Hospital de S. João Revisto em Maio 2008 (protocolo elaborado por Teresa Carraca, Florbela Gomes, Lucinda Calejo, Pedro Xavier)
Protocolo da Consulta de Infertilidade
INTRODUÇÃO O protocolo da consulta de infertilidade tem como objectivo estruturar o estudo dos casais que recorrem a esta consulta, nomeadamente no que diz respeito à sua abordagem inicial.
MOTIVOS DE EXCLUSÃO PARA TÉCNICAS RMA
● Idade da mulher superior a 42 anos à data prevista para a realização dos tratamentos de RMA. Na prática equivale dizer que, salvo situações em que o casal esteja pronto para ser inscrito na lista de espera para tratamento, só deverá ser iniciado o estudo do casal se a mulher tiver no máximo 41 anos (critérios clínicos na base da exclusão). ● FSH ao 3º dia ≥ 20 UI/mL em pelo menos 2 determinações, uma das quais obrigatoriamente realizada no HSJ (critérios clínicos na base da exclusão). ● Doentes portadores de doenças crónicas que constituam uma contra-indicação para a realização de tratamentos de RMA ou para uma gravidez. Esta decisão deverá ser sempre suportada por parte do médico assistente responsável pela orientação (critérios clínicos na base da exclusão). ● Qualquer pedido por parte do casal que viole os limites impostos pela lei portuguesa que regula a procriação medicamente assistida (critérios legais na base da exclusão).
HISTÓRIA CLÍNICA E EXAME FÍSICO
● Colheita da história clínica do casal, seguindo como base o processo clínico da consulta de infertilidade actualmente em vigor. ● Realização do exame físico à mulher com especial ênfase para a determinação do índice de massa corporal e execução do exame ginecológico.
EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNÓSTICO
Os exames complementares abaixo referidos são considerados importantes na avaliação inicial do casal infértil devendo, por esse motivo, ser solicitados na consulta inicial. Estudo do elemento feminino do casal: ▪ Ecografia ginecológica transvaginal ▪ Histerosalpingografia/Histerosonosalpingografia ▪ Estudo hormonal ao 3º dia: FSH, LH, estradiol, prolactina, T4 livre, TSH, testosterona total, SHBG, 17-OH- progesterona, ∆4-androstenediona, S-DHEA. Nos casos de obesidade, hirsutismo, e suspeita clínica de Síndrome de Cushing deverá ser solicitado o doseamento de cortisol livre na urina de 24 horas) ▪ Doseamento de progesterona ao 21ª dia. ▪ Estudo pré-concepção: grupo sanguíneo e factor Rh, serologia da rubéola, toxoplasmose, CMV, VDRL, anti-HIV 1 e 2, anti-HCV e ag HBs. ▪ Cariótipo dos linfócitos Estudo do elemento masculino do casal: ▪ Espermograma ▪ Estudo pré-concepção: grupo sanguíneo e factor Rh, VDRL, anti-HIV 1 e 2, anti-HCV e ag HBs. ▪ Cariótipo de linfócitos
CONDIÇÕES ESPECIAIS A TER EM CONTA NO PEDIDO DOS EXAMES COMPLEMENTARES
■ Nos casais em que se verifique desde logo uma indicação para a realização de FIV ou ICSI, e desde que a mulher não apresente factores de risco para patologia das trompas uterinas (antecedentes de DIP, cirurgia pélvica, gravidez ectópica, abortamento infectado), poder-se-á prescindir da realização da histerosalpingografia, devendo ser pedida a realização de uma histeroscopia diagnóstica para estudo da cavidade uterina. ■ Outras indicações para a realização de histeroscopia diagnóstica independentemente da realização ou não da histerosalpingografia/histerosonosalpingografia: - antecedentes de esvaziamento uterino instrumental - antecedentes de abortamento infectado com ou sem esvaziamento uterino instrumental - suspeita de patologia intra-cavitária (pólipos, miomas submucosos) - miomas uterinos com componente intersticial que deformem a cavidade - suspeita de malformações do aparelho genital - antecedentes de ciclos de RMA com referência a transferência embrionária difícil (solicitar especificamente a descrição do trajecto do canal cervical) ■ Solicitar o estudo molecular do cromossoma Y sempre que a concentração de espermatozóides seja inferior a 5 milhões por mL. ■ Solicitar o estudo das mutações do gene da fibrose cística ao elemento masculino do casal sempre que haja suspeita de agenesia do canal deferente (oligoospermias graves com diminuição do volume de liquido espermático ou azoospermia obstrutiva). Se positivo o estudo do elemento masculino, deverá ser solicitado o mesmo estudo no elemento feminino. ■ Estudo de trombofilias (MTHFR, protrombina, factor V de Leiden, ATIII, proteína S e C, anticardiolipinas, β2 microglobulina, anticoagulante lúpico) nos casos de história de abortamentos de repetição ou de maus desfechos obstétricos.
MOTIVO DE REFERENCIAÇÃO A CONSULTAS DE APOIO
● Consulta de Urologia/Andrologia a) sempre que haja suspeita de patologia do foro urológico b) presença das seguintes alterações nos parâmetros do espermograma: - concentração < 1 milhão /mL - concentração < 5 milhões/mL, motilidade rápida < 10% e formas normais < 5% - volume < 1 mL - leucócitos > 1.000.000/mL ● Consulta de Nutrição: sempre que IMC > 25 ● Consulta de Psicologia: o envio do casal obedecerá a critérios definidos pelo médico responsável pela consulta ou mediante solicitação do casal. ● Consulta de Endocrinologia: alterações no estudo hormonal que ultrapassem o âmbito da consulta de ginecologia. ● Consulta de Aconselhamento Genético: se qualquer um dos elementos do casal apresentar doenças de transmissão hereditária ou for portador de alterações genéticas susceptíveis de transmissão à descendência. ● Referenciação do casal ao Serviço de Genética da Faculdade de Medicina do Porto com pedido de DGPI para estudo de aneuploidias (FISH) ou DGPI para estudo molecular (especificar a doença que motiva o pedido) no caso do casal apresentar essa indicação inicial.