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A constituição dos saberes matemáticos está intimamente ligada à cultura, pois, assim como o

homem, a matemática não se desenvolveu sozinha e isolada ao longo do tempo. Mostrar as


relações entre a matemática e o desenvolvimento, tanto social quanto econômico, é um
caminho para se obter um pano de fundo que facilite a compreensão dos conhecimentos
matemáticos atuais, bem como sua origem. Segundo Santos (2009, p. 19), “é importante olhar
para o passado para estudar matemática, pois perceber as evoluções das ideias matemáticas
observando somente o estado atual dessa ciência não nos dá toda a dimensão das mudanças”.
Ao conhecer a História da Matemática (HM), o aluno a percebe como uma ciência
desenvolvida pela humanidade, passível de erros e construída a partir de muitas tentativas em
solucionar problemas cotidianos.

Estudar a história da matemática permite que o professor tenha uma visão mais ampla e
contextualizada de sua disciplina interligando a Matemática com outras disciplinas,
respeitando suas especialidades. Nesse aspecto, Machado (1993, apud DCE, 2006) considera
que "o significado curricular de cada disciplina não pode resultar de apreciação isolada de seus
conteúdos, mas sim do modo como se articulam". O autor defende que abordar os conteúdos
disciplinares com base numa organização linear, tanto nas relações interdisciplinares quanto
no interior das diversas disciplinas, poderá levar a práticas docentes que impossibilitam um
ensino significativo.

Compreende-se, assim, que a formação do professor é essencial. Em algumas licenciaturas há


uma ou duas disciplinas de História da Matemática, mas nem todo professor teve
oportunidade de cursar essa disciplina em sua graduação e, muitas vezes, não tem acesso a
livros especializados. No entanto, faz-se necessário que o professor participe de cursos,
leituras, pesquisas e preocupe-se com sua formação continuada.

Sabe-se também que a contextualização é outro princípio pedagógico que rege a articulação
das disciplinas escolares; não deve ser entendida como uma proposta de esvaziamento, como
uma proposta redutora do processo ensino- aprendizagem, circunscrevendo-o ao que está no
redor do aluno, suas experiências e vivências. Um trabalho contextualizado parte do saber dos
alunos para desenvolver o saber formal que venha ampliar seus conhecimentos.

O reconhecimento do fato que a história não é apenas as conquistas tecnológicas das


civilizações e dos grandes homens que proporcionaram esse progresso, mas também a visão
de mundo de cada época ou período nos leva a aprofundar a questão e ressaltar a opinião de
alguns autores sobre o uso da História da Matemática em sala de aula.

Conforme Miguel e Miorin (2004, apud DCE, 2006, p.45) a história deve ser o fio condutor que
direciona as explicações dadas aos porquês da matemática. Também consideram que a
história pode promover o ensino aprendizagem da matemática escolar, por meio da
compreensão e da significação. Assim, propicia ao estudante entender também que o
conhecimento matemático é construído historicamente. De acordo com D’Ambrosio (1996) a
história da matemática no ensino deve ser encarada sobretudo pelo seu valor de motivação
para a Matemática.

Deve-se dar curiosidades, coisas interessantes e que poderão motivar alguns alunos. Os
alunos têm interesses diferentes, com Matemática não é exceção. Ainda segundo o autor,
jamais se deve dar a impressão, por meio de um desfilar de nomes, datas, resultados, casos,
fatos, que se está ensinando a origem de resultados e teorias matemáticas. Sabe-se que as
necessidades e as idéias vão se organizando ao longo da história, em tempos e lugares difíceis
de serem localizados. Numa certa época, as idéias começam a se organizar, a tomar corpo, e a
serem identificadas como isso ou aquilo. A partir daí entram para a "história", mas não
nasceram assim. Também considera que a História da Matemática também ajuda a definir o
que se entende por Matemática. Isso porque é necessário entender e destacar as origens da
Matemática nas culturas da Antigüidade Mediterrânea e seu desenvolvimento na Idade Média,
criando estilo próprio e incorporando-se ao sistema escolar das diversas nações colonizadas a
partir do século XVI. Ensinar a matemática recorrendo à sua história é tratá-la como uma
manifestação cultural. Dessa forma, a história da matemática e sua interpretação podem ser
vistas como imprescindíveis à Educação Matemática.

Com efeito, Struik (1985), assim como D’Ambrosio (1999), considera que a história da
matemática ajuda a entender a herança cultural, aumenta o interesse dos alunos pela matéria,
possibilita a compreensão das tendências em Educação Matemática podendo servir tanto ao
ensino quanto à pesquisa. Nobre (1996) alerta para o fato que muitos conhecimentos
matemáticos são transmitidos como se fossem obtidos de forma natural e apresentados como
desprovidos de erros e dificuldades.

Nesse sentido, o autor destaca a necessidade de o professor observar que a forma acabada na
qual hoje se encontra o conceito matemático esconde modificações sofridas ao longo de sua
história e que isso deve ser levado em conta na elaboração de atividades para aprendizagem,
já que a forma como um assunto é tratado influencia a sua compreensão.

Nesse clima de total mudança dos padrões comuns à aula de matemática, a História da
Matemática é introduzida, sem a pretensão de que o aluno aprenda a História e sim consiga
entender o contexto de cada conteúdo apresentado. É comum o aluno não reconhecer a
importância da disciplina e não ter noção do contexto social que envolve o surgimento de
determinados conteúdos. Assim, não apresenta, interesse por algo muito distante do
cotidiano. Muitos acreditam que a matemática foi toda “inventada” pelos gregos, por gênios e
com exceção da aritmética, não tem muita utilidade pratica. Então é grande a surpresa ao
deparar-se com problemas apresentados por Euclides há tantos séculos atrás. Como dividir um
segmento em partes iguais sem usar números? Como calcular a altura da pirâmide? Podemos
usar essa técnica para calcular qualquer altura?

A tentativa de melhorar a qualidade do ensino na aprendizagem matemática nas escolas de


ensino fundamental e médio de todo país é uma prática constante entre os educadores e a
comunidade escolar. Porém todo o esforço nesse sentido entra em choque com o grande
desinteresse dos alunos pela disciplina, colocada por eles como muito difícil, com pouca ou
nenhuma utilidade prática, algo complexo, só para gênios. É comum nas salas de aula de
Ensino Médio, alunos que não dominam os conceitos básicos de geometria, das operações,
fazendo uso indiscriminado da calculadora para suprir a defasagem do cálculo mental em
operações simples. A apresentação dos conteúdos de forma contextualizada, utilizando a
interdisciplinaridade e o contexto histórico como ferramenta nas aulas de Matemática
mostram-se eficaz, produzindo efeito desmistificador da disciplina, tornando-a mais humana,
mais acessível a todos. Os conteúdos matemáticos apresentados dentro do contexto histórico
promovem os saberes matemáticos como produto da humanidade, construídos ao longo de
toda a tragetória humana, por todos os povos, cada qual contribuindo à sua maneira, com a
sua cultura, gerando diversidade e conhecimento. Para o educador matemático, o
conhecimento da História da Matemática é fator imprescídivel para que exerça maior domínio
sobre os conteúdos a serem trabalhados. Há pouco tempo, raras universidades e faculdades
apresentavam essa disciplina nos cursos de graduação. Hoje a História da Matemática já
integra a grade curriculaar da maioria das Instituições de Ensino Superior, proporcionando
maior capacitação aos futuros profissionais da Educação. Grupos de Estudos, literatura
específica, Cursos de Especialização, Mestrados e Doutorados na área também estão em todo
o país e no exterior, contribuindo para o aperfeiçoamento dos atuais e futuros educadores que
têm por objetivo a democratização dos conhecimentos matemáticos e da Educação
Matemática. Dentre os resultados obtidos, considerados favoráveis, a apresentação da
matemática como uma criação humana, construída pela humanidade e o maior interesse dos
alunos nas aulas de matemática foram muito significativas representadas pela avaliação com
melhores índices de aproveitamento. Para a professora autora do projeto, a oportunidade de
aprofundar os estudos na área de História da Matemática contribuiu para seu crescimento
profissional e para o melhor desempenho no seu trabalho como educadora matemática. A
questão da divisão do estudo em disciplinas, a questão do tempo e a interação com as demais
disciplinas tornaram o trabalho difícil, mas não impossível, quando se trata de um professor
com experiência, que pode controlar tanto o conteúdo previsto para a série trabalhada como
avançar em outros, com algum aprofundamento, inclusive fora da matemática.

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