Você está na página 1de 5

JORNADA ACADÊMICA DE CIÊNCIA, CULTURA E SOCIEDADE

“A Ciência como ferramenta para o desenvolvimento socioeconômico”

EFETIVAÇÃO DAS POLÍTICAS DE INCLUSÃO DE DEFICIENTES


AUDITIVOS/SURDOS NO ENSINO FUNDAMENTAL REGULAR

Área temática: Os Direitos Humanos e as Políticas de Inclusão, Educação e Acessibilidade

Juno Brasil Custódio de Souza1


Marcus Lira²

1. Acadêmico do curso de Direito da Universidade Estadual do Tocantins/UNITINS. E-mail:


junobrasil3@gmail.com.
2. Professor do curso de Direito da Universidade Estadual do Tocantins/UNITINS. E-mail:
marcuslira@fest.edu.br.

Resumo

Este trabalho teve a proposição de investigar acerca das barreiras na efetivação das políticas de
inclusão escolar de deficientes auditivos/surdos e o uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras
no ensino fundamental regular. Diante desse propósito realizou-se este estudo por meio de
leituras e de uma pesquisa de campo, numa escola municipal de ensino fundamental regular,
no extremo-norte do estado do Tocantins. A pesquisa teve uma abordagem qualitativa, com
coleta de dados através da técnica de documentação direta, com pesquisa bibliográfica e de
campo, por meio de entrevistas com questões abertas. Nos estudos realizados nesta pesquisa,
percebe-se uma dicotomização entre a legislação e a educação inclusiva brasileira, quanto aos
alunos surdos, onde se destaca a ausência de práticas da legislação inclusiva vigente na
educação brasileira, o que ocasiona em limites à evolução educacional e interação social dos
alunos surdos.

Palavras-chave: Efetivação. Alunos surdos. Legislação inclusiva.

1 INTRODUÇÃO

Neste ano de 2018, em que se comemora 30 anos da Constituição Federal (1988), onde
se certifica em seu artigo 208, inciso III, que institui como dever do Estado que a educação seja
efetivada mediante recepção educacional especializada aos portadores de deficiência, propensa
no ensino comum, adotando os princípios universais de igualdade, acesso e permanência de
aprender e ensinar. Com dispositivos que estabelecem aos deficientes auditivos/surdos (grau de
surdez, leve a profunda), à educação bilíngue nas escolas e o ensino de Libras, como primeira
língua dos surdos. Mas conforme Arroyo (2013), essa realidade inclusiva brasileira está muito
distante de sua efetivação constitucional, com divergências em muitos municípios, não somente
na gerência do direito à educação, inclusive na legitimação e verificação desse direito do “povo
2

surdo”. Assim, surge a questão: Como se revelam as demandas de políticas de inclusão escolar,
dos deficientes auditivos/surdos no ensino fundamental regular, conforme a Constituição?
Portanto, mais do que celebrar essa data, se faz necessário identificar os limites da
efetivação desses direitos constitucionais. Com esse objetivo realizou-se este trabalho para
conhecer, distinguir e avaliar quais são as políticas públicas implantadas nas práticas educativas
de inclusão dos alunos surdos de uma escola do ensino fundamental regular, situada no
município de Carrasco Bonito-To.

2 METODOLOGIA

O presente trabalho se avigora como uma pesquisa de abordagem qualitativa, realizada


em maio/junho de 2018, com técnicas bibliográficas e pesquisa de campo, enfocando sobre os
limites na efetivação da legislação inclusiva a alunos surdos e o uso de Libras no ensino regular.
A coleta de dados foi através da aplicação de entrevistas com roteiro semiestruturado,
sobre as políticas públicas da prática da educação inclusiva no município de Carrasco Bonito-
TO, com profissionais da educação, que aqui tiveram seus nomes substituídos por letras
seguidas de números para preservar suas identidades, sendo duas professoras, A1 e A2; uma
coordenadora pedagógica das mesmas, “C” e a Secretária de Educação desse município, “D”,
onde foi selecionada uma escola de ensino fundamental regular, pelo critério de estudarem um
aluno deficiente auditivo moderado, 8 anos de idade, B1 e uma aluna surda, 7 anos, B2, ambos
no 4º ano do ensino fundamental regular. Neste trabalho, as entrevistas foram gravadas e
transcritas, com o objetivo de registrar as falas dos participantes de modo autêntico.
A análise e discussão dos dados coletados foram tratados por meio da junção das falas
dos entrevistados, com os referenciais teóricos, com questões contemplando as seguintes
variáveis de interesses: perfil e formação profissional na área educacional inclusiva; práticas
didáticas na educação de surdos e Libras na sala de aula e causas dos limites na educação
inclusiva do município.

3 RESULTADO E ANÁLISE DE DADOS

A professora A1, tem 38 anos e é mãe da aluna surda B2, trabalha há 12 anos no
magistério, com as séries iniciais do ensino fundamental, já atuou com os alunos B1 e B2 até o
1º ano, graduada em pedagogia, mas nunca cursou uma especialização, Libras ou outro curso
na área da Educação Inclusiva. E ressaltou que:
3

Nunca estudei Libras por falta de recursos, o município não nos oferece condições de
dar continuidade nos estudos. Eles fazem uns cursos de formação continuada, mas
apenas com palestras pedagógicas, nada sobre educação inclusiva. Certa vez em 2011,
participei de um curso de capacitação em Libras, em Tocantinópolis, mas foram
apenas palestras informativas sobre Libras”. (informação verbal, entrevista com A1).

A professora A2 tem 39 anos e atua no magistério há 13, também afirmou nunca ter
cursado especialização, nem disciplinas de Libras ou educação inclusiva. E que este é o segundo
ano que leciona com os alunos B1 e B2.
E a coordenadora “C” declarou que tem 42 anos, dos quais 18 atuando como professora
e 2 como coordenadora pedagógica, também é graduada em pedagogia e não tem curso de
especialização, muito menos fez algum curso de educação inclusiva. E relatou que já foi
professora no 2º ano de B1 e B2 e que nunca fez cursos de Libras, por carência do município.
Desta forma, se observa nesta pesquisa uma discrepância às legislações específicas de
Educação Inclusiva para surdos, como elucida o Decreto Nº 5.626/2005, que regulamenta a Lei
Nº 10.436/2002, que dispõe sobre a Libras, e sobre o art. 18 da Lei Nº 10.098/2000, especifico
no Capítulo IV, no caput do artigo 14, onde estabelece que é obrigatório a obtenção das pessoas
surdas “à comunicação, à informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e nos
conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de educação,
desde a educação infantil até à superior”. (BRASIL, 2005).
Acerca das práticas pedagógicas dos professores na educação dos alunos surdos e a
concepção de Libras na sala de aula. Todas as entrevistadas anteriormente, nunca cursaram
Libras, mas são unânimes em afirmar que é uma língua primordial à educação dos surdos. E
acrescentam que utilizam outros métodos pedagógicos, como desenhos, imagens e mímicas,
mas salientam que não avançam no processo ensino/aprendizagem com os alunos surdos, como
ocorre com os ouvintes, pois se sentem despreparadas para lecionarem para esses alunos.
“Eles rabiscam palavras que em sua maioria não conseguimos identificar, São todas as
dificuldades no ensino de surdos, me sinto despreparada, é muito difícil”, (informação verbal,
entrevista com A2). Acerca da inclusão dos alunos surdos na escola regular, a entrevistada
declara ser relevante, porque uns aprendem com os outros, mas sabe que eles não conseguem
se desenvolver nos estudos, pela falta de Libras.
A coordenadora “C” asseverou entender a extrema necessidade de uma maior
preparação dos professores ao ensino inclusivo para atender os alunos portadores de
deficiências, com eficácia, mas alega que o município não tem recursos para esse atendimento.
Conforme o resultado das entrevistas acima com as professoras e a coordenadora
pedagógica desta escola, sobre as práticas educativas inclusivas, percebemos uma abissal
4

dicotomia entre a legislação de Educação Inclusiva e as práticas pedagógicas de inclusão


escolar. Ao que sustenta Mantoam (2003), que as diretrizes propostas por nossas políticas de
educação inclusiva não avançam como deveriam, ocasionando em fugas das realidades
escolares incidindo em exclusão escolar. Ou seja, conforme as afirmações dos profissionais de
educação acima, a Educação Inclusiva, em especial aos surdos, está longe de se tornar uma
realidade. Apreende-se com essas apontações reveladas pelos mesmos, quanto aos alunos
surdos B1 e B2, a evidência de que, por mais que os professores se empenhem em buscar formas
de adaptar o currículo, elas se tornam inviáveis a essa aprendizagem e esses alunos não
conseguem evoluir na leitura e escrita da língua portuguesa, pois não há uma comunicação
eficiente entre eles e os educadores. Sendo que B2, dada a ajuda da mãe, consegue reproduzir
algumas palavras e números que estão escritos em livros, cartazes ou no quadro branco, mas
tudo mecanicamente e não entende nada do que reproduz em português, possuindo maior
percepção quando interpreta as imagens. Enquanto que B1, consegue fazer apenas rabiscos no
caderno e colorir atividades impressas.
Desta forma, para investigar sobre os motivos que limitam essa problemática
comprovada na inclusão escolar desses dois alunos surdos, entrevistamos a Secretária de
Educação (D) desse município, onde ocorre essa ausência das políticas públicas da educação
inclusiva. E acerca da ausência de intérprete de Libras aos alunos com surdez na escola,
argumentou que não somente no município, mas em toda a região do “Bico do Papagaio” não
conta com esse profissional disponível. Assim, questionamos, porque não formam os
professores com curso de Libras, conforme a legislação educacional inclusiva, como por
exemplo, a professora A1, que é mãe de B2. E ela citou que o município não dispõe de recursos
para este fim, e que: “os problemas são tantos, dentre eles, os pais não aceitam as deficiências
dos filhos e há outras prioridades para serem realizadas” (informação verbal, entrevista com
“D”). E quanto aos cursos de formação continuada ilustrou que recebem cursos programados
e ministrados pela equipe pedagógica da Secretaria Estadual de Educação do Tocantins, mas
que não contemplam cursos de Libras para professores, apenas cursos de planejamentos
pedagógicos.
As explicações da Secretária de Educação desse município, constata uma “insipiência”
à legislação brasileira de Educação Inclusiva, instituída na Constituição Federal (1988), onde
no seu artigo 206, inciso I, estabelece que o ensino será provido com base na: “igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola", e no artigo 208, inciso III, institui como
dever do Estado que a educação seja efetivada mediante: “atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”.
5

Onde reforça Mantoan (2003) que, o termo constitucional “preferencialmente” é referente a


‘atendimento educacional especializado’, ou seja, o primordial a atender às necessidades
especiais dos alunos portadores de deficiências, o que propicia numa nova proposta de inclusão
escolar, com instrumentos imprescindíveis à eliminação dos obstáculos que impedem o seu
desenvolvimento educacional, como por exemplo: ensino e intérprete de Libras; ensino de
língua portuguesa para surdos; sistema braile; orientação e mobilidade para pessoas cegas;
ajudas técnicas, incluindo informática; tecnologia assistida; educação física especializada;
evolução e aprofundamento curricular; cursos de Libras e outros.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa nos consentiu uma avaliação que, embora a legislação brasileira
de Educação Inclusiva tenha se avançado em muito, mas em alguns municípios como Carrasco
Bonito-To, a prática desse processo, ainda nem se iniciou, onde apenas matriculam esses
alunos, em contraposição com a legislação inclusiva, ocasionando no mínimo uma segregação
escolar. O que evidencia uma disparidade entre os entes federados quanto às políticas públicas
de educação inclusiva, se manifestando que não se trata de um problema no âmbito de leis e
programas educacionais, mas de uma partilha do poder assimétrico, entre os estados e os
municípios e a União, o que ocasiona numa gestão conflituosa, com antagonismos na
efetivação de políticas e programas educacionais inclusivos, entre municípios pobres e ricos.

REFERÊNCIAS

ARROYO, Miguel G. Reinventar a política - Reinventar o sistema de educação. Educ. Soc.,


Campinas, v. 34, n. 124, p. 653-678, jul.-set. 2013. Disponível em:
<http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em 15 jul. 2018.

BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,


DF: Senado Federal: Secretaria de Editoração e Publicações, 2014. 113 p.

______. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24


de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no
10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial [da) República Federativa do Brasil.
Brasília, DF, 25 abr. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em: 03 mai. 2018.

MANTOAN, Maria Teresa Egler. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer? 1 ª ed.
São Paulo: Moderna, 2003.

Você também pode gostar