m u m c erto retardo,
já q u e a d e m a n d a d a D ra. M y rth e s m obilizava as atenções d o s bacharéis.
lOAB, “A ta d a sessão d e 9 d e ag o sto d e 1906”, Revista do In stitu to da O rdem dos Advogados Brasileiros., op.
cit., t o m o XVII, p . 244,

60
Volume .) O lO A B na P r im c iia R c p ú l)Iic a

p alav ras d o D r. M o itin h o D ó r ia ^ \ com o tam b ém re a d q u iriu o seu lado


charm oso, por assim dizer. É bem verdade que nos prim eiros anos do século
XX os associados já não com pareciam m ais às sessões trajando casaca, camisa
de peito duro e gravata plastron, indum entária típica do Segundo Reinado. Em
tem pos republicanos, adotaram figurinos m ais leves e dem ocráticos, com o o
paletó de casem ira clara e o chapéu de palha, em bora nas cerim ônias oficias
continuassem a envergar vestes talares, privilégio concedido p o r D. Pedro II.
C o n v ite s p a r a p a r t i c i p a r de a to s cív ico s, s o le n id a d e s p ú b lic a s ,
inaugurações, banquetes e o u tro s acontecim entos do gênero faziam p arte do
c o tidiano do grêm io. C onvocado pelo presidente R odrigues Alves, o In stitu to
n o m eo u u m a com issão de sócios para assistir às festividades do dia 7 de
setem bro de 1904, q u an d o se in augu rou o eixo p rincipal da nova avenida
C entral, hoje Rio Branco, sím bolo da m odernização do país. Aliás, os filiados
d o lOAB p o d ia m ser v isto s com assid u id a d e nas recepções oficiais da
presidência da República. Isto sem falar nos fam osos banquetes oferecidos no
Palácio do Itam arati pelo barão do Rio Branco, titu la r da pasta das Relações
Exteriores. Festas, vale acrescentar, cujos convites eram d ispu tadíssim os pela
alta sociedade carioca, conform e revela o advogado e escritor R odrigo Octávio,
no livro M in ha s memórias dos outros " .
P or ocasião da C onferência Pan-Am ericana, realizada no Rio de Janeiro
em 1906, o Instituto além de ceder suas dependências e de receber convidados
internacionais, integrou-se à ciranda de hom enagens ao secretário de governo
norte-am ericano Elihu Root, principal personalidade estrangeira presente ao
evento, c o n ferin d o -lh e ain d a o título de sócio h o n o rá rio ^ \ A co rporação
tam bém se fazia n o tar em cerim ônias religiosas, concertos e exposições de obras
de arte , a exem plo da m o stra do fam oso p in to r p o rtu g u ê s José M alhoa
organizada pelo Real G abinete Português de Leitura, em 1906^°. C om o se vê, o
Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros ocupava lugar de destaque na
agitada vida social do Rio de Janeiro da belle époque.

Cf. A n to n io M o itin h o D ó ria , “ Relatório d o 1° Secretário”, In: lOAB Conferências e principais trabalhos do
ano de 1910. Rio d e Janeiro; Im p re n s a N acional, 1911, p .l8 1 .
Cf. R o d rig o O ctáv io , M in h a s m e m ória s dos outros. Rio de Janeiro; Civilização B rasileira; Brasília: INL,
1978/1979, V. 3, p. 129,
1 0 A B ,“Ata d a sessão d e 02 d e agosto d e 1906”,fievi5í(3 do In s liluto da O rd em dos Advogados Brasileiros, op.
cit-, to m o XV ll, p. 239.
lOAB, “Atii da sessão d e 5 de ju lh o de 1906”, Idem , p. 230, A esse respeito, c;)be le m b r a r q u e o rei de
P o rtu g al D. C arlo s 1 v isito u o atelier d e José M alh o a, e m abril d e 1906, o n d e foi a d m ir a r os trab alh o s
d e stin ad o s à e xposição n o R io d e Janeiro.

67
_____________ História da.
Ordem dos Advogados do Brasil

Mas as festas e amenidades, vez por outra, davam lugar a escaramuças jurídicas.
A questão levantada sobre o direito dos advogados e dos magistrados a tratam ento
especial, quando submetidos à prisão preventiva, ensejou um a disputa envolvendo
os sócios Drs. Carvalho Mourão, Lima D rum ond, N odden Pinto e Solidonio Leite^'.
Para Carvalho Mourão, a concessão de tal prerrogativa era inconstitucional^^,
ao passo que outros três jurisconsultos sustentavam tese oposta. A divergência se
encerrou com um parecer de Theodoro Magalhães, que acabou contentando a
gregos e troianos, ou seja, de que (...) a igualdade dos cidadãos perante a lei não
pode ser entendida em termos absolutos. Assim, concluiu o Dr. Magalhães, o
privilégio não deveria ser suprimido, mas sim estendido (...) a outras classes de
cidadãos como o médico, o banqueiro e o industrial (...) não há motivo para
exclusivismos e a medida deve ser geral, atenta as condições humilhantes em que fica
0 cidadão de certa importância e serviços, quando recolhido à detenção, f... j ” .
O u tra discussão m em orável girou em to rn o da questão se (...) é lícita
presença de símbolos religiosos nas dependências dos tribunais, perante os princípios
firm ados pela Constituição Federal. 0 assunto veio à baila a propósito da conduta
do juiz de direito da 5^ Vara C rim inal do Distrito Federal, q u e recolheu da sala
das sessões do jú ri a im agem de Cristo crucificado - atitude que foi duram ente
censurada pelo Dr. Pinto Lima, em sessão do Instituto^^.
As opiniões se dividiram . A C arta de 1892 estabeleceu, efetivam ente, a
separação entre a Igreja e o Estado. Neste sentido, havia quem tomasse o dispositivo
ao p é d a le tra . O u tro s re c o n h e c ia m o p rin c íp io , m a s n ã o aceitav am o
com portam ento do m agistrado, justificando que não se poderia desprezar a
tradição católica do país, Uma terceira corrente tentava conciliar as duas posições.
A discussão prosseguiu anim ada por um bom tem po, mas os jurisconsultos não
chegaram a um acordo, term inando por deixar a questão em aberto.
Aliás, o m esm o ocorreu em relação ao indicativo sobre a introdução do
divórcio n o Brasil. Tem a que, sem dúvida, desencadeou a m ais extensa e
disputada polêm ica n o lOAB, n o período aqui estudado. Basta dizer que superou
até o longo debate ali travado, a respeito do ingresso de m ulheres na corporação.
A contenda se iniciou n a sessão de 16 de m aio de 1907, q u an d o o Dr.
MarcíHo Teixeira de Lacerda, encarregado de estudar a questão, expôs o seu

lOAB, “A tas das sessões d e 9, 16 e 23 d e a g o sto d e 1906”, R evista do In stitu to d a O rd e m dos Advogados
Brasileiros, op. cit., t o m o XVII. p. 242-251.
" Idem , p. 249.
” Id e m , p . 251.
" lOAB. “A ta d a sessão d e 26 d e abril d e 1906”. Idem , p. 230.

62 •Ái
V o lu m e ) O l O A I ) n.) I ^ i i m c i i d K c p ú b l i c a

relatório, defendendo a necessidade da instituição d a lei do divórcio. O Dr.


M arcílio iniciou sua intervenção qualificando a causa de nobre e patriótica:

(...) Nobre porque representava a libertação do Prometheu acorrentado da


sociedade, 05 quais como o personagem da tragédia grega (...) clamam por
justiça epedem liberdade! (...) Mas tudo em vão, porque o vozerio estonteante
do preconceito dom ina o grito dos oprimidos e o egoísmo dos bem casados é
surdo às súplicas dos infelizes. (...) Patriótico, porque é a consubstanciação
de um a das mais altas aspirações nacionais (...) um desejo afagado pela
maioria da nação..

Mal havia p ron unciado essas palavras introdutórias, Teixeira de Lacerda


foi in terrom pido p o r intervenções dos sócios Esm eraldino B andeira e Pinto
Lima. A m uito custo, tantos foram os com entários, ele conseguiria levar adiante
a leitura e concluir seus argum entos. A resposta ao relatório veio de Pinto Lima:

(...) Sua Ex., diz o orador, dá como fim do casamento a cópula carnal, contra
isso protestava, pois aceitava a carapuça de bem casado sem que com isso
fosse egoísta; diz que o ftm do casamento é a troca de afeto, o convívio do lar
(...) a palavra casamento significa um laço indissolúvel e p or isso não pode
ser um contrato, que é temporário (...) O orador entra em várias considerações
para d em onstrar a inconveniência do divórcio, a que cham a u m m al
necessário, mas, como só um a minoria dele necessita, a maioria não pode ser
coagida a aceitá-lo; quais, pergunto serão os pais dos filhos de um a mulher
divorciada m uitas vezes e outras tantas casadas?^^

Ao final desta réplica, a sessão teve de ser in te rro m p id a , em face do


n ú m e ro de inscrições p ara apartes. In stalo u -se a co n te n d a, com a form ação
de dois p a rtid o s e a sala das sessões do In stitu to tra n s fo rm o u -se em u m a
aren a; de u m la d o , p e rfila ra m -s e os sócios favoráveis à in s titu iç ã o do
divórcio, ca p ita n ead o s p o r Teixeira de Lacerda; de o u tro , ag lu tin a ra m -se os
qu e eram c o n trá rio s, sob a lid eran ça de P into Lim a. N o p rim e iro grupo ,
ocu p av am posição de d estaq u e D eo d ato M aia, M yrthes G om es de C am pos,
Avelar B ran d ão e G astão V ictória. N o segundo, salientavam -se E sm erald in o

” IO A B ,“A ta d a sessão d e 16 d e m a io d e 1907”. O p .c it, to m o XVIII, 1907, p. 374.


^ Idem , p. 375,

63
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

B andeira, o V isconde de O u ro Preto, T aciano Basilic e O c ta d lio C âm ara.


Este ú ltim o , inclusive, declarava co m b a te r o divórcio s u ste n ta n d o -se na
d o u trin a filosófica de A ugusto Com te:

(...) p o r princípios utilitaristas; escudado no positivismo comtista repele as


conclusões da tese que (o divórcio) viria dar alforria à pretendida escravização
da mulher, porquanto no seu entender a incapacidade da m ulher casada é
decorrente do poder marital, (...) chama de utopia o fem inism o que pretende
dar à mulher outras funções que não as do lar^^.

As d u as facções se m o strav am igualm en te aguerridas e as escaram uças


p ro sseg u iriam , com réplicas e tréplicas a cada sessão. É bem v erd ad e que,
p o r esta ocasião, o tem a do divórcio and ava n a o rd e m d o d ia n o Rio de
Janeiro, d iscu tid o ta n to nas esquinas, q u a n to n o s salões m ais aristocráticos.
N ão se falava de o u tra coisa n a cidade, desde q u e a co n h ecid a revista Kosmos
co m eço u a p u b licar a novela A Divorciada, de C u n h a de Mendes^®.
Ao que parece, a desventura am orosa dos heróis da novela - Paulo Leão e
Arlinda, a divorciada, deram um novo ânim o à facção do Dr. Teixeira de Lacerda.
Eles conseguiram aprovar na plenária do lOAB u m indicativo, para que fosse
nom eada u m a comissão especial, encarregada de form ular u m projeto de lei,
com vistas à C âm ara dos D eputado s, (...) que estabeleça o divórcio com a
dissolução do vinculo conjugal, a ser encam inhado ao poder legislativo^^.
O certo é que a questão perm aneceu na p au ta de todas as sessões do
Instituto até o final de 1907, quando se estabeleceu um a espécie de trégua entre
os litigantes. A discussão foi suspensa em nom e de u m assunto da m ais alta
prioridade: a contribuição do Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros
aos festejos q u e o governo tencionava prom over em 1908, p a ra celebrar a
passagem do centenário da “A bertura dos Portos”.

" lOAB, "Ata d a sessão d e 27 d e j u n h o d e 1907”, Id e m , op. XX, p. 169,


Cf, Revista Kosmos, Rio d e laneiro, a n o IV, n°" 8 .9 , 10, de ag o sto , s e te m b r o e o u t u b r o d e 1907.
É inte re ssa nte o b s e rv a r q u e nas atas p u b lic a d as n o tom o^X X da Revista do In s tituto da O rdem dos Advogados
Brasileiros n ã o c o n sta esta delib eração . F o m os e n c o n trá -la n o s d o c u m e n to s m a n u s c rito s , e n tre os Livros
o rg a n iz a d o s p o r Plínio D oyie, aos q u a is já nos referim os. A d e lib e ra çã o foi to m a d a n a sessão d e 08 de
ag o sto d e 1908. Cf. lOAB, Livro das Atas dos anos de 1907, 1908, 1 9W , Ms,

64 • â b
V o l u m e .3 O I O A B n , i P i ' im c M r a R c p ú ! ) l i c : a

2. O P rim e iro Congresso Ju ríd ico B ra sile iro

A propósito de com em orar a passagem do centenário da “A bertu ra dos


Portos"^, o governo do presidente Afonso Pena decidiu realizar u m evento
portentoso no Rio de Janeiro, que deveria ocorrer entre 15 de ju n h o e 7 de
setem bro de 1908: a Exposição Nacional, m ais conhecida com o Exposição
N acional de 1908. A iniciativa despertou grande entusiasm o. A revista Kosmosy
um dos periódicos de m aior circulação na cidade, saudou o em preendim ento,
cuja organização fora confiada ao engenheiro M iguel C alm on d u Pin e Almeida,
m inistro da Indústria, M ação e O bras Públicas:

(...) Inútil será àizer que a exposição de 1908 virá assinalar um importante
acontecimento nesta parte da América Latina, concorrendo não só para que
se constate o grau de desenvolvimento das nossas indústrias em geral, como
servindo de eficacíssimo estimulo para os agricultores, industriais e artistas
de toda a espécie que vivem disseminados por toda a grande extensão
territorial do Brasil.

C om o se sabe, desde o século XIX, as cham adas Exposições Universais,


prom ovidas na Europa e nos Estados Unidos, serviam com o vitrines do progresso,
de m odo a celebrar as conquistas da civilização e inventariar as realizações do
engenho humano"’^. No Brasil, a iniciativa pioneira data de 1861, quando o governo
imperial decidiu organizar um a “Exposição Nacional”, a pretexto de preparar a
participação brasileira na m ostra que teria lugar em Londres no ano seguinte.
Sabe-se que o acontecim ento provocou forte im pacto na população. O escritor
M achado de Assis, em u m a das suas crônicas d en o m in o u -o /« fí 2 industrial‘s^.
" A títu lo d e c u rio s id a d e, vale acresc en tar q u e a c o m e m o ra ç ã o d o c e n te n á rio d a a b e r tu r a d o s p o r to s g e ro u
algum as contestações. S o b re tu d o q u a n d o n a A ssembléia Legislativa, o d e p u ta d o Eloy d e M ira n d a Chaves,
de São Paulo, a p re se n to u u m p ro je to d estin an d o u m a verba de q u in h e n to s co n to s d e réis p a ra a c o n stru ção
de u m m o n u m e n t o a D. João VI n o Rio d e Janeiro. O jo rn a lista M á r io B e h rin g fez u m a c a m p a n h a
c o n tra a estátua, a leg an d o q u e D. João, filho d e D. M aria I, deveria ser co n sid e ra d o assassino d e T ir a d e n tc s
- o p T o t o - m á r t i r d a in d e p e n d ê n c ia brasileira. Cf. M á r io Behring, “O m o n u m e n t o a D. Jo ão V I ” Revista
Kosmos. R io de Janeiro, a n o IV, n° 7, ju lh o d e 1907, p.34.
“ Idem , p. 47. Na m e sm a ocasião, o pe rió d ic o d e u p u b lic id a d e ao re g u la m e n to , ba ix a d o p e lo m in is tro , M iguel
C a lm o n . “ Bases p a r a a o rg a n iz a ç ã o d e u m a E x p o sição N a c io n a l e m 1908", q u e d e v e r ia o r i e n t a r a
con se c u çã o das atividades.
Ver, M a rg a rid a d e Sousa N eves, As v itrin e s rf o p ro ^ m s o .R io d e Janeiro: P U C /R J /D e p a rta m e n to d e H istó ria
(m im e o ) , 1986.
■” Ver, lu c ia M aria Paschoal G u im a rã e s, “ Exposições”, in: R o nald o Vainfas (org.), Dicionário do Brasil imperial.
Rio de Janeiro: E d ito ra O b je tiv a , 2002, p. 2 5 2 - 2 5 3 , _____________ ______________

65
_____________ Hi^fnria da
Ordem dos Advogados do Brasil

De qualquer m odo, a festa program ada p o r Afonso Pena não fugia à regra.
A idéia consistia na exibição de obras artísticas, bens n atu rais e pro d u to s
m anufaturados originários de todos os estados brasileiros, com o u m a espécie de
inventário da evolução da econom ia brasileira, desde que fora aberta ao m undo,
p o r assim dizer. Nesta m onum ental vitrine do progresso o foco m aior incidia sobre
a nova cidade do Rio de Janeiro, o cartão-postal da República. Para sediar o
certame, inspirado na grandiosidade das exposições européias, escolheu-se a praia
Vermelha, junto ao Pão de Açúcar, local onde originalm ente foi fundada a cidade.
Em m enos de um ano, construíram -se im ponentes edifícios e pavilhões
destinados a abrigar os exibiãores e respectivos produtos. M ontaram -se dois
restaurantes, u m teatro, cervejarias e cafés, e um a pequena via férrea para transportar
os visitantes. Consta que, certa feita, o presidente Afonso Pena, assustado com a
m agnitude e a sofisticação dos planos, teria com entado com o barão de Rio Branco,
“Dinheiro haja, senhor barão”, expressão que se to m o u popular entre os cariocas.
De fato, reportando-se à solenidade de abertura da Exposição, a im prensa
carioca não se cansava de elogiar a grandiosidade do projeto: (...) Parece-nos,
ainda, um sonho esse inesperado aparecimento da pequena cidade de palacetes
nas areias da Urca. Parece-nos um sonho esse alevantamento de pavilhões brancos,
facetados e rendilhadospela decorativa arquitetônica'^'^.
Mas, além da m ostra propriam ente dita, program ara-se a consecução de
atividades correlatas, todas direcionadas pará evidenciar a civilização e o progresso
alcançados pela jovem nação. Neste sentido, foram convocadas a d ar a sua
contribuição as sociedades científicas e acadêmicas, a exemplo do lOAB, da Academia
Nacional de Medicina, da Academia Brasileira de Letras, da Sociedade de Geografia
do Rio de Janeiro e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, sendo que este
último aproveitou a oportunidade para celebrar o centenário do advento da imprensa
no Brasil, iniciada logo após a Abertura dos Portos, com a fundação da Impressão
Régia em 1808. O Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, p o r sua vez,
concorreu para a festa program ando a realização de u m Congresso Jurídico.
Em novembro de 1907, por iniciativa do então presidente do Instituto, o Dr.
Inglez de Souza, começaram os preparativos da jornada científica, que mereceu os
aplausos do diretório da Exposição Nacional e recebeu a adesão de juristas de diversos
p o ntos do país. A reunião dos jurisconsultos estava prevista para o período
compreendido entre 11 e 20 de agosto de 1908, sendo que a data de abertura hom e­
nageava o octogésimo primeiro aniversário da criação dos cursos jurídicos n o Brasil.

** Cf. Revista K osm oi. R io d e Janeiro, a n o V, n ° 7, ju lh o d e 1908, p.5-7.

66 #1#
V o k im c ! ( .) I O A I 5 n<i l ^ i i n i c ’ iici R l ' | ) Ú I ) I í c a

A estrutura acadêmica do certame tom ou com o m odelo o Congresso Jurídico


Americano, evento semelhante, prom ovido pelo Instituto em 1900. A m pliaram -
se apenas os cam pos do Direito a serem abordados. As atividades se concentrariam
em torno de oito seções, a saber: Ensino Jurídico, Direito Constitucional Brasileiro,
Direito Internacional Público e Privado, Direito Civil, Direito Comercial, Direito
Criminal, Direito Adm inistrativo e Fiscal e Direito Processual.
Para cada seção designou-se um presidente, a q uem incum bia preparar as
respectivas questões a serem examinadas. Cabia, ainda aos presidentes das seções
escolherem os relatores responsáveis pela síntese dos trabalhos expostos e dos
debates, b em com o d a redação das conclusões, com vistas à apreciação da
assem bléia geral. Som ente após a aprovação das conclusões pela plenária,
poderiam ser anunciadas as deliberações a serem tom adas pelo Congresso.
Os organizadores m o n tara m u m questionário geral com sessenta e três
tópicos para dissertação, distribuídos pelas oito seções:

Q uadro n° 4
lOAB, PRIMEIRO CONGRESSO JURÍDICO BRASILEIRO,
QUESTIONÁRIO. Q UANTIFICAÇÃO DAS QUESTÕES APRESENTADAS
POR SEÇÃO, C O M OS RESPECTIVOS PRESIDENTES/AUTORES

SEÇÃO Presidente/Autor N° de questões


apresentadas
Ensino Jurídico Pedro Lessa 07
Direito Constitucional
Brasileiro Augusto Q Viveiros de Castro 06
Direito Civil Cons. Antonio Coelho Rodrigues 10
Direito Comercial Visconde de Ouro Preto 09
Direito Criminal Dr. Lima Drum ond 07
Direito Administrativo Dr. J.C. Sousa Bandeira 03
Direito Internacional Dr. D ídim o Agapito da Veiga 10
Direito Processual Dr. Eugênio de Barros Falcão de Lacerda II
TOTAL 63
Fonte: Quadro elaborado a partir das informações puWicadas no Relatório Geral dos Trabalhos
do Primeiro Congresso Jurídico Brasileiro. IQ \B , Relatório Geral dos Trabalhos do Primeiro
Congresso Jurídico Brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1909.

67
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Tal qual procedem os em relação ao Congresso Jurídico A m ericano no


prim eiro capítulo deste livro, não iremos fazer um a análise técnica do questionário
proposto, nem discutir aspectos doutrinários. Interessa-nos apenas identificar
quais as questões e/ou problem as eleitos p ara exam e pelos jurisconsultos,
estabelecendo algumas articulações com o contexto político, econôm ico e social
da época. Q uan do for o caso, pretendem os ainda cotejá-los com o tem ário do
certam e de 1900. Ao final deste capítulo, o leitor encontrará apensado u m quadro
com o registro de todas as questões formuladas p o r cada seção.
De u m m o d o geral, pode-se dizer que os organizadores do questionário
tam bém pareciam contagiados pela aura de euforia que m arcou a m ontagem
da Exposição Nacional. O tom crítico do tem ário de 1900 cedeu lugar a um a
concepção reformista, fruto do surto de m odernização que o país atravessava,
p o r certo. Aliás, percebe-se esta perspectiva no discurso p ro n u n c ia d o pelo
presidente do lOAB, na cerim ônia de ab ertu ra do conclave:

(...) Busquem os nas tradições nacionais, nas conquistas que temos feito,
morais, científicas, econômicas e sobretudo políticas, já que é impossível
separar o direito da política, im prim ir às nossas leis alguma coisa de novo, do
nosso próprio caráter e das nossas necessidades, segundo os reclamos que nos
vêem de todo este vasto território nacional...

C onsoante tais premissas, os organizadores dos questionários, n a m aior


p arte dos casos, evitaram levantar aspectos m uito pontuais de aplicação do
Direito. A exceção ficou p o r conta da pauta proposta para a Seção de Direito
C onstitucional Brasileiro, que privilegiou o exam e de artigos da C arta de 1892,
referentes às relações do poder executivo com o legislativo e da situação de
au tonom ia desfrutada pelo Distrito Federal.
Se, em 1900, o In stitu to havia q u estio n ad o o m o d o co m o o sistem a
federativo fora im p la n tad o n o país, em 1908 parecia aceitá-lo com o fato
consum ado, dispondo-se a contribuir para o seu aperfeiçoam ento. Isto pode
ser percebido na form ulação de tópicos com o o que contem pla a separação das
rendas federais e estaduais, que indagava se (...) a discriminação (...) tal como
consagra a Constituição Federal, consulta os interesses do país? Em caso negativo,
que modificações podem ser feitas neste assuntol^^
lO AB, Relatório geral dos trabalhos do Prim eiro Congresso Jurídico Brasileiro. Rio d e Janeiro; Im p ren sa
N a cio n al, 1909, p.48.
^ I d e m , p. 20.

68 • â m
V o l u m e .5 ü l ü A R nd P rim e ira R e p ú b lic a

P ro c u ra ra m -s e id e n tific a r aspectos do a p a re lh a m e n to ju ríd ic o q u e


necessitavam de urgente atualização, a exemplo do Código Comercial, que datava
de 1850, ten d o em vista as novas expectativas sociais e econôm icas do país, que
então se percebia em franco progresso. A esse respeito, na Seção de Direito
Comercial, dentre outros exemplos, é bem significativa a pergunta: (...) se o
estado atual e desenvolvimento provável dos meios de transportes, quer dos de
transmissão do pensamento, exigem reformas, e quais, na legislação comercial?‘^'^
(o grifo é nosso). A m esm a preocupação se pode constatar, n a Seção de Direito
Processual, com a questão: (...) Quais as reformas a introduzir-se no sentido de
tornar mais expedito o processo judicial, abolindo fórm ulas e termos inúteis,
principalmente no que diz respeito à execução de sentençasV^.
Mas, atingir o alm ejado binôm io m odernização e progresso significava,
tam bém , ro m p er com velhos costumes patriarcais da sociedade. Neste sentido,
assuntos com o a igualdade entre os cônjuges nos direitos civis e de fam ília e a
instituição do divórcio, tam bém fizeram parte da agenda dos jurisconsultos'*^.
M uito em bora, seja flagrante o tratam ento cuidadoso, com que se procurou
enunciar a questão sobre o divórcio: (...) No estado atual dos costumes será
necessário admitir-se o divórcio ou bastará o remédio da separação de corpos e
bens, aos cônjuges desunidos? N o primeiro caso, que restrições lhe deverão ser
impostas^.^^
Grosso modo, pode-se dizer que o tem ário dividiu-se entre questões de
natureza reform adora e proposições de caráter conceituai e d ou trinário. Nesta
últim a categoria, sobressaem -se as perguntas oferecidas pela Seção de Direito
Internacional, onde, dentre outras, lê-se: (...) Pode ser o direito internacional
privado considerado parte do direito internacionalpúblicoí^' O u, ainda, na Seção
de D ireito Civil, o tópico em que in q u iria se (...) Subsistem as razões que
determ inaram a distinção corrente entre o Direito Civil e o Direito ComerciaP.^^
Q u a n to à Seção d e E n sin o Jurídico, a p a u ta c a ra c te riz o u -s e pela
objetividade e pode ser entendida com o um a tentativa de diagnóstico sobre a
form ação profissional dos bacharéis: abrangeu desde a natureza dos exames
preparatórios até a questão do equilíbrio entre os estudos teóricos e a parte
prática, passando pela análise dos currículos, program as e estratégias de ensino
Idem , p. 9.
" Idem, p . 12.
” Idem , p .8.
Idem, ibidem .
Idem, p. 11.
Idem, p.7.

•á i 69
_____________ História da
Ordem dosA dw gados do Brasil

utilizados nos cursos de Direito. A rrem atando esse conjunto de itens, sugeria-
se, para dissertação, o seguinte tema: Da decadência dos cursos jurídicos e dos
meios para combatê-la^^.
O Prim eiro Congresso Jurídico Brasileiro iniciou-se em 11 de agosto de
1908, n o teatro da Exposição Nacional, cercado de p o m p a e circunstância, com
a presença do presidente da República, acom panhado de todo o m inistério,
sendo o barão do Rio Branco, m uito aclamado pelo público que lotava o teatro,
segundo consta em a ta ^ . Suas Excelências dirigiram -se ao cam arote central e
cum pridas as form alidades de praxe, um a orquestra de sessenta professores,
regida pelo m aestro Alberto N epom uceno, executou o H ino Nacional. Os
trabalhos da sessão inaugural foram conduzidos pelo m inistro da Justiça, D r.
Tavares de Lyra.
C o m p areceram ao ato cerca de trezentas pessoas, e n tre au toridades,
representantes dos governos estaduais, congressistas e estudantes. A pós os
discursos do presidente e do o rad o r do In stitu to da O rd e m dos Advogados
Brasileiros, encerrou-se a cerim ônia de abertura, com u m a antiga tradição
d o s c u r s o s de D ire ito : os e s t u d a n t e s e n t o a r a m o H in o A c a d ê m ic o ,
ac om p anhado s pela o rquestra de A lberto N epom uceno^^. Vale lem brar que a
canção, escrita p o r C arlos G om es, era u m a h o m en a g em à fo rm a tu ra dos
bacharéis da tu rm a de 1859 de São Paulo, que costum avam prestigiar suas
apresentações naquela cidade. C onsta qu e o celebrado m úsico com pôs de
im proviso, sobre a letra de autoria de u m dos form ando s, o p o eta e futuro
político B ittencourt Sampaio.
Segundo o Jornal do Commercio, quando (...) os rapazes cantaram as últimas
estrofes d o H in o Acadêm ico e o público percebeu que ia terminar a cerimônia (...)
toda a gente afluiu para os melhores lugares de onde pudesse apreciar a queima
dos fogos de artifício, na encosta do morro da Urca^^. N ão se pode deixar de
reconhecer, que a solenidade de ab e rtu ra do P rim eiro C ongresso Jurídico
Brasileiro teve u m encerram ento apoteótico.
As jo rn a d a s acadêm icas se realizaram nas instalações da Exposição
N a c io n a l, e f o r a m a c o m p a n h a d a s p o r q u a r e n t a e o ito d e le g a d o s ,
e sp e c ia lm e n te d e sig n ad o s pelos g o vernos dos E stad o s e p o r ó rg ã o s da

Id e m , p.5.
lOAB, “Ata d a sessão in a u g u ra l”., Relatório geral dos trabalhos do Prim eiro Congresso Jurídico Brasileiro. Rio
d e la n eiro : Im p re n s a N acional, 1909, p, 29-30.
Ver a letra d o H ino Acadêm ico n o a p ên d ice ao final deste capítulo.
Cf. jo rnal do C om m ercio, Rio d e Janeiro 12 d e ago sto d e 1908, p. 2.

70
V o lu m e 5 O l O A B n<i P n n K ’ i r .1 R c ) ) ú l ) l i t \ i

m a g istra tu ra federal e estadual. Inscreveram -se, p o r co n ta p ró p ria , cento e


o iten ta e seis congressistas, en tre advogados e professores - rep rese n ta n tes
d as fa c u ld a d e s de D ire ito . N o q u a d r o a seg u ir, q u a n t i f i c a m o s esses
p artic ip a n tes de ac o rd o com os locais de origem :

Tabela n*’ 2
lO A B , C O N G R E S S O J U R ÍD IC O BRASILEIRO: D IS T R IB U IÇ Ã O
D O S CONGRESSISTAS DE A C O R D O C O M A O R IG E M

Origem N° de Representantes
Distrito Federal 128
São Paulo 11
Minas Gerais 10
Bahia 07
Pará 07
Estado do Rio de Janeiro 07
Pernambuco 06
Santa Catarina 03
Espírito Santo 02
Rio Grande do Sul 01
Rio Grande do Norte 01
Amazonas 01
Paraíba 01
Goiás 01
Total 186
Fonte: Quadro elaborado a partir das informações publicadas no Relatório Geral dos Trabalhos
do Primeiro Congresso Jurídico Brasileiro. IQAB, Relatório Geral dos Trabalhos do Primeiro
Congresso Jurídico Brasileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1909

Embora mais da metade dos congressistas inscritos por iniciativa própria fosse
oriunda do Distrito Federal, a diversidade de origem dos demais revela que o conclave
do lOAB obteve um a resposta positiva dos bacharéis de quase todos os rincões do
país. M orm ente se levarmos em consideração as distâncias, a precariedade dos meios
de transporte da época e os custos elevados das viagens. A exceção dos Estados do
Ceará, Sergipe, Alagoas, M ato Grosso, Paraná e Piauí, compareceram advogados de
todas as demais unidades da Federação. Por outro lado, sem querer m inim izar o

77
_____________ História da_
Ordem dos Advogados do Brasil

interesse científico desses jurisconsultos, o sucesso de público alcançado tam bém


deve ser creditado à curiosidade em torno da Exposição Nacional, que permaneceria
aberta à visitação até 7 de setembro de 1908.
De qualquer m odo, cabe registrar que as reuniões de trabalho, previstas
para se encerrarem a 20 de agosto, alongaram-se até o dia 31 daquele mês. Donde
se p o d e co n clu ir qu e o tem ário p re p ara d o pelo In s titu to gerou extensos
debates^^. E, o m ais im po rtan te, apesar do clim a de festa, deixou u m saldo
positivo à cultura jurídica nacional. D entre outras resoluções, ficou deliberado
que a cada dois anos deveria ser realizado u m evento similar, que reunisse os
jurisconsultos de n o rte a sul do território brasileiro. Decidiu-se, ainda, que o
próxim o encontro teria lugar na cidade de São Paulo.
Diferente do que ocorreu no certam e prom ovido pelo lOAB em 1900, o
Prim eiro Congresso Jurídico Brasileiro não em itiu pareceres, nem aceitou votos
de louvor o u m oções na cerimônia de encerram ento. Nesta sessão apresentou-se
apenas um a síntese dos principais pontos discutidos em cada Seção, sob a forma
de relatório, o qual foi lido pelo Dr. Inglez de Souza, presidente d o Instituto.
O exam e desse d o c u m e n to revela pistas interessantes, a respeito da
discussão de alguns dos temas abordados, que vale a pena fazer u m rápido
com entário. A com eçar pelo desencontro de opiniões acerca das causas da
decadência do ensino jurídico e os meios de combatê-las. E nquanto uns atribuíam
o fato ao estabelecim ento das Faculdades Livres, postulando a sua extinção,
outros defendiam -nas, sustentando o princípio da liberdade de ensino^®. Porém,
todos concordavam que as deficiências dos cursos de direito, em parte, refletiam
os problem as da péssim a organização do ensino secundário n o país^^.
Já a escaldante questão do divórcio, apesar de ter suscitado m em oráveis
debates, perm aneceu em suspenso. O Instituto, todavia, reconheceu (...) o
progresso da opinião divorcista, pois que em um a assembléia de legistas de todo o
país (...) 0 sufrágio se acentua no sentido da dissolução do vínculo conjugal nos
casos criteriosamente classificados(...)^°.

” D u r a n te to d o o C on g resso , d ia ria m e n te , o Jornal do C o tn m e r d o oferecia aos leitores u m b o le tim das


atividades, inclusive c o m a tra n scriç ão d o s p rin c ip a is a ss u n to s tra ta d o s nas Seções.
Esta q u e stã o v o ltaria a ser d e b atid a na p le n á ria d o In s titu to sucessivas vezes. F in a lm e n te , e m 1918, foi
d e lib e ra d o que; (...) só p o d e ria m fazer p a rle dos q u a d ro s d o lO A B os b a ch a ré is e d o u to r e s e m D ireito
q u e sejam o r iu n d o s das faculdades oficiais o u d o s e sta b e le cim ento s p a rtic u la re s a estes e q u ip arad o s.
Ver, lOAB, “Ata d a sessão d e 1° d e ago sto d e 1918”. Livro (íe Ams ( 1916-1919), Ms.
lOAB “A ta d a sessão d e e n c e rr a m e n to d o P r im e iro C o n gresso Ju rídico B rasileiro” Id e m , p.777-778.
Id e m , p .781-782. In felizm ente o rela tó rio n ã o identifica q u a is fo ra m essas situ açõ es e / o u circunstâncias.

72 #àm
V o lu m e í O l O A R Hei 1’ r i m e i m R e p ú b lic a

O relatório do Dr. Ingiez de Souza dem onstra que a jo rn ad a acadêm ica


caracterizou-se pela m ultiplicidade de idéias, pela diversidade de propostas de
reform as e pela busca d e alternativas de soluções para problem as práticos de
legislação e de jurisprudência, que respondessem às novas dem andas do país.
C onq uanto algum as das sugestões apresentadas fossem contraditórias, houve
um po n to em que a assembléia dos jurisconsultos alcançou a unanim idade: a
necessidade de se prom over a revisão da C onstituição de 1892, a fim de que a
m esm a não continuasse a ser interpretada com ofarisaism o doutrinário que a
vai tornando inapta para a satisfação das aspirações p o p u la re^'.

3. O fim da beIJe é p o q u e

Em 1910,0 primeiro secretário do lOAB, o Dr. Antonio Moitinho Dória, fez um


rápido balanço da trajetória da atuação da Casa de Montezuma desde a fundação até
aquela data, salientando suas principais contribuições à cultura jurídica nacional.
Lamentava, porém, que a partir de 1906, a divulgação dos seus relatórios anuais tivesse
sido interrompida®^, pois no seu entender (...) nas associações de caráter profissional
(...), a publicação dos fatos que provam a sua eficácia de vida> produz a convicção da
utilidade de sua existência e estimula o trabalho individual e coletivo em prol da Class^^.
Ao que parece, ele acreditava no dito popular de que a propaganda é a alma do
negócio. Tanto assim, que dentre outras providências, dispôs-se a dar publicidade não
apenas ao bom desempenho da corporação, relatando-lhe as atividades, mas também
a realçar a relevância e a abrangência do seu corpo social, integrado por personalidades
nacionais e estrangeiras. Recuperava, deste modo, um a prática introduzida por Manuel
Álvaro de Souza SáVianna, que quando exerceu as funções de Primeiro-Secretário
esforçou-se para m anter em dia as publicações do Instituto^.
Assim, dentre outras iniciativas, o Dr. M outinho D ória elaborou a relação
n o m inal de todos os filiados, com os respectivos locais de origem , de acordo
com classe a que pertenciam , em ordem cronológica p o r d ata de m atrícula.
N o quadro adiante, sintetizam os essas inform ações, contabilizando todos os
sócios m atriculados, segundo os m esm os critérios^-"':
Idem , p.777.
Esia p rá tic a foi in tr o d u z id a n a Secretaria p o r M an o el Á lvaro de Souza Sá V ianna.
Cf. A n to n io M o itin h o D ó ria , “ R elatório d o 1° Secretário”, In: [OAB Conferências e principais trabalJios do
aiio de 1910. Rio de Janeiro: Im p r e n s a N acional, 1911, p. 177,
" I d c m , p .l7 8 .
N o A nexo 2. o leitor e n c o n tra rá a relaç3o n o m in a l.

73
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Tabela n° 2
lOAB: CORPO SOCIAL, 1910

Origem/Categorias Honorários Correspondentes Efetivos Estagiários Avulsos Total


Brasil 11 84 194 18 20 327
Argentina 10 02 - 12
Peru 04 13 - - - 17
Uruguai 07 09 - - - 16
Chile 03 02 - - - 05
Paraguai 03 - - 03
Guatemala 07 - - - - 07
México 01 02 - - - 03
Portugal 06 - - - - 06
Itália 02 - - - - 02
Espanha 09 01 - - ' 10
Estados Unidos 01 - - - - 01

Cuba 03 - - - - 03

El Salvador 01 - - - - 01

Bolívia 01 - - - - 01

Venezuela - 02 - - - 02
Totais 69 115 194 18 20 416

Fonte: Q uadro elaborado a partir das informações contidas na publicação: lOAB Conferênáas
e principais trabalhos do ano de 1910. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1911, p. 401-419.

Em 1910, o Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros contava com 416


integrantes, sendo 327 nacionais e 89 estrangeiros. Estes núm eros demonstram um
expressivo crescimento do quadro social, sobretudo se levairnos em conta âpeiformance
alcançada no século XIX, que nunca ultrapassou a m édia de 50 associados. Se
descontarmos daquele total a categoria dos honorários, em que o título era concedido
pela notoriedade, o computo geral baixa para 327 sócios, o que ainda constitui um
indicador bastante expressivo, já que a filiação ao grêmio não era obrigatória.
N o que se refere à origem dos sócios, observa-se, n o caso dos estrangeiros,
a predom inância de países do continente americano. Isto reflete, de algum m odo,
a política de relações internacionais desenvolvida pelo barão do Rio Branco,
que ao assum ir o m inistério das Relações Exteriores, em 1902, deslocou o eixo
da diplom acia brasileira de Londres para W ashington.

74 9AB
V o k im e i O l O A B n a P v i m e i i a K e p ú b l i c <t

C om o é sabido, o Barão não m ediu esforços para integrar o país na cham ada
“irm andade” das repúblicas do Novo M undo, m inim izando o afastamento de
quase u m século, em virtude das instituições m onárquicas. Ao m esm o tem po em
que procurou projetar o país na com unidade internacional, em penhou-se no
fortalecimento da liderança brasileira nos assuntos latino-americanos^^. Um a
prova disto está na antecipação de Rio Branco, evitando que a A rgentina viesse a
sediar a III G^nferência Internacional Americana. O conclave realizou-se no Rio
de Janeiro, em 1906, com a presença do Secretário de Estado norte-am ericano
Elihu R oot e delegados de dezenove nações do co n tin en te . A lguns desses
representantes, a exemplo do próprio Root, foram adm itidos no lOAB como
m em bros honorários, m as houve outros bacharéis em Direito que p o r ocasião de
sua e stad a n o B rasil se a sso c ia ra m e s p o n ta n e a m e n te n a c a te g o ria dos
correspondentes.
Apesar de não freqüentar as sessões ordinárias do lOAB, de onde era sócio
honorário, não se pode descartar a influência que o ministro ali exerceu, em especial,
no processo de admissão de sócios estrangeiros. Via de regra, a proposta de ingresso
dessas personalidades partia de m em bros da cham ada coterie do barão^^, cujo
representante mais destacado no Instituto era o seu secretário, o Dr. Rodrigo Octávio
Langaard de Menezes^**. Donde se pode deduzir que tais indicações, p o r certo,
deveriam passar pelo crivo de Sua Excelência. O Dr. Rodrigo Octavio, por sinal,
deu continuidade a esta prática após a m orte de Rio Branco. Anos mais, quando
exerceu a presidência do Instituto (1916-1919), intensificou os trabalhos de
cooperação acadêmica no cam po do Direito Internacional, designando delegados
do lOAB para congressos, conferências e outros eventos afins ^ .
Ainda no que diz respeito à introdução de associados internacionais, não deve
ser esquecido o nom e do Dr. Sá Vianna, um a espécie de pioneiro n o intercâmbio
do Instituto com instituições similares da América Latina. Basta lem brar da sua

**Cf C lo d o a ld o B ueno, “ D a Pax B ritan n ica a té a h e g e m o n ia n o r tc -a m e ric a n a ” Estudos H istóricos, Rio de


lan eiro , 10 (20): 247, 1997,
''' Sobre os círculos d e sociabilidade, in sp ira m o -n o s nas premissas d o tra b a lh o d e M a c h a d o N eto . Ver, M ach ado
N eto A.L, Estrutura social da rcpública cias letras (S ociologia da v id a intelectual brasileira, 1870-1930).
São Pau lo :E d ito ra da USP: Editorial G rijalbo, 1973, p.27-28.
'■“M e s m o d e p o is d a m o r t e d o ba rã o d o R io B ranco, R o d rig o O c táv io d a ria c o n tin u id a d e a esse tip o de
in te rc â m b io pa n a m ericanista , por assim dizer. N a sessão d e 22 d e ju n h o d e 1916, p o i e x em p lo , ele
a p re s e n to u a p r o p o s ta dos seg u in tes adv o g ado s p a ra a classe d o s sócios c o rre s p o n d e n te s : os Drs. John
Bosset M o o re e Jam es B ro w n Scott (EUA); A n to n io Sanchcz B u sta m a n te e A n to n io G o n z ale z Peres
(C u b a ). Cf. lOAB, "Ata d a sessão d e 22 d e j u n h o d e 1916”, Livro d e A ta s { 1916-1919), Ms.
" C f , 10AB,"Ata d a sessão d e 27 d e a b ril de 1916”, Livro d e A ta s ( 1916-1919). M s. N e sts a ta h á o re g is tro do
Secretário d o 2° C o n g re ss o P a n a m e ric a n o a g ra d ec e n d o a p a rtic ip a ç ã o d o s sócios d o In stitu to .

•At 75
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

B arão d o R io B ranco. M in istro das relações exterio res, c o la b o ra d o r d o lOAB.

76
V o lu m e 3 O lO A B Hci P r i m e i r a R e p ú b l i c a

atuação no Congresso Jurídico Americano, convidando para o evento, dentre outros


ilustres advogados, o consagrado jurista argentino Dr. Lisandro Segovia^°.
No âm bito nacional, no quadro dos correspondentes, u m dos fatores que
deve ter contribuído para a sua am pliação foram os dois congressos jurídicos
prom ovidos pelo grêm io, que reuniram bacharéis de diversas regiões do país.
Q uanto à elevada quantidade de sócios efetivos, bem com o de estagiários, classes
em que era obrigatório o dom icílio na capital federal, os núm eros encontrados
refletem o prestígio que o Instituto desfrutava no p ano ram a intelectual, político
e social da belle époque do Rio de Janeiro.
E m m eio às n o ta b ilid a d e s d o q u a d ro de 1910, c u rio s a m e n te , não
encontram os o nom e do Dr. Rui Barbosa - o m aior expoente da cultura jurídica
nacional da época, figura de grande projeção na política e de expressão tam bém
no m u n d o das letras. Nossas pistas indicam que até 1911, quando to m o u posse
no quadro efetivo, a Águia de Haia e o Instituto freqüentaram cam pos políticos
opostos pelo m enos em duas ocasiões diferentes. A prim eira, em 1893. Nessa
ocasião, enquanto Rui estava a cam inho de um exílio forçado, perseguido por
Floriano Peixoto, o lOAB preparava-se para festejar o seu jubileu de o uro, com
recursos financeiros patrocinados p o r Floriano.
Anos m ais tarde, o quadro se repetiria, quando a corporação manifestou-se
favorável à prom ulgação da Lei que instituía a vacina obrigatória contra a varíola,
apoiando o presidente Rodrigues Alves e o m inistro J.J. Seabra. C om o se sabe. Rui
Barbosa atacou aquele projeto na tribuna do Senado, argum entando que:

(...) A lei da vacina obrigatória é uma lei morta... Assim como o direito veda ao
poder humano invadir-nos a consciência, assim lhe veda transpor-nos a epiderme
(...). Logo não tem nome, nacategoria dos crimes do poder, a temeridade, a violência
(...) a que ele se aventura, expondo-se, voluntariamente, obstinadamente, a me
envenenar, com a introdução no meu sangue, de um vírus, cuja influência existem
os mais fundados receios de que seja condutor da moléstia ou da morte...^'

A campanha civilista, entretanto, haveria de aproxim ar Rui da corporação.


C onform e já foi visto, nas discussões travadas d u ran te o P rim eiro Congresso
Jurídico Brasileiro, u m dos poucos pontos de consenso entre os bacharéis ali
'" A lé m d e re n o m a d o ju rista , o Dr. L isandro Segovia c a u to r d e u m clássico d a c u ltu ra p o r te n h a , o Diciotiário
dos argeritinismos, cuja p rim e ir a ed ição d a ta d e 1911.
Cf. R ui B a r b o s a , a p u d A fo n s o A r in o s d e M e llo F r a n c o , R o d rig u e s A lv e s ( A p o g e u e d e c l ín io d o
p re sid en cialism o ). Rio d e Janeiro: Livraria José O ly m p io Editora, 1973, v.3. p. 418.

77
_____________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

presentes dizia respeito à necessidade de reform ar a C onstituição de 1892. Este


tem a, p o r su a vez, o c u p o u lu g ar p riv ileg iad o n o p ro g ra m a de governo
apresentado por Rui Barbosa, quando se candidatou à presidência da República,
em 1910, e foi d errotado pelo m arechal H erm es d a Fonseca.
Ademais, é sintomático que a proposta de admissão de Rui só tenha sido
apresentada e aprovada em maio de 1911. Nessa m esm a ocasião, o lOAB serviu de
palco para inúm eros protestos em virtude do descum prim ento, por parte do
marechal Hermes, de diversas sentenças de habeas corpus concedidas pelo Supremo
Tribunal Federal, em favor de certos intendentes m unicipais, que se julgaram
prejudicados nas últimas disputas eleitorais e que usavam deste recurso jurídico
para permanecer no cargo^^. É oportuno acrescentar que na m aior parte das vezes
tais situações eram decorrentes da própria postura do governo Hermes da Fonseca,
que para se fortalecer junto ao Legislativo apoiava nas eleições grupos dissidentes
de oligarquias locais dominantes. Prática política, inclusive, que provocou sucessivas
intervenções federais nos estados, conhecidas como salvações nadonais^^.
Entretanto, conforme assinalou com propriedade Alberto Venâncio Filho’'*, Rui
Barbosa teve um a atuação discreta na Casa de Montezuma, m esm o quando esteve á
sua frente entre 1914 e 1916. Talvez, isso possa ser explicado em função de seus
compromissos políticos. Não se pode esquecer que Rui exerceu sucessivos mandatos
de senador da República e, além da campanha presidencial de 1910, envolveu-se na
disputa pelo cargo mais duas vezes. A primeira, em 1913, quando convocou a Segunda
Convenção Civilista, na tentativa de organizar o Partido Republicano Liberal e lançar-
se candidato num a chapa com o senador paulista Alfredo Elis. E a segunda, em 1919,
ocasião em que perdeu as eleições para Epitácio Pessoa.
Seja como for, da passagem de Rui Barbosa pela presidência Instituto, cabe
registrar a homenagem prestada a Teixeira de Freitas, no Teatro Municipal do Rio
de Janeiro, por ocasião do centenário de nascimento do celebrado jurisconsulto.
Do m esm o m odo, o seu discurso de posse na presidência do lOAB, a crítica
contundente que teceu aos governos republicanos, que no seu entender constituíam
0 (...) reinado sistemático e ostentoso da incompetência. Mais adiante, salientou o
papel do Instituto diante daquele contexto, caracterizado pela inobservância da lei:
Ver, Emilia V iotti da C osta, o p . c i t , p. 44-46.
U m d o s casos m a is ru m o r o s o s , diz respeito à du plicação d e assembléias legislativas n o a n tig o e sta d o d o Rio
d e Janeiro, e q u e re s u lto u n a eleição d e d o is presid en tes d e e sta d o (g o v e rn a d o re s ) d e facções rivais; de
u m lad o , N ilo Peçan h a, e d e o u tr o , Feliciano Sodré.
Cf. lAB, H istória dos 150 anos do In s tituía dos Advogados Brasileiros. O rie n ta ç ã o d e A lb e rto V enâncio Filho;
su p e rv isã o José d a M o ta M aia; pesquisa e a u to ria d o texto básico: L a u ra Fag u n d es. R io d e Janeiro:
D e sta q u e , 1995, p.142-143.

78
V o lu m e i ( ) l ( . ) A H n a P n m c i r a R ( ' [ ) ú l ) l i c <1

(...) Bern fora estou de vos querer arrastar ao campo onde se em batem os
partidos, e debatem suas pretensões. Ao poder não aspirais, e o melhor da
vossa condição está em nada terdes com o poder. M as tudo tendes com a lei.
Da lei depende essencialmente o w sío existir. V&sso papel está em serdes um
dos g u a rd a s professos da lei, g u a rd a esp o n tâ n ea , in d e p e n d e n te e
desinteressado, mas essencial, perm anente e irredutíveP^.

As transform ações p o r que passou a econom ia brasileira nos prim eiros anos
d o século XX, conform e já se assinalou, geraram novas d em a n d as sociais,
econômicas e políticas. O país permanecia essencialmente agrário, com a economia
sustentada, sobretudo, pelo café, e p o r outros produtos de exportação com o a
borracha e o cacau. Entretanto, desde 1907, acentuou-se a atividade industrial. O
Brasil vinha recebendo capital estrangeiro, que não financiavam apenas a produção
de bens de consum o, com o tam bém participavam de empresas fornecedoras de
energia elétrica, de construção de ferrovias, portos e estradas. O n úm ero de
habitantes, por sua vez, experim entou um significativo crescimento, increm entado
pelas migrações transatlânticas da virada do século. Estima-se que entre 1880 e
1910 entraram no país cerca de dois milhões e meio de im igrantes legais.
Em meio a essas m udanças, a luta pela sobrevivência nos segmentos m enos
favorecidos da população exigiria a incorporação de m ulheres e crianças à força
de trabalho. A par disso, o aum ento dos estabelecimentos fabris levou à organização
dos prim eiros m ovim entos operários, liderados na sua m aioria p o r trabalhadores
estrangeiros de diferentes orientações ideológicas. O lOAB não perm aneceu
indiferente a esse quadro, nem deixou de acom panhar as m udanças em curso.
Pouco explorado pela historiografia, talvez porque não tivesse suscitado
brilhantes intervenções ou polêmicas, há u m conjunto de propostas que foram
apresentadas no Instituto da m aior relevância, a exemplo de um projeto oferecido
pelo D r. D eodato Maia»na sessão de 6 de julho de 1911, para a regulam entação
do trabalho das m ulheres e dos m enores na indústria e no comércio^^.
O Dr. D eodato fundam en tou o seu projeto em u m a sim ples constatação:
na legislação brasileira não havia n en h u m dispositivo que tratasse daqueles
assuntos. Assim, indicou que o Instituto representasse ao governo n o sentido
de estabelecer n o rm as que protegessem a m ulher e o m e n o r trabalhadores.
C om plem entando a proposição, sugeria, ainda, a criação de u m D epartam ento
Cf. lOAB, Conferências e principais trabalhos do ano de ]9 ]0 . Rio d e Janeiro: Im p r e n s a N a cio nal, 1911,
p.287-289,
Idem, p. 290.

79
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Geral do Trabalho, com as seguintes finalidades: coordenar e publicar todos os


dados relativos ao trabalho; 2° organizar o Código do Trabalho; 3° difundir e
propagar a criação de institutos de previsão e mutualismo, destinados aos socorros
m útuos os operários e suas famílias, especialmente às caixas de maternidade.
Caberia, ainda, ao órgão zelar pela execução das leis do trabalho^^.
N o projeto, na parte relativa às crianças e aos adolescentes, den tre outras
disposições, fixava em dez anos, a idade m ínim a para o ingresso no m ercado de
trabalho. A jo rn ad a de trabalho dos m enores entre dez e quatorze anos não
poderia ultrapassar seis horas, com intervalos de até u m a hora, sendo que aos
analfabetos seriam concedidas mais duas horas para que adquirissem instrução
p rim á ria , em colégios localizados n u m raio d e até dois q u ilô m e tro s. Os
estabelecimentos industriais com mais de vinte m enores em pregados, e situados
a lé m dessa d is tâ n c ia ficavam o b rig a d o s a m a n te r u m a escola em suas
dependências. Proibia o trabalho noturno , bem com o nos dom ingos e feriados,
nos am bientes subterrâneos e nas empresas que utilizassem inflamáveis, ou
lidassem com atividades de alta periculosidade. Já para os adolescentes entre
quatorze e dezesseis anos, estabelecia apenas carga h o rária de oito horas por
dia, tam bém com interrupções periódicas, não im p o n d o m aiores restrições.
Em am bos os casos, só poderiam ser adm itidos m enores q u e apresentassem
certidão de nascim ento, atestado de vacina e prova de b o a saúde.
Q u an to às mulheres, estipulava o período de trabalho em dez horas diárias,
com pausa de u m a hora. Vedava o trabalho fem inino n o tu rn o , nos dom ingos,
na lim peza de m otores e n o m anejo de m áquinas ditas perigosas. No caso de
gestantes, não seria perm itida a m anipulação de substâncias quím icas o u de
m etais pesados, com o chum bo, o u que em anassem vapores tóxicos, a exemplo
das operações realizadas para branquear o algodão nas tecelagens. Concedia
licença-m aternidade e am parava as m ães n o período d a lactância, concedendo
o direito de interrom p er as atividades p o r quinze m in u to s a cada duas horas,
para am am entar. Os estabelecim entos industriais o u com erciais que dessem
em prego a m ais de trin ta funcionárias deveriam m an ter u m a creche.
As idéias defendidas pelo Dr. Deododato, para a época, constituíam um
formidável avanço em termos de legislação operária, pois se sabe que nas fábricas as
jornadas de trabalho chegavam a alcançar dezesseis horas diárias, em semanas de seis
ou sete dias, até mesmo para as crianças. De todo o modo, a proposição foi aprovada

” Id e m , p. 2 9 3 . 0 pa re ce r foi a ssin a d o pelos ad v o g ad o s T a d a n o Basíiio, Astolfo d e R ez e n d e e D e o d o a to Maia,


este ú ltim o c o m restrições.

80 •àl
V o lu m e 3 ( ) I O A B n a I’ t i m e i r .1 R(.‘pú l:»lica

no Instituto por um a comissão, embora com algumas restrições, em nom e da liberdade


industrial Considerou-se também dispensável a concessão de duas horas para instrução
dos menores analfabetos, a fim de que não houvesse (...) interrupção do serviço nem
ocasiões de nociva vagabundagem nas ru a /^. Infelizmente, as fontes disponíveis não
oferecem outras informações sobre o destino que tom ou esse projeto.
Ainda no que se refere ao crescimento industrial, questões correlatas mereceram
a reflexão do lOAB, como a expulsão de estrangeiros envolvidos n o m ovimento
operário, acusados de divulgar idéias anarquistas. O tem a chegou à pauta da
corporação trazido pelo Dr. Theodoro Magalhães, que lam entou o m odo como a
lei era aplicada aos partidários daquelas doutrinas, negando-lhes o direito de defesa.
Am parado na Constituição, lembrava que o direito de em itir idéias livremente foi
um a das aspirações dos propagandistas ideário da república no Brasil^^.
O g rê m io ta m b é m p o s tu lo u m e lh o ria s n o siste m a p e n ite n c iá rio ,
denunciando irregularidades nas Casas de D etenção e de Correção*^. Discutiu
aspectos do Código Civil, prom ulgado, finalmente, em 1916, em bora não tivesse
participado diretam ente da sua elaboração®'. E ncam inhou representações à
C â m a ra dos D e p u ta d o s o fe re c e n d o c o n trib u iç ã o so b re o p ro je to q u e
re g u la m en tav a as relações e n tre in q u ilin o s e pro p rietário s* ^. P rom o veu
concursos de m onografias sobre questões jurídicas da atualidade, instituindo a
M edalha Carlos de Carvalho. Abriu o debate sobre a prática do aborto*^. Tentou
estender a assistência judiciária gratuita aos militares, em benefício e garantia
dos direitos e da defesa dos acusados*'"’ . Enfim, não seria exagero afirm ar que o
Instituto aco m p an h o u par e passo as principais transform ações que a sociedade
brasileira experim entou nas prim eiras décadas do século passado. C ontudo,
n ão em itiu n e n h u m p ro n u n c ia m en to sobre a eclosão da P rim eira G uerra
M undial, nem sobre a postura do governo brasileiro diante do conflito. Sabe-
se, en tre ta n to , q u e alguns dos seus associados critica ram pelos jo rn ais o
co m p o rta m e n to indiferente do governo brasileiro, tão logo irro m p e ram as
hostilidades na Europa. Juristas com o Pedro Lessa, Afonso A rinos e m esm o Rui

1 0 A B ,“Ata da sessão d e 16 cie o u t u b r o de 1919”. L i v r o de A ta s (1916-1919). Ms.


Ver, d e n tre o u tra s , a in te rv e nç ão d o Dr. C iin d id o M endes, na sessão d e 25 d e a u l u b r o d e 1917. IO AB,"Ata
d a sessão d e 25 d e o u t u b r o de 1917". L i v r o de A t a s (1916-1919). Ms.
“Ar ,1 d a sessão d e 22 d e j u n h o à e 1916'’, l.n r o ( k A tas ( J 9 J 6 -J 9 J 9 ), Ms.
“A ta d a sessão d e 27 d e ju lh o d e 1916”, L i v r í ) ( 1916-1919), Ms.
1 0 A B ,“Ata da sessão d e 13 d c ju lh o d e 1917”, L i v r o d c A ta s { 1916-1919), Ms.
lü A B , “Ata da sessão d e 11 d e abril d e 1907”. R e v i s la d o I n s t i t u t o d a O r d e t n d o s A d v o g a d o s B r a s ile ir o s , o p.
cit-, t o m o X VIII, p. 370-
lOAB, “Ata d a sessão d e 20 d e abril àe \ 9 ] \ " , L iv ro dc A tas ( 1911-1915), Ms.

•á i 81
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Barbosa m anifestaram -se contra a política m oderada do M inistério das Relações


E xterio res. Rui, em B uenos Aires, nas c o m e m o raçõ e s d o c e n te n á rio da
Convenção de Tucum ã, surpreendeu a chancelaria brasileira, com u m discurso
contundente, afirm ando que (...) Neutralidade não quer dizer impassihilidade;
quer dizer imparcialidade; e não imparcialidade ente o direito e a justiça.
P o r outro lado, não se pode deixar de observar que, ao longo da década de
1910, o Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros, progressivamente, deixou
de lado a aparente neutralidade com que costum ava trata r de assuntos que
envolviam pro blem as de po lítica interna. A brecha qu e possib ilitou essa
m udança de com portam ento abriu-se em 1911, quand o o M arechal Hermes
da Fonseca desautorizou, pela prim eira vez, u m julgado do S uprem o Tribunal
Federal, deixando de cu m p rir sentenças de habeas corpus, questão a qual já nos
reportam o s anteriorm ente. Na ocasião, dentre os sócios que se m anifestaram
contra aquele ato arbitrário, destacou-se o Dr. Alfredo Pinto, que apresentou
um a m oção de repúdio aos atos do governo, alegando que:

(...) O poder executivo diante de uma sentença nega-lhe a obediência e recorre


à violência; menospreza a ordem dos habeas corpus; mobiliza forças, não para
manter as garantias que ela outorgou aos impetrantes, mas sim, para desvirtuá-
la em seus fundamentos. (...) o recurso magno é invalidado pela ostentação das
baionetas. (...) Pode o Instituto silenciar perante esse atentado, sob o capcioso
pretexto de que, na espécie, há um caso político que é alheio à sua missão? Pela
negativa responderão todos os homens imparciais. Não está em jogo uma questão
política, mas um ato governamental que perturba a boa administração da
justiça e vai afetar, incontestavélmente as relações de direito privado (...) Se
am anhã for expedido um Regulamento inconstitucional, que conspurque a
liberdade individual, perturbe as relações de direito, anarquiza a vida forense e
restrinja a missão do advogado, ficará o Instituto inibido de em itir juízo,
condenado a impassibilidade muçulmana? O Instituto não é um a sociedade
recreativa, é um centro de combatividade pelo Direito! ( o p ifo é nosso).

O jurisconsulto deslocou a questão do plano político partidário, com o até


então vinha sendo colocada, para situá-la n u m o u tro patam ar, ou seja, o do
Art. 56: N ã o p o d e m ser o b je to de deliberação q u a isq u e r p ro p o s ta s q u e v isem m a n ife staç ã o dos s e n tim e n to s
d o I n s t i t u t o c o m o c o rp o ra ç ã o , salvo as d e h o m e n a g e m p o r f a le c im e n to d e s e u s m e m b r o s o u de
ju risc o n su lto s n acio n ais e estran g eiro s. Cf. lOAB, Estatutos e R egim ento Interno. Rio d e Janeiro: Papelaria
M o d e lo —lo sé Ayres & Chaves, 1911, p. 18.

82 •àM
V o l u m e .) (J K ) A B 11.1 l ’ i im c ir < i R t - p ú l i li c d

papel político da corporação dos advogados. N o fundo, ele passou u m recado


aos confrades: a m issão do Instituto não se restringia ao estudo e discussão de
teses, ou de problem as práticos, relativos ao exercício d a profissão. A situação a
que ficara exposta a corporação dos advogados, perante as atitudes tom adas
pelo governo, só adm itia duas alternativas: ou o Instituto se pronunciava contra
aqueles acontecim entos o u perdia a razão de ser.
O m odo como o problema fora formulado por Alfredo Pinto deve ter provocado,
por certo, a reflexão da plenária do Instituto, pois ninguém ousou discordar dos
argumentos ali expostos, e a moção de repúdio recebeu aprovação p or unanimidade.
Apesar disso, na sessão seguinte, em 4 de maio de 1911, o Dr. Fernando Mendes fez
consignar em ata u m protesto contra aquela decisão da plenária, justificando que se
estivesse presente teria impugnado a votação, com base no artigo 56 dos Estatutos^.
O Dr. Fernando M endes, contudo, chegara tarde demais. A brecha j á estava
aberta Daí p o r diante, sem e n tra r em choque com as autoridades constituídas,
o Instituto com eçaria a questionar a legitimidade e a legalidade de certos atos
dos p o d eres executivo e legislativo®^. E, diga-se de passagem , q u estio n o u
bastante, pois o processo de desintegração da prim eira República caracterizou-
se não só pelas sucessivas crises financeiras, m as tam bém pelas arbitrariedades
com etidas pelos nossos governantes. Intervenções freqüentes do governo federal
nos estados, descu m p rim en to dos dispositivos constitucionais, prisões sem
fundam ento legal, processos eleitorais viciados, períodos recorrentes de estado
de sítio. N ão vem ao caso nom ear todas as vezes que a Casa de M ontezum a se
insurgiu co n tra essa atm osfera de autoritarism o. O certo é que o Instituto da
O rdem dos Advogados Brasileiros não podia perm anecer indiferente ao que se
passava. Afinal, com o deixara subentendido o Dr. Alfredo Pinto, tratava-se de
um a questão de sobrevivência...

" N o caso d o p o d e r legislativo, r e p re s e n to u ao C o n g re sso N acional, q u e s tio n a n d o a s u a c o m p e tê n c ia p a ra


se p r o n u n c ia r s o b r e sen tenças ju d ic iá ria s passadas e m ju lg a d o e n e g a r c ré d ito p a r a o s e u p a g a m e n to . Cf.
lOAB, “Ata d a sessão d e 24 d e ag o sto d e 1916”, Livro de A tas ( 1916-1919), Ms.
N o caso d o p o d e r legislativo, re p re s e n to u ao C o n g re sso N acional, q u e s tio n a n d o a s u a c o m p e tê n c ia p a ra
se p r o n u n c ia r s o b r e sen tenças ju d ic iá ria s passadas e m ju lg a d o e n e g a r c ré d ito p a r a o s e u p a g a m e n to . Cf.
lOAB, “Ata d a sessão d e 24 d e ag o sto d e \ 9 1 6 '\ Livro de A tas ( 1916-1919), M s

83
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

A p ê n d ic e ao C a p ítu lo II
lO A B , P rim e iro Congresso Ju ríd ico B ra sile iro : Q u e s tio n á rio G eral

1. Prim eira Seção - Ensino Jurídico


1.1 Q ue preparatórios devem ser exigidos dos alunos que se destinem aos
cursos jurídicos? Convém m anter as vigentes disposições legais acerca da matéria?
1.2 Q uais as doutrinas que devem ser ensinadas em um curso de ciências
jurídicas e sociais?
1.3 Deve o ensino jurídico ser m eram ente prático o u profissional, o u é
necessário aliar-lhe o estudo dos princípios fundam entais?
1.4 Q ual a m elhor distribuição das m atérias pelos diversos anos de um
curso jurídico?
1.5 Da decadência do ensino jurídico e dos m eios de com batê-los.
1.6 Da influência social dos estudos jurídicos e sociais.
1.7 Da ação do governo nos m esm os estudos.

2. Direito C onstitucional Brasileiro


2.1 A União pode intervir nos Estados ex jure-proprio, independente de
requisição dos respectivos governos? A expressão “Governo Federal” é equivalente
a “Poder executivo” o u abrange todos os órgãos da soberania nacional?
2.2 A inviolabilidade consagrada n o art. 19 da C onstituição Federal é
com patível com os princípios básicos do regim e republicano? Na hipótese da
segunda alínea do art. 29 da Constituição Federal, as Câm aras exercitam um a
função m eram ente política, ou estão adstritas às provas dos autos? O Vice-
P resid en te da R epública, com o P resid en te do S enado, ta m b é m goza de
im unidade parlam entar?
2.3 Deve ser m antida a iniciativa da Câm ara dos D eputados, relativamente
aos adiam entos das sessões legislativas, leis de im postos, leis de fixação de força
de terra e m ar e discussões dos projetos oferecidos pelo P oder Executivo?
Em pregando o art. 29 da Constituição Federal a expressão - leis de im postos -
pode o Senado iniciar a discussão dos orçam entos de despesa?
2.4 Os ajustes, convenções e tratados internacionais devem ser subm etidos
à a p ro v a ç ã o do C o n g re sso c o m o d e te rm in a a n o ss a C o n s titu iç ã o , o u
sim plesm ente à do Senado, com o preceitua a C onstituição Americana? Sendo
os atos internacionais celebrados - ad referendum do Congresso, devem ser
exam inados conju ntam ente pela C âm ara e pelo Senado, reunidos em sessão?

84
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e iia R e p ú b lic a

2.5 O art. 68 da Constituição é tam bém aplicável ao Distrito Federal? Enquanto


ele continuar a ser a Capital da União a sua organização deverá ter moldes especiais?
2.6 H á distinções, quanto aos efeitos, entre o - estado de sítio - declarado
pelo Congresso N acional e declarado pelo presidente da República? D u ran te o
estado de sítio ficam suspensas as im unidades parlam entares? As m edidas de
exceção tom adas pelo presidente da República estão sujeitas à aprovação do
Congresso Nacional? Dessa aprovação depende o livre exercício das atribuições
conferidas aos outros órgãos da soberania nacional?

3. Direito Civil
3.1 Q ual o objeto p ró prio do Direito Civil e a m elhor distribuição das
suas m atérias, quer para o ensino, quer para u m a codificação?
3.2 Subsistem ainda as razões que determ inaram a distinção corrente entre
o Direito Civil e o Direito Comercial?
3.3 É possível fixar a linha divisória entre o Direito e o Processo Civil, de
m odo a evitar confusões na prática? No caso afirmativo, como?
3.4 É possível estabelecer o Direito Civil com um ao m enos às nações da
m esm a origem e do m esm o continente, se não n o todo, em alguns dos seus
ramos? Neste caso, p o r onde se deverá começar?
3.5 Podem as pessoas jurídicas gozar das m esm as garantias que as naturais,
em relação aos direitos civis, e será possível e conveniente equiparar, a respeito
deles, as pessoas jurídicas nacionais às estrangeiras?
3.6 A sucessão d o Estado às pessoas falecidas sem herd eiro deve ser
considerada u m direito hereditário, o u conseqüência do d o m ínio em inente do
soberano d o país? E neste caso, os Estados federados e os m unicípios poderão
pretender a m esm a sucessão?
3.7 Poderá haver perfeita igualdade entre os cônjuges?
3.8 No estado atual dos costum es será necessário adm itir-se o divórcio ou
bastará o rem édio da separação de corpos e bens, aos cônjuges desunidos? N o
prim eiro caso, que restrições lhe deverão ser impostas?
3.9 Será preferível a instituição da liberdade de testar à herança e, no caso
afirmativo, que restrições se deverão im p o r à prim eira?
3. 10 Q ue rem édio pode n o regim e federal, oferecer o Direito Civil
aos produtores e consum idores do país, para garantir seus bens, co n tra o tríplice
fisco federal, estadual e m unicipal?

85
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

4. Direito Comercial
4.1 Q ual o regim e das sociedades corporativas, assim com o dos sindicatos
m ercantis, segundo a legislação brasileira, assinalando-se nas soluções o que
p o r ventura haja nesse regim e de acertado, inconveniente o u defectivo?
4.2 Sob o p o n to de vista das garantias asseguradas às m arcas de fábrica ou
de com ércio nacionais, o u registradas n o Brasil, encontram -se em perfeito pé
de igualdade com as estrangeiras registradas n o Tribunal Internacional de Berna?
4.3 Q uais as causas que principalm ente influem para o insucesso, no Brasil,
dos títulos deno m in ad os - warrants - e que m edidas legislativas poderão
concorrer para alcançarem eles a aceitação obtida em outros países?
4.4 O estad o a tu a l e d ese n volvim ento provável, q u e r dos m eio s de
transporte, quer dos de transm issão de pensam ento, exigem reform as, e quais,
n a legislação comercial brasileira?
4.5 A cham -se bem protegidos n a m esm a legislação, os direitos e legítimos
interesses tanto do falido, com o dos seus credores?
4.6 É m erecedora de aplausos, o u incide em censura, a faculdade conferida
aos Estados da União de legislarem sobre o processo das ações e execuções
comerciais, m ovidas nos respectivos territórios?
4.7 Em face da disposição do art. 457 do Código C om ercial pode ser
considerada brasileira a em barcação pertencente à sociedade nacional de que
faça p arte algum súdito estrangeiro?
4.8É conciliável com o interesse de um a nação, que necessita de m arin ha
m ercante num erosa, o preceito da últim a parte do citado código?
4.9 A alienação exigida no art. 458 do m esm o código, deve ser satisfeita in
continenti à hipótese aí figurada, o u dentro do prazo, e qual seja este?

5. Direito C rim inal


5.1 É admissível, entre nós, o desconto obrigatório da prisão preventiva
na pena legal? Esse desconto deve ser total o u parcial?
5.2 Pode ser adm itido o estado perm anente de reincidência?
5.3 A e x tin ç ã o das p en as p e rp é tu a s c o r re s p o n d e às exigências da
consciência jurídica de nossa época?
5.4 Pode ser adotado, sem prejuízo das garantias devidas à liberdade
individual, o sistem a das sentenças cham adas indeterm inadas?
5.5 É urgente organizar-se n o Brasil a assistência aos indivíduos que
regressam à vida social depois de concluído o tem po de repressão? C om o deve

86
V o k in K ’ ; O l O A l ! n . i 1’ i ' i n u ' i r a I \ c p u l ) l i c <t

ser organizada essa assistência? Com o deve ser determ inada a intervenção do
estado neste assunto?
5.6 Será útil, no Brasil, a criação de conselhos o u comissões de vigilância
nas prisões o u instituições análogas? No caso afirmativo, qual deve ser a sua
organização e que poderes a lei deve atribuir-lhes?
5.7 Q ual o verdadeiro conceito científico do crim e militar?

6. D ireito Adm inistrativo


6.1 O estado atual do Direito Administrativo e Civil adm ite a concessão de
privilégios e prerrogativas à Fazenda Nacional em juízo? No caso afirmativo, quais
devem ser os privilégios e prerrogativas, e quais os meios de torná-los efetivos?
6.2 A discrim inação das rendas federais e estaduais, tal com o consagra a
C onstituição Federal, co n su lta os interesses econôm icos d o país? No caso
negativo, que modificações podem ser feitas neste assunto?
6.3 É conveniente a municipalização dos serviços públicos e a concentração,
nas m ãos das municipalidades, de todos os serviços urbanos a cargo de empresas
que têm contratos co m as adm inistrações municipais?

7. Direito Internacional
7.1 Pode ser o direito internacional privado considerado parte do direito
internacional público?
7.2 C o n stitu in d o o d ireito in tern acio n al privado, em sua essência, o
conjunto das regras jurídicas que do m in am as relações individuais da sociedade
internacional alcança n a arca da sua atuação a parte processual correspondente?
7.3 C o m p ree n d e-se n o d ireito in tern acio n al p riv ad o o d ireito penal
internacional?
7.4 A determ inação do efeito internacional dos direitos adquiridos constitui
na atualidade do conceito do direito internacional, o seu verdadeiro objeto?
7.5 Qual a ação da teoria do “retorno” ou da “evolução” sobre os princípios que
dominam a solução do conflito das leis, dada a noção aceita da sociedade internacional?
7.6 O s direitos das pessoas jurídicas p o d em sofrer lim itação q u an to aos
efeitos extraterritoriais?
7.7 Q ual a extensão dos direitos das pessoas jurídicas de direito público
além do seu país de origem?
7.8 C o m o se adapta o instituto da prescrição às relações dom inadas pelo
direito internacional privado?

87
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

7.9 Q ue princípio deve regular a capacidade das pessoas, o do domicílio


o u o d a n acio n alid ad e? Tendo o d ireito b rasileiro aceito o p rin c íp io da
n acio n alid ad e, h á circunstâncias de o rd e m eco n ô m ica q u e aconselhem a
conveniência de ser adotado o u tro princípio?
7.10 E m q u e te rm o s p o d e ser a d m itid a a in te rv e n ç ã o c o n su la r n a
arrecadação, adm inistração e liquidação de espólios de estrangeiros?

8. Direito Processual
8.1 Respeitados os preceitos constitucionais, em que term os e sob que
bases se pode estabelecer a unidade do processo?
8.2 Para m an ter a unidade do direito privado deve estender-se o recurso
extraordinário, além dos casos previstos n a C onstituição Brasileira, aquele em
que as sentenças dos tribunais superiores dos Estados forem proferidas contra
expressa disposição de lei federal?
8.3 Quais as reform as a introduzir-se no sentido de to rn a r m ais expedito
o processo judicial, abolindo fórm ulas e term os inúteis, principalm ente n o que
diz respeito à execução de sentenças?
8.4 Devem ser os processos relativos à infração de privilégios e contrafacção
de m arcas de fábricas da com petência da justiça Federal o u da justiça local dos
Estados e do Distrito Federal?
8.5 Convém m an ter o atual regime de hom ologação para que obtenham
força executória as sentenças estrangeiras?
8.6 C om o devem ser encam inhadas as rogatórias antes e depois do seu
cum primento? Convém manter o regime do “ex-equatur” administrativo para elas
estatuído, ou pode ser suprimido pelo simples “cum pra-se” do juiz competente?
8.7 Pode ser concedido “habeas corpus” ao réu condenado p o r sentença
de que cabe recurso ordinário?
8.8 É conveniente entre nós a instituição dos Juízos de Instrução Criminal?
No caso afirmativo, que preceitos devem regulá-la?
8.9 Podem ser acum ulados no m esm o processo a ação de divisão e a de
dem arcação de terras?
8.10 Os embargos de nulidade julgados pelas Câm aras reunidas da Corte
de Apelação do Distrito Federal têm os mesmos efeitos do antigo recurso de revista?
8.11 Em face dos princípios deve a liquidação das sociedades de crédito real
ser processada n o Juízo Cível, com o preceitua o art. 349 do decreto n° 370, de 2 de
m aio de 1890, ou no juízo comercial, com o as demais sociedades anônimas?

88 m àM
V o l u m e .5 O l O A B i i j P r im e ir a R e p ú lílic -.i

II H in o A c a d ê m ic o
M úsica d e C arlo s G o m e s
Letra de B itte n c o u rt S am p aio

Sois da Pátria esperança fagueira,


Branca nuvem de u m róseo porvir.
Do futuro levais a bandeira
Hasteada n a frente a sorrir.

M ocidade, eia avante, eia avante


Q ue o Brasil sobre vós ergue a f é ,
Esse im enso colosso gigante,
Trabalhai por ergue-lo de pé.

O Brasil que a luz da verdade,


E u m a coroa de louro tam bém ;
Só as leis que nos dêem liberdade
Ao gigante das selvas convém.

Vossa estrela reluz radiante,


Oh! Segui-a todos com fé.
Esse im enso colosso gigante,
Trabalhai p o r ergue-lo de pé

É nas letras que a P átria querida


H á de u m dia fulgente se erguer.
Velha Europa curvada e abatida,
Lá de longe que inveja há de ter.

Nós irem os m archando adiante,


A cenando o futuro com fé,
Esse im enso colosso gigante,
Trabalhai p o r ergue-lo de pé.

•Al 89
_____________ Historia da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

O rgulhoso o bretão lá dos mares


R espeitar-nos então há de vir,
São direitos sagrados os lares,
N unca m ais usarão nos ferir.

Auri-verde o pendão fulgurante


H asteai-o m ancebos com fé.
Esse im enso colosso gigante,
Trabalhai por ergue-lo de pé.

São im ensos os rios que temos,


Nossos cam pos quão vastos que são;
As m on tan h as tão altas que vemos
De u m futuro b em alto serão.

O fu tu ro não vai m ui distante,


Já podeis acená-lo com fé,
Esse im enso colosso gigante,
Trabalhai por ergue-lo de pé.

Nossos pais nos legaram guerreiros,


H o n ra e glória, virtude e saber;
N ós os filhos de pais brasileiros
Pela Pátria devem os m orrer.

M ocidade, eia avante, eia avante


Q u e o Brasil sobre vós aguarda com fé,
Esse im enso colosso gigante.
Trabalhai por ergue-lo de pé.

90
V o lu m e i ( ) l O A n nu l ’ i i n i c i i \ i K r p ú b l i i . i

Marly Silva da Motta

Capítulo III
A busca da renovação: o Institute da O rdem das
Advogados Brasileiros nos anos 20

1. " O Congresso J u ríd ic o é u m congresso c ie n tífic o ."

A casa não pode conservar-se indiferente à comemoração do centenário de


nossa independência política, porque vem concorrendo com seus trabalhos e
resoluções para a feitura de importantes leis.'

P ro n u n ciad o em nov em b ro de 1920, o discurso do recém -em p o ssad o


p resid en te d o In s titu to d a O rd em dos Advogados B rasileiros, d r. A lfredo
B ernardes da Silva, sobre a necessidade de a “casa”p articip ar da com em oração
do centen ário da in d ep en -d ên cia em 1922 se afmava com o sen tim en to geral
que, em graus diferentes de adesão, tom ava conta do país. D en tre os setores
m ais m obilizados pela m issão com em orativa, além dos advogados, estavam
os intelectuais e os políticos, em especial os que m ilitavam n o Rio d e Janeiro
e em São Paulo, prin cip ais centros u rb an o s do país.
Por isso m esm o, o início da década de 1920 foi fértil em balanços e
avaliações dos cem anos da nação independente. O grande anseio, diria m esm o
a obstinação, que anim ava a todos naquele m o m en to era conhecer o país, na
m esm a m edida em que crescia a percepção de que se o Brasil tin h a território,
não se constituíra ain da com o nação.^
Tal preocupação, j á marcante na chamada “geração de 1870”, que produziria
' D iscu rso d o p re sid en te Alfredo B ern ard es d a Silva, p ro n u n c ia d o na sessão de i 1 d e n o v e m b r o de 1920, p o r
o casião da p o s se d a n o v a d ire to r ia do lO A B eleita e m o u tu b r o p.p.. Atas da Sessão do lO A B , 11/11/1920.
^ S ob re o de b ate e m t o r n o da idéia d e n açã o n o início d o s ano s 20, ver, e n tre o u tro s , Lucia Lippi d e Oliveira,
A questão nacional tia Prim eira República, São P aulo, Brasiliense, 1990; Ta n ia R egina d e Luca, A Revista
d o Brasil: ut7i diagnóstico para a (N)ação. São P aulo, Unesp, 1999; M arly SÜva d a M o tta , A nação fa z cem
anos: a questão nacio nal no centenário da independência. Rio de Janeiro, E d ito ra FGV, 1992.

91
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

u m pensam ento novo sobre o país através da articulação da ciência emergente


com a tradição literária,^ exacerbou-se frente à proxim idade da com em oração
dos cem anos do 7 de setem bro em 1922. A celebração da ''data magna do país”
p erm ite perceber a mobilização dessa parcela da sociedade d o tad a de meios
poderosos de difusão de suas idéias - jornalistas, ensaístas, literatos e intelectuais
de várias correntes de pensamento, em num erosos artigos para jornais e revistas,
deixaram claro que a com em oração do centenário d a independência deveria
constítuir-se em u m im p o rtan te m o m en to de reflexão e debate sobre o Brasil.
N ão foi ou tro o intuito do jurista Francisco Pontes de M iranda, u m dos mais
im portantes m em bros do Instituto dos Advogados, ao indagar enfaticam ente

“que m om ento poderia ser mais adequado do que este em que festejamos o
centenário da nossa independência política? Precisamos demarcar asfronteiras
do espírito nacional como já se fixaram as do território”.^

G e ra ç ã o m a rc a d a p ela m issão de fe c u n d a r id éias sin g u la re s, n ão


com prom etidas com o “artificialismo das idéias im portadas”, n em p o r isso se
furtou a buscar a m odernidade por meio de u m a integração crítica e seletiva das
idéias que circulavam na Europa. O desm oronar dos valores que sustenta\^m a
Belle Époque - o liberalismo, o otim ism o cientificista, o racionalismo, já abalados
antes m esm o de 1914 - traduziu-se por um a vontade de renovação em todos os
dom ínios do pensamento. A inquietação intelectual se acelerou n o final da década
com a Revolução Soviética (1917) e o fim da Grande G uerra (1918). Em alguns
anos, as noções científicas euclidianas e newtonianas, em que se apoiava o saber
das ciências exatas, foram confrontadas com as novas concepções da física
determ inadas pela Teoria da relatividade de Einstein. Rejeitava-se o Estado liberal
burguês e pregava-se a modernização das estruturas políticas; acendiam-se as
discussões sobre democracia e participação popular. A rejeição da “velha” política
liberal de eleições e cadeiras n o Parlamento, substituída pela organização do
proletariado em sindicatos e pela formação de u m a “elite enérgica” que guiasse as
massas, aproximava os hom ens de direita e de esquerda. Para os intelectuais
europeus, tratava-se, em suma, de rom per com o passado recente e de buscar
novos cam inhos para viver a m odernidade do século XX.

^ Ver R o b e rto V entura, Estilo tropical: história cultural epolêm icas literárias no Brasil, São P aulo, C o m p a n h ia
das Letras, 1991.
^ Fran cisco P o n te s d e M ira n d a , O s fu n d a m e n to s d o e spírito b ra sile iro (o p e n s a m e n to n a c io n a l), A Exposição
de 1922, 1922^________________ _______________ _______________ _________

92 •àl
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

P o n te s d e M ira n d a . Jurista e filósofo

93
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Parte ponderável da intelectualidade brasileira igualm ente rejeitava o


passado recente, configurado na trajetória pouco edificante de u m a República
que, até então, teria apenas buscado copiar a “belepoque”, agora falida. N ão p o r
acaso, a palavra de ordem veio da enfática declaração de Oliveira Vianna: “Não
era esta a República dos m eus sonhos!”^ A decepção com o regim e republicano
que, ao co n trário do sonhado, n ão havia resolvido os problem as d a sociedade
brasileira, estimulava os intelectuais a elaborarem u m veredicto seguro capaz
de garantir a “salvação nacional”.
Nesse sentido, 1922 p o d e ser considerado u m an o p arad ig m ático , na
m edida em que nele se co ncen traram acontecim entos q u e a historiografia
c o n s a g ro u c o m o m a rc o s fu n d a d o re s d e u m “n o v o ” Brasil: a p rim e ira
m anifestação do m ovim ento tenentista (“os 18 do Forte”), a fundação do Partido
C o m u n ista e a S em ana de A rte M oderna. Se esses três eventos p o d em ser
catalogados com o marcos de ru p tu ra, é im p o rtan te destacar qu e u m ano antes,
em 1921, havia-se constituído o C entro D o m Vital, que visava a articular o
pensam ento católico diante desse m u n d o em transform ação.
U m dos exemplos m ais significativos d o debate intelectual que m arcou os
anos 1920 foi a coletânea de ensaios publicada em 1924, intitulada A margem
da história da República.^ Em bora os tem as dos artigos, bem com o a form ação
intelectual e política dos diversos autores, fossem diferentes, podem os selecionar
alguns po n to s que, devidam ente colocados, form am u m retrato dos principais
problem as - e possíveis soluções - do país: a crítica ao liberalism o "artificial”; a
necessidade de u m a “elite enérgica”; a dem anda p o r u m papel m ais forte do
Estado na organização da sociedade; e, finalmente, a reform ulação do arcabouço
jurídico do Brasil, em especial de sua Constituição.
O m odelo liberal estava sob o fogo cruzado dos que, à esquerda e à direita,
advogavam a regeneração da estrutura política do país com base em instituições
“adaptadas à nossa realidade” Se o problem a, segundo Oliveira Vianna, devia-
se à m entalidade “artificial, utópica e apriorística” das elites que haviam dirigido

^ Oliveira V ia n n a, O idealism o da C o n stitu iç ão , em Vicente Licínio C a r d o s o (o rg .), A m argem d a história da


República, Brasília, E d ito ra da U N B , 1981, p. 106.
^ São eles: O s deveres d a n o v a geração brasileira (A n tô nio C arn eiro Leio); Evolução d o p e n sa m e n to republicano
n o Brasil (C elso V ieira); As in stitu içõ es p o lítica s e o m e io social no Brasil (G ilb e rto A m a d o ); O clero e a
R ep úb lica (J o n a th a s S e rra n o ); O ideal brasileiro desen vo lv ido n a R epú b lica (José A n tô n io N o gu eira);
F in a n ç a s n a c i o n a is ( N u n o P in h e ir o ); O id e a lism o d a C o n s ti tu iç ã o (F ra n c is c o O liv e ira V ia n n a );
P re lim in a re s p a r a a rev isão c o n stitu c io n a l (F rancisco P o n te s d e M ira n d a ) : Bases d a n a c io n a lid a d e
b rasileira (R o n a ld C arv alh o ); A consciência b rasileira (Tasso d a Silveira); Política e letras (T ristão d e
A taíde); B en jam in C o n s ta n t (V icente Licínio C ard o so ).

94 m à»
V o lu m e 5 ( ) l O A H n . i I’ l i m u i r j R c p ú l j l i c c t

e ainda dirigiam o país com os olhos voltados para o estran g eiro / a solução,
nas palavras de A lberto Torres, u m dos m entores intelectuais d a “geração de
1920”, estava nas m ãos dos “dirigentes políticos”:

“Tenhamos em m ente que as nações que se fo rm a m espontaneamente em


nossa época são construídas por seus dirigentes, são obras d ’arte política”.^

Não era outro o sentimento que animava os diversos autores da obra organizada
por Vicente Licínio Cardoso. Um deles, Gilberto Amado, foi enfático ao afirmar que a
grande falha da República brasileira teria sido sua incapacidade de produzir um a elite
preparada para assumir a “tutela” do pais. Sem dúvida, a teoria das elites, formulada
por Gaetano Mosca (1896), e acolhida por Pareto (1902) e Michels (1912), teve boa
aceitação entre amplos setores da intelectualidade brasileira nos anos 20.
À idéia de um a “elite enérgica” se acoplava a concepção de u m Estado
mais forte e preeminente, baseada n o pressuposto da existência de u m a sociedade
civil débil, de u m povo cultural e politicam ente despreparado para exercer um
papel ativo nos negócios púbHcos. Ao expressarem u m anseio de fortalecim ento
do p o d er do Estado, Oliveira Vianna, Gilberto Amado, Pontes de M iranda, entre
o u tro s, co n so lid aram o que Bolívar L am o u n ier c h a m o u de “ideologia de
EstadoT Dotados de u m a visão orgânico-corporativista, percebiam esses autores
a necessidade de u m p o d er estatal forte para erradicar os males do passado e
m anter sob controle qualquer processo de m udança.
O diagnóstico dos problem as e a proposição de soluções indicavam ainda
a necessidade de u m a reform ulação do arcabouço jurídico d o país, com eçando
pela C onstituição p rom ulgada em 1891, criticada p o r Oliveira V ianna e Pontes
de M iranda devido ao seu “caráter perniciosam ente im itativo”. U m a reforma
constitucional se fazia urgente, de m odo a elim inar o “idealism o” resultante da
cópia de m o d elo s im p o rtad o s e a substitui-lo pelo “ realismo” trazid o pelo
contato com a “realidade nacional”.
S im ultaneam ente ao clam or pela reform a da C onstituição vigente, havia
u m a dem an d a generalizada pelo “aperfeiçoam ento” das leis em vigor n o país,

' O liveira V ia n n a , cy. cit. S ob re o p e n s a m e n to de Oliveira V ianna, ver Élide R u gai Bastos e João Q u a r tim d e
M oraes (org s.), O p e n sa m e n to de Oliveira V ianna, C am p in as, E d ito ra da U n ic a m p , 1993.
* A lb e rto Torres, A organização nacional, São Paulo, E ditora N acional, 1933, p. 182 (1* ed.; 1914).
’ B olívar L a m o u n ie r , F o r m a ç ã o d e u m p e n s a m e n to p o lític o a u t o r i t á r i o n a P r i m e i r a R ep ú b lica : u m a
in te rp reta ç ã o , e m Boris F a u sto (o rg .), O Brasil Republicano, H istó ria G e ra l d a Civilização Brasileira,
to m o III, vol. 2, São P aulo, Difel, 1977.

•41 95
_____________ História da
O rdem dos A d vo g a d o s d o B ra s il

capaz de sintonizá-lo com as transform ações que se operavam n a sociedade. A


realização de u m congresso jurídico, inserido no conjunto das com em orações
do centenário da independência, aparecia com o um a o p o rtu n idad e que não
deveria, e nem poderia, ser perdida.
O prim eiro Congresso Jurídico Brasileiro se realizou em 1908, no âm bito
dos eventos que m arcaram a Exposição Nacional do C entenário d a A bertura
dos Portos. D epois de duas tentativas frustradas de realização do segundo
congresso, u m novo centenário - o da independência do Brasil - parecia oferecer
a o po rtu n id ad e ideal, u m a vez que, tal com o em 1908, a principal atividade
d en tro da agenda com em orativa seria a realização de um a exposição, só que,
dessa vez, in te rn a c io n a l, a E x po sição In te r n a c io n a l d o C e n te n á rio da
Independência.
A Exposição de 1922, realizada no Rio de Janeiro, então capital federal,
possuía algum as características diversas das do século anterior. Se estas foram
m arcadas pelo caráter enciclopédico, buscando concentrar o universo em u m
único espaço, aquela, já incorporando o espírito do século XX, se p au to u pela
especialização. Se as prim eiras exposições glorificavam a capacidade individual,
expressa principalm ente no gênio do inventor, e a iniciativa privada, representada
nas m últiplas em presas que ostentavam seus produtos, o século XX m arco u a
ascensão do social e a dem anda p o r u m a crescente am pliação do papel e da
presença do Estado n a vida da sociedade.
Finalmente, enquanto o foco das exposições do século XIX concentrava-se
nos objetos expostos, com o intuito de colocá-los no mercado - daí a im portância
dos prêmios conferidos pelo júri o da Exposição de 1922 m irou na exposição e
discussão de idéias. Pode-se entender assim a ocorrência simultânea de congressos
e conferências sobre temas variados - história, direito, engenharia, química,
educação com o a indicar que idéias, mais do que expostas com o simples objetos,
deveriam ser debatidas. No caso específico da Exposição de 1922, prim eira a se
realizar após a Primeira Guerra Mundial, o grande desafio era o de traduzir a
vontade de renovação que então invadia todos os dom ínios da atividade hum ana.
O discurso do orad o r oficial do Congresso Jurídico, dr. Eugênio Barros, se
m o stro u perfeitam ente sintonizado com o sentim ento geral de desencanto com
os políticos e de encanto com a ciência, próprio, aliás, do m u n d o pós-guerra:

O terreno político é um a região vulcânica, sujeita a explosões cujas lavas são


alimentadas pelas paixões humanas, individuais e coletivas. Só as decisões

96 9àM
Volume .5 ( ) lO A B na P rin ic ir.i R c [)ú l)lic a

dos Congressos propriamente científicos são profícuas, porque elas se geram


da atmosfera serena e calma do pensamento (...). O Congresso Jurídico, ora
instalado, é um congresso científico, e o que ele afirmar como verdade será
certamente aproveitado pelos legisladores da República para aperfeiçoamento
de nossas leis^^

Ao lado de um a explícita declaração de fé n o saber científico, produzido


n a “atm osfera serena e calm a do pensam ento”, veio a desconfiança gerada pela
política, “região vulcânica alim entada pelas paixões”. Por isso m esm o, o fato de
0 Congresso Jurídico de 22 ser u m “congresso científico”, pautado, p ortanto,
nos valores da técnica, da neutralidade e da racionalidade, to rn á-lo -ia p o rtad o r
da “verdade” e, com o tal, capaz de produzir o “aperfeiçoam ento” do aparato
jurídico do país.
A discussão sobre a necessidade da sintonização jurídica do país aos novos
tem pos não era nova n o âm bito do Instituto dos Advogados. Em abril de 1921,
na fala que m arcou o início efetivo de sua gestão à frente do lOAB, Alfredo
Bernardes da Silva ressaltou o desafio que, naquele m om ento, se im p u n h a aos
advogados de m odo geral, e aos m em bros do Instituto em particular: segundo
ele, o país estava passando p o r u m “período de verdadeira reconstrução jurídica”,
já que tram itavam n o Congresso Nacional os projetos de reform a do Código
Com ercial e do Código Penal, sem falar nas leis com plem entares ao Código
Civil."
Pela leitura atenta das atas das sessões do Instituto em 1920 e 1921 é fácil
perceber que dois tem as concentraram a atenção dos conselheiros naquele
período: o aborto e a infância delinqüente. A polêm ica que envolvia esses dois
assuntos se justificava tan to pela atualidade do debate a nível m u n d ial, q uanto
pelo fato de estarem situados n o cruzam ento de saberes e poderes diversos: o
jurídico, o judiciário, o médico e o policial.'^ Além, é claro, de tocar a delicada
questão do im p acto d a ação pública sobre a esfera privada, o u seja, d os limites
entre o privado e o público.
A em ergência do aborto com o tema im portante de debate no lOAB no
prim eiro semestre de 1920 ligou-se, por u m lado, ao que foi qualificado pelo
conselheiro Evaristo de M oraes com o resultado da “dissolução dos costumes e
D iscurso de E ugênio B a rre s, o r a d o r oficial d o C o ng resso ] u r íd k o . Jornal do C o m m errio, 25/10/1922.
A tas das Sessões do lO A B , 28/4/1921.
'W e r. e n tre o u tro s , M ichel F o ucault, Microfisica do poder. Rio de Janeiro, Edições G ra a l, 1979; C arlo s Vogt et
al., C am inhos cruzados, São Pa u lo , Brasiliense, 1982.

97
_____________ Historia da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

das exageradas tendências feministas”.'^ Apesar da falta de referência explícita,


talvez se possa inferir que os m ovimentos sociais que, na Europa e nos Estados
Unidos, então lutavam p o r um a presença mais atuante das mulheres no m undo
do trabalho e da política teriam sido o pano de fundo dessas observações. Por
outro lado, existia a indicação da Comissão de D outrina e Legislação Federal do
Instituto para que fossem objeto de discussão as medidas de repressão ao aborto
oferecidas à Academia Nacional de Medicina pelo dr. Ernesto Nascimento Silva.
N o âm bito do Instituto, o debate sobre o ab o rto se concentrou em dois
pontos. O prim eiro deles referia-se ao Código Penal de 1890, que, em seus artigos
300, 301 e 302, determ inava as punições para o “aborto crim in o so ”. Enquanto
Evaristo de M oraes p ro p u n h a u m a atualização do Código brasileiro em face
dos congêneres de outros países,'^ o conselheiro Pinto Lima não via necessidade
de qualquer reform a n a legislação existente.'^ Já T h eo d o ro Magalhães foi mais
além, ao justificar a necessidade de u m a lei especial para trata r do assunto,
visando a u m a repressão m ais severa.'^
Q uanto ao aum ento da severidade das penas para a m ulher que praticou o
aborto, bem com o para “seus colaboradores”, a posição do Instituto foi mais
convergente. Pontes de M iranda, por exemplo, declarou u m apoio enfático à
posição da Academia de Medicina em favor de penas m ais rigorosas ao afirmar
que “o aborto é u m crime das altas camadas sociais e é conseqüência de u m regime
m oral estabelecido com a preocupação de evitar a procriação, pelo que deve ser
severamente reprim ido”.'® Apesar da convergência em relação ao rigor das penas
contra o aborto, Evaristo de Moraes apresentou um a argum entação que, em vez
de seguir cânones m orais e religiosos com o Pontes de M iranda, privilegiou os
aspectos sociais. Ao m esm o tem po em que colocava em dúvida a “eficácia absoluta
das leis penais para reprim ir males que derivam da atual organização social, como
0 aborto, a embriaguez e a vagabundagem”. Moraes entendia o aborto m enos com o

u m problem a individual da m ãe e do nascituro, e sim com o u m “atentado contra


a coletividade”.’^ E, justam ente p o r afetar a “coletividade”, deveria o aparato legal
do Estado, a quem caberia preservar os interesses com uns da sociedade, ser dotado
de eficazes instrum entos para combatê-lo.
'^ A ta s da Sessão áo lO A B , 22/7/1920.
Ata$ da Sessão do lO A B , 20/5/1920.
A ta s da Sessão do /O A B .l 7/6/1920.
"^Atas da Sessão do lO A B , 29/7/1920.
” A ta s da Sessão do JO AB, 29/4/1920,
AMs da Sessão do lO A B , 1/7/1920.
A ta s da Sessão do lO A B , 22/7/1 92 0 (g rifo nosso).

98 •à B
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

Evarislo d e M o ra es. A d v o g a d o notável, tra b a lh ista e crim in alista.

99
_____________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

O segundo tem a que mereceu especial atenção dos conselheiros do Instituto


foi o da infância delinqüente, cuja penalização estava prevista pelo artigo 30 do
Código Penal: os maiores de nove anos e menores de 14, que tivessem discernimento
da infração cometida, deveriam ser recolhidos a estabelecimentos disciplinares
industriais pelo tem po arbitrado pelo juiz, contanto que não excedesse aos 17 anos.
É sabido q u e as crianças pobres, m esm o as que n ão co m eteram atos
criminosos, foram parte im portante da m ão-de-obra trabalhadora nos primeiros
tem pos da industrialização brasileira. N o entanto, depois da I G uerra, vários
tratad o s internacionais estabeleceram novas regras de convivência, internas e
externas, aos países m em bros da Sociedade das Nações, e u m dos resultados
desses tratados foi a aprovação de u m a declaração dos direitos d a criança, na
Conferência de G enebra, em 1921.
N o Brasil, ao longo dos anos 20 - até a aprovação do Código de m enores
em 1927 - a utilização do trabalho infantil em unidades fabris foi perdendo
espaço para a preocupação com o fato de os “m enores ab an d on ad o s” virem a se
tran sfo rm ar em futuros crim inosos. C om base na teoria lom brosiana, a nova
ciência conhecida com o “pedagogia terapêutica”, m uito em voga n a Itália fascista,
alertava que era na prim eira infância que se revelavam as prim eiras tendências
p ara as atitudes anti-sociais, verdadeiros sinais de predisposição para o crime.^°
N ada m elh o r para se criar u m a nação afinada co m os novos tem pos do que
preparar, agora, n o presente, a geração do futuro.
O tem a da “proteção à infância abandonada e delinqüente” foi tratado com
destaque n o Congresso Jurídico de 1922,que se estendeu de 1 6 a 3 i de outubro.^'
P residida p o r João M artin s C arvalho M o u rão , q u e ta m b é m acum ulava a
presidência do Instituto dos Advogados e do Congresso Jurídico, a seção de direito
penal, a que estava afeito esse tema, concentrou o debate em to m o de dois pontos.
O prim eiro deles tratava da punição dos m enores. O parecer de M ourão declarou
os m enores não passíveis de pena, fixou a m aioridade penal em 14 anos e, dentro
do espírito de que era m elhor prevenir que reprimir, indicou a internação dos
m enores d elinqüentes em estabelecim entos capazes de d etectar os futuros
crim inosos e de evitar que viessem a com eter crimes.^^ Já o segundo po n to dizia
“ Ver M ariz a C orréu, Antropologia e m edicina legal: variações e m torno de u m m ito , e m C arlos V ogt et. al.,o p .
cit-, p. 59-61.
O C o n g re ss o se c o m p ô s d e 11 seções: d ire ito a d m in is tra tiv o e ciências d a s finanças; d ire ito ad m in is tra tiv o
e ciências d a a d m in is tra ç ã o : direito civil; d ire ito c om ercial; d ire ito c o n stitu c io n a l e p o lítico ; d ireito
in d u s tria l e legislação o p e rá ria ; d ire ito in te rn a c io n a l p riv a d o ; d ire ito in te rn a c io n a l p ú b lic o ; d ire ito
ju d ic iá rio ; d ire ito penal; direito p e n a l-p ro c e ssu al m ilitar.
Seção d e d ire ito pe n al, C o n g re sso Jurídico d e 1922. fo m a l do C o m m e r á o , 18/10/1922.

100
V o lu m e j O lO A B na l^rin ic im R e p ú ljlic a

respeito ao próprio cerne do regime federativo nacional, e estava expresso na


questão proferida pelo dr. Crysolito de Gusmão: “a com petência constitucional
dos estados obsta a adoção de um a lei uniforme de proteção à infância abandonada
e delinqüente?”-^ A resposta veio sob um a forma bastante conciliatória na tese da
seção de direito penal sobre a lei de proteção à infância:

A competência constitucional dos estados não obsta a adoção de um a lei


uniforme de proteção à infância moralmente abandonada ou delinqüente,
como provam as respectivas disposições do Código Civil e do Código Penal,
que, todavia, precisam de reformas}"^

N o d iscu rso com que a b riu o Congresso, C arvalho M o u rã o cham ava


aten ção p ara as dificuldades de se ad o ta r no Brasil as “recentes co n q u istas
d a m o d e rn a ciê n cia p en a l e p e n ite n c iá ria ”, em v irtu d e d o fe d e ra lism o
previsto pela C o n stitu içã o v i g e n t e . O que estava em jogo naquele início
d o s an o s 20, e q u e se p ro lo n g a ria p o r to d a a década, era a po ssib ilid ad e - ou
n ão - de se m o d e rn iz a r o ap a rato legal, co n se rv an d o a d escen tralização
p o lítíc o -a d m in istra tiv a d e te rm in a d a co n stitu cio n alm en te, Por q u e n ão d a r
à U n ião in stru m e n to s m ais efetivos de in terv en ção sobre a realidad e social?
P or q u e n ã o c o n f e rir ao p o d e r ce n tra l i n s tr u m e n to s m ais efetiv o s de
in terv en ção na vida social do país?
No âm bito d a seção de direito constitucional e político do Congresso
Jurídico, lugar privilegiado de discussão das relações entre a U nião e os estados
federados, a tendência clara foi a de pender a balança em favor da prim eira,
definindo que, dentro dos limites da lei, “aos poderes da União cabe a suprem acia
sobre os estaduais”. A intervenção federal deveria ser “o rem édio para forçar as
a u to rid a d es reg io n ais” a n ã o criarem em b araço s aos serviços federais, a
respeitarem as decisões dos tribunais da União e as leis nacionais, e, sobretudo,
a não pegarem em arm as contra “o seu p ró p rio país e contra o u tro estado”.'^
Se as idéias a favor da centralização do p o d er gan h aram , com o já vim os,
u m im p o rtan te espaço no debate político-ideológico daquele m o m en to , é
certo ta m b é m que a c o n ju n tu ra política in tern a favorecia u m a p ro fu n d a

Seção d e d ire h o pe n al, C o n g re ss o )u ríd ic o de 1922. jornal ão C o m m e r a o , 19/10/1922.


Seção d e d ire ito pen al. C on gresso íu ríd ic o de 1922. jornat do Corrimercio, 28/10/1922.
D iscurso in a u g u ra l d o C o n g re sso Jurídico, op. cit.
Seção d e dire ito c o n stitu c io n a l e p olítico , C o n g re sso Jurídico d e 1922. Jornal do C om m ercio, 1/11/1922.

•Al 101
_____________ Historia da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

reflexão sobre o m odelo político que a República ad o to u , p rin cip alm en te a


p a rtir da presidência de C am pos Sales (1898-1902), e q u e ficou conhecido
co m o “política dos governadores”.^^
A fin al, n ã o p o d e m o s esq u e cer q u e o C o n g re sso J u ríd ic o se re alizo u
e m m eio a u m a g rave crise p o lític a , d e to n a d a a p a r ti r d a c o n te sta ç ã o d a
v itó ria , n as eleiçõ es d e m a rç o de 1922, d o m in e ir o A r tu r B e rn a rd e s , o
c a n d i d a t o o f ic ia l, c o n t r a o f l u m i n e n s e N ilo P e ç a n h a , d a R e a ç ã o
Republicana.^® O clima de agitação que m arc o u todo o p rim eiro sem estre
culm inou com o levante do Forte de C opacabana, em 5 de julho, batism o de
fogo do tenentismo.^’ Im ediatam ente o estado de sítio foi decretado, jornais de
oposição foram fechados, jornalistas presos e deputados am eaçados de processo.
N em p o r isso, tem as co m o habeas corpus e im u n id a d e p a rla m e n ta r
d eixaram de ser tratad o s n a seção de direito co n stitucio n al e político. Foi
reafirm ado o direito de habeas corpus ao “ind iv íd u o preso ilegalm ente ou
am eaçad o de p risão a rb itrá ria ”, b em co m o g a ra n tid a a in in te rru p ç ã o da
im u nid ad e parlam entar, a que tin h am direito os deputados e senadores, dentro
do estado que representam , “contra prisões ordenadas p o r autoridades locais
o u federais”.^®

2 .Tem pos de estado de sítio

“Vivemos um a época de transformação social, em que os problemas de ordem


ju r íd ic a de sucedem , se a v o lu m a m e se a grava m , pro vo cados pelo
aperfeiçoamento da ciência, da arte, da indústria, do comércio. O Brasil nunca
precisou tanto, para esclarecê-lo e orientá-lo, de prudência, de ordem, de paz,
de respeito à lei, de acatamento à justiça, pelo que mais se avantaja, no
m omento atual, a missão da brilhante assembléia que m e deu a honra de me
adm itir como seu membro efetivo.”^'

^^Para u m a análise d o m o d e lo d e fu n c io n a m e n to da “p olítica d o s g o v ernad ores" ver R ena to Lessa, A invenção


republicana: C am pos Sales e a decadência da Primeira República brasileira. S i o Paulo:VérCicc; Rio de
Janeiro: lu p e rj, 1988. U m inv e n tá rio c u id a d o so d o s e v en tos po lítico s d o p e río d o p o d e ser e n c o n tra d o
em Edgar C aro n e , A República Velha II: evolução política (1889-1930). Sào P aulo, D ite i,1977.
-* Pa ra m ais in fo rm a çõ e s , v er M arieta d e M o raes Ferreira, U m eixo a lte rn a tiv o d e p od e r, e m M arieta d e
M o ra es Ferreira (org .), A República m Vciha Província, R io d e Jan eiro , R io fu n d o E d ito ra , 1989.
Para m ais in fo rm a çõ e s so b re esse lev a n te te n e n tista, qu e fico u c o n h e c id o c o m o “ os 18 d o F o rte ”, ver Edgar
C aro n e , Revoluções do Brasil contemporâneo: 1922-1938, São P aulo, Difel. 1975.
Seção d e d ire ito c o n stitu cio n al e po lítico . C on gresso Jurídico d e 1922. Jornal do C om m ercio, 1/11/1922.
A ta s da Sessão do lO A B , 22/6/1922.

102
V o l i i n i L ' .5 (..) l O A B i i a P r i n u ’ i i i i R c | ) ú l ) l i c ,i

Em discurso pro n u n ciad o n a sessão de 22 de ju n h o de 1922, p o r ocasião


de sua adm issão com o m em bro efetivo do Instituto dos Advogados, o advogado
Ribas C arneiro fez m enção explícita à “época de transform ação social” então
vivida pelo país, com o conseqüente agravam ento dos problem as de ordem
jurídica, o que colocava nas m ãos do Instituto “a missão” de garantir “o respeito
à lei e o acatam ento à justiça”.
Naquele m o m en to , n o entanto, o Instituto se encontrava no m eio de um a
séria crise, que culm inaria na renúncia de seu presidente, Alfredo Bernardes. O
estopim foi a indicação de M ário Gom es C a r n e i r o ,f e i t a na sessão do dia 8 de
junho, para que o Instituto se manifestasse sobre o despacho de u m auditor
m ilitar em u m processo de concessão de m enagem - prisão fora do cárcere,
com prom essa ou palavra do preso de que não sairia do lugar onde lhe fosse
designado - a u m oficial de M arinha.
A reação contra a indicação de Gomes Carneiro, que atuava com o auditor
de g u erra n a Justiça M ilitar d a capital federal, veio s u s te n ta d a p o r dois
argum entos. O prim eiro deles, do conselheiro Milcíades Sá Freire, alertava que
a indicação, nos term os em que estava redigida, não poderia ser votada, porque
daria “lugar a discussão em terreno que convém, a todo custo, evitar”.^’ O
“terreno a ser evitado” era, claro, o da política. Terreno, aliás, bastante conhecido
p o r Sá Freire, que tinha u m a carreira im portante na política do Distrito Federal,
já que fora intendente (1895), deputado (1897), senador (1908-14) e prefeito
(1919-20).
A politização acentuada do debate nacional, resultado, em boa m edida, de
u m a cam panha presidencial acirrada que havia fugido dos padrões usuais, em
função, entre outros, do episódio das cartas falsas e do envolvim ento do Exército
na luta política,’"’ trazia problem as delicados para o Instituto. A instituição tinha,
no entanto, um a arm ad u ra para protegê-la dos cham am entos ao envolvimento
político: os artigos 21 e 22 de seus Estatutos não p erm itiam que o Instituto
emitisse juízo sobre “questões de interesse privado” e n em que fossem objeto de
" M ário T ib ú rc io G o m e s C a r n e iro to rn o u - s e a u d ito r d e g u e rra em 1909, s e n d o e n tã o d e s ig n a d o p ara servir
n o gab in e te d o m in is tro d a G u e rra . Em 1922, atu ava na Justiça M ilitar d o e n tã o D is trito Federal. Por
o casião d o pro c e sso do s m ilitares q u e p a rtic ip a ra m d o m o v im e n to d o s 18 d o F o rte, C a r n e iro disco rd o u
d o e n q u a d r a m e n to d o delito c o m o crim e p o lítico e solicitou dispo nibilid ade p a ra d e fe n d e r os im plicados.
S o r te a d o p a ra in te g r a r o C o n s e lh o d e Justiça q u e ju lg a ria o p ro c e sso , d e c la r o u -s e so b su sp e iç ã o ,
a c o m p a n h a n d o p o s tu ra de vário s o u tro s juizes e a u d ito re s d e gu erra. Ver D icionário Histórico-Biográfico
Brasileiro p ó s -1930, co o rd . p o r Alzira Alves A breu. Israel Beloch. F e rn a n d o L a ttm a n - W e ltm a n e Sérgio
L am arão, R io de Janeira, E ditora FGV, 2001.
’M r a í da Sessão do lO A B , 8/6/1922.
Pa ra m ais in fo rm a çõ e s , ver Edgar C aro n e , o p . cit., p. 348-52.

•Ál 103
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

deliberação quaisquer propostas que visassem a “manifestações dos sentim entos


do Instituto com o corporação, salvo as de hom enagem p o r falecim ento de seus
m em bros o u de jurisconsultos nacionais e estrangeiros”.
Esse foi o po nto defendido pelo conselheiro Augusto Pinto Lima para negar
a aprovação à indicação de Gomes Carneiro. Além de “inconveniente”, já que
criticava o ato de u m auditor m ilitar e envolvia “censura ao senhor presidente da
República”, era contrária aos Estatutos do Instituto, que interditava qualquer
manifestação política da entidade com o u m todo. C ontrariando u m a tendência
anteriormente firmada de não-envolvimento em questões políticas, e evidenciando
a vulnerabilidade do Instituto diante do acirram ento do debate político, a votação
da indicação de Carneiro acabou empatada, com nove votos de cada lado.
Gom es C arneiro voltou à carga 15 dias depois, n a sessão de 22 de junho.
Dessa vez, pediu a formação de um a comissão para analisar o veto do presidente
da República a u m a determ inação de u m m agistrado d a Justiça Militar. As
acusações contra o governo au m entaram de tom . Qualificou o ato do presidente
Epitácio Pessoa com o “u m a irregularíssima atitude de revisor de sentenças”,
incom patível, p o rtan to , com a prática de “q u em deveria d ar o exem plo da
c o m p o stu ra e d o d ec o ro ” L em brou q u e os advogados m ilitan tes v in h am
enfrentando “as arrem etidas injustas dos potentados de todas as hierarquias”.
Em relação aos colegas do Instituto, rebateu aqueles que reputaram sua consulta
com o “anti-regim ental” e “inconveniente”, u m a vez que, em sua opinião, não se
poderia proibir sistem aticam ente a entidade de se m anifestar sobre “questões
pendentes”. Concluiu, afirm ando que o “Instituto perderia a sua razão de existir
se não reagisse contra a violência e o arbítrio
A reação contra a nova indicação de Gom es C arneiro foi encabeçada por
P in to Lima, com o apoio de conselheiros de peso com o Levi C arneiro, A rnoldo
de Medeiros, Sá Freire e Júlio Santos. Mais u m a vez, foi reafirm ado que o assunto,
que envolvia “questão pessoal”, contrariava os artigos 21 e 22 dos Estatutos do
Instituto. Procedendo-se à votação para se decidir sobre a conveniência da
apreciação d a m atéria, pela segunda vez consecutiva houve em pate: 14 a 14.^^
A crise instalada no Instituto se agravou em julho. Por u m lado, devido à
irrupção do levante tenentista do Forte de Copacabana no dia 5, que acirrou a
tensão política no país e provocou um a série de medidas repressivas por parte do
governo Epitácio Pessoa. Por outro, em fianção do pedido de renúncia do cargo de

'^ A ta s da Sessão do lO A B , 22/6/1922.


A tas da Sessão do lO A B , 22/6/1922.

104 «▲B
V o lu n tü ^ { ) I O A I 3 n.) P r i m e i i i i K c p ú l ) l i c < i

presidente apresentado por Alfredo Bernardes na sessão do dia 13, diante do impasse
em que se encontrava a entidade em face da apresentação da tese de Gomes Carneiro.
A diretoria do Instituto se m anteve fiel ao presidente, e, u m a um , os
conselheiros Esm eraldino Bandeira (1® vice), Zeferino Faria (2° vice), Justo
M oraes (1° secretário), A rnoldo de M edeiros (2° secretário), renunciaram a
seus cargos. D iante dessa forte reação, Gomes C arneiro voltou atrás e solicitou
não só a retirada de sua polêm ica tese, com o o reto rno de Alfredo B ernardes à
presidência do Instituto. Apesar da decisão irrevogável do ex-presidente de não
m ais voltar ao cargo, apresentada p o r seu filho, o conselheiro Gabriel Bernardes,
foi im ediatam ente aprovada a solicitação de Gom es C arneiro p ara que sua
indicação fosse retirada de pauta. O que não im pediu, n o entanto, que Justo de
M oraes acusasse o Instituto de não ter apoiado o ex-presidente.^^
A renúncia do presidente, associada ao recuo de Gom es C arneiro, acabou
p o r am ainar a crise que ameaçava a estabilidade do Instituto, em u m m o m en to
em que sua presença, na condição de im p o rtan te representante d a sociedade
civil, deveria ser, diante da instabilidade política reinante no país, u m elem ento
“de prudência, de ordem , de paz, de respeito à lei, de acatam ento à justiça”
Julho term in o u com o Instituto recom posto internam ente: na sessão do dia 20,
Carvalho M ourão, com o m em b ro mais antigo presente à sessão, foi indicado
presidente do lOAB; um a semana depois, na sessão do dia 27, foi eleito, e com pôs
sua diretoria com os conselheiros que haviam renunciado aos cargos em apoio
a Bernardes.
A inda em 1922, o decreto de 29 de julho - que d eterm in o u a cobrança de
im posto de renda sobre o rendim ento dos profissionais liberais, ou seja, médicos,
advogados, engenheiros e dentistas - colocou o Instituto dos Advogados em
rota de colizão com o governo. Naquele ano, o déficit de caixa do governo federal
a tin g iu níveis a la rm a n te s , em v irtu d e d a su a in c a p a c id a d e d e c o n te r o
crescim ento da despesa e a necessidade de liquidar grande volum e de atrasados
acum ulados no exercício anterior. A saída era a adoção im ediata de austeridade
n a condução da política fiscal, tanto do lado da contenção de despesas quanto
do da expansão de receitas.^*
De agosto a ou tu b ro , a polêm ica acerca da cobrança de im posto sobre os
rendim entos dos advogados foi u m dos tem as centrais das sessões do Instituto.
A ta s d a Sessão d o l O A R . 13/7/1922.
Sobre a política c con óm ico-fin a n c eira d o s anos 20, vfr W inston Fritsch, A pogeu e crise na Prim e ira República:
1900-1930, e m M arc e lo Paiva A b re u (o rg .), A o r d e m d o p r o g r e s s o : c e m a n o s d e p o l í t i c a e c o n ô m ic a
re p u b lic a n a - 1S89-1989, R io d e )a n e iro . C a m p u s, 1989,

105
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Nessa questão, que envolvia o interesse da categoria co m o u m todo, não é difícil


co n clu ir q u e as p eq u en as divergências se ce n trara m em p o n to s que logo
p u d eram ser conciliados. U m deles referia-se ao objeto d a taxação. Poderia ser
taxado com o lucro o rendim ento que o advogado aplicava na co m p ra de livros
para exercer sua profissão, perguntava Pinto Lima?^^ C om o excluir do cálculo
do im posto as despesas particulares do advogado, indagava Gabriel Bernardes?'**’
No lado das receitas, a questão era com o declarar os ganhos auferidos, já que
m u ito s n ão p o ssu íam a “escrita a u te n tic a d a ”, co m o p re te n d ia o decreto
governam ental. Os advogados não só deveriam “reclam ar” contra essa tentativa
do governo de controlar a vida financeira dos profissionais liberais, ao exigir
que tivessem m atrícula e livros regularm ente escriturados, b em com o sugerir o
estabelecim ento da livre declaração do contribuinte.^'
Indicado com o representante das profissões liberais para negociar com o
governo a regulamentação do novo decreto, o Instituto, na sessão de 24 de agosto,
fechou posição em to rn o de alguns pontos: rejeição à escrita autenticada e à
cobrança de multas, que deveriam ser substituídas pela declaração de “livre
consciência” do contribuinte; dem an d a pelo estabelecim ento de u m a renda
m ín im a tributável; e, finalm ente, impossibilidade de que o im posto começasse
a ser co b rad o naquele exercício fiscal. Já o p o n to sobre o qual n ão houve
convergência e que, p ortanto, não foi incluído n a p auta da negociação com o
governo, era aquele que questionava a constitucionalidade e a conveniência da
cobrança d o im posto de renda.
D uas questões de fundo se destacam em m eio a esse debate. Em prim eiro
lu g ar, m erece reg istro a reação am b íg u a das “classes lib e ra is” d ia n te do
crescim ento do po d er fiscalizador e controlador do Estado. No caso concreto
do im p o sto de renda, que implicava em abrir a p ró p ria vida financeira ao
escrutínio d o aparato fiscal do Estado, o Instituto agiu com o u m a corporação
am eaçada, e um dos conselheiros chegou a afirm ar que, não pagando o tributo,
os advogados estariam cu m p rin do “o seu dever”.^^ No entanto, nem de longe se
pode ver a entidade com o u m bastião em defesa dos ideais liberais am eaçados
p o r u m a presença mais efetiva do Estado n a vida econôm ica e social do país.
A preocupação em n ão “afrontar o governo” com a consulta ao Suprem o
Tribunal Federal sobre a constitucionalidade do decreto do im posto de renda

-’’ Afay lía Sessão d o lO A B , 10/8/1922.


*°Atas da Sessão do lO A B , 17/8/1922.
■*' A tas da Sessão do lO A B , 10 e 12/8/1922.
*^Atas da Sessão do lO A B . 17/R/1922._____________________________________________________________________

106 •Al
V o lu n x - J ( ) lO A H na I’ n m c i r a Rcp ü l)li(< i

voltou a dividir o Instituto. Na sessão de 12 de agosto, o parecer da comissão,


favorável à inconstitucionalidade, foi contestado p o r Justo de M oraes e A m oldo
de M edeiros, que ocupavam , respectivamente, os cargos de 1° secretário e de 2°
vice-presidente do Instituto. Dias depois, por m aioria de votos, os conselheiros
do Instituto o p taram p o r adiar a decisão sobre a questão, já que consideravam ,
naquele m o m ento , “inconveniente e in o p o rtu n a u m a representação contra o
Poder Executivo”/^
No en ta n to , dessa vez, venceu a posição de “afro n ta” ao governo: foi
c o n sid e ra d a “in ex eq ü ív el” a ad o ç ão d o re g u la m en to n o c o rre n te a n o ; a
regulam entação “exorbitante” do decreto, ao criar penas e multas, era “vexatória
da dignidade dos co ntribuintes”; e, para finalizar, p o r 12 votos a 10, o im posto
foi declarado inconstitucional.^'*
Para co n to rn a r o delicado problem a que se criou entre o Instituto e o
governo em final de m a n d a to - n o dia 15 de novem bro, A rtu r Bernardes tom aria
posse com o novo presidente da República - Carvalho M o u rão se reu n iu com o
m inistro da Fazenda, H om ero Batista, e com o diretor da Recebedoria. Ao relatar
o encontro d u ran te a sessão de 11 de outubro, M ourão destacou a “boa vontade”
do governo ao ap resen tar as seguintes propostas: p ro rro g a r o p razo p ara
m atrícula dos contribuintes; inclinar-se pelo regime da livre declaração; abolir
a obrigatoriedade da escrita, e estabelecer um m ín im o tributável. T anta boa
vontade não conseguiu, no entanto, im pedir que a questão acabasse n o STF.
Na prim eira sessão de 1923, M ário Gom es Carneiro apresentou a proposta
de que o Instituto suspendesse os seus trabalhos enq u an to vigorasse o estado
de sítio, que acabava de ser prorrogado pelo governo A rtu r Bernardes:

Considerando que, com a suspensão das garantias constitucionais, não se


pode gozar da liberdade de exame e discussão dos problemas jurídicos acaso
contidos nos atos do governo, sujeitos os membros desta Casa à prisão política,
proponho que o Instituto dos Advogados, ignorando as razões de ordem pública
que induziram o governo à decretação do estado de sítio na capital federal e
no Estado do Rio, em plena paz, não o estendendo ao Rio Grande do Sul, em
plena guerra durante o ano inteiro, suspenda os seus trabalhos, enquanto
estiverem suspensas as garantias constitucionais, sem as quais não pode
funcionar livremente.

A ta s da Sessão do lO AD , 24/8/1922.
da Sessão do lO A B , 5/10/1922.

•At 107
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Mais um a vez, o conselheiro fazia u m a indicação que colocava o lOAB diante


do dilema hamletiano de ser ou não ser: como entidade representativa dos advogados,
classe diretamente atingida em suas atividades profissionais pelas medidas repressivas
do governo, poderia assumir um a postura de repúdio ao estado de sítio, tal como
proposto por Carneiro; ou poderia se esquivar, alegando, com o fez o presidente
Carvalho Mourão, que tal indicação violava o artigo 22 de seu Estatuto?"'^
O estado de sítio já estava em vigor havia quase u m ano, um a vez que fora
pedido pelo presidente Epitácio ftsso a e aprovado pelo Congresso Nacional em
5 de julho de 1922, n o próprio dia em que eclodira a revolta dos tenentes do Forte
de Copacabana. Para dar prosseguimento à sua política de repressão, o governo
havia conseguido a prorrogação do sítio até dezembro, o que lhe permitira prender
adversários, pedir licença para cassar m andatos parlamentares, fechar o jornal
Correio da M anhã e colocar na prisão seu proprietário, E dm undo Bittencourt.
C om o reforço a essas medidas, o governo Epitácio aproveitou para apresentar
n o Senado a Lei de Imprensa, projeto de iniciativa do senador paulista Adolfo
Gordo. O debate sobre a nova lei ganhou u m espaço im portante nas sessões do
Instituto dos Advogados. Na do dia 27 de julho, enquanto o conselheiro júlio
Santos p ro p u n h a a criação de u m a comissão do Instituto para acom panhar a
tram itação do projeto, o conselheiro Eurico Sá Pereira engrossava o coro daqueles
que denunciavam a “inocuidade e a inexeqüibilidade” de u m projeto sobre
liberdade de imprensa. Mais incisiva foi a declaração do conselheiro Herbert Moses,
futuro presidente da Associação Brasileira de Im prensa (ABI), de que seriam
“preferíveis e m enos perigosos os excessos e abusos da liberdade de im prensa do
que as restrições dela”.**^
O convite feito pelo senador Adolfo G ordo para que o Instituto participasse
das sessões da Com issão de lustiça não fez m u d a r o to m geral de crítica sobre a
pertinência de um a “lei de im prensa”. O conselheiro Ribas C arneiro chegou
m esm o a tachá-la de “retrógrada e vexatória” tendo em vista o período em que
e s ta v a s e n d o d is c u tid a - o “a n o q u e se c o m e m o r a o c e n t e n á r io d a
independência”.^^ Augusto Pinto Lima foi m ais além, ao p ro p o r que o Instituto
deixasse de lado o debate sobre a lei de im prensa, e cuidasse da reform a do
Código Penal que, ao m esm o tempo, pudesse garantir a liberdade de im prensa
e a defesa da h onra dos ofendidos. Em sua opinião, a nova Lei de Im prensa
conservaria o que o Código Penal tinha de pior;
^ ^ A ta s d a Sessão do lO A B , 19/4/1923.
' ‘■A ta s da í c s s â o do 1 0 A B , 10/8/1922.
A ta s da Sessão do 1 0 A B , 19/8/1922,

108 •À »
V o lu m e 5 O l ü A B n .i l ^ r i m c i r . i R c |)ú l)lic :.i

Hoje em dia, de nad a vale a opinião do jornal: se ataca, é p o rq u e ainda não


está subornado; se não agride, é porque já o foi/*^

Face à polêm ica que levantou - até m esm o setores m ais conservadores se
m ostraram preocupados com o grau de intervenção governam ental n a im prensa
- o debate se estendeu até novem bro de 1923, qu an d o a lei foi sancionada. Na
sessão de 19 de julho, o conselheiro Ribas Carneiro foi preciso ao ap o n tar o
contra-senso de se estar d iscutindo u m a lei de im p ren sa ju stam en te n u m
m o m en to político delicado, em pleno estado de sítio, onde a p ró p ria im prensa
não podia se m anifestar hvremente.
Se o d eb a te so b re a lei de im p re n s a n ã o p ro v o c a ra cisão e n tre os
conselheiros do Instituto, o m esm o não aconteceu com a prorrogação do estado
de sítio o b tida pelo presidente Bernardes. A indicação de G om es C arn eiro -
feita na sessão de 19 de abril de 1923 - de suspensão dos trabalhos do Instituto
enq u an to perdurasse o sítio foi derrotada pelo famoso “artigo 22”- “não p o d em
ser objeto de deliberação quaisquer propostas que visem a manifestações dos
sentim entos do In stitu to com o corporação”. O que n ão im ped iu que, n a sessão
seguinte, n o dia 26 de abril, o conselheiro voltasse à carga. Em prim eiro lugar, o
fez p o r m eio de u m requerim ento para que constasse em ata o seu protesto:

requeiro que conste da ata o protesto que eu faço como jurista, como republicano
e como brasileiro, contra o atentado que representa o decreto de prorrogação do
estado de sítio contra a lei, os princípios do regime e a dignidade nacional.

Ao requerim ento, que acabou sendo deferido, seguiram -se u m a série de


indicações qu e argüíam a legalidade da decretação do estado de sítio d ian te do
que determ inava o parágrafo 15, d o artigo 48 da C onstituição de 1891:

compete privativam ente ao presidente da República declarar, po r si ou seus


agentes responsáveis, o estado de sítio em qualquer p onto do território
nacional, nos casos de agressão ou grave comoção intestina.

U m a delas dizia re sp d to à com petência do Poder Judiciário de apreciar a


legalidade do ato do Executivo de decretar o sítio sem a “existência das graves
em ergências q u e justificam a m ed id a”. No caso das in dicações de G om es

A ta s da Sessão do 1 0 A B , 14/7/1922.

•41 109
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Carneiro, o presidente do Instituto determ inou que as mesm as fossem m andadas


p ara a Com issão de D o u trin a e Legislação Federal.
O debate sobre a prorrogação do sítio esquentou quando, na sessão de 28
de junho, Gomes Carneiro apresentou indicação louvando o “ato varonil e nobre
do m inistro [do Suprem o Tribunal Federal] Sebastião Lacerda saindo de seu
leito de d o en te para ir colocar-se ao lado da liberdade conculcada”. Alguns
conselheiros reagiram de form a indignada: enq u an to Pinto Lim a considerava a
in d icação u m a “d esconsideração ao I n s titu to ”, G abriel B ernardes acu sou
C arneiro de “p ô r em dúvida a independência de seus colegas”. A resposta veio
em tom desafiador: apesar de não querer ofender n inguém , não podia deixar
de se referir à “covardia que atualm ente d o m in a a quase todos”.
O p o d er exercido p o r Bernardes não foi, n o entanto, garantia suficiente
para m an ter a estabilidade política do país. Desde janeiro de 1923, o governo
da U nião enfrentava u m a guerra civil n o Rio G rande do Sul, m otivada, entre
outros, pela violenta contestação que a oposição gaúcha fez à q u in ta reeleição
do governador Borges de Medeiros."*^ Essa delicada questão foi trazida para o
âm bito dos debates do Instituto p o r Gom es C arneiro, através de u m a série de
indicações p o r ele apresentadas à Com issão de D o u trin a e Legislação Federal
n a sessão de 23 de maio. C om o poderem os ver a seguir, o p o n to fundam ental
do q u estio n am en to levado p o r C arneiro à C om issão se relacionava com a
com petência federal para lidar com a “am eaça de deposição do governador” e,
sobretudo, com a possibilidade de decretação de intervenção no estado e de
indicação de u m interventor p o r parte do governo da União;

É caso de intervenção, nos termos do artigo 6^ da Constituição, a existência ãe


numerosos bandos armados que convulsionam um estado da federação, aponto
de obrigar o seu governo a decretar a criação de vultuosas forças militares? No
direito constitucional brasileiro existe a figura jurídica do interventor?

A pesar dos crescentes in stru m e n to s d e p o d e r de q u e d is p u n h a para


c o m b a te r a o p o s iç ã o , o g o v e r n o B e r n a r d e s n ã o c o n s e g u ia i m p o r a
estab ilid ad e p o lítica desejada. A fragilidade d a op o sição civil incentivava a
ação m ilitar, esp ecialm en te dos jovens oficiais, os “te n e n te s ”. N o dia 5 de
ju lh o de 1924 - dois an o s depois do m o v im e n to d o Forte de C o p aca b an a -

Para m ais in fo rm a ç õ e s s o b re a g u e rra civil n o R io G ra n d e d o Sul, q u e se e n c e rr o u n o fim d e 1923 c o m o


T ratad o de P e d ra s Altas, ver Joseph [.ove, O regionalismo g aúcho, São P aulo, Perspectiva, 1975.

110
V o liim u > O l O A B iia P r in io ir .i R e p ú b lic a

estourava u m levante m ilitar em São Paulo, envolvendo co n tin g en te s da


Força P ública e d o Exército.
A repercussão do evento no Instituto dos Advogados foi quase imediata.
N a ata da sessão do dia 10 de julho, consta o protesto do conselheiro Eurico Sá
Pereira “co n tra os acontecim entos ocorridos em São Paulo”. A a rm a d u ra que
protegia o Instituto de questões que dem andavam posicionam ento político foi
colocada, e o presidente Carvalho M ourão se apressou em su b lin h ar que o
conselheiro falava em seu n o m e pessoal, e não do Instituto, o qual, sabemos, de
acordo com as no rm as estatutárias, não podia se m anifestar com o corporação.
O clima de repressão política gerou, com o não poderia deixar de ser, um
expressivo contingente de presos, que, segundo Edgard C arone, chegou a 10.000
só em São P a u l o . E r a m n ão só m ilitares q u e se h av iam envolvido n os
m ovim entos de 1922 e 1924, m as tam bém advogados, alguns deles punidos
pela atuação que tiveram em processos de “crim e político” O In stitu to dos
Advogados se m anifestou sobre o assunto ao longo de to d o o an o de 1925.
D u ran te a sessão de 16 de julho, quando foi anunciada a aprovação u n ân im e
para sócio efetivo do advogado José Rodrigues Neves, que se encontrava preso
p o r m otivo político, o conselheiro Pinto Lima com entou:

Lamento que o governo tenha determinado a prisão de um advogado que


estava militando num processo por crime político.

Poucos dias depois, o lOAB voltaria a se m anifestar em favor dos advogados


militantes, dessa vez em apoio ao Instituto dos Advogados de São Paulo pelo
patrocínio das causas dos acusados de envolvimento no m ovim ento de 1924.
H á que se registrar, porém , que Sá Freire, o novo presidente, n ão deixou de
enfatizar que “o único objetivo da indicação era o da solidariedade com o
Instituto paulista”.^^
A pesar dos cuidados que a d u ra co n ju n tu ra política requeria, a atuação
do In stitu to em defesa das vítim as da repressão não se lim itou, n o entanto,
aos advogados. Nas sessões de 28 de m aio e de 18 de ju n h o , o conselheiro
C ândido M endes req u ereu a aplicação d a lei d a liberdade co n d icio n al aos
militares presos p o r motivo político. Igualm ente preocupado com as condições
“ Para m ais in fo rm a ç õ e s s o b re o lev a n te m ilitar d e 1924, ver, e n tre o u tro s , E d g a rd C aro n e , ü teneritismo:
acontecimentos, personagens, program as, São P aulo, Difel, 1975.
Cf. E dg a rd C aro n e , A República Velha II, o p . cit., p. 391.
A ta s da Sessão do lO A B , 31/7/1925.

111
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

de tr a ta m e n to re ceb id o p elo s p reso s - p o lític o s o u n ã o P in to Lim a


apresentou, n a sessão de 18 de ju n h o , u m a indicação para que o Instituto
nom easse u m a com issão para visitar as penitenciárias d a capital. D ois meses
depois, o m esm o conselheiro reclam ava p o r n ão co n star em ata o protesto
que levara ao In stitu to co n tra o uso de in stru m en to s de suplício n a Polícia
C entral, conform e notícias que haviam m otivado parecer d o procurador-geral
do D istrito Federal.
O ano de 1926 era o últim o do m an d ato de A rtu r Bernardes. Em m arço,
havia sido eleito o seu sucessor, o paulista W ashington Luiz, em possado em 15
de novem bro. Apesar d a m anutenção do estado de sítio até m arço do ano
seguinte, o novo governo deu sinais de que as restrições políticas estavam com
os dias contados - u m grande núm ero de presos políticos, inclusive militares,
foi posto em liberdade.
A h o ra era de fechar as contas com o passado, aí incluído u m balanço
das dificuldades que os tem pos de estado de sítio haviam causado à sociedade
em geral, e aos advogados em particular. Na sessão d o dia 11 de novem bro,
dias an te s d a posse d o nov o p resid en te, o c o n se lh e iro Justo d e M oraes
m anifestou a op in ião de que, a despeito das restrições im p o stas às liberdades
públicas, os advogados que haviam patrocinado processos p o r delitos políticos
n ão haviam sido cerceados na defesa de seus constituintes. Para eíe, tal fato
te ria re p re s e n ta d o “a sagração d a in c o lu m id a d e d o m is te r p ro fissio n al
defensor”.
Na sessão seguinte, d ia 18, foi a vez do c o n se lh e iro R o d rig u es Neves
m a n ife sta r po sição ra d ic alm en te op o sta. O fato d e te r sido ap ro v a d o co m o
sócio d o In s titu to q u a n d o a in d a se en c o n tra v a n a p ris ã o era u m forte
in d ic a d o r de q u e, ao c o n trá rio d o q u e s u p u n h a M o ra es - “d em a sia d o
b e n e v o le n te ” para co m o g o v ern o B ern ard es a defesa d o s ré u s de crim es
p o lítico s n ã o havia sido resp eitad a naquele p e río d o . Em sua réplica, M oraes
c o m e ç o u p o r re je ita r a p ech a de “b e n e v o le n te ”, já q u e hav ia sido v ito rio so
em v ário s p ro cessos p o lítico s c o n tra o governo, e ac a b o u p o r co n c lu ir que
Neves havia sid o p reso “n ã o p o r atos p ra tic a d o s n o p ro c esso p o lítico , m as
p o r m o tiv o s de estad o d e sítio e d e necessid ades d e o rd e m p ú b lic a ”.

^ ^ A ía jJ a Sessão do JO AB, 20/8/1925.

112 •Al
V o lu m e ü lO A B na P rin ic iia Rcpúl)lic,)

3 .Tem pos de re fo rm a c o n s titu c io n a l

Essas reformas no texto da Constituição representarão apenas um dos meios


da nossa reorganização política, e, ainda assim, meio subsidiário ou acessório;
mas nunca meio principal e, muito menos ainda, meio único.‘'‘'

Eis por que um agitar de esperança a revisão constitucional estimula os


espíritos de escol (...). Todavia, objetar-se-á, não serão tais esperanças meras
e criticáveis crenças no poder ilusório das reformas legislativas ou vã tentativa
de alterar a sociedade a golpes de decretoP^

V ários traço s em c o m u m u n iam o texto de O liveira V ian n a pub licad o


em 1924 e o p arecer d a com issão especial do In s titu to dos A dvogados sobre
o p rojeto de reorganização m u n icip al do D istrito Federal, p u b licad o no
B o letim d o In s titu to n o a n o seguinte. D ois desses tra ç o s m erecem u m
destaq u e especial: em am bos os textos, observa-se, antes de tu d o , u m a d u ra
c rític a à C o n s titu iç ã o d e 1891, q u e , c a lc a d a n o “ id e a lis m o d as elites
r e p u b lic a n a s v o lta d a s p a r a m o d e lo s i m p o r t a d o s ”, n ã o a te n d e r i a “ às
necessidades e condições atuais do nosso p o v o ”. No en ta n to , a con statação
da fragilidade do arcabouço constitucional vigente não im plicava em ap o star
n a revisão p ro p o sta pelo governo. Pelo co n trá rio : o q u e se n o ta, ta n to no
tex to de O liveira V ianna, q u a n to no parecer dos conselheiros d o In stitu to
dos Advogados, é u m forte ceticism o em relação à refo rm a das leis, em geral,
e da C o n stitu ição , em particular.
C o m o n ã o p o d e ria d eix ar de ser, a revisão c o n s titu c io n a l foi objeto
dos d eb a tes o c o rrid o s nas sessões do In s titu to a p a r tir de ju lh o de 1923.
Na d o d ia 19, o c o n s e lh e iro E d m u n d o M ira n d a Jo rd ã o o fe re c e u u m a
in d icaç ão so b re a o p o rtu n id a d e - o u n ão - d a re fo rm a d a C o n stitu iç ã o ,
a c re sc e n ta n d o que, em caso positivo, d ev eriam ser in d ic a d o s os p o n to s a
s e re m m o d ific a d o s . A re s p o s ta do s c o n s e lh e iro s a essa in d ic a ç ã o foi
p ra tic a m e n te u n ân im e: a revisão não deveria ser feita. Para uns, co m o os
conselheiros P in to Lim a, G om es C arneiro e H e rb e rt M oses, o m o m e n to
não seria o p o rtu n o . O u tro s, com o o conselheiro Júlio Santos, consideravam
que a p ro p o s ta co n tra riav a o p arág rafo 1 do artig o 52 do s E statu to s, que
Oliveira V ianna, op. cit-, p. 117.
" 1’arecer da co m issão especial d o In s titu to d o s A dvogados s o b re a reo rg a n iz a çã o m u n ic ip a l d o D istrito
Federal, Boletim do in s titu to da O rd em dos Advogados Brasileiros^ vol. 1, 1925.

•Ai 113
_____________ Histonia da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

serv iria “de defesa ao In s titu to co m o c o rp o ra ç ã o cien tífica, e v ita n d o que


as paix ões p o lític as ch eg u em a té esta C asa’?®
Apesar da posição contrária à revisão constitucional m anifestada p o r boa
parte dos consdheiros, em m aio de 1924 foram aprovadas duas propostas que
revelavam o envolvim ento inicial do Instituto nesse tema: a de form ação de
um a comissão para d a r parecer sobre a revisão e a de patrocínio de u m concurso
p ara prem iar o m elhor projeto de reform a da Constituição.
Foi, no entanto, somente a partir de 1925 que o debate esquentou. Na sessão
de 18 de junho, houve u m a solicitação do conselheiro Gabriel Bemardes para que,
apesar do estado d e sitio, a com issão do In s titu to encarreg ad a da revisão
constitucional retomasse o trabalho, o que, de imediato, provocou controvérsias.
Enquanto o conselheiro Virgílio Barbosa considerava que o Instituto deveria enviar
o projeto de reforma diretamente ao C o n g re s s o ,M ira n d a Jordão informava, na
sessão seguinte, que a comissão iria aguardar a apresentação do anteprojeto elaborado
pelo governo à Câmara dos Deputados, para, só então, dar o seu parecer a respeito.^®
Naquela ocasião, Jordão aproveitou para apresentar alguns pontos de destaque desse
anteprojeto: a obrigatoriedade da instrução primária, m esm o a cargo dos estados; a
competência exclusiva da União no que dizia respeito ao imposto sobre a renda; a
criação dos tribunais regionais; o estabelecimento de voto secreto e obrigatório
para hom ens, e facultativo para as mulheres; e a indicação de que a capital do país
fosse transferida para Petrópolis, em lugar de o ser para o Planalto Central de Goiás,
tal com o indicado pela Constituição de 1891.
Ao lado de tem as constitucionais clássicos - o federalism o e a intervenção
federal; os poderes Executivo e Legislativo e suas atribuições; a au to n o m ia e
os direitos dos m unicípios; a naturalização; o direito de habeas corpus, entre
outros^^ o presidente Sá Freire trouxe para a p au ta de debate n o Instituto
q u estõ es co m o re p resen tação e voto. Se a p ro p o s iç ã o d e v o to secreto e
ob rig ató rio m erecia seu apoio, o m esm o n ão se p o d ia dizer d a p ro p o sta de
refo rm a co nstitu cio n al q u e previa a representação classista.®° Visto com o

A ta s d a Sessão do lO A B , 26/7/1 92 3. S e g u n d o o a rtig o 52 d o s E s ta tu to s d o lO A B (1917), o s m e m b r o s d o


In s titu to p o d e r ã o a p re se n ta r re q u e rim e n to so b re m a té ria d e o rd e m , o u in d ic a çã o s o b re q u e se deva
p r o n u n c ia r o In s titu to . Pelo p a rá g ra fo 1, essas indicações s e r ã o ap re se n ta d a s p o r e sc rito e, lidas, ficarão
e m m e sa a fim d e , n a sessão segu in te, m an ifestar-se o In s titu to so b re a o p o r tu n i d a d e o u c o n v en iên c ia de
sua aceitação, p ro c e d en d o -se , d epo is, de c o n fo rm id a d e c o m os pa rá g ra fo s seguintes.
” A ta s da Sessão do lO A B , 9/7/1925.
A ta s d a Sessão d o lO A B , 36/7/J925.
da Sessão do lO A B , 23/7/1925.
*°i4fa5 da Sessão d o IO A B , 13/8 e 3/9/1925.

774
V o lu m e i ( ) I(.)A B n a P r i n n ’i ia K c p ú l j l i c . i

“elem ento diluidor de conflitos sociais”, o voto classista acabou sendo aprovado
pela Assembléia C o n stitu in te de 1933.
N o entanto, o po nto crucial dos debates dizia respeito à avaliação do papel
do Instituto no próprio processo de reforma constitucional. Duas posições podem
ser destacadas. De u m lado, pairava a dúvida de que, em u m am biente de fortes
constrangimentos políticos gerados pela vigência do estado de sítio, pudesse existir
o clim a de liberdade indispensável à discussão de tem as que m exiam tão
profundam ente com o arcabouço institucional do país. Além d o que, n o dizer do
conselheiro Ribas Carneiro, havia a sensação de inutilidade de qualquer esforço
do Instituto no intuito de orientar a reforma em direção mais adequada.®'
A palavra “inutilidade” não era em pregada apenas para qualificar o esforço
do Instituto. N o Boletim do Instituto de 1925 observa-se u m a desconfiança
m anifesta em relação ao p ró p rio valor das leis e da C onstituição com o fatores
reguladores e organizadores da sociedade:

A felicidade de um a nação é lição das realidades observadas, menos depende


de suas leis, seus códigos e instituições que do seu espírito de ordem, disciplina,
harmonia e sacrifício às necessidades da vida em conjunto.^^

Seja pelo am biente político p ouco favorável, s q a pela defesa q u e alguns


faziam da C onstituição de 91, o u ainda, pela descrença de que m udanças na
C onstituição pudessem produzir efetivas m udanças n a vida do país, o fato é
que a percepção generalizada foi de que a participação do Instituto n a reform a
constitucional, finalm ente aprovada no dia 3 de setem bro de 1926, havia sido
“inócua”.
N o entanto, a posição do Instituto dos Advogados com o órgão consultor
sobre a constitu cio n alid ad e das leis era co n stan tem en te referen d ad a pelas
sucessivas solicitações que recebia de várias instituições. Foi o caso, p o r exemplo,
da Associação Comercial de São Paulo que, em maio de 1924, consultou o Instituto
sobre a constitucionalidade da cobrança, pelo Ministério da Fazenda, de im postos
sobre os lucros comerciais tendo p o r base de cálculo o ano anterior. A resposta do
conselheiro Sá Pereira dá a dim ensão da estreita m argem em que o Instituto se
movia entre um a decisão puram ente jurídica - a cobrança seria inconstitucional

*' A ta s da Sessão do lO A B , 1/10/1925 (g rifo nosso).


Parecer d a c o m issã o especial d o In s titu to d o s A dvogados so b re a re o rg a n iz a çã o m u n ic ip a l d o D istrito
Federal, Boletim do In stitu to d a O rdem dos Advogados Brasileiros, vol. I, 1925.

115
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

C lovis Bevilaqua. A u to r d o C ó d ig o Civil de 1916.

116 •Al
V o lu m e J O l ü A B na P rim e ira R e p ú lilic a

- e OS constrangim entos de ordem política: “devido à crise por que passa a nação,
o comércio e a indústria devem pagar amigavelmente o im posto”.^^
O In stituto tam b ém foi instado a opinar sobre dois o u tros tem as que
m obilizavam determ inados setores da opinião pública: o divórcio e a pena de
m orte. A sugestão de que o Instituto discutisse a questão do divórcio p artiu de
Pontes de M iranda, que, inclusive, indicou o desejo da Sociedade de M edicina
e Cirurgia de participar do debate. A resposta do presidente Sá Freire foi incisiva:
o In s titu to dos A dvogados n ã o p artilhava das m esm as p re o cu p aç õ es da
sociedade de médicos.
Já a possibilidade do em prego da pena de m orte n o Brasil provocou um
debate mais acalorado. A indicação do conselheiro H eitor Lima de que o Instituto
se manifestasse “contra qualquer tendência para adoção entre nós da pena de
m o rte” foi rebatida p o r Francisco Prado, que considerou “constrangedora” a
tentativa de forçar a priori o posicionam ento dos m em bros do Instituto. A
contestação de P rado foi aceita e o Instituto resolveu discutir “sobre” e não
“contra” a pena de morte.^^ Apesar da inform ação apresentada p o r H eitor Lima
de que a pena de m o rte tinha saído da pauta da reform a constitucional, Sá
Freire sugeriu que o tem a continuasse na agenda de debates do Instituto.
N o entanto, a questão m ais polêm ica que m obilizou o Instituto , e que
envolveu dois dos m ais im portantes juristas brasileiros - Pontes de M iran da e
Clóvis Bevilacqua foi a reform a do Código Civil, o qual, depois de um a longa
e penosa tram itação, havia sido aprovado em 1917.
As sessões de m aio de 1926 foram m onopolizadas pelo duelo entre os
dois, já que, no dia 6,M iranda havia feito um a longa exposição em que apontava
os “erros crassos” do Código Civil, do qual Bevilacqua havia sido o principal
elaborador. Na sessão do dia 20, o presidente Sá Freire rebateu as afirmações de
Pontes de M irand a e com unicou que Bevilacqua faria u m a conferência no
Instituto em resposta às acusações que havia recebido. Bevilacqua n ão foi à
sessão do dia 27, m as m an d o u u m a carta, lida por Sá Freire:

O dr. Pontes de M iranda é um jurista de alta competência, mentalidade hors


ligne, por seu próprio vigor epela vasta soma de saber que acumula. A acusação
devia impressionar, como impressionou realmente, só por essa consideração.
Mas, destinando-se a dura sentença a ser publicada como parte de vultoso
*^Atas díi Sessfio do lO A B , 15/5/1924.
^ A t a s da Sessão do lO A B , 17 e 24/6/1926.
A ta s da Sessão do 1 0 A B , 7/5/1925.

117
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

trabalho empreendido por grandes mestres do direito, na Alem anha, e sua


larga repercussão no mundo pensante, aum enta-lhe a gravidade, porque vai
ferir a capacidade construtora e a cultura jurídica do Brasil. Se é possível
opor encargos a esse julgamento, é dever opo-los. N ão há quem o não sinta.
(...). Se 0 dr. Pontes de M iranda publicar as suas censuras ao Código Civil,
estou pronto a examiná-las.^^

A resposta de Pontes de M iran d a veio ao vivo. D epois de m anifestar


“estranheza” pela atitude parcial do presidente do Instituto, en unciou u m a série
de artigos do Código Civil os quais, segundo ele, conteriam erros “graves”, e não
“crassos”, com o havia sido dito. N o entanto, para quem conhecia a difícil relação
de Pontes de M iranda, juiz da Vara de Ó rfãos e Ausentes, com alguns dos
advogados do Instituto, certam ente não estranharia a p ostura de Sá Freire em
defesa de Bevilacqua.

4. Relações d e lic a d a s

Mais do que em eventuais grandes disputas, a delicadeza da relação entre


juizes e advogados pode ser percebida em pequenos em bates que, de m aneira
m ais precisa, evidenciam a tensão de u m a convivência cotidiana.^^ Nas atas da
sessão do Instituto de 15 de m aio de 1924 consta u m a queixa em relação à
insuficiência de cadeiras nos tribunais, o que forçaria os advogados a ficarem
de pé d u ran te todo o julgam ento. O to m de contida indignação que transparece
nas atas evidencia que o “descaso” com que seus m em bros eram tratad os pelo
Poder Judiciário era u m tem a que mobilizava o Instituto.
A relação entre o lOAB e o Judiciário seria colocada à prova cerca de um
mês depois, quando, sentindo-se “desacatado” p o r Olegário Costa, o juiz Pontes
de M irand a determ in ara a prisão do advogado. A reação do Instituto veio por
m eio de u m a m oção de apoio a Olegário, alegando que o órgão representativo
d o s a d v o g a d o s n ã o p o d e r ia fic a r “ in d if e r e n te d i a n t e d e s e m e lh a n te
p ro c ed im en to ”, qu e im p o rtav a em “co n stra n g im e n to ao livre exercício da
profissão”.^ A defesa do juiz feita pelo prim eiro-secretário, Júlio Santos - Pontes
^ A t a s d a Sessão do lO A B , 27/5/1926.
S obre a im p o r tâ n c ia d o s “sinais”, ver C ario G inz b u rg , Sinais; raízes d e u m p a ra d ig m a indiciário, e m C ario
G in z b u rg , M itos, em blem as, sittais: morfologia e história, São P a ulo, C o m p a n h ia das Letras, 1991.
“ Atos da Sessão do 1 0 A B , 26/6/1924.

118
V o lu m e ) ( ) l O A P ) n ,i l ^ i ' i m t ' i r a R ( ’ | ) ú i ) l i ( a

de M iranda, sócio do Instituto, não teria “qualquer anim osidade co n tra os


advogados” - provocou um a forte reação contrária d o ex-presidente Carvalho
M ourão, que qualificou o ato do juiz com o “ilegal e indefensável”, u m a vez que
os advogados tin h a m o d ireito de p rotestar. O reg istro em ata da saída
intem pestiva de Júlio Santos da sala de reunião com prova que esse era u m tem a
sensível aos advogados, fato confirm ado pela posterior renúncia ao cargo que
ele ocupava n o Instituto.^^ Se os advogados não dispun ham de m eios para p u n ir
os juizes, o faziam com aqueles que a eles se m ostravam sim páticos, e que, p o r
isso, eram vistos com o o elo fraco capaz de enfraquecer a coesão que deveria ser
a m arca identitária de u m a instituição com o o lOAB.
A construção da identidade dos advogados no âmbito da relação com os juizes
foi reforçada meses depois, em outubro de 1924. G^m base n o código de ética
profissional, M iranda Jordão colocou em pauta, na sessão do dia 9, a seguinte questão:
o advogado Heitor Lima, condenado por desacato a um juiz, poderia ser admitido no
lOAB? A resposta positiva apresentada logo na sessão seguinte, do dia 23, confirmava
que o Instituto, apesar de reconhecer a necessidade de um bom relacionamento com
0Judiciário, não deixava dúvida sobre seu papel institucional. O discurso de posse de
Heitor Lima enfeixou alguns dos pontos cardeais que orientavam a atuação do Instituto.
Embora tivesse começado com um a dura declaração - “nessa Casa não há e nem
pode haver lugar para os pusilânimes”- . Lima acabou por conclamar o estabelecimento
de um a “íntima colaboração entre advogados e juizes”.^'’
A oportunidade dessa “íntim a colaboração” viria p o r ocasião da construção
do novo Palácio da Justiça, onde o Instituto pretendia ter u m a sala privativa
para os advogados. A consecução desse objetivo - visto p o r alguns com o um a
“questão da classe” - am orteceu a reação a u m novo em bate com o Judiciário,
m ais um a vez protagonizado p o r Pontes de M iranda, que, em m aio de 1925,
havia m an d ad o p ren d er o advogado Álvaro de Castro Neves.
Ao contrário do episódio anterior, que acabara rendendo a renúncia do
prim eiro-secretário, ag^ra era a hora dos panos quentes, já que o Instituto se
encontrava em plena negociação com o presidente do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal, desem bargador Ataulpho de Paiva, pela concessão da sala no
Palácio da Justiça. As falas dos conselheiros evidenciam a delicadeza do assunto.
Pereira Braga, por exemplo, alegou que, em bora “não falasse com Pontes de
M iranda”, considerava que a ação do juiz havia sido de caráter “pessoal”, e não
A ta s da Sessão do lO A B , 10/7/1924.
Aíflí da Sessão do lO A B , 30/10/1924.
" A ta s da Sessdo do lO A B , 14/5/1925.

•àl 119
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

“profissional”, e que, portanto, não se justificaria a adoção de n enhum a atitude


p o r parte do Instituto. Já Gabriel Bernardes, que em princípio chegou a propor a
expulsão de Pontes de M iranda dos quadros da instituição, acabou por indicar
apenas o envio de u m “protesto enérgico” Coube a Zeferino Faria a colocação da
pedra de cal: o Instituto sequer deveria ter tom ado conhecim ento do incidente/^
Esse “b o m ”entendim ento com o ludiciário acabou colocando o Instituto,
m ais um a vez, diante de um a situação institucional ambígua. Por u m lado, foram
conseguidas duas salas para os advogados n o Palácio da Justiça - e não apenas
um a com o anteriorm ente prom etido. No lugar da falta de cadeiras nos tribunais,
os sinais apontavam , agora, para um a m u dança substantiva no lugar que esses
profissionais passaram a ocupar no prédio da Justiça. O congraçam ento entre
juizes e advogados transparecia nas palavras de G odofredo Cruz, presidente
em exercício do Suprem o Tribunal Federal, p o r ocasião da inauguração do
Palácio da Justiça:

Outrora, a magistratura e os advogados separados pela desconfiança; hoje,


unidos pela confiança recíproca epelo m útuo respeito/^

O clim a de euforia pela conquista de espaço físico e sim bólico foi toldado
pela polêm ica em torn o do anúncio feito p o r Pinto Lima quan to à colocação
de u m a placa com o nom e do desem bargador A taulpho de Paiva na sala que
havia sido destinada ao lOAB. O conselheiro Ribas C arneiro reagiu fortem ente
co n tra essa iniciativa da comissão form ada para redigir o regulam ento de uso
da sala. Dizendo-se surpreso que Pinto Lima, um dos mais ardentes defensores
do artigo do Estatuto que proibia o Instituto de prestar hom enagens pessoais,
estivesse encabeçando um a proposta desse teor, C arneiro acabou p o r reputar o
ato da com issão “um excesso de m and ato”. C oube a M iran da Jordão a palavra
final sobre o ato da comissão, que teria visado “aos interesses superiores do
In stituto”. Apesar das restrições estatutárias e da oposição de alguns m em bros,
a hom enagem ao desem bargador foi m antida, com o voto contrário de apenas
dois conselheiros: do p róp rio Ribas C arneiro e de O tto Theiiler.^'*
Se o relacionam ento do Instituto com o m u n d o “externo” era im portante
p ara a construção de sua identidade institucional, delicados eram os conflitos
“internos”, que tocavam n o ponto m ais sensível dessa identidade, o espírito de
A ta s da Sessão d o I O A B , 16/7/1925.
” Ams da Sessão do lO A B , 9/11/1926.
’M m s da Sessão do lO A B , 30/12/1926.

120
V ' d k i n u ' .5 O l O A B III! I’ r i n K ' i r . i K c p ú l ) l i c <i

coesão dos seus m em bros. Por isso mesmo, com o já vimos em outras situações
de impasse, a renúncia era usada com o a solução para resolver questões que
dividiam os conselheiros.
À guisa de exem plo, po d em o s citar dois eventos em q u e a renú ncia foi
usada co m o fo rm a de negociação em conflitos in tram u ro s. U m deles, foi a
questão do sigilo profissional dos advogados. Na condição de segundo vice-
presidente do In stituto, Levi C arneiro defendeu o p o n to de vista de que, no
interesse da aplicação d a justiça, o advogado não deveria g u a rd a r sigilo
profissional. As críticas a essa posição foram dup lam en te incisivas: não só
p o rq u e desqualificaram C arneiro, com o foram desfechadas p o r dois dos mais
influentes m em bros d o Instituto, P into Lima e C arvalho M ourão. E n quanto
o p rim eiro p ro c u ro u esclarecer “os juristas que não conhecem a organização
do In stitu to , p ara q u e n ão su p o n h am que a opinião de C arn eiro é esposada
pela corp o ração ”, M o u rão alertava que a opinião de Levi C arneiro estaria em
desacordo com “to d o s os nossos precedentes’7^ A saída ho n ro sa para um
conselheiro da envergadura de Levi C arneiro foi a ren ú n cia ao cargo que
ocupava, a qual, claro, n ão foi aceita pelo Instituto.^^ Os lim ites do conflito
estavam delim itados, bem com o os procedim entos que deveriam balizá-lo
nos m arcos d a id en tid ad e in stitu cio n al que se c o n stru ía para o In stitu to
naquele período.
M ais tenso foi o conflito que se seguiu à disputa entre os conselheiros
Pinto Lima e Ribas C arneiro pelo cargo de o rad o r nas eleições p ara a diretoria
do Instituto no final de outubro de 1924. Inconform ado por ter perdido a eleição.
C arneiro ren u n cio u aos cargos que tinha nas comissões internas do Instituto,
sendo seguido p o r outros conselheiros que, a pretexto de estarem “do en tes”,
tam b ém d ecid iram renunciar.^^ D iante dessa forte reação, q u e claram ente
apontava para u m im passe, Pinto Lima renunciou, sendo então realizada u m a
nova eleição para orador do Instituto, que veio a confirm ar o resultado anterior.^®
A eleição da nova diretoria, realizada em o u tubro de 1926, foi o m o m en to
da recom posição da unidade do Instituto. Pinto Lima foi eleito p ara a 1® vice-
presidência, e Ribas C arneiro recebeu 58 votos para, enfim , assum ir o cargo de
orador. A presidência coube a Rodrigo Octavio Langaard de M enezes, que
d erro tou Levi C arneiro p o r u m a diferença expressiva de votos: 52 a 15.
” AW5 da Sessão do lO A B , 10/7/1924.
’’''A ta s d a Sessão do lO A B , 17/7/1924.
A tas da Sessão do lO A B , 30/10/1924.
” Afíií da Sessão do lO A B , 6/11/1924.

727
_____________ Hlstória_da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

5. A d ifu s ã o da c u ltu ra ju ríd ic a

A propó sito da defesa da criação d a Federação dos Advogados Brasileiros,


que julgava m ais abrangente que a O rdem dos Advogados Brasileiros, o advogado
Jorge Latour, em artigo publicado em O Jornal, de 17 de agosto de 1926, colocou
a advocacia na condição de profissão liberal qu e m ais de p erto atenderia às
“exigências de expansão do organism o nacional, b em com o às atividades do
Estado”/^
A p a rtir de 1927, foi-se to rn an d o cada vez m ais clara a percepção da
necessidade de u m “ap rim o ram en to ” da form ação ju ríd ica dos advogados.
U m conjunto de m otivos parece estar n a base dessa preocup ação do Instituto.
Em p rim eiro lugar, só u m a form ação jurídica “ap rim o ra d a ” seria capaz de
garan tir ao advogado u m lugar privilegiado naquele m o m e n to de expansão
das atividades do Estado. Além do que, a especialização do saber técnico ia
g an h a n d o cada vez m ais espaço à custa do saber generalizante d o bacharel,
tachado, pejorativam ente, de “bacharelesco”, e considerado, p o r m uitos, com o
um saber oco e inútil.®°
A sintonia do Instituto aos “novos tem pos”, como se costumava dizer, exigia
a presença do elemento feminino em seus quadros. Sabemos que a década de
1920 foi pródiga em m ovim entos que, em países da Europa e nos Estados Unidos,
e m esm o no Brasil, reivindicavam um a participação mais am pla da m ulher na
vida política, econôm ica e social. Na sessão de 24 de m aio de 1928, foi em possada
O rm inda Bastos, cuja tônica do discurso de posse foi justam ente a extensão do
direito de voto às mulheres. De acordo com a oDncepção de qu e as m udanças no
Brasil haviam sido feitas de “cim a para baixo”, a conselheira concluiu que a adoção
do voto feminino resultaria da iniciativa de u m a “m inoria avançada e liberal”:

A nossa evolução social e política tem se processado, inteira, não de baixo


para cima, não das camadas populares para as classes dirigentes, mas de
cima para baixo, isto é, de uma minoria preposta à direção intelectual do
país para a grande massa dos dirigidos (...). O voto fem inino não podia escapar
à uniformidade dessa marcha}^

lo rge L ato u r, “ O s advogados brasileiros”, O Jornal, 17/8/1926.


S obre o n o v o p a d rã o d e gestão estatal nos anos 20, ver, e n tre ou tro s , Angela d e C a s tro G om e s, “ N ovas elites
bu ro c rá tic a s ”, em Angela d e C sstc o G o m e s (c o o rd .), ]osé U ic ia n o d e M a tto s D ias e M a r ly Silva d a M otfa,
Engenheiros e economistas: novas elites burocráticas, R io d e Janeiro, E ditora FGV, 1994.
*' D iscurso d e O r m i n d a Bastos, c m A ta s da Sessão do lO A B , 24/5/1928.

722 •àl
V d lu in r ( ) lOAI-) t u 1’ r i m c i i a K r p ú l i l i c . i

A convicção, arraigada em boa parte da elite política e intelectual brasileira,


de que as m udanças necessárias à incorporação do Brasil ao m u n d o m oderno
viriam de “cima para baixo”, era outro forte argum ento em favor da “difusão da
cultura jurídica”. Para além de “práticos do foro”, os advogados, com o m em bros
dessa elite ilustrada, precisavam estar equipados intelectualmente para, de maneira
mais produtiva e eficiente, com o requerido p o r esses novos tem pos, intervir na
condução dos destinos do país.
N ão p o r acaso em seu discurso de posse na presidência do Instituto, em 8 de
novem bro de 1928, Levi Carneiro defendeu a inclusão, nos novos Estatutos que
seriam aprovados no m ês seguinte, da “difusão da cultura jurídica” com o u m dos
principais objetivos da instituição:

Porque este é, afinal, em verdade, nosso mais alto objetivo. A ele temos procurado
servir. Só a ele atendia o projeto de nosso primeiro presidente, o egrégio
M ontezum a, que mereceu o louvor imperial tendente ao estabelecimento de
aulas jurídicas no Instituto, professadas por membros do Instituto. Urge, no
entanto, que o destaquem os e para ele convoquemos todos os esforços
aproveitáveis.^^

De fato, no novo Estatuto aprovado em 31 de dezem bro de 1928, aos três


incisos que co m p u n h a m o parágrafo único do artigo 1° d o Estatuto de 1917,
que tratava dos “objetivos do Instituto”, se ju n to u u m qu arto - a difusão da
cultura jurídica n o país.
D entro dessa orientação, foram previstas a convocação de u m congresso
jurídico a se realizar em 1930, em com em oração ao centenário do Código
C rim inal do Im pério, e a organização de um a série de cursos de “alta cultura
ju ríd ica”. O p ro g ram a se c o m p u n h a de u m a série de conferências, qu e se
iniciariam a partir de m aio de 1929 com a aula inaugural de Clóvis Bevilacqua.
A ela se seguiriam palestras cujos tem as percorriam u m am plo leque: contratos
coletivos de trab alh o (Sá Freire), m edicina pública (Afrânio Peixoto), e até
m esm o a discussão se o direito de revolução estaria entre os direitos previstos
pela C onstituição de 1891 (Ernesto Leme). A idéia de “difusão” estava presente,
um a vez que havia o anúncio da iniciativa de um acordo com as sociedades de
rádio para a transm issão de pequenas palestras de direito usual. A grande queixa
era a falta de publicidade dos trabalhos realizados pelo Instituto, u m a vez que

’'^A tas da Sessão do lO A B , 8/11/1928.

123
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

as publicações gratuitas feitas pela Im prensa Nacional costum avam ser m uito
demoradas.®^
Tal como previsto, o cido de conferências se abriu n o dia 25 de maio, com a
apresentação de Clóvis Bevilacqua, presidente honorário do Instituto e que, em
julho próximo, seria indicado para receber a m edalha de bronze com o jurista do
ano. A partir de então, foi instituída a concessão anual dessa m edalha com o nome
de prêmio Teixeira de Freitas. No discurso de abertura dos trabalhos, Levi Carneiro
enfatizou a “transformação” por que passava o Instituto naquele mom ento:

Agora acaba de passar o Instituto p o r u m a transformação, para que de


m uito se encam inhava ~ um a, deixando de ser apenas u m a associação de
profissionais^ para, sem perder essa feição preponderante, acolher todos
os juristas; a outra, consignando expressamente entre seus objetivos a
difusão da cultura jurídica entre nós. Dessa transformação, decorre a
necessidade das conferências públicas (...) Ê ao estudo dos problem as
teóricos, dos mais altos problemas do direito, que nós, práticos do foro,
vos co n vo ca m o s. P orque lhe s e n tim o s a relev â n cia , o alcance, a
necessidade.^"*

P ara se afin ar com o m u n d o p ó s-g u e rra, qu e cada vez m ais dem andava
profissionais especializados, precisava o In stitu to se “tra n s fo rm a r” e investir
n a form ação “teórica” dos “práticos do foro”. N ão po ssu indo os in stru m en to s
de c o e rç ã o e de c o n tr o le so b re seus m e m b ro s , típ ic o s de u m ó rg ã o
c o rp o ra tiv o c o m o a fu tu ra O rd e m do s A dvogados, ao In s titu to restava
“conv ocar” seus profissionais p ara o “estudo dos m ais altos p ro b lem a s do
d ire ito ”.
A reeleição de Levi C arneiro em o u tu b ro de 1929 era g arantia segura de
que a program ação de atividades do In stitu to p ara o an o seguinte m anteria o
" Bolelim do In s tituto da O rd em dos Advogados Brasileiros, 1929, p. 97.
Boletim do In stitu to da O rd em dos Advogados Brasileiros, 1929, p. 223.
Ao lo n g o d e 1929, f o r a m realizadas 1 1 conferências; D ire ito su b jetiv o (C ló v is B evilac qua ); C o n tra to s
coletivos d e tra b a lh o (Sá Freire); C o dificação p e n a l m o d e r n a - a d a E s p a n h a e a d a Rússia S oviética
( E v a m t o d e M o raes); R e s p o n s ab ilid ad e d o E s ta d o p o r d a n o a o e s tr a n g e ir o {Raul F e rn a n d e s ) ; A s novas
d ire triz e s d o d ir e ito (José A n t ô n i o N o g u e ira ); As p e n a s e a i m p u ta b ili d a d e n o p r o je to d o C ó d ig o
P e n a l B r a s il e ir o (V ir g ílio d e Sá P e re ira ); O p r o b l e m a d a n a c i o n a l i d a d e ( R o d r i g o O c t a v i o ) ; A
c o n tr ib u iç ã o d e M in a s G erais p a ra a s o lu çã o d o p ro b le m a p e n a l b ra s ile iro (M a g alh ã e s D r u m m o n d ) ;
O direito d e família n a legislação soviética (V ic ente Rao); P ro b le m a s d e so ciedades a n ô n im a s (C a rv a lh o
d e M e n d o n ç a ) ; A C o n s t i t u i ç â o d e 1891; d ireifos im p lícitos; e n t r e ele s n ã o s e c o m p r e e n d e o d ir e ito d e
re v o lu ç ã o (E rn e s to Lem e).

724 •àl
V o lu m e J Ü lO A B na 1’ i i m c i i a K c p ú l) iic a

investim ento na form ação jurídica do advogado.*^ De fato, o que se viu foi a
s u b o rd in a ç ã o d o “e s tu d o de casos e q uestões o c o r re n te s ” a u m am p lo
p rogram a de trab alh o s para 1930, que, no dizer de C arneiro, obedecia “ao
em p en h o de servir a cultu ra ju ríd ica do país, desenvolvendo-a e d ifu n d in d o -
Assim, além da continuação das conferências - um a série especial seria
especialm ente d edicada ao estudo do Código C rim inal de 1830 - houve a
proposta de realização de vários concursos: um , para p re m ia r“a m ais com pleta
e concisa definição dos direitos e deveres dos cidadãos brasileiros”; ou tro ,
sobre a influência de Ruy B arbosa no direito brasileiro; e u m terceiro, para a
elaboração de u m a o b ra destin ad a ao estu do prático do C ódigo Civil. A
preocupação em facilitar o acesso da população a inform ações sobre o direito
estava presente ta n to n a preparação de u m peq u en o dicionário, q u a n to na
transm issão de pequenas palestras pelo rádio.
Atingir a m assa através desse meio de com unicação direta - m esm o os
que não possuíam um rádio podiam ouvir os program as em lugares públicos
p o r m eio de serviços de alto-falantes - não era privilégio apenas de artistas ou
de políticos. R apidam ente se percebeu a im portância do rádio com o veículo de
form ação pedagógica, de educação cívica, e, p o rta n to , de co n stru ç ã o de
cidadania. Na ata da sessão de 22 de m aio de 1930, consta o anúncio de que as
palestras sobre direito iriam ao ar pela Rádio Sociedade, todas as quartas-feiras,
às 21:15h, com 10 m inutos de duração. A agenda prevista incluía os principais
especialistas nos mais variados ram os do direito, confrontados com o desafio
de resum ir em apenas dez m inutos, e em linguagem acessível a um público
leigo, tem as am plos e complexos.**
N ão p o r acaso, a crescente im portância do aparato legal na vida do cidadão
com um , e, por isso m esm o, a necessidade de ele conhecer as leis que o regiam,

" De aco rd o c o m o n o v o E sta tuto d o lOAB, a posse d o sucessor d e Levi C a r n e i ro se d a ria n ã o m ais em
n o v e m b ro de 1930, e sim e m abril d e 1931. A criação da OAB a c a b o u p o r m o d ific a r o q u e liavia sido
estabelecido pelo E sta tu to d e 1928.
Boletiin do ÍMstituto da O rd e m dos Advogados Brasileiros, \9 30, p. 37.
I o r a m escalados 21 especialistas; conferência in a u g u ra l (Levi C a r n e iro ); d ire ito civil e m geral (A stolpho
R e/ende ); direito na família ( A r m a n d o Vidal); direito das coisas (P h ila d e lp h o A zevedo); d ire ito das
obrigações (T argino R ibeiro); direito das sucessões ( lorgc i-ontenelle); d ire ito d o c o m é rc io e d a in d ú s tria
em geral (Ribas C a r n e iro ); direito com ercial te rrestre (Salvador P in to Junior): falências (M o itin h o Dória);
direito m a r íti m o (H u g o Sim as); direito in d u stria l (A rn o ld o M edeiros); p rocesso civil (Pereira Braga);
direito in te rn a c io n a l p riv a d o (H a ro ld o V a lla d ã o ); direito penal ( M á rio Bulhões Pedreira); d ireito m ilitar
(O ctavio M . R ezende); sistem a pe n ite n ciário (C â n d id o M end es); processo p e n a l (P in to Lima); direito
c onstitucional (C astro N unes); organização judiciária (Nilo Vasconcellos); direito a d m in istra tiv o (Figueira
de M ello); e direito in te rn a c io n a l p ú b lic o (Virgílio Barbosa).

•ái 725
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

foram os p on tos centrais da conferência inaugural de Levi C arneiro, realizada


n o dia 4 de junho:

N enh um cidadão digno dessa qualidade pode prescindir do conhecimento


sumário e exato do regime sob que vive. N u m a sociedade civilizada, o homem
está sempre sob à sombra ãa lei ou debaixo das garras da lei (...). A q u i será
como se os nossos ouvintes ascendessem em u m a aeronave - é a comparação
banalíssima, inevitável, nos dias que passam - e percebessem rapidamente,
n um lance de vista, as culminâncias da cidade das nossas leis (...). Especialistas
provectos encaminharão vosso olhar, explicarão o que desvendarem.^^

A prioridade que o Instituto deu à sua consolidação com o u m centro de


fo rm a ção do advogado e de divulgação d o saber ju ríd ic o se re la cio n o u
igualm ente à co n ju n tu ra política, definida p o r Levi Carneiro, em seu discurso
de abertura dos trabalhos de 1929, com o “dias de paz e de o rd e m ? ° Se nos
“tem pos de estado de sítio”a dinâm ica do quadro político, em b o a m edida, deu
o to m da atuação do Instituto, em tem pos de “paz e ord em ” a preocupação
dom inante foi a construção da identidade do advogado com o u m profissional
d o n o de u m saber especializado, po rém voltado para os interesses m ais am plos
da população.
A Revolução de 30 acabou com os “dias de paz”, como, aliás, ficou bem
claro na fala de Levi C arneiro sobre a “colaboração” dos advogados com o novo
regim e que acabava de se instalar:

Creio bem que se podem conciliar, nos m om entos excepcionais da vida


nacional que estamos vivendo, os dois princípios porque m e tenho empenhado
em nortear a ação desse Instituto: o alheamento completo e sistemático das
competiçõespolítico-partidárias, e o interesse constante e desvelado pelos altos
problemas políticos de que depende a felicidade de nosso povo e o progresso
de nossa pátria, Um e outro nos hão de ditar, ainda agora, o mesmo anseio
de paz, de ordem, de legalidade, que sempre nos tem anim ado e caracterizou
sempre a nacionalidade brasileira.^'

Boletim do In stitu to da O rd e m dos Advogados Brasileiros, 1930, p. 145.


D is cu rso d e Levi C a r n e i ro p ro n u n c ia d o e m 18/4/1929. B oletim do In s titu to d a O rd e m dos Advogados
Brasileiros, 1929.
Fala d e Levi C arneiro, A ta s d a Sessão do 1 0 A B , 30/10/1930.

726
\A ik in x ' ) ü l O A H ii.i P iiin c 'iiM R ü | ) ú l ) l i i a

M esm o re afirm a n d o sua trad ic io n a l posição de d ista n c ia m e n to das


“com petições político-partidárias”- era assim que Carneiro, naquele m om ento,
qualificava o m ovim ento de 3 de o utu bro o Instituto não conseguiu se m anter
distante d a polarização que costum a se seguir às m udanças bruscas de regime.
Acabou sendo acusado, pelo jornal A Esquerda, de ser sim pático a W ashington
Luiz e, portanto, co n tra o “m ovim ento revolucionário”. Na ata da sessão de 11
de novem bro, consta a carta que Levi C arneiro enviou ao Jornal do Commercio
em defesa das posições do Instituto:

O Instituto (e não só porque os seus Estatutos o vedariam) não votou nenhuma


moção de solidariedade ao sr. Washington Luiz. A moção que o Instituto
votou (...) não se referia ao governo, nem ao então presidente, nem exprimiu
solidariedade a ninguém. Obedeceu a um pensamento tão alto e tão extreme
de preocupação partidária, que todos os sócios presentes assinaram (...). Ainda
mais: nenhum a comunicação fo i feita ao Governo. Também manifestação
alguma fe z o Instituto ao governo atual.

Exatam ente u m a sem ana depois, no dia 18, o artigo 17 do Decreto n°


19.408 d e te rm in o u a criação da O rdem dos A dvogados Brasileiros, cujos
Estatutos deveriam ser discutidos e votados pelo Instituto dos Advogados, com
a colaboração dos institutos estaduais, e posteriorm ente aprovados pelo governo.
Dias antes, na sessão do dia 13, havia sido apresentado ao Instituto u m projeto
de instituição da O rdem , assinado conjuntam ente p o r M iranda Jordão, Gualter
Ferreira, Ribas C arneiro e Ricardo Rego. No entanto, com o se pode ler na ata
da sessão de 20 de novem bro, o então m inistro da Justiça, Oswaldo Aranha,
havia decidido criar a O rdem antes m esm o de chegar às suas m ãos a proposta
dos conselheiros do Instituto.
Filha do seu tem p o, a O rdem nasceu sob o signo da "‘disciplina e da
seleç ão ”, v i s t o s , en tão , com o elem entos fu n d a m e n ta is p a ra o progresso
in d iv id u a l e coletivo. Ao saírem n a frente n a o rg a n iz aç ão c o rp o ra tiv o -
profíssional, p uderam os advogados desfrutar de u m a base segura para um a
inserção m ais qualificada na vida social e política do país.

Fala d o conse lhe iro João P e d r o d o s S antos, A tas da Sessão do lO A B , 20/11/1930.

727
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

128
V o lu m i' 1 ( ) IO A B iK i I ' l ' i m c i r a R c ' p ú ! ) l i c , t

CONSIDERAÇÕES FINAIS
R ecuperar a trajetória do Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros,
ao longo da República Velha, trouxe-nos a lem brança de u m filme clássico de
Luchino Visconti, da década de 1960,0 Leopardo, baseado n o livro de Giuseppe
Tomasi de Lam pedusa, II gattopardo. Recordam os, sobretudo, de u m diálogo
entre o jovem Tancredi e o seu tio, o Príncipe de Salina, em qu e o sobrinho
explica ao velho a ris to c ra ta siciliano que o segredo d a p reserv a ção das
instituições está justam ente n a sua capacidade de transform ação, de lidar com
o novo, por assim dizer. A costum ando-se aos novos tem pos, aceitando as novas
realidades, aclim ando-se às condições sociais, então dom inantes, só assim elas
se revigoram e conseguem sobreviver.
A queda da m onarquia, por certo, trouxe problem as p ara o In stituto da
O rdem dos Advogados Brasileiros. Tanto assim, que p o r dois anos a corporação
perm aneceu inativa. N ão participou sequer dos debates da C onstituinte, quando
se preparava a nova ordem jurídica do país. Infelizmente, não conseguim os
descobrir o que teria ocorrido naquele lapso de tem po. Identificam os, todavia,
que suas atividades só foram reiniciadas em 1892. Percebem os que d u ra n te a
República dos Marechais, os novos dirigentes da Casa de M ontezum a deram
especial ênfase às iniciativas acadêmicas e à retom ada do serviço de assistência
jurídica gratuita, atendim ento que prestavam aos réus pobres, desde m eados
d a década de 1860.
As estratégias de sobrevivência foram bem -sucedidas. A instituição logo
se m o strou adaptada aos novos tem pos. Basta dizer que a co m em oração do
jubileu de o u ro m ereceu o patrocínio do m arechal Floriano Peixoto. Passo a
passo, o grêm io se aproxim ou dos novos donos do poder.
Essa nova c a m in h a d a ascenden te g a n h o u im p u lso com a v olta das
oligarquias ao poder. Os m ovim entos foram cuidadosam ente estudados. O
Instituto incorporou-se às festividades do quarto centenário d o descobrim ento
d o Brasil, p rom ovendo u m evento pioneiro na cultu ra ju ríd ica nacional, o
Congresso lurídico A m ericano. Escudados convenientem ente pela pretensa
neutralidade do discurso científico, os herdeiros de M ontezum a aproveitaram

729
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

a jornada acadêm ica para questionar o m odo com o a República fora im plantada
n o Brasil, discutindo o sistema federativo, o aparato jurídico, e a divisão de
poderes.
Ao m esm o tempo, o Instituto procurava conquistar a confiança do governo,
que não tard o u em reconhecer a com petência da associação, ora em penhada
no preparo de pareceres e de estudos, ora ofertando sugestões às autoridades
constituídas, visando ao aprim oram ento do poder judiciário. Recuperou, assim,
as funções de assessoria que exercera ju n to aos gabinetes im periais.
M as outras transform ações ainda estariam p o r acontecer. Eis que surge o
lO A B ra d ia n te , re ju v e n escid o e p re s tig ia d o p e la s o c ie d a d e c a rio c a na
in a u g u ra ç ã o d a av e n id a C e n tra l, u m dos s ím b o lo s d o p ro g re s so e da
m odernização que o país buscava alcançar. C oerente com os novos tem pos,
discutiu 0 exercício da profissão de advogado pelas m ulheres e sua adm issão na
Casa de M ontezum a. Debateu a instituição do divórcio n o Brasil, bem com o a
regulam entação do trabalho dos m enores e das m ulheres.
D o m esm o m odo, apareceu na program ação da Exposição Nacional de
1908, q u an d o realizou o Prim eiro Congresso Jurídico Brasileiro - evento que
reuniu advogados de quase todas as regiões do território nacional. Desta vez,
entretanto, o lOAB não se utilizou do pretexto acadêm ico para questionar o
advento da República. D era o fato com o con su m ado. P o rtan to , chegara o
m o m en to de contribuir para o aperfeiçoam ento das instituições e identificar
aspectos do aparelham ento jurídico que necessitavam de urgente atualização,
ten d o em vista as novas expectativas sociais e econôm icas d o país, que então se
percebiam em franco progresso.
I n a u g u r a d a c o m o C o n g re ss o J u ríd ic o de 1922, p o r o c a s iã o da
com em oração de u m outro centenário - o da independência do Brasil a década
de 20 trouxe novos e sérios desafios para o Instituto. Uns, se ligaram à crescente
com plexidade que m arcou sua relação com o m u n d o da política e do judiciário;
o u tro s , se co n e c ta ra m à necessidade inadiável d a in stitu iç ã o inv estir n o
“aprim o ram en to e na difusão da cultura jurídica”.
Foi difícil a travessia dos quase cinco anos de estado de sítio. Apesar do
escudo oferecido pelo Estatuto contra o envolvim ento em questões políticas, o
Instituto entendeu que a luta contra o arbítrio era a sua razão de ser, m esm o
que à custa de sérias dissensões internas, com o a qu e levou à renúncia do
presidente Alfredo Bernardes em plena crise provocada pela revolta tenentista
de julho de 1922.

130 m àM
V o lu m e ' ( ) I ( ) A B n .i 1’ i ' i n n ' i r a l \ ( ' i ) ú l ) ! i c , t

Essa posição em favor do respeito à lei e do acatam ento da justiça não


im pediu, no entanto, que o governo continuasse a dem andar do Instituto estudos
e pareceres sobre leis e decretos, inclusive sobre a refo rm a co nstitu cio n al
aprovada em 1926. O resultado foi u m reforço da posição institucional da
associação dos advogados com o u m a voz qualificada, ao m esm o tem po, nas
arenas política e jurídica.
No final dos anos 1920, o Instituto direcionou seus esforços para um
objetivo central: a p rim o ra r a form ação dos advogados, o u seja, elim inar a
incôm oda etiqueta do “bacharelism o generalizante”, e inserir o saber jurídico
no rol dos saberes especializados, tal com o dem andado pelos novos tem pos
sob a égide da técnica e da eficiência.
A avaliação de que a Revolução de 30 é um divisor de águas n a história do
Brasil republicano se to rn a ainda mais pertinente quando referida à trajetória da
associação dos advogados criada em 1843. Objetivo m aio r perseguido pelo
Instituto desde então, a criação da O rdem dos Advogados Brasileiros (OAB)
atualizou o desafio da adequação à nova realidade institucional e política associada
à m anutenção de u m a identidade construída ao longo de quase u m século.

131
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

132 m àM
V o Il iiik - ) o l O A B n , i I’ r i i i u ' i i ' . i R o p ü b l i í . i

índice Onomástico

Almeida, M iguel C alm on d u Pin e, 65


A m ado, Gilberto, 94,95
Am aral, U baldino do, 31
Aranhüy Oswvaldo Euclides de Sousal27
A raripe Júnior, Tristão de Alencar, 20, 158
Ataíde, Tristão de [Alceu A m oroso Lima, dito], 94
Azevedo, Augusto Álvares de, 39,153, 315
Azevedo, Philadelpho, 125

B andeira, Esm eraldino, 6 3 ,6 4 ,6 7 ,1 0 5 ,1 5 9 ,1 6 0


Barão de Loreto { Franklin Dória), 41,5 1 ,5 8
Barbosa de Oliveira, Ruy, 12. 23, 29, 77, 78,81, 82,125, 157,158, 162, 320
Barbosa, Virgílio, 114, 125
Barros, Eugênio, 96
Basílio, Taciano, 5 9,6 4 ,1 5 6
Bastos, O rm inda, 122
Batista, H om ero, 107
Bernardes, A rtur da Silva, 18, 102, 107, 109, 110, 112
Bernardes,Gabriel, 105, 106, 109, 114, 120
Bevilacqua, Clóvis, 13,51,116, 117,118, 123, 124, 152, 156
Bilac, Olavo, 29, 55, 56
Borges, Alfredo M adureira Frederico, 31
Braga, Pereira, 119, 125
Brandão, Avelar, 63

133
_____________ H istoriada
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Bulhões de Carvalho, João Evangelista Sayão, 44,49, 54, 58,154, 316


Bulhões de Carvalho, José Luís Sayão, 2 4 ,25 ,31, 39

C âm ara, Octacílio, 64
C am pos, M yrthes G om es de, 11, 5 7 ,5 8 ,5 9 ,6 0 ,6 3
Campos SalleSy M anuel Ferraz de, 36, 37,48,102, 156
C ardoso, Vicente Licínio, 94,95
C arneiro, Levi, 104, 121, 123, 124, 125, 126,127, 160, 325
Carneiro, M ário Tíbúrcio Gomes, 103, 104, 105, 107, 108, 109, 110, 113
Carneiro, Ribas, 103, 108, 109,115,120, 121,125, 127
C arone, Edgard, 111
Carvalho, Carlos Augusto de, 3 1 ,4 1 ,5 4 ,8 1
Carvalho, Ronald, 94
Cavalcanti, Amaro, 34, 35,5 1 ,5 4
C onstant Botelho de Magalhães, Benjamin, 94
Correia, M anuel Francisco, 30
Costa, Olegário, 118
Cruz, Godofredo, 120
Cruz, Oswaldo, 55

Dória, M oitinho Antonio, 16, 61,73,125


D ru m o n d , Lima, 36,51, 62,67
D ru m m o n d , Magalhães, 124

Elis, Alfredo, 78
Einstein, Albert, 92

134
V o k in u ' i ( ) I O A I 5 n , i P r i t n ( ‘ ir,i K c p ú b l i c . i

Faria, Zeferino, 105,120


Fernandes, Raul, 124
Ferreira, Gualter, 127
Floriano Peixoto, 23, 28,29, 31, 77,129
Fontenelle, Jorge, 125
Fonseca, M arechal D eodoro da, 23,157
Fonseca, H erm es da, 78,82, 158
Franco, Afonso Arinos de Melo, 81
Freire, Milcíades M ário de Sá, 103, 104, 111, 114, 117,118, 123, 160, 324

Galvão, B enjam im Franklin Ramiz, 40,56


Gom es, Carlos, 70,89
G ordo, Adolfo, 108
G usm ão, Crysólito de, 101

Lacerda, Sebastião, 109


Lacerda, M arcílio Teixeira de, 62,6 3 ,6 4
Lam ounier, Bolívar, 95
Latour, Jorge, 122
Leão, A ntônio C arneiro, 94
Leite, Solidônio, 51,62
Leme, Ernesto, 123,124
Lessa, Pedro, 67
Lima, Augusto PintOy 62,63,98,104,106,108,109,111,112,113,120,121,125
Lima, H eitor, 117, 119
Lobo, Aristides, 20,29

135
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Luís Pereira de Sousa, Washington, 112,127,158


Lyra, Tavares de, 70

M
M achado, Francisco da C unha D eodato M aia, 4 8 ,5 1 ,6 3 , 79,80
Magalhães, T heodore, 62,81, 98
Magalhães, Valentim, 39,47
Malheiro, Agostinho M arques Perdigão, 21,39
M alheiros, Heitor, (pseudônim o do Visconde de Taunay), 24
M arinho, Saldanha, 19,20,153
M arques, João, 59
M attos, José C ândido de A lbuquerque Mello, 35, 36
M edeiros, A rnoldo de, 1 0 4 ,105 ,107 ,1 25
Mello, Figueira de, 125
Mello, Isaías Guedes de, 39,60
Melo, [Almirante] C ustódio José de, 31
M ello, U rbano Sabino Pessoa de, 21
M endes, Fernando, 83
Meníies de Almeida, Cândido, 111,125
M endonça, Carvalho de, 124
Menezes, Rodrigo Octavio Langaard de, 32, 39,61, 75,121, 124, 158, 321
Michels, Robert, 95
M iran d a Jordão, Edm undo, 113, 114, 119, 120, 127
M iranda, Francisco Cavalcanti Pontes de, 13,92,93,95,98,117,118,119,120
M ontezum a, Francisco Gé de Acaiaba e, 123, 129
M oraes, A ntônio Evaristo de, 1 3 ,9 7 ,9 8 ,9 9 ,1 2 4
M oraes, Justo, 105, 107, 112
M osca, Gaetano, 95
Moses, H erbert, 108,113
Mourão, João M artins Carvalho, 36,51,58, 5 9 ,6 2 ,1 0 0 ,1 0 1 ,1 0 5 ,1 0 7 ,1 0 8 ,
111,11 9,1 2 1 ,1 5 6 ,1 5 9 , 322

136 9àM
V b l i i n n . ' ■) ( ) lO A I'! n ,i P r i n u ' i i . i K u p ü h l i u i

Nabuco, Joaquim , 15,153


N epom uceno, Alberto, 70
Neves, Álvaro de Castro, 119
Neves, José Rodrigues, 111, 112
N ogueira, José A ntônio, 94,124
N unes, Castro, 125

Paiva, A taulpho de, 119,120


Pareto, Vilfredo, 95
Passos, Pereira, 5 4 ,5 5 ,5 6
Peçanha, N ilo Procópio, 78,102
Pena, Afonso [Augusto M oreira], 16,66,156
Pedreira, M ário Bulhões, 125
Pereira, Baptista, 58, 154
Pereira, Eurico Sá, 108, 111, 115
Pereira, Virgílio de Sá, 124
Pessoa, Epitácio Lindolfo da Silva, 18,42, 78,104, 108, 151, 156, 158
Pinheiro, N uno, 94
Pinto, N odden, 62
Pinto, Alfredo, 82, 83, 156, 157,319
Pinto Jr., Salvador, 125
Prado, Francisco, 117
Portella, M anoel, 31,153, 314

Rao, Vicente, 124


Rego, Ricardo, 127
Rezende, Astolpho, 125
Rezende, Octavio, 125

737
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Ribeiro, Targino, 125


Rio Branco, Barão do, 13,61,66, 7 0 ,7 4 ,7 5 ,7 6 ,1 5 6
R odrigues Alves, Francisco de Paula, 40,50, 5 3 ,5 4 ,6 1 , 77,154

s
Sam paio, Bittencourt, 70,89
Santos, D eodato Villela dos, 31, 33
Santos, Júlio, 104, 113, 118, 119
Sá, Francisco de Salles M eira e, 50,51
Seabra, José Joaquim , 5 0 ,5 3 ,5 4 ,5 6 ,7 7 ,1 5 4
Segóvia, Lisandro, 48,51, 77
Serrano, Jonathas, 94
Silva, Alfredo Bernardes da, 41, 91,97,103, 105,130, 160, 323
Silva, Ernesto Nascimento, 98
Silveira, Tasso da, 94
Simas, Hugo, 125
Souza, Inglez de, 66, 72,73,155, 317
Sodré, Azevedo, 60

Teixeira de Freitas, Augusto, 31,32, 50, 51, 78,1 2 4 ,1 5 4


Theilier, O tto, 120
Torres, Alberto de Seixas M artins, 95
Torres Netto, A ntonio José Rodrigues, 20,152, 153

Valladão, H aroido, 125


Vasconcelios, Nilo, 125
Vianna, M anuel Álvaro de Sousa Sá, 1 3 ,1 5 ,1 6 ,1 7 ,2 0 ,2 1 ,2 2 ,2 7 ,2 8 ,3 1 ,3 2 ,
3 9 ,4 0 ,4 9 ,7 3 ,7 5 ,1 5 1
Vianna, Francisco Oliveira, 94,95,113

138 m àM
V o liin ic •> ( ) K ) A I ! n , i I-*! i n u ' i r . i K i ' | ) L i l ) I i (

Vidal, Arm ando, 125


Vieira, Celso, 94
Victória, Gastâo, 63

139
_____________ História c k
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

140 «4B
V o lu m e i ( ) l (.) AI > n a P n n i c i r a R c p ú i í l i i a

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Livro de Atas (1911-1915).
Livro de Atas (1916-1919).
Livro de Atas (1920-1930).

1.2 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO

Coleção Instituto H istórico e Geográfico Brasileiro


Coleção José Carlos Rodrigues
Coleção M ax Fleüiss

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142 9àM
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Jornal do BrasiU Rio de Janeiro, 1893-1930.

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2.4 MEMORIALISTAS

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BRASIL, Relatório do Ministro da Justiça e Negócios do Interior Dr. Epitácio


Pessoa, 1897-1898.

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Seabra, 1903-1904.

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144 •4 B
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•Ai 745
_____________ Históría_da
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152 ttài
V o lu n ic J O l O A l i n a 1’ r i n i c i i a R c p ú i i ü c a

ANEXOS I
BIOGRAFIAS DOS PRESIDENTES D O lO A B NA
I REPÚBLICA (1889-1930)

M anuel Álvaro de S ouza Sá V ian n a (1860-1924)

A pesar de n ão ter exercido a presidência do lOAB foi figura vital n a


instituição, sucessivas vezes eleito primeiro-secretário. Filho do com erciante José
Rodrigues Sá Vianna, nasceu n o M aranhão. Form ado pela Faculdade de Direito
de São Paulo, tornou-se professor de Direito Internacional Público n a Faculdade
de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. Foi notável organizador de eventos
científicos e culturais tais com o a Exposição de Trabalhos Jurídicos em 1894,
m em b ro ativo de congressos, p articipando, com o delegado, n o C ongresso
Científico Latino-Americano, em 1901. Deixou um a extensa obra sobre política e
direito internacional, entre os quais destaca-se os ensaios com pletos sobre
Arbitragem e a Guerra Européia, além de trabalhos jurídicos apresentados em
congressos n o Rio de Janeiro e em outras capitais sul-americanas. Participava
com o colaborador da Revista de Jurisprudência e do Anuário de Legislação de
Madri. Era m em bro honorário da Associação de Advogados de Lisboa e do Colégio
de Advogados de Lima. Foi tam bém m em bro do IHGB, Presidente da Comissão
de Assistência Judiciária, junto à C âm ara Cível d o Tribunal Civil e Criminal,
consultor Geral da República durante o governo de Epitácio Pessoa, no período
de 28 de julho de 1919 a 2 de agosto de 1919. Suas obras mais significativas, além
das já citadas são: Esboços críticos da Faculdade de Direito em São Paulo, em 1879
publicada n o Rio de Janeiro, em 1880. Periódico O Americano, proprietários e
redatores publicada em São Paulo, n o ano de 1881. Catálogo da exposição de
trabalhos jurídicos realizada pelo lOAB em 7 de Julho de 1894, editada n o Rio de
Janeiro, e m l8 9 4 . Arbitragem Internacional. Inserida nas publicações do 2°

•á l 153
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Congresso Cientifico Latino-Americano. Rio de Janeiro, l90l.Eletnentos de Direito


Internacional. 1° volume. Parte geral do program a da Faculdade Livre de Ciências
Jurídicas e Sociais, Rio de Janeiro, 1908. De la non existence d 'u n Droit Internacional
Americain. Anexes. N 1-2. Dissertation presentée au Congress Scientifique Latino
Americain, Prem ier Pan-Americain. Rio de Janeiro, 1912-1913. VAmérique en
face de la Conflagration Européenne. Leçon inau gurale d u C ours de D roit
International Public. Rio de Janeiro, 1916. A Lista Negra e o seu caráter jurídico.
Conferência realizada na Sociedade Brasileira de Direito Internacional em 4 de
o utub ro de 1921, n o Rio de Janeiro. Exerceu, sucessivas vezes, o cargo de Primeiro
Secretário do lOAB incentivando diversas atividades científicas e culturais no
Instituto, entre as quais as comemorações do jubileu de ouro que foram celebradas
em 7 de setembro de 1893. Posteriormente produziu um a m em ória circunstanciada
deste evento que publicou em 1894, analisando os acontecimentos mais destacados
do jubileu de ouro do Instituto, resgatando-lhe a trajetória, desde a fundação:
Instituto dos Advogados Brasileiros, 50 anos de existênáa. Rio de Janeiro: Im prensa
Nacional, 1894.

A ntônio José Rodrigues Torres N eto (1840-1904)


Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros entre 1892-1893

Nasceu n a então província do Rio de Janeiro, e em 1864 graduou-se na


Faculdade d e Ciências Jurídicas de São Paulo. Logo to rn o u -se reconhecido
co m o advogado m ilitante. Foi um dos com ponentes, ao lado de D ino Bueno e
H o n ó rio Ribeiro, do grupo indicado para exam inar o projeto do Código Civil
da autoria de Coelho Rodrigues. Posteriorm ente fez parte da com issão do lOAB
encarregada de op inar sobre o projeto do Código Civil elaborado pelo D r Clóvis
Bevilaqua. P roduziu diversas obras de valor jurídico tais co m o A Instituição dos
Ônus Reais em 1874, Competência do Preparo dos Processos de Crimes Políticos
em 1880, Estipulação de Servidão em favor de terrenos de terceiros e m 1883, Pelo
preço de adjudicação devem os bens ser levados a praça em 1887, Sociedade Civil
para compra e venda de bens de raiz em 1902, e Em que consiste o reconhecimento
e 0 exame de firm a por tabelião público, em 1903 e m uitos estudos publicados
em revistas especializados e em jo rn ais cotidianos. E m 1892 fez p arte da
C om issão que ex am in ou a reform a da m ag istratu ra n o D istrito Federal e
tam bém o p in o u sobre a reform a do Código Comercial.

154
V tjk im í' ) ( ) l O A B n a P r i n u ' i r . i K ( ' |> ú Í ) I k .)

M anuel do N ascim ento M achado Portela (1833-1895)


Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros entre 1893-1895.

Nasceu na província de Pernam buco. Bacharelou-se pela Faculdade de


C iê n c ia s J u ríd ic a s e S o ciais de O lin d a em 9 de n o v e m b r o d e 1855.
Posteriorm ente, em julh o de 1857, foi nom eado lente d a m esm a Faculdade.
Presidiu as Províncias de M inas Gerais e da Bahia durante o período im perial.
O cu p o u u m a pasta no governo im perial qu an d o fez p arte d o M inistério do
Barão de Cotegipe, n o período de 20 de agosto de 1885 a 10 de m arço de 1888,
substituindo o Barão de M am oré. Representou, na câm ara tem porária, a sua
província natal, P ernam buco. D errotado nas eleições p o r Joaquim N abuco,
d u ra n te a fase d o ab o licio n ism o , a b a n d o n o u o m in isté rio . L ecio n o u na
F a c u ld a d e de C iê n c ia s Ju ríd ica s e Sociais e a d irig iu . P u b lic o u tex to s
m em orialistas e de interesse jurídico -M em ória Histórica da faculdade de Direito
de Recife no ano de 1891, Operações de Crédito M óvel n o an o de 1892, 51°
Aniversário do lA B no an o de 1894 e outros estudos jurídicos de valor.

Augusto Álvares de Azevedo (1844-1907)


Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros entre 1896-1900

Nasceu na província do Rio de Janeiro. Cursou o Colégio Pedro II, pelo


qual se bacharelou. Em 1863 m atriculou-se na faculdade de Direito de São Paulo
e d iplom ou-se em 1867. Venceu a eleição para a presidência d o lOAB em 19 de
d e z e m b ro de 1895 e d u r a n te v ário s a n o s c o n se c u tiv o s o d irig iu . Três
acontecim entos assinalaram sua gestão- preparação do C ongresso Jurídico
A m ericano, inauguração da Biblioteca do lOAB em 7 de setem bro de 1897 e a
regulam entação da Assistência Judiciária. Excepcionalm ente já fora presidente
do lOAB em 9 de m arço de 1893. N o ano anterior foi vice-presidente em
diretorias de Saldanha M arinho (1892), tendo as m esm as funções d u ra n te o
p erío d o de R odrigues Torres, e de M achado Portella. Foi ta m b é m vice-
presidente d a Sociedade Propagadora das Belas-Artes, a qual p ertencia o Liceu
de A rte s e O fíc io s. Foi v in c u la d o à A ssociação P r o te to r a d a In fâ n c ia
D esam parada. Serviu com o escrivão da Santa Casa da M isericórdia d o Rio de
Janeiro prestando num erosos serviços a instituição.

#à# 755
_____________ Históría_da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Joao Evangelista Sayão de Bulhões de Carvalho (1852-1914)


Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros entre 1900 e 1906

N asceu em P ern a m b u c o . C u rso u a F aculdad e de D ire ito de Recife,


diplom ando-se em novem bro de 1874. Foi eleito deputado providencial n o Rio
de Janeiro e d eputado-geral pelo M unicípio N eu tro d a C orte. No en tan to
d u ra n te o advento da República afastou-se das lides partidárias, dedicando-se
ao m agistério e à advocacia. De 25 de m aio de 1900 a 13 de dezem bro de 1906
d e se m p e n h o u o cargo de p resid en te d o S olar dos A dvogados. Três fatos
im portantes m arcaram sua gestão - o Congresso Jurídico A m ericano de 1900,
convocado para relem brar o q u arto centenário dos descobrim ento do Brasil, a
in au g u ra ç ã o da nova sede, em 8 de setem b ro de 1904, cedida d u ra n te a
presidência do Conselheiro Rodrigues Alves, da qual era M inistério da Justiça o
D r José Joaquim Seabra e a inauguração da estátua do D r Augusto Teixeira de
Freitas, em 7 de agosto de 1905. Escreveu diversas m onografias - A defesa do Dr
Augusto Teixeira de Freitas, Os interditospossessórios são direitos reais ou pessoais
(tese de concurso em 1878), O Senatus-Consultus Veleiano, M em orial sobre a
ação rescisória proposta pelo Conde de Leopoldina contra a massa falida do mesmo,
O Conselheiro João Batista Pereira e suas obras, além de discursos nas colações
de grau de bacharéis em direito em 26 de janeiro de 1896, nas cerim ônias de
inauguração da sede do lOAB, na instalação da Assistência Judiciária e na
inauguração da estátua do D r Augusto Teixeira de Freitas. Foi diretor do Banco
de Brasil em 1905 com o tam bém to rno u-se m em bro d o C onselho Fiscal da
Caixa Econôm ica e do M onte Socorro do Rio de Janeiro. D irigiu a Faculdade
de C iências Jurídicas e Sociais de 1904 a 1906 e 1908 a 1910. Foi sócio
co rre s p o n d e n te do C olégio dos A dvogados de La Paz e d a A cadem ia de
Ju risp ru d ê n cia e Legislação de B arcelona. Foi eleito P resid ente em 07 de
dezem bro de 1899. Publicou outras obras, além das já citadas, entre elas - Revista
da Faculdade Livre de Direito da Bahia em 1863, Testamento argüido de falso em
\ 9 0 0 ,0 Velianoe a incapacidade civil da m ulher e m 1901, e outros im portantes
estudos jurídicos publicados em revistas especializadas e em jornais cotidianos.

756 QàM
V o lu m e > C) l O A B n . i I ’ r i n i e i i c i R c p ú l i i i c . i

H erculano M arcos Inglês de Souza (1853-1918)


Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros entre 1906-1910

Nasceu na cidade de Óbidos, na província do Pará. Estudou na Faculdade


de Direito do Recife m as posteriorm ente transferiu-se para a Faculdade de
D ireito de São Paulo, n a q u al colou grau em 1876. P residiu, n o p erío d o
m onárquico, as R'ovincias de Sergipe e do Espírito Santo. Exerceu a profissão
de advogado ten d o instalado escritório no Rio de Janeiro. Também lecionou
direito com ercial na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, na qual exerceu
a diretoria. Foi literato e jurisconsulto e desde o tem po de estudante publicou
os diversos livros - Coronel Jangrado, História de um pescador, Cacaolista e
posteriorm ente 05 Contos Amazônicos, em 1893. Dirigiu a Revista Nacional, de
ciências, artes e letras e produziu u m a im portante obra jurídica intitulada Títulos
ao portador e lições de Direito Comercial (1918) que foi com pilada pelo D r A rtur
Biolchini. H á nas revistas jurídicas nacionais e nas coletâneas dos trabalhos do
lOAB diversos pareceres de sua autoria. Elaborou u m anteprojeto do Código
Comercial. Foi m em bro fun dador d a Academia Brasileira de Letras e recebeu a
incum bência de presidir o 1° Congresso Jurídico Brasileiro. Elegeu-se para
deputado federal e foi m em bro da Academia Brasileira de Letras, na qual foi
substituído p o r Xavier M arques. Publicou tam bém - Convém fazer um Código
Civil, em 1899, O selvagem perante o Direito., em 1910, Juro Arbitrai em 1915,
Conta-corrente mercantil em 1915, Letra de câmbio em 1917, O Comércio e as
leis comerciais do Brasil em 1918, Impostos Estaduais de consumo em 1918,
Sociedade comercial por tempo determinado em 1930, além de alguns trabalhos
m onográficos com o pareceres sobre concordata preventiva e sobre a cláusula
resoluta expressa nos contratos, m m o tam bém outros estudos jurídicos de valor,
publicados em revistas especializadas e em jornais cotidianos.

Joaquim Xavier da Silveira Júnior (1864-1912)


Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros entre 1910-1912

Nasceu em São Paulo. Bacharelou-se em Direito em 1886 pela Faculdade


de Direito de São Paulo. Na sua cidade natal exerceu atividades jornalistícas
colaborando na Província de São Paulo, no Diário Popular e no Diário Mercantil.
Q uando se transferiu para a cidade do Rio de Janeiro passou a redigir colunas

757
_____________ Historia da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

para os jornais Cidade do Rio, Gazeta de Noticias, O Pais, Correio do Povo, A


Semana, e a Vida Moderna. Em 1890 foi nom eado Delegado de polícia do Distrito
Federal e an te rio rm en te governou o Rio G rande d o N orte, ainda qu an do
província, n o período im perial. Representou o D istrito Federal n a Câm ara dos
D eputados. D irigiu a Prefeitura M unicipal do D istrito Federal no governo de
C am pos Sales. O Barão do Rio Branco o designou para participar dos trabalhos
da C onferência Pan-A m ericana em 1906. Era sócio do In stitu to H istórico e
Geográfico Brasileiro. Ao longo de sua inserção n o lOAB procedeu a u m a das
reform as dos estatutos, preparada p o r u m a Com issão que foi constituída por
C arvalho M ourão, Alfredo P into e Taciano Basílio,

Alfredo P in to Vieira de Mello {1863-1923)


Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros entre 1912e 1914

Nasceu em Pernambuco. Bacharelou-se em Direito n a cidade de Recife em


1886. P o s te rio rm e n te desenvolveu ativ id ad es p ro fissio n a is v in c u lad a s à
m agistratura em M inas Gerais onde foi chefe de polícia nas adm inistrações do
C onselheiro Afonso Pena e do Dr. Bias Fortes, Elegeu-se D eputado federal pela
cidade de Tiradentes, atuando tam bém com o P rom otor em Baependi e como
juiz de direito em O uro Fino. Em 1897 elegeu-se para o Congresso Nacional,
sendo Presidente na Comissão que na Câm ara dos D eputados deu parecer sobre
o Projeto de Clovis Bevilaqua, relatando a prim eira parte do livro IV- Sobre
Sucessões. A Id Alfredo Pinto, resultante de projeto de sua autoria, definiu regras
de severa repressão ao jogo e aos crimes contra a propriedade (lei n.° 628 de
1899). Em 1906 o presidente Afonso Pena o convidou para a Chefia de Polícia da
Capital Federal, período n o qual fundou a Colônia C orrecionai de Dois Rios e
instalou o serviço de identificação da Polícia. Participou da Comissão que elaborou
os projetos de Código do Processo Civil e Com ercial e do Código de Processo
Penal do Distrito Federal. Foi M inistro da Justiça n o governo de Epitácio Pessoa
n o período de 28 de julho de 1919 até 3 de o u tubro do m esm o ano. Também
reorganizou os serviços da Inspetoria de Segurança Pública, da Inspetoria de
Veículos, da G uarda Civil e da Saúde Pública, além de sistematizar a unificação
adm inistrativa do território do Acre. O utra obra de m ais alta significação foi a
criação da Universidade do Rio de Janeiro, incorporando a Escola Politécnica, a
Faculdade de M edicina e a Faculdade de Direito, esta resultante da fusão da

158 ®AB
V o U m u ’ '> O K ) A B n u I ' u n K ’ u a K c p a l)li< -a

faculdade Livre de Direito e da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais. Voltando


a advocacia foi em possado Vice-Presidente do lOAB e com o falecimento do Dr.
Xavier da Silveira passou a presidiu esta instituição ao longo dos anos de 1912 e
1913. Foi professor de Direito Comercial na Faculdade de Ciências Jurídicas e
Sociais e m uito lutou pelo estabelecimento da OAB. Defendeu princípios que
considerava fundamentais para a criação da Ordem e argumentava que o ecercício
livre da profissão não afetava a carreira, apenas a regulamentava. Depois de sua
participação n o M inistério da Justiça foi nom eado para o Suprem o Tribunal
Federal, função que exerceu ate 8 de julho de 1923. Q uando deputado federal
justificou u m projeto de lei sobre contravenções que aprovado foi convertido na
lei Alfredo Pinto. Escreveu - O Poder Judiciário no Brasil, Comentário ao decreto
M.c 5564 de 22-1-1900, Direito das Sucessões, Educação Cientifica, O Júri, Na
Defensiva, A Ordem dos Advogados, e publicou na Revista Forense tiês im portantes
trabalhos - Conceito de transferência nos contratos administrativos, Filhos de mulher
desquitada e Naturalização tácita.

Ruy Barbosa de Oliveira (1849-1923)


Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros entre 1914-1916.

Nasceu em Salvador, na então província da Bahia. E stud ou na Faculdade


de D ireito d o Recife, m as graduou-se em São Paulo n o ano de 1870. Destacou-
se, d u ran te o Im pério, com o ardoroso aboHcionista, sendo relator do parecer
favorável à em ancipação dos sexagenários. R ecusou a pasta m inisterial na
v ig ên c ia d o g a b in e te de O u ro P reto. Foi D e p u ta d o p ro v in c ia l e a p ó s a
proclam ação da República destacou-se com o u m dos organizadores da estrutura
jurídica republicana. Foi M inistro da Justiça (interino) d u ra n te o governo
provisório do M arechal D eodoro da Fonseca e tam bém M inistro da Fazenda.
Teve intensa participação em diversos órgãos de im prensa, tendo sido diretor
do Jornal do Brasil, e fund ador e D iretor do jornal Im prensa.Produziu um a
vastíssima obra que está sistematizada nas Obras Completas, coleção que abrange
50 volumes. Envolveu-se em diversas cam panhas im portantes entre elas a que
pug nou pela anistia dos revolucionários de 1893-1894. T am bém foi senador da
República. Em 1907 foi em baixador do Brasil no Congresso da Paz em H aia (2*
Conferência) na qual defendeu o princípio da igualdade jurídica das nações.
Foi recepcionado calorosam ente n o Brasil quando do seu reto rno de H aia e

159
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

candidatou-se à Presidência da República, prom ovendo a cham ada C am panha


Civílista. No entanto, foi derrotado nas eleições de 1910 pelo m arechal Herm es
da Fonseca. Em 1914 foi eleito presidente do lOAB e posteriorm ente recebeu,
n o ano de 1918, o título de presidente h o n o rá rio do Instituto. Faleceu em
Petrópolis em 1° de m arço de 1923 de onde o corpo foi transferido para ser
velado n o Rio de Janeiro, na sede da Biblioteca Nacional.

Rodrigo O távio Langaard de Menezes (1866-1944)


P residente do In stitu to d a O rdem dos A dvogados Brasileiros p o r duas
vezes: entre 1916-1918 e entre 1926 e 1928

Nasceu em Cam pinas. G raduou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo,


em dezem bro de 1886. Exerceu o cargo de P rom otor em Santa Bárbara, Minas
Gerais. D esem penhou o cargo de P rocurador da RepúbHca n o Distrito Federal e
durante algum tem po ocupou as funções de Secretário de Prudente de Morais.
Em 1890 obteve um a das procuradorias Seccionais da República n o Distrito
Federal. Foi professor de Direito Internacional na Faculdade Livre de Ciências
Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. Lecionou tam bém a cadeira de Direito
Internacional Privado na m esm a Faculdade. Em 1904 tom ou-se editor da revista
literária Renascença. Foi Subsecretário das Relações Exteriores de 1920 a 1921, no
Governo de Epitácio Pessoa. Em 1929 chegou ao Suprem o Tribunal Federal
n o m ea d o pelo Presidente W ashington Luís. A c o m p an h o u Rui B arbosa na
Conferência de Haia e posteriorm ente substituiu Araripe Júnior com o C onsultor
Geral da República. Árbitro de várias contendas internacionais com o entre o Chile
e a Suécia, o Chile e a Itália, tam bém entre os Estados Unidos e o México, o
M éxico e a França, e en tre a França e a A lem anha, atu a n d o com grande
com petência. Tom ou-se sócio do lOAB em 1892, e foi M em bro fundador da
Academia Brasileira de Letras chegando a ocupar a cadeira da presidência.
Tam bém pertenceu ao IHGB e a diversas instituições culturais am ericanas e
européias. Produziu um a im portante bibliografia, na qual destaca-se; Domínio
da União e dos Estados, Direito do estrangeiro no Brasil, Divisão e Demarcado de
Terras Particulares, Dicionário de Direito Internacional Privado, Letra de Câmbio e
nota promissória, Constituições Federais, Pareceres do Consultor da República,
Investigação da paternidade para fins sucessórios, M inhas Memórias dos outros,
Felisberto Caldeira, Viagens ao Peru, A Balaiada, Festas Nacionais, Bodas de Sangue.

160
V o lu m e i ( ) l O A B n.i P r i n H ' i i . ) R c p ú b l i u

João M artins de Carvalho M ourão (1872-1951)


P residente do In stitu to da O rdem dos Advogados Brasileiros p o r três
vezes: e n tre 1918 e 1920; entre 1922 e 1924; e em 1931

Nasceu em São João Del Rei, M inas Gerais. D iplom ou-se em 1892 pela
Faculdade de Direito de São Paulo. Tòrnou-se Professor de Direito Civil e depois
de Direito Penal na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro. Foi advogado do
B anco d o Brasil d e 1900 a 1905 e ficou responsável- p o r u m a das m ais
complicadas causas desse estabelecimento de crédito que foi a liquidação forçada
da Cia U nião Sorocabana e Itauana, com m uitos desdobram entos na época.
P articipou a convite do M inistro Esm eraldino B andeira n a elaboração dos
projetos do Código de Processo Civil e C om ercial e do Código de Processo
Penal para o D istrito Federal. Tam bém foi convidado pelo M inistro João Luiz
Alves para participar da elaboração do Código de Processo Civil e Com ercial, e
ju n tam en te com o M inistro A rtur Ribeiro integrou a comissão que preparou
u m antepro jeto do código, p adronizado para todo o pais. Foi M inistro do
Suprem o Tribunal Federal. Fez parte da Com issão encarregada de organizar o
Código do Processo Civil e Com ercial prom ulgado em 1924 e revogado por
u m novo Código de Processo Civil. Publicou diversos obras - Prescrição da Ação
Penal em \90AJntervenção Federal nos Estados e m 1906, A Cobrança de Direitos
Aduaneiros em Ouro em 1 9 2 1 ,0 Poder de Polícia do Estado e o respeito as sentenças
judiciais em 1926, A inconstitucionalidade da Lei do imposto sobre a renda em
1939, Livramento condicional em 1939, Livramento Condicional em 1939, Honra
e importância em 1941, Traição e espionagem em 1945, Limites entre os Estados
em 1950 e outros estudos jurídicos de valor publicado em revistas especializadas
e em jornais cotidianos. O cu p o u a presidência do lOAB p o r 3 vezes, e na últim a
gestão assum iu o cargo em 16 de abril de 1931.

161
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Alfredo Bernardes da Silva (1860-1943)


P re sid e n te d o In s titu to d a O rd e m d os A dvogados B rasileiros e n tre
nov em b ro de 1920 e ju lh o de 1922.

Nasceu n a cidade do Rio de Janeiro (DF). D iplom ou-se pela Faculdade de


Direito de São Paulo em 1882. P rom otor público em C antagalo e em C arm o
(RJ) e procurador-geral do Estado do Rio de 1893 a 1895. Professor de direito
civil na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. Colaborou
na elaboração do projeto de Código Civil e Com ercial p ara o D istrito Federal, a
conv ite d o m in is tro E sm era ld in o B andeira. Á rb itro b ra sile iro n a C o rte
Perm anente de A rbitragem de Haia. A dvogado-consultor da Light.

M ilcíades M ario de Sá Freire (1870-1947)


Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros de 1924 a 1926.

Nasceu na cidade do Rio de Janeiro (D F ). D iplom ou-se pela Faculdade de


Direito de São Paulo em 1891. Fez carreira político-parlam entar: intendente do
C onselho M unicipal do DF (1895); deputado federal (1897) e senador (1908).
Foi m em bro da com issão de 21 parlam entares encarregada de estudar o projeto
do Código Civil e do C onselho Penitenciário. Foi m em bro d a Com issão de
F in an ças d o S en ad o , sen d o re la to r dos o rç a m e n to s d o s m in is té rio s da
Agricultura, da Fazenda e da Viação. D irigiu a C arteira de C âm bio do Banco do
Brasil e o Lloyd Nacional. Foi prefeito do D istrito Federal (1919-20).

Levi Fernandes C arneiro (1882-1971)


P residente d o In stitu to da O rdem dos Advogados Brasileiros de 1928 a
1931. P rim eiro presidente da O rdem dos Advogados do Brasil.

Nasceu em Niterói (RJ). D iplom ou-se n a Faculdade de Ciências Jurídicas


e Sociais do Rio de Janeiro (1903). Foi secretário da delegação brasileira à
C onferência Internacional de Jurisconsultos (1912). D iretor e vice-presidente
da Caixa Econôm ica Federal (1927-28). C onsultor-geral da República (1930-
32). Foi d ep u ta d o classista (profissionais liberais) na A ssem bléia N acional
C o n s titu in te de 1933. Foi v ic e -p re sid e n te da C o m issã o C o n s titu c io n a l

762 #4#
V o lu m e ; ( ) l O A B na Prin n-n.t K c p u b l i i a

encarregada de estudar o anteprojeto de C onstituição elaborado pelo G overno


Provisório. Foi deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro n a legenda do
Partido Popular Radical (1935-37). Ingressou n a A cadem ia Brasileira de Letras
(1936), e dela se to rn o u presidente em 1941. Professor de direito com ercial na
Faculdade N acional de Direito. C onsultor jurídico do M inistério das Relações
Exteriores (1947) e presidente da comissão organizadora do XIII Congresso da
U nion Internationale des Avocats. M em bro da C orte Internacional de Haia.
Publicou, entre outros, os seguintes livros: Do Judiciário Federal {1916); A nova
legislação da infância (1924); Federalismo e judiciarismo (1930); O livro de um
advogado (1943); O direito internacional e a democracia (1945); Organização
dos municípios e do Distrito Federal (1953); Dois arautos da democracia, Ruy
Barbosa e Joaquim Nahuco (1954); A voz dos analfabetos (1964); E m defesa de
R uy Barbosa (1967).

763
_____________ Hi<;tnria Ha
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

Rui entre consócios do lOAB.

164
V o lu m e 3 O I Ü A I 5 n<i I ’ r i n i L ’ i r u K c p i i l i l i c . i

ANEXO II
Discurso da posse de Rui Barbosa, com o sócio,
no Instituto dos Advogados,
em 18 de maio de 1911

•Al 165
_____________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

Sr. presidente, senhores.'

E m bora aflito, n o m eu coração, de cuidados, que este ano ainda m e não


perm itiram voltar ao exercício da m inh a profissão habitual, nem , sequer, ao
dos altos deveres d o C ongresso, tão urgentes agora, ser-m e-ia im possível
esquivar-m e à data, que para hoje em prazastes, da m in h a recepção nesta Casa.
A dm itido, vai para u m ano, à lista dos vossos associados, com o não me
deixassem então vir assum ir este lugar, n o term o de espera fixado pelos vossos
estatutos, as m ás condições da m in ha saúde e a agitação política, em que me
achava envolvido, im petrei-vos a graça de m e tolerardes a d em ora até que as
circ u n stâ n c ia s m e azassem ensejo favorável. R esp o n d estes com a m a io r
benevolência, com unicando-m e, pelo digno órgão desta assembléia, que, para
m e exprim ir o seu interesse em m e ver entre os seus m em bros, deliberara ela
un an im em en te^ dispensar^ no s seus estatutos, ag u a rd a n d o -m e p o r tem po
in d e te rm in a d o . C ativo de ta m a n h a gentileza, ju Ig u ei-m e o b rig ad o a lhe
corresponder, quanto em m im cabia, com p rom eten do-m e a to m a r assento este
ano, assim que o Instituto encetasse os seus trabalhos. Q uando m e assinastes,
pois, esta ocasião, tive que ceder sem resistência, e, apesar de todos os embaraços,
venho-m e desem penhar para convosco da palavra dada.
As honras de que m e cercais neste m o m ento, as assinaladas m ostras de
estim a com que m e acolhestes, im prim em à cerim ônia da m in h a iniciação aqui,
u m cu n h o de m avioso afeto, cujo carinho m e associa à vossa co m un hão pelos
m ais íntim os laços d ’alma. Por isso m esm o que bem sinto, conhecendo-m e,
quão estou longe de m erecer tanto, - essa generosidade se m e antolha, não
com o a consagração de u m valor pessoal, cuja ausência se está vendo, m as como
o reflexo da exuberância de u m a simpatia, difundida entre vós, pelas idéias
dom inantes na m in h a carreira pública, pela sua direção jurídica e liberal.
A perseverança, coerência, a invariabilidade nessa direção, têm sido o único
m erecim ento da m in h a vida. Toda ela se desdobra n u m con tín u o esforço, há
m ais de oito lustros, pela realização do pensam ento que já m e anim ava nos
bancos acadêmicos, quando, em 1869, redigia, com Luís G am a e A m érico de
C am pos, o Radical Paulistano-,'^ quando nesse ano, p o r designação dos m eus

' o Diário de Nolicias registra “Sr. p re sid en te, senhores, m in h a s senh o ras.”
' O Diário de Notícias e o Jornal do C om m ercio re g istra m “u n ic a m e n t e ”.
^ C u rio sa e ra ra a acep ção e m q u e Rui B arbosa e m p re g a o v e rb o “ d isp en sa r” c o m o in tran s itiv o , a qu i e em
o u tr o s textos. S eg un d o o Vocabulário d e Bluteau, o verbo significa “ d e te r m in a r ” e assim foi u s a d o p o r
C a m õ e s {Lusíadas V, 80,5).

766
V o lu m e i ( ) l O A B na l ^ i i i i i c i r j R c ))ü l)lic .i

com panheiros em convicções e esperanças, m e aventurei a fazer a prim eira


conferência abolicionista, que se ouviu em São Paulo; quando, ainda então, na
Loja América,^ m e bati contra u m dos m eus lentes,^ venerável naquela casa,
pelo projeto, de m in h a iniciativa, que firm ou em com prom isso entre os seus
m em bros a liberdade geral dos filhos das escravas, dois anos depois convertida
em in stitu iç ã o n a c io n al pela lei de 1 8 7 1 / A liberdade era a constituição
atm osférica dessa auspiciosa quadra, em que entrávam os. N ão havia grande
m érito em exalarm os o ar sadio e forte, que estávamos respirando. Daí vem o
que ainda hoje nos resta de oxigênio incorrupto, nos pulm ões anem izados p o r
u m am biente de costa africana.
A cultura jurídica estabelece um círculo de preservação adm irável, nestes
períodos retrocessivos de indiferença, m edo e sicofantismo, contra a infecção
reinante. O trato usual do direito, o hábito do seu estudo, a influência penetrante
da sua assimilação, nos acostum am a viver na razão, na lógica, na eqüidade, na
m oral, nos ensinam e predispõem a desprezar a força. Q u an d o esta se apodera
de u m a sociedade, e, sob a pressão do seu contato, a desm edula, a esvazia, a
consom e, a prostitui, a cadaveriza, cobrindo-a de vermes, as associações do
gênero da vossa abrem , aos refratários, um refúgio abençoado. E, se u m dia
após as longas tribulações desse gênero de tifismo, a coletividade em perigo
em erge afinal, desm orrendo, recobra a consciência de si m esm a, convalesce na
inteligência, na energia, no asseio, na honra, então, nestes centros de reação
persistente,* é q u e ela vem e n c o n tra r o tab e rn á c u lo das trad iç õ es da sua
dignidade.
Outras não devem ser as afinidades, que aproxim am do m eu o vosso espírito,
e em bebem a solenidade que nos une deste alvoroço, desta efusão, deste suave
calor re co n fo rta n te. V inte anos h á qu e m e eu m ato , cla m a n d o aos m eus
concidadãos contra a im oralidade e a baixeza da força, apostolando-lhes a nobreza
e a santidade da lei. Toda a existência do nosso regímen se tem consum ido nesse
incessante conflito entre o princípio do bem e o do mal, com a prevalência, por

^ Jornal d e o rie n ta ç ã o liberal, cuja criação foi p ro p o s ta p o r Rui B arbosa e m m a rç o d e 1869, q u a n d o e stu d a n te
de d ire ito e m São Paulo.
^ Loja m aç ô n ica d e relevo, à q u a l Rui B arb o sa, ain d a e stu d a n te d e direito e m São Paulo, foi a d m itid o em
ju lh o d e 1868.
* A n tô n io C arlos R ib e iro de A n d ra d a M a c h a d o e Silva, p ro fesso r de d ire ito c o m e rc ial n a F a c u ld a d e d e D ireito
d e São Paulo, q u e re n u n c io u à Loja A m é ric a q u a n d o esta a p r o v o u o p ro je to d e R ui d e lib e rta ç ã o dos
filhos das escravas,
' Trata-se d a lei q u e ficou c o n h ec id a c o m o Lei d o V entre Livre.
“ O Correio da M a n h ã n ã o registra vírgula d e p o is d e “p ersisten te”.

•áb 767
_____________ Historia da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

derradeiro, do princípio do mal sobre o do bem. O m eu papel, nessa fase histórica,


espelha dia a dia esta luta. O utra coisa não sou seu, se algum a coisa tenho sido,
senão o mais irreconciliável inimigo do governo do m u n d o pela violência, o mais
fervoroso predicante do governo do hom em pelas leis.
Se de algum m odo m ereci a fortuna d a vossa eleição, decerto não foi senão
p o r este. Os frutos da m inha vida são escassos e tristes, bem que os seus ideais
tenham sido grandes e belos. M uito é o bem a que tenho aspirado, m as o colhido,
m uito pouco. N ão será, logo, pelo acervo dos resultados, que m e teria feito
digno do ingresso ao vosso consórcio. O que eu, aos vossos olhos, realm ente
valer, só se explicará, já se vê, pela excelência das convicções, qu e têm m oldado
o caráter da m inh a passagem por entre nossos contem porâneos e determ inaram
n o m eio deles a m in h a posição atual.
Duas profissões tenho am ado sobre todas: a im prensa e a advocacia. N um a
e n o u tra m e votei sem pre à liberdade e ao direito. N em n u m a n em n o u tra
conheci jam ais interesses o u fiz distinção de am igos a inimigos, toda vez que se
tratava de servir ao direito ou à liberdade.
Sob o antigo regím en e sob o de agora, duas causas, acima de todas, me
absorveram e apaixonaram : a da instrução pública, n o regím en imperial; no
republicano, a d a justiça. Cada um a delas acaba de receber o seu golpe m ortal.
A da instrução pública m ediante o im proviso de u m a “lei orgânica” elaborada
n u m a secretaria de Estado e executada im ediatam ente antes, sequer, de se levar
ao conhecim ento da legislatura.^ Casos análogos de instantaneidade e subversão
não os conhece o m undo senão na história dos terrem otos. É a eliminação radical
do Poder Legislativo. É a reform a p o r catástrofe adm inistrativa. É o milagre
suprem o no sistema das delegações entre poderes de autoridade indelegável.
O o u tro cataclism o foi o que varreu m oralm ente das nossas instituições o
P oder Judiciário. Tanto im porta, m anifestam ente, o ato do G overno, que, em
term os categóricos, negou execução a u m a sentença judicial da nossa m ais alta
m agistratura n o caso do Conselho M unicipal. N ão obstante a abundância do
arrazoado, em que esta sedição do p o d e r co n tra a justiça arrasta a cauda
roçagante da sua usurpação, o certo é que ela redu nda n a m ais afoita derrocação
do nosso m ecanism o constitucional. N ão seria esta a ocasião de o dem onstrar.
Mas, se algum crédito ainda m e remanesce, da prim azia que m e coube na obra
da C onstituição atual, e se não im aginam aí haver eu esquecido as mais simples
* R efere-se Rui à Lei O rg â n ic a d o E n sin o S u p e rio r e d o F u n d a m e n ta l d a R epú b lica , d e a u to ria d e Rivadávia
d a C u n h a C o rre ia , m in is tro d a Justiça e Negócios In te rio re s d o g o v e rn o H e rm e s d a Fo n seca e aprov ada
p o r d e creto p residencial, n ° 8.659, d e 5 d e a b ril d e 1911. [N o ta 2 d a e d iç ão d e 1985.]

168
V o lu m e - 5 O K M B n u I’ r i n K M i . i R f p ú b l i c ,i

noções do sistem a que nela encarnei, em nom e da sua verdade elem entar, direi
que, m in is tro d o p re sid e n te da R epública, eu e n te n d e ria hav ê-lo tra íd o
referendando-lhe essa m edida.
Acertou ele de vir a lum e pelo Diário Oficial, no aniversário da ODnstituição
vigente. Fortuita o u intencional, a coincidência ressabe à m ais am arga ironia.
Ironia o u da m alícia de q u e m a engendrou, o u de u m dos m ais singulares
caprichos do acaso. Porque, se ao presidente da República assiste o direito de se
insurgir co n tra u m julgado, a título de que o Suprem o Tribunal “exorbitou das
atribuições que a C onstituição e as leis lhe assinalam ” com o se diz abertam ente
na m ensagem de 22 de f e v e r e ir o ,e n tã o o regím en am ericano está invertido
n o Brasil e substituído, neste pobre país, pela ditad ura do Poder Executivo.
E ste, a in d a m e s m o n a s re p ú b lic a s e u r o p é ia s e n a s m o n a r q u ia s
constitucionais daquele continente, onde a justiça n ão conhece da consti-
tucionalidade das leis, não pode reagir contra as sentenças que averbarem de
inconstitucionais o u ilegais os atos da adm inistração. Até aí já se estendia a
com petência judicial sob a m onarquia. Os cidadãos podiam argüir de ilegalidade
o u inconstitucionalidade, nos tribunais, os atos do governo d o im perador; e se
os tribunais os reconheciam incursos num a ou noutra, a decisão m an tin h a o
direito ofendido, autorizando a desobediência às m edidas arbitrárias da Coroa.
O que sob a C onstituição de 1891 lucrou em p o d e r a justiça, n ão foi a
atribuição de verificar a constitucionalidade nos atos do Poder Executivo: foi a
de p ro n u n ciar a inconstitucionalidade nos atos do C ongresso Nacional. Não
era n en h u m destes o que estava em jogo. Apenas se tratava de u m a resolução
do governo. A auto rid ade contra quem este se rebela, é, p o rtan to , a que os
m inistros de Sua M ajestade não poderiam contestar à m agistratura im perial.
N en hum chefe de Estado, presentem ente, nos Estados Unidos, se anim aria
a esta tem eridade. A ela foi arrastado Lincoln, há m eio século, m as durante o
grande eclipse da C onstituição am ericana, q uando, abalada a nação até os
fundam entos pela m aior guerra civil da história," o presidente da República
teve que assum ir os poderes de u m ditad or ro m ano, para salvar a U nião quase
perdida.
Trata-se da m ensagem d o presidente H erm es Rodrigues da Fonseca, dirigida aos m e m b ro s d o C ongresso Nacional,
sobre o habeas corpus concedido ao C onselho M unicipal d o Distrito Federal. [Nota 3 da edição de 1985.)
‘'T ra ta -s e d a G u e rra de Secessão n o rte -a m e ric a n a (1861-1865), em q u e se b a te r a m os exércitos dos 11 estados
sulistas c o n fe d erad o s, favoráveis à m a n u te n ç ã o d a escravidão d o s n e g ro s , e os federais d o n o rte , q u e
fo rm a v a m a U n ião e d e fe n d ia m a abolição d a escravatura. Pode-se c o n sid e ra r essa g u e rra c o m o a p rim eira
g u e rra m o d e r n a , pela im p o r tâ n c ia d e seu s efetivos, pela m o bilização d e to d o s os re c u rso s, peia utilização
das p o ssib ilid ad es in d u s tria is e pelas consideráveis baixas (617.000 m o rte s ).

769
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Jackson constitui a o u tra das duas exceções à jurisprudência deste sistema,


n a República, onde ele teve o berço, e onde lhe estão os mestres. Mas, a teoria
jacksoniana, que conta oitenta anos de idade, não subordinava a interpretação
presidencial à do Congresso: proclam ava a sua independência, a um tem po, do
Congresso e da judicatura.
O general am ericano era lógico. O m arechal brasileiro não é ." Se as
decisões constitucionais da justiça, em últim o grau, não obrigam aos outros
dois poderes, entre estes dois poderes é que fica a au to rid a d e suprem a na
in te rp re ta ç ã o c o n stitu c io n a l. O ra, d ad a e n tre eles d o is u m a colisão de
herm enêuticas opostas, a inteligência da C onstituição terá de ser a conveniente
ao m ais forte. Mas este, n u m regim en onde o corpo legislativo não atu a sobre
os m inistros, e n u m país onde a nação, de fato, não elege o corpo legislativo,
será, necessariamente, o governo. De m odo que não há m eio-term o: o u o árbitro
suprem o do nosso direito constitucional é o Suprem o Tribunal da União, ou
essa posição oracular, disputada entre os dois poderes políticos, acabará p o r se
im ergir de todo em todo no Executivo. Transpostos assim os term os do regimen,
senhores, a C onstituição da República é o seu presidente.
Para d ar a essa espúria teoria u m jeito de ciência e um as tinturas de origem
am ericana, foram buscar, sem critério, entre os constitucionalistas da América
do N orte, a famosa exceção dos casos políticos, aqui explorada toda a vez que se
planeja desarm ar a justiça contra os interesses das facções e os excessos dos
governos. Certo, dos casos meramente políticos não julgam os tribunais. M as o
caso cessa de ser meramente político, desde que nele se envolvem direitos legais
de um a pessoa, de caráter privado ou público, judicialm ente articulados'^ contra
outra. Porque meramente político é só o caso, em que u m dos poderes do Estado
exerce u m a função de todo o p o n to discricionária; e não se pode ter como
d is c ric io n á ria u m a função, qu e e n c o n tra lim ites expressos n u m direito
legalm ente definido.
Demais, senhores, tod a essa algaravia, pretensiosa e oca, se d esm ancha ao
contato de u m a noção posta pelo senso com u m ao alcance dos m enos agudos
engenhos. Realmente os casos políticos excluem a ação da justiça. M as quem
define os casos políticos? Precisam ente a justiça m esm a, e n inguém m ais senão

o g eneral a m e ric a n o é A n d re w Jackson, sétim o p re s id en te dos E stad o s U n id o s. O m a re c h al brasileiro é


H e rm e s d a Fon seca, oitavo p resid en te d o Brasil, q u e d e r r o ta r a R ui B arb o sa n a s eleições presiden ciais d e
1910.
‘’ A ssim n o D ia rio de Noticias e n o Jornal do C o m m e rn o , o q u e p a re ce ser a f o r m a c o rre ta , já q u e o a n te ce d e n te
é "direitos legais" O Correio da M a n h ã registra " a rtic u la d o"

770 •Ai
V o k in u ' > O lO A B na P r im ( 'ii\ i R c p ú h iic .i

ela. É um a evidência esta, que resulta necessariam ente da sua com petência,
inconcussa n o regím en, para negar execução às leis, onde lhes reconhecer o
vício de in co n stitu cio n alid ad e. Im p o r à justiça o dever de an u la r os atos
inconstitucionais d a legislatura, e, ao m esm o tem po, ad m itir à legislatura o
direito de conculcar, sob o pretexto de políticas, essas decisões da justiça, era
b u rla r-lh e , p ela m ais g ro sseira das c o n tra d iç õ e s, a a u to rid a d e , q u e tão
solenem ente se lhe proclam a com o a m elhor invenção e a salvação única do
regím en, entregue, sem essa garantia, ao m ais irresponsável dos absolutismos.
É o em que param os, n o Brasil, e o em que ficarem os, se a nossa apatia
nacional deixar am adurecer nas suas terríveis conseqüências esta revolução do
poder contra a nossa lei constitucional.
Juristas sois: não podeis ser insensíveis a este golpe de m o n ta n te na cabeça
do regím en. N ão era u m a dessas façanhas im aginárias do b raço de R oldão o u
Oliveiros, com q u e nos distraía, nas prim eiras leituras do colégio, a velha
crônica de C arlos M agno. Era o aniquilam ento d o regím en, ferido n o mais
vital dos seus órgãos. Estrem ecestes p o r ela, pela justiça aniquilada. Justiça e
foro são irm ãos. Levastes ao governo, digna, mas respeitosam ente, a expressão
do vosso pesar, a lição da vossa ciência, a reivindicação do no sso direito
incontestável.''*
Infelizmente, o protesto, pacífico e legal, endereçado pelas vossas consciências
às alturas do poder, soou entre o coro dos lisonjeiros e o silêncio dos cobardes,
com voz im p o rtu n a. Tanto pior, para os que não a so u b eram escutar com
agradecimento. Os governos podem ser transviados aos m ais ruinosos erros pelas
paixões que os desvairam, o u pelas facções que os exploram. Se os anim a a boa-
fé, ouvirão com serenidade a crítica independente, e terão assim a p o rta aberta à
salvação. Se, ao contrário, os assanha e desequilibra a censura, o m elhor dos
auxiliares do poder, quando sujeito às leis, é que se despenharam nos braços do
dem ônio da soberba, perdição de quantos lhe caem nas garras.
A m anifestação do vosso desagrado ante a calam idade que esm agara a
justiça brasileira, obedecia ao m esm o estrito'^ e ao m ais instante dos deveres

o In s titu to da O r d e m d o s A d v ogados Brasileiros a p rov ara m o ç ã o d e p ro te s to (a p re s e n ta d a p e lo d r. Alfredo


P in to ) c o n tr a u m a to d o P o d e r Executivo (o d e creto 8.500, de 4 de ja n e iro d e 1911), em q u e exorbitava
de suas atrib u iç õ e s, ig n o ra n d o decisão a n te rio r d o S u p re m o T rib u n a l Federal. O a s s u n to em q u e stã o é a
co m p o siç ã o d o C o n s e lh o M u n icip al d o D istrito Federal. N o e n te n d e r d o s adv o g ado s, o d e creto , q u e
fixava d a ta p a ra novas eleições, era “ p e r tu r b a d o r da v id a m u n ic ip a l (...) u m a to c o n tr a o d ireito .” Cf.
IN S T IT U T O DA O R D E M D O S A D V O G A D O S BRASILEIROS. Conferências e principais trabalhos dos
aiios de 1911 e 1912. R io d e Janeiro; Jo rn al d o Brasil-Revista d a S e m a n a , 1914, p. 213-217.
O D iá r w de Noticias registra “m ais estrito".

777
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

d a vossa generosa vocação. A ciência jurídica floresce nos ram os da justiça,


aJim entando-se da sua seiva. N ão pode ser indiferente ao cair do m achado na
divina árvore, que a nutre.
O ato deste Instituto , que desgostou e indispôs c o n tra vós os h o m en s da
atu a lid a d e , te m os m ais m em o ráv eis a n te ced e n te s n a h is tó ria d a nossa
profissão, em todos os países livres. Por ofensas incom paravelm ente m enos
sérias aos interesses da m agistratu ra se têm agitado m uitas vezes, nos Estados
U nidos, as associações congêneres da nossa. Vede o qu e ali se deu sob a
adm inistração de G rant, q u an d o o capricho da sua escolha, p ara u m a cadeira
na S uprem a C orte, recaiu n u m dos m em bro s do seu gabinete, G eorge H.
Williams, que, no caráter de attorney general era, digam os assim, o seu m inistro
da Justiça.'^
Entre nós, avezados com o estam os, a ver a m ais alta dignidade judiciária
da União convertida em posto de acesso para os chefes de polícia,'^ naturalm ente
seria cotada com o sublim e a nom eação para tal cargo, do secretário de Estado
em quem o serviço adm inistrativo da justiça tem o seu chefe. N ão aconteceu
assim naquela terra, onde o instinto do direito está no sangue da raça, e pulsa
no coração de todos com o fervor de u m sentim ento religioso. A mais im portante
associação de advogados americana, a Bar Association, de Nova Iorque, levantou-
se contra o n om e designado. Pouco lhe im portava ser o ato de u m general, e
general às direitas, general feito nos cam pos da batalha, herói na trem enda guerra
que, oito anos antes, estivera a pique de espedaçar a União, e legítimo presidente,
sagrado realm ente para essa m agistratura pela nação, duas vezes sucessivas em
duas eleições verdadeiras, da últim a das quais poucos meses havia que entrara
no exercício do m andato.
Era u m desacerto, e consultara m al os interesses da justiça. Pois não se
havia m ister de nada mais, para que o foro am ericano protestasse. Protestou
m ediante a Bar Association o f N ew York City.
C onsiderando, ponderava a representação, “não ser esse cargo som enos,
em dignidade, a n en hum outro n o governo do país”, desaprovavam os advogados
am ericanos a nom eação expedida, e encarecidam ente, earnestly, se o p u n h am à
sua confirm ação pelo Senado, “por falecerem” (acentuavam os reclam antes) ao

A expressão “a tto r n e y generaT' c o stu m a ser tra d u z id a c o m o “p r o c u r a d o r geral”, m a s a q u i R ui a identifica a


" m in is tro da Justiça”.
" Era m in is tro d a Justiça e N egócios In te rio re s R ivadávia d a C u n h a C o rre ia , a q u e m R ui ironiza e m m ais de
u m a ocasião, n ã o r e c o n h e c e n d o nele os a trib u to s necessários p a ra o c u p a r carg o tão im p o r ta n t e na
R epública brasileira.

172
V o lu iiK ’ 5 C) IÜAB till I’ r im c iia Kopública

n o m e a d o “os req uisitos de inteligência, m ad u re z a e fam a, necessários à


preservação da em inência d o m ais elevado tribunal nacional” ''*
Sofreu, p o r esse m otivo, a g ran d e associação dos advogados .algum a
adm oestação, direta o u indireta, do governo? M andou-lhe o attorney general,
o m inistro da Justiça, exprim ir de qualquer sorte o seu descontentam ento? Bem
ao contrário, o presidente da República, ciente de que o Senado, o n d e aliás era
de m ais de dois terços de partidários seus a sua m aioria, atendendo aos votos
dos com petentes, rejeitaria quase unanim em ente a escolha de Williams, cedeu,
cassando a nom eação.
Graves dificuldades continuaram a estorvar o provim ento dessa vaga, em
cuja história se está vendo quanto distam as norm as, a que ali obedecem tais
nomeações, do arbítrio e desleixo em que entre nós corre o exercício dessa função
delicada pelas duas autoridades, a que a nossa Constituição, como aquela, o confiou.
Antes de W illiams, as preferências de G rant haviam designado a Conkling,
em inente am igo de Kent (o grande com entador da C onstituição) e de John
Q uincy A dam s. Mas, argüido pela im prensa in d ep endente, de, c o n q u a n to
advogado notável, labutar mais na política m ilitante do que n o foro, C onkling
declinou da oferta presidencial. Depois, retirando, com o já vim os, a nom eação
de Williams, o presidente com unicou ao Senado que n om eara a Caleb Cushing,
em in en te ju rista, que se elevara à p rim eira distin ção entre os advogados
am ericanos perante o Tribunal Arbitrai de Genebra.^^ Surgindo, porém , dúvidas
quan to ao seu caráter, o Senado, apesar de quase to d o adicto ao governo,
declarou-se resolvido a não lhe aprovar a escolha, que o chefe do Estado, para
evitar u m a desautoração form al, se deu pressa em retratar. Foi então que lhe
o c o rre u o n o m e de M o rris o n W aite, ju ris ta la u re a d o n o foro de O hio,
internacionalista notad o n o arbitram ento de Genebra, estadista distinguido por
unânim e eleição com a presidência na convenção constituinte n o seu Estado.
Três vezes se baldara, condenado pela opinião nacional e pelo p ró prio
sentir de u m a C âm ara amiga, a escolha do Poder Executivo. Da q u arta vez,

'* R H O D E S , Jam es Fo rd. H istory o f the U nited States fr o m the com prom ise o f 1850 to the fin a l restoration o f
h o m e rule at the so u th in 1877. N e w York; M ac m illan , 1910, v. 7 (187 2 -1 8 7 7), p. 27. [N o ta d e RB,
c o m p le m e n ta d a n a n o ta 4 d a e d iç ão d e 1985.)
''' Ver n o ta 16.
O T rib u n a l A rb itral d e G e n e b r a , re u n id o e m 1871-1872, resolveu a q u e stã o d o A labam a, célebre conflito
d ip lo m á tic o e n tre a In g la te rra e os E stado s U n id o s d u ra n te a G u e rra de Secessão, o c a s io n a d o p o r u m a
e m b a rc a ç ã o a r m a d a , o A la b a m a . O litígio se resolveu e m 1872, d e claran d o -se a In g la te rr a responsável
pelos c o rsário s c o n fe d e ra d o s (v e r n o ta 11) e c o n d e n a n d o -s e esse país a p a g a r u m a v ulto sa in d en ização
a o go v e rn o a m e ric a n o .

•àt 173
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

afinal, obteve o acolhim ento público e o voto do Senado. Todas essas individua­
lidades rejeitadas, eram , entretanto, de marca bem alta. N e n h u m a delas se ins­
crevia na classe das m ediocridades servis, recom endadas unicam ente pela sua
docilidade aos em preiteiros de situações, o u ao chefe de Estado.
A vacância assim provida - após esta série de tropeços era a de Chase, um dos
magistrados que presidiram à Suprema Corte com mais fulgor. As circunstâncias
em que se realizara a sua investidura nessa dignidade, debuxam u m episódio
caracteristicamente expressivo do contraste entre os costumes am ericanos e os
nossos, n o exercício, pelo governo, dessa função, entre todas m elindrosa e sagrada.
Falecera n a presidência daquele Tribunal o célebre T a n ^ , o im ediato a
Marshall, n a escala da grandeza e da fama entre os presidentes d a Corte Suprema.
M uitos jurisconsultos proem inentes na advocacia e na política lhe cobiçavam a
sucessão. E ntre eles, a tod os sobressaía Chase, ex -m in istro d o Tesouro no
gabinete de Lincoln. Antes de aberta a vaga, este lha p ro m etera m ediante um
dos seus amigos. Entre o com prom isso, p orém , e a m o rte de Taney, rom peu
Chase com o presidente, dem itindo-se do M inistério da Fazenda, n u m conflito
que deixou vivam ente ulcerado o ânim o de Lincoln. Perdendo a situação oficial,
o grande ex-m inistro das Finanças estava, ao m esm o tem po, sob a im inência de
ver a sua carreira inteiram ente perdida. Era natural que o presidente ofendido
lhe desfechasse o golpe de m isericórdia. Neste sentido m ano brav am os seus
amigos. Mas a sua honestidade estava acim a dos seus ressentim entos. Chase
era, aos seus olhos,^* u m a superioridade. “E ntre todos os grandes ho m ens que
eu ten h o visto”, dizia Lincoln, “Chase vale u m e m eio de qualquer deles’V^ e
este sentim ento lhe so b rep u jo u n o espírito a força das incom patibilidades
pessoais, que os separavam.
Eis aí com o se procede, onde há, nos hom ens que governam , o tem o r da
própria consciência e o respeito aos governados. O sentim ento am ericano, sobre
este ponto, recebeu expressão m ais feliz nas palavras de Rufus C hoate, em 1851,
à convenção constitucional de Massachusetts: “D ai-m e”, exclamava ele, “um
juiz independente, íntegro, capaz, e p ouco m e im portará depois, o com o andar
o resto da Constituição, o u o partido que o cupar o governo. O que sei eu, é que
esse governo será liberal” ^^

o Correio da M a n h ã n ã o re g istra vírgula de p o is d e “olhos”


" R H O D E S , Jam es Fo rd. O b r a cit., 1909, v. 5 (1864-1866), p. 45-46. |N o ta d e RB, c o m p le m e n ta d a pela n ota
5 d a e d iç ão d e 1985.)
" S e g u n d o N E R IN C X , Alfred. V O rganisation ju d id a ir e a u x Ê tats-U nis. Paris; V. G ia rd & E. Brière, 1909, p,
417. [N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a pela n o ta 6 da ed iç ão d e 1985.]____________________

174 máB
V o liin u ' j ( ) l ( . ) A B n a P t i n u - i u t K ( ‘p u h l i C i T

N ão estam os na A m érica do N orte, senhores, b em se vê. Mas, quando nos


deram a C onstituição atual, foi preconizando-a com o transplantação leal do
regím en am ericano. O ra, nesse admirável organism o, o sistem a nervoso central
reside n os órgãos da justiça. N ão se adm irem , pois, de que u m a corporação de
juristas, m al-ajeitada aos artifícios da insinceridade política, tenha p o r dignos
de im itação os exemplos dados à nossa inexperiência pela grande escola dos
advogados am ericanos.
O u v in d o u ltim a m e n te certos oráculos d o rep u b lic an ism o , c o n stitu -
cionismo^^ e federalism o, com que nos afrontam ore rotundoy^^ os apologistas
de todas as bernardices do p o d er entre nós, tem -m e lem brado u m a anedota,
m uitas vezes recontada entre os seus amigos p o r u m venerand o m agistrado,
m uito caro p arente meu,^^ que findou a sua carreira judiciária presidindo ao
Suprem o Tribunal de Justiça.
Era n os prim eiros anos do Segundo Im pério, q u an d o m al agomava, no
Brasil, em m anifestações ainda em brionárias, a idéia federativa. Por essa época,
não sei precisar quando, na capital da província onde nasci, discreteavam, certo
dia, a u m a esquina, dois patriotas sobre a acepção do vocábulo fe d e ra l “Você
sabe”, dizia u m deles ao outro, “você sabe: eu sou federal. Lá isto sou: eu sou
federal.” “Mas, olhe, com franqueza, isto de ser federal, que vem a ser? N ão m e
dirá?” Ao que, sem titubear, respondeu o outro, aprum ado e lam peiro: “O ra
esta! Pois então não sabe você o que é ser federal? N ada m ais claro. Im agine
você que eu sou federal. Pois sou federal! Aí está.”^^
N ão tendo idéias tão claras nestes assuntos, com o esse d o u to r em letras
políticas, de cujo n o m e a posteridade, tão desagradecida, se esqueceu, abando-
nastes o ca m in h o de pé posto, indicado pelos clássicos da terra, para vos
trasm alhardes no encalço dos m odelos, com que nos seduz a d o u trin a e a p rá ­
tica dos Estados Unidos. Ali, com efeito, esse Bryce, entre nós tã o citado e tão
m al lido, ocupando-se com a classe dos advogados, o Bar, com o p o r lá se diz,
põe em relevo a sua intervenção habitual e ponderosa no desenvolvimento m oral
e legislativo da nação, obstando, nas legislaturas, à passagem de m edidas ruins,
“tolhendo am iúde m ás nom eações para a m agistratura”,^® fortalecendo o am o r
o D iário de N oticias e o Jornal do C om tnercio registram “c a istitu cio n a lísm o " .
" L k e ra lm e iu e ; “c om a b o c a arre d o n d a d a " ; em lin g u a g e m figurada; “ c o m estilo h a r m o n io s o , co m elegância
n o falar, n u m a lin g u a g e m h a r m o n io s a ”.^‘ A lbino José B arb osa de O liveira. [N o ta 7 d a e d iç ão d e 1985.]
A b o lira m -se o s travessõ es q u e , a le a to ria m e n te , se in serem n a a n e d o ta c o n ta d a p o r R ui, n o s trê s jo rn a is
con su ltado s.
“ BRYCE, lam e s. The A m erican C om m o n w e a lth . L o n d o n : M ac m illan , 1888, v. 3, p . 378-379. [N o ta d e RB,
c o m p le m e n ta d a p e la n o ta 8 d a e d iç ão d e 1986.)

175
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

do povo à C onstituição, e atuando nos juizes, q u an d o estes entendem^^ na so­


lução das questões constitucionais.
Pela sua vasta influência, essa profissão tem sido, ordinariam ente, m uito
poderosa nos Estados Unidos. “A política, na sua m aio r parte, lhe tem ido parar
às m ãos”, diz o insigne expositor britânico das instituições am ericanas, e nelas
há de perm anecer, en quanto as questões políticas co ntin uarem a depender da
interpretação das constituições. D uran te os prim eiros sessenta o u setenta anos
da República, os seus principais estadistas foram advogados, e eram geralm ente
os advogados os que m oldavam e dirigiam a opinião nacional.
D os 26 presidentes dos Estados U nidos quase m etade foram advogados.
Advogado, John Adams, o sucessor de W ashington. Advogado, Jefferson, que
sucedeu a John A d a m s . Advogado, John Q uincy Adams, o sucessor de M onroe.
Advogado, o p róprio Andrew Jackson, o famigerado general. Advogados, Van
B uren, Polk, F iím ore, Pierce, Buchanan. Advogados, Lincoln, Cleveland e, por
últim o, Taft, o atual presidente, depois juiz e m in istro , antes de suceder a
Roosevelt.
Na Inglaterra é Bryce quem observa qu e a classe dos advogados “tem
representado u m papel só inferior ao da Igreja’?^ As suas fileiras se constelam com
os mais refulgentes nomes da m agistratura e do parlam ento britânico, desde More,
Bacon e Coke, até Erskine, Pitt e Brougham. Ela deu, na França, à Constituinte os
maiores gigantes da palavra, à Convenção os seus mais formidáveis ditadores, ao
Diretório e ao Consulado vários dos seus poderosos membros, à Restauração os
seus mais eminentes estadistas, e, na M onarquia de Julho, na Segunda República,
no império de Napoleão ao governo e à oposição os seus mais insignes oradores,
os seus mais preclaros caracteres, os seus mais notáveis ministros.^''

^ Rui B arbosa e m p re g a o v erb o “e n te n d e r” n o se n tid o d e “o cu p ar-se de, c u id a r”.


BRYCE, lam es. O b r a cit,, v. 1, p. 355. [N o ta de RB.]
Em BARBOSA, Rui. f^ovosíJiscursosecon/eréticias. São Paulo; A cadêm ica, 1933, p. 3 0 0 está; “H e n ry A d a m s ”.
(N o ta 10 d a edição de 1985.] T a n to n o fra g m e n to do m a n u s c rito au tó g ra fo d o ra s c u n h o deste discurso,
c o m o em to d o s o s jo rn a is qu e o p u b lic a ra m n o dia seg u in te ao d a posse, co n sta H e n ry A d a m s , ev id e n te
lapso d e Rui, que, decerto, tin h a m u ito presentes dois H e n ry A dam s, auto re s q u e fig uram e m s u a biblioteca.
O p rim e ir o é o h is to ria d o r H e n ry B rooks A d am s (1838-1918); o se g u n d o é H e n r y C a r te r A d a m s (1852-
1921), e c o n o m ista , p ro fesso r d e e c o n o m ia po lítica n a U n iv ersid ade de M ichigan.
BRYCE, James. O b r a cit., v. 3, p. 367. [N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a pela n o ta 11 d a e d iç ão d e 1985.]
" Refere-se R ui à h istó ria francesa n o p e rio d o c o m p re e n d id o e n tre 1789 e 1870, o u seja, e n tre a R evolução
Francesa e o fim d o S e g u n d o Im p é rio . A C O N S T IT U IN T E foi a assem b léia q u e se r e u n iu pela p rim e ir a
vez e m 9 d e ju lh o de 1789, e, em 1791, d e u ao país u m a c o n stitu iç ã o qu e, a firm a n d o a u n iv e rs a lid a d e dos
d ire ito s d o h o m e m e d o cid a d ão , era a exp ressão dos interesses da b u rg u e s ia e m ascensão. A C O N V E N ­
Ç Ã O foi a assem bléia c o n stitu in te fo r m a d a em 1792 p o r 749 d e p u ta d o s eleitos p e lo su frág io qua se u n i­
versal; e m 1792, a C o n v e n ç ã o p ro c la m o u a rep úb lica e d e u início a o p ro c e sso d e ju lg a m e n to d e Luís

776 mAB
V o liin ic J ( ) IO A I5 rui P r i n i ( ‘i i i i K c p ú h l i t a

Assim que, em todas as nações livres, os advogados são, p o r via de regra, a


categoria de cidadãos, que m ais po der e autoridade e x e r c e m . “Em todos os
g o v ern o s liv res”, o b se rv a T ocqueville, “q u a lq u e r q u e seja a su a fo rm a ,
encontram os sem pre os legistas no prim eiro posto de todos os partidos.”^^ Vede
a sua força na A m érica do N orte: eles são a m aioria, na m a io r p arte das
legislaturas dos Estados,^^ e, n o Congresso da União, constituem 53 p o r cento
da totalidade dos seus m em bros. Adicionai a isso a m agistratura estadual, com
a m agistratura federal, o seu núm ero, o seu prestígio, a sua autoridade indiscutida
na anulação das leis inconstitucionais, o seu poder im enso na expansão do direito
consuetudinário, a sua ação orgânica no desenvolvim ento da C onstituição viva,
essa in titu la d a C onstituição não escrita, e c o m p re e n d e re is p o r q u e essa
dem ocracia, educada n o direito, adstrita à legalidade e subordinada à justiça,
pôde ser definida com o um governo de juristas, u m a aristocracia da toga.^
Os governos arbitrários não se acom odam com a autonom ia da toga, nem
com a independência dos juristas, porque esses governos vivem rasteiram ente
da m ediocridade, da adulação, da m entira, da injustiça, da crueldade, da desonra.

XVI, q u e c u lm in o u c o m a execução d o rei, em 1793. O D IR E T Ó R IO fo i o p o d e r executiv o in s titu íd o


pela co n stitu iç ão d e 1795, q u e su ce d e u à C onvenção; era fo r m a d o p o r c in c o dire to re s , e foi o p e río d o de
tra n s iç ão e n tre o go v e rn o re v o lu c io n á rio e a era nap oleô nica. O C O N S U L A D O foi o go v e rn o re su lta n te
d o g o lp e d e E sta d o d o 18 B ru m á rio (9 d e n o v e m b ro d e 1799) e q u e s u b stitu iu o D ire tó rio : u m a nova
c o nstituiç ão d e fin iu a organ ização d o g o v e rn o e n o m e o u três cônsules; B o nap a rte, C am b ac é rè s e Lebrun;
é dessa é p o c a o C ó d ig o Civil francês, p ro m u lg a d o em 1804. A RESTAURAÇÃO foi o p e r ío d o d a história
francesa em que, d e p o is da abdicação d e N ap oleão 1, a m o n a rq u ia foi restabelecida e m favor dos B o u rb o n s
(Luís XVIII e C arlo s X). A M O N A R Q U IA D E JU L H O foi o re in o de Luís Filipe de O rléan s, c h a m a d o ao
p o d e r d e p o is d a rev o lu ç ã o d c ju lh o d e 1830; foi u m re g im e v e rd a d e ira m e n te p a rla m e n ta r, n o q u a l a
n o b re z a foi s u b stitu íd a pe la alta bu rg u e s ia financeira. A SE G U N D A REPÚ BLICA fo i a q u e se in s ta u ro u
e m fevereiro d e 1848, c o m a q u e d a d e Luís Filipe, cujo re in a d o fo ra p e r m e a d o d e agitações políticas;
depo is de u m go v e rn o p ro v is ó rio de rep u b lic a n o s m o d e ra d o s , Luís N a p o le ã o B o n a p a rte foi e leito presi­
d e n te e, e m 2 d e d e z e m b r o de 1851, u m go lp e d e E stado lh e d e u p o d e re s im p e ria is, s e n d o o re g im e
im p e ria l fo r m a lm e n te restabelecido através de u m de creto d o se n a d o {senaius c o n su liu m ), re feren dad o
p o r pleb iscito em 1852. O Im p é rio de N a p o leã o III, o u S E G U N D O IM P É R IO , d u r o u d e 2 d e d e z e m b r o
de 1852 a 4 de se te m b r o d e 1870; ao golpe d e estado de 2 de d e z e m b r o de 1851, segu iu -se a repressão da
o p o siçã o e u m a co n stitu iç ã o q u e reforçava o p o d e r executivo em d e tr im e n to d o legislativo.
Cf. ZA NARDELLI, G iusepp e. L’avvocaiura: discorsi. 2. ed. Firenze: G. B arbèra, 1891, p. 5 1 -5 9 ,6 3 -7 4 . (N ota
de RB, c o m p le m e n ta d a p e la n o ta 12 d a e d iç ão de 1985.|
" Cf. FO R SY TH , W illiam . H ortcnsius; a n historical essay o n the office a n d d u tie s o f a n advo cate. 3. ed. L on d o n ;
Jo h n M u rra y , 1879. p. 19. [N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a pela n o ta 13 d a e d iç ão d e 1985.]
N ã o foi possível localizar a citação. É provável q u e n ã o seja u m a citação d ire ta de Tocqueville, m a s feita a
p a r tir de F o rsy th o u de Bryce, livros da bib lioteca de Rui. in te rd itad o s n o m o m e n t o de p re p a ra ç ã o desta
edição, d e v id o à realização d e o b ra s de c o n serv ação n o M u se u Casa d e Rui Barbosa.
C f BRYCE, James. O b r a cit., v. 3. p. 378. [N ota d e RB, c o m p le m e n ta d a p e la n o ta 14 da e d iç ã o d e 1985.)
" Cf- N E R IN C X , Alfred. O b r a cit., p. 159. [N ota de RB. c o m p le m e n ta d a pe la n o ta 15 da e d iç ã o d e 1985.] Esta
referência diz re sp eito ap en a s à in fo rm a ç ã o “c o n stitu em 33 p o r cen to da to ta lid a d e do s seus m e m b r o s ”.

•Al 177
_____________ História da
O rd e m d o sA d vo g a d o s d o B ra s il

A palavra os aborrece; porque a palavra é o in strum ento irresistível da conquista


da liberdade.
Deixai-a livre, onde quer que seja, e o despotism o está m o rto . Por isto, os
incapazes de a m anejar e os incapazes de lhe resistir, acabam de lhe d ar por
labéu, entre nós, o apelido néscio de bacharelismo.^® O bacharel, na ronha desse
vocabulário, é o hom em que sabe pensar, escrever e falar. Vede com o blateram
co n tra a fraseologia, e com o a praticam esses inim igos da lógica e d o direito.
N inguém exerce com o eles o sofisma, a confusão, a incontinéncia do fraseado.
Som ente n o vasconço usual dessa logorréia, em que se enuncia o ódio aos
oradores e se anuncia com o cruzada salvadora a desbacharelização do país, falta
a dialética, falta a cultura, falta o senso, falta o talento, falta o estilo, falta, em
sum a, tudo o p o r on d e se revela o poder do espírito e a consciência de um a
idéia na linguagem hum ana.
Nessa pregação do obscurantism o, que se encetou n o Brasil, há dois anos,
sob a form a de “guerra aos preparados”, para acabar, hoje, assum indo a de
reform ação geral do ensino, a desconfiança contra o saber se alia, germ anada-
m ente, ao h o rro r da eloqüência. Puseram -lhe o nom e de retórica, n o in tuito de
a deprim ir. Assim se abocanham sempre, entre os lábios virulentos da inveja, as
m aiores criações de Deus. Vede se escapa a esse trabalho da crítica pela alcunha
o m esm o sol, “o grande putrefactor”.
Retórica o u eloqüência? Eloqüência é o privilégio divino da palavra na
sua expressão m ais fina, m ais natural, mais bela. É a evidência alada, a inspiração
resplandecente, a convicção eletrizada, a verdade em erupção, em cachoeira, ou
em oceano, com as transparências da onda, as surpresas d o vento, os reflexos
do céu e os descortinos do horizonte. C o m o o espírito d o S enhor se librava
sobre as águas, a sensação da im inência de u m poder invisível paira sobre a
trib u n a ocupada p o r u m verdadeiro orador. Abriu ele a boca! Já ninguém se
engana com a corrente do fluido im ponderável e m aravilhoso, que se apodera
das almas. É a espontaneidade, a sinceridade, a liberdade em ação.
Daí vai um a distância incomensurável à retórica, o esforço d ’arte por suprir a
eloqüência nos que não a têm, a sua singeleza, a sua abundância, a sua luminosidade,
a sua energia triunfal. Todos os grandes oradores se viram cham ar retóricos pelos
rivais impotentes da sua superioridade. De Atenas à Grã-Bretanha, de Roma à França,
à Itália, à Hungria, à Alemanha, a eloqüência tem vibrado e dardejado nos lábios
dos maiores hom ens de governo, os construtores de nacionalidades, os unificadores

^ Q Correio da M a n h ã registra “a p elid o de néscio d e b a ch a re lism o ”. ________ __________

178
V o lu m e 5 O l O A l i ti.i P i i m t ’ i i j K ( ' ] ) ú l j l i c ,1

de im périos, os salvadores de constituições, os co n d u to res de repúblicas e


democracias, sem lhes desmerecer jamais a eles a valia de estadistas.
Pericles, Cícero, M irabeau, Pitt, Gladstone, Cavour, Lincoln, Bismarck,'^°
Daek,'*' Thiers, G am b etta,q u e foram todos esses titãs do pensam ento e da ação
m ilitante senão prodigiosas encarnações da palavra ao serviço do gênio políti­
co? Vede a livre Grécia, a Inglaterra livre, a livre Am érica do N orte, a França
livre: o utras tantas criações, antigas o u m odernas, da trib u n a. Sob essa p o tê n ­
cia eterna se fez a m ãe das artes, a m ãe dos parlam entos, a m ãe das atuais d e­
mocracias, a m ãe das m aiores reivindicações liberais. Na idade h o d ie m a todas
as grandes expansões d o direito, todos os grandes m ovim entos populares, to ­
das as grandes transform ações internacionais são m aravilhas da sua influência
universal. O p róprio Brasil, o Brasil parlam entar, o & asil abolicionista, o Brasil
republicano, qu e o u tra coisa não é, senão a obra dos seus ho m en s de Estado, os
quais eram , ao m esm o tem po, os seus jurisconsultos e os seus oradores?
Se abstraísseis deles em F rança, o n d e a R evolução F rancesa, sem a
A ssem bléia C o n stitu in te, a Assem bléia Legislativa e a Convenção?'*^ Se os
eliminássemos d a Inglaterra, onde o governo parlam entar? Varrei-os dos Estados
U nidos, e tereis apagado a história am ericana, que é u m a via-láctea de estrelas
da palavra. Excluí-os do Piemonte,^^ e vereis sum ir-se esse parlam ento de Turim ,
o n d e 0 verbo de Cavour, em 12 anos de lida tribunícia, assentou o laboratório
da un id ad e nacional.*’*’ Suprim i-os, enfim , do Brasil, e tereis acabado com a
atividade civilizadora do Im pério, a lum inosa jurisprudência dos seus tribunais,
os seus m agníficos m o n u m en to s de codificação e educação liberal das classes
cultas pela escola das suas assembléias, a conquista da em an cipação pelos
com ícios populares, a organização da M onarquia e da República pelas nossas
duas constituições. Tudo, tudo, benefícios do senso jurídico e do senso político.

“ Cf. W H IT E . A n d re w D ickson. Autobiography. Lon do n : M acm illan, 1905, v. 1, p. 599: “/ have k n o w n m a n y


clever speakers a n d som e very p ow erfu l orators; bu t I have never k now n one capable, in the sam e degree [as
Bismarck], o f overw helm ing his enem ies a n d carrying his w hole country w ith him . ” (C o n h e ci m u ito s ora do re s
inteligentes e alguns m u i t o po dero so s; m a s jam ais conheci u m capaz, n o m e sm o g ra u Iq u e B ism ark], de
su b ju g ar os inim igos e a rra s ta r o país in teiro consigo.) (A n o ta é d e Rui Barbosa. A tra d u ç ã o é d esta ediçáo. j
Cf. LAVELEYE, Ém ile d e . L a Prusse e t 1'Autriche depuis Sadowa. Paris: H a c h e tte , 1870, t. 2, p. 156-230.
[N o ta d e RB, c o m p le m e n ta d a pela n o ta 17 d a e d iç ão d e 1985.] Lapso o rto g rá fic o re g is tra d o nos três
jo rnais. A fo r m a c o rre ta é Deak.
Ver n o ta 33.
" P ie m o n te : região d o n o ro e s te d a Itália. A capital é T u rim , e m c u jo p a r la m e n to C a v o u r in ic io u s u a b rilh a n te
c arre ira política.
** C f. R IN A U D O ,C o n s ta n z o ./i Risorgim ento italiano. T orino: O livero E. C., 1910, v. 2, p. 497- 498. (N o ta de
RB, c o m p le m e n ta d a p e la n o ta 18 d a e d iç ão de I985-)_________________________________________________

mà# 179
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

representados e desenvolvidos pela ciência dos nossos legistas e pelo influxo


dos nossos parlam entares.
Eis o m al que têm causado à nossa pátria os advogados e os bacharéis.
P or que não exterminá-los?
N aturalm ente que os hábitos de liberdade com uns à nossa classe e essenciais
à nossa profissão colidem com a natureza, a m oral e a segurança do poder
irresponsável.
C om ele é incompossível"*^ a advocacia desde a R om a im perial, quando
C rem úcio C o rdo foi levado ao suicídio pelo novo e inaudito crim e, ''novo ac
tunc p rim u m audito crimine", de haver aludido em term os de sim patia aos
p atrio tas da República, louvando a B ruto e qualificando a Cássio com o o
derradeiro rom ano “romanorum u ltim u m ”.^^
O g o lp e de E stad o q u e, em F ra n ç a , a p a re lh o u a e n tro n iz a ç ã o de
B onaparte‘S^, consum ou-se com a expulsão dos advogados: “Lancemos os ad­
vogados ao Sena”, foram as palavras, com que, no 18 B rum ário, se com binou,
entre Napoleão e o general Lefebvre, a extinção do p o d er popular, da represen­
tação nacional.
E quando,*'* mais tarde, Cambacérès lhe subm eteu o decreto de constituição
da O rd em , re in te g ran d o -a em algum as das suas franquezas, a aversão do
im perador aos juristas se desabafou no m ovim ento de cólera, com que respondeu
ao seu arquichanceler:
Este decreto é ab surdo; n ã o nos deixa m eio n e n h u m de os refrear,
n e n h u m a ação sobre eles. Os advogados são facciosos, artífices de crim es e
traições. E nq u an to eu tiver u m a espada à cinta, não firm arei nun ca u m tal
decreto. Q u ero q u e se possa co rtar a língua ao advogado, se dela usar contra o
governo/^
" Assim n o D iá n o de N otícias e n o jo rn a l do C o m m e rd o , o q u e nos p a re ce o c o rre to . O Correio da M a n h ã
registra “incom passíveJ”.
Cf. TACITUS, C o rn eliu s. A n n a liu m ab excessu d ivi augusti libri. T h e a n n a h o f Tacitus. Edited by H e n ry
F u rn e a u x , w ith in tr o d u c tio n a n d no tes. O xford : C la re n d o n Press, 1884, v. 1, livro IV, p. 483-484. [Nota
d e RB. c o m p le m e n ta d a p e la n o ta 19 d a ed ição d e 1985.]
Q u a n d o de s u a volta vito rio sa da ca m p a n h a d o Egito, N a p o leã o B o n a p a rte o rg a n iz o u u m go lp e de Estado
c o n tra o D ire tó rio , n o “ 18 B ru m á rio , a n o V IU ” (9 de n o v e m b ro de 1799), q u e in s titu iu o C o n su la d o .
U tiliz a n d o as diversas c o rre n te s d e o p osiçã o a u m re g im e d e sacreditad o, B o n a p a rte u tiliz o u seu prestígio
pessoal, sem revelar seus projecos de longo prazo. Em 1802, u m seiiatus consuítum , ratificado p o r plebiscito,
fez d e B o n a p a rte c ô n su l vitalício. Em 1804, o S en ado q uase u n a n im e m e n te o p ro c la m a im p e r a d o r dos
franceses, sob o n o m e d e N a p o leã o l,e dcclara o im p é rio h e re d itá rio (decisões ratificad as p o r plebiscito).
O Correio d a M a n h ã n ã o re g istra vírgula d e p o is d e “q u a n d o ”
" ZA N A R D ELLl, G iu sep p e . O b r a cit., p, 79 ,8 9 -9 0 . (N o ta d e RB, c o m p le m e n ta d a p e la n o ta 20 da e d iç ão de
1985.1 A citação p ro p r ia m e n te dita se e n c o n tra n a pá g in a 9 0 . ___________ ___________

180
V o lu m e 5 O lO A I ^ n u l^rinK M i.i Ix c -p ú b lit o

Eis as duas atitudes sociais frente a frente. De u m lado, o regím en que fazia
a n u l a r , p o r m eio de senatus c o n s u l t a s , os veredictos do júri, desagradáveis
ao trono; que m ultiplicava tribunais de exceção, cortes prevostais^^ e comissões
m ilitares extraordinárias, para julgar fatos “não previstos nas leis penais”, que
instituía a pena capital p o r simples decreto; que fuzilava, indefeso e injulgado,
n o fosso de Vincennes,^^ o d u q u e d ’Enghien. Do outro, os intrépidos patronos
da legalidade, que se bateram , rosto a rosto, com o absolutism o napoleônico,
p o r todas as vítim as das suas perseguições judiciais, desde mlle. de Cicé^^ até o
general M oreau;” que, em 1802, n a Inglaterra, pela voz fam osa de M ackintosh,
n o julgam ento de Peltier, arrastando à presença de u m jú ri b ritânico os feitos
do vencedor da Europa, levantaram o processo dos crim es do Im pério a um a
altura raras vezes igualada; que, enfim , no plebiscito de 1804, q u an d o apurados
na França 3.524.000 sufrágios, 3.521.000 se declaram pelo Im pério, apenas lhe
deram três dentre os duzentos votos colhidos em Paris, n o seio da O rdem dos
Advogados.
As liberdades da França expiraram com as deles, quando a loucura jacobina
m ergulhou a Revolução no Terror.^^ Sob a Declaração dos Direitos do H omem,
o mais im em orial desses direitos, o direito elem entar do acusado a u m patrono
desapareceu do processo crim inal. A lógica da guilhotina decretou então aque­
le atroz sofisma: “La loi donne aux accuséspour défenseurs desjuréspatriotes; elle
rien d o itpoint a u x conspirateursT"^^ C om o corolário n atural desse novo código
de h um anidade, surgiu aquele conselho de assassinos, o Tribunal Revolucioná-

o D iário d e N otícias re g istra “a n d a r ”


N o a n tig o S e n a d o r o m a n o , o sen a tu s co n su ltu m era u m d e creto c o m fo rça d e lei. O m e s m o o c o rre n a
F ran ç a d e N ap oleào.
V ariante d e “p re b o stais”.
O fam o so castelo m ed iev al d e V in cen nes, o u tro r a residência real, foi, n o s séculos X V II, XVIII e início d o
XIX, u m a p ris ã o d o E stad o. N o fosso d o castelo, foi fuzilado o d u q u e d ’E n g h ie n , e m 1804.
M ad e m o ise lle d e Cicé, cuja biografia n ã o se c o n se g u iu localizar, é m e n c io n a d a p o r G iu s e p p e Z an ardelli,
e m L ’a w o c a t u r a , p . 9 \ . 0 e x em p lar d e Rui d a o b ra d e Z an a rd e lli é b a sta n te a n o ta d o , e sta n d o o tre c h o em
q u e stã o ass in a la d o a tin ta v erm elha.
” O Correio da M a n h ã , o D iário áe Notícias e o }ornai do C om mercio n ã o re g is tra m q u a lq u e r sinal d e p o n tu a ç ã o
d e p o is de “^ n e r a l M o r e a u ”
T e rr o r é o n o m e d a d o a u m p e r ío d o d a R ev o lu çã o F r an c e sa e m q u e , s o b o im p u ls o d o s ja c o b in o s
(re p u b lic a n o s in tr a n s ig e n te s ) d e Paris, c rio u -s e u m tr i b u n a l c rim in a l e x t r a o r d in á r io (17 d e a g o sto de
1792). Leg alizado a p a r t i r d e 17 d e se te m b r o de 1793, o T e rro r visava os n o b re s , o s p a d re s re fratá rio s,
os e m ig r a d o s e su as fam ílias, os oficiais s u sp e ito s d e tra iç ã o e os q u e e sp e c u la v a m c o m d in h e ir o , e se
fez a c o m p a n h a r d e u m m o v im e n to d e d esc ristia n iz a çâ o . M ais d e 43 m il p e ss o a s fo r a m ex ec u ta d a s
d u r a n t e o Terror.
” T rad u z in d o : “A lei dá, p o r defensores, aos acusad os, ju ra d o s pa trio ta s; n ã o os deve, e m abso lu to , aos cons-
p ir a d o r e s ”_______ __________________

787
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

rio,-'^® arrem edilho m onstruosam ente m acabro da justiça, Mas essas form as de
sangue e m orticínio não apavoraram os advogados franceses. Alguns, e entre
eles Berryer pai, foram expor a sua vida naquele recinto de m agarefes mal-
am anhados em juizes, onde “o banco dos réus não se separava senão p o r um
vago limite dos seus defensores”.^^
C o n ta esse ilustre jurisprudente do século XVIII, nas suas Reminiscências,
com o, ao tem p o do julgam ento de Luís XVI, correu a conferência onde se
reuniram os m em bros da antiga O r d e m ,e n t ã o extinta, nos quais poderia recair
a escolha do infeliz m onarca, previam ente fadado à m orte, p ara deliberar sobre
as questões concernentes ao aflitivo e trem endo caso. O que en tre eles aí se
assentou foi que o sistema da defesa, logo às prim eiras frases do exórdio, se
traçaria nesta declaração heróica do advogado: “Trago à Convenção a verdade e
a m in h a cabeça; depois de m e escutar, disponha ela da m in h a vída."^'
C om esse regím en só e n tra em con fronto o da realeza dos B ou rbon s, em
N á p o le s, c h u m b a d o à e te rn id a d e d a in fâ m ia p elas c a rta s im o rta is de
Gladstone.^^ Mas, ainda aí, quer após a insurreição de 1821, q u e r depois das
lutas de 1848, n ão faltou às vítim as da inquisição policial a dedicação de
g e n e ro so s p a tro n o s , qu e pelo s d ire ito s delas se a v e n tu ra ra m aos m ais
assustadores perigos, invectivando o cetro o m n ip o te n te, ex p ro b ran d o -lh e a
” o T ribu na l R e v o lu cio n á rio foi u m trib u n a l d e exceção In s titu íd o pela C o n v e n ç ã o a 10 d e m a rç o d e 1793.
C o m p o s to d e 12 ju ra d o s , d e c in c o juizes e scolhidos p e la C o n v e n ç ã o e d e u m a c u s a d o r p ú b lic o , devia
ju lg a r to d o s os q u e am eaç a sse m "a liberdade, a u n id a d e , a in divisib ilid ad e d a R ep úb lica, a seg uran ça
i n te r io r e e x te rio r d o E sta d o ” o u fo m en tassem “c o m p lô s v is a n d o restab elecer a realeza”. O s ju lg a m e n to s
e ra m executórios e m 24 horas, s e m apelo n e m cassação. E m 3 1 de m a io d e 1795, o T rib un a l R evoluvionário
foi d e fin itiv am e n te s u p rim id o .
” ALLOU, R eg er & C H E N U , C harles. Grands avocats d u siècle. Paris: A. P e do ne, [s.d.], p. 22. (N o ta d e RB,
c o m p le m e n ta d a p e la n o ta 21 d a ed iç ão de 1985.]
“ Trata-se da a n tig a O r d e m d o s A dvogados franceses, ex tin ta em 1790, d u r a n te a R evolução, e restabelecida
n o im p é rio n a p o le ô n ic o , e m b o r a sujeita a restrições.
‘■‘ S e g u n d o SABATIER, M a urice.E tudesetdiscours. Paris;H a ch e tte , 39] I , p . J 16. (N o ta d e R B ,c o m p le m e n ta d a
pela n o ta 22 d a ed iç ã o d e 1985.]
O s B o u rb o n s , restau rad o s n o t r o n o e m N áp oles e n a Sicilia d e p o is d o C o n g re sso d e V ien a (1815), exerceram
o p o d e r d e fo rm a e x tre m a m e n te a u to ritá ria , d a n d o tra ta m e n to d e s u m a n o ao s seu s p re so s políticos. N o
o u to n o d e 1850, G la d sto n e (c o n s id e ra d o p o r algu ns o m a io r e sta d ista b r it â n ic o d o século XIX ) fez u m a
v ia g e m p a r tic u la r a N á p o le s e fic o u h o r r o r iz a d o c o m as c o n d iç õ e s e m q u e aí e r a m m a n tid o s os
p risio n e iro s. E m ju lh o d e 1851, p u b lic o u as du a s c o n tu n d e n te s C artas a lord A berdeen, e m q u e descrevia
0 q u e havia visto, e apelava ao seu p a r tid o p a r a qu e co n d en a sse tal in iq ü id a d e . D u r a n te to d o o reinad o
B o u rb o n (q u e d u r o u a té 1860), h o u v e in su rreiçõ es e rebeliões, m u ita s delas in s u â ã d a s pelos carb o n ário s,
q u e to m a r a m a titu d e s de cisiv a m e n te constitucio n alistas, c o n trá ria s ao g o v e rn o ab so lu tista . E m 1821,
c o n tra ria n d o a p o siçã o b ritâ n ic a e francesa, a Á u stria d e te rm in a a in te rv e n ç ã o d e forças eu ro p é ia s c o n tra
as am eaças à o r d e m e c o n firm a F e rd in a n d o IV (B o u r b o n ) c o m o m o n a r c a a b so lu to . E m 1848, a n o d e
g ra n d e s rev oluçõ es e m to d a a E u r o p a , h o u v e , n o c h a m a d o re in o d a s D u a s Sicilias, su b levaçõ es d e
in s p ira ç ão socialista e m op osiçã o fr o n tal ao r e i . ______________________________________ ________

782 #à#
V d iu in c O I O / \ l ) n,i R r p ú l i l i í <i

qu eb ra dos ju ram e n to s constitucionais, e am eaçando o p e rjú rio coroado com


a fatalidade dos castigos celestes.
A O rdem , que, em 1822, agastara o governo de Luís XVIII, elegendo
unicam ente, para a representarem , os nom es m ais m alvistos à situação; que,
em 1830, an tecip o u a insurreição de julho, d en u n cian d o v ito rio sam en te nos
trib u n ais as infrações da C arta, d o n d e resultou a perdição da m o n arq u ia de
Carlos X ;^ que, em 1835, abriu luta, na França inteira, co n tra a C âm ara dos
P a r e s , q u a n d o esta, p a ra e v itar o em b a te com os g ra n d e s o ra d o re s da
resistência liberal, recusou os defensores de eleição dos réus, preten d en d o
im p o r-lh e o u tro s , p o r ela designados, e, nessa luta, co m o peso da sua
unan im id ad e, o b rig o u o p ariato a recuar; esse corpo dos advogados franceses
c u ja h is tó ria c o m p e te co m a dos ingleses e a d o s a m e ric a n o s , n ã o se
am edronto u, m ais tarde, com a ressurreição do napoleonism o, com o prestígio
da sua fo rtu n a , a m assa dos seus exércitos, a com pressão das suas leis, a
irresponsabilidade dos seus caprichos.
N unca a trib u n a forense, radiante então sob a palavra de Júlio Favre,
Dufaure, Crém ieux, M arie e, sobre todos, Berryer, se cobriu de m aiores vitórias
contra o governo; nu n ca a eloqüência judiciária se elevou co n tra u m soberano
todo-poderoso a u m grau de audácia maior. Lem brai-vos daquele processo de
M ontalem bert, condenado, em prim eira instância, p o r u m delito de im prensa,
a m ulta e prisão. Indultado pelo im perador, o grande o ra d o r católico rejeita a
ironia dessa clemência, e vai pleitear a causa da liberdade na corte de apelação.
É Berryer quem o patrocina, o Demóstenes do século XIX. A sua defesa, num a
oração em que o incom parável advogado se excedeu a si m esm o, é o libelo do
Im pério diretam ente alvejado nas invectivas daquela palavra quase divina. “Essa
lei de 1849, que nos quereis aplicar”, troveja ele, era feita n o in tuito de proteger
a C onstituição. A Constituição? Mas quem a violou? Q uem a derribou? Q uem
a calcou aos pés? Vós! Essa lei era a salvaguarda da Constituição. Ele a destruiu,
elel E agora a invoca.*^
" o re in a d o d e C arlo s X foi m a rc a d o p o r u m a p olítica re a cio n ária e a u to ritá ria . E m 25 d e ju lh o d e 1830
im p õ e o rei as “o rd e n a ç õ e s d e S ain t C lo u d ”, q u e s u s p e n d e m a lib e rd a d e d e im p r e n s a , m o d if ic a m a lei
eleitoral e dissolvem a C â m a r a . O p o v o d e Paris se s u b lev a nos dias 2 7 ,2 8 e 29, n u m a revo lu ç ã o q u e põe
fim à m o n a r q u ia d o s B o u rb o n s , a b r in d o c a m in h o à “m o n a rq u ia b u rg u e s a ” de Luís Filipe de O rlean s.
^ A C â m a r a do s Pares era, n o p a rla m e n to francês, aquela cujos m e m b r o s e r a m n o m e a d o s p e ss o a lm e n te pelo
rei e p o d ia m tr a n s m itir o p a ria to a seus d e sc e n den tes (até 1830). Em v ir tu d e d a C a rta d e 1814 {o u to rg a d a
p o r Luís X V Ill), a C â m a r a d o s Pares partilh a v a o p o d e r legislativo c o m a C â m a r a d o s D e p u ta d o s . Foi
d e fin itiv a m e n te s u p rim id a e m 1848.
SABATIER, M au rice . O b r a cit. p. 235. N o origin al francês está re g is tra d o “II a brisée e t il Vinvoque" ( “ Ele a
d e s tr u iu e ele a invoca.” ).

•àl 183
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

A esses dois “eles” que arrastavam Napoleão III em pessoa ao banco dos
crim inosos, n arra um a testem unha que houve n o auditório u m frêm ito p ro ­
longado. Era a visão do golpe de Estado, que assom ava sob o látego vingador, a
visão do golpe de Estado, que rasgara a Constituição, e, agora, sentado no tro ­
no, para ela apelava.“ Não são sem pre assim, senhores, os golpes de Estado?
C om os farrapos da Constituição ainda nas botas dos soldados, a festejam, dila-
cerando-a todos os dias, para ataviar depois com a sua invocação os atos que a
violam , e com bater ou perseguir em seu n o m e os adversários, qu e a sustentam .
O rsini atenta contra a existência do im perador. Estam os ain da em 1858,
com o im pério n o zênite da sua fortuna. Mas os advogados não desertam o seu
dever. O grande crim inoso de Estado, cuja sorte fatal era a guilhotina, tem por
defensor u m a das glórias da O rdem , e o seu discurso nessa ocasião foi o mais
radioso triu n fo oratório da sua vida. As testem unhas d a cena m agnífica nos
contam a im pressão com que a voz de lúlio Favre ressoou, elevando-se g radu­
alm ente, ao deixar cair estas palavras fatídicas:
Os governos perecem pelas suas próprias culpas; e Deus, que, nos arcanos
da sua sabedoria, lhes conta as horas, sabe aparelhar aos que desconhecem as
suas eternas leis, catástrofes indivizivelmente m ais terríveis do que a explosão
das m áquinas de m orte engenhadas p o r conspiradores.
A esta predição inspirada, levantando-se no triste silêncio do recinto, os
m enos supersticiosos supuseram ouvir ecoar ao longe o tro a r^ do canhão, e en­
trever o esboroam ento da dinastia imperial nas ruínas da invasão estrangeira!^^
N o terrível processo dos acusados de abril de 1835’°, nesse processo em
que a C âm ara dos Pares envolveu a sua jurisdição excepcional, já de triste n o ­
m eada pelo fuzilam ento do marechal Ney, n u m a atm osfera de pavor, tolhendo

“ N ã o t e n d o c o n se g u id o u m a revisão d a C o n stitu iç ão , q u e lhe p e rm itiss e reeleger-se e m 1852, Luís N apo leão


B o n a p a rte (eleito p re sid en te da R epú blica francesa e m 1848) p e r p e tr a o go lp e de E sta d o d e 2 de d e z e m ­
b r o de 1851. A C o n stitu iç ã o d e ja n e iro d e 1852, q u e re strin g e c o n sid e ra v e lm e n te o P o d e r Legislativo em
p ro v e ito d o Executivo, iria p e r m i t i r a re s tau raç ã o d o Im p é rio , p ro c la m a d o e m 2 d e d e z e m b r o d e 1852,
d e p o is de u m plebiscito.
Prefácio d e Pa ul M arita in em : FAVRE, lules. M élanges p o litiq u es.ju d iã a ire s et littéraires: avec u n e p réface et
des no te s p a r Pa ul M arita in . Paris: A r th u r R ousseau, 1882, p. 25. [N o ta d e RB, c o m p le m e n ta d a pela no ta
24 da e d iç ão d e 1985.]
O D iá rio deN oticias e o Jorrta} d o C om m ercio T egiitiam “tr o m ”
** M A R IT A IN , Paul. Loc. cit. (N o ta d e RB.]
O Correio da M a n h ã re g istra “ abril e m 1835”. Trata-se d e tecelões d e Lyon, acu sa d o s d e associação ilícita. A
defesa d e Júlio Favre ficou fam osa, s o b re tu d o e m v irtu d e d a violência a r m a d a q u e c e rc o u o caso. A
C â m a r a d o s Pares, c o rp o e ss en cialm en te po lítico, foi erig id a e m trib u n a l, so b o n o m e falacioso d e T rib u ­
nal d o s Pares. Já tin h a fu n c io n a d o co m o in s titu iç ã o ju d ic iá ria d u r a n te a R esta u ra ç ão , fazend o fuzilar o
m a re c h a l N ey e p r o n u n c ia n d o a co n d e n a ç ã o do s ú ltim o s m in is tro s de C a rlo s X. Ver n o ta 64.

184 m àM
( ) l(. )A[ 3 n a P r i m e i r a K c p ú h l i c a

aos réus, p o r m edo aos grandes oradores republicanos, a escolha de advogados


não profissionais, Júlio Favre, arrostando quase só os excessos desse tribunal
enfeudado ao poder, escrevia à sua mãe:
Sozinho contra o m inistério público, contra a assembléia inteira, que acolhe
cada u m a das m inhas palavras com m u rm ú rio s e, às vezes, co m indecentes
interpelações, não posso dar conta dignam ente da penosa tarefa, que m e im pus.
A sessão de ontem foi tal, que m uitos dos m eus am igos vieram , novam ente,
instar pela m in h a retirada, exortando-m e a não m e arriscar ao furo r da ruim
com panhia dessa gente.
N ão lhes atendi aos conselhos e prosseguirei até ao cabo7^
Essa altivez, que não torce às ameaças dos governos, tam po uco se d o bra a
juizes p re p o te n tes. N os d ra m a s ju d iciário s suscitad os pelas in su rre iç õ es
republicanas daquele tem po, se destaca em relevo pela sua bravura cavalheiresca
na tribuna, o perfil de Michel de Bourges, em que a dem ocracia francesa teve
dos seus mais im pertérritos e venerados patronos. Q uan do a C âm ara dos Pares
decapita a defesa, espoliando os réus da sua liberdade n a escolha dos seus
advogados, o valoroso paladino das garantias civis não trepida em desafiar a
condenação, que o esperava, e o feriu, endereçando à im pecável assembléia a
carta, cuja veemência term inava com as célebres palavras: “A infâm ia do julgador
é a glória d o acusado.”
A lei e a nossa consciência são os dois únicos poderes h u m an o s, aos quais
a nossa dignidade profissional se inclina. Em se p o n d o em an tag o n ism o com
eles, as p ró p rias au toridades superiores da nossa classe já não p o d em co ntar
com a subm issão dos nossos atos. N u m a qu ad ra reacionária de aulicism o e
fanatism o com o a da Restauração, as cóleras do tem p o desabam sobre a cabeça
de Berryer, o legitimista,^^ cham ado à presença do C onselho da O rdem , com o
delinq üente c o n tra as suas regras, p o r haver litigado e alcançado a absolvição
de u m do s g en erais de B o n ap arte, ju stific a n d o aos o lh o s do trib u n a l a
fidelidade d o soldado d o Im p ério ao im perador. Mas o jovem advogado, já
fam oso, não se p enitenciou. D era um a lição de h o n ra: não tin h a de q u e se
retratar. A sua resposta à in tim ação já reflete a m ag n ân im a pureza do futuro
oráculo da toga. “N u n ca”, escreveu ele ao bâtonnier,'’^ ao chefe da O rdem ,
" M A R IT A IN , Paul. Loc. cit., p. 17. (N o ta d e RB.)
D epois da rev o lu ç ã o d e 1830, e r a m c h a m a d o s legitim istas os p a rtid á rio s d o ra m o m ais v e lh o d o s B o u rb o n s
e d e s e u ú ltim o d e s c e n d e n te , o c o n d e d e C h a m b o r d . P o sic io n a ra m -se c o n t r a a M o n a r q u ia d e Julho
( “m o n a rq u ia b u rg u e s a") e, d e p o is, c o n tra o S e g u n d o Im p ério . Ver n o ta 33.
" O bâ ionnier e ra o a d v o g a d o eleito p o r seus con fra d e s p a ra ser o chefe e o re p re s e n ta n te d a O r d e m em
q uestões c o n c e rn e n te s ao exercício d a profissão. __________ _____________________________________

185
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

n u n ca assinarei retratação algum a, nem tam pouco farei declarações de


princípios; visto com o isso, a n ão ter eu de repetir o que já se acha n a m in h a
oração pelo réu, seria confessar que, n u m a causa desta relevância, m e exprim i
levianam ente, sem p o n d erar o m eu discurso, n em ou vir a m in h a consciência.
O u então seria p ro clam ar que, depois de ter d ito livrem ente o m eu sentir, tão
débil sou de alm a, que m e assusto de algum as am eaças, ao p o n to de rep u d iar
as m in h as próprias convicções/^
Esse m oço de 26 anos já constituía para os seus confrades o m odelo, que,
depois, nunca desmereceu da sua beleza primitiva. Toda a sua vida foi de culto ao
direito. O seu ardente legitimismo o não inibiu de pleitear, sob a Restauração, a
causa dos sobreviventes do Império, do marechal Ney, do general Debelle, do
general C am bronne, e de estender o am paro de sua toga, nas acusações políticas,
sob o governo de Luís FiHpe, com o sob o de Napoleão III, aos mais assinalados
republicanos. À sua som bra se foi acolher Júlio Ferry, em 1864, n o processo dos
Trezef^ “Venho bater à porta, que sem pre se abriu ao direito violado.”’^ C om ele,
nesse processo, H é b e rt e D ufaure, igu alm ente realistas, d ã o as m ão s aos
republicanos M arie, Grévy e Júlio Favre, defendendo as com issões eleitorais
democráticas, argüidas pelo Segundo Império’®de núcleos sediciosos. D o mesm o
m odo Crémieux, em 1830, não hesitara, apesar de republicano, em patrocinar
u m dos m inistros de Carlos X, condenado a perpétua prisão pela Câm ara dos
Pares,’’ sacrificando a sua popularidade e afrontando as iras da m ultidão furiosa
contra esses hom ens, que haviam derram ado o sangue de cidadãos inocentes.
As nossas boas tradições profissionais, em toda a parte, são essas. “Sendo
hom em de consciência e coragem, dizia Chaix d ’Est Ange, o orador se há de
envergonhar de que um cálculo de prudência pessoal o desvie de um a causa não
isenta de perigo."^ E o orador, aqui, é, sobretudo, o advogado, para quem , estando
em risco a justiça, não há bons ou m aus, amigos o u inimigos, correligionários ou

R ui B arbo sa n ã o assinala a om is sã o d e p a rte d o texto.


” L A C O M 8 E , C h a rle sd e . V iedeB erryer. á'après d e s d o c u m e n ts inédits: Ja jeu n e sse d e Berryer. Paris: Firm in -
D id o t, 1894, p. 159-160. [N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a pela n o ta 27 d a ed iç ã o d e 1985.]
Treze cidadãos re publicanos, acusados d e terem fo r m a d o associações ilegais, v isan d o desestabilizar o Im pério,
Tiv eram u m n ú m e r o q ua se igual d e a dvogados, e n tre os quais Júlio Favre, M arie, Grévy, P icard, D u fau re,
H é b e r t e Berryer. O proc e sso se c o n c lu iu em agosto d e 1864.
" LACOMBE, Charles d e . Vie de Berryer. d ’après des d o c u m e n ts inédits: B erryer sou s la R ép ub liq ue et le Second
E m pire. Paris: Firm in -D id o t, 1895, p . 457. [Nota d e RB, c o m p le m e n tad a pela n o ta 28 da ed iç ão d e 1985.)
Ver n o ta 33.
Ver n o ta 64.
S e g u n d o A LLO U , Roger & C H E N U , C harles. O b r a cit., p. 155. [N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a pe la n o ta 29
d a ed iç ão d e 1985.)

186 m àM
V o I l iu h ' “> ( ) l O A I ) n.) r r i n i ( ' i i , i K i ‘ | ) ú h l i ( , a

antagonistas. A inda estavam sob o jugo da m etrópole, no século XVIII, bem antes
da revolução, as colônias inglesas da América do N orte, quando ali ocorreu a
tragédia então designada com o “a m atança dos súbditos de Massachusetts pelas
forças inglesas”.®’ Alvo d a indignação pública, os soldados acusados, à cata de
quem lhes pleiteasse a defesa, encontraram o am paro de dois hom ens de alta
em inência na advocacia, Adams e Quincy,®^ que depois tanto se elevaram na
política am ericana. O pai de Q uincy escreveu-lhe u m a instantíssim a carta,
exorando-o,®^ em nom e da afeição e obediência filial a não advogar a causa daquela
gente. O filho, porém , na resposta, submissa, carinhosa, mas firme, resistiu ao
progenitor, sem lhe faltar com o acatamento, declarando-lhe que, fossem quais
fossem as conseqüências, as regras da sua profissão e as obrigações d o seu
juram ento lhe não perm itiam abandonar os seus deveres de advogado.®**
M ercê de haverem e n c o n trad o quem com essa inteireza os soubesse
guardar, os soldados contra quem se levantara exacerbada a população inteira,
p u d eram ter o arrim o de u m a defesa respeitável. E qu an do é que a o rd em civil,
com as suas salvaguardas e garantias, deixou de ser a proteção m ais eficaz, segura
e estável aos direitos dos militares? Esses direitos perecem com a ru ín a das
instituições civis, que substitui a legalidade, abrigo de todas as classes, pelo
arbítrio dos m andões arm ados, tão funesto ao m erecim ento e à h o n ra entre os
seus cam aradas com o entre nós os paisanos.
Q uem foi, senão um governo militar, o que, entre nós, em 1892, lançou de
u m traço de pena à proscrição treze generais de m ar e terra?*^ E quem , senão u m

E m 1768, tro p a s reais inglesas f o r a m e nv ia das a B oston, o n d e havia u m n ú c le o de m anife staç õ e s p r ó -


in d e p e n d é n c ia . E m 5 m a rç o d e 1770, u m g r u p o d e c id a d ão s a g re d iu u m d o s sentinelas. O e sq u a d rã o
c h a m a d o p a ra a p o iá -lo d is p a ro u , m a ta n d o c in c o h o m e n s. O episó dio , graças à a ção d e p ro p a g a n d a
c o n tra a m e tró p o le lid e ra d a p o r S a m u e l A dam s, pa sso u a ser ch a m a d o M assa c re d e B o sto n , a qu e Rui se
refere c o m o “ a m a ta n ç a d o s sú b d ito s d e M assa c hu se tts pelas forças inglesas”. J o h n A d a m s (q u e viria a ser
o seg u n d o p re s id e n te do s E stad os U n id o s) e Josiah Q uincy, e n fre n ta n d o o s e n tim e n to geral d a p o p u la ­
ção, q u e e ra fo rte m e n te c o n tr a os m ilitares britân ic o s acu sad os d e assassinato, fo r a m seus ad v o g a d o s de
defesa. O ju lg a m e n to t e r m in o u c o m a absolvição d o oficial q u e c o m a n d a v a o d e sta c a m e n to , assim c o m o
d a m a io r ia d o s soldado s.
N ã o c o n f u n d ir c o m J o h n Q u in c y A dam s, T rata-se d e Josiah Q u in c y , ad v o g ad o , a m ig o de Jo h n A dam s.
" O D iário de N otícias re g istra “escreveu-lhe u m a extensíssim a ca rta , e x o r ta n d o - o ”.
Cf. SNYDER, W illiam (o rg .). Great speeches b y great lawyers: a collection o f a rg u m e n ts a n d sp ee c h es before
c o u rts a n d juries. N ew York: Baker, Voorhis, 1892, p. 372. [N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a pe la n o ta 30 da
ed ição d e 1985.)
E m 5 d e abril de 1892, o s e n a d o r e m a re c h al José d e A lm eida B arreto en tre g a a F lo ria n o Peixoto o M an ifes­
to d o s 13 G enerais, d a ta d o d e 31 d e m a rç o , assin a do p o r n o v e oficiais d o E x ército e q u a tr o d a A rm a d a ,
p e d in d o n o v a eleição p a r a p re s id e n te e ac u s a n d o de in d é b ita a d e p o siç ã o do s g o v e rn a d o re s d o s estados.
Em 7 de abril, to d o s os 13 ge n erais fo r a m d e m itid o s das respectivas com issõ es e re fo r m a d o s a rb itr a r ia ­
m e n te . Rui B arb o sa e n t r o u c o m u m p e d id o de habeai corpus e m defesa d o s m ilita re s p ro s c rito s .

187
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

advogado paisano, o que p o r eles gratuitam ente se devotou, buscando salvá-los


sob a égide constitucional do haheas-corpusi N ão foi ainda u m governo m ilitar o
que, não contente com a prisão e o desterro, fulm inou com a reform a arbitrária
os generais e alm irantes abrangidos nessa m edida exterminadora? E quem , senão
u m advogado civil, foi o que, m ostrando, pela prim eira vez entre nós, a aplicação
desse recurso constitucional, pleiteou e venceu, nas justiças ordinárias, em favor
desses oficiais perseguidos, a causa da sua reintegração na atividade militar?®^’
U m an o depois, quem , senão u m advogado civil, expôs até a sua vida,
sem pre desinteressadam ente, aos ódios sanguinários de u m a situação arm ada,
batendo-se, p ara arreb atar às violências d o processo m ilitar u m dos nossos
alm irantes e alguns oficiais da nossa esquadra?®^ Q uem , senão esse m esm o
ad vogad o, sem b o rd a d o s n em galões, a b riu a c a m p a n h a p a rla m e n ta r e
judiciária contra as restrições da anistia inversa, criadas pelos rancores militares
contra os m ilitares envolvidos n o m o v im en to de 1893?** Q uem , anos depois,
ainda, quem senão esse obstinado jurista, para acabar com a procrastinação e
os abusos d a justiça m ilitar, n u m processo interm inável, pro m o v eu e obteve
d o C o n g resso , em p ro l dos m ilita re s en volvido s n o e p is ó d io de 14 de
novem bro, a anistia de 1905?®^
Esse advogado am ava o direito m ais do que a p ró p ria vida. Esta não
conheceu jam ais reticências, nem reservas, qu an d o se tratava de o servir. Toda
ela se poderia resum ir nas palavras do salmista: Credidi, et locutus sum.‘^° Neste
sen tid o nunCa se separou, nele, do h o m em político, o advogado,^' se me
perm item aplicar-lhe, observada a distância, incom ensurável entre os dois, a
observação de u m escritor recente sobre a dupla carreira do m aior dos advogados
franceses.’^

**Cf. BARBOSA, Rui. O bras completas. Rio de laneiro: M in istério d a E d u c a ç ão e C u ltu ra , 1956, v. 19 (1892),
t. 3 (T rabalhos ju ríd ico s). [N o ta 31 d a e d iç ã o de 1985.)
^ 'A lm ira n te E d u a rd o W an d e n k o lk e o u tro s . [N o ta 32 d a ed iç ão de 1985.]
Cf. BARBOSA, Rui. Obras completas. R io de Janeiro: M in isté rio d a E d u c a ç ã o e C u ltu ra , 1955, v. 24 (1897),
t. 3 (T rab alh os ju ríd ico s), p. 1. [N o ta 33 d a edição d e 1985.)
E n te n d e u Rui B arbo sa, e m p a re c e r d e 25 d e n o v e m b ro d e 1904,e ta m b é m o S u p r e m o T rib u n a l Federal, que
c o m p e te n te p a r a ju lg a r os im p lica d o s n o lev a n te de 14 d e n o v e m b ro d e 1904 e ra a Justiça m ilitar, m as
so b reveio a anistia de 1905, e x tin g u in d o -s e o p ro c e d im e n to já in s ta u ra d o . [N o ta 34 da edição d e 1985.)
T rad u z in d o : “A creditei [confiei] e disse.” Rui a p ro p ria , e tru n c a , o versículo 1 d o S a lm o 115 d a Vulgata:
“C re d id i, e tia m c u m lo c u tu s s u m : ‘Ego h u m ilia tu s s u m nim is.’” [“C ri, até m e s m o q u a n d o dizia: ‘F ui p o r
d e m a is h u m ilh a d o .’” ]. Ignora o c aráter concessivo d a o ra ç ão iniciad a p o r “etiarrt" p a ra a d a p ta r a passagem
bíblica ao te x to d e seu discurso, ao fim d o q u al repetirá a citação, ig u a lm e n te ad u lte ra d a.
O Correio da M a n h ã re g istra "n u n c a se s e p a ro u , nele, d o h o m e m d o p o lític o o a d v o g a d o ” ; o D iário de
N otícias registra; “n u n c a se se p a ro u , nele, d o h o m e m , do p o lítico o ad v o g a d o ”.
Refere-se Rui à o b ra de C harles de La c o m b e so b re Berryer, a q u i c itad a nas n o ta s 76 e 78.

188
V o lu m e .] (.) IOA.B n.i l ’ i in i ( , M i . i Rcpúhlit. a

Entre um e o u tro haverá, talvez, um traço de m ú tu a analogia: a sinceridade


o ratória, a paixão jurídica, a constância liberal. Eu quisera não ter de lhe
acrescentar o u tro , aind a m enos invejável. Mas este não m e parece m enos
verdadeiro: a experiência das decepções políticas. Contava B erryer m ais de
sessenta anos, em 1851, quand o Luís Napoleão desfechou o golpe de Estado. A
despeito da idade, contudo, o irredutível sexagenário foi, entre os representantes
do povo, expulso do palácio B o u r b o n , a alm a da resistência legal. M as afinal,
baldados todos esses,atos corajosos, que a energia d o seu civism o d ito u à
assembléia reunida na ru a de Grenelle^^ e dali conduzida aos quartéis pelas
tropas do general Forey, vieram a se encontrar na tenebrosa noite desse dia,
vizinhos de cam a, n u m cubículo da prisão de V i n c e n n e s , o príncipe dos
oradores do século XIX e Odilon Barrot, um dos seus m ais conspícuos colegas
na C âm ara e no foro. Ali, do seu grabato de presos, en tro u este a dizer para
aquele: ‘“ Então, Berryer, estava escrito que, decorridos m ais de sessenta anos
após 1789, havíam os de nos achar reduzidos, tu e eu, a ver o u tra vez a força
triun far do direito? N ão é bem hum ilhante?’ - ‘Cala-te, B arrot’, obtem perou-
Ihe Berryer.”^^
Devemos calar-nos? Ainda não, senhores. Nem Berryer m esm o se subm eteu
ao seu p róprio conselho. O gênio da tribun a falou ainda m ais 17 anos pela sua
boca. Até aos oitenta, h o n rav a ele a palavra h u m a n a com os esplendores
sobrenaturais. A inda em 1864, quand o o foro britânico o convida a visitar a
Inglaterra, ansiosa de m ostrar o seu reconhecim ento ao hom em , que, “em todos
os tem pos, havia sido o sustentáculo da independência dos vencidos”, a sociedade
inglesa, pela voz de P alm erston, G ladstone, B rougham , o recebe com o se
D e m ó sten e s o u C ícero, redivivos, pisassem o solo inglês; e B ro u g h am ,
com parando-o som ente a Erskine, com o o assombro da palavra, cuja eloqüência
excedera a todos os clássicos da tribuna, o exalta, sobre todas as suas virtudes e
talentos, p o r “essa coragem indomável, que nem os reis, nem os tribunais, nem
os juizes logram d o m a r”.'^'’
” o palácio B o u r b o n s e m p re p e rte n c e u à n o breza, até cjue, em 1790, foi c o n fisca d o e nele se in stalo u o
C o n s e lh o d o s Q u i n h e n to s , in s titu íd o d u r a n te a C o n v e n ç ã o (v e r n o ta 33). e m 1795, c o m fu n ções
legislativas, e dissolvido p o r N apo leão Bonap arte. Em 1830, o palácio foi a d a p ta d o p a ra o c o rp o legislativo.
D e 1879 a 1940, foi sede da C â m a r a d o s D e p u tad o s: h o je em dia, é sede da A ssem bléia nacional.
Fechado o palácio B o u rb o n , os d e p u ta d o s legalistas se re fu g ia ra m na nuiirie d e C re n elle, na r u a d o m e sm o
nom e.
« V e r n o ta 53.
SABATIHR, M aurice. O b r a cit., p. 220. [N ota 35 d a edição d e 1985.]
LA CO M BE, C harles de. V ie de Berryer: d ’a p rè s d cs d o c u m e n ts inédits; B erryer sou s la R e p u b liq u e e t le
S eco nd E m pire, p. 448. [N o ta d e RB, co m p le m e n ta d a pela n o ta 36 da e d iç ão d e 1985.]

189
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Esses dois nom es altíssim os, com os quais a G rã-B retanha e a França
em parelham n a h o n ra de haver dado ao m undo, talvez, os seus dois máxim os
oradores, são, justam ente, os mais insignes tipos da impavidez na arena judiciária,
do heroísm o sem m ancha nem m edo na defensão das causas m ais ameaçadas e
perigosas. Erskine patrocina a James HadHeld, réu de atentado contra os dias de
Jorge III, e a Thom as Hardy, e s m a ^ d o pela acusação de m aquinar a república na
Inglaterra, urdindo o tram a de um a rebelião, que se utilizasse, para vingar dos
desastres militares do país na guerra continental. É nesta lide que ele fala por sete
horas consecutivas, até que, m inguando-lhe o fôlego e forças, tem de se arrim ar a
um banco e falar de manso, com o em surdina, ao júri subjugado. As palavras mal
sussurravam. Mas de tal m odo reina a calada no recinto, que a todos os ouvidos
chega daquele tênue fio de voz, onde a inteligência lam peja tão viva, com o se a
eloqüência crescesse com o esmorecer do alento nos lábios do orador; e, quando
eles se cerram , ainda os acom panha a deslum brada expectativa do auditório.
Já se vê que a nossa profissão, a que tão dignam ente se personifica neste
Instituto, não nasceu para servir, para cortejar a m inistros o u presidentes, reis
ou congressos, para bater as palm as a atentados poderosos. “N esta sujeição,
quase geral de todas as condições”, dizia a seu respeito d ’Aguesseau, esta O rdem
tão antiga com o a m agistratura, tão nobre quanto a virtude, tão necessária
quan to a justiça, se distingue p o r um caráter que lhe é peculiar, e, sozinha entre
to dos os outros estados, se m an tém sem pre na ditosa e tran q ü ila posse da sua
independência.’*
H á mais de duzentos anos que o jovem advogado geral de Luís XIV, já em
cam inho da celebridade, que havia de coroar bem cedo a carreira do grande
chanceler, abria, em 1693, as audiências do parlam ento de Paris com essa apologia
da nossa independência. Ela bem m ostrava ‘'quantum a fam ulatu nostrum distat
ojficium”^ com o dizia Husson, no seu livro De advocato. E não m e posso capacitar
de que hoje, em franca encenação republicana, este nobre m ister diste m enos da
servil dom esticidade que nesses séculos de régio absoíutismo.
O u, ao contrário, nos teríam os degradado ao fam ulato, p o r não cingirm os
u m a espada nesta época de total o bum bram ento d o direito? Eu pod eria n o tar
que tam b ém nós tem os antigo foro d ’arm as, se o nosso oficio quisesse, com o os
ex-chefes de certas democracias, atravessar o oceano à cata de brasões, para ir

A G U E S S E â U , d ’. O euvres com plètes d u chancelier à ’A guesseau. N ouve]Je é d itio n , a u g m e n té e d e pièces


é c h a p p é e s a u x p re m ie rs é d ite u rs e t d ’u n d is c o u r s p re lim in a ir e p a r M . P a rd e s su s . Paris; F a n iin et
C o m p a g n ie , 1 8 1 9 , 1. 1, p. 2-3. [N ota d e RB, c o m p le m e n ta d a pela n o ta 37 d a e d iç ão d e 1985.]
” T rad u z in d o : “q u ã o d is ta n te d a serv id ão é o n osso o fíc io ”.

190 • à l
\'()lu in i' ( ) i ( ) / \ l 5 n,t I V i m i ' i r . i K r p u h l i c a

entron car a sua árvore de costado n a estirpe dos prim eiros reis de França, o u
dos antigos alm irantes genoveses.
P o rque, senhores, se não m en tem Q u in tilia n o e T ácito, Júlio C ésar
ilu stro u a eloqüência forense, antes de se afam ar nos cam pos da batalha,
dictator Caesar sum m is oratoribus aemulus,'°° e teria rivalizado com Cícero,
se não houvesse preferido co m p etir com Alexandre. De m o d o que, se esse
vem a ser, realm ente, com o alguns pretendem , “o m ais alto e n te n d im e n to que
tem h o n ra d o a nossa espécie”, com as arm as contende a to g a‘°‘ pela glória de
haver m erecido a estim a do seu gênio e an im ado o valor dos seus atos.
Se quiséssem os, senhores, tin g ir a im p o rtâ n c ia do nosso papel social
com u m m atiz de atu a lid a d e, n ã o nos faltariam d o c u m e n to s, e até m u i de
casa, p ara c o m p ro v a r q u e ta m b é m nós m Ü itam os, e tem o s d ireito à altivez
d o s q u e m ilita m . É o q u e n o ato da fu n d a ç ã o deste In s titu to , em 7 de
setem b ro de 1843,'°^ acentuava o conselheiro M o ntezum a, epigrafando com
o texto do C ódigo J u s tin ia n o ”*^ o seu m em orável discurso in augural, onde,
n u m a lin g u a g e m de s a b o r in c o n s c ie n te m e n te p ro f é tic o , o e lo q ü e n te
p an eg irista do tro n o entoava louvores aos “im p e ra n te s ilu strad o s, e q ue, à
im itação do an tigo H erm es T rism egisto, re ú n em em si o p o d e r e fo rtu n a de
u m m o n arc a, as luzes de u m sacerdote do S en hor, o saber e universalidade
de u m filósofo
Nesse expressivo tópico do nosso Corpus o im p era d o r rom ano,
que, seguram ente, p ara os entusiastas da sua corte, era o H erm es Trismegisto
daquele tem p o , depois de eq u ip a rar os lutadores do foro, cujos trabalhos

TACITUS, C o rn e liu s . A n«íi/í«m a t excessu d iv i augusti libri. The annals o f Tacitus. 1891, v. 2, livro X II, p. 3;
Q U IN T IL IE N . O euvres complètes. T r a d u c tio n de la C o llection P an c k o u ck e p a r M .C.V . Ouizille. N ouvelle
é d itio n revue a v ec le p lus g r a n d s o in p a r M . C h a rp e n tie r.P a ris: G a m i e r |s .d ,],t . 3 ,liv ro XI, p. 114. [Nota
d e RB, c o m p le m e n ta d a p e la n o ta 38 d a e d iç ã o d e 1985.] A frase “dictato r Caesar s u m m is oratoribus
a e m ulu s" p o d e ser tra d u z id a p o r : “o d ita d o r C ésa r [é] c o m p a rá v e l aos m a io re s o r a d o r e s ”. N a v erd ad e, a
referência a C ésar n a o b r a d e T ácito v em n o v o lu m e 2, livro XIII (e n ã o X II), p a rá g ra fo 3, p. 312; n a o b r a
de Q u in tilia n o v e m n o t o m o 3, liv ro X (e n ã o n o X I), p. 169 (e n ã o 114).
"" O D iário de N oticias registra “ c o m as a rm a s c o n te n d o a da to g a ” e o ]ornal do C om m ercio registra “com as
a rm a s c o n te n d o a to g a ” O Correio d a M a n h ã registra “c o m as a rm a s c o n te n d o ra s d a to g a ”. Evidentem ente,
o c o rre to é, c o m o o re g is tra m as O bras com pletas e a edição d e 1985, “c o m as a rm a s c o n te n d e a to g a ”
A 7 d e s e te m b ro foi o In s titu to in stalad o , n o Im p e ria l C olégio P e d ro II, m a s s u a c ria ç ã o é d e c o n sid e ra r-se
a 7 d e a g o sto de 1843. [N o ta 39 d a e d iç ão d e 1985.]'” O b ra ju ríd ica re d ig id a p o r o r d e m d o im p e r a d o r
J u stin ian o (? 4 82-565), o rg a n iz a n d o as leis p ro m u lg a d a s de sd e o i m p e r a d o r A d ria n o (76-138).
“ D iscurso R ec ita d o p elo Sr. C o n se lh e iro M o n te z u m a n a Sessão d e Instalação d o I n s titu to d o s A d vogados
e m 7 d e S e te m b ro de 1843”. Revista do In stitu to da O rdem dos A dvogados Brasileiros. R io d e Janeiro, abr./
ju n . 1862, v. ! , n ° 2 . p . 6 8 .
Literalm ente “c o rp o d a lei”, é o c o n ju n to das leis d e u m a na çã o , e sta d o o u cidade.

797
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

resolvem pelos direitos'^^ a incerteza do s litígios co m o n a categoria dos


benfeitores da hum anidade, aos que pela pátria vertem o sangue nos combates,
'‘‘advocati, qui dirim unt ambiguafata causarum (...) non m inus provident humano
generi, quam si proeliis atque vulneribus patriam parentesque salvarent"
proclam a não m ilitarem som ente os que lidam com o gládio, o escudo e a
couraça, m as tam b ém os advogados. Estes m ilitam , realm ente, nas pelejas
gloriosas d a tribuna, defendendo os direitos, alim entando a esperança, e salvando
a vida aos seus semelhantes.
Nec enim solos nostro império militare credimus illos, qui gladiis clupeis et
thoracibus nituntur, sedetiam advocatos: m ilitant nam que causarum patroni, qui
gloriosae voeis confisi m unim ini laborantium spem vitam etposteros defendunt.
N ão se há mister, porém , de ir buscar a carta d a nossa fídalguia à Roma
dos im peradores, para a im por ao Brasil das ditaduras. A nobreza da toga é a
nobreza sem pre viva da justiça, de onde m ana igualm ente a dignidade para a
milícia da palavra e a milícia da espada. A espada é u m instrum ento: não vale
senão pela valia das causas a que serve. C om as boas, se benquista e senhoriza.
C om as más, se desnobrece e aniquila. Às ordens da lei, é u m instru m en to de
civilização. À disposição do arbítrio, é o flagelo dos flagelos hum anos.
Q uantos não im aginam ser a coragem o que a diviniza? Mas adverti. Q uem
a d m ira a coragem no s b árb aro s, a coragem n a selvageria, a co rag em da
crueldade? O heroísm o não está na em briaguez im pulsiva da cegueira diante
dos perigos: está na indiferença diante da m orte pela verdade, pela liberdade,
pela honra, pelo bem . O desinteresse, a abnegação, o sacrifício levado até o
extrem o da renúncia à vida, pelas causas puras e benfazejas: eis a coragem
racional. C o m o a pátria encarna, em geral, para o coração do h om em , a síntese
dessas causas, expressão da h o n ra na família, da liberdade nas leis, d a verdade
na instrução, d o bem no conjunto desses tesouros, o soldado cativa a nossa
adm iração com o o sím bolo dessas virtudes convertidas em profissão habitual:
a força hum anizada pela sujeição ao dever, pelo desprezo dos interesses, pelo

o D i á r i o de N o t íc ia s e o j o r n a l d o C o m m e r á o reg istram “p elo d ire ito ”.


C o r p u s iu r is c iv ilis . C o d e x lu stin ia n u s R ecognovit Paulus Krueger. 6. ed. [s.l.j Berolini, 1895, v. 2, livro II,
títu lo 7, § i4 , p. 99. IN o ta d e RB, c o m p le m e n ta d a pela n o ta 41 da e d iç ã o d e 1985.] T rad u z in d o : "os
ad v o g ad o s, q u e d i r i m e m os d estinos a m b íg u o s das causas (...) n ã o o lh a m m e n o s pelos h o m e n s d o q u e o
ta ria m se salvassem em lu tas sang ren tas a p á tria e os p a re n te s.”
Ib id e m . [N ota d e RB, co m p le m e n tad a pela n o ta 42 da edição d e 1985.] T rad u zind o : “C o m efeito, acreditam os
q u e não s o m e n te m ilitam sob nossa o rd e m o s q u c s e a p ó i a m e m e s p a d a s , escu d o s e couraças, m a s ta m b é m
os adv o g ad o s; m ilitam c o m o p a tro n o s das causas, estes q u e c o n fia d o s e m sua voz glo rio sa d e fe n d em a
esp e ra n ç a, a v id a e os d e sc e n d en tes dos q u e tra b a lh a m .”

192
V o lu m e 5 ( J l O A B n ,i P r i n i c i i d Ropúl>li(..a

culto da felicidade com um . Em ancipai-a desses freios, tirai-lhe essa generosidade,


retrocedei-a ao d o m ínio dos instintos bravios: já não é a força an im ada pela
consciência; é apenas a anim alidade arm ada.
D esassom bro em fulm inar o u em padecer a cessação d a vida, tu d o pode
ser coragem. Mas, de coragem a coragem, entre a de m o rre r e a de m atar, qual
será, senhores, a coragem hum ana? A coragem de m atar é a do b ru to , a do
louco, a do crim inoso. A coragem de m orrer é a do soldado, m as é tam b ém a do
m issionário, a do juiz, a do advogado.
N ão sei em que balança as pesaríamos, a ver qual delas reúne m ais quilates:
se a coragem do h o m em de guerra, a coragem do hom em da verdade, o u a
coragem do hom em da lei. Uns elegerão a do am or da pátria, outros a da ciência
ou da santidade, outros, ainda, a da justiça. Todas têm em com um , entre si,
um a divina afinidade: a im olaçâo voluntária do hom em pela sua raça, pela sua
fé, o u pelo seu ideal. Eis o que desbrutaliza a guerra, o que legitim a o soldado, o
que nobilita a espada, mas, ao m esm o tem po, o que eleva a coragem civil à
altu ra d a coragem militar, m enos rara do que a outra.
A inteligência, o direito, a religião, são os três p o d eres legítim os do
m u n d o . Eles rep resen tam , cada um de p er si, o eu h u m a n o , a sociedade
h u m an a , o destino h u m an o , e, associados, as três expressões da h um anidade:
a sua evolução m ental, a sua existência na superfície da terra, o m isterioso
fim do seu desenvolvim ento. D iante deles a força, nas eras não bárbaras, se
red u z a u m a en tid ad e subalterna, cuja intervenção não valerá n u n ca senão
pelos serviços de que a sua obediência for capaz. Para a co n stitu ir n u m a
organização geral, a civilização adotou, com o sím bolo, a espada, coeva das
prim eiras idades históricas, o u tro ra senhora dos povos escravizados, m as hoje,
n as m ão s dos p o v o s livres, c r ia tu ra das suas leis, d e p e n d ê n c ia d a sua
adm inistração, in stru m e n to dos seus governos.
Fora daí a espada não é a ordem , mas a opressão, não é a tranqüilidade, mas
o terror, não é a disciplina, m as a anarquia, não é a moralidade, m as a corrupção,
não é a econom ia, mas a bancarrota, não é a ciência, mas a incapacidade, não é a
defesa nacional, mas a ruína militar, a invasão e o desm em bram ento. Isto é, e não
p o d eria deixar de ser; p o rq u a n to com o d o m ín io da espada se estabelece
necessariamente o governo da irresponsabilidade, o jubileu dos estados de sítio, a
extinção da ordem jurídica, a subaltemização d a justiça à força.
A ju s t iç a c o r o a a o rd e m ju r í d i c a , a o r d e m j u r í d i c a a s s e g u ra a
responsabilidade, a responsabilidade constitui a base das instituições livres; e

•Ai 193
_____________ História da.
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

sem in s titu iç õ e s livres n ã o h á p az , n ã o h á e d u c a ç ã o p o p u la r, n ã o há


ho n estid ad e adm inistrativa, não há organização defensiva d a p á tria co n tra o
estrangeiro. De so rte que u m regím en, on d e a violência do p o d e r ergueu a
cerviz até à altu ra do trib u n al suprem o, para lhe açoitar o rosto com a negação
d a sua autoridade, é u m a construção que, sem cum eeira, n em teto, vacila até
aos alicerces, invadida pelos tem porais e pelas enxu rradas. Mas, ainda assim,
a m o ral é tão sup erior à força e o direito ao crim e, que essa justiça, desacatada,
h u m ilhada, ferida, oscilante no seu pedestal, c o n tin u a a p ro jetar a sua som bra
sobre a situação, e d o m in á-la, co m o a cruz de u m a d iv in d ad e sepultada
a n u n c ian d o aos deicidas o castigo e a ressurreição.
Tal o privilégio destas causas im ortais. Depois de arrastadas ao Calvário e
justiçadas, quando a últim a p edra lhes parece ter selado o sepulcro, e tu d o se
dizia acabado, aí é que vai com eçar a ascensão, e am anhecer o triunfo. Pouco
im p orta a m iséria dos hom ens, a im oralidade da sorte, o silêncio da m ultidão,
as friezas da indiferença, os desdéns da soberba, os conchavos do egoísmo, as
glorificações da baixeza, as vitórias d a crueldade. D eus arrebata as criaturas na
corrente caudalosa dos fatos, e subm erge as resistências do nosso lodo n o abismo
da sua providência benfazeja e criadora.
Mas, entre este aban dono geral de todos os deveres, a classe dos amigos
professos da lei é que n ão rom perá o seu pacto de h o n ra para com ela. H á 68
anos, na inauguração deste Instituto, o doq ü en te Conselheiro da C o r o a , q u e
em frase a ltílo q u a lh e lavrava o a to de n a sc im e n to , fo r m u lo u o vosso
com prom isso original nas palavras do prim eiro D upin, u m dos nom es de mais
gloriosa fé de ofício nas lutas da toga contra a reação, dizendo solenemente:
“Todo o direito ofendido encontrará entre nós os seus defensores”.
N ão havíeis de vos subtrair agora às promessas do vosso batism o, ao tim bre
dos patriarcas desta Casa, quando o abandonado que andava em busca dos
seus defensores, não era um direito violado, m as o p ró p rio direito, golpeado
m o rta lm e n te n o m ú scu lo central da sua vida, n o ó rg ão s u p re m o da sua
autoridade, na m esm a existência legal da justiça.
Q u a n d o a civilização oficial desce, desce n o h o rro r épico da atrocidade,
graus abaixo d o círculo de U golino,'" e a história nacional d a opressão do
C o n se lh e iro M o n te z u m a .
" " " D is c u r s o recitad o p e lo sr. con selh eiro M o n te z u m a n a sessão d e instalação d o In s titu to d o s A d v ogados em
7 d e S e te m b ro d e 1843." R e v is ta d o I n s t it u t o d a O r d e m d o s A d v o g a d o s B ra s ile iro s , p. 115. [N ota d e RB,
c o m p le m e n ta d a p e la n o ta 43 d a e d iç ão d e 1985.)
O círcu lo d e U go lin o é o n o n o e ú ltim o círculo d o In fern o , reserv ad o aos tra id o res . Cf. D a n te, In fe r n o ,
XXXIII.

194 #à#
V o k in u ' i O l( )A I) n.t l ’ i i t n ( ‘ i i\i K c p u b l i c a

h o m em pelo h o m em desanda, n a m aneira de tratar cidadãos, até abaixo dos


suplícios da escravaria da África nas cenas do navio negreiro, am arrado pela
m usa de Castro Alves à ignom ínia eterna, ainda se p oderá destacar, da p róp ria
inscrição do inferno ,” ^ u m a réstia de esperança, com esse im aculado nom e,
sob o qual a divindade se entrelaça ao direito, n u m verso digno do céu, onde se
definiria bem à p o rta desta Casa, a origem e o objeto d a nossa missão:
""Giustizia tnosse il mio alto fattoreV'^
Concluí, m eus colegas. Se vos não soube falar, perdoai-m e. A bristes-m e os
vossos braços: eu vos abri o m eu coração. Credidi, et locutus N ão vos
podia d ar a sentir a m elh or o m eu reconhecimento.

Refere-se Rui aos versos d o Inferno d e D a n te :“L asciateognisperanza voi ch'entrate." (“ Deixai to d a e s p e ra n ­
ça, ó vós q u e en trais.” ] {Inferno, III, 9).
Alighieri, D a n te. D iv in a cotnm edia. R ivedüta n el testo e c o m m e n ta ta d a G.A. Scartazzini. Leipzig: RA.
B n ro c k h au s, 1874, v. 1 - L’In f e r n o .II I, 4. (N o ta d e RB. c o m p le m e n ta d a p e la n o ta 44 d a e d iç ão de 1985.]
T rad u z in d o : “ M o veu ju stiça o m e u alto feitor"
' ‘■•Ver n o ta 90.

•41 195
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

R ui n a tribuna d o lOAB le n d o seu d iscu rso d e p o sse c o m o p re sid en te.

196 •Al
V o lu m e i O lO A B iici l-’ i'in u 'tra R epública

ANEXO 111
Discurso da posse de Rui Barbosa, com o presidente,
no Instituto dos Advogados,
em 19 de novem bro de 1914

•A B 197
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

O SUPREM O TRIBUNAL FEDERAL


NA C O N STITU IÇÃ O BRASILEIRA

M eus senhores - M eus ilustres colegas - A generosidade com que m e


subistes a esta cadeira, e]evando-me tanto acim a do m eu m erecim ento, excede
a todas as m inhas aspirações. A vaidade e a am bição põem sem pre a m eta dos
nossos desejos m uito além da nossa capacidade. M as eu, que b em pouco me
ten h o iludido q uanto ao valor real das m inhas forças e à im portância do m eu
destino, sem pre limitei os m eus projetos e sonhos, na carreira profissional que
elegi desde a prim eira m ocidade, a granjear, pelo trabalho honesto, o crédito de
exercer o m eu ofício com seriedade, com petência e zelo.
Im aginar que u m dia, p o r eleição dos advogados brasileiros, m e visse
assentado n o prim eiro lugar entre os meus colegas, tem eridade era que m e não
passou jam ais pela m ente; e, quando com esta dem asia da vossa benevolência
m e surpreendestes, se não declinei da h o n ra que m e fazíeis, é que, de puro
agradecido e perplexo, não achei, no m eu constrangim ento e suspensão de
ânim o, energia bastante para deliberar o que a prudên cia m e aconselhava.
É 0 íntim o dos m eus sentim entos o que vos estou m ostrando. N ão vejais
expressão de falsa m odéstia na voz desestudada e fiel da m in h a sinceridade.
Pela distinção que m e liberalizastes, vos tenho o mais p ro â m d o reconhecimento.
M as em boa verdade vos digo, sem quebra do respeito devido ao tino das vossas
resoluções, que me não parece haverdes acertado na escolha, e bem pouco espero
corresponder-vos à confiança.
As i n s titu iç õ e s d o g ê n e ro d e s ta , c r ia d a s p a r a s itu a ç õ e s de a lta
responsabilidade'*^ no desenvolvim ento da cultura nacional, necessitam, para
as dirigir, não de simples valores nom inais, com o o m eu, m as de autoridades
poderosas, ainda em toda a expansão das suas forças, e talhadas, pelo hábito de
prosperarem e vencerem, para rasgar, diante dos que a seguem, novos cam inhos
de vitórias e prosperidades. N ão quis a sorte que eu nascesse debaixo de um
desses signos bem -aventurados. A m in h a vida am adurece, e se vai despegando,
para cair, na melancolia de ver definhadas e vencidas as idéias pelas quais tenho
co n su m id o , n u m a luta quase incessante, de p e rto de m eio século, to da a
substância de m in h a alma.

Assim e m O I m p a r c ia l, o q u e n o s p a re ce a p alavra ad eq u ad a. N a R e v is ta d o S u p r e m o T r i b u / i a l F e d e ra i
co n sta “alta p e rs o n a lid a d e ”.

798
Volumo ( ) lOAB n.t l'rniic[ici Ixcpúblita

B atendo-m e, desde os bancos acadêmicos, na im prensa m ilitante e na


trib u n a popular, pela redenção dos escravos, consagrei, desde então, a existência
às grandes reivindicações políticas e sociais do direito, da educação pública e da
liberdade, para, afinal, depois de term os sacrificado a M onarquia e estabelecido
a República, supondo m elhorar de instituições, e prom over o governo da nação
pela nação, ver operar-se o retrocesso m ais violento das conquistas liberais, já
consolidadas sob o antigo regím en, a u m sistema de anarquias e ditaduras,
alternativas ou sim ultâneas, com que contrastam epigram aticam ente as formas
de um a dem ocracia esfarrapada.''*
U m a espécie de m aldição acom panha, ultim am ente, o trabalho ingrato
dos que se votaram à lida insana de sujeitar à legalidade os governos, im plantar
a responsabilidade n o serviço da nação, e interessar o povo nos negócios do
país. A opinião pública, m ergulhada n u m a indiferença crescente, entregou-se
de to d o ao m ais m u çu lm an o dos f a t a l i s m o s . C o m o reinado sistemático e
ostentoso da incom petência cessaram todos os estím ulos ao trabalho, ao mérito
e à honra. A política invadiu as regiões divinas da justiça, para a subm eter aos
d itam es das facções. R ota a cadeia da sujeição à lei, ca m p eia dissolu ta a
irre s p o n s a b ilid a d e . F irm a d a a im p u n id a d e u n iv e rsa l d o s p re p o te n te s ,
corrom peu-se a fidelidade na adm inistração do erário. Abertas as portas do
erário à invasão de todas as cobiças"^, baixam os da malversação à penúria, da
p en ú ria ao descrédito, do descrédito à bancarrota. In augu rada a bancarrota,
com o seu cortejo de hum ilhações, agonias e fatalidades, vé a nação falidas até
as garantias da sua existência, não enxergando com que recursos iria lutar
am anhã, ao m enos pela sua integridade territorial, contra o desm em bram ento,
o protetorado, a conquista estrangeira. E, enquanto este inevitável sorites enlaça
nas suas trem endas espirais a nossa pátria, todos os sinais da sua vitalidade se
reduzem ao contínuo crescer dos seus males e sofrim entos, sob a constante
ação dos cancros políticos que a devoram , das parcialidades facciosas que a
corroem , dos abusos, p o r elas entretidos, que a lazaram de u m a gafeira ignóbil.

Rui B arbo sa p r o n u n c ia este d iscu rso e m 19 d e n o v e m b ro d e 1914, a p e n a s q u a tr o diaü a p ó s a p o s se de


V enceslau B rás n a presid ên cia d a R epública. Refere-se. p o rta n to , a o g o v e rn o d e H e rm e s d a Fonseca,
d u ra n te o qua) se m u ltip lic a r a m atos a rbitrários, c o m o o estado d e sítio, a execução s u m á r ia de revoltosos,
o c e rc e a m e n to d a lib e rd a d e d e im p re n s a e as ten ta tiv a s d e s o lap a r o P o d e r Judiciário.
Ao m ais e x tre m o d o s fatalismos, já q u e a religião islâmica, o u m u ç u lm a n a , é a b s o lu ta m e n te fatalista,
p o s tu la n d o q u e o d e stin o h u m a n o e p ré -d e te rm in a d o . n ã o a d m itin d o o livre-arbítrio.
" ‘ A ssim, em O I m p a r c ia l, ú q u e é, sem diiv íd a, o c orreto, A R e v is ta d o S u p r e m o T r i b u n a l F e d e r a l registra “na
a d m i n i s t r a ç ã o d o e r á r i o à in v a s ã o d e to d a s as c o b iças", o q u e é, e v i d e n t e m e n t e , r e s u l t a d o de
e m p a ste la m e n to .

•Al 199
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Ora, senhores, com o todas as calamidades se reduzem à inobservância da lei,


e têm na inobservância da lei a sua causa imediata, não estranhareis que para elas
vos chame a atenção num a solenidade como esta. Bem fora estou de vos querer
arrastar ao cam po onde se embatem os partidos e debatem as suas pretensões. Ao
poder não aspirais, e o melhor da vossa condição está em nada terdes com o poder.
Mas tudo tendes com a lei. Da lei depende, essencialmente, o vosso existir. Vosso
papel está em serdes um dos guardas professos da lei, guarda espontâneo,
independente e desinteressado, mas essencial, perm anente e irredutível.
Fora da lei, a nossa Ordem não pode existir senão em brionariam ente, como
um começo de reivindicação da legalidade perdida. Legalidade e liberdade são o
oxigênio e o hidrogênio da nossa atmosfera profissional. Nos governos despóticos,
sob o Terror jacobino,"^ com as ditaduras dos Bonapartes,'^” debaixo das tiranias
napolitanas,'^' moscovitas o u asiáticas'^^, a nossa profissão o u não se conhece,
ou vegeta com o cardo entre ruínas. Na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos, nas
dem ocracias liberais, na Austrália, na África inglesa, nos países, europeus ou
am ericanos, que p o r esse tipo se m odelaram , a toga, pela m agistratura e pelo
foro, é o elemento predom inante. Dos tribunais e das corporações de advogados
irradia ela a cultura jurídica, o senso jurídico, a orientação jurídica, princípio,
exigência e garantia capital da ordem nos países livres.
Se, pois, na legalidade e liberdade vivemos, definhando e m orrendo, quando
a liberdade expira com a legalidade, na legalidade e na liberdade tem os o m aior
dos nossos interesses; e, desvelando-nos p o r elas, interessando-nos em tudo
q u an to as interessa, p o r nós m esm os nos interessam os, lidam os pela nossa
conservação m esm a, e nos m antem os n o círculo da nossa legítima defesa.
Aqui está, senhores, o porq uê vos eu digo e redirei que, com a abolição da
legalidade e da liberdade n o Brasil, abolição agora po u co m ais o u m enos

' Pe r í odo d a R evolução Francesa. Ver n o ta 56 a o te x to anterior.


Referc-se o a u to r a N a p o le ã o B o n apa rte, q ue, e m 1804. se fez c o ro a r im p e r a d o r d o s franceses, c o m o n o m e
de N a p o le ã o I, c o n so lid a n d o u m g o v e rn o centralista in ic ia d o n o p e r ío d o d o C o n s u la d o (ver n o ta 33 ao
te xto a n te rio r); e a N ap o leã o III (Luís N ap o leã o B o n ap a rte), que, através d e golpe d e Estado e m 1851,
ta m b é m se t o r n o u im p e ra d o r. Ver índ ice o n o m á stico -b io g rá fic o n o fim d e ste v o lu m e.
T rata-se d a tir a n ia d o s B o u rb o n s n o re in o d e N áp oles e, p o s te r io rm e n te , n o re in o das D u a s Sicílias (ver
n o ta 62 ao te x to a n te rio r).
M ais vagas, estas alusões são, provavelm ente, a o c z a rism o ru s s o e a o s re g im e s im p e ria is d o E x tre m o
O r ie n te .'” O texto d a C o n stitu iç ão foi p re p a ra d o p o r u m a co m issã o d e ju rista s (S ald a n h a M a r in h o ,
A m é ric o Brasiliense d e A lm e id a M elo, A n tô n io Luís dos S antos W ern eck , Francisco R angel Pestana e
José A n tô n io P e d re ira d e M agalhães C astro ). Rui B arbosa, n a q u a lid a d e de ju rista e d e vice-chefe do
G o v e rn o P ro v isó rio , foi q u e m d e u fo r m a d efin itiv a a o te x to c o n s titu c io n a l, s e n d o a C o n stitu iç ã o
fin a lm e n te a p ro v a d a e m 24 d e fevereiro d e 1891.

200 •Al
V o l u m e .3 O I O /M 5 n , i P r i m c i r . i K f p ú i i l i i d

consum ada, se enceta, para nós, para este Instituto, um a existência bastarda,
precária, irreal, a existência de um organism o n u m m eio a ele hostil e com ele
incompatível.
Os advogados, na Inglaterra, nos Estados Unidos, n a França, na Bélgica,
na Itália, em toda a parte, nunca deixaram de sentir esse laço de solidariedade
vital entre a sua classe e o governo da lei, a preservação das garantias liberais, a
observância das constituições juradas. Nem, ao elaborar a brasileira, os juristas,
os advogados que nela trabalhamos,'^^ e que, pela nossa preponderância na sua
com posição, não se exagerará, dizendo que a fizemos, nos desviam os da linha,
que a nossa educação jurídica nos traçava, que ela nos im p u n h a, m o stran do-
nos a associação inseparável do gênio do novo regim en, cuja carta redigíamos,
com u m a organização da justiça, capaz de se co ntrapor aos excessos do Governo
e aos das maiorias legislativas, uns e outros dez vezes mais arriscados e am iudados
nas repúblicas do que nas m onarquias, nas federações do que nas organizações
unitárias, no presidencialism o do que no parlam entarism o.
Se os críticos da nossa obra não se deixassem transviar, lançando ao sistema
as culpas da sua execução, e responsabilizando o m ecanism o pelos erros dos
m ecânicos incom petentes ou interesseiros, que o têm estragado, n ão se perderia
tantas vezes de vista a im ensidade incalculável do benefício, oom que dotam os
o país, definindo, organizando e protegendo com o definim os, organizam os e
protegem os a justiça federal.
Ainda não se notou, entre nós, onde tan tos censores têm surgido à obra
constitucional de 1890e 1891, que o Governo Provisório,'^'' n u m p o n to cardeal
a esse respeito, se m ostrou m uito m ais cuidadoso e previdente do que os autores
da C onstituição dos Estados Unidos. Estes, n o propósito de assegurarem toda a
in d ep en d ên cia à m ag istratu ra su p rem a da União, se lim itaram a declarar
vitalícios os m em bros da Suprem a Corte, com o os outros juizes federais, e a
proibir que se lhes reduzam os vencimentos. Em contraste, porém , com estas
duas m edidas tutelares, duas portas deixou abertas a C onstituição am ericana
ao arbítrio do Congresso Nacional contra a independência da judicatura federal,

o texto da C o n stituiç ão foi p re p a ra d o p o r u m a comissão d e juristas (Saldanha M arin h o , A m érico Brasiliense


de A lm eida M elo , A n tô n io l.uís d o s Santos W erncck, Francisco R angel P estan a e José A n tô n io Ped reira
de M ag alh ães C as tro ). Rui B arb o sa, na q u a lid a d e d e ju rista e d e vicc-chefe d o G o v e rn o Provisório, foi
q u e m d e u fo rm a d efinitiva a o tex to co n stitu cio n al, s en do a C o n stitu iç ão fin a lm e n te a p ro v a d a em 24 de
fevereiro d e 1891.
ü G o v e rn o P ro v isó rio foi o q u e se estabeleceu im e d ia ta m e n te e m seguida à p r o c la m a ç ã o da R epública,
sob a lid eran ça d o M arech al D e o d o ro , e n q u a n t o se p re p a ra v a m a C o n stitu iç ã o (p r o m u lg a d a e m 24
fevereiro d e 1891) e as eleições presid en ciais (o c o rrid as n o dia s eg u in te).

201
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

entregando à discrição’” do Poder Legislativo o fixar o núm ero aos m em bros


ao Tribunal Suprem o bem com o os casos de apelação das justiças inferiores
para esse Tribunal.
Foi um a im prudência, de que algumas adm inistrações am ericanas servidas
pelas m aiorias congressuais, se têm utilizado p o r vezes, já para d im inuir ou
a u m e n ta r a c o m p o s iç ã o d a C o rte S u p re m a , q u a n d o c e rta s ca u sa s de
extraordinário interesse para o governo central lho aconselham , já p ara obstar
a q u e p leito s, d ec id id o s na p rim e ira in s tâ n c ia em s e n tid o favorável às
conveniências da União, possam vir a receber d i v e r s a 'n a instância superior. É
0 que sucedeu, em 1867, no ca so “£xparfe'^^ Mc. Cardie”, onde o Congresso,
receando um a decisão contrária às intituladas Leis de Reconstrução,'^'* interveio,
p o r assim dizer, no feito pendente, retirando à Suprem a C orte o direito de julgar,
p o r apelação, em espécies daquela natureza. O Tribunal já se pronunciara,
reconhecendo a sua com petência. Mas, como, antes de proferido o julgam ento
de se p ro m ulgasse o ato legislativo, q u e lh a cerceava, recuou,
su b m e te n d o -se à m ed id a in co n testav elm en te c o n stitu c io n a l, com qu e a
legislatura o desinvestira de tal autoridade.
Exercidas com parcim ônia nos Estados Unidos, onde a opinião pública
atua constantem ente com a sua fiscalização m oralizadora nos atos do poder,
essas duas faculdades, se a Constituição brasileira as adotasse, teriam aniquilado,
aqui, a justiça federal, inutilizando-a no desem penho da m ais necessária parte
da sua missão, no encargo de servir de escudo contra as dem asias do G overno e
d o Congresso.
Toda a vez que o Suprem o Tribunal adotasse um a decisão contrária às
exigências, aos atentados, o u aos interesses de u m a situação política, seus
potentados, suas m aiorias, um a lei, votada entre a sentença e os em bargos, e
executada incontinent! com as nom eações necessárias, au m e n ta n d o o núm ero
aos m em bros daquela m agistratura, operaria a reconsideração do julgado.

A ssim e m O Imparcial, o q u e nos parece o correto. A R e v is ta do Suprem o T r ib u n a l Federal registra “descrição”


As p u b licaçõ es d a G azeta Judiciária, das Obras completas e d a e d ito ra Fo rense {A s duas conferências de
Haia ) re g is tra m “ so lu ção diversa”.
T rad u z in d o ; “ De u m a parte".
As Leis d e R ec o n stru ç ã o fo ra m a p ro v a d as p e lo C o n g re sso n o r te - a m e r ic a n o ao té r m i n o d a G u e rra de
Secessão. I N o ta 1 d a e d iç ão d e 1985.] (V er n o ta 11 a o te x to anterior.)
T rad u z in d o : “q u a n to ao m é r ito ”.
Cf. B A LD W IN , S im eo n E. The Am erican JiidiciaryM ev/York: C en tu ry . 1905, p. 116-117; JU D SO N , Frederick
N . The Judiciary a n d the people. N ew H aven: Yale U n iv ersity Press, 1913, p. 185-186. [N o ta d e RB,
c o m p le m e n ta d a p e la n o ta 2 d a e d iç ã o d e 1985.)

202
V o lu m e I ( ) K ) A H n a l ’ i i n i c i r . i R c ' | ) ú l ) l i c .1

Toda a vez, p o r o u tro lado, toda a vez que a U nião receasse perder, na
segunda instância, u m a causa de relevância excepcional para a sua política ou
as suas finanças, já vitoriosa na prim eira, o Congresso Nacional, alterando o
regim en das apelações, e excluindo esse recurso n o gênero de casos, a que
pertencesse o da hipótese, inibiria o Suprem o Tribunal de en te n d er’^' no pleito,
e, destarte, firm aria com o definitivo o vencim ento já obtido pelo Governo, mas
ainda sujeito à revisão.
Destas d uas m an e iras de m a n ip u la r e torcer a ju stiça, h ab ilita n d o a
m ais p o d ero sa das d u as p artes a evitar ou ajeitar o trib u n a l su p re m o , nos
livrou 0 art. 56 e o art. 59 d a nossa C onstituição: o p rim e iro e stip u lan d o a
esse trib u n a l u m n ú m e ro de juizes, que a lei o rd in á ria n ã o p o d e m o d ificar;
o seg u n d o p rescrev en d o q u e para ele haverá recurso nas qu estõ es resolvidas
pelos juizes o u trib u n a is federais. C o m estas du as cautelas, p re m u n in d o a
ju stiça federal, n o Brasil, c o n tra dois gravíssim os perig o s, a q u e se acha
exposta na grande república da Am érica do N orte, reu n im o s, em defesa dessa
ju s tiç a , n a s u a in d e p e n d ê n c ia e n a sua p u re z a , c o n t r a as s e d u ç õ e s e
c o m p r e s s õ e s a d m i n i s t r a t i v a s o u le g is la tiv a s , to d o s os r e s g u a r d o s
h u m a n a m e n te possíveis.
Se, ainda assim, a n ão deixam os de todo isenta e inacessível aos manejos
dos partidos, às captações do poder, é que os m elhores sistemas de organização,
os preservativos m ais heróicos, os específicos m ais radicais n ão bastam , quando
0 caráter dos hom ens, mal escolhidos para as posições de alta confiança nacional,
voluntariam ente se oferece à contam inação, de que a lei em p e n h o u as mais
eficazes garantias em os abrigar. Mas, pelo m enos, tu d o o que estava ao alcance
dos construtores d o regím en, tu d o q uanto cabia nas possibilidades do seu
m ecanism o, tudo o que um a previsão avisada podia im aginar e com binar, tudo
se envidou, para que se não entregassem a um a entidade indefesa e dependente
os poderes de soberana m ajestade e grandeza confiados, nas federações do tipo
norte-am ericano, aos tribunais federais.
A evolução’^^ jurídica encerrada nesta m udança era, entretanto, difícil de
assim ilar ao nosso tem p eram en to e aos nossos costumes. O p o d er político é, de
sua natureza, absorvente e invasivo, m ais invasivo e ab so rv ed o r ain d a nas
C âm aras Legislativas do que n o Governo. As nossas tradições haviam -nos
e d u c a d o n o d o g m a d a s u p re m a c ia p a rla m e n ta r. E sta, a n o r m a inglesa

Rui e m p re g a 0 v erb o “e n te n d e r” co m o significado d e “to m a r c o n h e c im e n to c o m o a u to r id a d e ”.


O Im parcial registra “rev o lu ç ã o ”.

203
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

estabelecida co m a revolução de 1 6 8 8 , a n o rm a francesa d ecorrente da


revolução de 1 7 8 9 '^\ a n o rm a européia generalizada com a propagação do
governo co nstitucional, desde 1830'^^, nas m o n arq u ias lim itadas, a n o rm a
brasileira, introduzida com a nossa C onstituição de 1823,'^^ e praticada em 66
anos de regím en imperial.
Substituí-la pelo regímen presidencial, sem buscar n a criação de u m a justiça
com o a am ericana, posta de guarda à C onstituição co n tra as usurpações do
presidente e as invasões das m aiorias legislativas, co n tra a o m nipotência de
governos o u congresso igualmente irresponsáveis, era entregar o pais ao dom ínio
das facções e dos caudilhos. Eis p o r que a C onstituição brasileira de 1891,
arm a n d o a justiça federal da m esm a autoridade, em que a investe a Constituição
dos Estados Unidos, a do to u de garantias ainda m ais num erosas e cabais, para
arrostar as facções acasteladas no Executivo e n o Congresso Nacional.
Q uaisquer que fossem, porém , os contrafortes, de que a nova Constituição
o cercasse, o reduto do nosso direito constitucional, para arrostar, co m eficácia
e sem risco da sua própria estabilidade, o choque violento dos seus agressores
naturais, necessitava de contar, como conta nos Estados Unidos, com a vigilância
desvelada e o enérgico apoio d a o pinião nacional. Em lhe falecendo este
sustentáculo, tão escasso e débil, tão inconstante e falível, tão tím ido e negligente,
tão superficial e contestável com o tem sido n o Brasil, todas as vantagens
correriam contra o p oder inerm e e solitário da justiça, todas aproveitariam ao
p oder arm ado, opulento e m ultíplice do Governo.
Ainda assim, ferida a luta em condições de tam an h a desigualdade, nem
sem pre tem acabado, nestes 24 anos, pelo desbarato do m ais fraco. Grandes
triunfos, neste quarto de século, registra a justiça brasileira. Os direitos supremos,
algum as vezes im olados, acabaram por vingar, em boa parte, n a corrente dos
arestos. Haja vista os grandes resultados, que graças a ela, se ap u raram , sob o
estado de sítio deste ano, quando, mercê das suas sentenças, alcançam os salvar,
da liberdade de im prensa, u m a p arte considerável, e p reserv ar os debates

T rata-sc d a R ev olu ção G lo rio sa, assim c h a m a d a p o rq u e se p ro c e s s o u sem d e r r a m a m e n to d e sangue.


P ro v o c o u a q u e d a de Jaim e II (S tu art), de inclinação abso lu tista, e le v o u ao tr o n o G u ilh e rm e de O ra n g e
{genro d o s o b e ra n o d e s tr o n a d o ) , e m cu jo re in a d o se con solida a su p re m a c ia d o P a rla m e n to .
A p a r tir da R evolução Francesa d e 1789, o p o d e r legislativo se fortalece n a Fran ça, até s er g olpead o pelo
a b so lu tism o n a p o le ô n ic o .
Em 1830 u m a re v o lu ç ã o d e s tr o n o u o ú ltim o m o n a r c a B o u r b o n (C a rlo s X) e in s ta u r o u a c h a m a d a
M o n a rq u ia d e Julho o u “ m o n a rq u ia b u rg u e sa ”, c o m u m P a rla m e n to forte. (Ver n o ta 33 ao te x to anterior.)
O pro je to d e C o n stitu iç ão do Im p é rio da ta d e 11 d e d e z e m b ro d e 1823 c a C o n s titu iç ã o foi o u to rg a d a pelo
I m p e r a d o r a 25 d e m a rç o d e 1824. [N o ta 3 da edição de 1985.]

204
V o lu m e i ( ) l O A R n . i f’ r i m e i i M R c [ ) u i i l i c < i

p a rla m e n ta re s das trev as em q u e os q u eria envolver a d ita d u ra , co m a


cum plicidade subm issa do p ró p rio Congresso Nacional.
Mas, os elementos facciosos, que se fizeram senhores do Estado, e exploram,
com o vasta com andita, as aparências restantes do regím en, adulterado nas suas
condições m ais necessárias, m utilado nos seus órgãos m ais nobres, p ro stituído
nas funções m ais vitais, sentem o obstáculo invencível, que às aventuras do
m andonism o, d o caudilhism o, do m ilitarism o opõe u m a justiça entrincheirada
solidam ente nas prerrogativas da justiça am ericana; e com preendem que, para
acabar com os últim os remanescentes da legalidade no d o m ín io político e civil,
e le ito ra l e p a rla m e n ta r, a d m in is tra tiv o e fin a n c e iro , p a r a tr a n s f o r m a r
absolutam ente a República n u m governo de privilégios, abusos e castas, lhes
cum pre d ar àquela instituição um com bate de exterm ínio; ab rir contra ela um a
cam p an h a inexorável, só a largar de m ão depois de red u zid a a u m p oder
subalterno, desm edulado e caduco.
C om esse intuito sitiaram a cidadela ameaçada, e lhe apertam os aproches,
assestando contra ela as m ais formidáveis baterias da força, ao m esm o tem po
que lhe solapam os fundam entos com as m inas de u m a sofisteria*^^ desabusada.
Dessa guerra sem escrúpulos, a tática principal tem consistido, sobretudo
nestes últim os q u atro anos, em negarem abertam ente obediência o G overno e
o Congresso às m ais altas sentenças judiciais, com pretexto de que o Suprem o
Tribunal exorbita, prevarica, usurpa; e, para coonestar essa rebeldia, mascarada
em am o r d a legalidade, a exceção dos casos politicos, oposta n a jurisprudência
dos Estados Unidos, à m m p etên cia que a Suprem a C orte ali exerce, de negar
d e fin itiv a m e n te execução às leis in c o n s titu c io n a is , te m m in is tra d o aos
congressos e governos insurgidos a evasiva, que havia m ister esse m ovim ento
de anarquia radicalm ente subversiva.
Mas, para abater o Suprem o Tribunal Federal, e desafogar do receio da sua
in terferê n cia coibitiva a p o lític a de nossa terra, insciam legutn, ignaram
magistratuum,^^^ não bastava a contingência, im inente sempre, de ver as suas
sentenças desacatadas, ora com arrogante desprezo, ora com erudita ostentação
de a f ro n to s a s m o n s t r u o s i d a d e s ju r íd ic a s , a la rd e a d a s n a s m e n s a g e n s
p re sid e n ciais, o u n o s d eb a tes p a rla m e n ta re s. C o n v e n ie n te seria, ain d a,
sistematizar o desrespeito, legislar a revolta, organizar a usurpação, assentar em
V ariante de “sofistaria'!
T Á C IT O -O a/v m com p /ète$< íe rrfc ú e.H ísto ire s.T ra d u ite sen fra n ça isa v ec u n e in tr o d u c tio n p a r J.L B u rn o u f.
Paris: G a rn ie r Frcres, [s.d.), t. 2, livro I, pa rá g ra fo XI. p. 10. [N ota de RB, c o m p le m e n ta d a pela n o ta 4 da
edição d e 1985.) T r a d u z in d o : “estrangeira às leis, ig n o ra n d o o q u e são os m a g is tr a d o s ”

205
_____________ Histária_da.
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

bases categóricas a desvirilização do Poder Judiciário na República brasileira, a


enfeudação desse poder, desregrado'^^ e invertido, às secretarias d e Estado, às
olig arq u ias políticas, às cam arilh as d o m in an tes. P ara o u s a r essa au d ácia
vertiginosa, era preciso viver no antediluvianism o, em que vivem os árbitros da
nossa grotesca República, e m eter o jacobinismo gélico'^*^ na pele da Constituição
am ericana.
C o m o a nossa determ inou, im itando o seu m odelo, q u e o Senado julgará
os m em bros do Suprem o Tribunal Federal nos crim es d e responsabilidade,
en g en h aram , com igual ignorância que arrojo, fo rçar essa atribuição, para
colocar o Suprem o Tribunal Federal n u m p é d e subalternidade ao Senado,
excluindo arbitrariam ente do direito co m u m os crim es de responsabilidade,
q u an d o com etidos p o r esses magistrados.
Digo arbitrariamente, porque os crim es de responsabilidade são definidos
em com um n o Código Penal com relação a todos os funcionários, que neles
incorrem , excetuando a C onstituição apenas os do presidente da República,
único e só funcionário, m agistrado único e só, a respeito de q u em a nossa lei
fundam ental declara, n o seu art. 54, que um a lei especial definirá os crimes de
responsabilidades. Claro está que, se os dos m em b ro s do Suprem o Tribunal
houvessem, tam bém , de se definir em lei especial, o texto da carta republicana,
preciso e perem ptório, sobre o assunto, n o tocante ao presidente da República,
seria igualm ente explícito e solene, em vez de om isso e silencioso, a respeito
daqueles magistrados.
Tanto m ais se evidencia aqui a evidência, quanto vizinhos quase parede-
m eia dem o ram o art. 54, onde se im põe um a lei especial, a fim de qualificar, no
q u e entende com o chefe do Poder Executivo, os delitos de responsabilidade, e
o art. 57, onde a nossa lei orgânica, indicando o trib u n al para os m em bros
dessa m agistratura nos delitos de responsabilidade, não fala em lei distinta, para
os definir. O confronto desta diversidade n o conteúdo co m esta proxim idade
n a colocação prova com o que ad oculum^'*^ a conclusão, a que chegam os, e tira
em lim po o caso.
Mas a política destes últim os tem pos, com o quem sente dia a dia abrir-se-
lhe a vontade n o lauto banquete dos abusos, não se detém com em baraços
qu an d o o estôm ago lhe afeta u m bocado régio; e b em pou co é para as goelas do

o Im parcial registra “dessexu ad o”.


Ver n o ta 56 ao te x to a nterior.
T radu zin do : "a olho, o b v ia m e n te "

206 •á l
V o lu m e ) O K ) / \ B n , i P r i m i ' i r .1 R r p ú h t i i ,i

seu arbítrio u m a instituição constitucional, quan d o se po d e sorver e sum ir de


u m trago n o bucho pantagruélico de um a situação useira e vezeira a devorar
leis, tesouros e constituições.
Tanto vai do s h o m e n s que fu n d a ra m este reg ím en aos q u e o estão
g a rg a n tu a n d o ,''* ^ ta n to da d e m o c ra c ia ju ríd ic a , em q u e, h á 25 anos,
encarnávam os o nosso ideal, à demagogia anárquica, m isto de cesarism o e
indisciplina, pretorianism o e jacobinism o, em que os ideais de hoje su p u ram o
seu vírus.
Aqueles faziam da justiça a roda m estra do regímen, a grande alavanca d a
sua defesa, o fiel da balança constitucional. Estes, se lograssem o que intentam ,
reduziriam o Suprem o Tribunal Federal a um a colônia do Senado.
Em vez de ser o Suprem o Tribunal Federal, qual a nossa C onstituição o
declarou, o derradeiro árbitro da constitucionalidade dos atos d o Congresso,
u m a das C âm aras do Congresso passaria a ser a instância de correição para as
sentenças do Suprem o Tribunal Federal.
A qui está, senhores, com o no s arraiais da o rd e m se pratica o espírito
conservador. Aqui está como os ortodoxos cuidavam ’'*^ a verdade constitucional.
Aqui está com o as vestais d a tradição histórica alim entam a cham a sacra da
virgindade republicana.
A investida reacionária de nulifícação da justiça, que se esboça n o grandioso
projeto de castração do Suprem o Tribunal Federal, tem p o r grito d e guerra,
conclam ado em b rad o s trovejantes, a necessidade, cuja im pressão abrasa os
peitos à generosa coorte, de p ô r trancas ao edifício republicano contra a ditadura
jurídica. É a d itad u ra dos tribunais a que enfia de terror as boas alm as dos
nossos puritanos. Santa gente! Q ue afinado''*'* que lhes vai nos lábios, on d e se
tem achado escusas para todas as ditaduras da força, esse escarcéu contra a
ditadura da justiça!
Os tribunais n ão usam espadas. Os tribunais não dispõem do Tesouro. Os
tribunais n ão n o m eiam funcionários. Os tribunais não escolhem deputados e
senadores. Os tribunais n ão fazem ministros, não distribuem candidaturas, não

R ep o rta n d o -se ao ad je tiv o “p a n ta g ru é lic o ” d o p a rá g ra fo a n te rio i, R ui p a re c e c u n h a r o v e rb o “ g a rg a n tu a r”,


c u jo sig nificad o é “c o m e r v o ra z m e n te ” em alusão aos p e rs o n ag e n s (P a n ta g ru e l e G a rg a n tu a ) de Rabelais
(M 9 4 -1 5 5 3 ).
Assim na R evista do Sup rem o Tribunal Federal. E m O /m p a r c ía /a pa la vra está ilegível. A e d iç ão d e 1985 e a
das Obras com pletas tra z e m “c u ltiv a m ”.
A ssim e m O im parcial, o q u e p re fe rim o s, p o r n o s pa re c e r a fo rm a m ais a d e q u a d a . A Revista do Suprem o
Tribunal Federal registra “S a n ta gen te, q u e afinado...”

207
_____________ Htstóda da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

elegem e deselegem presidentes. Os tribunais não co m an d am milícias, exércitos


e esquadras. Mas, é dos tribunais que se tem em e trem em os sacerdotes da
im aculabilidade republicana.
C o m os governos, isso agora é o u tra coisa. Das suas d itad uras não se
arreceia a dem ocracia brasileira. Ninguém aqui se im p o rta com as ditaduras
presidenciais. N inguém se assusta com as d itad u ras m ilitares. N inguém se
inquieta com as candidaturas caudilhescas. N inguém se acautela, se defende, se
bate contra as ditaduras do Poder Executivo. E m bora o Poder Executivo, no
regím en presidencial, já seja, de sua natureza, u m a sem iditadura, coibida'^^ e
lim itada m uito m enos pelo C orpo Legislativo, seu cúm plice habitual, do que
pelos diques e freios constitucionais da justiça, em bora o Poder Executivo seja
o erário, o aparelho adm inistrativo, a guarda nacional, a polícia, a tropa, a
arm ada, o escrutínio eleitoral, a m aioria parlam entar. E m bora nas suas m ãos se
reúnam o p oder do dinheiro, o poder da com pensação e o p o d er das graças.
Seja ele em bora, entre nós, o po d er dos poderes, o grande eleitor, o grande
nom eador, o grande contratador, o p o d er da bolsa, o p o d er dos negócios, e o
p o d er da força, q u an to mais poder tiver, m enos lhe devemos cogitar n a ditadura,
atual, constante, oním oda, p o r todos reconhecida m as tolerada, sustentada,
colaborada p o r todos.
Para esse poder já existe um a lei de responsabilidade. A Constituição a exigiu.
A prim eira legislatura''*^ do regímen deu-se pressa em a elaborar. A m edida tinha
por objeto atalhar a degeneração da presidência n u m a ditadura perm anente. Mas
os nossos estadistas se contentaram de a estam par no Diário Oficial, e arquivá-la
n a coleção das leis. Raros são os seus artigos, em que não hajam incorrido os
nossos presidentes. Alguns a têm violado em quase todos. Mas, quanto m aior é a
som a de atentados com que carrega u m presidente, m ais unânim es são os votos
da sabedoria política em lhe assegurar a irresponsabilidade. Isto é: quanto mais
completa a ditadura presidencial, quanto mais ditadura essa ditadura, mais im une
a qualquer responsabilidade.
Seis vezes entre nós se propôs, seis vezes, não m enos, a responsabilidade
presidencial, e não m enos de seis vezes a rejeitou a C âm ara dos D eputados, não
a considerando, sequer, objeto deliberável.
A razão de Estado, negação v irtual de todas as constituições, radical
elim inação de todo o direito constitucional, a razão de Estado não existe para
Assim e m O Im parcial, q u e p referim os, p o r nos p are ce r a fo rm a m ais a d e q u a d a . A Revista d o Suprem a
Tribunal Federal registra “colhida”
O Im parcial registra ''m a g istra tu ra ”

208 •à »
V o l u m e .5 O l O A B 11(1 f ’ r i n u ' i i . i K c p ú b l i c a

o u tra coisa: absolver os m ais insignes culpados, dispensar na lei,''’’ justam ente
nos casos em que a sua severidade mais tinha a m ira, recolher ao coito da
im punidade os crim es m ais insólitos, mais desmarcados, m ais funestos.
G raças a essa ind u lg ên cia, aclam ada sem pre n a re tó ric a do s nossos
parlam entos, ainda n ão houve presidente, nesta dem ocracia republicana, que
respondesse p o r nen h u m dos seus atos. Ainda n en h u m foi achado com eter um
só desses delitos, que tão às escancaras cometem. A jurisprudência do Congresso
Nacional está, pois, m ostrando que a lei de responsabilidade, n os crim es do
chefe do Poder Executivo, não se adotou, senão para não se aplicar absolutam ente
nunca. Deste feitio, o presidencialism o brasileiro não é senão a d itad u ra em
estado crônico, a irresponsabilidade geral, a irresponsabilidade consolidada, a
irresp o n sab ilid ad e sistem ática do P oder Executivo. De m o d o que, co m a
irresponsabilidade inevitável da legislatura, os nossos republicanos, indiferentes
ao sistema da irresponsabilidade em todos os graus, em todos os ram o s e em
todas as expressões d o poder, só não querem irresponsável o Suprem o Tribunal
Federal.
Esse o terrível ditador, o d itad o r form idoloso, cuja so m b ra se projeta
sinistra sobre as instituições. C ontra os golpes desse, contra as suas m aquinações
abomináveis, contra os seus insidiosos assaltos à República, é que urge m eterm os
todos os escudos, organizando-lhe rigorosam ente a responsabilidade. Mas de
que modo? C o m o a C onstituição a quer? O rganizando-lhe a responsabilidade
nos limites do Código Penal? - Não. Instituindo u m a pavorosa n o m en clatu ra
de crim es novos, inom inados, absurdos, cuja capitulação legislativa aboliria
totalm ente a consciência da m agistratura, a sua independência profissional, as
garantias da sua vocação, reduzindo ao últim o dos tribunais o m aior de todos.
N e n h u m trib u n al, n o aplicar da lei, incorre, n em p o d e incorrer, em
responsabilidade, senão qu an d o sentencia contra as suas disposições literais,
ou qu an d o se corrom pe, julgando sob a influência de peita o u suborno. Postas
estas duas ressalvas, que nada alteram a independência essencial ao m agistrado,
contra os seus erros, na interpretação dos textos que aplica, os únicos rem édios
existentes consistem nas form as do processo, nas franquias asseguradas à defesa
das partes e, p o r últim o, nos recursos destinados a prom over a reconsideração,
a cassação ou a m odificação das sentenças, recursos que não se interpõem da
justiça para o u tro poder, m as se exercitam, necessária e intransferivelm ente,
den tro da p ró p ria esfera judicial de uns para outros graus da sua jerarquia.

Ver n o ta 3 ao te x to a n te rio r.

209
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Fora daí n ão há justiça,*^® n ão há m agistratura, n ã o h á tribunais. C om


este no m e já os não podereis chamar, se, com etendo-lhes a apUcação da lei, os
não constituirdes em árbitros privativos e absolutos da sua interpretação, se da
que eles estabelecerem adm itirdes recurso para u m po d er estranho, se acima
deles erigirdes u m a entidade maior, com a incum bência de lhes retificar as
decisões, e lhes castigar os erros. A dm itida u m a tal organização, quem teria o
direito a denom inar-se de tribunal, de m agistratura, de justiça, era, afinal de
contas, unicam ente, essa potestade soberana, de cujos oráculos penderiam as
sentenças dos julgadores e a sorte destes, sua liberdade, seu patrim ô n io , sua
honra.
Tal extravagância não acudiu jamais à m ente de ninguém . Q u e m q uer que
saiba, ao m enos em confuso, destas coisas, não ignorará que to d o s os juizes
deste m u n d o gozam, com o juizes, pela natureza essencial às suas funções, o
benefício de não poderem incorrer em responsabilidade pela inteligência que
derem às leis de que são aplicadores. Haverá nisto mal? Alegar poderiam que há
o de se consentir em que escapem de corretivo os erros dos tribunais. Mas
autoridade h um ana, que não erre, onde é que n un ca se viu? De errar igualm ente
não serão susceptíveis os revisores agora indicados para os erros dos tribunais?
Pois quan d o acontecer que acabe errada a justiça dos tribunais, não é mais^**^
para tem er q u e comece erradíssim a a justiça dos chefes de governo e dos chefes
de partid o , a justiça das secretarias adm inistrativas e das m aiorias legislativas?
Pois se, de revisão em revisão e de recurso em recurso, a u m paradeiro havemos
de chegar, o n d e se estaque, e d onde se não tolere m ais recurso, nem revisão, p o r
qu e iríam o s assen tar esse ú ltim o elo n a p olítica, em vez d e o d eix a r na
m agistratura? Pois, se da política é que nos querem os precaver, buscando a
justiça, com o é que à política deixaríam os a últim a palavra co n tra a justiça?
Pois, se nos tribunais é que andam os à cata de guarida para os nossos direitos,
co n tra os ataques sucessivos do P arlam ento o u do Executivo, co m o é que
volveríamos a fazer de u m destes dois poderes a palm ató ria dos tribunais?
Assim com o assim, porém , não se conhece, p o r to da a superfície do globo
civilizado, nação nenhum a, em cuja legislação penetrasse a idéia, que só ao
d em ô n io da política brasileira podia ocorrer, de criar fora da justiça, e incum bir
à política u m a corregedoria, para julgar e p u n ir as supostas culpas do tribunal
suprem o no entendim ento das leis.

o Im parcia l registra “justificação”


O Im parcial re g istra “n ã o é a in d a m a is ”. [N o ta 5 d a ed ição d e 1985.]

210 m àB
V o lu m e ! ( ) IO A I3 n n r r im c - ii.t K c p ú b l i ;

Dessa extravagante situação, igualmente inaudita que absurda, estão, entre


nós, livres todos os juizes, pelos term os em que o nosso Código Penal capitula
to d a a possível delinqüência dessa classe de servidores do Estado. E nisto nos
encontram os de acordo com o m u n d o inteiro, onde todos os sistemas judiciários,
de que nos consta, asseguram à m agistratura a m ais plena irresponsabilidade
quanto à apreciação do fato e do direito no ato de julgar.'^^
A obrigação de co m p o r o dano e a infâmia em que o juiz rom ano incorria,
p or violar o direito e a lei, circunscrevia-se aos casos em que ele a fraudasse com
dolo manifesto: “cwm dolo [maio] in fraudem legis sententiam dixeritV^^
O princípio não variou até hoje, ainda hoje se tem p o r inconcusso; e, p o r
este lado, o desenvolvim ento das idéias jurídicas, longe de ten d er para a solução
d a responsabilidade, cada vez mais dela nos vai distanciando.'^^
N ão é da Constituição atual que data, no Brasil, a existência de u m Supremo
Tribunal de Justiça. C om a Constituição de 1823, já possuíam os essa instituição,
e, durante os 66 anos que ela viveu sob a Coroa Imperial, n unca ninguém se
lem brou de lhe arm ar u m código especial de criminalidade, e, ainda m enos, de
subm eter esse tribunal à jurisdição de n en h u m dos seus jurisdicionados.
Agora estai comigo. Veio a República; e que fez? Trocando, n a denom inação
desse tribunal, o predicativo de justiça pelo qualificativo de federal, n ão lhe tirou
o caráter de tribunal de justiça, inerente, sobre todos, à sua missão constitucional;
senão que, pelo contrário, o am pliou constituindo nele o grande trib u n al da
Federação, para sentenciar nas causas suscitadas entre a U nião e os estados, e
em derradeira instância, nos pleitos debatidos entre os atos do Governo, o u os
atos legislativos, e a Constituição.
O ra estai n o caso. Ele é certo que, com isso cresceu im en sa m e n te o
p a p e l desse t r ib u n a l, e d e m u ito m ais g ra v id a d e se lh es re v e s tira m as
atribuições. M as d aí se p o d e ria seguir, acaso, q u e, p o r ac au telar o abuso
delas, se houvesse d e so to p o r a consciência do S u p rem o T rib u n a l Federal
Cf. B ID E R M A N N , Joseph. La responsabilité des magistrais envers lesparticuliers. B e n sa n ço n ; T y p o g rap h ic
e tL ito g ra p h ie Joseph Jacques, 1912, p. 213. [N ota de RB, c o m p le m e n ta d a p e la n o ta 6 d a e d iç ã o d e 1985. j
C U JA C IU S, Jacobus. Opera. Prato: Ex O fficina Fratr. G iachetti, 1839, t. 7, c o lu n a 223, In Tit. I, D e Judicíís,
livro 5, Digest, a d L X V e XVI, col. 223. [N o ta d e RB, c o m p le m e n ta d a pe la n o ta 7 d a e d iç ã o d e 1985.]
T rad u z in d o ; “q u a n d o d o lo s a m e n te pro fere u m a sen te nç a q u e d e fra u d e a lei”.
Cf. B ID E R M A N N , Josep h. O b ra . c it.,p . 213; ESM EIN s e g u n d o B ID E R M A N N . Joseph. O b r a cit., p. 214.
[N o ta d e RB, c o m p le m e n ta d a pela n o ta 8 d a e d iç ão d e 1985.] N a n o ta d e RB lê-se: ESM EIN : C om pte
rendu d e VA cadem ic des Sciences Morales et Politiques, 1905,1° sem estre, p. 599. N ã o há, p o ré m , esta o b ra
na bib lioteca d e Rui. É provável q u e n ã o seja u m a citação d ire ta de E sm ein, m as, c o n fo rm e su g ere a
ed ição d e 1985, feita a p a r tir d e B id e rm a n n , livro da biblio teca d e R ui in te rd ita d o , n o m o m e n to de
p re p a ra ç ã o d esta edição, d e v id o à realização d e o b ra s d e con serv ação n o M u s e u C as a d e R ui Barbosa.

211
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

ao ju g o e x tr a ju d ic ia l e a b s o lu ta m e n te p o lític o , d e u m a d as casas do
C ongresso? N ada m enos.
Primeiramente, notai. Cada u m dos poderes do Estado tem, inevita velmente,
a sua região de irresponsabilidade. É a região em que esse poder é discricionário.
Lim itando a cada poder as suas funções discricionárias, a lei, dentro nas divisas
em que as confina, o deixa entregue a si m esm o, sem outros freios além do da
idoneidade, que lhe supõe, e do da opinião pública, a que está sujeito. Em falecendo
eles, não há, nem pode haver, praticamente, responsabilidade nenhum a, neste
particular, contra os culpados. Dentro do seu círculo'^^ de ação legal, onde não
tem ingresso nem o C orpo Legislativo, nem a Justiça, o Governo pode adm inistrar
desastradam ente, e causar ao patrim ônio público danos irreparáveis. Em casos
tais, que autoridade o poderá conter, neste regímen? Por sua parte, o Congresso
Nacional, sem ultrapassar a órbita da sua autoridade privativa e discricionária,
p o d e legislar desacertos, loucuras e ruínas. O nde a responsabilidade legal, a
responsabilidade executável contra esses excessos? E, se os dois poderes políticos
se derem as m ãos u m ao outro, não intervindo, m oral o u m aterialm ente, a
soberania da opinião pública, naufragará o Estado, e a Nação poderá, talvez,
soçobrar. Nem por isso, contudo, já cogitou alguém de chamar, nessas conjunturas,
contra os dois poderes políticos, o p oder judicial. É que contra os desacertos deste
gênero, não se concebe o utra responsabilidade, senão a da conta que todos os
órgãos da soberania'^"' a ele devem.
N o u tra situação n ão se acham os trib u n ais e, co m particularidade, o
Suprem o Tribunal Federal, qu an d o averba de inconstitucionalidade os atos do
G overno o u os atos do Congresso.
Declarar, pois, inconstitucionais esses atos quer dizer que tais atos excedem,
respectivamente, a competência de cada um desses dois poderes. Encarregando,
logo, ao Suprem o Tribunal Federal a missão de pronunciar com o incursos no
vício de inconstitucionalidade os atos do Poder Executivo, ou do Poder Legislativo,
o que faz a Constituição é investir o Supremo Tribunal Federal na competência de
fixar a competência a esses dois poderes, e verificar se estão dentro ou fora dessa
com petência os seus atos, quando judicialmente contestados sob este aspecto.

Assim e m O Im parcial. A R evista do Suprem o Tribunal Federal registra “ D e n tro , no seu circulo".
Em O Im parcial esXà\ “so b eran ia n a c io n a l”. [N o ta 10 da ed iç ão d e 1985.)
Assim e m O Im p a r c ia l O s dois ú ltim o s p e río d o s fo r a m e m p a ste la d o s n a Revista do S uprem o Tribunal
Federal, ra z ão pela q u a l p re fe rim o s o tex to d o jorn al. Eis c o m o foi p u b lic a d o n a revista; “n e m p o r isso,
c o n t u d o , já c o g ito u a lg u é m d e c h a m a r , nessas c o n ju n tu r a s , d e s te g ê n e r o , n ã o r e c o n h e c e o u t r a
resp o n sa b ilid a d e , sen ã o a d a c o n ta q u e to d o s os órgãos d a so b e ra n ia a ele d e v em .”

212
V o l i i n u ' .> O l O A l i n a P r i m e i r a Rc‘| ) ú l ) l i c . i

Agora o chiste da reform a projetada. O que ela inculca, é que, em excedendo


o Suprem o Tribunal Federal, quando de tal atribuição faz uso, a sua competência,
o Senado o cham e a contas, o julgue, e o reprim a, conden an d o -lh e os m em bros
delinqüentes. Risum teneatis, amiáV^^
Realm ente, n u n c a se chufeou assim com o senso co m u m . Vejamos o
argum ento. S upondo que esse tribunal, ao declarar inconstitucional u m ato do
Poder Legislativo (cinjam o-nos a estes), exorbite da sua com petência, qual é a
c o m p e tê n c ia de q u e ele e x o rb ito u ? A c o m p e tê n c ia d e s e n te n c ia r q u e,
p erp etran d o esse ato, o Poder Legislativo era incom petente.
Tem 0 S uprem o Tribunal Federal au to rid ad e sem elhante? N ing u ém o
p o d erá negar; visto com o o art. 59, da nossa carta republicana, o briga esse
trib u n al a n egar validade às leis federais, q u an d o co n trárias à C onstituição, e
as leis federais são co n trárias à C onstituição, q u an d o o P o d er Legislativo,
a d o ta n d o tais leis, n ão se teve nos limites, em que a C o n stitu ição o au to riza a
legislar, isto é, t r a n s p a s s o u a c o m p e tê n c ia , em q u e a C o n s titu iç ã o o
circunscreve.
Logo, se o exercício desta função judiciária consiste, precisamente^ em
aquilatar e declarar, na su p rem a instância, que os atos do Congresso Nacional,
isto é, os atos nos quais colaboram a C âm ara e o Senado juntos, lhes ultrapassam
a com petência constitucional; se, pois, da com petência desses dois ram os do
C o rp o Legislativo, acordes e cooperantes, o juiz, n a su p rem a instância, é o
Suprem o Tribunal Federal, com o adm itir, que da com petência do Suprem o
Tribunal Federal, nessa decisão, possa vir a ser árbitro, ulteriorm ente, o Senado,
isto é, nem m ais n em m enos, um a das duas câm aras do Congresso?
É o superlativo da irrisão, o nec plus do absurdo. Atentai bem . Da
com petência constitucional da C âm ara e do Senado, reunidos em Congresso, o
últim o juiz é o S uprem o Tribunal Federal. Mas, se, p ro n u n c ia d a p o r ele a
sentença que nega a com petência constitucional ao Congresso, n ão estiver este
por ela, da com petência desse tribunal em julgar da com petência do Congresso
o últim o juiz, o árbitro final, então, vem a ser, única e som ente, o Senado.
De sorte que, pela Constituição, o Supremo Tribunal Federal an u la as leis
do Congresso. Mas o Senado anula a sentença, que as anular, fu lm in an d o o
Tribunal, que a proferir.
Decerto essa C onstituição endoideceu, já que de estarem delirando não

“C o n te re is o riso, am igos?” Trata-se de p a r te de u m verso de H o rá c io {A rtepoética, V, 5).


'^ T ra d u z in d o ; "o q u e há d e m e lh o r ”.

«▲I 213
_____________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

posso eu suspeitar os d o u to s com entadores, cujo saber n o -la figura assim


desorientada e treslida.
U m regímen que desse a u m tribunal a incum bência de negar validade às
leis inconstitucionais, e, ao m esm o tem po, reconhecesse ao C o rp o Legislativo o
direito de proceder contra as sentenças desse Tribunal, considerando-as como
atentados contra a legislatura, seria a vesânia organizada.
C om que qualificação caracterizaríamos agora a insensatez daquele, que,
depois de confiar a u m tribunal a guarda jurídica da Constituição contra as invasões
do Corpo Legislativo, reconhecesse a um a só das duas casas que o com põem o
arbítrio de cham ar à sua barra esse tribunal com o réu, literalmente, em cada um
dos seus m em bros, quando dessa autoridade constitucional se atrevesse a usar?
Juntai, p o rém , ainda p o r cima, ao destem pero de u m a C onstituição em
briga, deste feitio, nas suas próprias entranhas, consigo m esm a, ju n tai a isso a
cdlossal enorm idade, que se consum aria contra os ru d im en to s de to d a a justiça,
em qualquer tribunal, m anten d o im pendente à cabeça de cada u m dos seus
m e m b ro s a c o n tín u a am e aça de re sp o n sa b ilid a d e e castigo p o r ato s de
consciência, w m o , os de interpretação das leis, que houverem de aplicar, e vede
se acertais com algum meio de trata r seriam ente, n o terreno da lógica e da
razão, este ousadíssim o gracejo.
Altas origens teve ele, entretanto; e> se não, foi, decerto, co m o gracejo que
lhe d e ra m c o r p o . N a s c e u das transcendentes aspirações de u m a política
decidida a rem over todos os tropeços de legalidade n o seu cam in h o para um a
dom inação total do país.
Um as tinturas superficiais do constitucionalism o am ericano e as vagas
notícias do im peachm ent ensaiado nos Estados U nidos co n tra alguns juizes
p ersu ad iram -n a de que lhe não seria de to d o inexeqüível a traça de b u rlar o
princípio fundam ental do sistema que dali trasladam os, o excelso ascendente
da justiça n a vida constitucional do regím en, criando n o Senado u m a com o
inquisição, u m tribunal de consciência político, a fim de emascular, tu rb a r e
esm agar a consciência jurídica do Suprem o Tribunal Federal.
Esqueceram -se de que essa tram a tin h a n o seu p ró p rio objeto a certeza
fatal d a sua irrealizabilidade. N ão ad m itiram que, p ro p o n d o -se d estru ir a
C o n stitu ição a p o d er de leis inconstitucionais, vão esb a rra r n o invencível
o b stácu lo d a n o rm a c o n stitu cio n al, p o r cuja v irtu d e as leis co n trá ria s à
Constituição não são leis. Não viram que todo o arsenal de raios imbeles, forjados
o im pa rcial registra: “ e n ã o foi, decerto, c o m o gracejo q u e lhe d e ra m o c o r p o ”

214 •à M
V o k im e ( ) I ( . ) A H n a 1’ n n u ’ i r a l \ ( ‘p ú l ) l i c a

com esse intento, iria aniquilar-se de encontro à im passibilidade, com que a


vítim a alvejada se desem baraçaria da im pertinência, lim itando-se a encolher
os om bros, e não to m ar conhecim ento da iniciativa.
In stitu íd o p rin cip alm en te com o desígnio de recusar execução às leis
inconstitucionais, não havia de consentir o Suprem o Tribunal Federal em que
nele se executassem as m ais inconstitucionais de to d as as leis co n trárias à
C onstituição. Bastaria, pois, que na evidência dessa inconstitucionalidade se
envolvesse, para que, ante o seu N on p055wmws,‘*° lhe caísse aos pés, desfeita em
nada, a estrondosa inépcia.
Votando u m a lei, que privasse o Suprem o Tribunal Federal da au to rid ad e
suprem a que a C onstituição lhe deu, para negar validade às leis a ela contrárias,
o C o n g resso v o ta ria u m a lei c o n trá ria à C o n stitu ição . B astaria, p ois, ao
S uprem o T ribunal Federal p ro n un ciar-lh e a in constitucionalidade, p ara que
a j u r i s d i ç ã o i n c o n s t i t u c i o n a l , o u t o r g a d a p o r e ssa lei ao S e n a d o , se
d e s m a n c h a sse c o m o u m a b o lh a de ar. D e so b e d e c e n d o a esse a te n ta d o
legislativo co n tra a C onstituição, a essa usurpação do Congresso, o S uprem o
T ribunal Federal se haveria resistente e insubm isso ao abuso d a legislatura,
p ara se haver subm isso e fiel ao m an d ad o soberano da C onstituição, com o
haver-se costum a e deve, q u an d o qu er que a lei ordinária, rebelando-se co n tra
a lei co nstitucional, deixa de ser lei, e, com o tal, cai sob a alçada repressiva
daquela justiça.
N ão é verdade?
Sim e m uito que sim, m eus senhores; porquanto, sendo essa instituição,
p eculiar ao tipo federativo de o rigem am ericana, o u , segundo a teo ria de
Marshall,'®’ à natureza das constituições rígidas, essa, a instituição pela qual o
Suprem o Tribunal Federal está de vela, na cúpula do Estado, a todo o edifício
c o n s titu c io n a l, sen d o , to r n o a dizer, essa in s titu iç ã o , a to d a s as o u tra s
sobreem inente neste po n to de vista, a instituição equilibradora, p o r excelência,
do regím en, a que m an tém a ordem jurídica nas relações entre a U nião e os
seus m em bros, entre os direitos individuais e os direitos do poder, entre os
poderes constitucionais uns com os outros sendo esse o papel incom parável

E m O Im parcial está: “tolice” |N o ta 12 d a ed ição de 1985.)


L iteralm en te: “ N ã o p o d e m o s." Trata-se de referência bíblica, u m a vez q u e foi a resp osta d a d a p o r P e d ro e
Joao q u a n d o lhes d is se ra m q u e p a ra ss e m d e p re g a r (Aroj, 4: 20). M o d e r n a m e n te , a ex pressão é u sad a
pelos p ap as p a r a re je ita r u m a in o v a ç ão e m d o u trin a .
S e g u n d o te o ria cria d a p o r M arshall (ver índ ice o n o m á stico -b io g rá fic o n o fim d e s te v o lu m e ), os trib u n a is
federais exercem a rev isão jud ic ia l s o b re os atos do s dois o u tro s p o d e re s (E xecutivo e Legislativo).

•á l 275
_____________ H istória da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

dessa instituição, a sua influência estabilizadora e reguladora influi, de u m m odo


n em sem pre visível, m as constante, p ro fu n d o , universal n a vida inteira do
sistema. Nem ela sem ele, nem ele sem ela poderiam subsistir u m m om ento.
O que se guarda, pois, no bojo desse tentâm en, destinado a sum ir-se e
ressurtir com as reaparições ou os eclipses da legalidade n a existência nacional,
é a tran sfo rm açã o do regim en dem o crático na olig arq u ia de u m a facção
im perante n o Congresso e centralizada no Senado.
Por isso é que, do aparelho constitucional, na organização da responsabilidade
criminal para os nossos grandes magistrados, só essa peça escaparia: a jurisdição do
Senado, a peça do m aquinismo que mais a frisar está com os interesses da conspirata
contra a justiça. Dessa responsabilidade, amplificada e desvirtuada, o juiz privativo
seria o Senado, como a Constituição m anda quanto à responsabilidade (tão diversa!)
que ela estabelece.
Aí se respeitaria a indicação constitucional, visto que n e n h u m a o utra
q u ad raria m ais ao justo com o espírito da reform a subversora.
Se no pró p rio Suprem o Tribunal Federal não estivesse, destarte, a barreira
insuperável a essa atrevidíssima veleidade, no próprio Suprem o Tribunal Federal,
insisto, n o seu direito inabalável, inalienável, inamissível, n o seu direito, que
n in g u ém lhe pode arrebatar e de que ele em caso n e n h u m poderia decair nesse
direito revestido e abroquelado pelo m ais em inente dos seus deveres, o direito-
dever de guardar a C onstituição contra os atos u su rpatórios d o G overno e do
C ongresso;-se nesse'®^ próprio Tribunal, to rn o a dizer, não se achasse a m uralha
invencível a esse co m etim en to delirante, a C on stitu ição brasileira, n a sua
essência, estaria toda ela tu m u ltu a d a e revogada.
Levantando voz de restabelecer a lei constitucional, o que esse aborto de
m onstruosidade viria pois realmente fazer, era adulterá-la com escândalo à luz
d o sol, e desm ontá-la pelos alicerces.
Os crimes de responsabilidade dos m em bros do Suprem o Tribunal Federal,
que a C onstituição incum biu ao Senado a missão de julgar, estavam classificados
n a lei penal preexistente e, pela sua n atureza n ão deixavam a essa casa do
Congresso autoridade n en h u m a de onde pudesse resultar am eaça à integridade
m oral desses m agistrados.
N o decidir se eles julgaram contra disposição literal da lei, o que se cometeu
ao Senado é, m eram ente, a verificação de u m fato material. Q u a n d o a lei com ina

Assim e m O Im parcial, o q u e nos p arece a fo r m a c o rre ta . N a R evista do Sup rem o Tribuna l Federal não
c on sta a c o n ju n ç ã o “se".

276 •41
V o lu m e i ( ) l( ) A l i ita Pi i n i i - i r a [\i> ))úl)li( .1

a u m crim e a prisão, o julgador, que lhe aplica a m o r t e , v i o l o u a lei n a sua


expressão m ateria l. C asos d este gênero n ã o ab re m m a rg e m ao a rb ítrio .
Semelhantemente, quando se responsabiliza u m juiz, porque aconselhe as partes,
porque recuse ou dem ore a adm inistração da justiça, porque intervenha nas
causas em que a lei o declara suspeito, porque se co rro m p a o u venda, po rq u e
subtraia ou co n su m a d o cu m en to s dos autos, po rq u e solicite m u lh er que ten h a
litígio no seu juízo, porque dê ao público o escândalo da incontinência ostensiva,
da embriaguez, do vício de jogos proibidos, nada perde, nesses com o nos demais
casos análogos, com a cham ada a contas dos culpados, a inteireza d a justiça,
cujos distribuidores n ão p o d em ser irresponsáveis, se afrontam publicam ente a
m oral, q u eb ram ab ertam ente com a lei, e ro m p em m aterialm ente com os seus
deveres precisos. Tais as hipóteses do impeachment, as que a C o n stitu ição
b rasileira co n te m p la , q u a n d o estatu i que o Senado ju lg ará os crim es de
responsabilidade d o Suprem o Tribunal Federal.
M as o que se engenha agora é torcer destes limites estritos essa autoridade,
para abrir, de ro d a a roda, ao seu dom ínio, à sua invasão a consciência da
m a g is tra tu ra su p re m a , 0 seu foro ín tim o , aq u ela região defesa a to d a a
responsabilidade, onde se elaboram as convicções do magistrado, onde o espírito
do juiz vai beber a sua apreciação da lei que tem de aplicar. Eis a investidura em
que agora se quereria colocar'^"* u m a das câm aras do Congresso Nacional,
exatam ente para esbulhar o Suprem o Tribunal Federal da sua m issão de vigiante
sobre os atos do C orpo Legislativo, para desvencilhar o C o rp o Legislativo do
o b stácu lo , q u e aos seus d esm an c h o s pôs a C o n stitu iç ã o n as atrib u içõ e s
inapeláveis desse grande tribunal.
D estarte aquele sobre quem se havia de exercer a suprem a justiça, esse é o
que sobre ela exerceria a justiça suprem a. Q ue hom ens de lum e n o olho!
A política brasileira fez do Congresso Nacional u m laboratório de atentados
e o hom izio dos crim es do Poder Executivo, \ferificado isso, os reivindicadores
d a p ró p r ia irre sp o n sa b ilid a d e e os a c o b erta d o res d a irre sp o n sa b ilid a d e
presidencial arvoram -se a si m esm os em aplicadores de u m a responsabilidade
judiciária até agora ignota, destinada a em ancipá-los da justiça.
Um código draconiano, já formulado, regeria o exercício dessa m agistratura
superior à suprema. U m código em que to d o s os atos de in d e p e n d ê n c ia
concebíveis nos m inistros da nossa mais alta m agistratura se achassem previstos

Em O Im parcial está: “p e n a d e m o r t e ”. (N ota 15 d a ed iç ão d e 1985.]


O Im parcial registra “h o je se q u e re ria c o la r”.

•Al 277
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

e recebessem daqueles, para conter os quais ela foi especialm ente instituída,
u m a expiação exemplar. Um código em cujo sistema de processo e criminalidade,
inquisitoriam ente constituído, a integridade judiciária dos guardas suprem os
d a C onstituição se reduzisse a massa de pílulas com o sim ples drogas trituradas
n o gral dos interesses do poder.
N ão h á nada m ais lógico. A política, depois de ter erigido, a pedra e cal,
para as culpas de todos os seus agentes, a m ais am pla irresponsabilidade, criaria,
deste m o d o , para os que a C onstituição instituía'^^ com o su p rem o am paro
c o n tra tais excessos, a resp o n sab ilid ad e m ais severa, e em trib u n a l desta
re sp o n sa b ilid a d e arv o raria o co rrilh o d o Senado, a assem bléia do s m ais
acom padrados n o interesse pela absolvição desses crimes.
D eterm in o u a Constituição que dos excessos do Governo e do Congresso
Nacional julgasse em derradeira instância o Suprem o Tribunal Federal. Que
iríam os fazer agora? D eterm inaríam os que do acerto das sentenças do Suprem o
Tribunal Federal no exercício dessa m agistratura suprem a julgue em instância
revisora u m a das casas do Congresso Nacional. Era u m a alteração de n onada
n o regimen. T ão-som ente lhe viraríam os do avesso a C onstituição. Sacrifício
bem leve a troco do lucro obtido com arrasarm os a horrível ditadura judiciária.
Parece que esta é, realmente, a ditadura sob a qual o país se viu reduzir ao
estado atual, a petição de miséria; e, se dela não lográssemos ob ter salvamento
m enos que acaçapando a C onstituição debaixo da cam a dos chefes de partido,
valeria b em a p en a su je ita rm o -n o s a passar logo, sem co n stra n g im e n to s
constitucionais de espécie algum a, p o r essa transform ação total do regímen,
contanto que acabássemos com os truculentos ditadores do S uprem o Tribunal.
P o r que singularidades climatéricas seria que a justiça federal aqui viesse,
aqui,'“ a ser o po d er agressivo, o poder m inaz, o poder absorvente denunciado
pelos oráculos do republicanism o brasileiro?
N ão pensavam assim os grandes ho m ens de Estado, a cujo tino se deve a
C onstituição dos Estados Unidos. Se m anuseardes O Federalista, vereis como
H am ilton advoga ali essa autoridade extraordinária, que os patriarcas da grande
república entregavam à justiça federal sobre os atos do Congresso e do Executivo.
O Judiciário, observava o célebre am ericano, é o m ais fraco dos três ram os do
p o d er e, conseguintem ente, o menos propenso a usurpar, não tendo influência
algum a sobre a espada ou a bolsa pública, não podendo, assim, to m a r n en h u m a

o Im parcial registra “in s titu iu ”.


O Im parcial registra “a justiça federal viesse aq u i a ser”.

218 •àl
V o lu m e ) O I O A I - ) n<i P r i m e i r a K c p ú l ) l i c c i

deliberação ativa, e dependendo, até, afinal do G overno para a execução das


próprias s e n t e n ç a s . D e l e pois não é de tem er qu e em preenda nada contra as
liberdades constitucionais. Todas as cautelas, pelo contrário, deve ad o ta ; o povo,
para que o Judiciário não seja suplantado pelos outros dois poderes, e, quan d o
entre as duas opressões houvéssem os de optar, m enos grave seria sem pre a dos
tribunais que a dos governos o u a dos congressos.
Estava reservado ao Brasil descobrir, no jogo n orm al das instituições que
copiamos aos Estados Unidos, a ditadura judiciária, balela ridícula, a que a ciência e a
experiência americana lavraram, há já u m século e um quarto, essa vitoriosa resposta.
As preocupações dos nossos m estraços em sabedoria política, gente de
cujo valor tem os a cópia na sua grande obra, o estado atual do país, se fossem
p o rv e n tu ra sinceras, te ria m de se filiar na d o u trin a francesa, n o sistem a
u ltram arin o d a inferioridade ou subordinação do Poder Judiciário aos atos do
Poder Legislativo, constitucionais o u inconstitucionais. Esse o princípio geral
das constituições, que se não categorizam entre os descendentes dos Estados
Unidos. A suprem acia, contra a qual aqui se estão levantando agora os interesses
políticos, a supremacia da justiça na solução das questões de constitucionalidade,
é a grande característica do regimen e a sua garantia suprema.'™
Ainda entre os m elhores publicistas europeus, dentre os quais, falando
no s m ais m o d e rn o s , b astaria citarm o s o n o m e de B outm y, essa posição
constitucional da justiça nos Estados Unidos, se considera co m o “u m a das
invenções m ais originais, inesperadas e admiráveis, que na história do direito
público se encontram ”. T o c q u e v i l l e , com a sua im ensa autoridade, a encarecia
com o “u m a das mais poderosas barreiras, que nunca se elevaram contra a tirania
das assembléias políticas”.'^^

Cf. H A M IL T O N , A lexand er e o utro s. T h e Federalist. A c o m m e n ta ry o n th e C o n s ti tu tio n o f th e U n ite d


States. N ew York: H e n ry H o lt,n ° 78, p. 518-519. [N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a pe la n o ta 16 da ed iç ão de
1985.] H aines, às p áginas 38 e 39 d a o b r a referida a baixo n a n o ta 54, cita esta o p in iã o d e H a m ilto n em
The Federalist. As p á g in a s e a ed iç ão c o n fe re m co m as an o ta çõ e s d e RB.
Cf. HAINES, Charles G rove. The conflict over Judicial Powers in the U nited States to 1870. N ew York; C o lu m bia
U niversity, 1909, v. 35, n" 1, p. 39. [N o ta de RB, co m p le m e n ta d a pela n o ta 17 d a e d iç ão d e 1985.)
Cf. H A IN ES , C harles Grove. O b r a cit., p. 32. (N o ta de RB.|
Cf. R O OT, E lih u s e g u n d o B O W M A N , H a ro ld M . “C on gress a n d the S u p r e m e C o u r t ”. Political Science
Q uarterly. N ew York: G in n a n d C o m p a n y ,m a r . 1910, v. 25, p. 21-22. [N o ta d e RB, c o m p le m e n ta d a pela
n o ta 19 da e d iç ão d e 1985.]
B O U T M Y se g u n d o PROAL, Louis. “ Le role d u P o u v o ir lu d ic ia ir e d a n s le s R é p u b liq u e s ”. Revue Politique et
Parlementaire. Paris; n° 168, t. 56, ju n . 1908, p. 560. [N o ta d e RB, c o m p le m e n ta d a p o r esta edição.)
T O C Q U E V IL L E s e g u n d o PROAL, Louis. Loc. cit., p. 560-561. [N ota d e RB, c o m p le m e n ta d a p o r esta
edição.]

m àM 219
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Essa tirania era a que, nos Estados Unidos, m ais inquietara os patriarcas
do regímen, e, entre estes, ainda aos que m ais se distinguiam pelo radicalism o
da sua democracia.
C om batido tem os, dizia Jefferson [,o m aio r deles], tem os com batido, não
para estabelecer u m despotism o eletivo, m as para fu n d ar u m governo livre...
Ora, certo é que a opressão coletiva de m uitos déspotas pesaria co m tan to peso
q uanto o de u m só. Pouco faz ao caso que com os nossos sufrágios os elejamos.'”
Essa idéia tem se propagado hoje n o próprio continente europeu, havendo,
a té em F ra n ç a , u m a n o tá v e l c o r re n te d e o p in iã o , e n tr e p u b lic is ta s e
jurisconsultos, estadistas e m agistrados, cujos trabalhos reivindicam para a
justiça esse poder, que a C onstituição dos estados lhe reconheceu, e u m a
c o n ju ra ç ã o de in tere sse s n a p o lític a b ra s ile ira , h o je lh e q u e r s u b tr a ir
arrojadam ente.
N a C o n s titu iç ã o b ra sile ira essa asp ira ção tr iu n f o u em declaraçõ es
categóricas; e é contra esse triunfo, o m aio r do nosso direito político, da nossa
história constitucional, que se debatem agora o iliberalism o e o obscurantism o
da política brasileira em penhada em voltar à o m n ip o tén cia legislativa, em
recolocar o legislador acima da Constituição.
Recusando execução aos atos do Congresso N acional viciados claram ente
de inconstitucionalidade, a justiça federal não usa tão-som ente d o seu direito.
Este direito lhe resulta da com petência, que para tal lhe foi conferida. Mas, essa
com petência, form ulada perem ptoriam ente nos arts. 59 e 60 d a C onstituição
brasileira, não exprim e u m a faculdade: traduz u m dever, estrito e im perioso, o
dever capital dessa m agistratura n u m regímen de poderes limitados, a sua missão
específica do regím en federativo, onde, entre a U nião e os estados, entre a
soberania daquela e a autonom ia destes, era m ister u m árbitro co m alçada
inapelável no s conflitos constitucionais.
Erguida entre potestades tam anhas com o barreira insuperável às demasias
de parte a parte, a suprema justiça federal não poderia escapar sem pre ao embate
das irritaçõ es políticas, co n trariad as, o ra de u m lado, o ra de o u tro , pelo
arbitram ento dessa magistratura. De vez em quando u m a lufada mais violenta se
levanta contra ela. Por vezes o clamor político, ora dos governos, ora das maiorias,
ora das classes contrariadas, lhe sopra derredor com a rijeza dos vendavais. Mas,
a grande instituição, a mais liberal e, ao m esm o tempo, a mais conservadora do
regímen, vai atravessando com serenidade essas indem ências passageiras.

N O A ILLES se g u n d o PROAL, Louis. Loc. cit., p. 560, [N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a p o r esta edição.)

220 •à M
V o l u m e .5 O l( .) A I3 n n I ' r i n i c t r . i R f p ú b l i c a

Nos Estados U nidos, através de todas as contradições que, ali m esm o, o


têm em batido, a opinião geral lhe atribui o m érito de ser o m aio r benfeitor da
C onstituição, de a ter abrigado contra as paixões e os ím petos do povo, contra
os desvarios dos partidos, contra os m aus sentim entos r e g i o n a i s . É o grande
in stru m en to de conciliação na história do país.''^^
Os am ericanos, diz u m publicista germ ânico da m aio r au to ridade, os
am ericanos p o d em articular restrições e fazer reservas q u an to ao presidente e
ao seu gabinete, qu an to ao Senado e à C âm ara dos representantes.
Mas todo o am ericano capaz de bem julgar olha para a Suprem a Corte
com um a adm iração sem reserva. Todos eles sabem que n en h u m a força, naquela
terra, tem feito m ais pela paz, pela prosperidade, pela dignidade dos Estados
Unidos.'^*’
Se n em sem pre''^ essa gratidão, essa com preensão dos seus benefícios ali
se têm expressado com a devida unanim idade, é que, estabelecida, sobre todas,
co m a m issão de am p a rar os fracos contra os fortes, os estados co n tra a União,
os indivíduos contra os governos, as m inorias contra as m aiorias {- tu d o isso
em que se traduz, principalm ente, a missão de guardar a lei constitucional contra
a lei ordinária, o direito estável contra o direito variante, as franquias eternas da
liberdade contra seus inimigos renascentes sob as transform ações infinitas da
intolerância e da força) - estabelecida com esse destino de pára-choques entre
elem entos e quantidades tão desiguais, não poderia a Suprem a Corte, ainda
qu e as suas decisões em anassem do céu, e tivessem invariavelm ente u m cunho
divino, não p oderia u m a o u ou tra vez, de onde em onde e de longe em longe,
deixar de ser desagradável a m uitos, aos maiores, às massas.
No Brasil, onde os governos costum am ser os pais e senhores das maiorias
políticas, incorre, de ord in ário , n a m alquerença das m aiorias m ilitantes o
S u p rem o T ribunal, d esap razen d o aos governos. Nos Estados U nidos, pelo
contrário, onde as m aiorias legislativas derivam regularm ente das m aiorias
populares, é a estas que contraria a Suprem a Corte, q u an d o em baraça os atos
da legislatura, na União, ou nos estados.
O d esen v o lv im en to d a legislação social n a g ra n d e re p ú b lica n o rte-

Cf. WILLIAMS, Joh n S h a rp .“ Federal u s u rp a tio n s ’! The A n n a h o f the A m e r ic a n A c a d e m y o f P o litic a l a n d S o c ia l


Science. Philadelphia: ju!./dez. 1908, v. 32, parte 4, p. 206. [Nota d e RB, co m p le m e n tad a p o r esta edição.)
Cf, M Ü N S TER B ER G , H ug o. T h e A m e r ic a n s . L on d o n : W illiam s a n d N o rg a te , 1905, p. 109. [N o ta d e RB,
c o m p le m e n ta d a pela n o ta 24 d a e d iç ão de 1985.]
Id e m , ib id e m . (N o ta d e RB.j
O I m p a r c i a l registra “se b e m s e m p r e ”.

•á l 227
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

am ericana, indo ao encontro das reivindicações socialistas, ao m esm o passo


que acoroçoa a novas conquistas e exigências cada vez m aiores à expansão
dem ocrática, suscita litígios da mais extrema*’®delicadeza, na solução dos quais
se estabelecem conflitos graves entre o clam or p opular, a m archa triunfal das
idéias vencedoras e a santidade constitucional desses direitos, enum erados na
declaração am ericana, cuja guarda o pacto federal recom enda aos grandes juizes
da União. Nesse cam inho, claro está que as sentenças d a justiça, adstrita à
observância desses textos sagrados, não se pode adian tar com a m esm a pressa
que as reform as legislativas.
Daí os atritos, os ataques, as sem -justiças, com que a im paciência dessa
c o r r e n te , n e s te s ú ltim o s d o is o u trê s a n o s , te m re c e b id o as d ec isõ e s
m o d era d o ras d a Suprem a Corte, arg ü in d o -a d e tendências hostis ao espírito
d a legislação m ais recente. A verdade, p o ré m , é que os atos d o grande trib u n al
respondem com vantagem a esses desabafos de u m so frim en to ’’^ aliás natural.
Longe de se m o strar reacionária, a S uprem a C orte, no s Estados U nidos, se
tem havido com firm eza e consistência em sustentar as leis estaduais de caráter
progressivo.
De 1887a 1911,período em que se m ultiplicaram , n a legislação econômica
e social daquele país, as medidas mais adiantadas, algumas de tipo radical, não
m enos de 560 decisões proferiu sobre esses assuntos a Suprem a Corte; e apenas
em três, inclusive o caso Lochnter v. New York, concernente à limitação do trabalho
diário nas padarias a nove horas, averbou de inconstitucionalidade esses atos.'®'
N u m livro que acaba de publicar,'®^ W illiam Taft, o ex-presidente dos
Estados Unidos, m ostra o espírito de progresso, que tem desenvolvido a Suprem a
Corte, conciliando as garantias constitucionais que resguardam o direito de
propriedade, o direito dos contratos e a liberdade do trabalho, com as m udanças
operadas, em nossos dias, nas relações comerciais e nas condições sociais. Sem
v ariar d a C onstituição, n em a esquecer, o g ran d e trib u n al tem conseguido
h arm o n izar a sua jurisprudência, através de todas as dificuldades, que essa
evolução dificílima lhe opõe, com os sentim entos contem porâneos d a nação,
co m a consciência atual do país.
o Im parcia l registra “e x tre m a d a ”.
O Im parcia l registra “in s o fritn e n to ”.
Cf, W A R R EN , C harles. " T h e progressiveness o f th e U n ite d States S u p re m e C ourt". Sep. d a C olum bia Law
Review. W a s h in g to n : m a io 1913, p. 4. [N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a pela n o ta 27 d a ed iç ã o d e 1985.]
Cf. W A RR EN , C harles. Loc. cit., p. 3-4. [N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a p o r esta edição.]
'" T A F T , W illia m H o w ard . The a n ti-tru s t act a n d the S u prem e Court. N e w York: H a r p e r & B ro th e rs. 1914,133
p. [N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a pe la n o ta 29 da ed iç ão d e 1985.)

222 #àm
V o liin ií.' I ( ) IO A I5 n.t P r in u M ia K t - p ú l i l i i d

Se a heresia antijudiciária, afagando as paixões populares, acabasse ali por


levar de a rra n c a d a o senso ju ríd ico e o b o m -sen so am e rican o , co m essa
transform ação, m ais que radicalíssima, n a substância m oral do regím en, é o
p ró p rio gênio daquelas instituições que se veria m o rrer n ão m enos que com o
m o rre a liberdade co n stitucio n al n o u tras dem ocracias, q u a n d o as nações,
deseducando-se da boa disciplina que as tem criado e engrandecido, ro m p em
com as suas tradições tutelares.
A questão com que o ra nos defrontam os, dizia, o an o atrasado, na Escola
de D ireito de Yale‘” , u m a voz autorizada, a questão que o ra tem os frente a
frente, é se havemos de ab an d o n ar os nossos antigos ideais. C o n tin u am o s a ser
u m governo da lei, m inistrado pelos tribunais, o u irem os converter-nos em um
governo de agitadores desinsofridos, que apenas to leram leis e trib u n ais,
en quanto os tribunais e a lei estão de acordo com as veleidades populares da
ocasião? Graves questões são estas, que interessam a raiz m esm o do nosso sistema
de governo.""'
E co m o lhes re sp o n d e o tin o po lítico d a n aç ão am erican a? F ian d o
in teiram en te de si m esm a a resistência e o triu n fo co n tra esses indícios de u m
m al, que a sua vitalidade elim in ará sem abalos n o vigor d o organism o. “A
nossa república anglo-saxônia”, raciocinam ali os m elhores espíritos, sem pre
se prezou de senso co m u m , que an im a o nosso povo, sem pre se desvaneceu
de que as teorias extrem adas não nos encantam , de que n ã o nos enfeitiçam os
de frases n em caím os em cham arizes de palavreado. A índole con servad o ra
do nosso povo já se to rn a proverbial, e o nosso foro tem sido a força guiad o ra
que preserva as aspirações populares de se esgarrarem , seduzidas p o r ídolos
estranhos.'*^
C om esse tem peram en to de u m a raça caldeada em séculos de jurism o, se
m e consentis de cu n h ar o vocábulo, e com as luzes dessa cultura jurídica, em
que nos Estados U nidos, com a classe dos advogados, brilha a m ag istratura
am ericana, m ais os seus professores, os seus escritores, a florescência exuberante
das suas universidades, co m todos esses elem entos se constitui u m a base de
estabilidade, onde as agitações do radicalismo socialista en co n tram o necessário
quebra-m ar.

A U n iv e rsidade d e Yale, f u n d a d a e m 1701, fica n a cida de d e N e w H av en , C o n n e c tic u t, e é c o n sid e ra d a u m a


das m e lh o re s d o s E stado s U n id o s e d o m u n d o .
H O R N B L O W E R , W illiam B. The independence o f the Judiciary, the safeguard o f free institutions. W ash in gton :
G o v e rn m e n t P r in tin g Office, 1913, p. 4, [N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a p e la n o ta 30 da e d iç ão d e 1985.)
Idem , ibidem . [N o ta d e RB.]

•Al 223
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Os am ericanos sentem que “a civilização consiste em subm eter as vontades


da m aioria aos direitos da m inoria. Os ideais de que se n u tre a civilização
consolidaram -se à força de lento, desvelado e penoso labutar.”'*^ A lim entado
nessa educação, aquele povo, nas classes onde reside o seu elem ento vital, não
se ilude qu an to à natureza desorganizadora das aventuras revolucionárias, que
se lhe reservariam na reação contra a justiça. Ele não a quer substituir pela
violência, pela d itad ura das multidões, pelos im previstos de u m a dem ocracia
sem freios.
De q u an d o em q uando, observa o escritor que acabam os de ouvir,de
q u an d o em q u an d o nos sentim os cham ados a arcar com u m a explosão de
paixões prim itivas, sob as formas da Lei de Lynch.'®’ O espírito da Lei de Lynch
ta n to se p o d e m anifestar em aco m etim en to s c o n tra in d iv íd u o s co m o em
investidas aos tribunais. Os nossos maiores, neste país, traçaram salvaguardas
aos direitos da m inoria contra os im pulsos transitórios da m aioria, im pondo
restrições constitucionais à au toridade legislativa. E, co m o dever, que lhe
in c u m b e , a s s im de p re c is a r, c o m o de p ô r p o r o b r a essas lim ita ç õ e s
constitucionais, recusando execução às leis viciosas p o r inconstitucionalidade,
o Poder Judiciário veio a ser, para esses direitos fundam entais d a m i n o r i a , a
proteção e a defesa.‘*^
D escum prida essa missão, dia virá, em que a força ocupe o lugar do direito,
e ao governo do povo todo por todo o povo, e para todo o povo suceda o governo
absoiuto de u m a simples m aioria d o eleitorado em benefício exclusivo dessa
m aioria mesm a. Nesse dia terá expirado o governo d a lei e da ordem .
Mas, esse dia não temos receio que chegue, tem os fé que não chegará,
certeza tem os que não pode chegar, preservada com o se acha a nação am ericana
de tam anha, tão imensa, tão infinita calam idade pelo instinto jurídico, do seu
tem p eram en to e pelo caráter jurídico da sua cultura.
Se, porém , tal calam idade se pudesse verificar, o que nela se abism aria não
eram só os destinos do regím en federativo: era a p ró p ria so rte do governo
presidencial. Um Estado constituído p o r u m a união indissolúvel de estados.

Idem , ibidem . |N o ta d e RB.]


A Lei d e Lynch (ver índice o n o m á stico -b io g rá fic o a o fim d e ste v o lu m e ) deve s e u n o m e a u m juiz da
Virgínia (E.U.A.)> d o século XVII. C onsistia e m ju lg ar, c o n d e n a r e e x e c u ta r s u m a r ia m e n te , d u r a n te a
sessão, os c rim in o s o s a p a n h a d o s e m flagrante delito. [N o ta 33 d a ed ição d e 1985.]
Assim em O Imparcial-, o q u e está d c a c o r d o c o m o original. A R evista do S u p rem o Tribun al Federal registra
“m a io ria ” N a o b ra cita da está; fu n d a m e n t a l rights o f the m in o r ity ”. [N o ta 34 da e d iç ão d e 1985.)
H O R N B L O W E R , W illiam B. O b ra cit., p. 4. [N o ta de RB.)
Id e m , ibidem , p . 15. |N o ta de RB.|

224 •A B
V o lu m e 5 (.) l O A l ^ n .i I’ r i m c i r a R c [ ) ú ! ) l i c a

com o é a Federação» não pode m an ter a com unhão estabelecida entre estes,
sem u m grande conciliador judiciário, um tribunal, que lhes dirim a os conflitos.
O presidencialism o, p o r sua vez, não tendo, com o não tem , os freios e
contrapesos do governo parlam entar, viria a d ar na m ais trem en d a form a do
ab so lu tism o , n o a b s o lu tis m o tu m u ltu á rio e irre sp o n sá v e l das m aio rias
legislativas, das m ultidões anônim as e das m áquinas eleitorais, se os direitos
suprem os do indivíduo e d a sociedade, subtraídos pela C onstituição ao alcance
de agitações efêm eras, n ã o tivessem n a ju stiç a o asilo de u m sa n tu á rio
impenetrável.
Os que, no Brasil, resolvem os de não entregar esta b an d eira, os que
determ inam os de a sustentar contra tudo, os que n ão tem em os de errar, com
ela ab raçado s, os q u e esp e ram o s de a ver d o m in a n d o , afm al, a p o lítica
repubhcana, os que ju ram o s de a servir com toda a constância de um a convicção
quase religiosa, temos, para no-la alim entar e retemperar, a lição não desm entida
n u n ca em to d a a experiência hum an a, de que, em todas as espécies de governo
compatíveis com a nossa condição livre de hom ens, a necessidade fundam ental
está em o por u m sólido refreadoiro ao uso excessivo e caprichoso do poder.
“M eio único e só.” ‘^*
Ora, o meio único e só, até hoje descoberto, com o qual o povo pode op o r
a si m esm o esses freios, são os tribunais de justiça, criados p ara m ed ir a justiça
aos fracos e indefesos, assim com o aos fortes e poderosos, co m ân im o igual,
honesto e destemido.
C o m ‘^^ estas verdades certas e sem engano teçam os empreiteiros do serviço
oíicial os argum entos do costume. N ão serão, sequer, desses a que aludia o grande
pregador, “argum entos de grande boato, antes de se lhe to m a r o peso”.'^'* São
argum entos, cujo ressoar de ocos não dá nem m esm o para boato. O dia que
com eles no s em baraçássem os teríam os d esap ren d id o o q u e sabem os das
prim eiras letras em m atéria constitucional.
Mas, a ju stiça não po d e ser esse dique sério, que se q u e r às exorbitâncias
do s o u tro s dois poderes, às suas correrias n o te rritó rio d a in v iolabilidade
assegurado pela carta d o reg ím en , aos direitos nela d eclarad o s, se esses dois
o Im parcial n ã o re g istra esse p a rá g ra fo .
iJi Alfred P. TJie Judicial Power a n á the p o w er o f Congress in its relation to the U nited States Courts.
W ashing to n; m a r. 1912, p. 16. |N o ta d e RB, c o m p le m e n ta d a pela n o ta 37 da e d iç ão d e 1985.)
O im pa rcial registra “C o n t r a ”
O “gra n d e p r e g a d o r” é o P a d re A n tô n io Vieira. A citação, lig eiram ente alterad a p o r Rui, e n c o n tra -s e na
te rceira p a rte d o S e rm ã o d a P rim e ira D o m in g a d o A dvento: “a r g u m e n to v e rd a d e ira m e n te d e g ra n d e
b o a to , an te s d e se lh e to m a r o p e so ”.

225
_____________ Historiada.
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

p o d eres se n ão co n sid erarem n a obrigação m ais estrita de ceder e recuar


ante a ju stiça, q u a n d o p ro m u lg ad as as suas su p rem as sentenças. Aqui não
h á m eio -term o . O u tu d o, o u nad a. O u a tal se n ã o ach am ad strito s esses
dois poderes; e en tão u m e o u tro são so b eran o s n a discrição de se excederem.
O u , se o lim ite dos seus excessos reside eficazm ente n a ju stiça, as sentenças
finais desta im p õ em -se in in frin g iv elm en te aos o u tro s dois pod eres.
Da essência d a posição do Suprem o Tribunal Federal entre as dem ais
instituições am ericanas é, p ortanto, que esse tribunal seja o juiz suprem o e
irrecorrível da sua competência, assim como das dos outros poderes do Estado.’’^
Q u a n d o ele se pronuncia, a sua decisão constitui, definitivam ente, lei,*^'^ é a
m ais alta lei do país, highest law o f the e não se po d e revogar senão
m ediante reform a da Constituição.’’®
A outra doutrina, a que pretendesse conciliar com a missão, confiada à justiça,
de arbitra suprema nas questões de constitucionalidade, o jus, reservado ao governo
e ao Congresso, de se não submeterem aos seus julgados, nessas controvérsias, essa
doutrina atribuiria àquele sobre quem se outorga a jurisdição, privativa, o direito
de anular a competência daquele, a quem a jurisdição foi privativamente outorgada.
Contradição nos termos. Absurdo palpável. Inversão manifesta. Disparate rematado.
Nessas matérias os outros poderes julgam unicamente t m primeira instância}'^
Q uando o Governo ou o Congresso praticam u m ato, é que o reputam constitucional,
e, praticando-o, lhe conhecem, até aí, da constitucionalidade. Mas, em intervindo
na espécie o julgador supremo, se o seu julgamento nega a constitucionalidade a
esse ato, cessou a lide, e a autoridade neste ponto sujeita a recurso, cede à outra, de
cuja decisão nenhum recurso pode haver. A segunda instância reforma as decisões
da primeira. Esta, seja o presidente da República, seja o Congresso Nacional, não
pode, constitucionalmente, resistir ao julgado supremo.
O Supremo Tribunal, logo, sendo o juiz supremo e sem apelo n a questão de
saber se qualquer dos outros dois poderes excedeu à sua competência, é o último juiz,
0 juiz sem recurso, na questão de saber se é, ou não, político o caso controverso.
Porque a segunda questão outra coisa não vem a ser que a primeira. Políticos se chamam

Cf. W ATSON. David K. The Constitution o f the United States: its history, ap plication a n d c o n struction . Chicago;
C allaghan, 1910, v. 2, p. 1.183,1.190 e 1.192. [N ota d e RB, c o m p le m e n tad a p e la n o ta 38 d a edição d e 1985.)
Cf. M Ü N S T E R B E R G , H u go . O b r a d t . . p. 106. (N o ta de RB.]
Idem , ibidem , p. 110. (N o ta d e RB.[
Idem , ibidem . (N o ta de RB.]
Cf. BONDY, William. The separation o f Governmental Powers in history, in theory, a n d in the Constitutions. New
York: C olum bia College, 1896, v. 5, n° 2, p. 62; GARNER, James W ilford. Introduaion to political science. New
York: A merican Book. 1910, p. 596, JNota d e RB, com plem entada p e la no ta 42 da ediçào d e 1985.]

226 •41
V o I lIIIK ' ,i ( ) K ) / \ | - 5 rui I ' l iiiHMi',) l \ c p u i ) l i ( ,)

OSassuntos privativos à competência do Executivo ou do Congresso. Portanto, se da


competência do Executivo e do Congresso o árbitro final é o tribunal supremo, na
questão de ser político, ou não, o ato discutido o tribunal supremo é o árbitro final.
N em , a tal respeito, não há dúvidas nos Estados Unidos. O direito, que no
Brasil agora se pretende avocar ao Congresso Nacional (e, até, ao Governo), de
rejeitar, com o invasores^°° d a sua autoridade, sentenças do Suprem o Tribunal
Federal, im p o rtaria em elevar o Congresso Nacional a juiz definitivo dos seus
pró p rio s poderes. É o que existia nos Estados U nidos antes da C onstituição,
u m de cujos objetos foi justam ente rem ediar a esse estado anárq u ico de coisas,
d ando ao Poder Judiciário a situação arbitrai, que passou a o cu p ar entre os
outros dois poderes.^°‘ É o que existe em todas as constituições européias. A
C onstituição dos Estados U nidos transferiu (e esta é a sua feição capital),
transferiu essa atribuição do Congresso para a C orte Suprem a. ^
Se o presidente da República o u o Congresso Nacional pudessem recusar
ex ecu ção às se n te n ç a s d o S u p re m o T rib u n a l F ed eral, p elas c o n s id e ra r
inconstitucionais, ter-se-iam , destarte, constituído em instâncias revisoras dos
atos daquela justiça.^°^ Toda a vez que o Poder Executivo, seja qual for o motivo
alegado, negue obediência a u m a decisão judicial definitiva, incorrerá em quebra
formal da C onstituição, e, po rtan to , n a mais grave^^ das responsabilidades.^®^
“N ão h á nada, realm ente, m ais artificial”, diz u m respeitável au to r m oderno,
“do que a distinção entre questões políticas e jurídicas. Q uestões políticas há
(acabam os de o ver, falando n a interpretação dos tratados), que são questões
j u r í d i c a s . P o l í t i c o fora da presença da justiça, u m litígio p o d e assum ir o
caráter de judiciário, assum indo a form a regular de u m a ação/°^
o Im parcial registra “inv a so ra ”. O c o rre to , na realidad e, seria “ in vaso ras”, c o n c o r d a n d o c o m “sen te n ç a s”.
Cf. ELLIOTT, C harles B. “ T h e Legislatures a n d th e C o u rts ; T h e p o w e r to declare S tatutes u n c o n s titu tio n a l”.
Political Science Quarterly, N ew York: G in n , 1890, v. 5, p. 225-226. [N o ta d e RB, c o m p le m e n ta d a pela
n o ta 43 d a edição d e 1985.)
™ Cf. W ILLO U GH B Y , Westel W o o d b u ry . The constitutional law o f the U nited States. N ew York: Baker, Voorhis,
1910, v. 1, p. 2 e 4; NOAILLES, D ue de. C ent ans de R epublique a u x Êtats-U nis. Paris: C a lm a n n Levy,
1899, v. 2, p. 145. [N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a pela n o ta 44 da ed iç ã o d e 1985.|
2" Cf. BONDY, W illiam . O b r a cit„ p. 66. [N o ta de RB.)
Assim e m O Im parcial, o q u e n o s p a re ce a fo rm a c orreta. A Revista do S u p rem o Tribu nal Federal registra
“m ais g r a n d e ”.
Cf. BONDY, W illiam . O b r a cit., p. 67-68. [N o ta de RB.j
C U R T IU S, M . F. D onker. "C assatio n et arb itrag e.” Revue de D ro it In ternation al e t de Législation Comparée.
Bruxelles: 2 “ série, t. 12, a n o 42, 1910, p. 34. (N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a p e la n o t a 47 d a e d iç ã o de
1985,1 ( O g r i f o é d e RB.)
Cf. R A N D O L P H , C a r m a n F. The law a n d policy o f annexation. N ew York: L o n g m an s; G re e n , 1901, p. 105;
G U IT T E A U , W illiam Backus. G ov ern m en t a n d politics in the U n ited States. B o sto n ; N ew York; C hicago:
H o u g h to n M ifflin, 1911, p. 220. [N o ta de RB, co m p le m e n ta d a pe la n o ta 48 d a e d iç ão d e 1985.]

•ál 227
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il
]
O efeito d a interferência da justiça, m uitas vezes, não consiste senão etn
transformar, pelo aspecto com que se apresenta o caso, u m a questão po/ífica em
questão jwíí/ciíí/.
Mas a atribuição de declarar inconstitucionais os atos da legislatura envolve,
inevitavelmente, a justiça federal em questões políticas.^*^® É, indubitavelmente,
u m poder, até certa altura, político, exercido sob as formas judiciais. Q uando a
pendência toca a direitos individuais, a justiça não se pode abster de julgar, ainda
que a hipótese entenda^*" com os interesses políticos de mais elevada m o n ta /"
P a ra v e r q u e e s ta fu n ç ã o , p e lo m e n o s n o T rib u n a l S u p re m o , é,
substancialm ente e às vezes em inentem ente, política, basta refletir que política,
no m ais alto grau, é a fixação das relações constitucionais entre a U nião e os
estados, e, todavia, ao Suprem o Tribunal é que toca estabelecê-la/'^ Políticas
vêm a ser, indubitavelm ente, as questões suscitadas sobre o direito a cargos
políticos. E, não obstante, da com petência da justiça federal n a decisão de tais
controvérsias, ainda m esm o quando o título discutido seja o de governador de
estado, não m in g u am de todo arestos, n a jurisprudência am ericana.
Toda a história dos Estados Unidos, em sum a, está cheia da ação política
d a Suprem a C orte, ação exercida, é certo, sob a reserva severa das form as
judiciais, m as nem p o r isto m enos política, assim n a sua substância, com o nos
seus resultados. Esta ação, d o m in an d o a política m ed ian te a interpretação
constitucional q uanto aos direitos da União^'^ e aos dos estados, tem pendido
ora para estes, ora para aqueles, favorecendo, em certas épocas, a expansão da
autoridade nacional, e estreitando, n outros períodos, essa autoridade.
C em vezes já se tem dito que casos políticos, n o sentido em que se utiliza
esta qualificação, para excluir a ingerência d a justiça, vêm a ser os que o são
exclusivamente, e têm caráter de absolutam ente discricionários.^'’*
Cf. BEARD, Charles A . Am erican governm ent andpolitics. N ew York: M acm illan, 1915, p. 310 e 314; GARNER,
Jam es W ilford. O b r a cit., p. 606. [N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a pe la n o ta 49 da e d iç ão d e 1985.]
Cf. V /ILLO U G H BY . V/este! W oo d b u ry . O b r a cit., v. 2. p. 1.009 e 1.011; W A TSO N . D avid K. O b r a c i t , p.
1.097. IN o ta d e RB, c o m p le m e n ta d a pela no ta 50 da ed iç ão d e 1985.)
Rui B arbo sa aí e m p re g a o v erb o “e n te n d e r” n a acepção d e "c o n te n d er, altercar".
Cf. Cases a rgued a n d decided in the S u p rem e C o urt o f the U nited States. Jam es E. Boyd, Plffs. in Err. v. T h e
State o f N e b raska, ex eel. Jo hn M. Thayer, N ew York: Law yer’s E dition , 1901. Livro 36, v, 143 U.S., ref.
135-186, p. 103-118; W illiam S. Taylor a n d Jo h n M arshall. Plfss. in Err., v. J. C. B eckam , Dft. in Err. New
York: Law yer’s E ditio n, 1900. Livro 44, v. 178 U. S. ref. 548-610, p. 1.187-1.213; B A LD W IN , Sim eon.
O b r a cit., p. 48-49. [N o ta de RB, co m p le m e n ta d a pela n o ta 51 d a ed iç ã o d e 1985.)
A ssim e m O Im parcial, o q u e nos p a re ce a fo r m a m ais a d e q u a d a . A R evista do S u p rem o Tribunal Federal
registra “restabeJecê-Ja".
O Im pa rcial registra “d o m in a n d o a po lítica q u a n to aos dire ito s d a U n iã o ”.
Cf. BONDY, W illiam . O b r a cit., p. 62. [N o ta de RB.)

228
V o lu m e 3 O i O A B na P rin x 'ii\T K c p ú l ) l i( n

Mas, ainda no aplicar deste critério, sob qualquer das duas form as em que
ele se enuncia, convém proceder com o m aior tento; porque u m a e outra, quando
não utilizadas com a devida atenção, nos podem equivocar sobre as verdadeiras
divisas, que estrem am o territó rio político do judicial.
Emergências haverá, e tem havido, na América do Norte, em que a Suprem a
C orte se tenha visto obrigada a conhecer de questões meramente políticas. Em
tal caso estão as de duplicatas de governos estaduais/'^ M as p o r quê? Porque
na espécie em litígio se suscita controvérsia acerca de um direito precisamente
definido na lei.
Q u an d o tal discussão, com efeito, surgir entre particulares n u m litígio
travado sobre a subsistência legal de contratos, que se houverem celebrado sob
as leis de u m desses governos/"^ lícito n ão é ao T rib u n al abster-se de se
p ro n u n ciar sobre u m a questão, que ele evitaria com o política, se debaixo de
o utro p o n to de vista ali se suscitasse.
P o r outro lado, ainda em relação ao exercício de funções discricionárias
p o d e caber a interferência judicial, ensinam os m estres d a ju risp ru d ên c ia
a m e ric a n a , se d elas ''a b u sa r clara e g ro sseira m en te” o p o d e r, a q u e m
c o m p e t i r e m . Dar-se-á essa hipótese, quando, por exemplo, a pretexto, em nom e
o u so b a co r de exercer atrib u içõ e s tais, o G o v ern o o u o C o n g resso as
ultrapassarem , p erp etran d o atos, que, evidentem ente, nelas não caibam.
A in d a q u a n d o se tra te de p o d e re s to ta lm en te discricionários, o de
q u e n ã o c o n h e c e m os trib u n a is , é do m odo co m o tais p o d e re s , u m a vez
ex isten tes, são ex ercid o s, n as raias q u e lhes tra ç o u a eles a lei. M as da
alçad a in c o n te s tá v e l d o s tr ib u n a is será entenderem ^'® n a m atéria , p ara
e x a m in a r d u a s q u e s tõ e s , se fo re m le v a n ta d a s: a d a e x is tê n c ia desses
p o d e re s e a d a su a ex ten são , c o m p a ra d a co m o ato c o n tro v e rs o . Se a
a u t o r i d a d e in vo c a u m a a tr ib u iç ã o in e x is te n te , ou e x o r b ita d e u m a
e x i s t e n t e , e m b o r a d is c ric io n á ria d e n tro d o s seus lim ite s , n ã o p o d e a
ju s tiç a re c u s a r o s o c o rro legal ao d ire ito , d o in d iv íd u o o u d o E stad o ,
q u e p a r a ela apelar.

Cf. JAMES. E d m u n d I, “ Bryce’s ‘A m e ric a n C o m m o n w e a lth ’" T h e A n n a ls o f th e A m e r ic a n A c a d e m y o f P o litic a l


a n d S o c ia l S cie n c e .
Philad elph ia: ja n ./ju n . 1896, v. 7, p. 395-398. [N o ta d e RB, c o m p le m e n ta d a pela n o ta
53 da e d iç ão de 1985.)
Em Ü I m p a r c i a l está: "gêneros". [N ota d a ed iç ão d e 1985.|
Cf. BONDY, W illiam . O b r a c it.,p . 126-127. [N ota d e RB. ]
Ver n o ta 17 a e ste texto.
Assim e m O I m p a r c ia l, o q u e p referim o s, p o r n o s pare ce r a fo rm a c o rre ta . A R e v is ta d o S u p r e m o T r ib u n a l
F e d e r a l traz: “ invoca u m a a trib u iç ã o ex isten te ”.

•àt 229
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Assim é que, em bora se haja p o r inteiram ente política e absolutam ente


discricionária, nos órgãos da soberania nacional a quem pertence, a declaração
do estado de sítio, se os atos de execução excederem a m edida constitucional ou
legal, legítima será e indenegável a interposição da justiça, já q u an to à restituição
do direito extorquido, já quanto à reparação do d an o causado.
O au to r que, mais recentemente e m ais e x p r o f e s s o , ventilou esta matéria,
tão obscurecida, no Brasil, pelas subtilezas e chicanas dos sofistas políticos, é o
que m ais luz derram a n o assunto; e as fórmulas, a que chegou, são, a m eu ver,
claras e term inantes.
‘‘N ão há'\ diz ele não há exceção ou exclusão contra os casos, que apresentem
questões de natureza política, ou envolvam atos oficiais dos ramos políticos do
governo. Q u a n d o q u er que se im p u g n are m m edidas políticas, legislativas,
executivas o u adm inistrativas, n u m pleito legal, com o causa próxim a de um a
lesão d onde resulte dano, alegando-se que tais m edidas não são autorizadas
p elas leis d o país, o u as tra n s g rid e m , esses atos se t o r n a m su jeito s ao
conhecim ento da justiça; entendendo-se que, o u em anem d o presidente, ou
pro v en h am dos seus subordinados, o u sejam d iretam ente autorizados pelo
Congresso, investido está o tribunal de jurisdição, para, n a lide pendente, de
direito ou eqüidade, caso ela envolva esses atos, q u anto à sua constitucionaHdade,
investigar e decidir se são válidos, o u nulos. O essencial, para existir a jurisdição,
é, unicam ente, que u m a pessoa idônea com o autora no pleito haja sido lesada
ou prejudicada p o r certo e determ inado ato oficial, o u do Governo, e com ele se
averigúe ter-se contravindo à Constituição.^^'
“O critério”, pois, continua lum inosam ente este expositor: o critério não
consiste em ser a questão de natureza política, ou não política, mas em ser susceptível
de se propor sob a form a de um a ação em juízo. [...] A conclusão geral, p ortanto,
podê-la-em os enunciar nestes termos: as questões^^^ políticas vêm a cair sob a
com petência do Poder Judicial, toda a vez que envolverem a questão de se o ato,
que se discute, d o Poder Executivo o u Legislativo, infringe, o u não infringe
preceito da Constituição.^^^
Mas, com o quer que seja, e seja como for, senhores, o que não tem dúvida
nenhum a, é que, ante as disposições constitucionais cujo texto faz do Supremo

T rad u z in d o ; “co m v e rd a d eiro c o n h e c im e n to d e causa, m a g is tra lm e n te ”.


C O U N T R Y M A N , E dw in. T h e S u prem e C ourt o f the U nited States. A lbany: M ath e w B ender, 1913, p. 191-
192. (N o ta de RB, c o m p le m e n ta d a pela n o ta 57 da ed iç ão d e 1985.] (G rifo s de RB.)
^ O Im parcial registra “lides".
C O U N T R Y M A N , Edw in. O b r a cit., p. 192. [N o ta d e RB.) (G rifo de RB.)

230 mAB
V o lu m e I ( ) I ( ) / \ I 5 n ,i P i i m i ' i r a l \ ( ’| ) ú l ) l Í L a

Tribunal Federal o juízo de últim a instância, nos pleitos onde se argüirem de


inconstitucionalidade atos presidenciais ou legislativos, esse tribunal é, o árbitro
final dessas questões; esse tribunal é, em tais questões, o juiz exclusivo da sua
competência mesma, esse tribunal não pode estar sujeito, nos seus membros, à
responsabilidade crim inal p o r decisões proferidas n o exercício de semelhante
autoridade; esse tribunal, nas sentenças que em nom e desta autoridade pronunciar,
tem o mais absoluto direito a vê-las acatadas e observadas pelos outros dois poderes.
Nestas n o rm a s está em essência o m elho r de to d o o nosso regím en.
Desconhecidas elas, a República Federativa m udaria com pletam ente de natureza.
Em todos os regim ens livres, os poderes políticos têm freios e contrapesos à sua
v o n t a d e , i n c l i n a d a sem pre a tran sp o r as barreiras legais. Sob o governo de
gabinete, esses freios e co n trap eso s estão q u an to ao P o d er Executivo, na
responsabilidade ministerial, e, q uanto às câm aras legislativas, na dissolução
do parlam ento. C om o governo presidencial, onde não existe n em o apelo das
m aiorias parlam entares para a nação, nem a responsabilidade parlam en tar dos
m inistros, a garantia da ordem constitucional, do equilíbrio constitucional, da
liberdade constitucional, está nesse tem plo da justiça, nesse inviolável sacrário
da lei, onde a consciência jurídica do país tem a sua sede suprem a, o seu refúgio
inacessível, a sua expressão final.
O cu lto deste p rin cíp io so b eran o é, para nó s o u tro s, u m a religião, e
deve ter altares n esta casa, altares o n d e o sen tim en to p u ro do n o sso d ireito
n a c io n a l se acrisole, n o estu d o e n o d esin teresse, p a r a contam inar^^^ o
trab a lh o s u b te rrâ n e o das am bições, que a p o lítica arreg im en ta, solicita em
acab ar com to d o s os estorvos à tran sfo rm ação do governo ab so lu to d a lei,
org an izad o pela C o n stituição, n o governo abso lu to dos cabeças de partid o s,
an elad o pelas facções.
Permiti, senhores, a u m crente dessa velha fé abandonada, a u m a alm a cujas
derradeiras esperanças na sorte deste regímen se vão rapidam ente desvanecendo
um a a um a, permiti-lhe volver os olhos para esses horizontes, onde os constituintes
de 1890 víamos desenhado o futuro das nossas instituições, e reivindicar-lhes a
h onra contra os aventureiros, que invadiram estas sagradas paragens da idéia
republicana com as malocas da sua selvageria e as feiras da sua ciganagem.
Term inando, só m e resta suplicar-vos m e perdoeis a liberdade qu e tom ei,
de h o n ra r o ato da m in h a posse, o cupando-o com este exame, desalinhado e

0 Im p a rc ia l re gistra “à vontade".
Em O Im p arcial está: " c o n tra m in a r”. [N ota 59 da edição d e 1 9 8 5 . ) ___________

231
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

im perfeito, da m aior das nossas instituições constitucionais, sua m agnitude,


suas prerrogativas, seus benefícios incomparáveis.
Se essas considerações, a que a tristeza destes dias miseráveis, de luto,
desalento e angústia m e não consentiu im prim ir form a, dar m étodo, com unicar
algum valor, tornando-as dignas deste auditório, espertarem as vossas reflexões,
obtiverem o concurso do vosso assentimento, estimularem, entre os hábeis, entre
os m oços, en tre os honestos, o sentim ento do atentado, que se projeta contra o
regím en, contra a pátria e co n tra a hum anidade nessa reação contra a justiça,
desenvolvida, nos atos recentes do nosso Governo, lado a lado com a reação
contra a publicidade, contra a im prensa, contra os direitos da palavra, terei
ganho o m eu dia, m eus colegas, m eus senhores, n u m salário m aio r que toda a
m in h a valia, toda a m in ha esperança, todo o resto da m in h a vida.

232 m àB
V o iu n ic j O lO A B na P rin tc ira K e p ú h lic .i

ANEXO IV
Estatutos do Instituto dos Advogados

233
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

R e v is t a d o In s t it u t o d o s A dvogados B r a s il e ir o s

(Edição fac-similar da Revista do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, ano I e II,
1862,1863) A n o XI, 1977, n ü m h r o esp e cial.

234 9àM
V o lu m e 3 O lO A B n a P rim e ir a R e p ú b lic a

A Tiso M T M â M m n

àFPftOTANDO 06 IStAtVTO» W> U ntTVTO M » MVOCAM»


BRASILlIlOt.

Sua Magostade o Imperador, defaria do benignim m te m


que lhe representarão diversos «dvog«do6 d’asUfdrto» m#md#
pela wcretaría de Estado dos Regoeíos da JoA ça, approval
os estatutos do ImtitiU o do* Aáoogadot Branleirott qoe oa
sapplicantas fizeram subir á sua Augusta Prweoça, e qoecnB
esta b aiiio assignados pelo Goiuelbeiro Offictal-maior da mea-
ma Se^etaria de Estado ; com a clausula porém de que t&A
também submettido é Imperial a^profação o regulamento b
teroo, de que tratão Ofi rebndea estatqtoe.

Palack) do Rio de Jaseiro, em 7 de agosto de 1849.

Honorio Hermeto Carneiro Uão.


_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

b m a t v y m

»0

IIISTITDTO m âlVMANS IIA»IIII08

Art. f.* fl«rer< oa capiul do Império om luftittito oon o


A u k —lagüMo do6 àdvog«do6 BrasUairoe—» do qoai serio
membros todos os Badureás fornoados em Dire Ao qoe se m t-
trícubrem dentro do pn so marcado no regimento intéroo,
onde i§o«hMQte se deteraúnariô o oomero e qualificações dos
membroe efféetitos, honorários, e supranumeranos residentes
na Cdrte e nas Províncias.
Art. 3.* 0 fim do lostitoto é organiur a ordem dos adto>
gados» em f^v eito f e n l da scioDcia da jun^^rodsDÒa
Art. 3.* 0 Instituto W á um presidente e um conselho com­
posto de doze membros, cbamado—Gooselho Director do Ins-
A u to —, efeitos todos dentre os membros effwtíros, pof
escrutínio secreto, á pluralidade dos votos presentes. Havendo
empate nas deliberações do Conselho Director, terá sempre o
presidente um voto de qualidade.
Art. 4.* Haverá, além disso, um thesourwro e om secw
tario, dM^os da mesma tõrroí. Os cargos de presidente, mem­
bros do Coosdho e thesoureiro dararáõ dous annos, o de
secretario quatro annos.
Art. 5 .” 0 Institato será sempre regweseotado em todos os
seus actes pelo seu presidente ; na (alta ou impedimento deste,
occupará o seu lugar o advogado mais antigo d entre os mem­
bros etfoctivos presentes; assim como na ialta ou impedimento
do secretario, servirá o mais moderno.
Art. f.* 0 r%ulamento interno marcará o numero neces­
sário dos m e r presentes para baver sessão do Instituto.

236 «A t
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

4rt. 7 * C*da membrn coooorrerá rreniir^nirnin tom m«m -


tribuiçto de dous mil réts.
Art. 8.* Os preseoies ettatfrtot poáanb ter rmnwtMtn,
approvada i pn^K>sU da emenda em uma mmIo, e vaoeida
em (Hitra, sempre por doos terçoa dos vo#o# pnaeniet, Íe«pdo
todavia ctepeodento da approYaçfto do goteroQ.

Secretaria de Estado doa Wegeqos da Jurtiyy em ? de>gwüo


de 1843.

João C am airo d# Campo».

•Al 237
_____________ História da.
O rd e m dos A d w g a d o s d o B ra s il

p m â U i N t5 n i A i o n 1844

*MKOV»MDO 0 REGOIBinO IRTU tllO M> IHSTITOTO.

IImkU s . N. o Imperador paU Mcratoria de estado


foeios da o regimeott) interoo do InstiUito
dos 4dvog»dos Brasileiros desta oôrte, que este acompanha,
eonhaido sais lita lx oom ctneoeoU e seis artigos, escn|Mos
em s« s meias tíh e s de papal, que v#o ruM cadas pelo oon-
âettwiro offlcial-maíor da mesma secretsrii de EsUdo.

Palack) do Rio de Janeiro, em 1$ de Maio de 1844.

Manoel Aíve» branco.

238
Volume 3 O lOAB na Primeira República

REG M EN TO ESTERN O
M

in rm iT irro

DM

ADVOGADOS BRASIUmOS
TITULO 1

DA MATKICJLk I QOAMO.

Artigo 1.* Haferá um hvioouffieredoarabríeadopelopra*


^QDte do Instituto, d o qoal serio mmtncuWog os mdvogmdog
que, sendo ckW ãos brasileiros e oondeeoraflos eom os gjréos
acadêmicos, prAtenderem ser membros eActxvos do fosti-
tQtO-
Ari. 2.* Estas matrículas serto lançadas no livro já rei»-
rido, por termo escripto pelo secretuio do Institoto, e por
este assignado juntamente oom o presideote 9 matríeabdo»
sendo no mesmo termo inserido o theor da oonpeleole eaila
de formatura.
Art. 3.* A antiguidade dos advogados eflectÍTos será regu­
lada pela prioridade da matricula, sô ooca as Atenções e
modificações expressas neste r«gimatto.
Art. 4.* No acto da matricula e aiHes de asagnar o brm o
de que trata o art. Ê", prestará o advogado, membro ettsctívo,
o seguinte juramento sobre os Kvang^bos, qoe 0 prai-
dente, fazendo-se disso no termo expressa m e n f i o J w v a a r
ti constituiçáot ao Im perador. « ao* díverm do ■
m alm o.

•à » 239
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— l i —

Art. 5.* So priocipío de cada anno do lostituto, íormar-»ê-


h# 0 quadro dos advogados matriculados no indicado livro,
guardadas as alterações que t i v e r a occorrido.
Art. 6.* Este quadro, depois de orgaoisado pelo Qoaselbo
director, será impresso e collocado nas salas de audiência dos
tríbuoaes d esta cArle, na secretaria de estado dos negocios da
justiça, e oode m ak convier, concwrendo o Instituto com as
despezas para isso neoessartas.
Art. 7.* Os advogados inscriplos nfeste quadro, organisado
pek) conselho director, forroaráõ o InstiUito dos Advogados
nesta cdrte.
Art. 8.* Nesta primeira organisavío do quadro, poderáõser
membros eíTectivos os advc^ados que, acbando-se nas circums-
taocias do art. 1* do presente regimento, estiverem em effec-
tivo exercício de advocacia, qualquer que seja o tempo de
pratica, comtanto que se matriculem no praso de 60 dias,
contados da approvaçáo deste re^m ento.
Art. 9.* Podem ser membros honorários do Instituto : 1*.
os advogados das províncias propostos e approvados na fórma
do art. 1 1 : 2*, os jurisconsultos nadonaes e estrangeiros que
n&) exercerem < advocacia, que o Instituto julgar dignos,
propostos e approvados na fórma dita. Sio porém membros
bouoraríos natos os effectivos que deixarem de o ser por mo­
tivo que lhes nfto seja deshonroso.
Art. 10. Serio membros supranumeraríos os advogados
mendooados no art. 8*, que de futuro se inscreverem, na
krm a deste ro la m e n to , e que não tiverem dous annos de
pratica no foro. A sua inscríp{Ío com a dos membros hcmo-
rarios, será fdta em livro separado, porém numerado e ru­
bricado na forma do art. 1*.
Art. f t . A proposta para admissão de qualquer advogado

240 9Á B
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

— 1» -

deverá ser feita por escripto, e assigntda por tres membn»


do conselho director: a votação será na coolereocia imme-
diata do mesmo conselho por escrutioio secr«to, teodo o c m -
além dos requisitos do art. l* do presente regimeoto,
probidade, conhecimentos profissionaes e bons costumes.
Art. i2 . Approvado que seja o candidato, se fôr eSectÍTo
dará de joia a quantia de 2 0 9 réis ; feitu isto, será apresentado
pelo conselho director á assembléa geral do Instituto, onde,
prestado o juram ento do art. 4*, e assignado o termo de ma
tricula, tomará o assento que lhe omnpetir.
Art. 13. Nas capitaes das províncias cm que houver R e­
lações, podoráõ erigir-se Institutos fíliaes, e lhes serio intei­
ramente appiicaveis as disposições dos primeiros onze artigos
deste titulo.
Artigo transítorio. N esta primeira matricula dos advogados
já em exercicio, regular-se ha a antiguidade pela prioridade
de suas formaturas.

TÍTULO IL

DOS DIREITOS E OBftlGAÇÒES DOS MEMBROS DO INSTITUTO.

Art. ik . Os direitos dos matriculados no livro do Instituto


como membros, s à o ;
§ !.• Propor, por escripto, nas confcrencias do conselho
director, qualquer duvida de direito ou de praxe.
S 2 * Apresentar, tambem por escripto, ao mesmo conse­
lho uu á assembléa geral do Instituto as medidas q u e j u l ^
vantajosas.
§ 3 . ’ Defender-sü livremente, perante o conselho director,
'ie qualquer accusaçào que ahi lhe seja feita por algum dos
TOei. liros do Instituto.

•àl 241
_____________ Históaa da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

§ 4 .* #0 mesmo « n ü ilb o de qwlquer iosblto


ou iajvria» qoe )be teob» feito &%am cdieg* uo «ierdcio de
offido.
sM i n o b r e
$ 5.* T«r • pr«oedlencM que lhe competir, Qafwma<f«Bte
regimento.
g 6 Requisitar do lostitato soceorros de beoefiomeía,
quando venhio a cabir em desgraça. E caso morra n'este
estado de desgraça» á sua viuva e filhos legítimos ineooree
poderá o Instituto faxer extensivo este mesmo dtreito.
5 7." Ler, em qualquer seesio ou conferencia, memórias
OQ quaesquer obras suas de jurispradenda.
g 8.* .Seis ou m ais sdvc^ados do quadro poderáó requerer
ao ciMselho director, (o qual. neste caso» nâo poderá recusar}
que o presidente coavoqne a assembléa gera! dos membros do
[nstiUito, para tratar negocio que julguem conveniente.
Art. 15. Aquelie <]Ufi faltar a tresocm fem dassuccessiras,
sem participação ou sem causa l^ilim a* será condemdado
« dar para a livraria do Instituto uma obra de Jurisprudência
que D elia n Ío exista, sendo a <*ra de sua eleição.
S 1 .* Em caso de reincidencía, será oondemnado a compor
uma memória sobre qualquer questão jurídica, i sua escolha,
par» a livraria do Instituto.
^ 9 / Se as faltas continuarem até ao numero de vinte sue-
cesaivamente. será riscado por um a dous annos.
Art. 16. Taobem será expulso o que se recusar a satisfi­
zer as multas declaradas no artigo antecedente; mas poderá
aer readmittido, logo que as satisfaça, e pague todas as men­
salidades vencidas.
Art. 17. Será lambem expulso do quadro aquelie que a lo
qoRflr satisfazer as penas que lhe forem impostas, e bem
m*#ün aqoeUe que por espaço de seis mezes tiver deixado de

242 •Al
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

pAgtjr as meosalídades: um a ootro fiesrM rebabílitedM, sa>


tisfoiendo as peo*g que lh« tiverem sido ímpwtmg, # a» mcA-
selidedes que deverem.
Art. 18 São também c^rigadoe todos os membras «fieeti'
yos do Instituto:
§ 1 .* 4 exercer a p n ^ * á o de mdvogmdo a m b o m , cm>
lídade e aptidão.
$*2.* A cultivar 0 estudo da jurisprodaicia, quaotoestírer
em ú para cumprir com a dignidade do seu nobre oflMb.
§ 3.* A abster-se de injurias e insultos aos seus colkgas
na defesa das cansas.
§ A uáo referir factos da vida privada d o s seos arti­
culados. salvo quando isso for necessário á d^esa da eaosa,
tendo tatòrmaçáo da parte por escripto.
S 5." A cumprir com as ordens emanadas do oooseího di­
rector, e observar os regulamentos do Instituto.
Art. 19. Apresentando-se queixa contra qoalqoer membro
eftectivo ou supranumerario do Instituto, será rem ettkk i
commissõo de disciplina, a qual. eiam inando-a, &rá o sen
relatorio, no qual declarará: 1% se o crime é oorreoeiooa],
ou se, pelo coolrario, envolve pena de expulsio tempwanm
ou perpetua : 'í*, se procede a queixa.
Art. 20. 0 parecer da commissão será discutido em sessão
secreta ; e se for approvado, concluindo que procede • queixa,
será esta m viada ao advogado accusado para responder, decla­
rando se quer apresentar a sua defesa por escripto, ou com­
parecer e defender-se oralmente.
$ Unico. A votação no processo será por escniUnio secreto:
para isso se distribuiráõ aos membros presentes cartões coro
w letras—A—C.
Art. a i . Nos crimes oorreccionaes a decisão probridm peto

243
_____________ História d&
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— - 16 —

conselho director, depois de ouvido o indiciado, é deânitiva


e se deve ter como senlença final. Nos outros casos, a deci-
sàn do conselho será tida sómenle como pronuncia, pertencendo
o julgamento final á assembléa geral do institute.

TITULO III.

DA DIKEOÇA'1 o u GOVRRNO INTIIRNO DO INSTITUTO.

Art. 22. 0 Instituto será regido por um conselho director,


composto do presidente, secretario e thesoureiro, e de mais
doze membros effectivos.
Art. 23. Ao presidente compete ;
§ 1.* Representar o Instituto, todas as vezes que este ti­
ver de enunciar-se collectivamente.
$ 2.* Presidir ds sessões, tanto geraes como do conselho
director; abrir e fechar estas, e n’ellas manter a ordem.
$ 3.* Conceder a palavra aos que a pedirem competente­
mente, e negal-a no caso contrario.
§ 4.* Fazer observar nas sessões o presente regimento, e
dirigir os trabalhos.
§ T}.* Designar as matérias que se hão de discutir, estabe­
lecer os pontos sobre que deve recahir a votação, e annun-
ciar 0 resultado d'esta.
§ 6.* Marcar os dias e as horas das sessões.
$ 7." Convocar o Instituto para as sessões ordinaries o e i-
traordinarias que julgar convenientes, ou forem devidamente
requeridas, na forma do art. 14 ^ 8.
§ 8." Assignar as actas com o secretario.
Ari. 24. Ao secretario do Instituto com;»ete :
§ 1 .* Fazer as actas das sessões e toda a correspondencia
do Instituto.

244
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

17 -

s 4.* U r « mesmsa actas na usifto segninto para se n e i


approtadas, e quaesquer oflkaos ou conuniiiiicaçdes dirigidas
ao Inslituto. ou ao conselho dii^ctor.
§ 3 * Fazer a chamada e apoutaras Éaüai, dedarandose
com causa participada ou sem ella.
§ 4," Propor os empregados necessários para a escriptora-
çlo a seu cargo
S 5.* Fazer registrar ludo o que for de officio do Ins­
tituto.
Art, 25. Ao tbesoureiro do Instituto compete :
S 1.“ Guardar o cofre do Instituto e cobrar as joias, as
mensalidades, as multas devidas e as- cfxitríbuições extraordi-
narias, assim como receber quaesquer doo^ÜTos feitos #o
Instituto.
S 2. Fazer ínveotario da mobília e mais objectos parten-
centes ao Instituto, e tudo guardar a bom recado.
S 3." Fazer as despezas ordenadas pelo conselho director
e pela commissio permanente respectiva.
§ 4 / Apresentar, na sessão da assembléa geral do Instituto
de Agosto, as suas contas desse anno decorrido.
Art, 36. Ao conselho director compete :
§ 1 ." Convocar a assembléa geral do Instituto, quando o
nào faça o presidente nos casos em qua o deveria ter feito.
§ 2 . ’ Determinar qualquer presUçío extraordinaria, de­
pendendo esta da approvaçâo da assemblôa geral do Insütuto.
tí podendo fazel-a effective interinamente, sendo o cmso ur­
gente, a seu juiío.
S 3 .' Promover, pelos meios ao seu alcance, o estudo da
jurisprudência.
S t / Observar e fazer observar os esUtutos e rtú n e o to do
Instituto.
3

•àl 245
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 18 —

$ 5.* Manter os princípios de probidade, m oderaç^ e de-


licadexa no exeràcio do nobre officio de advogado, jd ínsi*
nuando, já corrigindo, na forma dos arls. 16 o 17.
$ 6.* AuUrisar as despesas proposlas pela comroissèo per-
rnaneote respectiva.
§ 7." Rewganisar anDualoiente o quadro do lostitulo, para
ser presente na sessáo g en l de 7 de Setembro.
S 8.* Nomear as cooimissões que julgar convenientes, as
quaes serão tiradas dos membros effectivos do Instituto, per-
tençáo ou D Ío ao cons^ho.
§ 9.* Approvar c admittir os emprtíg&dos necessários ao
serviço do Instituto.
Art. 27. Haverá quatro commissOes permanentes, a saber:
primeira, de estatutos e regimento, para manter a guarda d‘es-
tes, e propor as alterações que a experieocia mostrar convir ;
segunda, de fundos, para propor as despezas necessárias e
fazer os empregos ; tCTCcira, de jurisprudenda, para faier as
propostas que julgar uteis ao Instituto n'este ramo, inclusive
acquisiçâo de livros para a livraria do m esm o; quarta, de
disciplina, para receber as queixas ou reclamações de que
trata este regimento, e promover a effectividade e oxecuçio de
tudo 0 que no mesmo regimento é disciplinar, dando seu pa­
recer a respeito preriamente i deliberação do conselho di­
rector.
Estas commissões serão tiradas dos doze advogados effoc-
tivos que fórmão o conselho director, o de tres membros cada
uma, eleitos pelo mesmo conselho á pluralidade relativa, na
primeira sessão depois de 7 de Setembro.

246 •Al
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— 19 —

TITULO IV.

DAS SESSÕES E DISCUSSÕES.

Art. 28. Haverá sessões geraes de todo o lostiliUoe pirtí-


culares do conselho director: tanto umas como outras podefli
ser ordioarias e extraordiaarías.
Art. 39. As sessões geraes ordínarias seràooo dia 7 de Se­
tembro, em que começará o anno do Instituto e d’oode co-
meçaráõ a exercer seus novos empregos os que forem eleitos,
u nü ultimo domingo de Agosto, para se proceder ás eleições,
que tiverem do fazer-se, serem apresentadas as contas do a n n n
decwrido pelo thesoureiro,nomear-sc a commissáo para as rever
e dar seu parecer, e apresentar-se o orçamento de receita e
despeza para o anno futuro. As extraordinarias terão lugar
quando o presidente as convocar, ou, na falta d este, o con­
selho director, noi casos em que por este regimento devenio
ser convocadas
Art. 30. As sessões ordioarias do conselho director terão
lugar uma vez caiJ^t semana ; as extraorcUnarias todas as vezes
que 0 mesmo conselho assim deliberar, ou o presidente as
determinar.
Art. 31. A s sessões geraes, tanto ordioarias como extraor-
diuarias são obrigauos a concorrer todos os membros eflectiTos
e supranum erariüs; tambem poderáõ assistir os membros ho­
norários. so quizerem usar desse direito; todos poderáõ dis­
cutir as matérias ; mas votar só os effectiros.
.\rt. 32. A’s sessões do conselho director são obrigados
â concorrer sómente os membros do mesmo conselho; mas
jKMicip assistir quaesquer outros membros, sem comtudo eo-
trarem na discussio.
Art. 33. As sessõos geraes podem fater-se com qualquer

247
_____________ História d&
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

D u m ero d e m e m b ro s que c o m p a r e ç t o ; as d o c o n s d ib o d i r e c t o r ,
presentes c in c o m e m b n x , in c lu s iv e o p r e s i d e n t e .
e s te iH io
Art. 34. Nas discussões, nenham membro poderá foliar
mais de duas vezes sobre cada objecto, salvo sendo relator de
commissâo, cujo parecer se discuta,ou o membro que tiver fei­
to i proposta em discussio, os quaes poderáõ ter a paiarra
naais uma vez. Todos porém pódem obter uma vez a palavra
para alguma explicação.
Fias questões de ordem ninguém poderá foliar mais de uma
vez.
Art. 35. Os membros do instituto, tendo obtido a paiavra
do presidente, follaráò de pé e podei o-hão fozer sentados por
enfermidade.
Art. 36. Todas as vezes que por tres membros for pedido
ao presidente que consulte se a questão está sufificientemenle
discutida, assim o deverá fazer ; e o que for resolvido se exe­
cutará.
Art. 37. Nas sessões geracs do Instituto, o presidente não
votará senão havendo empato, em cujo caso terá voto.
Art. 38. OuerMi.lo o presidente tomar parlo na discussáo
deixará a cadeira a quem competir, e nào a tornará a occupar
senáo depois de votada a inateria em cuja discussão tiver en­
trado.
TITULO V.

ÜOS FUNDOS DO IN S T IT IK ».

Art. 39 Os fundos do Instituto compoem-so de joias, nion-


salidades, contribuições exlrnordinarias, u das multas de que
traia este regimento, e bem assim dos olijecíos comprados com
essas quantias, e do quaesquer donativos.
Art. 40. A commissáo permanente de fundos faráoorça-

248 9Ál
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— 2i -

meiito da despezi e receita do lu titu to ptra o »nn<>


quô apresentará oa sessão geral do ulüoau fLwxwnpn de AgMle,
depois de approvado pelo ooowlho dúveior.
Art. 4 1 . Pela mesma coronússio serio propoitt» ao con­
selho director todas as despexas oecessarias, e feilo ogm pwgo,
depois de approvadas pelo mesmo cooselbo; rifn rm
prego, exigirá a commissio a quaatia respectiva dothaKMmir
ro do Instituto.
Art. 42. Quando haja fundos em caixa que poasioser «nK
pregados em compras de apólices da divida pobüca hndada»
poderá a assembléa geral do Tostitato dar-lhes en e destioo.

TITULO VI.

DISPOSIÇÕES GEKAES.

Art, 43. As prestações ou contribuições extraordioarias s6


poderáò ter lugar por motivo de bcD^oencU ou por interesse
üa sciencia ; sõ poderiõ ser propostas pek) eoDsettkO director em
scssáo geral, e aht approvadas por dous terços dos membrw
eflectivos presentes.
Art. 44. Na sessão geral de 7 de SeteaUm, reoiUTéo pre­
sidente um discurso de abertura do anno do losUtuto; (A o isto»
dará posse aos novos eleitos, quaudo os haja.
Art. 45. Faltando ou estando impedido algum membro de
qualquer commissáo permanente, o presuleote nomeará q i m
0 substitua. '
Art. 46. Feita qualquer proposta oo conselho director, po­
derá cutrar logo em discussão, se assim parecer ao preskleote.
«Hás fícará para quando e ^ designar ; se £Ar pogrom é asM n -
bléa geral do Instituto, Koará para se tratar p r in ir o n o o n *

249
_____________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

selbo dbecior.qae s levará coro o sen parecer i primeira sescèu


gera) do Insütuto.
Art. 47. Não havera sessões desde 15 de decembro até 15
de março, nem nas férias da Ressorreiçioe do Espíríto-Santo.
A rt Não serão admíttidas propostas algumas sobre re-
Ugiào ou sobre a poltlica do estado, e nem aas discussões será
pennttüdo produzir oa agitar questões sobro esses doos (*je-
ctos. Esta disposição porém não exclue as memórias, ou outras
obras scieotifícas oíTerecidas ao Instituto.
Art. &9. Só ao Instituto, em sessões geraes, compete de-
termioar os casos e quantias para beneficencta o modo de seu
emprego.
Art. 50. Morrendo algum membro effectiro do Instituto, o
presidente nomeará uma deputação para assisür ao seu fune­
ral, e recitará o seu elogio fúnebre o membro que se ofiarecer
para tributar este oQjcio de amizade : aliás nomeará o presiden­
te qnem o faça. Sempre essa recitação será em assembtéa geral
do Instituto.
Art. 51 Se algum membro, chamado é ordem pelo presiden­
te primeira e segunda vez, não obedecer, consultará este a as*
sembléa geral ou o conselho director (segundo fõr a sessão) se
convêm fazpl-o sahir da sala da sessão, e o que for resolvido
á pluralidade se executará.
Ari. 52. Faltando qualquer membro do conselho director
por impedimento que não seja temporário, convocar-se-ha a
assembléa geral do Instituto para eleger quem o substitua até
ás novas eleições
Art. 53. Haverá uma commissào permanente de onze mem­
bros tirados dos etfectivos do Instituto, encarregada da redac-
«;ão de uma publicaQãu {>erii)dica que sabiráá luz uma vez em
todos os mezes.

250 •AB
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~ 23 —

Art. 54. Nénhum membro êffoclÍTo poderá eectw irde


servir o lugar ou na comroisio para que for nomeado» salvo por
causa justa, approvada pela assembléa geral do !nstítuto, ou
pelo oooselho director, conforme for a eicíçfto.
0 nome do membro ^ue recusar servir sem causa justifica­
da, na fórm&dila, será lançado na acta,{ázeado-$emeoçio de
todo 0 acontecido.
Art. M . Poderáõ ser reeleitos os qoe servirem ao tempo
das eleiçõss ; mas, nerte caso, ser-lhes-ha livre acoeitar, ecaso
nào acceitem, proceder-se-ha a eleger outros em seu lugar.
Art. 56. Logo que se estabeleça algum Institnto fifial de
advogados, na fõrma no artigo 13, deverá o mesmo oiganiiar
0 seu regimento interno, e envial>o aesteluslitatopnodpol,
a Sm de obter lbe a approvaçSo do govwno, se o achar em de­
vida fórma.
Está coQforme.

Rio de Janeiro, 3 de Maio de 1844.

Jotíno do N w cirntiU o S iio a .

Tem este re^m eoto interno seis tilalos, ciooowta e seis ar


tigos, além dos seus respectivos paragrapbos.

Secretaria de estado dos n ^ o cics da justiça, em 15 de Maio


(1(> i8 4 4 .

Joào C n n m ro de. Çompo*.

#à# 251
_____________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

252 9á I
V o lu m e 3 O lO A B n a P rim e ir a R e p ú b lic a

A C T o s DO p o r i s n e x e c i t ( v o . (fgi
D E C I Í E K ) iV, 7830 — m 2 8 d e s e tk m b r o o e í8 8 0 .

An>ioya os esuiulos do I,ntlu> h> do.í Advo^^ados Br.-.íilehas.

S llIS Ü S
s a m m w :

Com a rubrica de Sua Mag:csladoo Imperador,

y Pinto <ie Souza Dantas,

Estatutos do Instituto dos Advogados


Brasileiros '
C A P IT U L O I

DA O R f i À H l Z i ç X o E l^ I M R O ir < S T lT Ü T O
3?

* ? 'f advogados

•Al 253
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

59á A G IO S D O P O D E R E X E C O T IV O .

I A posse coasíste na ieelarsçSo, em sessSo, deôel/nâate


cumprir ooni os- estatutos.
Egta declarflçfio pódo ser feita por piocaraifao especial con-
feriria a um dos membros effectives.
§ 3.0 A proposta de admissão, com a memória ou mouogra-'
plim e com os documentos qaa a instroirfim, é remetlidaj
a respectiva commissão de direito, para (lar parecer sobre o
mercoimenlo do trabalho e a coaveniencia da admissão íb
candidato, sendo o parecer votado na sessão da assembléa
geral immndiatnmente seguinte á sua apresentação.
8 4 “ Approvadâ a admissão, A logo communicad* ao
membro eleito, 0 nual é ao mesmo )empo coavidado p a ra "
pagar a joia, afim âe vir sem demora tomar iwsse.

CAPITULO II

D O (J ü v r u n o do in ô T i t ü t o

Art. 3.® 0 poder deliberativo reside na assemble» geral";


0 executivo no conselho disciplinar.

SecçM I

Da ajsfmbíéa geral

A r t . 4 . “ T o d o s 08 n e g o c i o s s â o t r a t a d o s e r a assem bléa'
g eral, o re so lv id o s p o r p lu ra lid a d e de v o to s dos t n e m b r ^
p re sen te s, com oxeepçâo d a q u eííes o b jecto s c o m m e H i W a o
c o n s e i h o ’d i s c i p l i n a r .
ParagfHpbo uniflo. Compt*te-lhe : ,
1.® P r o m o v e r p o r to d o s o s m e i o s , j á p e l a s rlia c n s & e s o ra e s,
j á pe la i m p r e n s a , 0 o s t u d o d a j n r i a p r u d e u c i a e d ir e i t o em
g era i.
%.'> N o in t'n r o c o n s e l h o i l i s r i p l i n a r e q u a e s q u e r c o r a m i s :
d e c^ tracler e s p u c ia l.
N e n h u r a i n e m i t r o p ó d e e s c u s a r so d o s o r r i r o l o g a r ^
c o m m is s ã o p a r a q u e é n o m e a d o , s a l v o p o r J u s ta c a u ? a appro*,
r a d a pe la a ss e tiib íé a o u n o c a s o d ô r^^ íe iç S í).
3 . “ V o t a r a n n u a l m e Q t e , n o m e z d e N o v e m b r o , o o rg a m e
d a re c eita e despeza p a ra o a n n o s e g u in t e , do J a n e iro a L
zorabro.
4.® T o m a r c o n t a d a p e s t ã o e c o n o m ic » d o c o n s e l h o a i s c i ^
nar.
J u l g a r c o m o t r i b u n a l d e 1.* e 2.* i n s t a n w a .

254 •ái
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

' W I-ÜDEK iíx k u lt h o . 393

S c c rã ú I f

Do ftiiiselho disciplinar

lArt. i).« 0 conselho disciplinnr cojiipSesc : de um prcsi-


(liiiio, um secretario, um iliosourciro c lávogaes.
S i." Os vngaes constituem quatro commipsfiea •
A I.» de jurlsprudeiicin ou direito em eeral,
A 2.* de estatutos.
A 3.* de disciplina.
Á ^ d e fundos.
}ía.“ 0 1'uiiselhfl disciplinar ú eloito Jjieuiiaimente.
K 3.' ijompotc-llifi .
i / ’ Exüfcor a vigilância que a honra c os intoressijs dü
lii^iluio reclamarüin, representando e pedindo aos poderes
ci'iiipolcntfis as providencias e tiiedidas nae forem couvonien*
ii.'i ou nocessarias.
6." Formar cnlpa como juízo prcparntorio e julgar como
trijjuiuii de i . “ insianoia, nos casos o pelo modo nuc estes es-
tauiLos lítcscrevcrcm.
3. ' Arrecadar e. applicar o ronda ou receita do Insiliuto
l.» Organizar annualmente otjiindio do Instituto.
3 / Organizar biennalmenio o programina doa pontos do
jurisprudência para a mcmorta ou monographia dos candi­
datos á admissão ao gremio do íiistiluto.
u" Matricular, em livro especial rubricado pelo presidents,
kdits OS membros logo que tomem posso
■ Liar do sello symbolico.
Kxecaiar todas as deliberaçScs da assembléa geral.
"Olliciar nos assumptos relativo? ás respcelivas com-
mh
i't, 6." 0 presidente do eorsellio disciplinar é tamb ni da
mljlca íxeral e du Instituto.
I." Compete-lbo :
' Hopicsentar 0 loPtimto todas as vezes nuc toaha de
I lU^iciar-se coKectivanicntc.
Convocar sessões oxtraordinarias da assumliíj^a gcrjil
u.ut) conselho disciplinar, quando julgar conveniente uu
itlo iiovo niotnbros o requeiram.
Slarcar os dias « horas dai sessões, presidil-as c dii-j.
Pil-
Utisignay a ordem do dia.
As-signar a acta.
-V-mear quem snbstilua o funccionarlo ou incmhro de
Cl.itl
iiissao nos impedimentos temporários.
7 Nonioar os empregados,
8 i’. iibiicar os livros do lustituio.
Impedimento* q presidente é sub.siiiuido pelo
3 .,r uj! antigo d entre os mt^mliros presentes,-^egundo
da matricula.
I'. IbiJO

255
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

ACTOS 0 0 PODBH EXECUTIVO.

Ari. 7." 0 secretario do conselho o é taoibem da nssemijUn


geral e do Instiluio.
1 1." Compete-lho;
í . “ Fazer a acia, a corrcípondflncifl e o repistro dos paiiels*'^'.-
2.® Ler a acla o o cxpiídieiiie, e dar-lhe destmo. '
3.® Apontar as faltas dos que faUarem, declarando si cooi
raiisa motivada.
4 .“ GommuQicar p-jr escripto no conselho o numero
ctinspontiva.', sompre que- du seu numero possa provir i’
responsabilidade. -i
5.0 Escriptnrur lodo.s os livros do Instituiu. ^
§ 2 ." Nos 80US impedimentos o secretario é substituído peJo
membro presente mais moderno, segundo a ordem da maírl
cuia.
Neste casoj compete a este fazer a acta a dar destino au~i
expediente, até que cesse o impedimento do secrotario f.om
0 sou comparccimento ã sessão.
§3.® Sonipro. que o secretario, ou quem o substituir,
nSo comparecer á sessão, deve enviar a acta o o expedients. •
Art. 8,® Ao thpsonroiro compele: \
1.® Ter a seu cuidado o cofre do Instituto, procedendo á
arrecôdaçíío dA rem'ia votada o às despezas cempetentcmente
autorizadas.
2.0 Ter 30b sua guarda a bibliotheoac os moveis do Institute,
devidamente inventariados.
3.® Apresentar annualmente á assembiêa gersl, na i .* sess2o -
dc Outubro, o balando da receita e despeia, acompanhado de
todos os esclarecimentos, em fórtaa de relatorio. -
4.“ Commimicar por escripto ao cunsellio disciplinar o Qu*.
mero de mensalidades não pagas, sempre que possa provir ^
responsabilidade.

CAPITULO III

DAb SHSSUBS

Art. 9.® As scssõcs suo dc assembléa jj'oral e de conseílio


c ip lin a r ; aquellas tê m logar u m a v ez n a se m a n a , estas uniS;^,^»
vez no mez;um as e outras podem scr extraordinarias. f . , ; ' .
Piira^Ts^hü uniro. A assembléa geral e o c o n s e lh o disetiiH* -,. ^ ;^ .
nar funccionam com qualquer numero ; mas não ^ '
cerrara discussão si houver alguminseripto para rallor, "
votar, soja qual fòr o objecto, sem estarem presentes
membros, pelo menos, na assemhléa gera) c c in c o no
solho disciplinar. . _
Art. iO. Ila uni livro dc presença em queassignani o^ i •
comparecem, haja ou não sessão. Este livro sera
pelo presidente, o secretario lanc-a neste livro a dala oa
sião, e a declaração de ter ou uão liavido sessão.

256 •Al
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

• U a '0 3 DO l-ODEH u x m j T i v o .

b memhr.

° »M W dm

CAPITULO IV

DOS DIREITOS E OBlUGAÇUfiS

Secção l

Dos diroilos

‘iK'wios dos membros do Inslitiito são ;

Som Bi^
3," Ser votado :
% sA d !% ig % 5 % S ellõ

""
w: " " " """""^ ™ -
w 1» »^UTo
■^•" 1’rojior candidatos.

t..' ■■— •

257
______________ Histnria da
O rdem dos Advogados do Brasil

r
ACTOS do PODER EXECUTIVO.

h .” Apresentar duvidas ou questões de direito, ou praxo


uíi fórma anteriormente prescripta. <
5.° Ler qualquer memória, monograpliia, ou obra de jarls- "
prudência quo tenha escripio.
C." Quüixíir-se ao conselho disciplinar, de qualquer oíTensa^-ul
no exercício da proflssio ou nào, praticada por algum coU#m»c3(
7." Defender-se livremente de qualquer accusaçSo. ’' J v
8:" üsar do veslinienia tular nas fcs-tividados nocionacso^^
no exercício do sou niiuislerío, quer nos auditories, quer nos - j
iribunacs.

S rC {ã o I I

üas obrigaçSpa
t\s.
Art. 14. Ao membro do instituto cumpre :
1 .“ Exercer a proflssSo de advogado com honra, civilidade.
6 aplidào. . . , ....
2.° Cultivar o estudo da jurjsprudencia o direito e m :
Não referir actos da vida privada aos articulados
quaesfixier nrrazoados, salvo si o exigir o defeso da
depois de prévia informação escripio da parte. .
4.® Obe^cfir ãs deliberações da assembléa geral B n§ Qf’f ;
dens dü coiisellio disciplinar. -•
5." Observar rielmenio estes estatutos. ,...
O.» Satisfazer ;t joía do vinte mil réis anles da posso, assim
como a nionsalidade do dous mil réis desde quo entrft o®,
oxorciciü.

CAPITIXO V

1)A5 PE.VA8 K DO PROCESSO

Secfão l

Da? penas

Ari. IS. Os uiemljros do Instituto soo sujeitos ys


penas :
1.“ Multa.
2.® Advcrtcncia.
3.* Snsporisão por dous jnezcs.
4 .“ Canceilameni.0 . ,, .. ,.\y .
0 l." A mulla nSo podo tíX':edcr de vinte mil rtis.

258
V o lu m e 3 O lO A B n a P rim e ir a R e p ú b lic a

ACTOS 1)0 1 'O D E n n X R C C T t V r t . o97

0 mullíido, poréni, tem sempre o rfiroilo de preferirofTerlnr


;í livraj’ia do lustiliiio iiraa obra de jurisprudência iiue
iiclla iiíio exisia, ií sua «seollin ; on compor uma memória
íoltro a qiie«iuo juridicíi que o cousellio disciplinar dclcrmiiior.
S adverlentin consisle na demonsiração da faJta com-
Tm'iiici.), acompanhndft de fidmoeslação om termos nrbimos
1 g.» A suspensão é a privarão d;i*piiIovra e do voto du-
ian.f<* 0 t<5mpo da seniencn.
? í," Üconceílamenlo consiste em sor riscado da matricula
c do condemnado.
Al l. 16. lucurre em mnlin :
l / Q u e i n íaUar a Vres sessCes consccuU?as sem causa
motivada.
á." Quem doíxar de pagar as mensalidades por espaço de
irrs nioífis.

l\. v'.
3, ' Viicm iuíriujfir qualquer disposição destes estatutos.
Ari. Í7. Incorre cm advertencia :

' ÓÁ,
1.® Quem faltar a seis scssòfi.s consecutivas sem causa mo­
tivada, lenha embora sido multado na forma do n. i do
ari. Í6.
2.® Q u e m d e i x a r d e p a g a r as m e n s a l i d a d e s por espaço de
spis n ip z c s, p .m ho ra { i n t e r i o r m e n t e m u l t a d o .
3 ' Quem injuriar a quolqtior membro do Institulo.
Art. i8. Incorre em suspensão :
J.® Qaein faltar a nove sessòcs fion-seculiva<, sem causa
niniivaíla, embora anteriormente multado e advertido.
i." Quetu deix.ar dc pagar as mcnsaUdades por espaço de
iiove mezos, embora anteriormente multado e advertido.
As riiensalidade.s são devidas duronteo tempo da suspensão.
3.® Quem praticar alguma violência contra membro do
liulilato.
Ari. 19. Incorre em caneellomento:
L ” Qncm faltar a doze sessões consecutivas, som causa mo-
iivada, embora anteriormente muliacJo, advenido e suspenso.
z “ Qnem deixar de pagar as mensalidades por espaço
(lii doze mezes, embora anteriormente multado, advertido e
SUS{)fltl?0.
^1." Quom roincidii’ nas infrac(;ocs dc injuria e violência.
4. " Quem compromoti(?r, seja como fòr, n dignidade da
1'Volissau.
0 ." ^uem não dcsempenlior lioiicsiamente os deveres do
‘*'‘11 ministério.

Secfâo I I

Do processo c julgamenlo

^0- 0 processo é iniciado :


m..n 11 "^0'MinonicafSo do secretario, S(?mpro quu qualquer
fin,. faltar, sem cansa motivada, a tros, ?ei:«, nove ou
ü-jz.> sfSKoes consccinivns.

259
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Ac.rc^ T>n p o o E n E X E C u rr\* o .

A justiflcaçSo accitú illide a responsabilidáde dm toQas


faltas anteriores.
2.* Pur commuoicaçào do thesoureiro, sempre qu6
qner membro deixar de pagar as mnnsalidmies por
s{!i3, novb B dozü Inezes.
3.® Por q u eú a do o (fendido.
4." Por donancia do qualiiuar membro do conselho
ciplinar. .
A n . 2 i. Aprfíaentadfi n coramumcaçao do socroiario ou du‘ -
thesoureiro, a queixa ou denuncia, ao conselho diseiplitiar
é iinuiediatamftiiie rcmeltida, sem discussão olgnma, a coai-
loiíisão de diroiU) criminal, a quat, no maximo prazo de IS
dias, relatará o facto com todas as SUQS circntustancias, o
finalisará cora a< seguiuíe* conclnsões:
— Qual a infracção?
— Procodo a Qocasação ?
— Qual a penaa applicar?
Art. 22. Discutido 0 narüCfr no conselho disciplinar, com,,
prévio convite por escripto ao accnsado para apresentar sua
defesa, é votado por cscrntinio secrelo, cada concliisfin por Z
fua vez, lavrando imnjediatanienle o secretsrio a sentença,
que é assigiiada por todos os membros quo votaram.
Art. 23. Si 0 caso é de multa, a sentença do conselho dis­
ciplinar nào tem recurso algnm o 6 excculodo.
Art. 14. Si 0 caaoédo advertencia, cabe appellação^o- :,-
lontaria para a assembléa geral, noeflPftito dftvoliilivo srtmcntc.-
Art. 2f>. Si 0 caso ó de suspensão, cabo appellaçao ox*otll-
cio com eO'eito susponsivo.
Art. 2R. Si 0 caso c da cancdianionto, a decisão do conse<
lho disciplinar teih o eíTeilo de simples pronuncia, cabendo.
0 iulgamenlo h nssombh^ geral.
A n. 27. i\os casos dos arts. 24 e 25, reunida « usem W át
geral, é marcado ao accnsado o prazo improrogavel de 13.
para escrever sua defesa; esgotado o prazo, vota-so,
discussão, por escrutinfo secreto, a conflrmaçSo ou retormk .
da senteriva appellada.
Art. 28. No caso do art. 2<5, designado o dia para o Juigik
mento, para o qual é previamente convidado por cscfipw "
accussdo. procede-se á leitura do processo, são ouvidns as
partps, 6 voia-se por oscrutinlo secreto. ' . . •.
A sentença é immediatamcnte lavrada polo secretario
assignada pelo prosidento do Instituto.

CAPITULO VI

DISl'OSlgOKS fiKR.AES

Art, 2il. 0 Instituto celebra, todos


Seto[iibro, a sessSo soleinno commenioratiVfl
lação.

260 «41
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

A irro s DO PODBR KXECüTrVO. 599

p a n i g r a p h o unico. Nesta s e s s à o f a rá o e lo g io d o s m e m -
jjj'05 fíillecidos d u r a n t e o a n n o q u e m p e lo p r e s i d e n t e f ô r
nomeado. &
A r t . 30. Constando o fallecimonlo df= algum membro do
[pítiinto, deelara-se em acta que a notícia é recebida com
yez.'r.
Art. 31. 0 membro do Instituto que aceitar cargo ju d i­
ciário 00 administrativo do qualquer natureza, será conside­
rado membro eitraordinarlo.
\ o raso de renuncia, srt novamente proposto póde ser read-
miltido.
Art. NSo ha soasiio desde 15 de Dezembro até 15
io Fuvfneiro, e nem nas férias da Paschoa o do Espírito
3aiito.
Art. UJ. 0 Instituto publicará uma revista mensal. Em ins-
rnccSos espociacs marcará o pi-ogramma de sua pablicação
I w encargos da commissâo Incuraljida do sua redacçSo.
Art. 34. Kicam revogadas as dlsposiçSes em contrario.
Hio de Janeiro, 6 de Março do 1877.—Joaquim S a ld c n h a Ma-
ihiio, i^KSiáenle.—ÜT. Jose da Silva Costa, secretario.

DECRETO N. 7837 — dr 1.“ d e o u t u b u o de 1880.

I n o raiu b n tc a acvual s e «sio d a Asse rnlilèii ORral f.oginlaUva a té o d i a 9


d o c o rr o a t c m ei.

Hei por bem Proropar novamente a actual sesàSo da As-


semjjíéa Cerni Legislativa até o dia 9 do corrente mez.
(Olharão Homem de Mello, do Meu Conselho, Ministro o
^'••'oiario de Estado dos Negoeios do Império, assim o tenha
yi-nilidi) e faça executar. Palacio dü Rio de Janeiro om f."
T uuiiibro do Í880, 39.® da Independencia e do Império.

j Com ;i rubrica de Sua Magestade o Imperador.

I Barão HomemdeMello.

261
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

262
V o lu m e 3 O lO A B n a P rim e ir a R e p ú b lic a

— 233 —

Assembléa Geral

SESSXO O R D IN A niA .

Pretidúneia do Exm. Sr. Conselheiro Saldanha Marinho.

Aos 9 de Jun h o de 1883 pvesentes os mem­


bros effectivos constantes do livro de presença, c
aberta a sessão d’aRserabléa geral.
É lida e approvada a acta da sessSo anterior.
É presente um officio do Sp. Antonio Ferrei­
ra A ugusto informando que rem ette pelo correio
de Lisbôa um exem plar de suas publicações.
K apresentado pela commissão composta dos
Drs. Silva Costa, Busch V arella, e Leitüo da Cu­
n h a 0 seg u in te projecto de reforma d ’E s ta tu to s :

CAPITULO. T

DO I N ST I TU TO E S E U OBJECTO.

Art. 1.* 0 In stitu to dos Advogados Brazileiros,


definitivamente constituído em 7 de Agosto de 1843
c installado um mez depois nesta Côrte, é um a
associaçtío scientifica de Advogados brazileiros, g ra ­
duados em direito pelas faculdades nacionaes ou
estrangeiras.
§ 1.* Tem por o b jc c to :
i) 0 estudo do direito na sua historia, no seu

263
_____________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

— 234 —

mais amplo desenvolvimento, nas suas applicaçòes


praticas « comparação com os diversos ramos da
legislação estrangeira ;
s) A dofcsa dos réos desvalidos ;
s) A organisação da ordem dos Advogados bra-
zilciros.
§ 2.* E ’ illimitado o num ero de seus membros.
§ 3.“ E ' indefinido o tempo do suu duração.
Art. 2.® Seus meios de acção consistem n a
discussão :
I Em sessões, ,
II Em confcrencias,

I III N a imprensa.

CAPITULO II

DA DIRBCÇXO.

Art. 3.® A direcçSo do In stitu to é confiada a


um cons3Ího director, composto do presidente, se-
I cretario e thcsourciro, cujo m andato surá por dons
annoa.
§ Unico. Compete collectivam ente ao conselho
d ire c to r:
^ í) Organisar annualm ente o quadro do In s­
tituto ; ,
s) E xecutar as deliberações do In stitu to ;
3) Usar do scJlo symbolico (Portaria de 29 de
Jíaio de 1849) ;

264 «▲B
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

— 235 —

4) Prom uver o bem g eral do In stitu to ;


5} Pi-opòi* a eliminação do membro que o me­
recer ;
0) Redigir a Revista.
A rt. 4 .“ Ao presidente com p ete: ,
1) Representar o Instituto sempre que ten h a
do eniinciar-sô co llectiv am en te;
2) Presidh* as sessões do conscllio director o
do In stitu to d irig in d o -as;
3) Convocar os iri0m bf 0 > cfFectis'os para sessões
extraordinarias, quando lhe parecer conveniente on
o exibirem nove, pelo menos, desses m em bros;
4 j Djai^^nar os dias e horas das sessões, dan­
do a ordem do d i a ;
õj R ub ricar a a c t a ;
r>) N om ear em pregados c dcmitti\-os ;
7) R ubricar os livros do I n s titu to ;
s} Nomear commissõcs de úm ou mais mem­
bros para representarem o instituto ou para os
fiüs, que se prendam ao seu objecto.
§ Unico. Xos seus impcdimoatoa m omentâneos
ou de cu rta duraçSo, servirá interinam ente como
presidente o membro presente mais antigo ník or­
dem da m atricu la. *' •
A rt. õ.® Ao secretario co m p e te:
i) Fazer a - acta, a correspoudencia e registro
dos papeis do I n s titu to ;
s) Lòr em sess3o a ac ta o o expediente, dan­
do-lhe o devido destino ; ' ■ k

265
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 236 —

3) Visar as contas das dcspczas auto risad as;


4] Lançar a d ata diaria no livro tlc presenra
(art. 7.");
õ) Propôr 80 presidente em pregados auxiliarcs.
§ Unico. Nos impcdimenubs m omentâneos ou
de c u rta duraçSo do secretario, fim ccionará o mem­
bro mais moderno n a ordem d a m atricula.
A rt. 6.” Ao tliftsouroiro co m p e te :
1] Ter sob sua g uu rd a os bens do Instituto,
velando pelo angm cnto da bibliotheca ;
2) Apresentar na scssao geral de Novembro
de cada anno o balanço da receita c despeza do
In s titu to ;
s) A rrecadar' a receita do In stitu to e tudo
quanto concorrer para augm entar o seu patrim onio ;
4) Fazer a despeza devidamente legalisada.

0 A P i 'n j i . 0 III

DAS S E SS 0 E S .

A rt. 7.* 0 Instituto reunir-se-ha u m a vez pot


sem ana, assignando os membros presentes seus no­
mes no livro de presença.
§ I.* Poderá b a ver scssSo com qualquer n u ­
mero de membros effôotivoB.
§ 2.® Na sessão do mez de Novembro de cada
anno, que o presidente convocará ospccialmente para
a apresentação do balanço an n u al, é indispensável

266
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

— 237 —

0 concui-so da maioria dos mombros cffectivos; sc


110 dia aprazado nSo se reunir numero legal, po­
derão os membros reunidos em outra sessão, que
fòr annunciada previam ente pela imprensa, delibe­
ra r sobre as contas cxhibidas, seja qual fôr o n u ­
mero do membros presontoi?.
§ 3." A procedente providencia será observada
sempre que se tra ta r do assnmpto que e n te n ia com
a reforma de E statu to s e eleição do conselho di­
rector.
§ 4 / Xa sess3o g eral da tom ada de coutas
(art. 7.% § 2 .“) de cada biennio, terá lu g a r a elei­
ção do conselho director que houver de servir no
•bienuio seguinte.
§ 5.* N as sessões de que resam os 2." a 4.*
podem ser representados os membros effectives por
procuração especial, outorgada a pessoa que faça
parte do quadro.
Art. 8.“ As sessões serAo divididas em duas
p artes; u a primeira sc tra ta rá do assumptos mera­
mente ecouomicos do In s titu to ; u a segunda, da ma-
toria scientifica cm ordem do dia.
§ 1.® As discussões scientificas serão abertas
depois de impresso um relatorio, que fõr apresen­
tado pelo membro effeclivo que o presidente nomear
para ta l fim.
§ 2." C)s relatorios serão dirigidos dc modo a
proporcionar a que o In stituto possa votar com cla-
voy.a por conclusões.

267
_____________ História da
O rd e m dos Advogados d o B ra s il

— 238 —

§ 3." Não sevSo adm ittidas as questões quo pen-


devem dos tribunaes ou juizos.
§ 4.® 0 In stitu te nâo em ittirá juizo sobre pon­
tos de interesse privado, podendo responder ou opinar
nos assumpto"» que llie forem subm cttidos pelo Go­
verno.
§ 5." Todas as íudicações e proposUs s?rão feífas
por oscripto, datadas e assignndas.
A rt. 9.* 0 Instil-Aito, sob proposta do conselho
director, poderá fazer elim inar do quadro o mombro
que deixar de satisfazer por mais de 0 mezes os
encargos pecuniários, a que é obrigado, e o que
se afastar das leis da dignidade profissional.
^ Unico. P ara asiira proceder, o In stitu to fará
constar ao membro em falta os motivos da elimi­
nação proposta; e se dentrD de 15 dias n5o satis­
fizer 0 que dever á tbesourariu ou iiSo se justificar
dos factos arguidos — será eliminado do quadro,
cancellada a respectiva m atricula.
Art. 10. 0 In stitu t ) deixará do funcclonar do
L* dc Dezembro a 28 de F c/ereiro e nas ferifjs
forenses da Pascboa ô Espirito-santo de cada anno,
salvo caso extraordinario.
Art. 11. As deliberações do In stitu to serSo to ­
m adas pela maioria relativa dos socios presentes.

268 9A»
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

— 239 —

CAPITULO IV

DOS MRMBROS DO IX S T IT C T O .

Art. 12. Os membros do Instituto são effec­


tives ou correspondüntcs.
§ 1.“ .São effeclivos os advogados da Côrte que
fol'om approvados pelo In stitu to , m ediante a pro­
posta eiu um a ScJSs So e votação cm o u tra, cüiii
intcrvallo dc oito dias pelo menos c que estiverem
m atriculados.
§ 2.” A m atricula do membro effíictivo depende
-da posse 0 inscripção no quadro do In stitu to .
§ 3." A posse consiste no comparocimento do
membro effi^etivo na sala das sessões, e promessa
de bem cum prir com os seus devercs. \
§ 4.“ S lo correspoudeutes os graduados em di- /
reito, brazileiro.s on estrangeiros, residentes fóra da I
Còrtc, que por seus serviços ao In stitu to ou dis- I
tiucçSo pessoal estejam no caso de o serem. /
^ 5." 0 membro correspondente póde ser pro- I
posto por qualquer effective, com previa justificação \
da qualidade referida, só podendo ser adm ittido ;1. ' •<
votação do Instituto 15 dias depois de proposto.
A rt. 13. Os direitos dos membros effectives s ã o :
i) D iscutir e votar em todos os assumptos, su­
jeitos a deliberação em sessSo ;
V o tar e ser votado ;
3j Propor membros effectivos o correspondentes;

í
/
'I

269
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 240 ^

■ij Ventilai* questOes;


s) Lêr trabalhos jurídicos dc própria la v ra ;
6) Usai' de vestimenta ta la r nas solemnidados
a que hajam de comparecer e no exercício da
profissão (üecroto n. 393 de 23 de Novembro dc
1A44, art. 1) ;

7) Ter assento dentro dos cancollos dos tri-


bunaes (c it. Dccr. n. art. 2 0 ) ;
8j Fazer conferencias sobre assiimptos que en­
tendam com 0 objecto do In stitu to ;
9) Escrever para a Hfívisla do Instituto, diríg*indo
ao consellio director o escripto, o qual seja ou n3o
publicado, ficará nrclúvado ;
íoj Receber um exem plar da HeinMa, que so
publicar.
Art. 14. 0 membro cíFectivo é obrigado ;
í) A concorrer para a realisaç-ão dos fins do
In stitu to ;
2) Cum prir os estatutos e as deliberações do
•Instituto ;
3j C ontribuir com a joia de 20^000 e a men­
salidade de 2 ^000;
Acceitar os encargus qxie lhe forem com-
mettidos pelo Instituto ou por seu presidente.
§ Unico. 0 membro eífectivo que fôr proposto
n acceito poderá ficar remido, pagando 200^000
pnv miica contríbiiiySo : os que já fazem parte do
quadro por mais de 12 annos poderão remir-se

270
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

^ 241 — 1
I
pagando de u m a só vez SOifOOO, so estiverem quito;?
com a thesouraria. . \
A rt. 15. A interrupção da j«‘ofiss5o de advo- j
gado por incom patibilidade, suspende os direitos c '
obrigações do sooio effectivo.
Art. 16. Os membros correspondentes não estao
sujeitos a contribuioSo pecuuiaria uígumu, assistin-
do-lhes os direitos declarados nos ns. 4, 5, 8 e 9
do nrt. 13; e achandc-30 accidcntalm ente n a Côrte,
podcrsTo tom ar parte nas discussOos scientificas,

CAPITULO V

D A REVLSTA.

Art. 17. A Hevista será publicada sob o titu lo


— Revista do Instituto dos Advogados Brazilciros —■
c c o n te r á : doutrina, legisluçüo, jurisprudência,
actas do Institu to e boletim.
§ 1." Será publicada mensal ou anm ialm onte,
conforme entender o conselho director.
§ 2.* 0 conaelbo director provideuciarií, quuuto
á inserção de artigos, impressão e assignaturas da
Revitta.
§ 3.* Poderão ser publicados na Revista os tra ­
balhos que forem oíFerecidos ao In stitu to acquies-
ftndo seus autores.
§ 4.* O Instituto não resp;inde pelas dontriuas
expendidae n a flcfíVíH.
16

277
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 242 —

CAPITULO V I ,

DISPOSIÇÕES &E RA R S.

Art. 18. 0 Instituto poderá celebrar iio dia 7


dc .Setembro de cada anno um a sessSo solomue,
í:ommem,orativa de sua installação.
A rt. 19. 0 In stitu to poderá tcstom unliar em
iicta a significação de seus sentim entos em rcIaçao
a qualquer membro do Instituto.
Art. 20. Ficam de nem um cffeito as disposi­
ções em. contrario, prevalecendo como lei do Insti-
ruto a m ateria destes 20 artigos, para cuja exe-
onção immediata sorSo datados e assigiiados pelo
conselho director de que resa o art. 3."
Rio de Janeiro, 16 de Junho do 1883.—
Joaquim Saldwiha Marinho, Presidente.— Dr. José
(ia Silva Costa, Secretario.— L uiz Alvares, de Azevedo
Macedv, Thesoureiro.

Resolvcu-se quo fosse dado para ordem do dia,


fazendo-se publico pela im prensa; e levanta-se a
■stíssão.— Saldaiiha Marinho, Presidente. — ,Dr. SUva
Costa, Secretario.

272 9àM
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

— 243 —

Assembléa Geral

? ? F ,S S Ã O ORDINÁRIA.

Preêidencia do Exm. Sr. Contelheiro Saidanha Marinho.

Aos 16 do Ju n h o de 1883, presentes os mem­


bros effectives constantes do livro de presença, é
aberta a scssSo da assembléa g eral.
E ’ lida e approvada a acta da sessSo anterior.
Não havendo numero para d e lib era r é adiada
a discussão do projecto de refo rm a dos E statuto s,
rôRolvcndo-5je que sc faça nova convocação motivada,
em ordem a deliberar o Institu to com qualquer
numero.
Levanta-sc a sessão.— Saldanha Marinho, Presi­
d en te .— Dr. Silva Costa, Secretario.

Assembléa Geral

SESSÃO OBDINARIA.

Presidcncia do Exm. Sr, Conselheiro Saldanha Marinho^

Aos 30 de Junho dc 1883, presentes os Srs.


(Jonselhciro Saldanha Marinho, ü rs . Luiz Al vare?,

273
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 244 —

V arella, P au la Ramos e Silva Costa, é aberta a


se.isâo da assemhléa g eral.
E ’ lida e approvada a acta da sessão auterior.
!são presentes tres volumes brochados das An-
notarõcs do Codigo do Procesto Civil, por Antonio F er­
reira A ugusto Junior, e d a Secretaria da Camiiru
dos Srs. Deputados, Projeclo do Codigo Civil do Dr. Joa­
quim Felicio dos Santos, Relatório e Synopse dos t r a ­
balhos da mesraa cam ara o a Reforma do ensino
primário.
Posto em discussão o projecto © approvado d e­
pois de encerrada a discussfio; resolvendo o In sti­
tu to que fosso d’ora avante executado e observado
como iei do Instituto.
Levanta-se a sessão.— Saldanha Marinho, Presi­
d e n t e .— Dr. S ik a Costa, Secretario.

Assembléa Geral

SB fiS Ã O ORDINARIA.

Presidência do Exm. Sr. Conselheiro Saldanha Marinho.

Aos 21 de Julho de 1883, presientes os membros


assig n adoN no livro de presença, c ab erta a sessão.
K lida e approvada a acta da sessão anterior.

/
V

274 9AB
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

— 245 —

S ão presentes os Amiaes da C am ara dcs Sr?. Dc-


p ita d o s e uin cfficio do 6Vfííiío do Eslmlo de Covy-
tiba.
É proposto para socio eíFectivo o Sr. Dr. Her-
luoiicg’iido Alilitão do Alirioida. ‘
0 Dr. Silva Costa outeudo dever commuiiicai'
,10 In stitu to 0 resultado de pesquizas que fez para
voi-ificar 0 erro quo fiuppDo haver na redacção do
urt. n. 4 do Codigo do Commercio, que tra ­
tando do contracto de seguro m aritim e, diz:
Suscitando-so duvida so b ro ' a iatelli-
í^encia do a lg u m a ou algum as das condi-
c(5es e clausulas da apólice, a sua decia&o
será determ inada pelas regraii seguintes.

IV . Km caso de am bigüidade que oxija


interpretação, será esta feita fiegundo as
regras estabelecidas no art. 181.
No art. 181, porém o Codigo cstabelcco esto
preceito :
0 commissari:> ó rcjpoasavcT pela perda
on extravio do fundos de terceiros em di-
iilieiros, metae? preciosos ou brilhantes,
existentes cm seu poder, ainda mesmo que
0 damiio provenha ds caso fortuito ou força
m aior, S3 nflo provar que n a sua g u ard a
em pregou a diligencia que em casos seme­
lhantes em pregam os commerciantes acau­
telados.

275
_____________ História, da.
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

REGULAMENTO

DO

INSTITUTO DA ORDEM DOS ADVOGADOS


BRASILEIROS [1888]

CAPÍTULO I

Obs: não foi localizado nenhuma norm a legal aprovando


esse regulamento e o regimento interno que se segue.

DO INSTITUTO DA ORDEM DOS ADVOGADOS


BRASILEIROS E SEU OBJETO

Art. V O I nstituto da Ordem dos Advogados Brasileiros,


definitivamente costítuido em 7 de agosto de 1843 e instalado
um mês depois nesta Corte, é uma associação de advogados
legalmente graduados em direito.

1° Tem por objeto:

l) O estudo do direito, na sua história, no seu mais amplo


desenvolvimento, nas suas aplicações práticas e comparação
com os diversos ramos da legislação estrangeira;

276
V o lu n u ' > O l O A H n a P r i n u ’ ira R e p ú lo lic .t

2) A assistência j udiciária;

2° É ilimitado o número de seus membros;

3° É indefinido o tempo de sua duração.

Art. 2^ Seus meios de ação consistem na discussão:

I Em sessões
II Em conferências,
III Na imprensa.

CAPÍTULO II

Da direção.

Art. 3"^A direção do Instituto é confiada a um conselho diretor


, composto de um presidente, um vice-presidente, primeiro e
segundo secretários, um tesoureiro e um síndico, cujo mandato
será por dois anos.

Único. Compete coletivamente ao conselho diretor:

1) Organizar anualmente o quadro de membros efetivos do


Instituto, submetendo-o ao Instituto na primeira sessão
de cada ano;

#à# 277
______________ História_da_____________________________________
Ordem dos A dvo g ad os d o B ra s il ^

2) Executar as deliberações do Instituto;

3) Usar do selo simbólico (Portaria de 29 de maio de 1849 [


aprova o selo simbólico do Instituto ].);

4) Promover o bem geral do Instituto;

5) Propor a eliminação do membro que o merecer;

6 ) Redigir a revista;

7) Organizar o regimento interno, submetendo-o ao Instituto.

Artigo. 4° Ao presidente compete:

1) R epresentar o Instituto, sem pre que este ten ha de


enunciar-se coletivamente:

2) Presidir as sessões do conselho diretor e do Instituto,


dirigindo-as;

3) Convocar os membros efetivos para sessões extraordinárias,


quando lhe parecer conveniente ou o exigirem nove, pelo
menos, desses membros;

4) Designar os dias e horas das sessões, dando a ordem do dia;

5) Rubricar a ata:

6 ) Nomear empregados e demití-los;

278
V o k in u ' O lO A l^j n .i I’ r i n x ' i i . t R i ' p u l i l i c o

7) Rubricar os livros do Instituto;

8 ) Nomear comissões de um ou mais membros para os fins,


que se prenderem ao seu objeto, não estando reunido o
Instituto em sessão.

Art. 5“ Ao vice-presidente compete substituir o presidente nas


atribuições que lhe competem.

Art. 6° Ao primeiro secretário compete:

1) Fazer a correspondência e registro dos papéis do Instituto;

2) Ler em sessão o expediente, dando-lhe o devido destino;

3) Visar as contas das despesas autorizadas;

4) Propor ao presidente empregados auxiliares;

5) Substituir o vice- presidente.

Art. T Ao segundo secretário compete:

1) Fazer e ler a ata das sessões;

2) Lançar a data na folha do livro de presença;

3) Substituir o primeiro secretário.

Art. 8° Ao tesoureiro compete:

1) Ter sob sua guarda os bens do Instituto, velando pelo


aumento da biblioteca;

%k% 279
_____________ HistQria_da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

2) Apresentar na sessão geral de novembro de cada ano o


balanço da receita e despesa do Instituto;

3) Arrecadar a receita do Instituto e tudo quanto concorrer


para aumentar o seu patrimônio;

4) Fazer a despesa devidamente legalizada.

Art. 9° Ao síndico compete:

1) Interpor parecer sobre:

I - a proposta de eliminação de membro efetivo do mesmo


quadro ( art. 3** Un. N,5 ) ;

II - o orçamento da receita e despesa do Instituto;

III - o balanço da tesouraria ( art. 8®n. 2);

IV- a formação do quadro anual do Instituto (art. 3° un. N. 1);

V- a incompatibilidade do membro efetivo» a fim de passar a


avulso (a rt 23);

VI- a conveniência da assistência judiciária, procedendo a visita


domiciliária.

2) Verificar se o proposto para membro efetivo, reúne os


requisitos do art. 16 [...].

Art. 10. Nos im pedim entos de algum dos m em bros do


conselho diretor, excedentes a dois meses, providenciará o
mesmo conselho como entender mais conveniente.

280 •àB
V o l u m e .5 ( ) IO A I3 n a I’ lin u M ia K c p ú h lic c i

CAPITULO III

Das sessões.

Art. 11 .0 Instituto reunir-se-á uma vez pelo menos por semana


, assinando os m em bros presentes seus nomes no livro
respectivo.

P Poderá haver sessão com qualquer número de membros


efetivos.

2^ Na sessão do mês de novembro de cada ano, que o


presidente convocará especialmente para a apresentação do
balanço anual, é indispensável o concurso da maioria dos
membros efetivos; se no dia aprazado, não se reunir número
legal, poderão os membros reunidos em outra sessão, que for
anunciada previamente pela imprensa, com intervalo nunca
menor de sete dias, deliberar sobre as contas exibidas, seja qual
for o número de membros presentes.

3° A precedente providência será observada sempre observada


sempre que se tratar de assunto que entenda com reforma do
presente regulamento e eleição do conselho diretor.

4“ Na sessão geral da tomada de contas (art. T 2 ° ) de cada


biênio, terá lugar a eleição do conselho diretor, que houver de
servir no biênio seguinte.

5° Nas sessões, de que rezam os precedentes 2 a 4, podem


ser representados os membros efetivos por procuração especial,
outorgada a pessoa que faça parte do quadro de membros
efetivos.

•àl 281
_____________ História da.
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

6° Não estando presente o presidente nem quem o substitua,


será no ato aclamado quem presida a sessão, nomeando o
presidente aclamado os dois secretários.

Art. 12. As sessões serão divididas em duas partes; na primeira


se tratará de assuntos meramente econômicos do Instituto; na
Segunda, da matéria científica, em ordem do dia.

1 ° As discussões científicas serão abertas depois de impresso


um relatório, que for apresentado pelo membro efetivo que o
presidente nomear para tal fim.

2“ Os relatórios serão redigidos de modo a proporcionar a


que o Instituto possa votar com clareza por conclusões.

3^ Não serão admitidas à discussão as questões que penderem


dos tribunais ou juízos.

4° O Instituto não emitirá juízo sobre pontos de interesse


privado, podendo responder ou opinar nos assuntos que lhe
forem submetidos pelo Governo.

5° Todas as indicações e propostas serão feitas por escrito,


datadas e assinadas

Art. 13. O Instituto, sob proposta do conselho diretor, poderá


fazer eliminar do quadro o membro que deixar de satisfazer
por mais de 6 meses os encargos pecuniários, a que é obrigado,
e o que se afastar das leis da dignidade profissional.

F Para assim proceder, o Instituto fará constar ao membro


em falta os motivos da eliminação proposta; e se dentro de

282 9AB
V o l u m e ,) (.) l O A H n . i P r i n K M t a R c p ú i j i i t . i

quinze dias não satisfazer o que dever à tesouraria ou não se


justificar dos fatos arguidos - será eliminado do quadro,
cancelada a respectiva matrícula.

T É secreta a sessão em que se tratar da eliminação, de que


reza o parágrafo precedente.

Art. 14. O Instituto deixará de funcionar de 1° de dezembro


até o último dia das férias forenses da páscoa e durante as férias
do espírito-santo de cada ano, salvo caso extraordinário.

Art. 15. As deliberações do Instituto serão tomadas pela maioria


relativa dos sócios presentes.

CAPÍTULO IV

Dos membros do Instituto.

Art.16. São membros efetivos os advogados formados em


faculdades de direito e legalmente habilitados, que, nesta Corte,
fizerem da advocacia profissão habitual.

1° A proposta para membro efetivo deve ser assinada por um


dos presentes e só pode ser votada sete dias pelo menos depois
de apresentada em sessão,

2° A posse consiste no comparecimento do membro efetivo


aprovado, por si ou por especial procurador na sala das sessões,
e promessa de bem cumprir com os seus deveres.

3° A matrícula no quadro respectivo depende do pagamento


da jóia e posse.

•ài 283
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Art. 17. Os que, p or incom patibilidade tem porária, não


puderam fazer parte do quadro de membros efetivos, passarão
a ser avulsos.

Art. 18. São honorários os que tendo sido membros efetivos


por mais de seis anos, deixarem de o ser por incompatibilidade
absoluta e tenham prestado relevantes serviços ao Instituto.

A rt.19. São correspondentes os gradu ado s em direito,


brasileiros ou estrangeiros, residentes fora da Corte, que, por
seus serviços ao Instituto ou distinção pessoal, o mereçam.

Art.20. Os membros honorários e correspondentes devem ser


propostos por três membros efetivos, os quais previamente
justificarão as qualidades dos propostos, só podendo deliberar
o Instituto quinze dias, pelo menos, depois da data da proposta
em sessão.

Art.21 . Os direitos dos membros efetivos são:


1) Discutir e votar em todos os assuntos, sujeitos à deliberação
em sessão;
2) Votar e ser votado;
3) P ro p o r m em bros efetivos, h o n o rário s e c o rre sp o n ­
dentes;
4) Ventilar questões e estudos jurídicos;
5) Ler trabalhos jurídicos de própia lavra;
6 ) Usar da vestimenta talar nas solenidades e atos aos quais
hajam de comparecer, bem como no exercício da profissão (
Decreto n. 393 de 23 de novembro de 1844, a rt,P );

284 9áM
V o l u m e .5 O l O A l í Hct Pi i m ( ' i i c i K o p ú l ) l i c a

7)Ter assento d e n tro dos cancelos dos trib u n a is


( Cit. Decre.n. 393, art.2°);
8 )Fazer conferências sobre assuntos que en ted erem
com o objeto do Instituto;
9)Escrever p ara a Revista do In stitu to , d irig in d o
ao conselho diretor o escrito, o qual seja ou não publicado,
ficará arquivado;
10)Receber u m exem plar da Revista, que se
publicar.

Art.22. O membro efetivo é obrigado a:


1 )C o n co rrer p ara a realização dos fins do I n s ti­
tuto;
2)Cum prir o regulamento, o regimento interno, logo que
for aprovado, e as deliberações do Instituto;
3 )C o n trib u ir com a jóia de 20$000 e a m en salid ade
de 2 $000 ;
4)Aceitar os encargos que lhe forem cometidos pelo Instituto
ou por seu presidente.

§ Único. O membro efetivo, que for proposto e aceito, poderá


fícar remido, pagando 200$000 por única contribuição; os que
já fazem parte do Instituto por mais de 12 anos, poderão remir-
se pagando de uma só vez 50$000, se estiverem quites com a
tesouraria.

Art.23. A interrupção da profissão de advogado por incompatibi-


idade temporária , suspende os direitos e obrigações do membro
efetivo, que passará a ser avulso, e fora do quadro.

•ái 285
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Art.24. Os membros honorários, correspondentes e avulsos não


estão sujeitos a contribuição pecuniária alguma, assistindo-
lhes os direitos declarados nos ns. 4.5.9 e 10 do art.21.

CAPÍTULO V

Da Revista.

Art.25. A Revista será publicada sob o título - Revista do


Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros - e conterá;
doutrina, legislação, jurisprudência, atas do Instituto e boletim.

r Será publicada mensal, anualmente ou conforme entender o


conselho diretor.

2" O conselho diretor providenciará, quanto a inserção de artigos,


impressão e assinaturas da Revista.

3° Poderão ser publicados na Revista os trabalhos que forem


oferecidos ao Instituto, aquiescendo seus autores.

4° O Instituto não responde pelas doutrinas expedidas na Revista.

CAPÍTULO VI

Disposições Gerais.

Art.26. O Instituto poderá celebrar no dia 7 de agosto de cada


ano uma sessão solene, comemorativa de sua constituição.

Art.27. O Instituto poderá testemunhar em ata a significação


de seus sentim entos, em relação a qualquer m em bro do

286
VolLimi' í (.) lOAB I1-) i’ tiniL'ira K cpúhliiti

Instituto e a qualquer fato ou acontecimento importante.

Art.28. Ficam de nenhum efeito as disposições em contrário,


prevalecendo como lei do Instituto da Ordem dos Advogados
Brasileiros a matéria destes 28 artigos, para cuja execução
imediata serão datados e assinados pelo conselho diretor, de
que reza o art. 3“ , logo que se proceder à eleição.

Rio de Janeiro, 27 de setembro de 1888.


JOAQUIM SALDANHA MARINHO, Presidente,
DR. JOSÉ DA SILVA COSTA, Vice-Presidente.
ZEFIRINO DE FARIA FILHO, I« Secretário.
ALFREDO BERNADES DA SILVA, 2° Secretário.
LUIZ ALVARES DE AZEVEDO MACEDO, Tesoureiro.
JOÃO BAPTISTA AUGUSTOMARQUES, Síndico.

{ REVISTA D O INSTITUTO DOS ADVOGADOS BRASILEIROS, TERM O XII, 1888,pp.264-275)

REGIMENTO INTERNO DO

INSTITUTO DA ORDEM DOS ADVOGADOS


BRASILEIROS (1888)

Das Sessões

Art. 1°. As sessões ordinárias ou extraordinárias do Instituto e


do conselho diretor terão lugar por convocação do presidente
e aviso do 1° secretário.

m àM 287
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

§1° - O aviso para as sessões do Instituto será feito pela


imprensa.

§2^ - As convocações serão motivadas.

§3^* - No fim de cada mês poderão ser designados os


dias de sessão do mês subseqüente, fazendo-se constar aos
membros do quadro por meio de um boletim.

§40 _ Para as sessões do conselho d ire to r basta


comunicação escrita ou verbal.

Art. 2°. Nas sessões do Instituto e do conselho diretor, o


presidente ocupará a cabeceira da mesa, à sua direita o vice-
presidente, seguindo-se o 1*^secretário e o tesoureiro, à esquerda
do presidente o 2 ° secretário e depois o sindico.

§ 1®- Nas sessões do instituto, os menbros honorários,


correspondentes e avulsos ocuparão os lugares que p presidente
designar.

§2^ - Nas mesmas sessões, os membros efetivos terão os


respectivos lugares pela ordem da sua antiguidade, ficando o
mais antigo à direita do tesoureiro, o imediato à esquerda do
sindico e assim aleatoriamente.

§3® - Os membros do conselho diretor na sessões do


Instituto usarão de vestimentas telar, sendo esta facultativa pára
os membros efetivos.

288
V o lu H H ' .> U IO A 13 n<i l ' i i m r i t j R c - p ú b l i i .1

Art. 3“. O 1° secretário dará conta do expediente, o 2° secretário


lerá as atas das sessões.

§1° - As atas das sessões do Instituto e do conselho


diretor serão lançadas em livros diferentes, nos quais serão
escritos os termos de abertura e encerramento e terão em cada
página a rubrica do presidente.

§2° - As atas das sessões do Instituto serão assinadas pelo


presidente e 2 ° secretário e as do conselho diretor, pelos
membros respectivos presentes,

§3® - O conselho diretor delibera validamente com a


maioria da seus membros, reunidos em sessão, nos limites de
suas atribuições (ReguL Art. 3°,§ único).

Art. 4®. Ao presidente incube regular as discussões e m anter


a ordem.

§1° - O membro que se desviar da ordem, será a ela


chamado pelo presidente, o qual pela primeira vez limitar-se-
á pedir atenção, sem dirigir-se ao membro que assim proceder;
se este insistir, será pessoalmente chamado à ordem pelo
presidente, sendo-lhe retirada a palavra se não obedecer.

§2° - Neste último caso, é licito ao m embro efetivo


recorrer ‘incontinente' da deliberação do presidente para os
membros efetivos presentes; e o que for deliberado será posto
em execução.

•àl 289
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

§3® - Será considerado estar fora da ordem todo aquele


que não cingir-se à matéria em discussão ou que usar de
expressões inconvenientes contra quem quer que seja, membro
ou não do Instituto.

§4 - Ninguém poderá falar sem obter a palavra do


presidente, o qual concederá conforme a ordem das inscrições,
à cargo do 1° secretário; de modo que não seja proferido dois
discursos seguidos, abundando nas mesmas idéias.

§5° - Salvo permissão do Instituto por motivo justificado,


ninguém poderá falar senão de pé.

§6“ - Quando o presidente houver de discutir, passará a


cadeira da presidência a seu substituto, o que não compreende
o caso de falar a bem da regularidade da discussão e de emitir
o voto por escrito.

§7° - É lícito ao membro que tomar parte na discussão,


enviar subscrito o resumo fiel do que houver proferido em
sessão, para ser inserto na ata ou enviar por escrito o seu voto
fundamentado, que igual destino, contanto que o faça até à
véspera da sessão seguinte.

§8® - A matéria, que por consentimento houver dôo


Instituto houver sido retirada da discussão na mesma sessão,
em que for aventada, não se fará constar da ata respectiva.

§9° - No caso de empate de votação tem o presidente


voto de qualidade.

290
V o lu n u < ) K ) A I ) n . t r r i m c i i . t I s r p i i h l i c ,i

§10° - As precedentes providencias regulam tanto as


sessões do instituto como as do conselho diretor.

Art. 5®. Na primeira sessão de cada ano será submetido as


Instituto pelo conselho diretor o orçamento da receita e despesa
do mesmo ano (Regulamento art. 9° n. 1 - II).

Art. 6®. Na mesma sessão de que reza o artigo precedente, será


apresentado ao Instituto o relatório das ocorrências do ano
anterior que o 1° secretário terá formulado, ficando arquivo
depois de aprovado.

Art. 7°. Não podendo o presidente representar o Instituto,


quando este tenha de anunciar-se coletivamente, o mesmo
presidente poderá nomear uma comissão de dois ou mais
membros para esse fim.

§ único. É lícito ao presidente nomear dois membros


que forem com ele a comissão, quando tiver de representar o
Instituto.

Art. 8°. Nas sessões solenes do Instituto, como a de 7 de agosto


de cada ano, serão admitidos os representantes das associações
científicas, literárias, artísticas ou industriais, com como
qualquer pessoa qualificada, que pelo conselho diretor forem
convidadas.

§1°- Os ofícios para esse fim serão feitos pelo primeiro


secretário, em nome do Instituto.

291
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

§2° - Em sessão solene de outras associações, o Instituto


poder-se-á representar por seu presidente ou por comissões,
na forma do art. 7°, deste Regimento.

§3® - A disposição do procedente parágrafo é extensiva


ao caso de haver o Instituto de tom ar em atos oficiais de
regozijo ou sentim ento público,que não entendam com
significações de política partidária.

Dos Membros

Art. 9°. Membros efetivos, que por mais de seis meses deixar
de satisfazer os seus compromissos para com a tesouraria,
incorre na sanção de eliminação.

§ único. Para este fim, o tesoureiro, logo que findar o


prazo referido, oficiará ao presidente, o qual depois de ouvido
o sindico e o membro efetivo em atraso, (sendo à este concedido
o prazo de 15 dias para ponderar o que lhe convier o conselho
diretor, expondo-lhe o ocorrido, a fím de ser tom ada a
deliberação do art. 10 do Regulamento.

Art. 10®. Será também eliminado o membro que se afastar das


leis da probidade profissional:

a) Desacatando os seus colegas no Instituto ou


em atos da profissão;
b) Deixando de guardar o decoro da profissão.

292
V o lu m e ) ( ) l O A l ) n . i P riiiK'ii'ci l \ f | ) i i b l i ( . a

A rt 11°. Chegando ao conhecimento do conselho diretor que


se acha incurso na disposição do procedente artigo qualquer
membro do Instituto, será este ouvido por escrito no prazo de
15 dias, a fim de justificar-se; e não fazendo findo este prazo,
oficiará o sindico em itindo o seu parecer esgotadas estas
diligencias, se o conselho diretor entender que deve ser eliminado
o argüido, submeterá o caso ao Instituto, prevalecendo então o
que por ele for resolvido.

Art. 12°. As deliberações do Instituto nos casos dos Arts. 9°, 10


e 11, podem ser reconsideradas, mediante reclamação, na qual
o eliminado justifique os fatos da argüição que lhe tiver sido
feita.

§ 1° - São secretas as sessões em que se tratar dos assuntos


declarados nos arts. 9° e 10 (Regul. Art. 13 § 2°)

§2° - A defesa do argüido ser feita por procuração,


outorgada a qualquer dos membros efetivos.

Art. 13®. Os membros avulsos, correspondentes e honorários


podem exercer qualquer comissão compatível, de que forem
incumbidos pelo Instituto ou por seu presidente.

Art. 14°. O período de interrupção, por incompatibilidade


temporária da profissão da advocacia, não sra contado na
antiguidade do membro efetivo (Regul. Arts. 17 e 23).

§ único. Voltando ao exercício da profissão o membro

•àB 293
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

declarado avulso será contemplado no quadro dos efetivos logo


ao Instituto manifestar a sua intenção a este respeito.

Art. 15°, O membro do Instituto que quiser fazer conferência,


apresentará por escrito ao conselho diretor o programa da
discussão e a opinião que tem de sustentar, e sem que haja
obtido autorização para fazer a conferência, não lhe será lícito
efetuá-la.

§ 1 ^ - 0 conselho diretor deliberará sobre a concessão


da autorização para a conferência no prazo de dez dias,
contados do dia em que lhe for feito o pedido.

§2® - Da recusa do conselho diretor haverá recurso para


o Instituto, na primeira sessão que tiver lugar, após a denegação
de autorização; e o que se resolver será cumprido.

A rt 16®. O membro efetivo que não apresentar o relatório sobre


o assunto que lhe for cometido, no prazo de 30 dias, contados
da data em que lhe for feita a entrega do programa da discussão,
poderá o direito de o fazer, sendo outro encarregado do
relatório; salvo apresentado motivo atendível ao Instituto, o
qual poderá conceder um prazo suplementar, nunca maior de
15 dias.

Art. 17°. Caducará a proposta para membro efetivo, se, sendo


ela aprovada, o proposto não toma assento no prazo de trinta
dias.

294 •Ál
V o lu m e ) ( ) ( O A ( i n .i Pi í n i r í i M f ú ' ] H i l ) í i ( .)

§ Único. Este prazo é contato da data da comunicação


feita pelo 1° secretário e só será interrompido pelo período de
tempo durante o qual o instituto estiver impedido de funcionar
(Regul. Art. 14).

Art. 18®. Se, esgotada, a ordem do dia, for suscitada alguma


questão, o Instituto só dela se ocupará, vencida a urgência,
proposta por escrito.

Art. 19®. As deliberações do Instituto sobre assunto científico


serão reduzidas a assento e lançada no livro competente, sob
as assinaturas do presidente e dos secretários, presentes à sessão
em que for aprovada a redação do assento.

Art. 20®. A assistência judiciária, consiste na defesa dos direitos


de pessoas desvalidas, e qualquer que seja a qualidade que lhe
possa competir nos processos, em que figurem ou tenham de
figurar.

§1° - A assistência será prestada à requisição do síndico.


§2° - Pode também ser prestada a requerim ento de
qualquer membro efetivo, sendo sempre ouvido o sindico.

§3® - Vencida a prestação da assistência, pode esta ser


exercida p or qualquer m embro efetivo, que o presidente
nomear.

•áB 295
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Da revista.

Art. 21°. A revista será publicada periodicamente, conforme


melhor entender o conselho diretor.

§ 1° - Na revista serão insertos trabalhos elaborados pelos


membros do Instituto ou de pessoas estranhas> à Juízo do
conselho diretor,

§2° - Os escritos, sejam publicados ou não, ficarão


arquivados.

§3® - O preço anual da assinatura da reservista não


excederá do 8$000, conforme entender o conselho diretor.

Disposições Gerais.

Art. 22°. Vigora como Regimento interno do Instituto da


Ordem dos Advogados Brasileiros e em complemento das
disposições que o rege, o conteúdo destes 22 artigos, que entram
am execução imediata, sendo para o dito fim assinado este
Regimento pelo conselho diretor.

Rio de Janeiro, 06 de dezembro de 1888.

JOAQUIM SALDANHA MARINHO, Presidente.


DR. JOSÉ DA SILVA COSTA, Vice-Presidente.
ZEFIRINO DE FARIA FILHO, 1° Secretário.

296 •Al
V o lu n u ' ! ( ) lO A H n ,i P i i m c ir . i K u p ú b l i c a

ALFREDO BERNADES DA SILVA, 2° Secretário.


LUIZ ALVARES DE AZEVEDO MACEDO, Tesoureiro.
JOÃO BAPTISTA AUGUSTOMARQUES, Síndico.

(REVISTA D O IN S T IT U T O D O S A D V O G A D O S BRASILt.IROS. t o m o XXII, 1886, p p ,276-287).

CIRCUALAR N° 7 - DA 2“ SEÇÃO DO MINISTÉRIO DA


JUSTIÇA

DE 24 DE DEZEMBRO DE 1889

RECOMENDA A OBSERVÂNCIA DA ORD. LIV. TIT. 48


PARÃGRAFO FINAL, QUE PROIBE AO ADVOGADO OU
PRO CU RA D O R JUDICIAL O EX ERCiCIO DE SUAS
FUNÇÕES PERANTE AO JUIZ QUE SEJA SEU PARENTE.

Recomendo-vos (esta circular é destinada a um Presidente da


Relação, mas não fica esclarecido qual delas) a estrita
observância, nesse tribunal e nos juízos e tribunais desse
distrito, do disposto no Liv. 1° tit. 48, parágrafo final, que proíbe
ao advogado ou a qualquer procurador judicial o exercício de
suas funções p eran te Juiz que seja seu ascendente, ou
descendentes, sogro ou genro, irmão ou cunhado durante o
cunhadio; e porque se tenha entendido na prática que esse
impedimento é personalíssimo, sem atender a que o decoro e
a dignidade da Justiça exigem, se remova toda a suspeita de
parcialidade, e não somente o Juiz, mas todo o Juízo pela

•41 297
_____________ Historiada.
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

dependência em que estão os serventuários e mais oficiais, se


ressentem da influência de tão estreito parentesco, declaro que
a referida proibição não deve ser iludida, dando-se o Juiz de
suspeito para requerer o advogadoo ou procurador impedido
perante os suplentes do mesmo Juízo (...)

(C.L.R.B., Decisões, 1®fascículo, 1888- 1890, p.5)

298 •Al
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

1
ESTATUTOS
APPB0VAD08
'

Nas sessões de 27 de Abril, 4, 12 e


18 de Maio de 1899.

299
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

300
Volume 3 O lOAB na Primeira República

ESTATUTOS

C APITULO *1
' -'M'
Do Instituto e seu fim
A rt. 1? 0 Instituto da Ordem dos Ad­
vogados Brazileiros, definitivamente con­
stituído em 7 de Agosto de 1843 e instai-
lado um niez depois nesta capital, é «ma
associação de advogados graduados em
sciencias juridicas.
A rt. 2? Tem por fim :
§ 1? O estudo do direito no seu mais
amplo desenvolvimento, nas suas appli-
cações praticas e comparação com os di­
versos ramos da legislação estrangeira.
§ 2? A assistência judiciaria.

301
______________ Historia da
I O rd e m dos A dvo g ad os d o B r a s il

A lt. 3? P a ra realisal-o, o Instituto:


§ I? Discutirá ein sessões, em confe-
reiicias publicas e na imprensa por meio
de rev ista propria.
§ 2? D irigirá representações aos po­
deres públicos a respeito de qualquer lei,
projecto ou regulamento.
§ 3? E xercerá o direito consignado no
§ 9? do a rt. 72 da Constituição F ed eral.
§ 4^ Responderá a consultas que lhe
forem feitas pelos mesmos poderes.
§ 5? M anterá uma bibliotheca.
§ 6? P atro cin ará aos pobres, no cível
e no crime, nos termos do D ecr. n. 2.457
de 8 de F evereiro de 1897.
A rt. 4? E ’ illimitado 0 tempo de sua
duração.

CAPITULO I I 1
i
Dos membros do Instituto
A rt. 5? 0 Instituto compôr*se-lia de
membros em numero illimitado e dividi­
dos em cinco c la ss e s : effectivos, cor­
respondentes, honorários, benemeritos e
estagiarios.

302
Volum e 3 O lOAB na Primeira República

A lt. 6? Sâo membros effeetivos os


advogados graduados em scieiicias ju rí­
dicas, brazileiros, legalmente habilita­
dos, que nesta capital fizerem da advo­
cacia profissão habitual e a exerçam,
pelo menos, dois-annos antes de serem
^ propostos,
í § Unico. N ’esse prazo é incluido o
I tempo de exercicio da advocacia, não só
n 'e s ta capital, como em outra qualquer
cidade do Brazil.
A rt. 7? São membros correspondentes
os graduados em sciencias jurídicas, na-
* cionaes e estrangeiros, residentes íóra
da séde do Instituto.
A rt. 8? Sào membros honorários :
§ 1? Os membros eflectivos e corres­
pondentes, que por mais de cinco annos
' tenham prestado ao Instituto serviços re-
A' levantes.
\ §2? Os graduados em sciencias juri-
\ dicas, nacionaes e estrangeiros, que por
\^ua notoriedade scientifica ou serviços
(ije igual natureza mereçam essa distinc*
çSp.
A rt. 9° São membros benemeritos oa
graíiiado s em sciencias jurídicas, nacio-

•àB 303
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B r a s il

_ 4 —

naes e estrangeiros, que fizerem ao In s ti­


tuto donativo não inferior H 2:000$00er-.
I- A lt. 10. . São membros estagiarios ob
graduados em sciencias ju ríd ic a s, que
tenham menos de doisannos de exerci*
cio da advocacia.
§ Unico. 0 estagio d urará o tempo
preciso para completar o biennio exigido
no.ai't. e? para a eífectividade e no sem
compute será levado á conta o tempo de
exercício de advocacia anterior á pro­
posta. a:
A rt. VI. Haverá tambem uma classe
denominada— Avulsos— á qual passarão:
§ 1? Os membros effectivos, que por
ausência ou outro impedimento tem porá­
rio não puderem exercer a advocacia
nesta capital.
§ 2? Os membros effectivos que dei­
xarem 0 exercido da profissão de advo­
gado.
A rt. 12. No caso do § 1? a passagem
só poderá te r logar precedendo requeri»
mento escripto do membro efFectivo, o
qual &erá sujeito á respectiva conimissáo
que dará parecer mediante informação
do thesoureiro si o requerente está o«

304
Volum e 3 O lOAB na Primeira República

não quite - no caso do § 2? o In stituto


poderá deliberar a requerimento de
qualquer membro, o qual será sujeito á
mesma commissào que dará parecer, de*
pois de ouvir aquelle cuja exclusão do
quadro dos eífectivos fôr pedida.
A rt. 13. O s membros effectivos, cor­
respondentes e estagiarios serão admit-
tidos m ediante proposta, que poderá ser
âssignada por um só proponente, a qual
será subm ettida á respectiva commissào,
cujo parecer votar-se-ha sem discussão,
por escrutinio secreto. Jí
§ Unico. 0 membro estagiario que
não fôr approvado quando proposto para
effectivo, íindo o bienuio, continuará na
sua classe, se quizer, mas não poderá,
ser de novo proposto para eífectivo, se­
não depois de decorrido um anuo conta­
do do dia del regeição da proposta.
A rt. 14. O s membros lionorariob e be-
nem eritos serão admittidos m ediante pro­
posta, que seguirá os mesmos traniites
do a rt. 13, mas deverá ser assignada,
pelo menos, por cinco proponentes.
Art. 15.' Nenhuma proposta conterá
mais (le um nome.

305
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

- O -

CAPITULO I I I

Da posse e matricula
A rt. 16. A posse dos membros effecti­
ves e dos estagiarios consiste no seu
'comparecimento pessoal na séde do Ins*
titiito, prestação nas mãos do presidente
-^0 seguinte compromisso :
« Prometto cum prir com lealdade os
deveres de membro effectivo (ou estagia-
rio) do Instituto da Ordem dos Advoga­
dos Brazileiros » e assignatura do re s­
pectivo termo, que será lavrado pelo 1?
Secretario em livro para esse fim desti­
nado.
§ 1? Deve te r logar, sob pena de ca­
ducidade da proposta, dentro de 30 dias
•contados da data da expedição do officio
do 1? Secretario participando a approva-
■ção, salvo justo motivo allegado do qual
tom ará conhecimento o Instil uto.
§ 2? 0 proposto que não tom ar posse
no prazo referido não poderá sel-o de
novo dentro de um anno contado da data
•6m que tiver caducado a proposta.
V o lu m e 3 O lOAB na Primeira República

' A rt. 17. Ao 1? Secretario incumbe


prestar as informações necessarias ao
Instituto afim de poder elle deliberar.
A lt. 18. A posse dos membros corres­
pondentes, honorários ebenem eritos con­
siste na communicação escripta de que
acceitam a nomeação.
§ 1? Deve ser feita dentro de quatro
mezes contados do mesmo modo que no
§ 1? do a rt. 16, sob peiia de caducidade.
§ 2? Aos membros correspondentes é-
applicavel o disposto no § á? do art..
16.
§ 3? Os membros honorários e bene-
meritos que não acceitarem a nomeação-
não poderão mais ser propostos.
A rt. 19. 0 Instituto te rá um quadro^
que será revisto annualmente, no qual
^ serão m atriculados todos os seus mem­
bros segundo as classes a que pertence­
rem.
I § 1® A m atricula far-se-ha pela a n ti­
guidade da posse.
§ 2? Havendo mais de uma posse no*
mesmo dia, regulará a d ata da approva-
Ção da proposta ; si esta f5r a mesma, a

307
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— tl —
do diploma acadêmico e por ultimo a
idade.
A rt. 20. Não será contado p ara a a n ­
tiguidade dos membros effecfcivos o tempo
em qne estiverem na classe dos avulsos.

CAPITULO IV

Dos direitos e devores


r
A rt. 21. São direitos dos membros
eífectivos;
§ V. D iscutir e votar em sessão.
§ 2? V otar e ser votado.
§ 3? F azer propostas para membros
de qualquer classe.
§ 4; A presentar questões ou theses.
§ 5? L ê r traballios jurídicos da pro­
pria lavra.
§ 6? F aze r conferencias publicas so­
bre questão ou these approvadas pelo
Instituto.
§ 7? U sar das regalias do D ecreto
n. 393 de 23 de Novembro de 1844.
§ 8? R equereraconvocação de sessões
extraordinariaS.
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

- í) -

A rt. 22. São deveres dos membros


effectives:
§ 1? P a g a r a joia de 30$000 e a men­
salidade de 10$000.
§ 2'.' Â cceitar e desempenhar as com-
missões para que íorem nomeados pelo
Instituto ou pelo presidente, ou pela com-
missão central de assistência judiciaria.
8 3? A presentar queixa contra qual­
q u e r membro que falte ás leis da digni­
dade profissional on desacate no Instituto
a seus collegas.
§ 4? U sar de vestimenta ta la r nas ses­
sões solemnes.
Art. 23. E ’ perm ittida aos membros
effectivos a remissão da joia e das men­
salidades, mediante o pagam ento de
sooéooo, feito de uma só vez.
§ Unico. Os que forem membros eftec-
tivos por mais de 10 annos poderão r e ­
mir-se pagando de uma só vez 250$000.
A r t. 24. São' direitos dos membros
correspondentes e h on orários: ^ '
8 1? D iscutir em sessão.
8 2? Apresentar questões on theses.
I 3? L e r trabalhos jurídicos- da' pro-
pria lav ra.' •'

309
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— IO —

§ 4? ü s a r daa regalias do Decreto


n. 393 de 23 de Novembro de 1844.
A rt. 25. Sâo deveres dos mesmos
membros:
§ 1? A cceitar e desempenhar as com-
missões p ara que forem nomeados pelo
Instituto ou pelo presidente.
§ ü? U sar de vestim enta ta la r nas
sessões soleranes.
A rt. 26. Os membros correspondentes
nacionaes contribuirão de uma só vez
com 50$000-
_ A rt. 27. Os membros benem eritos te ­
rão os direitos e deveres mencionados
nos arts. 24 e 25.
A rt. 28. São direitos dos socios es­
tag iado s :
§ 1? D iscutir era sessão.
§ 2? L ê r trabalhos juridicos da pro*
pria lavra.
§ 3? A presentar questões ou theses.
§ 4? F azer conferencias publicas sobre
questão ou these approvadas pelo In s ti­
tuto.
§ 5? Ser votado p a ra membro de
qualquer commissâo do In stitu to , com.

310 9A I
V o lu m e 3 O lO A B na P rím e íín R c p ú b l/c a

- 11 —

exclusão (la commisí=ão central de Assis­


tên cia JvuUciavia.
A rt. 29. São deveres dos mesmos
membros:
§ 1? P a g a r a joia de 15$000 e a m en­
salidade de 5^000.
K 2? A üceitar e d esem p en har as com*
I missões p a ra que forem nom eados pelo
I n s titu to ou pelo p re sid e n te on pela
oommissâo c e n tra l de A ssistência j u u i
ciaria. . .
Avt. 30. 0 membro estagiario, qnaii-
do aiiprovado effectivo, não pag ará nova
ioiA 6 a p e n w a diflerença e n ti e a qae
pagou e a estabelecida no 9 1.
a r t. 22. , , _
A rt. 31. Os membros avulsos terao o^
direitos mencionados no art. 24 e de­
verão, do mesmo modo que os outros,
acceitar e desempenhar as commissões
para que forem nomeados pelo Instituto
ou pelo presidente.

311
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

- l Ê -

CAPITULO V

Das penas

£5!“ -•SK
A n. 3 3 . S e râ o a d v e r tid o s os m e m -'

^ ,^ m ^ d o p r« d d e .k q .e ,h /m .
A rt. 34. Serâo elim inados:

mm
312 #à#
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

- 13 -

h a m arc a d o o prazo improrogaTel de 15


dias.
§ Unico. No caso do § 2? a elim ina­
ção será decretada pelo Instituto que se
pronunciará sobre a queixa; ^
a) si ella fo r fé ita p o r escripto;
h) depois de ouvido no prazo dé cinco
d ias 0 querelado a quem se enviará
copia;
I c) e depois de lavrado o parecer da
; respectiva commissão, o qual será dis-
• cutido e nominalmente votado.
! M
: * 'k
CAPITULO V I

D a d ire c ç ã o

A rt. '36. A direcção do Instituto é


confiada a uma directoria composta de
presidente, 1? e 2? secretários, e 2®
oradores e thesoureiro, eleitos n a ultim,a
sessão de cada anno.
A rt. .37. T erá tambem o Instituto dois
vice-presidentes, d o is . supplentes para
cada secretario, seis commissOes perma­
nentes denominadas central de assisten-

313
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B r a s il

— l í —

cia judiciaria, de justiça, legislação e


jurisiíriulencia, de g uard ad a constituição
e das leis, de redacção de revista, de
syndicaucia, de policia, e especiaes con­
forme 09 Casos occorrentes.
§ 1? Os vice-presidentes, supplentes
de secretários e as commissOes perm a-
ueiites serào tambem eleitos na ultima
sessão de cada anuo.
§ a? Todas as commissões perm anen­
tes conipov-se-Iião de tres membros, ele­
gendo cada uma o seu presidente, exce-
pção feita do da commissão centrai de
assistência judiciaria, que será nomeado
pelo iíiiiistro da Justiça, de accordo com
0 decreto n. 2.457 de 6 de F evereiro de
1897.
§ 3? A conimissão de policia é com­
posta do presidente, do e do 2? secre-
tiirio.
A rt. 38. 0 presidente é o orgão offi­
cial do Instituto e compete-lhe:
§ 1? P resid ir e dirigir as sessões.
§ 2? Convocar sessões extrao rd iuarias
quando ju lg ar conveniente ou llie for
requerido por membros eífectivos, em n u ­
mero não inferior a sete que m otlvarãó

314 m àM
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

0 pedido indicando o objecto a t r a ­


tar-se'
§ 3? R ubricar a acta, despacliar o ex­
pediente e designar as m atérias da ordem
do dia.
§ 4? R ubricar os livros do In sti­
tuto.
§ 5? Nomear as commissõesespeciaes,
bem como substitutos ao thesoureiro ou
aos membros das comniissões eleitas
quando impedidos ou não comparecerem
ás sessões e no caso de vaga até que sej>
preenchida.
A rt. 39. 0 1? e 2® vice-presidentes
substituirão o presidente.
A rt. 40. 0 1? secretario é o director
d a secretaria e compete-llie:
§ 1? Substituir 0 presidente na falta
doà dons vice presidentes.
§ 2? F aze r a correspondencia do I n ­
stitu to e te r sob a sua guarda o archivo
€ a bibliotheca.
§ 3? L er em sessão o expediente e dar-
lhe 0 destino indicado pelo presidente.
§ 4“ A presentar na prim eira sessão
de cada anno o relatorío dos trabalhos e
ôccurrencias do anno anterior.

315
_____________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B r a s il

- i« _

§ 5? F azer as coiniminicações de que


tratam os arts. 16 § IV e 18 § 1?, bem
como prestar as informações de que tra ta
0 art. 17.
§ 6? L an çar em livro competente as
theses ou questões acceitas, a d a ta de
sua apresentação, o nome do relator e as
resoluções do Instituto, quando forem
votadas as conclusões dos relatorios.
§ 7? Rever annimlmente o quadro de
qi>e tra ta o art., 19 submettendo a re v i­
são ao Instituto.
N 8? Propôr os empregados necessá­
rios ao serviço da secretária e da biblio-
tlieca.
§ 9? D a r as certidões pedidas cobran­
do os emolumentos marcados pela com-
missão de policia.
10. L av rar os term os de posse dos
membros eftectivos.
A rt. 41. Ao 2? secretario compete:
§ 1? Substituir 0 presidente na fa lta
dos vice presidentes e do 1? secretario.
§ 2? F aze r as actas e lêl-as em ses­
são.
§ 3? E nv iar para a revista um regn-
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

— 17 —

mo das actas e copia de toda a acta


(jiiando 0 in stitu to assim o determ inar.
A rt. 42. Os secretários seião substi-
tuidos pelos respectivos supplentes, eiri
cuja falta servirá o membro eftectivo no­
meado pelo presidente.
A rt. 43. Ao thesonreiro compete:
§ 1? T e r s o b a sna guarda os bens do
Instituto.
§ 2? A rrecadar a receita ordinaria e
eventual.
§ 3? F aze r a despeza ordinaria con­
forme 0 orçamento approvado pelo In sti­
tuto ou as extraordinarias com autoriza­
ção da commissão de policia.
§ 4'.' Apresentar na 1? sessão de cada
aniio 0 bíilanço da receita e despeza do
anno anterio r e o orçamento para o se­
guinte.
§ 5? P re sta r a informação de íjMe trata
0 a rt. 12.
§ 6? F aze r as propostas de que tra ta
0 a r t. 35.
§ 7? Propor os em pregados necessá­
rios ao serviço da thesouraria.
A rt. 44. O i.hesoureiro fará sempre
parte de (jiialquer commissão, cujo íim

317
_____________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B r a s il

— I» —

possa trazer despeza a pagar ou receita


a arrecadar.
A rt. 45. Qiier o balanço, q u e r o orça­
mento serRo submettidos ao estudo da
respectiva commissão e, com o parecer
desta, discutidos e votados.
Art. 46. Ao 1? orador compete:
§ 1? vSer 0 relator das commissões que
representarem o Instituto em qualquer so-
lemnidade.
§ 2? F azer o discurso official nas ses­
sões solemnes.
A rt. 47. 0 segundo orador substituirá
0 1? em suas faltas ou impedimentos.
A rt. 48. A ’ coramissãocentí-aldeassis-
tencia judiciaria compete organizar e
dirigir os trabalhos do patrocínio g r a ­
tuito, nos termos do decreto n. 2.457 de
8 de F evereiro de 1897.
A rt. 49. A ’s comraissões de ju stiç a,
legislação e jurisprudência e gaard a da
constituição e das leis compete, seg un ­
do a designação feita pelo presidente,
d ar parecer sobre as questões a p resen ta­
das, consultas de que tr a t a o § 3? do a rt.
3?, projectos de leis, regulam entos ex­
pedidos pelo P oder Executivo, etc.

318 «41
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

— —

A rt. 50. A ’ comraissão de redacção


<!a re v is ta com pete d irig ir a re v ista de
aecordo com o p rogram m a traçad o no
R e g im en to In te rn o . .
A rt. 51. A ’ conimissão de policia com-
%)ete: , T *'
K 1? Nomear os empregados do in sti­
tuto por proposta do 1“ secretario ou do
tiiesotireiro e m arcar-lhes os vencimen­
tos, ouvindo «obre estes o tliesoureiro.
5 9" A u to riza r a s despezas e x tra o rd i-
im nas cnja necessirtaile for rtemonstrarta
pelo thesoiu-eiTO.
g 3 = D ar parecer sobre qualquer as-
sumpto que iiáo esteja regulado nestes
estatutos ou no Kegimento Interno.
6 4 » M arcar os emolumentos que devem
s e r cobrados pelas certidões requeridas.
A rt. 5^. A ’ commissão de syndicancia
compete:
K 1® D ar parecer sobre as propostas
para membros do Instituto, sobre o le-
queriinento de que tr a ta o a r t. 12 e sO"
bre 0 balanço e orçamento apresentados
pelo tliesoureiro.
K 2® D a r o parecer a que se retere a
le ttra 0 do paragrapho unico do a r t. 35.

319
_____________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

- no

CAPITULO VII

Das eleições
A rt. 5;{. As elei(;õe.s dos menibroa da,
directoiia, vicfi-presidentes, snpplentes
dos í^ocretarios e das commisHões perm a­
nentes terão lugar na ultim a sessHo de
cada anno, d o s termos do a r t. 3H, ou
para preencher as vagas que se dei ein.
A r t. 54. Serão íeit-as por escrutiuio
s ec re to , considerando se eleitos som ente
os que obtiverem m aioria ab so lu ta d e v o ­
tos dos prf-.sentes.
§ l- Al nenhum dos votados conse­
g u ir maioria absoluta, íar-se-lia 2? es-
crntinio no qual entrarão os mais vota­
dos eni numero correspondente ao duplo
fios cargos a preencher e se considera­
rão eleitos os (jue obtiverem maioria re ­
lativa, empossaiido-se logo os presentes
e os outros apenas compareçam,
§ No caso de em pate no 2? escrn-
tinio p re v alec e rá a idade,
3" .Serão eleitos em um a cédula: o
p re sid e n te e vice-presidente; em outra'

320 9AB
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

OS secretários e suppleiites; em outra i>


Uiesouveito e os ovadoves e em outra, se­
paradam ente, cada uma das comniissões.
§ 4? Cada cedilla conterá tantos nomes
quantos forem os cargos a preencher.
§ 5? ü s dois supplentes dos secretá­
rios mais votados substituirão o 1?; os
outros dous substituirão o 2?.

CAPITULO VIII

Das sessões
A rt. 55. As sessões do Instituto se­
rão ordinarias, ^xtraordinarias e solem-
nes.
§ lY As ordinárias terão lugar, ao
menos, uma vez por semana, designando
0 presidente o dia na primeira de cada
trim estre.
§ 2? As extraordinarias se effectua-
rão quando convocadas nos termos do
§ T. do a rt. 33.
§ 3? As solemnes se realizarão annual-
mente no dia 7 de Agosto para comme-
morar a fundação do Instituto e quando

321
_____________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

este eiifcender dever celebrar algum a por


motivo que a mereça.
A rt. 56. 0 Regimento Interno dete r­
minará a ordem que uellas deve ser
observada, o nnmero de membros com
<iue devem realizar-se e o mais relativo
ao assnmpto.
Art. 57, 0 Tnstitnto fanccionará de
1? de Abril a 30 de Novembro.

CAPITULO IX

Das questões, theses, projectos e


propostas
A rt. n8. As questões ou theses ap re ­
sentadas serão enviadas á commissão de
justiça, legislação e Jurisprudência que
dará parecer sobre a conve»iencia de shíi
acceitação na mesma sessão ou na im-
mediatii á da apresentação.
. § Unico. Si fòr favoravel, apenas
approvado, o presidente designará o r e ­
lator, preferindo sempre o proponente
que poderá exc«sar-se.

322 #4 #
V o lu m e 3 O IO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

r
m ^ iü i ~

A rt. 59. Todos os projectos e propos­


tas serão apresentados por escripto e su­
jeitos á commissão respectiva designada
pelo presidente para sobre elles dar pa­
recer.
A rt. 60. 0 Regimento Interno esta­
belecerá as regras para as discussões e
votações.

CAPITULO X

Das conferencias
A rt. 61. 0 membro do Instituto que
qiiizer fazer conferencia apresentará por
escripto ao Instituto a questão ou these
sobre que dissertará e, approvada esta, o
pre>iidente convocará para tal fim uma
sessão extraordinaria, que será publica.

CAPITULO XI
Da revista
A rt. 62. A revista será publicada
sob 0 titulo—R evista do Instituto da
Ordem dos Advogados Brazileiros.

323
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Art. 63. Será dirigida pelacommissão


de redacção, observado o disposto no
art. 50.
A rt. 64. Será distribuida g ra tu ita ­
mente aos membros elFectivos e corres­
pondentes.
Art. 65. O preço da assignatu ra será
marcado pelíi commissâo, deacco rd o co m
a de policia, que ouvirá o tliesoureiro.

CAPITULO X II

Disposições geraes
A rt. 66. Nenhum membro effectivo
podeiá fazer parte de mais de uma com*
missão permanente, salvo si uma for de
assistência judiciaria. Si for eleito para
mais de uma optará.
§ Uiiico. Os vice-pre.sidentes e sup-
plentes dos secretários poderão ser elei­
tos membros de qualquer commissâo e
as exercerão, salvo quando substituivem
o presidente e os secretários por mais de
um mez.
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

Exceptiui-se o exercício do cargo tie


membro de comiuissão de asf^istencia
jiidiciai ia, para o qaal não ha iiioompa-
: tíbílidade alguma.
^ A rt. 67. O anno financeiro do In s ti­
tuto «erá coutado de V. de Janeiro a 31
de Dezembro.
A rt. 6W. Os membros do Instituto
terão diploma assignado pela mesa.
Ari. 69. () Instituto não einittirá
juizo sobre ponto de interesse privado.
A rt. 70. Do mesmo modo não podem
ser ohjecto de deliberação do Instituto
quaesquer propostas que \ izem manifesta*
ções de seus sentimentos, como coi pora-
<;ão, salvo as de Uomeuagens por falle-
cimento de seus membros.
§ Unico. Todavia o Instituto poderá
fazer-se representar em quaesquer asso«
ciações, assembléas ou solemnidades de
caracter scientiíico ou litterario, bem
como era festas «aoioiiaes.
A rt. 71. Os donativos feitos em di­
nheiro nos termos do art. 9?, bem como
de outras procedencias serão em prega­
dos em apólices e constituirão fundo de
reserva.

m á» 325
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— —

A lt. 72. 0 Regimento Interno com­


pletará as disposições destes estatutos.
A rt. 73. Os presentes estatutos só
poderão ser reformados m ediante pro­
posta assignada, pelo menos, por 10
membros, a qual será enviada á commis-
são de policia e com o parecer desta, dis­
cutida e votada, só cousideraudo-se ap*
provada se obtiver 2 /3 dos votos, dos
membros presentes.
Art. 74. Üs casos nâo previstos nestes
estatutos e no Regimento Intern o serão
decididos pelo Instituto, ouvida a conimis-
são de policia nos termos do disposto no
art. 51 § T. e constituirão arestos p ara os.
semelhantes.

Disposições transitórias
A rt. r 0 Regimento Interno será
modificado pela commissão de policia de
Accordo comestes e sta tu to s e s u je ito á de­
liberação do Instituto.
Art. 2? Approvados estes estatutos,
proceder-se-á a eleição do 2? orador e
bem assim á das connnissões cujo num era
de membros íbi reduzido de 5 a 3.
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

R K G IM E N T O IN T E R N O

A P I ’B O V A D O j

EM SESSÃO DE 18 DE NOVEMBRO DE 1699

327
______________ História da.
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

328 9ÀM
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

R e g im e n to Interno

Instituto da Ordem dos Advogados B rasileiros

le ii
Tap. MODELO—Jo»é <V>res A Ctaavc»— M. V, Inhaúma, M

R IO D K J A N E IR O

329
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

330 9áB I
i
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

ESTATUTOS

.
Onj>ií ulo 1
DO I N S T I T C T Ü Ü S K U S F IN S
A rt. 1 — O In stitu to da Ordem dos Advogados
B rasileiros, com séde n:i Capital F ederal, é um a asso-
% ciação de bacharéis e düiiture» em direito exerçam
' ou te n h am exercido a advocacia.
Parag-rapho uníco—Ü in stitu to tem por fim :
. 1? O estudo de direito pátrio e das reform as que
^ devam ser intro<)u%i(la& ciii nossa legislação ;
2? A assistência ju d iciaria ;
^ 3® A defesa dos intcrcaacs da classe dos advo-
. gfados.
A r t. 2— P a r a realizar os seus fins o In s titu to
deverá :
1? D iscutir aasumptos jurídicos em sessões, era
confereucias e ua im prensa, p o r meio d e rcv lsta pro-
p r ia ;
2? R epresentar aos podcrea públicos sobre leis,
p ro je cto s ou regfulamentos de interesse g eral ou sobre
p rovidencias a adoptar p ara a boa adm inistração da
ju stiç a e a defesa da classe dos adv o g ad os;
3® R esponder a consultas dos poderes públicos;.
4" M an ter um a bibliotheca;

331
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il □

— 6 —

S® P a tro cin a r os pobres nò cível e tio crime,, noa


term os do Dec. n. 2.457, dc 8 'd e F ercreíro de 1897. ‘
A rt. 3 — Tendo p o r fim interesses <le natureza
permi^Mciite, o Instituto*® um a associação co n stitu íd a
por tempo iiidotcrminádo. •

C ftp iiitio n

D O S M EM B R OS DO I N S T I T U T O

A r t . 4 — fc)s membros do In s titu to sâo cm


num eru illimitudo t diyidem-se em quatro classes : ef­
fectives, correí^pondeiites., honoratioa c benem<àiitos.
Art.^.'iJ'-—SSo membros cífectivos os graduados
em direito que, neata Capital, façam da advocacia pro­
fissão h ab itu al,
P arag rap h o — Sâo requisitos p ara ser ad-
m ittido como membro eflectivo o cxerciciü da advo­
cacia du rante quatro annos, pelo menos, em qualquer
p a rte do Brasil, e a apresentação de um trab alh o j u r í ­
dico reputado valioso pelo In stitu to .
A rt. 6 — Sãí> membros correspondentes os g ra ­
duados em Direito, nácionaes ou estrangeiros, resi­
dentes fóra da sede do In stitu to , que forem au to res de
trabalhos scientificos, reputados valiosos pelo In s ti­
tuto.
A rt. 7 :— S5o membros honorários os advogados
ou jurisconsultos. nacionaes ou estrangeiros, de no­
tável merecimento.
A rt. 8 — Sâo membros bciiemeritos os graduados
em Direito, nacionaes on estrangeiros, que façam ao
In stitu to donativo n5a inferior a 2;000$000, e os mem-
bros efectivos qne, por mais de cinco an n o s, hajam
prestado ao In stitu to se triç o s relevantes.

332 •à M
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

, A r t.: ') —:S e r io ”è o n sid e r^ o 4 ^vulsos os m em bros


effectijfta ; ■ ;•
1" qiie, por a u s G t i o i a o iiíiatro impeditMjBtato te m ­
porário, ii%o puderem Qxercer a advocacia neala Ca­
pital ; * ^
2? que abandonarem o cxcr^picio da advocacia.
A rt. 10— No caso do n, 1 do art. *) a transfcrcncia
para a categ’oria de avulsos só podcrá ter log-ar medi­
an te requerim ento eícripto do merabro etfectivo, ou*
vida aC om m issâo de Syiidicancia e iaforinandcj o T h e -
sourciro si o requerente está ou n io quite.
N o caso do n. 2, o In stituto deliberará a requeri­
mento de qualquer dc seus membros, sob parcccr da
Comraisâão do Syndicancia, lavr«*do com audiência do
interessado.
A rt. 11 — Os membros effectives e correaponr
dentes serão adm ittidos mediante proposta de qual­
quer membro effectívo, sob parecer da Com m issio de
S yndicancia, que ae votará, sem discussão, por escru-
tin io secreto.
A r t . 1 2 — Os membros honorários c benem eritos
serão adm ittidos mediante proposta de m ais de cinco
m embros effeclivos, que seguirá os mesmos tram ites
do a rt. 11.
A rt. 13 — N enh u m a proposta conterá m ais de
u m nome.
O np ittilo IIX

ÜA P O S S E E IN S C R IP Ç Ã O DOS M EM B R OS
DO I N S T I T U T O

A r t. 14 — A posse dos membros efíectivos con­


siste no seu compareciraento pessoal á séde do I n s ­
titu to , n a prestação,em mãos do P resid en te, do se g u in te

•ài 333
______________ História da_
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 8

compromiástt: «Prom etti^citqipric Á > tó^^dad& os á e - *


verea. d a ^ e m V ro effcc||^\^ 4p, d^Qrdéro- doa
AdTügadoç B rasiíeiros’^ y - c 'n a 'a s s í g ^ a t ú f ã • do res-
peífívo 'term o lavmdo pÁo secretario «m a
esse fim destinado. '
§ 1“ A posse dev% realisiíí-se, sob pciift de ficar
sem effeíto a proposta, dentro de 30 dias contados da
d ata da expedição dn officio do 1? Secretario p artici­
pando ao proposto a sua adm issão—salvo ju s to motivo
alleg-ado, de que tom ar4conhecim ento o In stitu to .
§ 2". T o do acjuelle que, sendo adm ittido como
membro eflectivo. aS.o tom ar posse no p raso te íeríd o ,
nâo poderá se r de novo proposto antes de decorrido
u m ann o , contado da data om que lindar o prazo m a r­
cado no p aragrapho antecedente.
A rt. 15 - A posse dos membros corresponden­
tes, honorários e benem critos consiste ija com muni-
cação escripta de que acceitam a eleição.
§ 1“ Repttta-ae não acceita a eleição quanüo, no
prazo dc quatro mezcs, nâo fúr feita a com municação
de que tr a ta o presente a r t ig o .
§ 2“ Aos membros correspondentes é applícavel
o disposto no § 2? do art, 14.
A r t. 16 — O s nomes de todos os m em bros do
In stitu to serão inscriptos, segfundo suas categorias, em
um quadro exposto na Secretaria.
IM

§ 1° A inscripçâo far-se-á na ordem de antig-ui-


dade da posse.
§ 2? H avendo m ais dc um a posse no mesmo dia,
reg u lará a data da approvaçâo da proposta; si esta fór
a mesma, a do diploma acadêmico; e p o r ultim o a
edade.
A rt. 17 —S erá deduzido da antiguidade dos mem­
bros e£fectivos o tempo em que estiverem na categoria
dos avulsos.

334 ttàB
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

X
j*

, -T . •* jf
DOS Ç IR K I T O S B^DEVPTRES DOS M EM BROS
P O IN B T IT O T O

 rt. 18 — S5t>4<Ceitos dós^-inembros effeciivOs:


1" Üiscutic e volac cm sessAf»;
y V otar c ser votado;
3? F a z e r propostas para membros de qualquer
classe;
4” A p reaen lar propostas ou tlícses;
5® L c r tra b alh o s jurídicos da propria larra:
fiV F a z e r conferencias publicas sobre quest5o ou
these appruvada pelo Prt&idtute;
7* U sa r flas regalias do D ec. n. 393, de 23 de
N ovem bro <lc 1844;
8® R equerer a couvocação de sessões exíraordí-
narías.
%. . .
A rt. l'J — S io deveres dos membros eflectivoa;
1? P a g i r a jo ia-de 30SOOO e a m ensalidade que
fôr fixada de conformidade rnm o art. 63;
2? A cceilar c desem penhar as commissões para
que. foro.m nomeados pelo In stitu to , pelo prcsideute
ou pela CotnraíssSo Central da Asstsícncia Judiciaria:
3? A p resen ta r ao Conselho da Ordem queixa con*
tr a q u alq uer membro do In stitu to que falte ás leis da
d ignidade profissional;
4? U sar de vestim enta ta la r nas sessõessolerancs;
A r t . 20 - São direitos dos membros correspon­
dentes, benem eritos e honorários:
1® A p re sen ta r propostas oti theses;
2? D iscutir e votar, cm sessão, questOes, theses .V
e propostas de natu reaa scientii6.ca;
3“ L e r trabalhos jurídicos da propria lavra.

335
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

- 10 —

4" U sar ilus regalias do Dec. n . 393 de 23 de


Novembro de 1844.
A rt. 2 1 — Sâo deireifis dos membros cor|iispott-
dentcs, beneraeritos e honorários, accettar e aesem-*
penbiir as cominíssões para que forcin nomeados pelo
Instituto ou pelo P c^ id c tile .
A rt. 2 2 — Os ^ m b r o R corresp o nd en tes nacio-
aaes contribuirão de vima só v c k com lUOSOOO, sendo
dispensados de nova jo ia caso passem á categoria de
cfFcclivos.
A rt. 23 — ü s membros avulsos terão us direitos
mencionados no art. 20 e deverão, do mesmo modo
que os outros, acceitar c desem penhar as commis-
sôcs para que forem nomeados pelo In s titu to ou pelo
Presidente.
O n p iiu lo V

DA EIvIMINAÇÃO DOS M E M B R O S DO
TNSTITITTO

A rt. 2 4 — Serâo eliminados :,


1“ O s membros eílectivos que deixarem de cum ­
prir, durante seis mc?,cs, o disposto jno’ § 1? do a r ­
tig o 19;
2? Os de qualquer categoria, conira quem houver
sido apresentada queixa jnlg ad ü procedente pelo Con­
selho da Ordem e pelo Instituto;
3? Os de qualquer categoria que houverem desa­
catado algum membro do In s titu to .
A rt. 25 ~ No caaodo n. 1 do artig o antecedente,
a eliminação será decretada pelo Conselho da Or­
dem, mediante comittunicação do T h e so u re iro , si o
socio devedor, depois de convidado pelo P resid en te
do Instituto, não pagar no praso de 15 dias as con-
tribuiç5es cm atrázo.

336
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

— 11 —
§ 1? A s eliminüçOes de que tratam x>s ns. 2 e 3
do a rt. 24 sómente serâo decretadas por proposta do
Çoosel^o da O rdem , discutida e approvada pelo Ins-
j ^ t u t o , pelo voto de dons terços dos membros pre-
sntes, em escrutiüio secreto. ,
§ 2° Q uando constar da of«5em do dia a discus­
são ou votação de m ateria rcícreiite ao u . 2 ou ao ti. 3
do art. 24, na fórnia do paraf^raptio an terior, a Secre­
ta ria convocará todos oa membros effectivos commu-
Tiicando-lhes que se terá de deliberar sobre a eliminação
do socio nom inalm ente indicado.

& 0«pit\\lo VT
i DA D IR E C T O R IA E DAS COMMISSÕES
f A rt. 2<j— A D ire-loria do In stitu to conipSc-se
5 do P resid e n te, 1“ e 2“ Secretários, Orador, e T hesou-
^ reiro, eleitos na penúltim a c empossados n a ultima
vf sessão ilc; cada anno.
L. A rt. 27 — Além da D irectoria, serão eleitos dous
F V icc-P resid en tes, dous supplentes para cada Secre-
tario e quatrocomiiiiss5es perm anentes denom inadas:
Central de A ssistência Judiciaria, de L egislação e
Í .4 Ju stiç a , de Redacção da R evista e de Syndicancia.
§ 1? A eleição p ara os cargos acima referidos
far-se-á da mesma fórma que a da Directoria.
§ 2<> Cada commissão perm anente compor-se-á
£ de tre s membros, salvo a de Ju stiça e L egislação,
que te rá seis c a de A ssistência que terá dous.
‘ § 3" Cada commissãü será presidida por aquelle
dentre seus membros que fór mais antijfO, salvo
* a de A ssistência, que obedecerá ao disposto no art.
; 7? § 1® do D e c . 2457, de 8 ds Fevereiro de 1897.
^ A rt. 28 — O Presidente é orgam official do Ins-
y; tituto e compele-lhe :

337
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

12

■’ 1? P re sid ir as aesstÕes ;
2?. R epresentar o Institu to como pessoa ju rídica
em ju iz » e fóra dclle, tlâo podeudo, perém , transig-ir,
renunciar direitos, HÜetiar ou hyp'othecar os bens so-
ciaes, sem autorização do Instituto;
3? Cotivociir sess6cs vxtraordínarias, quandn ji
gfar conveniente ou llic fôr requerido por membros
efifectivos, em numero não inferior a sete, os quaes
deverão m utivar o pedido, indicando o assum ptu a
trata r;
4” K ubricar a áttq^ dcspachar o expediente fc de-
sig-nar as m atérias da ordem do dia ; '
a: N om ear as commissões especiaes, bem como
substitutos ao Thesoureiro ou aos membros d as cora-
missOcs eleitas, quando impedidos, ou n3o com pa­
recerem ás scssAes. ou no raso dc va^a, até que seja
esta prcRnchida;
6". Nomear os em pregados do In s titu to , por pro­
posta do 1? Secretajio ou do T h eso u reiro , e m ar­
car-lhes os vencimentos, ouvindo sobre estes o T h e ­
soureiro;
7? A utorizar a s despczas extraorítínarias cuja
necessidade for dem onstrada pelo T h esoureiro.
A rt. 2 9 — O P resid en te e os dous V ice-Presi-
dentes constituirão o Conselho da Ordem dos Advo­
gados, com as seguintes attribuiçííes :
1" R epresentar aos poderes públicos ou aos tribu-
naes, acerca dc providencias que interessem á classe
dos advogados ou á dignidade do excrcirio da p r o ­
fissão ;
2? ■ Privativam ente, propór, precedendo, ou nâo,
requerim ento de alg u m dos membros do In s titu to , a
eliminação de que trata o art. 25 ns. 2? e 37:
3? Decretar a eliminação dos membros do In s ti­
tuto na hypothese prevista pelo a rt. 25 n. 1 ;

338
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

4" O rjfanizar, cm livro proprío, quailros especiaes


dos advogados e snUo.ilinlorcs, provisionados que, fio
Distvicto F ed e ral, exer-iaiii a. çrolU sâo, com o fiiti de
fiscalisar a exàcta upplicai^ãcj das lois e regulam entos
v ígc ates sobre o ex.ercic.io d:i advocacia e de prestar
as informações que s&o commertíilas por lei ao Ins-
titn lo ;
SV In terv ir ju n to aos advogados nos auditories do
R io de Ja n eiro , de modo a prevenir nu atte n u ar factos
qye prejudiquem o det^uro da classe ;
(í? D ar parecer sobre propostas de reform a dos E s­
ta tu to s e p ropor solução p ara os casos omissos.
A rt. 30 — Aos dous Vic-e-Presidentes, além das
attribuições que lhes sâo conferidas no artig o antece­
dente, com pete su b stitu ir o Presidente nos seus im pe­
dim entos.
A r t. 31 — O 1'.' Secrtítario é o director da secre­
taria c compete-lhe ;
1“ S u b stitu ir o P resid en te n a falta dos dous Vioe-
P re s id e n lc s ;
2“ F a z e r a correspondencia do In stitu to e ter sob
su a g uard a o archivo e a bibliotheca ;
3® T-«er era sess&o o expediente e dar-lhe o destino
indicado pelo P re s id e n te ;
4" A presen tar na prim eira sessão dc cada an n o o
relatorio dos trabalhos e occurrcncias do anno a n ­
te rior ;
5T C om m unicar aos membros do In stitu to a sua
adm issão ou designação p ara qualquer cargo ;
6? R ever annualm ente o quadro de que tr a ta o
a rt. 16, s«bm ettcndo-o á approvação do In stiiu to ;
7? P ro p o r os em pregados necessários ao serviço
d a secretaria e da b ib lio tliec a;

339
______________História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 14 —

8** D ar us certidões pedidas, cobrando os emolu­


mentos que houver íiz a d o ;
9? L a v rar oa termos de posse dos membros effec-
tiv Q s .

A rt. 3 2 — Ao 2?.Secretario com pele:


1" S u bstitu ir 0 P resid en te, üa falta dos V icc-Prc-
sidentcs e do 1'; Secretario :
2" F azer as iictaa e lel-as em sessão;
3" E n v iar p ara a R evista um resum o d as actas(o u
copia de toda a acta, quando o In stitu to o d eter­
minar) :
4 ' A uxiliar o I t Secretario cm suas attribuições,
exercendo as que pelo mesmo Ihè forem delegadas.
A rt. 3 3 — Os Secretários se r io substituídos pelos
respectivos supplentes. em cuja falta serv irá o membro
effectivo designado pelo presideute.
A rt. 34 — Ao T hesoureiro com pete :
17 T e r sub su a guarda os buus do In stitu to ;
2". A rrecad ar a receita o rd inaria e eventual ;
3^ P a g a r as dijspezas ordinarias, conforme o or­
çam ento approvado pelo In stitu to , do anno an te rio r
e as e itra o rd in a ria s, com axitorixaçao do P re sid en te .
4° A presentar, n a prim eira sessão de cad a an no , a
demonstração da receita e despeza do anno an terio r e
a proposta de orçamento p ara o seguinte j
5? P re s ta r a informação a que se refere o a rt. 10 ;
6? Communicar ao Conselho da O rdem os nomes
dos socios que incorrerem ua pena com m inada no
a rt. 25 § IT indicando a quantia dev id a;
7°. P ro p o r os em pregados necessários a s serviço
d a T h cso u ra ria.
A rt. 35 — O T h esoureiro fcirá sem pre p arte de
qualquer commissão, cujo fim possa trazer despeza a
pagar ou receita a arrecadar.

340 m àM
V o lu m e 3 O lO A B n a P rim e ir a R e p ú b lic a

— 15 —

A rt. 36 — Quer as contas do T hesoureiro, quer o


orçam etito, scrâosubm ettidos ao estudo daCom m iss5o
de S y ild ic a n d a e, cora parecer deata, discutidos e vo­
tados.
A rt. 37 — Ao O rador compete :
1® S er o relator das coramissBes que rep resen ­
ta re m 0 In s titu te em qualquer solemnidade ;
2? F a z e r o discurso oSictal nas sessões solemiies.
A rt. 3 8 — A ’ Commissão Central de A ssistência
Ju d iciaria com pete organizar e dirigir os trabalhos
do palrociaio g ratu ito , noa termos do Dec. 2.457, de
8 de F ev ereiro de 1897.
A rt. 39 — A ’ Commissão de Justiça e L egislaçio
com pete d a r parecer sobre todos os assuniptos de
caracter scientLfico subm ettidos á deliberai^ão do In s ­
titu to .
A tt. 4 0 — A’ CouimissãLü de R edacnio da R e­
vista com pete dirigir a Revista de accordo com o
program m a traçado no R egim ento In tern o.
A rt. 41 — A ’ Coinmíssao de Syndicancia com­
p ete :
1" D ar parecer sobre as propostas p a ra membros
do In s titu to , dizendo sobre o m érito scientiüco dos
tra b alh o s apresentados ;
2? D ar parecer sobre o caso de que tra ta o a rt. 10;
3“ D ar parecer sobre a proposta de orçam ento e
as contas do T h esoureiro.
A rt. 42— As eleiçSes do» membros da Dire-
ctoria, d os V ice-Presídetttcs, das commissões perm a­
nentes e dos supplentcs dos Secretários realizar-se-âo
na p e n ú ltim a sessão de cada anno, nos term os do
art. 26. ou quando occ»rrcr vagst.

341
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 16 —

A rt. 4 3 — A s clciçõcs serão feitas p o r escrutínio


sccrcto, considerando-Se eleitos os que obtiverem
maioria de votos dos prvsentcs.
§ If N o caso rie em pate, prevalecerá a a n tig u i­
dade de posse no In stitu to .
§ 2? V otar-se-á em um a só rcdiila p ara P resid ente
e V ice-Presidontes; em outra p ara ^ecrétarios e sup-
pleatee e aind a em outras, separadam ente, p a ra O ra­
dor, para T h esoureiro e p ara cada commissão.
§ 4® Os doua supplentes dos S ecretários m ais vo­
tados substituirão o 1?; os outros dous sub stituirão o
scguiido.
Cnpi(nlo-VIl

DAS S E S S Õ E S

A rt. 4 4 — As sessues do lu s titu to scrâo ordina*


rias, cxtraordinarias c snlcmnes.
§ 1.* A s ordinárias realisar-se*3o duas vezes
po rm ez.
§ 2" As extraorditiarias eflectuar-se-io quando
convocadas nos termos do a rt. 28 n. 3 .
§ 3 ’ A a solcmnes reulizar-se-io anQualmente ao
dia 7 de A gosto p ara commemorar a fundação do Ins-
tilu to ou em outro dia, ei por motivo ponderoso nâo se
puder realisar nessa data.
A rt. 4 5 — 0 In stitu to funcctoaará desde 15 de
Abril até 13 de Novembro.
C u p iL iiio v i r r

DOS P R O JE C T O S , T H E S E S E P R O P O S T A S

A rt. 46 — Sobre as theses ap resen tad as será con­


sultada a commisaSo de L egislação e Justiça- que d ará
parecer acerca da conveniência da discussão.

342 m àM
V o lu m e 3 O lO A B n a P rim e ir a R e p ú b lic a

— 17 —

E sse parecer í5crá subm ettido, sciii debate, a vo­


tação do Instituto.
Parag rap tio um co. — Si for julgadii conveniente
a discussão, o Presidente do In stitu to rem etierá a
these ao proponente atim de a relatar, o, si este se escu­
sa r. nom carâ outro relator. ^
A r t. 47— Os projectos e proposta» serão a p re­
sentados por cscripto e submcttidos pelo P residen te do
In s titu to á commissâo competente ou áquella que lôr
especialm ente nomeada.
A rt. 48 — 0 Rejfimento Interno estabelecerá n o r­
mas para as discussões c votações,
O lv p tM tlo I X

DAS C O N F R R E N C IA S
A r t. 49 — Os membros do Instituto que quizerein
fazer conferencias ou os jurisconsultos que forem p ara
esse ü m convidados pela Mesa do In stitu to submetterJlo
previam ente á approvação do Presidente o assum pto
sobre que disscrtarem
§ 1" As conferencias terão logar cm sessOes extra-
o rd in arias, que poderão ser publicas.
§ 2“. As' conferencias versarão sobre assum ptos
que se relacionem com os fins do In stitu to .
O a p itu lo -X

T)A R E V I S T A DO I N S T I T U T O
A r t. SO A R evista se rá publicada sob o titulo
— lieoista iJo InHituto da Ordem dou Advogados Braai-
letrot.
A r t. 5 1 A R evista será d irig id a pela Com-
missão a que se refere o a rt. 40 e d istribuida g ra tu i­
ta m e n te a todos oa membros do In stitu to .
A rt. 52— O preço da assig n atu ra será estabele­
cido pela commissâo, ouvido o T h esou reiro.

343
______________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

^18 —

Oupilulu X I

D IS P O S IÇ Õ E S fiR R A E S

A r t . 53 Ncnhuro n c n ib ro efiEectiro fará parte


de inais de um a commissão perm an en te. SÍ fór eleito
p ara m ais de um a, o p tará.
P arag rap h o u n ic o — Os membros da D irectoria,
os V ice-Prcsidentes e os supplentes de Secretários não
poderão fazer p arte dc. tveníiuma das commissSes p er­
m anentes.
A rt. 54 — O a a a o íinmicciro do In s titu to será
contado de 1 de Jan eiro a 31 dcD eaem bro.
A rí. 5 5 — 0 In stitu to não em ittirá ju ízo sobre
q uestões de interesse privadu.
A r t . SO — N ão podem ser objecto de deliberação
quaesquer propostas que rizem m anifestação dos sen ­
tim entos do In s titu to como corporação, salvo as de h o ­
m enagem por fallecimento de seus membros ou de ju -
risconsultos nacionaes e cstrang-eiros.
P arag rap h ü unico — T odavia, o In s titu to poderá
faíer-se rep reseu tar em quaesquer assembléas ou so-
lemnidades de caracter «cientifico ou litterario , bem
como em festas nacionaes.
A rt. 57 — O s saldos da receita serão em pregados
em apólices ou títu lo s da divida publica, salvo delibe­
ração do In s titu to sobre o modo dc su a a p p lic a ç ã o .
A rt, 58 — O Regim ento In tern o disporá sobre a
execução destes E sta tu to s ,
A rt, 5 9 - Os presentes E sta tu to s s6 p o d é rio ser
reformados mediante proposta assignada pelo menos
por dc« membros effectives, que, com parecer do Con-

344 m àM
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

; _ i9 —’

celho da Ordem será discutida-e vfttada; coiisideruH-


do- 9c ap p ro v a d a 'si obtiver dois terços dos votos dos
membros effectivos presentes e quites ^
A r t. 00 Os casos nâu previstos nestes Bsta-
X tu to s e no R egim ento In te rn o serão decididos pelo Ins-
c ' titu to , onvido o Conselho da O rdem , nos term os do
n. 6 do a r t . 29, e constituirão ares tos p ara os seme-
ibantés-
A r t. 61 — O s membros do In stitu to nâo re s­
pondem subsidiariainente pelas obrigações que os re­
presen tan te s da associação contrahirem expressa ou
ta citam e n te em nome deste .
A rt. 62 — N o caso de extincçâo do In stitu to , será
u seu patriraonio transferido de prefcrcncic á asso.
giasjao uacional q u c fô r designada pelo In stitu to e q u e
promova flns análogos ou idênticos, ou, ein falta desta
a um estabelecimento de ensino jurídico.
A rt, f»3 — O In stitu to, na ultim a sessão ordinaiia
d tjz a d a an n o , discutirá o parecer daC om m issaodeS yn-
dicancia sobre a proposta de orçam ento feita pelo T h e-
aoureiro p ara o exercicio seguinte e fixará a m ensali­
dade p ara o mesmo período.

D IS P O S IÇ Õ E S T R A N S I T Ó R IA S

A r t. 6 4 — O Kegímctito Interno será modificado


pela M esa de accordo com estes E sta tu to s e sujeito á
deliberação do In stitu to .
A r t. 6 5 — Os actuaes membros effectivos, que
têm m enos dc quatro annos de exercício da advocacia,
continuarão no goso dc todos os direitos j á adquiridos.
Os actuaes membros estag-iarios continuaA o com o d i­
reito de d iscutir, sem o de votar e ser votado, até per-

m áB 345
______________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

1
— 20 —

fazerem quatro aniios de exercício da advocacia e


passaretjj á d a s s e de effectivos, aeado dispensados da
apresentação de traballio juridico exigida pelo artigo
5?, § imieo.

Approvados era sessão, 21 de N ovembro de 1910.

! Xnviej' da S U v eii-a Jvnívr, P residente.


Moitinho Dorin, 1? Secretario.
Levi Caineirò, 2? Secretario.

346 •41
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

S E RECIMENI
DO

MÔTITUTO DA ORDEM
DOS
«i
A D V O G A D O S B RA SILEIR O S

( FUNDADO EM 1843 )

o o x o o

RIO D E JA N E IR O
Off. G raph, da L ivraria Francisco Alves
1917

"i--. i---

E s ta tu to s e R e g im e n to s d o I n s t i t u t o d a O rd e m d o s A d v o g a d o s B ra s ile íro s . Rio de Janeiro:


O ff GraphicasAlba, 1917.

•áB 347
___________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

348 9àM
V o lu m e 3 O lO A B n a P rim e ir a R e p ú b lic a

ESTATUTOS

Art. 1.® 0 Instituto da Ordem dos


Advogados Brasileiros, constituido eni
7 de Agosto de 1843, é uma associação,
com séde na Capital Federal e du­
ração in d e te rm in a d a , de b ach aréis e
doutores em d ire ito que legalmente
exerçam ou ten h am exercido a advo­
cacia.
Paragraph© unico. 0 Instituto tem
p o r fini:
1.” o estudo do D ireito em geral e
especialm ente do direito p a trio e das re ­
form as que devam se r introduzidas na
legislação;
2.® a assistência ju d ic ia ria ;
3.® a defesa dos interesses da classe
dos advogados.

349
_____________ Historia da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

Art. 2.® P a ra realizar os seus fins o


I, Instituto deverá:
i / D iscutir assum ptos jurídicos, em
sessões, em con ferencias e na im prensa
p o r meio de publicação p ró p ria ;
2.® R ep resen tar aos po deres públicos
sobre leis, p ro jecto s ou regulam entos de
interesse geral ou sobre p ro v id en cias a
adoptar p a ra boa ad m in istração da ju s­
tiça e defesa da classe dos advogados;
3.“ R esponder a consultas dos p o ­
deres públicos;
4." Ouvir e registar as communi-
caçòes que seus associados entendam of-
ferecer sobre questões de interesse ge­
ral;
5." M anter um a bib liotheca;
6.® P a tro c in a r os pobres, no civel e
no crim e, nos term os da lei.
Art. 3.® Os m em bros do Instituto são
em num ero illim itado e dividem -se em
quatro classes: effectivos, co rrespo n ­
dentes, h o n o rá rio s e benem eritos, cujos
direitos e deveres serão d efin id o s no
Regimento.
Art. 4." Poderão ser m em bros effe-

350
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ira R e p ú l) lic a

ctivos do Institu to os doutores e ba­


charéis em d ireito que, nesta Capital,
façam da advocacia profissão habitual.
§ 1.® P ara adm issão como m em bro ef­
fective é m ister que o advogado p ro ­
posto apresente á commissão de syndi-
cancia um trab alh o ju rid ic o de sua
lavra.,
§ 2.*’ Serão considerados avulsos os
m em bros effectives do In stituto:
1", que, p o r ausência ou outro im ­
pedim ento te m po rário, não puderem
exercer a advocacia nesta Capital;
2", que ab andonarem o exercicio da
advocacia.
Art. 5.“ P o d erão se r m em bros cor­
respondentes os gradu ado s em Direito,
nacionaes ou estrangeiros, residentes
fóra da séde do Instituto, autores de tra ­
balhos scientificos, reputados valiosos
pelo Instituto.
Art. 6.“ P o d e rã o ser mem bros ho ­
n o rário s os advogados ou jurisconsuUos,
nacionaes ou estrangeiros, de notável
m erecimento.
Art. 7." P o derão ser m em bros be-

351
______________ História da.
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

\ " , p '

— 8 —

nem eritos os doutores e b ach aréis ern


Direito, nacionaes ou estrangeiros, a
quem, p o r serviços e xtraordin ario s, o
Instituto resolva co n c e d e r essa gra­
duação.
Art. 8.® Os nomes de todos os mem­
bros do Instituto serão Inscriptos, se*
gundo suas categorias, em um quadro
exposto na Secretaria.
§ 1." A inscripçâo far-se-á na or­
dem de antiguidade da posse.
§ 2.® Havendo mais de uma posse no
mesmo dia, regulará a data da appro-
vação da pro p o sta ; si esta fo r a mesma,
a do diplom a acadêm ico; e p o r ultimo, a
idade.
§ 3.® Será deduzido da antiguidade
dos m em bros effectivos o tem po em que
estiverem na categoria de avulsos.
Art. 9.® Serão elim inados do Insti­
tuto:
1.® O s m e m b r o s e f f e c t i v o s que dei­
xarem de cu m p rir, d u ra n te seis mezes,
os seus com prom issos p a ra com o Ins­
tituto.
2.® Os de q u a l q u e r categoria contra

352 m àM
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ira R e p ú b lic a

— 9 —

quem h o u v e r sido apresentada queixa


julgada pro c e d e n te pelo Conselho da
Ordem.
3.“ Os de qu alq u er categoria que
houverem desacatado algum m em bro do
Instituto.
Art. 10. A ad m in istração do Insti­
tuto com pete ao presidente, dous vice-
presiderítes, 1® e 2® secretários, orador,
thesoureiro e bibliothecario.
§ 1.® A eleição da directo ria será
feita na ante-penultim a sessão ordi-
n aria de cada anno.
§ 2.° Nessa mesma sessão serão
igualm ente eleitos dous supplentes p a ra
cada secretario e os m em bros das com-
missões perm anentes.
§ 3." As com missões perm anentes
serão, além das que o Regimento crear:
1 — de S yndicancia e Contas;
2 — de D outrina e Legislação Fe­
deral;
3 — de Legislação Estadual.
§ 4.® Serão igualm ente eleitos pelo
Instituto os seus m em bros que deverão.

« ▲I 353
______________História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— lu —

nos term os da lei, fazer p a rte da Com-


missão Central de A ssistência Ju diciaria.
§ 5.® A adm in istração do Instituto,
supplentes e commissões p re sta rã o com­
prom isso e tom arão posse n a ultim a ses­
são o rd in a ria do anno, ou, depois disso,
p eran te o Presidente.
' Art. 11. 0 p re sid e n te é o orgão offi-
; ciai do Instituto, dirige-lhe os trabalhos
e 0 representa, como pessoa ju rid ic a , em
juizo ou fóra delle, não podendo, porém,
transigir, re n u n c ia r direitos, alie n a r ou
h yp o th ecar os bens sociaes, sem expres­
sa autorização do Instituto.
Art. 12. Ao thesoureiro incum be a
guarda e adm inistração dos bens so­
ciaes, devendo ap resen tar, na ante­
penúltim a sessão de cada anno as con­
tas de sua gestão e a p ro p o sta de orça-
í mento p a ra o anno seguinte.
’ § 1,® As contas do thesoureiro e pro-
I posta de orçam ento ficarão no Insti-
\ tuto, á disposição dos m em bros que as
queiram exam inar.
§ 2." Na sessão seguinte a Commis-
são de Syndicancia a p re se n ta rá p arecer

354
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ira R e p ú b lic a

— 11 —

sobre as contas do theso u reiro e a p ro ­


posta de orçam ento, que e n trarão em
discussão.
§ 3." Si a discussão das contas não
for e n c e rra d a p a r a se r votada na sessão
seguinte, serão pelo presid en te convo­
cadas as sessões e x tra o rd in a ria s p re ­
cisas p a ra a discussão.
Art. 13. A Commissão de D outrina e
Legislação F ederal, além das funcções
que o Regimento lhe assignalar, cabe
apresen tar, sem pre que fô r opportuno,
as questões que, p o r sua natureza de in ­
teresse geral, devam de p re fe re n c ia ser
estudadas pelo Instituto.
Art. 14. A Commissão de Syndi-
cancia e Contas d a rá p a re c e r sobre as
propostas de novos m em bros do Insti­
tuto, de qualquer categoria, verificando
as suas condições de adm issibilidade, e
sobre as contas e pro po stas de orça­
mento.
Art. 15. A Commissão de Legislação
Estadoal pro m o v erá a creação na Bi-
b liotbeca do Institu to de um a secção de
legislação dos Estados, p re p a ra n d o es-

355
______________ História, da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 12 —

tudos e relalorios que serão publicados


no “Boletim do Institu to” .
Art. 16. As funcções dos demais
membros da adm inistração serão de fi­
nidas n o Regimento Interno.
Art. 17. P ara que o Instituto possa
fu nccio nar é m istér a presença, pelo
menos, de sete de seus m em bros effe­
ctives, ou de 12 q u an d o se tenha de p ro ­
ceder a votações sobre conclusões de
doutrina.
Art. 18. Fica creado o Conselho da
Ordem dos Advogados constituído p o r
todos os m em bros do Instituto, de qual­
quer categoria, que estejam servindo ou
hajam servido como seu presid en te ou
vice-presidente.
§ 1.® Esse Conselho elegerá o seu
presidente, tendo como funcção, p o r in i­
ciativa p ró p ria ou do Instituto ou p o r
provocação de qu alq u er dos seus m em ­
bros ou de q u a lq u e r dos m em bros do
Instituto, a defesa s u p e rio r dos interes­
ses da classe dos advogados e do p re ­
stigio e dignidade da profissão.

356
V o lu m e 3 O IO A B na P rim e ira R e p ú b lic a

— 13 — ,'

§ 2.° 0 p re sid e n te effectivo do Ins­


tituto será o relator, p eran te o Conselho, -
d»s questões que se tenham originado \
no Instituto. I
§ 3." O Conselho organizará o seu
regim ento intern o, que será approvado
pelo Instituto.
§ 4 / Os pareceres do Conselho da
Ordem deverão ser subscriptos no mi-
nirao p o r tres de seus m em bros não di­
vergentes. ^
•j
Art. 19. Como orgao de publicidade ;
o Instituto m an te rá um “ Boletim”, a ,,
cargo da sua directoria.
Art. 20. 0 In stitu to po d e rá aceitar |
auxílios o fficiaes e p articulares, bem
como encargos que visem o progresso
das letras ju rid icãs.
Art. 21. 0 Instituto não em ittirá
juizo sobre questões de interesse p r i­
vado.
Art. 22. Não podem se r objecto de
deliberação quaesquer pro p ostas que vi­
sem m anifestações dos sentim entos do

357
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il ]

;}. — 14 —

t-
, Instituto como co rp oração , salvo as dc
homenagem p o r fallecim ento de seus
mem bros ou de jurisco n su lto s nacionaes
c estrangeiros.
P aragrap h o unico. T odavia, o In s­
tituto p o d e rá fazer-se re p re se n ta r em
quaesquer assembléas ou solem nidades
de caracter scientifico oo literário, bem
como em festas nacionaes.
Art. 23. Os saldos das receitas serão
em pregados em apólices ou titulos da
divida publica, salvo deliberação con­
tra ria do Instituto.
Art. 24. Os m em bros do Instituto não
respondem sub sidiariam en te pelas ob ri­
gações contrahidas, ex p ressa ou tacita-
mente, em nome deste.
Art. 25. No caso de extincção do
Instituto será o seu p atrim ô n io tra n sfe ­
rido, de p re fe re n c ia, á associação na­
cional que fô r designada p o r elle, e p ro ­
mova fin s analogos ou id ên ticos aos
seus, ou, em falta desta, a estabeleci­
mento de ensino ju ríd ic o .

358 #à#
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ira R e p ú b lic a

Art. 26. Os presen tes estatutos só


poderão ser refo rm ado s m ediante p ro ­
posta assignada pelo menos p o r dez
m em bros effectivos que, com p arecer
do Conselho da Ordem, será discutida
e votada; considerando-se a p p ro vada se
obtiver dous terços dos votos dos mem­
b ros effectivos, presen tes e quites.
Art. 27. Votados os Estatutos, o P re ­
sidente nom eará um a comm issão de cin­
co m em bros p a ra e la b o ra r ou m odificar
o Regimento Interno, que será submetti-
do á votação e discussão do Instituto.
§ 1.® Uma vez app ro vado o Regi­
mento, a refo rm a de qualquer de suas
disposições far-se-á p o r em enda, ap re­
sentada p o r cinco m em bros effectivos,
que será posta em discussão depois do
p a re c e r da Mesa, e discutida e votada
pelo m odo p o r que se discutem e votam
as propostas em geral.
§ 2." As duvidas suscitadas em ses­
são sobre in terp retação do Regimento,

359
______________História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

16

serão resolvidas sem debate pela Mesa;


salvo o recu rso p a ra o Conselho da Or­
dem, cuja resolução firm a rá o sentido
do dispositivo.

Rio de Janeiro, 5 de ju lh o de 1917.

R o d r ig o O c t a v io ,

P re sid e n te .
T a r o in o R ib e ir o ,

í.® S e c r e t a r i o .
CASTRO N u n e s ,
2.® S e c r e t a r i o .

360 9àM
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

R E G JM E M T O
DO

COMSELMO DA ORDEM

E statutos

•àl 361
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

362 «▲I
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ira R e p ú b lic a

ESTATUTOS E REGIMENTOS
DO

INSTITUTO DA ORDEM

DOS

AD VO G A D O S BRASILEIROS

(F U N D A D O EM 1843)

RIO DE JAN EIR O


Off. Graphicas AIba— Lavradio, 60
19 2 9

•àl 363
_____________ História da
Ordem dos Advogados do B r a s i l

364 SAI
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

ESTATUTOS

• A rt. 1." 0 Institu to da Ordem dos


í Advogados Brasileiros, constituído em 2
j 7 de Agosto çle 1843, é um a associação, j
[ com séde na Capital Federal e duração %J
I indeterm inada, de bacharéis e doutores
f cm direito cpie legalmente exerçam ou ■ k
^ tenham exercido a advocacia. 'í
P arag raph o unico. () instituto teni
por f i m :
1.» O estudo do Direito em geral e
especialmente do direito patrio e das
reform as que devam ser introduzidas r.
na legislação; "is
i 2.° a assistência ju d ic ia ria ; _
3.® a defesa dos interesses, da digni-
dade e do prestigio da classe dos advo- . '-5
gados;

365
______________História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 6 -

4.® a diffusão da cultura ju rídica


no Paiz.
A rt. 2.® P a ra realizar os seus f i n s p
Instituto deverá:
1.“ discutir assuraptos jurídicos, em
sessões, em conferencias, e na imprensa
por meio de publicação p r ó p r ia ;
2 ° representar aos poderes públicos
sobre leis, projectos ou regulamentos de
interesse geral ou sobre providencias a
adoptar para a boa adm inistração da j u s ­
tiça c defesa da classe dos advogados;
3.“ responder a consultas dos pode­
res públicos;
4.“ ouvir e registar as coraraunica-
ções que seus associados entendam offe-
recer sobre questões -de interesse g e r a l;
5." m anter um a bibliotheca;
6.® patrocinai’ os pobres, no eivei e
no crime, nos termos da lei.
A rt. 3." Os membros do In stitu to
são em numero illimitado e dívidem-se
cm quatro classes: effectives, correspon.
dentes, honorários e benemeritos, cujos
direitos e devores serão definidos no Re­
gimento.
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

!
^ 7 —

A rt. 4.® Poderão ser membros ef­


fectives do in stitu to doutoreis e bacha­
réis em direito que, nesta Capital, fa ­
çam da advocacia profissão habitual.
§ 1." P a ra admissão na cias.se de
membro effective ó mister que o advoga­
do proposto apresente á commi-ssão com­
petente um trabalho jurídico de sua
lavra.
§ 2.® Serão considerados avulsos os
membros effeetivos do In stitu to :
1." que, por ausência ou outro im­
pedimento temporário, nâo puderem
exercer a advocacia nesta C a p ita l;
2." que abandonarem o exercício da
advocacia.
§ 3.® Poderão ser adm ittidos como
avulsos magistrados, professores de Di­
reito e outros juristas, formados em D i­
reito, que não exerçam a advocacia.
A rt. 5." Poderão ser membros cor­
respondentes os graduados em Direito,
nacionaes ou estrangeiros, residentes
fóra da séde do Instituto, autores de
trabalhos scientificos, reputados valio­
sos pelo In stitu to .

367
______________ H istoriada
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

8 —

Art. 6." Poderão ser membros hono­


rários advogados ou juriscoiisultos, na-
eionaes ou estrangeiros, de notável me­
recimento.
Paragraplio único. Os ju ristas e-s-
trang-eiros só o poderão ser quando ti­
verem revelado interesse pelo Institu to
ou pela cultura ju rídica do B rasil.
A rt. 7." Poderão ser membros be-
nemeritos os doutores e bacharéis em D i­
reito, nacionaes ou estrangeiros, a quem,
por serviços extraordinarios, o In stitu to
resolva conceder essa graduação.
A rt. 8." 0 titulo de presidente lio-
uorario só será conferido mediante pro­
posta de 50 membros effeetivos, appro-
vada por cinco sextos, pelo menos, dos
membros effeetivos presentes á sessão.
A rt. 9." Os nomes de todos os mem­
bros do In stitu to serão inscriptos, se­
gundo suas categorias, em um quadro
exposto na Secretaria.
§ 1.” A inscrip<jão far-se-á na ordem
de antiguidade da posse.
§ 2.* Havendo mais de um a posse
no mesmo dia, regulará a data da ap-

368
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ira R e p ú b lic a

í .
provação da p ro p o sta; si esta fô r a mes­
ma, a (Io diploma acadêmico; n por u l­
timo, a id a d e .
§ 3 " Será deduzido da antiguidade
; dos membros effectives o tempo em que
i estiverem na categoria de avulsos.
' A rt. 10. Serão eliminados do Insti-
I tu to :
1." Os membros effectives que deixa­
rem de cum prir, durante seis mezes, os
seus compromissos para eom o Insti­
tu to .
2." Os de qualquer categoria contra
quem decretar essa penalidade o Con­
selho da Ordem;
3." Os de qualquer categoria que
houverem desacatado aljrum membro do
In stitu to .
Art. 11. A administração do In sti­
tu to compete ao Presidente, dois vice-
presidentes, 1" e 2" secretários, orador,
thesoureiro e bibliothecario.
§ 1." A eleiíjão da directoria será
feita na ante-penultima sessão ordinaria
de cada anno.
§ 2.** Nessa mesma sessão serão eleí-

•àl 369
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 10 —

fos doÍH snpp1(‘n1(‘s para cada secrefa-


rio. I
§ 8." iderão igualmente eltntosí pelo t
ln«titu'to 08 seus membros que, nos ter- ;
mos da lei, farão p arte da ( ‘ommissao
( ’entrai de Assistência Ju d iciaria .
§ 4.” A adm inistração do Instituto,
supplentes e commissões prestarão com­
promisso e tomarão posse na prim eira
sessão ordiaiiaria do anno seguinte ao
da eleição, ou, depois disso pt'rante o
Presidente.
A rt. 12. As commissões permanen- ^
tes serão as estabelecidas e reguladas ^
pelo regimento interno e eleitas por dois «
annos, na ante penúltim a sessão ordi- [
jiaria do anno correspondente. \
P aragrapho unioo. Não poderá ser
reeleito o membro de commissão p er­
m anente que, durante o período p a ra \
({ue fôr eleito, nenhum parecer, memó­
ria ou communicado houver apresen­
tado.
A rt. 13.° 0 presidente é o orgão
official do instituto, dirige-lhe os t r a ­
balhos e 0 representa, como pessôa ju-

370 m àM
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

r _ II _

ridiea, era juizo ou fóra delle, não po­


dendo, porém, transigir, renunciar di­
reitos, alienar ou hypothecar bens so-
ciaes, sem expressa autorização do I n ­
stitu to.
A rt. 14. Ao thesoureiro incumbe a
g u ard a e administração dos l#ns so-
ciaes, devendo «presentar, na primeira
sessão de cada. anno as contas de sua
gestão anterior e a proposta do orça­
mento.
§ 1 As contas do thesoureiro e pro­
posta de orçamento ficarão no In s titu ­
to, á disposição dos membros que as
queiram exam inar.
§ 2.® Na sessão seguinte será apre­
sentado 0 parecer da Commissão eleita
p ara esse fim pelo Conselho da Ordem
e logo submettido a discussão.
§ 3." Si a discussão de contas não for
encerrada p ara ser votada na sessão se­
guinte, serão pelo Presidenta.* convocadas
as sessões extraordinarias precisas para
a discussão.
A rt. 15. As funeções dos demais

•àl 371
______________ Historia da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

— 12 -

membros da administrflçao serão defini­


das no Regimento Interno.
A rt. 16. P a ra que o In stitu to possa
funccionar 6 mister a presença, pelo
menos, de sete de seus membros eff«-
ctivos, ou de 12, quando se tenha de p ro ­
ceder a votação sobro conclusões de dou­
trin a .
A rt. 37. 0 Conselho da Ordem dos
Advogados será constituído por todos |
os membros do Instituto, de qualquer
categoria, que estejam servindo ou h a­
jam servido como seu presidente ou vi­
ce-presidente .
§ 1." Esse Conselho elegerá o seu
presidente, tendo como funcção, por
iniciativa própria ou do In stitu to ou ‘
por provocarão de (lualquer dos seus
membros ou de qualquer dos membros
do Instituto, a defesa superior dos in­
teresses da classe dos advogados e do '
prestigio e dignidade da profissão.
§ 2." 0 presidente effectivo do I n ­
stituto será 0 relator, p erante o Conse­
lho, das questões que se tenham origi-

372 «41
1
Volume 3 O lO A B na P rim e ira R e p ú b lic a

- 13 —

nado no Instituto, excepto quanto ao


parecer sobre as contas cio thesouroiro.
§ 3." 0 Conselho organizará o seu
rcg'hnento interno, que será approvado
pelo In stitu to.
§ 4 ° Os pareceres do (,’onselho de­
verão ser subscriptos no mínimo por
tres de.seus membros não divergentes.
§ 5.® 0 Conselho será previamente
ouvido sobre qualquer proposta que
acarrrete alienação de bons do patrimo-
nio do In stitu to .
A rt. 18. Como orgão de publicida­
de 0 In stitu to m anterá um “ Boletim”,
a cargo da sua directoria, ou de com-
raissão especial nomeada pelo Presi­
dente.
A rt. lí). 0 Institu to poderá acei­
ta r auxilios officiaes e particulares, bem
como encargos que visem ao progresso
das letras jurídicas.
A rt. 20. 0 Institu to não em íttírá
juizo sobre questões de interesse privado.
A rt. 21. Não pode ser objecto de de­
liberação qualquer proposta que vise
m anifestar sentimentos do Institu to

373
______________História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

V'

— 14 -

como corporação, salvo em homenagem


' por fallecimento de seus membros ou
de juriscousultos nacionaes e estran­
geiros .
Paragrapho unico. Todavia, o Insti-
r tuto poderá fazer-se representar em as-
spmbléas ou solennidades de caracter
«cientifico ou literário, bem como em
festas nacionaes.
- Art. 22. Os saldos das receitas serão
j empregados em apólices ou titulos da
divida publica, salvo deliberação con-
tra ria do Instituto,
g: Art. 23. Os membros do In stitu to
; nào respondem subsidiariam ente pelas
V. obrigações contrahidas, expressa ou ta-
citamente, em nome deste.
^ A rt. 24. No caso de extincção do In-
f stituto será o seu patrimonio tran sferi­
do, de preferencia, á associação nacio­
nal que fôr designada por elle, c pro-
f-’ mova fins analogos ou idênticos aos
^ seus, ou, em falta desta, a estabeleci-
i' inento de ensino jurídico.
^ A rt. 25. Os presentes estatutos só
^ poderão ser reformados m ediante pro-

374
V o lu m e 3 O lO A B IIn P r im e im R e p ú b lic a

f - 15 —

posta assignada pelo menos por dez


mernbros effectivos, que, com parecer do
Conselho da Ordem, será discutida e vo­
tada, considerando-se approvada se ob­
tiver dois terços dos votos dos mem­
bros effectivos, presentes e quites.
A rt. 26. A reform a do Regimento
interno far-se-á por proposta de cinco
membros effectivos, que, depois do pa­
recer da Mesii, será discutida e votada
pelo modo por que se discutem e votam
as propostas em geral.
' A rt. 27. As duvidas suscitadas em
sessão sobre interpretação do Regimen-
- to serão resolvidas sem debate pela
Afesa, salvo recurso para o Conselho da
Ordem, cuja resolução firm a rá o sen­
tido do dispositivo.
A rt. 28. F ica instituida uma caixa
especial, p a ra beneficencia aos socios
(}ue delia façam parte.
§ 1.® A caixa será form ada pela con­
tribuição fixada no seu regimento e por
doações ou legados, ainda que de pes­
soas estranhas.
§ 2.® 0 regimento será elaborado

•àl 375
______________História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

_ 16 -

por uma commissão nomeada pelo P re ­


sidente e discutido e votado pelo In sti­
tute, obedecendo a sua reform a ás mes­
mas normas traçadas para a reform a do
regimento interno do Instituto.

Disposições transitórias

A rt. 2í). Fica a D ircctoria auto ri­


zada a rcadm ittir, no quadro social, i

na qualidade de membros effectives, de C


accôrdo coni a coramlssão competente, %
todos os que, nessa mesma categoria ou I
na de estagiários, tenham feito p arte do |
Instituto e preeneliHm os requisites es- |
tatuarios, que hajam sido excluídos por I
motivo voluntário, inclusive por fa lta í

de pagamenio da mensalidade — desde >


que 0 requeiram até 30 de Jan eiro de !
1029. ' [
A rt. 30. O mandato da actual Dire- '
ctoria, supplentes e commissÕes perma- j
nentes ainda que eleitos em virtude des- 1
ta reforma, term inará aos 14 de Novem- ‘
bro de 1929, sendo os successores elei- j

376 9AB
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

17

tos na penúltim a sessão ordinaria an­


terior a í-.Hta data, para servirem até a
prim eira sessão ordinaria de 1931.

Ivio <}(' Janeiro. 31 de Dezembro de


m s.
L r v i Carneiro
Presidente
Philadclpho Azevedo
1.® Secretario
Tlaroldo Vídladão
2." Secretario

377
378
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

íS m U TO S E REEIMEmOS
DO

INSTITUTO DA O R D E M

DOS

A D V O G A D O S B R A SIL E IR O S

I. A. B.
b i b l i o t e c a

i
R IO B B JA N E IR O
T y p o g . do J o r n a l , d o C o m ic b s c z o
R o d rig u e s & C .

379
______________ História d a
O rd e m dos A dvo g ad os d o B r a s il

380
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

A r t , 1* — o I n s t i tu t o da. O rdem doa


A d v o g a d o s B ra sile iro s, c o o stitu ld o em 7 d e
A g o s to d e 1843, é u m a assodagS-o, com séd e
n a C a p ita l F e d e r a l e .d u ra ç ã o in d e te rm in a d a ,
d e b a c h a r é is e d o u to re s e m d ire ito q u e le g a l­
m e n te e x e rg a m o u te n h a m e x erc id o a ad v o ^
c a c ia .
S l " ' — O I n s t i tu t o te m p o r fim :
1* — o e s tu d o do D ire ito e m g e ra l, e
e s p e c ia lm e n te do d ir e ito p a trío e d a s r e fo r ­
m a s q u e d e v a m s e r In tro d u z id a s n a leg is­
la ç ã o b ra s ile ira ;
2® — a a s s is tê n c ia Ju d ic ia ria ;
3® — a d e fe s a d a d ig n id a d e , do p re stig io
e d o s in te re s s e s d a c la ss e dos ad v o g ad o s;
4® — a d lffu s ã o d a c u lt-u ra ju r íd ic a no
P a iz .
5 2“ — O s I n s t i tu t o s d e A dv o g ad o s, o ra
e x is te n te s nog E s ta d o s , o u os q u e se c r ia ­
r e m — n ã o m ató d e u m em o a d a E s ta d o —-
p o d e rã o f ilia r - s e a o I n s t i tu t o d a O rd em doa

•á B 381
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

A d v o g a d o s B ra sile iro s, noa te rm o s c t^ t« s B a -


ta t u t o s , c o n se rv a n d o p e rs o n a lid a d e ju rld ld a ,
com J n te Jra a u to n o m ia n a a m a té r ia s d e se u
in te r e s s e e n a g e s tã o e d isp o siç ã o d e s e u s o a -
trlm o n io s:
a ) c a d a I n s titu to filiad o t e r â pelo m e n o s
fe- 10 socios e fíe c tlv o s;
b) a o rg a n iz a ç ã o fu n d a m e n ta l d e c a d a
I n s t i tu t o e s ta d u a l o^tedecerá & do I n s t i tu t o
d a O rd e m doa A d v o g a d o s B ra a ile lro s, m a n te n ­
do to d o s ^ t r e -si, c o rre sp o n d e n c ia c o n s ta n te e
reg rJlar;
c ) o I n s t i tu t o d a O rd em d o s A d v o g ad o s
B ra sile iro s, ou q u a lq u e r I n s t i tu t o filia d o , p o ­
derá. ro m p e r a flU agâo e sta b e le c id a , m e d ia n te
a v is o com a n te c e d e n c la d e S m e z e s p e le
m enos.
A r t . 2® — P a r a re a liz a r oa se u a fin s, o
I n s t i tu t o d e v e rá :
1 ® — d is c u tir a a s u m p to s ju ríd ic o s, «m s e s -
s 6 e s, e m c o n fe re n c la s, e n a im p re n s a p o r
m elo d e p u b lic a ç ã o -p ró p ria;
2 « —, r e p r e s e n ta r a o s p o d e re s p u b llo o s s o ­
b r e leis, p ro je c to s o u re g u la m e n to s , d e i n te ­
re s s e g e ra l ou so b re p ro v id e n c ia s a A d o p tar

382
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

p a r a a b o a ad m ln lstraç& o d a ju s tiç a e d e fe ­
s a d a c la ss e d o s a d v o g ad o s;
3 * — re s p o n d e r a c o n su lta a dog p o d e re s
p u b ll« 0 9 ;
40 — o u v ir e r e g is ta r a» c o m m u n lca g õ e s
q u e s e u s a sso c ia d o s e n te n d a m o ffe re o e r s o ­
b r e q u e s tõ e s d e in te re ra e g e ra i;
6 * — m a n t e r u m a b ib llo th e c a ;
[ 6 “ — p a tr o c in a r o s pobres, no civ el e n o
f c rim e , n o s te rm o s d a lei.
( A r t . S* — C ad a I n s titu to filia d o a e râ
' In s c rip to n o I n s títu to d a O rden. d o s A d v o g a ­
d o s B ra sile iro s, e m liv ro d e re g is tro c o ta to d a s
a s in d ic a ç õ e s p re c is a s , organizando-s© a rc h iv o
e sp e c ia l d o s d o c u m e n to s r e s p e c t i v e .
A r t . 4® — C ad a I n s t i tu t o filia d o e n v ia rá
r e g u la r m e n te a o I n s titu to d a o r d e m d o s A d­
v o g a d o s B ra s ile iro s :
J a) o s e s ta tu to s e re g im e n to s In te rn o s , e
i aufts m odiflcaçO es;
b ) o q u a d r o d e todoe oa se u s socloa, com
IndicaçSx) d o s e sc rip to rlo s, ou re sid e n c ia s, e
-* n o tic ia d a s n o v a s a d m issõ e s e exclusO ea;
c ) c o p ia d a s a c ta s d a s s u a s se ssõ e s e dos
p rln c ip a e s tr a b a lh o s a p re s e n ta d o s ;
d ) d o is e x e m p la re s d e c a d a u m a d e s u a s
I p u b llc a g õ ea ;

9 á M 383
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B r a s il

e ) in fo rm a c S e s e r e la to rlo s re g u la ro s so»
Jbre a leg isla çã o , a d m in is tra ç ã o d a J u s tiç a , e
a s n o v a s publicagO es Ju ríd ic a s no E s ta d o r e s ­
p e ctiv o ;
f) aa Inform açC es qu« lh e fo re m so lic ita ­
d a s pelo I n s t i tu t o d a O rdem doa A d v o g ad o s
B ra sile iro s o u re q u is ita d a s p e lo C o n se lh o D i­
r e c to r .
A r t . 5® — O I n s titu to d a O rd em d o s A d ­
v o g a d o s B ra sile iro s re m e tte râ . r e g u la r m e n te
a o s In s titu to s filia d o s:
a ) 0 Q uadro d e todoa o s so cio s a h i a d -
m lttld o s, com in d ic a ç ã o doa e sc rip to rio s ou
re sid e n c la a , e n u tic la d a a n o v a s a d m iss õ e s e
exclusO es;
ti) d o is e x e m p la re s d ç c a d a u m a d e s u a s
p u b lic a ç õ e s e, m a is, ao p re g o do c u s to r e s ­
p ectiv o , q u a n to s c a d a I n s t i tu t o filia d o r e q u i­
s ita r, com a p re c is a a n te c e d e n c le ;
c ) n o tic ia d o s a c to s e d e lib e ra ç õ e s so b re
a o rg a n iz a ç ã o do I n s titu to , o u q u e i n te r e s ,
se m a a lg u m I n s t i tu t o filiad o ;
d ) a s in fo rm a g õ e s q u e q u a lq u e r I n s t i t u ­
to filiad o s o lic ita r.
A r t . 6 ’ ^ 0 3 I n s t i tu t o s filia d o s s e rã o
e x im id o s d e q u a lq u e r c o n trib u iç ã o p a r a o

384
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

— 9 —

I n s t i tu t o da O rdem d o s A dvog& dw B 'ra sl-


le lro g .
A r t . 7* — A a d m issã o d o s so clo s n o s
In stItu to B filia d o s o b ed ec erá á a re g ras
a d o p ta d o s n e s te s e s ta tu to s .
A r t . 8 ® __ O s m em b ro s do I n s titu to são
e m n u m e ro lllim ita d o e d lvidem -ee em q u a tro
c la s s e s : e ffec tiv o s, c o rre sp o n d e n te s, h o n o rá rio s
e b e n e m e rito s, c u jo s d lre it « e d e v ere e ser&o
d efin id o s no R e g im e n to .
A rt. 9 " P o d e rã o s e r m e m b ro s e ífe c tiv o s
do I n s t i tu t o d o u to re s e b c c h a re ls em direitg
q u e , n e s t a C a p ita l, ía ç a m d a a d v o c a c ia p ro ­
fis s ã o h a b itu a l.
§ 1» — P a r a a d m issã o n a c la sse de m e m ­
b ro e ffec tly o é m is te r q u e o ad v o g ad o p ro ­
p o sto a p re s e n te â c o m m issão c o m p e te n te um
tr&ibalho ju ríd ic o d e s u a la v r a .
§ 2*. — S e rã o a v u ls o s oa m em b ro s e ff e c ti­
v o s d o In s titu to :
1« — q u e, p o r a u s ê n c ia ou o u tro im p e d i­
m e n to te m p o rá rio , n ã o p u d e rem e x e rc e r a
a d v o c a c ia n e s ta C a p ita l;
2 » — q u e a b a n d o n a re m o e x e r c id o d a
advocacia.
i 3®. — P o d e rã o s e r a d m ittld o a com o a v u l-

•Al 385
______________História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B r a s il

aos m a g istra d o s, p ro fe sso re s de D ire ito © ou­


tr o s j u r is ta s , fo rm a d o s em D ire ito , q u e n ã o
e x e rç a m a a d v o c a c ia .
A r t . 10“ — P o d e rã o s e r m e m b ro s c o r-
reap o n d e n to e o s g ra d u a d o s e m D ire ito , n a c lo -
n a e e ou e s tra n je lro s , re sid e n te s Í 6 r a do palz,
a u to r e s d e tra b a lh o s sc len tific o s r e p u ta d o s v a ­
lio so s pelo I n s titu to .
A r t . 11“ — P o d e rã o s e r m e m b ro s h o n o r á ­
r io s ad v o g ad o s o u ju r ls c o n s u lto s , n a e lo n a e s ou
e s tra n je lro s , d e n o tá v e l m e re c im e n to .
P a r a g r a p h o u n ic o . — Os j u r i s t a s e s tr a n -
je iro s só o p o d e rã o s e r q u a n d o tJv e re m re v e ­
lad o In te re ss e p e lo I n s t i tu t o o u p e la c u lt u r a
ju ríd ic a do B ra s il.
A r t . 12® — P o d e rã o s e r m e m b ro s bene-
m e rito s os d o u to re s e b a c h a ré is e m D ire ito ,
n a c io n a e a ou e a tra n je lro s , a q u e m , p o r s e r v i,
çog é x tra o rd ln a rlo s , o I n s titu to re s o lv a c o n ­
c e d e r e s s a g ra d u a ç ã o .
A r t . 13® — O t it u lo d e P r e s id e n te h o n o ­
r á r io eó s e r á . c o n fe rid o m ediam te p ro p o s ta de
50 m e m b ro s e ffe c tiv e s, a p p ro v a d a p o r c in c o
se x to s, pelo m enos, d o s m « n ib ro s e ffe c tlv o s
p re s e n te s à se ss ã o .
A r t . 14» — O s n o m es d e to d o s o s m em -
b ro e do I n a titu to s e rã o In sc rlp to s , A tgundo

386
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

— 11 —

s u a s c a te g o ria s , em um q u a d ro e x p o sto na
S e c r e ta r ia .
5 1.0 — Á. in sc rip c ã o f a r - s e h a n a ordem
de a n tig u id a d e d a posse.
5 2®, — H a v e n d o m a is d e u m a posse n a
m e s m o d ia , r e g u la r á a d a ta da. approvag& o
d a p r o p o s ta ; s e e e ta fOr a m esm a , a do d i­
p lo m a a ca d em lcfi; e p o r u ltim o , a Id a d e.
§ 3». __ S e ra d eduzido d a a n tig u id a d e dos
m e m b ro s e ffe c tlv o s o tem p o em q u e e stiv e re m
n a c a te g o ria d e a v u ls o s .
A r t . 15® — Os süCílos c o n trib u irã o p a r a o
I n s t i tu t o d a O rd e m d o s A d v o g ad o s B ra sile iro s,
ou p a r a o I n s titu to filiado, e m q u e e s tiv e re m
e x e rc e n d o o d ire ito d e v o to n a h y p o th e s e d a
s e g u n d a p a r te do a r tig o 17.
A r t . 16® — Os soclos d o I n s t i tu t o d a O r­
d e m d o s A d v o g a d o s B ra sile iro s, e de q u a lq u e r
d o s I n s t i tu t o s filia d o s, q u a n d o p r e s e n te s na
sé d e d e a lg u m d o s o u tro s In s titu to s , g o zarão
d e todoe o s d ire ito s e re g a lia s de s u a c a te ­
g o ria , se n d o , p o ré m , o d e v o to a p e n a s em
q u e s tõ e s d e d o u tr in a ou d e in te re s s e g e ra i.
A r t . 17“ — T e r ã o tam b e m o d ire ito plen o
de v o to , e m o u tro I n s titu to q u e n ã o o d e s u a
In sc rip c ã o p e rm a n e n te , q u a n d o a h i in s c rip te s
p o r m alfl de 3 m ezes c o n tín u o s. (P a ra ca e f -

387
,_______________ Historiada
I O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 12 w.

íe ito a d e s te a rtig o , o socio d a r á , à S e c re ta ria


re s p e c tiv a , p re v lo a v is o d e s u a p e rm a n e o c ia .
[ A r t . 18* — S e rã o e lim in a d o s d o I n s t l t u -
to :
a. 1 ® — OS m e m b ro s e ffe c tiv e s q u e d e lx a -
i re m d e c u m p rir d u r a n te s e is m ea e s, e u a s
I o b rig aç õ es p a r a com o I n s titu to .
' 2* — o s d e q u a lq u e r -c ate g o ria c o n tr a
> q u e m d e c r e ta r e s s a p e n a lid a d e o C onselho
S u p e rio r:
T .. 3® _ os d e q u a lq u e r c a te g o ria q u e h o u ­
v e re m d e sa c a ta d o a lg u m m e m b ro do I n s titu to .
A r t . 19 — A a d m in is tra ç ã o do I n s t i t u t o
c o m p e te a o P re s id e n te , t r e s vice p re s id e n te s ,
s e c r e ta r io g e ra l, 1® e 3® secr&ta.rio 8 , o ra d o r,
th e a o u re lro e b ib lío th e c a rto .
P a r a g r a p h o u n lco — U m d o s v lc e -p re s l-
d e n te s do I n s titu to d a O rdem doa A d v o g a d o s
B ra s ile iro s d e v e rá s e r m e m b ro e ífe c tiv o in -
s c rlp to em a lg u m d o s I n s titu to s filia d o s, n a a
condlQSes d o a r tig o 17. S e n e n h u m soclo, n a s
coTidlgOes d e sse a rtig o , r e u n ir m a io ria a b s o lu ta
- d o s auffragrios, n ã o se p re en c h erá , o lo g a r de
^ 3“ V ic e -p re sid e n te .
A r t . 20 — A ele içã o d a d lre o tò ria s e r á

388
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

—. 13 —

I f e it a n a a n te - p e n u ltlm a s e ss ã o o rd in a rla de
( cada anno.
' A r t . 21 — N e s s a mesm a, s e s s ã o se rã o
( e le ito s do is s u p p le n te s p a r a ca.it* s e c r e ta r io .
I A r t . 22 — S e rã o ig u a lm e n te e le ito s pelo
( I n s t i tu t o o s seu g m e m b ro s que, n o s term o s
d a lei, f a r ã o p a r te <3a C om m issão C e n tra l d o
i A a a is te n c la J u d ic ia r ia n e s t a C a p ita l,
i A r t . 23 — A s com m issO es p e rm a n e n te s
: s e r ã o a s e sta b e le c id a s e re g u la d a s pelo re g i­
m e n to In te m o e e le ita s p o r do is a n n o s, n a
a n te - p e n u ltim a sessã<> o rd ln a rla do a n n o c o r­
re s p o n d e n te .
P a r a g a r p h o unico. — N ã o p o d e rá s e r r e e ­
le ito o m e m b ro d e c om m lasão p e rm a n e n te
QUo, d u r a n te o p e rio d o p a r a q u e fOr eleito,
n e n h u m p a re c e r, m e m o ría ou co m m u n íca d o
h o u v e r, a p re s e n ta d o , n e m p ro fe rid o c o n fe re n -
clft so b re a s s u m p to Inclu id o n o o b jec to da
c o m m issã o r e s p e c tiv a .
A r t . 24 — A a d m in is tra ç ã o d o I n s t i ­
tu to , s u p p le n te s e co m m lssõ es p r e s ta rã o c o m ­
p ro m is so e to m a rã o p osse n a p rim e ira seasão
o r d ln a r la do a n n o s e g u in te a o d a eleição, o u ,
d ep o is d isso , p e r a n te o P re s id e n te .
A r t . &5 — O P re s id e n te 6 o o rg ã o o ffi­
cial, do I n s titu to , d irig e -lh e os tr a b a lh o s e o

389
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

re p re s e n ta , com o p e sso a ju ríd ic a , Juízo, o u


f o r a dell«, n â o podendo, p o rém , t r a n s ig i r , r e ­
n u n c ia r d ire ito s, a lie n a r o u h 'u p o th e c a r b e n a
so eiaes, se m e x p re s s a a u t o r l ^ ç ã o do I n s t i ­
t u to .
A r t . 26 — O s e c re ta rio g e ra l terâ. a
s e u caf&o e x c lu siv a m e n te 9 . coire^D OiW fRcia
com oa I n s titu to s filiad o s, a v e rific afião da
re g u la rid a d e do s e u fu n c c lo n a m m to , e o e s ­
tre ita m e n to d a a re la ç õ e s e n tr e e lle s e o I n ­
s titu to d a O rd em d o s A d v o g a d o s B ra sile iro s,
aco m p aín Jian d o -lh es o s traíb a lh o s.
A r t . 27 — Ao th e s o u r e ir o In c u m b e a
g u a r d a e a d m in is tra ç ã o d o s b e n s so c ia e s, d e ­
v e n d o a p re s e n ta r , n a p rim e ir a s e s s ã o d e c a d a
a n n o , a s c o n ta a d e s u a g ^ t â o a n te r i o r e a
p ro p o s ta de o rç a m e n to .
5 1 ® — Ab c o n ta s do> th e s o u re iro e a p ro ­
p o s ta d e o rç a m e n to fic a rã o n o I n s t i tu t o , &
d isp o siç ão doe m e m b ro s q u e a a q u e ira m e x a ­
m in a r .
§ 2» — N a se a sã o s e g u in te , ser& a p r e s e n ­
ta d o o p a r e c e r d a C om m lssão e le ita p a r a e sse
fim p e lo C onselho S u p e rio r e lo g o su b m e ttid o
a d isc u ssã o .
I S* — S e a d isc u ssã o d e c o n ta ^ n ã o fOr
^ c e r r a d a p a r a a e r v o ta d a n a e ee sã o s e g u ln -

• í-

390
Volume 3 O lOAB na Primeira República

— 15 —

te , srerã.0 pelo P r e s id e n te c o n v o c a d a s a s se s-
s 5 e 3 e x tr a o r d in a r la s p re c is a s para, ta l d is ­
c u ssão .
A r t . 28 — A s funcçO es d o s d e m a is
^m em bros d a a d m in is tra ç ã o s e r ã o d e fin id a s
n o R e g im e n to I n t e r n a .
A r t . 29 — p a i-a Que o In stltra to p o ssa
fu n o c lo n a r é m is té r a p re s e n ç a pelo m enoS
d e s e te d e s e u s m e m b ro s e ffec tlv o s, o u de
doze, q u a to s e p ro c e d a a v o ta ç ã o so b re c o n ­
c lu s ã o d e d o a itrin a, sa lv o o d isp o sto n o R e g i­
m e n to I n t e r n o p a r a c a so s e sp e c la e s.
A r t . 30 — O C onselho S u p e rio r s e r á c o n ­
s titu íd o v ita lle la m e n te p o r to d o s o s m e m b ro s
d o I n s t i tu t o , d e q u a lq u e r c a te g o ria , q u e e s ­
t e ja m se rv in d o , o u h a ja m serv id o , com o se u
P r e s id e n te a u V le e -P re sid e n te , e bem a s s im os
P re s id e n te s d o s I n s t i tu t o s d o s E s ta d o s , ao
te m p o d e s u a filia ç ã o ao I n s t i tu t o d a O rdem
d o s A d v o g ad o s B ra s ile iro s e os q u e lh e e s u e .
c e d e re m n e sse s c a rg o s , e m a u a n to s u b s is tir a
(ilfa ç ã o .
I 1®. — E s a e C o n se lh o elegerá, o se u P r e ­
s id e n te . te n d o com o f u n c ç io . p o r in ic ia tiv a
p r o p r i a o u d o I n s titu to , o u p o r p ro v o c a ç ã o
d e q u a lq u e r do s s e u s m em b ro s, o u d e q u a l­
q u e r dos m e m b ro s do I n s titu to , a d e íe e a d a

391
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 16 — .

d ig n id a d e , do p re stig io e doa I n te re s s e s d a
c la ss e d o s a d v o g ad o s.
i 2*. — A o C onselho S u p e rio r c o m p e te
tam Tjem c o n fe rir a n n u a lm e n te a m e d a lh a d e
b ro n z e, p rêm io T e ix e ira d e F r e ita s , e m r e -
c o m o e n sa doa m a is a lto s se rv iç o s c r e s ta d o s á
c u lt u r a Ju ríd ic a do P a i* .
13®. — O P re s id e n te e ffe c tiv e do I n s t i tu t o
a e r a o re la to r, p e r a n te o C o n se lh o , d a s q u e s­
tõ e s a u e e e te n h a m o rig in a d o n o I n s titu to ,
e x ce p to q u a n to a o c a r e c e r so b re s s c o n ta s
do T h e s o u re lro .
§ 4 « — o C onselho o rg a n iz a r á s e u r e ­
g im e n to in te rn o , q u e serSi « jjp ro v a d o »el<j
In sitltu to .
i 5*. — Os p a re c e re a d o C onselho d e v e rá o
a e r su b a c rlp to s no m ín im o p o r t r e s d e se u e
m e m b ro s n â o d iv e rg e n te s .
16®. — O C onselho s e r á p rév lam en t© o u ­
v id o so b re q u a lq u e r p ro p o s ta q u e a c a r r e t e
a lie n a ç ã o d e beng do p a trlm o n lo do I n s titu to .
A r t . 31 — Ao C onselho D ire c to r ilo I d-
B tituto, co m p o sto d(y P re s id e n te d e ste e m e x e r ­
cício, e doa dos E sta d o s , te n d o com o s e c re ­
ta r io o S e c re ta rio G e ra l, o o m p ete :
1 — p ro m o v er, o r ie n ta r e c o p rd e n a r a
acflão c o lle ctlv a á e to d o s oa I n s titu to s p a ra

392 9àM
Volume 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

— 17 —

o s o ljje ctiv o s d e InterB ase com m um , d e üniúoa


n o re g im e n to e sp e cial, o rg a n iz ad o pelo pro -
u rlo C onaelho, e fa ze n d o a d o p ta r a s n o rm a s
au® e n te n d e r c o n v e n ie n te s p a r a e s t r e i t a r as
re la ç õ e s @ a c o lla b o ra ç ã o d o s I n s titu to s ;
2 a d m l t ti r a filia çã o d e q u a lq u e r I n s ­
t it u t o doe E s ta d o s , su s p e n d e l-a , ou e x clu ll-a ,
n o s c a s o s d e in o b s e rv a n c ia d a s n o rm a s d e ste s
K s ta t u to s ;
3 — p ro m o v e r e z e la r a in s titu iç ã o le-
g e j d a O rd em d o s A dvogados B ra sile iro s, e a
a d o p ç ã o d è u m Codlgro d e e th ic a p ro fissio n a l;
4 — p ro v id e n c ia r so b re a c ria ç ã o , in s ta l-
la ç ã o e b o m fu n c c io n a m e n to dos I n s titu to s
noa B e ta d o s, p o d en d o n o m e a r um ou m ale
d e le g a d o s te m p o rá rio s n o E s ta d o em q u e n ã o
h o u v e r I n s titu to , d a n d o -lh e in stru c ç õ e e p a ra
o d e se m p e n h o d e s e u m andsito;
6 — p ro v e r á r e p r e s e n ta ç ã o do I n s titu to
d a O rd e m dos A d v o g ad o s B ra sile iro s n o e s -
tr a n je lr o , c o o p e ra r p a r a a c ria ç ã o d e o rg a n is ­
m o s h ite rn a c lo n a e a . re so lv e r aobr© a adhefiao
do I n s t i tu t o d a O rd èm d o s A dvogados B r a ­
s ile iro s a I n s titu to s o s tra n je lro s s im ila re s .
8 — prom 'Jver a realização, tã o freq üente
q u a n to possível, de coliüerenclas de re p re se n ­
ta n te s dos In âtltu to s, ou de advogados em
g eral, sem p re em cidades diversas.

•àl 393
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B r a s il

A r t . 32 — O C onselho D ire c to r eo r e u n ir á
a o m en o s u m a vez p o r trlm a ^ tre , « s e m p re
que conv o cad o e x tr a o rd in a ria m e n te p e lo
P re s id e n te do I n s titu to d a O rd e m d o s A àv « -
g a d o s B ra sile iro s, o u p o r c in c o d e a eu a
m e m b ro s.
í 1®. — A c o n v o ca çã o e x tr a o r d ln a r la s e rá
fe ita com a a n te c e d e n c la de 15 d ia s pelo
m enoa, e eg u n d o a u rg ê n c ia do a s s u m p to a
tra ta r.
§ 2 » — Os P ro a ld e n te s d o s I n s titu to s , q u e
n ã o p u d e rem to m a r p a r te n a re u n iã o do Coa*
sellio D ire c to r, p o d e rã o f a z e r- s e r e p r e s e n ta r
p o r o u tro soclo — de p re f e r e n c ia In sc rip to
p e rm a n e n te m e n te no m esm o I n s t i tu t o .
A r t. 33 — C om o o rg ã o d e p u b lk ld a d e o
I n s t i tu t o m anterft, u m “ B o le tim ” , a c a rg o da
s u a IM rectorla, ou de c o m m issão e sp e c ia l n o ­
m e a d a pelo P re s id e n te .
A r t . 34 — O I n s titu to p o d e rá a c c e lta r a u ­
x ílio s o fficia es e p a rtic u la re s , b e m com o en.
c a rg o s q u e v ise m o p ro g re sso d & le t r a s j u ­
ríd ic a s.
A r t. 3 í — O I n s titu to n ã o em lttir& ju iso
so b re QuestÕe@ d e in te r e s s e p riv a d o .
A r t . 3-6 — N ã o p 6d e s e r o b je c to d e d e li­
b e ra ç ã o q u a lq u a r p ro p o s ta q u e v is e m anifes»

394
V o lu m e 3 O lO A B n a P r im e ir a R e p ú b lic a

19

t a r se n ttm & n to s do I n s titu to com o c o rp o raç ão ,


saJvo e m h o m e n a g e m p o r ía lle c lm e n to de
se u s m e m b ro s o u d e ju rla c o n s u lto s n acio n aee
e e s tr a n je ir o s .
P a r a g r a p h o u n lco — T o d av ia , o I n s titu to
p o d e rá fazer-@ e r e p r e s e n ta r em a sse m b lé a s ou
flo len n id ad es d e c a r a c t e r sc ien tiflc o ou lite r á ­
rio , b e m co m o em fe s ta s n a c io n a e s .
A r t . 37 — Os sa ld o s d a s re c e ita s se rã o
e m p re g a d o s em a p ó lices o u tütulos d a d iv id a
p u b lic a , a alv o d e lib e ra ç ã o c o n tr a r ia d o I n s t i ­
tu to . K
A r t . 38 — O s m e m b ro s d o I n s titu to n ã o -*
re sp o n d e m s i^ ld ia r le m e n t o p e la s o brlgagítes
c o n tr a h id a s , e x p re s s a ou ta c ita m e n te . em
n o m e d e s te .
A r t . 39 — N o c a s o d e e x tin c ç ã o do I n s t i ­
tu to s e r á o se u p a trim ô n io tra n s fe rid o , d e p r e ­
f e re n c ia , á a s so c ia ç ã o n a c io n a l q u e fO r d e s­
ig n a d a p o r e lle, e p ro m o v a fin s analogros ou
Id ê n tic o s a o s « e u s, ou, em ía J ta d e s ta , a e s t a ­
b e le c im e n to d e e n sin o ju rid io o .
A r t . 4Q — O s p r ^ e n t e s e s ta tu to s eó p o ­
d e rã o s e r re fo rm a d o a m e d ia n te p ro p o sta , a s s l-
g n a d a p e lo m e n o s p o r dez m e m b ro s e ff e c t!'
vos, q u e , com p a r e c e r do C onselíio S u p e rio r,
sei% d is c u tid a e v o ta d a , co n sid era n d o -eo a p -

395
_____________ Historia da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B r a s il

20

p r o v a d a se o b tiv e r doia te rc o s d o s v o to s dos


m e m b ro s l e c t i v o s , p re s e n te s e q u ite s .
A r t . 41 — A r e fo rm a do R e g im e n to In ­
te rn o f a r -s e h a p o r p ro p o s ta d e c in c o m e m ­
b ro s e ffe c tiv o s, q u e , d e p o is do p a r e c e r da
M esa, s e r á d is c u tid a e v o ta d a p e lo m odo p o r
Que Bô d isc u te m e v o ta m a s p ro p o s ta e e m g e ­
ra i.
42 — A s d u v id a s s u s c ita d a s e m s e s ­
sã o so b re in te r p r e ta ç ã o do íR eg ím en to se rS o
re so lv id a s se m d e b a te p e lo M esa, s a lv o r e ­
c u rs o p a r a o C onselho S u p e rio r, c u ja re e o la -
gão firm a rá , o se n tid o do d isp o sitiv o .
A r t . 43 — F ic a in s titu íd a u m a c a ix a e s ­
p e cia l, p a r a b e n e fic e n c ia a o s so cio s q u e delia
fa ç a m p a rte , o u d e a d v o g a d o s q u e r e c o n h e c i­
d a m e n te a m e re ç a m .
j 1® — A c a ix a a e r â f o r m a d a p e la c o n -
trlb u lg ã o fix a d a no s e u re g im e n to e p o r d o a ­
ções ou leg a d o s, a in d a q u e d ^ p e s s o a s e s ­
tra n h a s .
5 2® — O re g im e n to s e r á e la b o ra d o p o r
u m a c o m m lssão n o m e a d a pelo p r e s id e n te ©
d isc u tid o e v o ta d o pelo I n s titu to , obedecen d o
a s u a r e f o rm a á s m ea m aa n o rm a s t r a ç a d a s

396 «▲B
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

— 21 —

p a r a a r e fo rm a do re g im e n to in te r n o a o I n s ­
t it u t o .
IH sp o a ição tr a n s itó r ia

44 — O s I n s titu to s dos E s ta d o s qu%


o c n fo rm e e s te s E s ta tu to s , s e Q uizerem liU ar
a o I n s t i t u t o d a O rd e m d o s A d v o g ad o s B r a ­
sile iro s, s e r ã o a d m itU d o s p e lo C onselho S u ­
p e rio r a t é n o v e n ta d ia s depois d a d a t a d a a p
p ro v a ç ã o d e s te s m e s m o s E s t a t u t o s .
E io d e J a n e iro , 30 d e D ezem bro d@ 1930.
L e v i C a rn e iro , P re s id e n te .
P M la ã e lp h o Azevedo, 1® S e c re ta rio .
H a ro lã o YaU adao. 2* S e c re ta rio .

O s e s t a t u t o s a n te rio r e s h a v ia m sid o r e ­
g is tra d o s , p e la inscrlpçlúo n . 937 a o s 23 d e
M aio d e 1918, n o C a rto rio do 1.* O fficio d o R e ­
g is tro e sp e c ia l d e titu lo a e d o c u m e n to s d e s ta
c a p i t a l ; a s a lte ra ç B e s c o n s ta n te s d a s d e lib e ra -
QÕes t<m iadas e m se ssõ e s d e 27 d e D ezem b ro
d e 1928 e 4 d e D ezem b ro d e 1930, a tte n d iâ a a
n a p r e s e n te re d ac çã o , fo ra m a v e rb a d a s aoa 12
d e F e v e r e ir o d e 1931 & m a rg e m d a a ílu d íd a
in s c rlp ç ã o .

397
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

398
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

INSTITUTO DOS ADVOGADOS BRA SILE IRO S


FU N D A D O EM 1843

ESTATUTOS
E

AT^EXOS

:
-------
R I O DE J A N E I R O - 1950
í

•àl 399
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

ia u itii 90 CoMKBcto — BodrlgUM * 01a.


Av. R to Branco, 117- Rio d« Janeiro - 19S0

400
V o lu m e 3 O lO A B n a P r im e ir a R e p ú b lic a

ESTATUTOS

TÍTULO I
D* organização do fnstttuto

CAPÍTULO I

D o s s e u s fin s

A rt. 1. O In stitu to dos Advogados Brasileiros*, com


séde n a Capital da República dos Estados Unidos do Brasil,
fundado em 7 de agosto de 1843, e considerado de utilidade
pública nacional pelo decreto legislativo n. 4.753-A, de 28 de
novembro de 1923, é associação com personalidade jurídica,
de duração indeterm inada, de doutores e bacharéis em direito,
que íegalm ente exerçam ou tenham exercido a advocacia.
§ 1« São fins do Instituto:
1.0) estudo do direito, difusão dos conhecimentos jurí­
dicos e culto à Justiça;
2.“) colaboração, com os poderes públicos, no aperfei­
çoamento da ordem jurídica, por meio de representiições,
indicações, requerimentos, sugestões, apresentação de ante­
projeto de leis e de reg^am entos e crítica à legislação exis­
tente, ou em elaboração, e às práticas Jurídico-administra-
tivas;
3 °) defesa dos direitos e dos interêsses dos advog;ido5,
bem assim da dignidade e prestigio da classe dos jurista:; em
, geral;

, ( ') B u a deaomloaç&o. que er& a, pilcaltiTO, tú l depois alterada periv


u tu to d a Ordem do# Adw^aúOB Brasileiros e, «final, r«atab«lecl{|a c n a a
A ^ovaçéo d a p-emente reform a doe E statutoe.

•ál 401
______________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

— 4 —

4.^) a&slâtênda judiciária.


I 2.“’ Para a realização dos seus fin s , o In stitu to deverá;
1.0) discutir assuntos Jurídicos e sociais, em sessão, em
conferências, em publicação própria, n a im prensa era geral
e por outro qualquer meio de divulgação;
2.®) representar aos poderes públicos quanto à organi-
zação e à adm inistração da justiça e dos direitos e interèsses
dos seus oi^ãos em geral e das práticas jurídico-administra-
tivas;
3°) intervir junto às autoridades em defesa dos inte-
rêsses dos advogados e dos juristas em geral;
4.°) instituir beneficência aos membros do Instituto, po­
dendo ser extensiva à classe dos advogados e dos juristas
em geral;
5.°) patrocinar os pobres no cível e no crime;
6.®) responder a consultas de autoridades públicas;
7.0) m anter biblioteca jurídica para cm su lta pública e,
especialmente, dos seus membros.
A rt. 2. O Instituto não em itirá juiao sôbre questões de
Interêsse privado, nem se pronunciará sôbre assuntos de na­
tureza religiosa, ou exclusivamente política.
A rt. 3. O Instituto perm itirá, a juízo da diretoria, a
realização de conferências públicas, sôbre assuntos relativos
aos seus fins, em a sua séde.

C A P ÍTU LO n

D o s m e m b r o s d o I n s t i tu t o

A rt. 4. Os membros do In stitu to são em núm ero ilimi­


tado e dlYídem-se em cinco categorias; efetivos, avulsos, cor*
respondentes, honorários e benem éritos,
§ 1.° São efetivos; os advogados em exercício legal da
profissão no fôro desta Capital.
I 2,® São avulsos; os graduados legalm ente em direito,
que já tenham exercido a profissão de advogado nesta Ca­
pital.

402 màM
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

—' .

_ 5—

§ 3.° São correspondentes: os graduados legalmente em


direito, residentes fóra desta Capital.
§ 4.® São honorários: os graduados legalmente em di­
reito, de ezcepclonaJ m e r e c im e n to e alto saber jurídico, com­
provado com trabalhos publicados.
§ 5." São beneméritos: oa graduados legalmente em di'
reito, que prestaram serviços de alta relevância ao In stitu to .
A rt. 5. Os membros efetivos poderão tom ar-se avulsos,
e vice-versa, comprovados os requisitos necessários, mediante
requerimento do interessado que será submetido à delibera­
ção do Instituto.
A rt. 6. Na Secretaria do Instituto será afixado o quadro
de todos os seus membros, por categorias, com inscrição por
ordem cronológica da posse, prevalecendo, no caso de posse
no mesmo dia, a precedência da aprovação da proposta.
Parágrafo único. Da antiguidade dos membros efetivos
será deduzido o tempo e m que hajam sido avulsos.

CAPÍTULO m

D a a d m issã o

A rt. 7. Os membros do Instituto serão admitidos da


seguinte form a:

a) os efetivos e os avulsos assinada a proposta por


qualquer membro efetivo no pleno exercício dos seus direi-
tos sociais;
b ) os correspondentes, assinada a proposta por cinco
membros efetivos, no pleno exercício de seus direitos so­
ciais;
c) os honorários e beneméritos, assinada a proposta, no
mínimo, por 30 membros efetivos, no pleno exercício de todos
os seuü direitos sociais.
§ 1.° Só será tom ada em consideração proposta para
membro efetivo, avulso e correspondente, quando acompa­
nhada de trabalho jurídico do proposto, exceto quanto a esta

403
______________ História da
O rd e m d o s A dvo g ad os d o B ra s il

6 —

últim a categoria se o proposto fôr estrangeiro e residir no


exterior do país.
§ 2.® A proposta será lida, como m atéria de ejqiediente,
em sessão, e despachada à Comissão de Admissão, para emi­
tir parecer, que será apresentado dentro de trin ta dias, salvo
prom%ação concedida pelo In stitu to.
§ 3.® Lido o parecer, em sessão, como m atéria de expe­
diente, ficará a proposta, durante sete dias, com todos os
documentos, na secretaria, à disposição de qualquer membro
efetivo, que a queira examinar, e, findo êsse prazo, será in-
cluida na ordem do dia da sessão seguinte, saJvo requeri­
m ento de urgência p ara im ediata votação.
§ 4.° Os trabalhos jurídicos justificativos da proposta
passarão a figurar na Biblioteca do Instituto, se impressos,
sendo recolhidos ao arquivo os mimeografados, datilc^rafa-
dos, ou m w uscritos.
§ 5.® Aprovado o parecer, o novo membro do Instituto
deverá tom ar posse em sessão, ou na secretaria, dentro de
trin ta dias, prorrogáveis, m ediante requerimento, até no­
venta dias.
§ 6." A posse far-se-á com esta afirm ação: “Prometo
cum prir com dedicação os deveres de membro do Instituto
dos Advogados Brasileiros” .
§ 7.® A posse dos membros correspondentes, honorários,
ou beneméritos, poderá consistir n a comunicação escrita de
aceitação da eleição.
§ 8.® Os que não tomarem posse dentro dos prazos esta­
tutários, aumentados de noventa dias p ara os que residirem
no estrangeiro, consideram-se como tendo recusado a eleição.
A rt. 8. O Instituto poderá conferir titulo de membro
h o n o r is c a iísa a personalidade estrangeira de excepcional
merecimento, não graduada em direito, m ediante proposta
assinada, no mínimo, por 30 membros efetivos, e submetida,
com o parecer da Comissão de Admissão, à deliberação do
In stitu to .
Parágrafo único. A requerim ento de qualquer membro,
presente à sessão na qual deverá a proposta ser votada, po­
derá a mesma ser aprovada por aclamação.

404
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

— 7 —

CAPÍTULO IV

D os d ire ito s

A rt. 9. Sáo direitos dos membros efetivos;


1°, assinar, ou subscrever proposta para admissão de
membro de qualquer categoria;
2.°, apresentar indicações, requerimentos, sugestões e re­
presentações, n a conformidade dos fins do Instituto;
S.°, lêr comunicações e trabalhos de m atéria pertinente
aos fins do Instituto;
4.®, discutir;
5.°, ser nomeado para comissões;
6.", votar e ser votado;
7." receber as publicações do Instituto;
8°, usar de veste ta la r e te r assento, no exercício de seu
ofício, dentro dos cancelos dos tribunais (decreto n . 393 , de
23 de novembro de 1844; decreto n . 22.478, de 20 de feve­
reiro de 1933, a rt. 25, n s. IV e IX, letra a);
9.«, promover a ação, ou o parecer do Conselho Supe­
rior em questões da competência dêste, n a conformidade
dêstes estatutos;
10.®, requerer a convocação de sessões extraordinárias
do Instituto ou do Conselho Superior, de acôrdo com estes
estatu tos.
§ 1.® Os membros avulsos e correspondentes terão os
direitos consignados nos números 3 a 5 dêste artigo.
§ 2.° O membro do Instituto receberá diploma assinado
pelo presidente e pelo 1." secretário.

CAPÍTULO V

Zfog d e ve re s

Art. 10. São deveres dos membros do Instituto:


V \ concorrer p ara o cabal cumprimento dos fins do
in stitu to, desempenhando as comissões para que forem de-
mgnados, por seu presidente, ou pela Comissão de Assistên-

•41 405
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 8

2 .0, exercer a profissão de advogado dentro das normas


do Código de Ética Profissional, representando ao Conselho
Superior contra qualquer membro do In stitu to que o haja
infringido.
I 1.0 Os membros efetivos contribuirão cora a joia e
mensalidades devidas; os avulsos e correspondentes nacionais
com a joía fixada pela Diretoria, sendo isentos, enquanto não
forem efetivos, de contribuições mensais e, se se tom arem
efetivos, do pagam ento de nova joia.
§ 2.® É remido o membro do In stitu to que contribuir
de um a vez com a taxa fixada pela D iretoria.
§ 3.® A diretoria, em sua prim eira reunião, fixará a
taxa de remlção e a joia cobrável dos avulsos e correspon­
dentes nacionais, as quais vigorarão durante o biênio e não
poderão ser inferiores a Cr$ 2.000,00 e Cr$ 200,00, respecti­
vamente .
C A P ÍTU LO V I

D a s p e n a lid a d e s

A rt. 11. Serão eliminados:


a) Os membros efetivos que não cum prirem , injustlfl-
cadamente, durante seis meses, seus deveres p ara com o Ins­
tituto, previstos no a rt. 10, § 1.®.
Na primeira sessão ordinária dos meses de junho e de­
zembro, o Tesoureiro apresentará à Mesa, p ara leitura como
expediente, a lista dos membros em atrazo injustificado no
pagam ento de seis ou mais mensalidades, os quais serão con­
siderados como autom aticam ente eliminados.
A não apresentação da lista no justo momento aqui pre­
visto im portará em ser declarado, autom aticam ente, vago o
cargo de Tesomelro, procedendo-se à eleição do substituto
n a prim eira sessão ordinária seguinte.
&) O membro do Instituto que desacatar colega ou tiver
sido condenado por sentença de que não caiba recurso or­
dinário, por crime ou contravenção que im pediria a sua Ins­
crição na Ordem dos Advogados, ou determ inaria a sua ex­
clusão do respectivo quadro.

406 Aà#
V o lu m e 3 O lO A B n a P r im e ir a R e p ú b lic a

— 9 —

A eliminação a que se refere esta letra será proposta


pela Diretoria, ou por qualquer membro efetivo, ao ta : co­
nhecim ento dos fatos determ inantes,
§ L® Excetuada a letra a deste artigo, a ellminaçãcr de
qualquer membro do In stitu to será deliberada em sessão para
a qual serão especialmente convocados todos os membros, aos
quais se comunicará o motivo da convocação, declinando-se
0 nome do consócio em causa.
§ 2.® A essa sessão deverão estar presentes, no mínimo,
30 membros efetivos, e a eliminação só se considerará efe­
tiva, se aprovada por dois terços dos presentes, por votação
em escrutínio secreto.
§ 3.° O consócio em causa poderá comparecer pessoal­
mente à sessão, ou por procurador, que se encarregará de
sua defesa.

TÍTULO U

Da Diretoria

C A p fru io I

D a o r g a n iza ç ã o e c o m p e tê n c ia

A rt. 12. A diretoria do Instituto dos Advogados Brasi­


leiros compõe-se do presidente, três více-prcsldentes, secretá­
rio geral, 1 °. 2.°, 3." e 4.° secretários, tesoureiro, bibliotecário
e orador. Essa diretoria adm inistrará o Instituto na confor­
midade dos estatutos, sendo vedada a reeleição de seus mem­
bros para o período im ediato.
§ 1.® Haverá quatro suplentes de secretário.
§ 2.® Os membros da diretoria se substituirão, nas res­
pectivas faltas e impedimentos, pela ordem em que se acham
referidos neste artigo, e, n a ausência de qualquer deles, in­
clusive os suplentes de secretário, peJos sócios efetivos, em
pleno gozo dos direitos sociais, préviamente designados pelo
presidente.
§ 3.0 D urante a sessão, o membro da diretoria que a
presidir, poderá, para completar a mesa. convidar, n a au-

m àM 407
______________ Historia da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

— 10 —

sência dos secretários e suplentes, quaisquer membros efe­


tivos .
A rt. 13. A diretoria, logo após a sua posse, fixará, me­
diante proposta do tesoureiro, a joia e a contribuição mensal
dos membros efetivos, não remidos, continuando a vigorar
as mesmas do ano anterior enquanto não modificadas pela
diretoria.
A rt. 14. À diretoria compete organizar e aprovar ins­
truções para os serviços da secretaria, biblioteca e tesouraria
e as respectivas deliberações devem ser tomadas, pelo menos,
por 5 dos seus membros.
A rt. 15. O presidente é o órgão do Instituto, quando
este se m anifestar coletivamente, ou como pessôa jurídica,
não lhe sendo, porém, licito transigir, renunciar direitos,
alienar, ou hipotecar bens sociais, sem prévia e expressa au­
torização do Instituto, na conformidade destes estatutos.
§ 1.® Ao presidente compete;
1.0, zelar pela fiel execução dos estatutos e deliberações
do Instituto;
2.^ presidir as sessões do Instituto, da seguinte forma:
a ) declarando aberta a sessão e m antendo a ordem e a
solenidade durante os trabalhos;
b) mandando ler as atas, e rubricando-as depois de sub­
metê-las à discussão e deliberação do Instituto;
c) fazendo ler e despachando a m atéria do expediente;
d ) dando posso aos novos membros do Instituto, do Con­
selho Superior e das Comissões Permanentes;
é ) dando a palavra, n a ordem da inscrição, aos que a
pedirem, e, na falta dessa, aos que a solicitarem;
f ) observando ao orador, que infringir os estatutos,
quando se desviar do assunto em debate, ou quando faltar à
consideração devida ao Instituto, ou a qualquer dos seus
membros;
g ) advertindo ao orador que não atender à observação
prevista na letra anterior e cassando-lhe a palavra, se não
lograr êxito a advertência;
h ) suspendendo a sessão nos casos já previstos nestes
estatutos e para m anter a ordem;

408 •41
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

— 11 —

t) dirigindo as votações e proclamando-lhes os resul­


tados;
}) resolvendo as questões de ordem;
k ) organizando a ordem do dià de cada sessão;
l) declarando terminados os trabalhos;
3.“, nomear comissões e designar substitutos doa respec­
tivos membros, impedidos de participar dos trabalhos;
4.", acom panhar os trabalhos das comissões, providen­
ciando quanto à sua eficiência;
5.®, convocar sessões extraordinárias quando Julgar con­
veniente, ou lhe fôr requerido, por quinze membros efetivos
com indicação m otivada do assunto a tratar;
6.", nomear, suspender e demitir os empregados do Ins-
Ututo e fixar-lhes os vencimentos;
7.0, autorizar e ordenar o pagam ento de despesas extra-
; ordinárias;
; 8.°, superintender todos os serviços e trabalhos do Ina-
' tituto, inclusive os dos Conselhos Superior e Diretor;
9.0, representar o In stitu to ativa e passivamente, judi­
cial e extra-judicialm ente.
§ 2.® Para o presidente participar dos debates, assum irá
a presidência o seu substituto.
A rt. 16. Aos vice-presidentes, graduados em 1.®, 2.° e
3.0, e nessa ordem, cumpre substituir o presidente em suas
faltas, ou impedimentos.
A rt. 17. Ao secretário geral compete:
1.®, superintender a Secretaria do Conselho Diretor, tendo
a seu cargo o arquivo;
2.0, fazer o respectivo expediente;
3.0, verificar a regularidade da organização e do fun-
ckmamento dos institutos filiados ao Instituto dos Advogados
Brasileiros;
4.", intensificar as relações do Instituto dos Advogados
Brasileiros com os institutos filiados;
5.®, acom panhar .os trabalhos dos institutos filiados ao
Instituto dos Advogados Brasileiros;
6 .0, receber e responder a correspondência entre o Ins-
t tituto dos Advogados Brasileiros e os institutos filiados;

‘í.

9àM 409
______________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

— 12 —

?o, apresentar sugestões e relatórios sôbre a situação


dos institutos filiados ao In stitu to dos Advogados Brasileiros
e 0 meio de estim ular as suas relações;
8.0, apresentar um relatório anual sôbre os trabalhos do
Conselho Diretor;
9.®, redigir as atas das sessões do Conselho Diretor e
lê-las, apresentando o expediente que houver para ser des­
pachado pelo presidente,
10.°, m anter a escrituração do livro de registro dos ins­
titutos filiados, ou de outros que se tornarem necessários e
obter e arquivar todos os documentos e informações que se
referirem ao Conselho Diretor e aos institutos filiados;
11.0, remeter regularm ente aos institutos filiados o qua­
dro de todos o s sócios do Instituto dos Advogados Brasileiros,
com indicação dos escritórios ou residências, e notícia das
novas admissões e exclusões;
12.°, rem eter dois exemplares de cada um a das publica­
ções do Instituto e, mais o preço do custo respectivo, quantos
cada instituto filiado requisitar, com a precisa antecedência;
13.°, enviar a notícia dos atos e deliberações sôbrc a or­
ganização do Instituto, ou que interesse a algum instituto
filiado;
14.“, dirigir-se a qualquer instituto filiado dando as in­
formações que lhe forem solicitadas;
15.°, organizar e promover a publicação anual de um
indicador geral dos advogados, membros do In stitu to e dos
institutos filiados, com os endereças respectivos;
16.®, participar das reuniões do Conselho Diretor, apre­
sentar sugestões, ou ser en c a rr^ a d o da elaboração de quais­
quer trabalhos, mas sem direito de voto.
A rt. 18. Ao 1.° secretário, que é o diretor da Secretaria
do Instituto, compete:
1.°, lêr a m atéria destinada ao expediente das sessões e
dar-lhe o destino determinado pelo presidente;
2.0, comunicar, por escrito, aos membros do Instituto,
a sua designação para qualquer comissão e aos membros pro­
postos a respectiva aceitação;

410 #àm
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

— 13 —

3.°, lavrar, ou m andar lavrar os termos de posse dos


membros de Instituto, das Comissões Perm anentes e do Con­
selho Superior;
4.”, fazer a correspondência do Instituto,' que não esteja
a cargo do secretário geral;
5.% organizar e rever, todos os anos, a relação dos
sócios;
6 °, te r sob sua guarda o arquivo do Instituto;
7.®, propôr ao presidente os empregados necessários à
Secretaria;
8 d a r as certidões pedidas, cobrando emolumentos
prefixados;
apresentar, na últim a sessão de cada ano, a sinopse
das ocurrências nele verificadas;
10.°, substituir em suaa faltas ou impedimentos, o se­
cretário geral.
A rt. 19. Ao 2.° secretário compete:
1.®, fazer as atas e lê-las em sessão;
2.*, auxiliar o 1.® secretário;
3.", substituir, em suas faltas e impedimentos, o 1.” se­
cretário.
A rt. 20. Aos 3.® e 4.° secretários e aos suplentes, cum­
pre auxiliar os 1.° e 2." secretários, substituindo-os nas faltas,
ou impedimentos, n a respectiva ordem.
At. 21. Ao tesoureiro compete:
1.®, a guarda e adm inistração dos bens sociais;
2.“, a arrecadação de toda a receita do Instituto;
3.0, o pagam ento das despesas ordenadas pelo presidente;
4.0, a apresentação das contas do exercício findo, na
prim eira sessão ordinária do ano;
5.*^, a proposta de orçamento para o exercício próximo
vindouro;
6.®, a proposta dos empregados necessários à Tesouraria;
7.“, a apresentação da lista dos membros efetivos em
atraso injustificado no pagamento de seis ou mais m ensali­
dades, nos term os do a rt. i i , letra a;
inform ar a qualquer comissão sôbre receita a ar­
recadar, ou despesa a realizar, em virtude de sugestão dela.

•ál 411
______________História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 14 —

A rt. 22. Ao bibliotecário compete:


1.", a guarda e a superintendência da Biblioteca do Ins* |
tituto; I
2.®, a proposta de empregados necessários aos serviços i
da Biblioteca; 1
3.0, a informação sôbre empréstimo de livros, a reque- .
rlm ento de qualquer membro do Instituto;
4.®, a organização das bio-bibllografias dos membros do |
Instituto; )
5.°, a organização e divulgação mensal da relação das
novas publicações jurídicas nacionais e estrangeiras recebidas ,
pela Biblioteca, ou notificadas pelos institutos fili^ o s .
A rt. 23. Ao orador compete: •
1/’, falar nas solenidades do Instituto: i
2.®, fazer, em sessão solene, o elogio dos membros do Ins- |
tituto, falecidctô no curso de cada ano; I
3.®, usar da palavra, se necessário, n as representações
do Instituto.

C A P ÍTU LO n
I
D a s c o m issõ e s ,

A rt. 24. O Instituto organizará, p ara facilitar a conse­


cução dos seus fins, comissões:
a ) permanentes;
b ) especiais.
§ 1.° As comissões perm anentes serão nomeadas pelo
presidente do Instituto, na prim eira sessão do ano, para ser­
virem pelo mesmo período da diretoria; as especiais serão consr
tituidas para cada caso, e por deliberação do Instituto.
§ 2.® Sómente poderão fazer p arte das comissões per- j
manentes, os membros efetivos; e das comissões especiais, os
membros de qualquer categoria. l
§ 3.® Nenhum membro da diretoria poderá participar de |
comissão perm anente, salvo a de Assistência Judiciária, e ;
nenhum membro de um a comissão perm anente póde per- |
tencer a o u tra. |

• • I

:--------------------------------------------------------------- 1
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- II
1

412 9 A I
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

— 15 —
A rt. 25. Sâo doze as comissões permanentes:
1/^ Direito Constitucional.
2.® Direito Frivado.
3* Direito Penal.
4.» Direito Internacional (Público e Privado).
6* Direito do Trabalho e Previdência Social.
6.* Direito Administrativo.
7.^ Direito Fiscal.
8.* Direito Processual Civil.
9.^ Direito Processual Penal.
10.® Ensino Jurídico.
11.*^ Assistência Judiciária e Organização Judiciária.
12." Admissão de Sócios.
§ 1.® As comissões perm anentes serão constituidas por
5 membros.
§ 2.® Às comissões perm anentes compete estudar as ques­
tões suscitadas no Instituto, ou no seio delas, conforme a es­
pecialidade de cada um a; e à de Admissão de Sócios d ar pa­
recer sôbre os trabalhos apresentados, opinando quanto ao
valor intelectual e a idoneidade moral dos propostos.
A rt. 26. As comissões funcionarão oom a presença de
mais de m etade dos seus membros e deliberam por maioria
dos presentes.
§ 1.° As comissoes, um a vez nomeadas, reunir-se-âo, sob a
presidência do mais antigo de seus componentes como mem­
bro do Instituto, para eleger o respectivo presidente, o qual,
em suas faltas ou impedimentos, será por aquele substi­
tuído.
§ 2.® Quando as comissões funcionarem em conjunto,
presidirá à reunião o presidente mais antigo como membro
efetivo do In stituto .
§ 3.® Os membros efetivos do Instituto podem assistir às
reuniões das comissões, e, com permissão delas, debater os
assuntos em estudo, oferecendo, por escrito, esclarecimentos,
sugestões, emendas, ou substitutivos, que acompanharão os
pareceres enviados à Mesa.
§ 4.0 Os pareceres devem ser apresentados à Mesa, den­
tro de trin ta dias após o recebimento da proposição afeta

413
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 16 —

à comissão, salvo prorrogação de príao, requerida ao Ins­


titu to .
§ 5.0 Se, findo o prazo estatutário, a comissão não hou­
ver enviado à Mesa parecer, a proposição será incluída em
ordem do dia, independente dele, acom panhada de voto, ou
observações, apresentadas na comissão.
§ 6.® P ara a fiscalização do disposto nos dois anterio­
res parágrafos, haverá na Secretaria um livro de registro das
datas de entrega às comissões das proposições sujeitas ao
seu parecer.
§ 7.® O membro de qualquer comissão que, convocado
por três vezes para a reunião, a ela não comparecer, perderá
autom aticam ente o cargo, o que será comunicado ao presi­
dente do Instituto, o qual, n a prim eira sessão ordinária, de­
signará 0 substituto.

TTTULO m

Da» ses»e««

C A P ÍTU LO I

D a o rd e m d o s fr a b a ltio s

A rt. 27. O Instituto dos Advogados Brasileiros reali­


zará sessões ordinárias, extraordinárias e solenes.
§ 1.® O Instituto dos Advogados Brasileiros funcionará
ordinariam ente de 15 de abril a 31 de dezembro.
§ 2.” As sessões ordinárias realízar-se-ão às quintas-fei­
ras e, se êsse dia fôr impedido, no im ediato.
§ 3.® As sessões extraordinárias efetuar-se-ão, a requeri­
mento de, pelo menos, quinze membros efetivos, no pleno
gozo dos seus direitos sociais, com a declaração dos seus fins,
ou por convocação, e x -o ffic io , do presidente, em qualquer pe­
ríodo do ano.
§ 4.® No dia 7 de agosto, ou em outro dia, se por motivo
ponderoso não se puder realizar nessa data, terá lugar a
sessão solene comemorativa da fundação do Instituto, na
qual será feito o elogio dos membros falecidos.

414
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

— 17 —

A rt. 28. Os trabalhos das sessões serão dirigidos pela


mesa do Instituto, constituída pelo presidente e quatro se­
cretários .
§ 1." Salvo deliberação prévia do Instituto, as sessões
serão públicas.
§ 2.° Compete à mesa vedar a presença aos trabalhos do
Instituto de qualquer pessoa estranha ao quadro social, con­
siderada inconveniente, ou indesejável.
A rt. 29. Salvo prévia deliberação do Instituto, as ses­
sões começarão às vinte horas e meia e durarão duas e meia
horas, destinadas — um a ao expediente e o tempo restante
à ordem do dia.
§ 1.® Os trabalhos terão inicio à hora prefixada se se
acharem presentes, pelo menos, dez membros efetivos e em
pleno gozo dos seus direitos sociais.
§ 2.° Declarando aberta a sessão, o presidente, ladeado
pelos secretários, determ inará a leitura da a ta da sessão an­
tecedente, submetendo-a à deliberação do Institu to .
§ 3.® Considerar-se-á aprovada a a ta que não suscitar
reclam ação.
I 4 ° Se houver reclamação sôbre a ata, o 2.® secretário
esclarecerá a dúvida, ou a atenderá, fazendo-a constar na
ata da sessão em andam ento.
§ 5." Aprovada a ata, ou ultim ada a sua discussão, será
rubricada pelo presidente.
§ 6.® Rubricada a ata, o presidente determ inará a lei­
tu ra da m atéria de expediente.
§ 7.° O expediente será lido pelo 1.® secretário e d e ^ a -
chado pelo presidente.
§ 8.® Qualquer membro efetivo do Instituto, presente à
sessão, poderá sugerir ao presidente despacho em m atéria
do expediente, ou solicitar reconsideração do mesmo, sem re­
curso.
§ 9.® Terminados os trabalhos relativos ao expediente,
o restante da prim eira hora é destinada à apresentação de
proposições de interêsse do Instituto.
§ 10.® Se, antes de findar a hora destinada ao expe­
diente, não houver m ais assunto a tra ta r, passar-se-á à ordem
do dia.

415
______________ História da------------------------------------------------------------ !
O rd e m dos A dvo g ad os d o B r a s i l ___________________________________________________________________________ j j

§ 11.0 Se, esgotada a hora destinada ao expediente, ainda


houver m atéria para o mesmo, será considerada depois de
term inada a ordem do dia.
§ 12.® O Instituto poderá prorrogar a hora do expediente
por trin ta minutos, um a só vez.
§ 13.C Na ordem do dia, a m atéria destinada à votação
precederá a sujeita à discussão.
§ 14.° Por deliberação do Instituto, a ordem do dia po­
derá ser invertida, total ou parcialm ente, por melo de pre­
ferência, ou de urgência.
§ 15.® Salvo deliberação prévia do Instituto, a ordem do
dia só será interrompida;
a ) para a posse de novo membro do Instituto;
b ) para comunicação, pela mesa, de assunto urgente;
c) para requerimento de ordem, sôbre as m atérias em
ordem do dia.
§ 16.° Findos os trabalhos da ordem do dia, se não fô-
tiver esgotado o tempo a ela destinado, retom ar-se-á à m a­
téria do e ^ d ie n te .
§ 17.® Findo o tempo destinado à ordem do dia, poderá
o Instituto prorrogá-lo.
§ 18.® Em hipótese algum a os trabalhos poderão pro­
longar-se além das 24 horas.
§ 19.® Antes de levantada a sessão, poderá qualquer dos
membros do Instituto, presentes aos trabalhos, sugerir ao
presidente a inclusão, na nova ordem do dia, de proposição
em termos de nela figurar.
§ 20.® O presidente, mesmo quando a anuncie no final
da sessão, deverá divulgar pela im prensa a ordem do dia
da sessão seguinte.
C A P ÍT U M n

D a s VTOposições

' A rt. 30. Os membros do In stitu to poderão fazer:


1.”, comunicações, dissertações e exposições; *
2.®, requerimentos sôbre m atéria de ordem;
3.®* propostas ou indicações sôbre m atéria pertinente
aos estatutos.

416 •Al
V o lu m e 3 O lO A B n a P r im e ir a R e p ú b lic a

— 19 —

§ Ag comunicações escritas e as dissertações serão


enviadas à comissão competente; as exposições à comissão
indicada pelo seu autor,
§ 2.® Todas as petições sôbre objeto de expediente,. ou
de ordem, são consideradas requerimentos.
§ 3.® Os requerimentos sôbre questões de ordem serão
verbais e os relativos a objeto de expediente serão escritos,
sendo uns e outros despachados pelo presidente.
§ 4 ° Proposta é toda a proposição oferecida à delibera­
ção do Instituto, dependendo, ou não, de parecer.
§ 5.° A colocação de retrato, ou busto, n a séde do Insti­
tuto, depende de proposta com 50 assinaturas de membros
efetivos, subm etida a votos com a presença m ínim a de trin ta
votantes e aprovada por cinco sextos dos presentes.
§ 6.® As indicações serão sempre escritas e, lidas como
m atéria de expediente, ficarão sôbre a mesa até a sessão
seguinte, salvo requerim ento de urgência aprovado pelo Ins­
tituto, que a julgará objeto, ou não, de deliberação, sendo, em
caso afirmativo, enviadas à competente Comissão para emi­
tir parecer.
§ 7.® Se com a indicação se requerer a constituição de
comissão especial e o In stitu to a aprovar, será enviada à co­
missão que fôr nom eada.
§ 8.® Os pareceres sôbre indicações deverão conter con­
clusões, que serão submetidas à discussão e à deliberação
do Instituto, podendo ser modificadas, por emendas, no todo
ou em parte.
C A P ÍTU LO m

D a s d isc u ssõ e s

A rt. 31. As discussões do Instituto obedecerão à se­


guinte ordem:
§ l.<) Os oradores falarão de pé e da tribuna, se não ob­
tiverem permissão do presidente p ara falarem dos seus lu­
gares; e por motivo justificado poderão falar sentados.
§ 2.^ Não é lícito usar da palavra sem que o presidente
a conceda.

•áb 417
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 20 —

§ 3° Os membros do Instituto, durante as ses&Ões, terão


o tratam ento de Excelência.
I 4." Se o presidente declarar que não é lícito ao orador
prosseguir com a palavra, poderá êle recorrer dessa decisão
p ara o Instituto, que resolverá soberanam ente.
§ 5.® Se, devido a tum ulto, não puder a discussão pros­
seguir em ordem e com solenidade, poderá o presidente sus­
pendê-la, interrompendo a sessão ou suspendendo os tra ­
balhos.
§ 6.° Os membros da mesa só falarão dos seus lugares
quando expuserem, ou resolverem, questões de ordem.
§ 7.” Os visitantes de distinção poderão usar da palavra,
se previamente a solicitarem ao presidente e este lh ’a con­
ceder.
A rt. 32. Todos os pareceres serão sujeitos a discussão.
§ 1.® Salvo preferência, a que têm direito, sucessiva­
mente, o relator, o autor e os membros d a mesa, os demais
oradores terão a palavra pela ordem de inscrição e, n a falta
dessa, quando a solicitarem.
§ 2.® O encerramento da discussão é conseqüente à au­
sência, inicial, ou posterior, de oradores.
§ 3.° Encerrada a discussão será, salvo concessão de u r­
gência, adiada a votação para a sessão seguinte.
§ 4.® É permitido ao Instituto, por dois terços dos votos
presentes, deferir requerimento de adiamento, de encerra­
mento, ou de reabertura de discussão, prefixados, n a primeira
e n a últim a hipótese, os respectivos prazos.
§ 5.® Salvo para pedir reconsideração do vencido e desde
que o Instituto o perm ita, não se poderá falar contra, ou
sôbrc 0 deliberado.
§ 6.° Excetuados o relator e o a&tor, que poderão res­
ponder a todas as objeções, o orador só poderá falar um a vez
sôbre cada proposição, a menos que o In stitu to delibere em
contrário.
§ 7.® São tolerados os apartes, breves e corteses, mediante
aquiescência prévia do orador.

418 9A I
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

— 21 —

C A P ÍTU LO IV

D a s d e lib e ra ç õ es

A rt. 33. As deliberações do Instituto serão tomadas por


votação, com a presença, pelo menos, de doze membros efe­
tivos, salvo as exceções previstas nestes estatutos.
§ 1.0 Salvo disposição expressa, toda proposição será su­
jeita a deliberação.
§ 2.‘* N enhum a m atéria será sujeita, a deliberação, sem
a presença do necessário quorum.
§ 3.0 Salvo prévia declaração de impedimento, nenhum
membro efetivo poder.se-á escusar de participar de qualquer
deliberação.
§ 4.° Ao presidente, que votará nos escrutínios secretos,
cabe apenas o voto de qualidade nas outras deliberações, em
caso de em pate.
§ 5.° As deliberações só serão interrom pidas por adia­
mento, concedido pelo Instituto, ou quando esgotada a hora
da sessão.
A rt. 34. As votações se farão pelos processos:
a ) simbólico;
b) secreto;
c) nom inal.
§ 1.0 O processo simbólico consistirá no levantam ento
dos que votarem contra.
§ 2 ° O processo secreto será realizado por meio de es­
feras, sendo as brancas a favor e as pretas contra.
§ 3.® O processo nom inal consistirá na resposta s im ou
não, à cham ada, pela lista de presença.
§ 4.0 O resultado da votação será comunicado pelo pre­
sidente, que, no caso de votação nominal, fará ler os nomes
dos que votaram pró e dos que votaram contra.
I 5.0 Proceder-se-á à votação nominal s e m p r e que o Ins­
tituto, a requerimento de qualquer membro efetivo, presente
à deliberação, assim o determ inar.
A rt. 25. Se o Instituto, a requerimento de qualquer dos
seus membros efetivos, não deliberar votá-las separadam ente,

419
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B r a s il

: — 22 —
proceder-se-á à votação das conclusões de cada parecer em
conjunto.
-■ § 1.° Salvo preferência, concedida pelo Instituto, as v o
^ tações de substitutivos ou de emendas do plenário conside-
rar«se-ão prejudicadas, com a aprovação das conclusões do
respectivo parecer.
§ 2.” Salvo deliberação, em contrário, do Instituto, a re­
jeição das conclusões de parecer não im pedirá sejam subme­
tidos a votos os substitutivos ou emendas que lhe hajam sido
apresentados.
§ 3.® No caso de preferência para a votação de substi­
tutivos, ou emendas, e pareceres, o In stitu to deliberará, se a
preferência adotada prejudica a votação da proposição pre­
terida .
A rt. 36. Só por manifestação do In stitu to poderá ser
adl£ula a deliberação de proposição incluída em ordem do dia.
A rt. 37. Qualquer proposição, incluída ou não, em
ordem ào dia, poderá ser imediatamente discutida ou votada,
se 0 Instituto conceder urgência p ara êsse fim.
§ 1.® Não será permitido requerim ento de urgência para
discussão ou deliberação, relati^mmente a:
a ) questão puram ente doutrinária;
b ) indicação sôbre questão apenas doutrinária;
c) eliminação de membro do Instituto;
: ã) reconsideração de deliberação;
i e ) colocação de retrato ou busto n a séde do Instituto;
f ) homenagem a pessoa viva;
g ) rompimento de laços de filiação com qualquer insti­
tu to .
§ 2.® Será considerada urgente, independente de delibe­
ração prévia, toda proposição que tenha por fim garantir
direitos Individuais, assegurar a ordem jurídica e defender
.^ princípios gerais de direito, atingidos ou n a im inência de
serem afetados, por atos do poder público.
A rt. 38. E’ permi^do a qualquer membro do Instituto,
presente ou ausente a qualquer deliberação, fazer, por es­
crito, declaração de voto, justificada ou não, a qual não afe­
ta rá 0 resultado da v o tad o .

420 @Á#
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

í
' _ 23 —

§ 1.® D urante a votação, só é lícito falar para encami­


nhá-la ou para suscitar questão de ordem a ela p ertinen te.
§ 2.® Ultimada a votação, só serão perm itidas declara­
ções orais de voto, não Justificadas.
§ 3.® D urante a votação, salvo deliberação do Instituto,
ninguém falará m ais de três m inutos.
A rt. 39. As conclusões, aprovadas integralm ente, inde­
penderão de nova redação.
§ 1." Se 0 In stituto não preferir atribuí-lo à comissão
autora do parecer, a redação das conclusões emendadas de­
verá ser feita pela m esa.
§ 2.® A redação das conclusões emendadas, salvo urgên­
cia, ou adiam ento, deverá ser subm etida à aprovação do Ins­
tituto, na sessão seguinte.

TÍTULO IV

i Do Conselho Superior
f

f A rt. 40. O Conselho Superior do Instituto dos Advoga­


dos Brasileiros será constituído de todos os ex-presidentes
do Instituto, que serão membros vitalícios, e mais de 40 mem­
bros eleitos bienalm ente, votando cada eleitor com cédula,
m anuscrita, datilografada ou impressa, n a qual constem os
40 nomes dos elegendos.
§ 1.® A eleição para os cargos do Conselho Superior rea­
lizar-se-á n a penúltim a sessão ordinária do primeiro ano da
) adm inistração de cada D iretoria.
' § 2.** A vaga que se verificar, durw ite o biênio, entre
j • os membros eletivos do Conselho Superior, será preenchida
por eleição do Instituto, dentro de 10 dias, concluindo o
substituto o m andato do substituído. Im portará em renún­
cia o fato do eleito não tom ar posse no prazo de 15 dias,a
contar da d ata da eleição.
§ 3.0 O presidente do Conselho Superior será o Presi­
dente do Instituto em exercício e, na sua falta, o mais antigo
dos ex-presidentes que se achar presente à sessão. Na au­
sência destes presidirá a sessão o mais antigo membro do
j Instituto que pertencer ao Conselho e estiver presente.
j
i

QàM 421
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 24 —

§ 4.° O presidente do Conselho só terá direito a voto em


caso de em pate.
§ 5.® Servirão como secretários do Conselho Superior os
do Instituto, os quais não terão direito de votar.
§ 6.° Ao Conselho Superior compete:
a) eleger sete membros do Conselho da Ordem dos Ad­
vogados do Brasil, Secção do Distrito Federal, dentre os
advogados Inscritos nessa Secção, sendo por êle inelegíveis
os seus membros que não renunciarem os respectivos cargos
até 15 dias antes da eleição;
&) exercer a ação disciplinar sôbre os membros do Ins* I
tituto, e x -o ffic io , ou conhecer da queixa apresentada contra
qualquer deles, com recurso, e x -o ffic io , para o Instituto;
c) apreciar a justificativa que qualquer membro do Ins­
titu to queira produzir sôbre ato de sua vida profissional, ou
que interesse ao seu conceito público, com recurso e x -o ffic io
p ara o Instituto;
d ) conceder, anualmente, a m edalha “Teixeira de Frei­
ta s”, conforme as bases aprovadas pelo Instituto;
e ) d ar parecer sôbre qualquer proposta que acarrete
alienação de bens do patrimônio do Instituto;
/) dar parecer sôbre a reform a destes estatutos no prazo
de 15 dias, contados da remessa do projeto de reforma, sob
pena da respectiva prim eira via en trar n a ordem do dia dos
trabalhos do Instituto, independente de parecer;
g) exercer as atiibuições e encargos que lhe sejam con­
feridos, em relação à Ordem dos Advogados do Brasil.
§ 7.0 É assegurada aos membros do Instituto, perante
o Conselho Superior, a mesma faculdade outorgada, quanto
às comissões, pelo art. 26, § 3.” .
A rt. 41. O Conselho Superior, quando tiver que exer­
cer a função de eleitor dos sete membros do Conselho da
Ordem dos Advogados do Brasil, p ara a Secção do Distrito
Federal, só funcionará com a presença m ínim a de 21, e nos
demais casos, de 9 membros. 1
A rt. 42. Nos casos de queixa, depois de ouvidos os in­
teressados, no prazo de cinco dias, e promovidas as necessá­
rias diligências, no prazo de dez dias, se a ju lgar procedente.

422
V o lu m e 3 O lO A B n a P r im e ir a R e p ú b lic a

— 25 —

poderá o Conselho aplicar, conforme a gravidade do fato,


aa seguintes penas:

a) advertência particular;
b) censura pública;
c) suspensão do Instituto por tempo não superior a um
ano.
§ 1.® O Conselho Superior poderá, de ofício, aplicar qual­
quer dessas penas independente de queixa, pela notoriedade
das circunstâncias, sempre depois de ouvido o interessado
no prazo de cinco d ias.
§ 2.® O presidente do Conselho Superior comunicará aos
tribunais e juizes do Distrito Federal as penas disciplinares
impostas a qualquer membro do Instituto.
I 3.® P ara cada caso, sôbre que tenha o Conselho de se
m anifestar, o presidente nom eará relator ou comissão, que
promoverá, p ara seu perfeito esclarecimento, todas as dili­
gências que julgar convenientes, no prazo máximo de 10
dias.
§ 4.° A nomeação de relator, ou de comissão, poderá
ser feita, pelo presidente, antes de convocado o Conselho, de
sorte que, quando este se reunir, conheça logo do parecer do
relator ou da respectiva comissão.
§ 5.*' Com o relatório e todos os elementos de aprecia­
ção, o Conselho resolverá pela maioria absoluta dos membros
presentes.
§ 6.® Salvo a hipótese do a rt. 41, é necessária a pre­
sença de doze membros para as votações do Conselho Su­
perior.
§ 7.° Se não houver, p ara a reunião, q u o r u m legal, nova
convocação será feita, podendo o Conselho resolver as ma­
térias de sua ordem do dia, com a presença de sete membros,
salvo a hipótese do a rt. 41.
§ 8.® As resoluções e pareceres do Conselho serão assi­
nados pelos membros presentes à reunião, além do Presidente,
do relator e do secretário.
§ 9.° O voto vencedor ou vencido do membro do Conse­
lho, que não assinar a resolução, será declarado para os de­
vidos efeitos.

•Â M 423
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

— 26 —

A rt. 43. O Conselho Superior reunir-se-á n a séde do


In stitu to dos Advogados Brasileiros, sempre que íô r neces­
sário, por convocação do seu presidente, ou a requerim ento
de qualquer de seus membros, com indicação do motivo.

TÍTULO V

Po Conselho Diretor

C A P ÍTU LO I

D a o r g a n iza ç ã o

A rt. 44. O Conselho Diretor do Instituto dos Advogados


Brasileiros é constituído pelo presidente, em exercício, dêste
e pelos presidentes dos institutos estaduais filiados.
Parágrafo único. O Conselho D iretor terá como secre­
tário o secretário geral do Instituto dos Advogados Brasi­
leiros.
A rt. 45. A presidência do Conselho Diretor será exer­
cida pelo presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros,
sendo este substituído, no caso de ausência ou Impedimento,
pelo mais velho dos presidentes dos outros Institutos ou dos
seus representantes.

c a p ít u l o n

Das a trib u iç õ e s e reuniões

A rt. 46. Ao Conselho Diretor incumbe:


lA adm itir à federação qualquer instituto dos Estados,
n a proporção de um por Estado;
2 .0, suspender ou excluir da federação qualquer insti­
tuto;
3.C, promover, orientar e coordenar a ação coletiva de
todos os institutos filiados;
4.®. providenciar sôbre a criação. Instalação, bom fun­
cionamento e federação de institutos nos Estados, podendo
nom ear ura ou mais delegados temporários no Estado era

424 •Al
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

que não houver instituto, dando-lhes instruções para o de­


sempenho do seu m andato;
5.°, promover a realização de conferências pelos mem-
, bros dos institutos federados, em propaganda da cultura ju ­
rídica;
6 ”, prover a representação do Instituto dos Advogados
Brasileiros no estrangeiro;
7.®, resolver sôbre a adesão do Instituto dos Advogados
Brasileiros a instituições similares estrangeiras;
8.®, cooperar n a criação de organismos internacionais de
advogados;
9 °, adotar as norm as que entender convenientes para
estreitar as relações e a colaboração dos institutos;
í 10.®, promover inquéritos sôbre assuntos Juiídipos de
t interêsse geral.
I § 1.° O Conselho Diretor do Instituto reunir-se-á, ordi­
nariam ente, um a vez por ano e, extraordinariam ente, todas
as v ^ s que se to m ar necessário, convocado pelo presidente
ou por cinco dos seus m em bros.
§ 2 ° A convocação extraordinária será feita com a an­
tecedência m ínim a de 15 dias, segundo a urgência do as­
sunto a tra ta r, indÍcando-se, sempre, o objeto especial da
reunião.
§ 3.® O secretário geral dará notícia aos presidentes dos
institutos dos Estados, com antecedência mínim a de dez dias,
das m atérias sôbre que tiver de deliberar o Conselho n a reu­
nião seguinte.
§ 4.® A inclusão de qualquer outra m atéria na ordem
do dia da reunião depende da aprovação de três quartos dos
membros presentes do Conselho Diretor.
§ 5.® Os membros do Conselho Diretor, que não puderem
comparecer às reuniões, poderão fazer-se representar por
membros de qualquer instituto filiado e de preferência por
membros efetivos dos institutos de que forem presidentes.
A rt. 47. Os pedidos de filiação de institutes dos Esta­
dos serão distribuídos a relatores que apresentarão parecer
. escrito sôbre o preenchim ento das condições do artigo 58
’ dêstes estatutos, sendo êsse parecer discutido e votado pelo
Conselho.

•Al 425
______________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

— 28 —

A rt. 48. As propostas de suspensão ou exclusão de


qualquer Instituto lülaüo serão apresentadas por escrito, no­
meando-se relator, que, ouvindo o In stitu to visado pela me­
dida, no prazo que lhe parecer razoavel ou fixado pelo Cos-
selho, e determinando as diligências que couberem, apresen­
ta rá parecer para ser discutido e em seguida votado, em es­
crutínio secreto, em sessão para êsse fim especialmente con­
vocada .
A rt. 49. As propostas visando elaboração de trabalho
especial ou assunto de Importância, a juízo do Conselho Di­
retor, serão igualm ente apresentadas por escrito, nomeando
o presidente o respectivo relator ou comissão.
A rt. 50. Todos os demais assuntos da competência do
Conselho Diretor poderão ser discutidos e votados indepen­
dentem ente de parecer prévio.
A rt. 51. Para cada caso sôbre que ten h a o Conselho
de se tnanifestar, suscitado n a Intercorréncia dos suas reu­
niões, e não compreendido no artigo anterior, o presidente
nom eará, desde logo, relator ou comistào, de sorte que,
quando se realizar a reunião, possa o Conselho tom ar desde
logo conhecimento do parecer ou do trabalho elaborado.
A rt. 52. Em caso de urgência, e atendendo à natureza
do assunto, qualquer deliberação do Conselho Diretor poderã
ser tomada mediante consulta escrita do presidente do Ins­
titu to aos presidentes dos institutos filiados, independente
de reunião, desde que se não m anifeste qualquer diver­
gência.
A rt. 53. A ata de cada sessão será subm etida à apro­
vação do Conselho Diretor n a sessão imediata, sendo assi­
nada pelo presidente, depois de aprovada.
A rt. 54. Qualquer dos membros do Conselho poderá
apresentar declaração de voto, por escrito, ou discurso que
haja proferido em sessão, para ser arquivado, como parte
integrante d a a ta respectiva.
A rt. 55. O Conselho Diretor funcionará: em primeira
convocação com a presença, pelo menos, de m etade e mais
um dos presidentes ou representantes dos institutos filia­
dos; em segunda convocação com um terço; e em terceira

426 9AB
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

29 —

convocação com um quarto dos aludidos presidentes ou re­


presentantes .
A rt. 56. As deliberações serão, sempre, tomadas por
m aioria absoluta de votos, salvo o caso <ia inclusão de qual­
quer outra m atéria n a ordem do dia da reunião, que depen­
derá da aprovação de três quartos dos membros presentes.
Parágrafo único. Em caso de empate, prevalecerá o voto
de qualidade do presidente.

C A P ÍTU LO m

D o p r e s id e n te d o C o n se lh o D ire to r

A rt. 57. O presidente do Conselho Diretor é, para todos


os efeitos, o seu órgão oficial, dirige-lhe os trabalhos, tendo
mais especialmente as seguintes atribuições:
1) representá-lo em solenidades e reuniões, podendo de­
legar essa atribuição a qualquer dos demais membros do
Conselho:
2) subscrever seus atos e representações;
3) convocá-lo, por intermédio do secretário geral;
• 4) nom ear relator ou comissões para as questões a de­
cidir;
5) executar as resoluções;
6) despachar o expediente.

TITULO VI

Da federação dos Institutos

A rt. 58. Os Institutos de Advogados dos Estados po­


derão, não m ais de um em cada Estado, filiar-se ao Instituto
dos Advogados Brasileiros, sem qualquer contribuição, con­
servando su a personalidade jurídica e inteira autonomia
econômica e adm inistrativa, desde que tenham organização
Idêntica e se componham, pelo menos, de dez membros efe­
tivos.
§ 1.” O Instituto dos Advogados Brasileiros servirá de
laço de união entre os institutos filiados, entre si e com as

427
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B r a s il

i -■ •

!
i

— 30 —

instituições congêneres estrangeiras com as quais mantiver


relações.
§ 2.° O s institutos filiados enviarão ao Instituto dos Ad­
vogados Brasileiras informações sôbre a vida jurídica dos
respectivos Estados, bem assim as publicações oficiais dos Es­
tados 6 dos municípios que lhe puderem oferecer, inclusive
as suas próprias publicações e os trabalhos dos seus membros.
§ 3.® Os institutos filiados remeterão, ao Instituto dos
Advogados Brasileiros, os estatutos, respectivas modificações
e regimentos internos que organizarem, o quadro de todos
os seus sócios com indicação dos escritórios, ou residências,
noticia das novas admissões e exclusões, cópia da a ta das |
suas sessões e dos principais trabalhos apresentados, bem as­
sim dois exemplares de cada um a de suas publicações.
A rt. 59. Cada instituto filiado será inscrito no Insti­
tu to dos Advogados Brasileiros, em livro de registro com
todas as indicações precisas, organízando-se o arquivo espe­
cial dos documentos respectivos.
A rt. 60. Os membros dos institutos filiados terão, quan­
do n a séde do Instituto dos Advogados Brasileiros, ou na
dc qualquer deles, os direitos e as regalias dos seus próprios
sócios, da mesma categoria, inclusive o de voto pleno, se ins­
critos por comunicação escrita à respectiva secretaria, por
mais de três meses, no instátuto a que não pertençam origi- i
nariam ente.
A rt. 61. A admissão dos sócios nos institutos filiados,
obedecerá às regras adotadas nestes estatutos.

TÍTULO VII

Oas «ielçdes

A rt. 62. Na ante-penúltim a sessão do últim o ano de


administração de cada Diretoria, o In stituto procederá à
eleição dos membros de sua Diretoria para o biênio seguinte.
§ 1.° A eleição dos membros da diretoria será feita por
escrutínio secreto e por m aioria de votos, considerando-se,
I cm caso de empate, eleito o membro efetivo m ais anttgo.

428 9àM
V o lu m e 3 O IO A B n a P r im e ir a R e p ú b lic a

— 31 —

§ 2.° P ara a eleição da diretoria serão feitas três cédulas,


contendo os nomes dos candidatos a:
Presidente e vice-presidentes;
Secretários e suplentes;
Tesoureiro, bibliotecário e orador.
§ 3.® O 3.® vice-presidente deverá ser membro efetivo do
Instituto dos Advogados Brasileiros e de lun instituto a êle
filiado. Se não houver membro efetivo nessas condições, não
se preencherá o lugar de terceiro vice-presidente.
§ 4.® Os eleitos de acôrdo com este artigo tom arão posse
na prim eira sessão ordinária do ano seguinte e, nos outros
casos, perante o presidente.
A rt. 63. Se ocorrer v ^ a , por qualquer motivo, inclusive
não aceitação do cargo, renúncia, ou perda de mandato, pro-
ceder-se-á a nova eleição, na sessão seguinte.
§ 1.0 Perdem os cargos:
o) os membros da diretoria. Inclusive os suplentes de
secretários, se faltarem , sem causa justificada, a 4 sessões
consecutivas, ou 10 durante o ano, e, com causa justificada,
a 8 sessões sucessivas, salvo licença concedida pelo Insti­
tuto;
b) os membros das comissões, se faltarem , sem causa
justificada, a três reuniões sucessivas, e, com causa justifi­
cada, a seis reuniões consecutivas.
§ 2.0 Aos presidentes das comissões cumpre comunicar,
por escrito, ao presidente do Instituto, as vagas ocorrentes,
pena de destituição autom ática.
A rt. 64. Nenhuma eleição poderá ser feita sem que
conste da ordem do dia e ten h a sido anunciada pela im­
prensa com antecedência de três dias, pelo menos.

TÍTULO VIII

Do órgão d* publicidade

A rt. 65. O Instituto m anterá um órgão de publicidade


com a denominação de Boletim do Instituto dos Advogad%
Brasileiros, organizado pela sua diretoria, que poderá a tri­
buir sua redação a um dos membros efetivos.

•àl 429
______________Historia da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B r a s il ]

«
— 32 —

§ l.c O Boletim aparecerá, conforme a m atéria necessá­


ria ao seu texto, ao menos um a vez por trim estre.
§ 2.® Cumpre à mesa do Instituto, nas publicações para
o Boletim, exercer vigilância e censura para lhes suprim ir
quaisquer Inconveniências.
§ 3.® O Boletim inserirá:
1.", as atas das sessões do Znstítuto e das reuniões dos
Conselhos Superior e Diretor;
2.®, as informações, relatórios e pareceres das comissões
do Instituto;
3.C, as comunicações apresentadas ao In stitu to e por êle
julgadas dignas desta distinção;
4.°, as oonferências proferidas nA Instituto, mediante
prévia deliberação dele;
5 /’, a biografia dos membros do Instituto, já falecidos;
6.°, toda e qualquer publicação útil aos juristas em geral
e aos advogados em particular.

TITÜLO IX

Das dteposiçAsB garais

Art. 66. O Instituto tem .séde efetiva no edifício do


Silogeu Brasileiro, cujas dependências lhe foram entregues
pelo Govêrno da República em 7 de setembro de 1904.
A rt. 67. Não poderá ser aceita pela Mesa, nem ser ob­
jeto de deliberação do Instituto, qualquer proposta:
a) infringente dos estatutos;
b) que vise manifestar sentim entos do In stitu to como
corporação, salvo em comemoração de d atas ou aconteci­
mentos nacionais, ou em homenagem por falecimento dos
seus membros, de jurisconsultos ou de personalidades emi­
nentes .
Parágrafo único. O Instituto poderá fazer-se represen­
ta r nas reuniões, assembléias e solenidades de cara te r cívico,
científico ou literário e também em festividades que não con­
trariem seus objetivos sociais.

430 9ÁI
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e im R e p ú l> lic a

— 33 —

A rt. 68. Os estatutos poderão ser revistos, cinoo anos


após sua aprovação, mediante proposta assinada por mais de
cincoenta membros efetivos.
§ 1." Qualquer alteração parcial nos estatutos, menos
no tocante à sua adm inistração, deverá ser proposta por es­
crito e assinada, pelo menos, por trin ta membros do Insti­
tu to .
§ 2.0 Não poderá ser encerrada a discussão de proposta
de revisão, ou de alteração dos estatutos, sem o debate da
mesma em três sessões ordinárias, pelo menos.
§ 3.0 A revisão, ou qualquer alteração dos estatutos, só
se votará após a terceira sessão ordinária em que fôr encer­
rada a discussão e cora o q u o r u m mínimo de 30 membros
efetivos.
A rt. 69. A renúncia expressa de qualquer cargo da di­
retoria produzirá todos os efeitos, desde logo, designando o
presidente a sessão em que se deve proceder á eleição.
A rt. 70. Os casos omissos nos presentes estatutos serão
resolvidos, conclusivamente, pela maioria dos membros da
mesa.
A rt. 71. O In stituto só se extinguirá pela vontade de
mais de dois terços dos membros efetivos, m anifestada por
escrito por duas vezes, com intervalo de dois anos, entre
um a e outra m anifestação.
A rt. 72. O título de Presidente Honorário só será con­
ferido m ediante proposta assinada por 50 membros efetivos,
aprovada por cinco sextos dos membros efetivos presentes
à sessão, em núm ero que deverá ser superior a trin ta .
A rt. 73. Os membros do Instituto não respondem sub-
sidiariam ente pelas obrigações contraídas, expressa, ou ta d -
tam ente, em nome dêste.
A rt. 74. O In stituto adotará pavilhão e distintivo, sendo
êste destinado ao uso de seus membros, cabendo ao Instituto
a aprovação dos respectivos modelos.
A rt. 75. Ficam creadas, em homenagem aos fundado­
res do In stitu to dos Advogados Brasileiros, as Cadeiras Egi-é-
gias, assim denominadas:
a) Francisco Gê de Acayaba Montezuma;
&) Augusto Teixeira de Freitas;

•àl 431
______________ História d a
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

f _ 34 —

c) Caetano Alberto Soares;


d ) Francisco Alberto Teixeira de Aragão;
e) F r^ c isc o de CarvídUo M oreira (Barão de pene<to);
/) José Julio Freitas Coitinho.
§ 1.® Estas caldeiras serão ocupadas, respectivamente,
pelo presidente do Instituto, 1.°, 2.®, 3 “ e 4.® secretários, e
pelo orador oficial, durante o período para o qual forem
eleitos.
§ 2.** A Cadeira de Honra, para o Chefe de Estado, terá
a denominação de D. Pedro II.
A rt. 76. O orçamento vigente do In stitu to ficará pror­
rogado, se até a últim a sessão de abril não estiver aprovada
a proposta para o exercício seguinte.
A rt. 77. A consulta aos livros do In stitu to é feita n a
Biblioteca e só, excepcionalmente, a requerimento escrito, in­
formado pelo bibliotecário, e a prazo certo, o presidente
consentirá n a retirada de qualquer volume.
§ 1." É vedada a retirada de qualquer obra a quem es­
trag ar a que h aja consultado ou tenha excedido o prazo fi­
xado pelo presidente.
§ 2.® O bibliotecário deverá prefixar quantia que asse­
gure o valor de obra rara, retirada por empréstimo, mediante
depósito na Tesouraria, enquanto d u rar o empréstimo.
§ 3.” Não será perm itida a retirada sim ultânea de máis
de três volumes de obras diferentes, ou m ais de três volumes
da mesma obra.
A rt. 78. Os membros efetivos do In stitu to terão o tra ­
tam ento de Excelência n a respectiva correspondência.

TÍTULO X

De patrimônio tocial

A rt. 79. O patrimônio do In stitu to é constituído de


valores, inclusive apólices, livros, móveis, além de outros
bens que se encontram na séde. Edifício do Silogeu Bra­
sileiro.
§ 1.“ Esse patrimônio poderá ser aum entado com con­
tribuições oficiais, ou particulares de sócios, ou mesmo de

432
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

— 35 —

pessoas estranhas ao seu quadro social, por meio de doaçoes,


dotações, subvenções ou qualquer outro meio de aquisição
de propriedade.
§ 2 ° No caso de extinção do Instituto, será o seu pa­
trimônio transferido, de preferência, à associação ntu^ional
por ele designada, com fins idênticos, ou. na falta desta, a
estabelecimento de ensino jurídico.

TÍTULO XI

Das disposlçftes transitórias

A rt.8 0 . Os atuais membros do Conselho Superior terão


os seus m andatos prorrogados até que se proceda a eleição
doa novos, na conformidade do previsto no § 1." do art. 40
destes estatutos.
A rt. 81. A presente reforma dos estatutos entrará em
vigor depois de aprovada a redação final, respeitados, entre-
• tento, até cs respectivos términos, os m andatos e m desacôrdo
j com o neles disposto, antes outorgados. ( 1)
A rt. 82.® Revogam-se as disposições em contrário.

Sala das sessões do Instituto dos Advogados Brasileiros,


aos 9 de dezembro de 1949.

A m o ld o M e d e iro s d a F o n se c a , Presidente.
CândicU) d e O liv e ira N e to , i.<> Secretário.
R u b e n s F e r r a z , 2." Secretário.
E d m u n d o L in s N e to , 4.® Secretário.
H é sio F e r n a n d e s P in h e iro , Suplente, servindo
de Secretário da sessão.

( l ) Os noTos E s ta tu to s do In c tltu to doe Advogadoe B rasileiros, votaclw


W ieta£ o d e 27 d e o u tu b r o d e il949, tiv e ra m a a u a red a ç4 o fin a l c o n fia d a
à C om issão E special c o o rd e n ad o ra d a s em endas, co m p o sta D rs. Jo sé F er­
r e ir a d e S o uza. P resid en te; H ary b erto d e M ira n d a Jordfio, re la to r, e M anoel
P ereira d e C ordls,

433
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B r a s il

Registo da A-fa e dos Estatutos no C a rtó rio do Registo


Civil das Pessoas Jurídicas

Os Estatutos do Instituto dos Advogados Brasileiros e a


ata da sessão de 9 de dezembro de 1950, em que foi aprovada
a sua redação final, foram protocolados, sob n . 2.659, no
Livro A-1, do Cartório do Registo Civil de Pessoas Jurídicas
desta Capital, em data de 10 de janeiro de 1950, tendo sido
registados, na mesma data, no Livro A_l, sob n . de ordem
1.245. O Extrato dos E statutos foi publicado no “Diário Ofi­
cial” (Seção I) de 3 de janeiro de 1950, pág. 128.

434
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

ANEXOS
AVISO DE 7 DE AGOSTO DE 1843

A p r o v a o s E s ta tu to s d o I n s t i t u t o d o s A d v o g a d o s B ra sile iro s

Sua M ajestade o Im perador, deferindo benignam ente o


que lhe representaram diversos advogados desta Côrte, m anda,
pela Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça, aprovar
os estatutos do Instituto dos Advogados Brasileiros, que os
suplicantes fizeram subir à sua Augusta presença e que com
este baixam, assinados pelo Conselheiro Oficial Maior da
mesma Secretaria d ’Estado; com a cláusula, porém, de que
será tam bém submetido à Imperial aprovação o regulamento
interno de que tratam os referidos E statutos.

Palácio do Rio de Janeiro, em 7 de Agôsto de 1843.

H o n ó r io H e r m e to C a rn e iro L eão.

PORTARIA DE 15 DE MAIO DE 1844

A p r o v a o r e g im e n to in te r n o d o I n s t i tu t o

M anda Sua M ajestade o Imperador, pela Secretaria de


Estado dos Negócios da Justiça, aprovar o Regimento Interno
do In stituto dos Advogados Brasileiros desta Côrte, que a
esta acom panha, contendo seis títulos com cincoenta e seis
^ tig o s escritos em seis meias folhas de papel, que vão ru ­

• ▲I 435
______________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

bricadas pelo Conselheiro Oficial Maior da mesma Secretaria


d'Estado.

Palácio do Rio de Janeiro, em 15 de maio de 1844,

M a n o e l A lv e s B ra n c o -

PORTARIA DE 29 DE MAIO DE 1844

Manda Sua Majestade o Im perador, pela Secretaria de


Estado dos Negócios da Justiça, com unicar ao In stituto do»
Advogados Brasileiros, para seu conhecimento, que fica
aprovado o selo simbólico adotado pelo referido Instituto,
e cujo exemplar se acha apenso ao requerim ento que êie íea
subir à presença do mesmo Augusto Senhor.

Palácio do Rio de Janeiro, em 29 de maio de 1844.

E u zé b io d e Q u e iro z C o u tin h o M a tto s o C â m a ra .

DECRETO N. 393, DE 23 DE NOVEMBRO DE 1844

C o n c e d e a o s m e m b r o s d o I n s t i t u t o d o s A d v o g a d o s B ra sile i­
ro s, n e s ta C ô rte , o u s o d e v e s te ta la r e a fa c u ld a d e d e
te r e m a s s e n to , n o e x e rc íc io d e s e u o fíc io , d e n tr o d o s c a n ­
celo s d o s T rib u n a is .

Querendo distinguir os membros do Instituto dos Advo­


gados Brasileiros, desta Côrte, pelos bons serviços que podem:
prestar a bem da adm inistração da Justiça, hei por bem de­
cretar o seguinte:

A rt. 1.° Que, nas funções públicas de festividade na­


cional, e no exercício de seu ofício, em os auditórios e tribu­
nais, os advogados, membros do referido In stitu to e filiais,.

436 m àM
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

_ 39 —

usem de um a vestim enta talar, sem gam acha, de côr preta,


de borla os doutorados e gorro os bacharéis formados, na
forma do figurino que com esta baixa; sendo, porém, de seda
a vestim enta dos Conselheiros da Corôa e advogados do Con­
selho de Estado, e de lã a dos outros, à exceção dos dias de
cortejo em que todos poderão usar da vestim enta de seda
e os que tiverem título ou cartas de Conselho, de capa por
cima desta.
A rt. 2 ° Que no exercício de seu ofício tenham sempre
uns e outros assento dentro dos cancelos dos T ribunais.

Palácio do Rio de Janeiro, em 23 de novembro de 1844.

Com a rubrica de Sua Majestade o Imperador.

l ía n o e l A n to n io G a lv ã o .

DECRETO N. 7.836, DE 28 DE SETEMBRO DE 1880

Atendendo ao que requereu o Instituto dos Advogados


Brasileiros, devidamente representado, e conformandc^me
por im ediata resolução de 18 deste mês, com o parecer da
Secção de Justiça do Conselho de Estado, hei por bem apro­
var os novos estatutos do mesmo Instituto.
Manoel Pinto de SOuza D antas, Conselheiro de Estado,
Senador do Império, M inistro e Secretário de Estado dos Ne­
gócios da Justiça, assim o tenha entendido e faça executar.

Palácio do Rio de Janeiro, em 28 de setembro de 1880,


59.® da Independência e do Império.

M a n o e l P in to d e S o u z a D a n ta s .

m àM 437
______________ Históría_da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B r a s il

DECRETO N. 4.753-A, DE 28 DE NOVEMBRO


DE 1923

O Presidente da República dos Estados Unidos do BrasU.

Faço saber que o Congresso Nacional decretou e eu san­


ciono a seguinte resolução:

A rt^o único. £ considerado de utUidade pública o Ins­


titu to da Ordém dos Advogados, com sede nesta capital; re­
vogadas a s d isp o siç õ e s em contrário.

Rio de Janeiro, 28 de novembro de 1923, 102.° da Inde^


pendência e 35.® da República.

A r th ur da S il v a B íh n a r d e s .

J o ã o L n i s A lv e s.

DECRETO N. 19.408, DE 18 DE NOVEMBRO DE 1930

O Chefe do Governo Provisório da República dos Esta­


dos Unidos do Brasil decreta:

A rt. 17. Fica creada a Ordem d% Advogados Brasilei­


ros, órgão de disciplina e seleção da classe dos advogadas,
que se regerá pelos estatutos que forem votados pelo Insti­
tuto da Ordem dos Advogados Brasileiros, com a colabora­
ção dos Institutos dos Estados, e aprovados pelo Governo.

G b t ü l io V arg as.

O sio a ld o A r a n h a .

438 9 à »
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e iia R e p ú b lic a

EX PRESIDENTES DA lOAB

#à# 439
______________História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

1. M anoel do Nascimento Machado Portei Ia


Presidente do Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros (1893-1896)

M a n o i i . » o N a s c i m u t o M a c m a -b o 'P < 9 « t e u >


180^1896

440 9àM
Volum e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

2. A ugusto Alvares d e A zevedo


Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros (1896-1900)

A ufeasfo lE A ztvzso
1 8 9 6 /1 9 0 0

•41 441
______________ Historiada_____________________________________
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B r a s il __________________________________________________________________

3. João Evangelista Sayão de Bulhões Carvalho


Presidente d o Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros (1900-1906)

Joio XvAH6ttí6TA 31 "buLHÒlSCmNALHO


r ''1 9 0 6

442 #Á#
V o lu m e 3 O lO A B n a P r im e ir a R e p ú b lic a

4. H e rculano M arcos Ingles de Souza


Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros (1906-1910)

HERCUÜlwO I n^ < c t 6 ouza


I90y»9l0

443
_____________ Histórla_da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

5. Joaquim Xavier da Silveira Junior


Presidente do Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros (1910-1912)

1 /

444 m àM
V o lu m e 3 o lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

6. A lfre d o Pinto V ieira de M e llo


Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros (1912-1914)

A ltrcío 'P into VIeirade Millo


m 2 /m h

445
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

7. Rui Barbosa
Presidente do Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros (1914-1916)

"RiJI

446 •Ál
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

8. Rodrigo O tá v io de Langard Menezes


P re sid e n te do I n s titu to da O rd em dos A dvogados B rasileiros
(1916-1918/ 1926-1928)

“RoDT»iao O t á v io » ! L angato M ih e z £6

•▲i 447
______________ História da_____________________________________
I O rd e m dos A d vo g a d o s d o B r a s i l ___________________________________________________________________________

9. João M artins de Carvalho M ourão


P r e s id e n te d o I n s t i t u to da O rd e m d o s A d v o g a d o s B ra sile iro s
(19 18-1920 / 1922-1924/1931)

J o ã o MARTiHiir C*av»u^ M oíjsZo


(62^1834-I9SÍ

448 eà #
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

10. A lfre d o Bernardes da Silva


Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros (1920-1922)

AlifREBO &&5)1».VA
\920/»928

449
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

11. M ilciades M ario de Sá Freire


Presidente do Instituto d a O rdem dos Advogados Brasileiros (1924-1926)

M t U t A B t f t M aB IO PI b Á F b íIH I
1024

450
V o lu m e 3 O lO A B na P rim e ir a R e p ú b lic a

12. Levi Fernandes C arneiro


Presidente do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros (1928-1930)

451
_____________ História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

452
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

ANTIGAS SEDES DAS


INSTITUIÇÕES NACIONAIS

453
_____________ História da
O rd e m dos A d vo g a d o s d o B ra s il

M o n ro e . P réd io d o se n a d o n a 1* R epública.

454
V o lu m e 3 O lO A B na P r im e ir a R e p ú b lic a

455
História da
O rd e m dos A dvo g ad os d o B ra s il

A venida C e n tra l, h o je A venida Rio B ranco, ap ós a re fo rm a P e reira Passos. V ê-se o T e a tro M u nicip al,
M u se u d e Belas A rtes e o u tro s p ré d io s c o n stru íd o s n o in ício d o século XX.

Silogeu. C o n stru ç ã o d o in ício d o século X X n o a n tig o D is trito Federal. A brigava lO A B / IH G B /


A N M / A B L P réd io foi d e m u lid o . Foto: Eugênio N ovaes.

456 • ▲I
V o lu m e 3 O lO A B na Primeira R e p ú b lic a

Sede d a O A B e lOAB.
F onte: Livro O A B O D e s a fio d a U to p ia .

•ái 457
3«nM M«dê • AS • PeoW F«r (S9) 222.3060
wim.piHoQL6om.br
Cem íümm fomscKtos
Em 1888. em decorrência da reforma estatutária realizada pelos
associados da instituição, mudou-se o nome de lA B - Instituto dos
Advogados Brasileiros - para lO A B - Instituto da Ordem dos
Advogados Brasileiros.
Este terceiro livro, portanto, com o subtítulo de O lO A B NA
PRIMEIRA REPÚBLICA, reporta-se ao período compreendido
entre a Proclamação da República e a Revolução de 30. Nele se
encontra registrada a atuação do lO AB, nos termos da mudança
estatutária imposta em 1888, até a data da criação da Ordem dos
advogados Brasileiros, ou seja, até 18 de novembro de 1930, por
força do art. 17 do decreto 19.408. publicado na referida data. cuja
instituição mais tarde passou a denominar-se, até hoje. ORDEM
DOS ADVOGADOS DO BRASIL.

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