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J A - Pétalas de Rosa Ou Santa Terezinha em Breves Considerações PDF
J A - Pétalas de Rosa Ou Santa Terezinha em Breves Considerações PDF
ou
SANTA TEREZINHA
EM BREVES CONSIDERAÇÕES
POR J. A.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
SAO PAULO
Escolas Profissionaesdo Lycen Cora�'ão rle Jesus
Al. Bnrão rle Piracicaba 36-A.
- lf\30-
NIHIL OBSTAT
UIPRIMATUR
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Santa Terêsa cobrindo de rosas o seu crucifixo.
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
meia palavra ao leitor
O fiUTOR
Albores
Colloquios
Terezinha tinha quat ro irm ãosinhos no céo.
Deus os chamára a si, an tes que a maldade do·
mundo lhes roubasse a alvura das almas. Terezi
nha dedicava-lhes grande amor quando eram ainda
desta terra, porque ella sabia amar fortemente aos
seus caros. Quando se alaram para a gloria, ella
não deixou de amai-os. Na simplicidade da sua fé,
entretinha-se com elles, em doces preces. Como
é consoladora a fé que une o céo á terra, que não
permitte solução de continuidade na amizade santa
que nos ligava áquelles que passaram a melhor
vida !
Entretinha-se a nossa santinha com os seus ma
ninhos, que tão cedo a morte arrebatára e sen
tia-se correspondida nos seus santos colloquios.
E elles não podiam, na verdade, desattender,
anjos celestes que j á eram, á irmãsinha, verdadeiro
anjo desta terra ainda.
Ella confessa que suas supplicas aos i rmãosi·
SAJiiTA TEREZI�HA
J)esfolhaqáo rosas
Um quadro cheio da poesia mais pura, na vida
de Terezinha, era sua a.ttitude angelica, nas pro
cissões em que a SS. Eucharistia sabia em triumpho.
Um prazer intimo tomava conta daquélla ai
minha candida óo enthusiasmo dos set.is sete annos
'
quando se approximava o dia da procissão. Cheio
de petalas de rosa, um açafate pendia do pescoço
da garrida creança, que, toda de branco, se enca·
minhava para a egreja. Radiante de celestial con
ttntamento, dava tanta importancia n homenna-em
10 PETALAS DE HOSA
.flnceios
«Eu cá escolho tudo». E' uma phrase da infan
cia de Terezinha.
Foi um dia em que Leonia, uma de suas innas
mais velhas, apresentou ás pequenas uma cesta cheia
S.\!'õTA TI:REZI!'iiL\ II
•••
flllive�
Quando as paixões ,dominam o homem, elle
se avilta ; quando o homem domina suas paixões
elle se ennobrece. Um santo é um homem que go
verna suas paixões ; um barbaro é um homem que
suas paixões dominam .
Nada tão detestavel como a paixão do orgulho;
entretanto a altivez foi caracteristica nos santos.
Elles sabiam humilhar-se e abater-se, mas sabiam
tambcm e rg u er a fronte quando era mistér.
Diante dos dcspotas romanos muita vez o mar
tyr respondia com um desassombro que espantava
aos soberbos imperadores - não devia acobardar-se
o soldado de Christo.
"'**
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SANTA TERF.ZINHA 13
Esfo robusfus
õ primogeqifo
Um celebr·e criminoso - Pranzini tinha sido
agarrado pela justiça humana. Foi condemnado á
pena ultima e não queria arrepender-se dos seus deli
ctos. Terezinha ouviu falar do triste caso que im-
�A:'\TA 'fEHI·:ZJ:\IIA
*••
Cardos
Sempre se ouve falar em agruras da vida,
provações, cruzes, e diz-se que feliz é a creança
porque n ão conhece ainda essa face sombria da
existencia.
E' porem um tanto falsa tal affirmação. A
creança tem s uas cruzes e, dadas as proporções
devidas, não se pode affirmar que ella soffra me
nos do que o homem . Elemento preponderante nas
phases m ais dolorosas da nossa existcncia é a nossa
imaginação. A mesma pena objectiva assume inten
sidades diversissimas nas victimas. A' exaltação da
phantasia, ,especialmente, é que se deve a exacer
bação do soffrimento .
.....
.:fls esfrellas
Qual é a alma de fé que não experimenta en
levos fitando os olhos no céu estrellado ? Parece que
Deus o fez assim tão bello para nos provocar de
sejos de o ver no seio da gloria. Cá de baixo,
uesta terra sordida, nos parece bello si bem que
lhe vejamos apenas a face inferior, o como avesso
tia grandeza e brilho que o constituem.
As almas grandes, talhadas para as fortes emo
,·õcs, ao contado do magestoso e solemne que
I >cus emprestou á natureza, essas almas fortes e
(·apazcs de medir grandezas são as que melhor se
:tbysmam na profundeza de um céo estrellado.
r8 Pl•:TALA� l>E HGSA
•••
. . ..
Conquisfanào terreno
As virtudes que, com tanto viço, germinaram
no coração de Terezinha foram, em bôa parte, o
feliz resultado· de uma admiravel educação da sua
segunda mãe - Paulina, sua i rmã. Todo aquelle
lar abençoado e ra uma escola de virtudes. Paulina
aceitára o pedido que lhe havia feito Terezinha
quando se viu orphã - que lhe fizesse de m ãe.
Empenhou-se então em cultivar a alma privilegiada
da irmãzinha. Não consistiu em carinhos e lou
vaminhas o seu methodo de educação. Com pulso
firme ella quiz dar ao coração de Terezinha a tem
pera necessaria ás luctas da vida.
Haja vi<>ta este particular - Terezinha como
toda creança tinha medo das trevas. Pois sua jo
vem educadora mandava-a de proposito buscar al
gum objecto em aposentos escuros e afastados. Ap
prendeu então Terezinha, desde cedo, a dominar o
mêdo, de modo que, mais tarde, era difficil intimi
dai-a. A noite não tinha mais para ella as sombras
sinistras e os monstros imaginarias que apavoram
a tanta gente, mesmo adulta.
])esvelos
O espírito de caridade madrugou em Terezinha
com o outras adm iraveis tendencias á perfeição.
Era um gosto para ella offerecer uma esmola
aos pobres que encontrava pelo caminho.
Um dia jun!amcnte com seu pae ia ella pas
seando c se encontra com um velho doente que
andava de mulê1as. Compadcocu-sc dellc o co ra
ção de Tcrezinha. Chega-se a ellc c l!t� offerece
uma esmola. O pobre olha pa ra ella e n t erne c ido e
recusa a offerta.
Muito do loros a para Tere:únha foi essa recusa,
pois ella em sua extrema delicadeza, receou te -lo
mortificado. Não é provavel que o velho se tenha
commovido diante da generosidade daquella crean
ça tão tenra e não a quizesse priva r da sua moéda?
Não era mesmo de inspirar piedade esse gesto
de abnegação em uma menina tão pequena e deli
cada ? Terezinha não se esqueceu mais daquelle po
bre. Formulou o proposito de orar por elle no dia
da primeira C o mmunhão , · porque ouvira dizer que
a prece daquelle dia tem pa rticular força de im
petrar. Passaram-se cinco annos e, llQ dia da pri
meira Communhão, Terezinha orou pelo seu po
bre .e persuadiu-se de que fôra attendida a sua
oração.
"A:\TA TEREZl:-;HA 21
j)ietlaàe filial
. Sua tempera
espelho lerso
Nossa conscie ncia é um apparelho de extrema
sensibilidade. Elle registra, com fidelidade, todas as
modificações por que passa nosso �spirito com re-
SANTA TFHLZ I'\11.\ . .,
• ••
7ere;:i'1ha e o mrrr
Já vi m os o cnthusiasmo de Terezinha pelo es
pectaculo na verdade arrebatador de um céo reful
gente de estrellas.
Diante do mar, n ão era menor o encanto que
se a po derava daquella alma já tão gran de , oos
s e u s verdes annos.
Foi grande a impress ão , que a empolgou, quan
do o viu pela p r ime ira vez. G raciosa com o um
anjo, e lla se deteve, quasi extatica, a contemplar a
m assa liquida, turnultuante, que ia esconder seus li
mites alem do horizonte curvo que ella divisava.
Sua phantasia já desenvolvida, sentiu-se enteada,
pois não cuidara que fosse tão solemne o mar, do
qual ouvira fallar tantas vezes. A areia da praia,
as ondas espumantes, o marulhar das aguas, tudo
eram encantos pa ra quem sabia tão bem apanhar
os elementos da magnificencia da nature za . ,
Os beneficios occulfos
Entre os não muitos que reconhecem os be
neficios de Deus e erguem as mãos e m acção de
graças, poucos são os que agradecem os favores
desconhecidos. Favores desconhecidos! E quaes são
elles?
Não é tão raro ver-se o enfermo restabelecido
agradecer a Deus. Mas de quantos não afasta Nossc
Senhor crueis .enfermidades sem receber o minimo
agradecimento?
Perde-se um objecto, depois de muito pro�u
rar, faz-se uma promessa.
O objecto é encontrado e a gratidão se ma
nifesta. Si porém a Providencia afasta a causa que
nos ia destruir esse objecto, não sabemos agradecer
o favor desconhecido.
Pl�TALA8 DE HOf'.�
.J'Il"'a piedosa
. Alguntas v ezes as grandes graças de Deus veem
·
como vehiculadas por grandes golpes um forte
-
j)revisao ?
Com e n tr a n ha do affecto sentia-se Terezinha pre-
za ao s eu o ptimo pae. Elle pa ra ella e ra tudo. Sua
aleg ria s e es pra i a va em mil carícias quando o ve
nerando ancião cheg a va de uma vi a gem, mesmo
de brev·e ausencia. Era uma fe� ta para ella o s im
ples entrete r-se com seu es tremo so pae, quando re
gressava do . collegio onde passava o d i a . E de
tanta veneração era pe netrad o aquelle amor filial
que T�rezinha considerava seu que rid o pae um ho·
mem sem defeitos. Apezar da convivencia nunca
ella acaba de admirar as vi rtu d es paternas.
Um dia, conta ella, deu-se um caso singular.
Achava-se na janella que se abria para o seu
jardim, em Buissonnets, e seu pae estava em Alcn
çon. Pois bem, ella viu s·eu amado proge n itor a tra ·
..
'
!
I
I
-
Santa Tcresinlta no dia da sua pl"i meira
Communhão aos - tl annos �
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SAI\'1:,-1. TEREZINHA 33
eremitas
Maria era o nome de uma prima de Terezi
nha a quem ella dedicava grande amizade. As idéas
religiosas eram as mesmas nas duas angelicas crean
ças. Ambas fervorosas, combinaram entre si um
genero de vida austero á imitação dos anacho
retas. Construiram uma pobr.e cella no quintal da
casa, cultivavam alli uma pequena horta e naquella
solidão, serviapt a Deus pela penitencia e pela con
templação. A vida dos hero i cos solitarios tinha in
flammado aquelles dous coraçõesinhos ·no desejo
de servi r a Deus pelo sacrificio e pela oração.
34 PETALAS DE ROSA
. ...
fi j)ri"7eira Commuqhão
O dia da Primeira Communhão é uma ephe-
1111'1 ide
de ouro na vida de um christão.
Quando houve diligente empenho na p repara
t,;u' da alma para a solemnidade do seu primeiro
t:unmtro com o seu C reador - aqudle dia assignala
11111 marco brilhante na existencia, que, a partir
d'alli, assume um caracter novo .
.....
Viàa eucqarisfico
A alma toda d e candura, gratidão e fé, com
certeza, é profundamente amante da Eucharistia.
Quem con hece a delicadeza dos sentimentos de Te-
PETALAS DE ROSA
fi Confir"lação
O Sacramento da Confirmação o u Chrisma por
poucos é apreciado como o deveria ser. Elle mili
tariza os christãos para a cruzada santa da nossa
fé. O Divino Espirito derrama seus favores sobre
a alma que recebe esse augusto sacramento.
A fé se consolida na alma, a robustece e con
forta e a arma, de ponto em bran co, para a s pu
gnas da salvação.
* * *
•••
Um re"lorso
A cura miraculosa de Terezinha não a im
pressionou tanto como a visão esplendida da SS.
Virgem. Essa apparição innundou de alegria a sua
alma, até então acabrunhada pela enfermidade. Ti
nha ella o proposito de guardar segredo sobre o
que tinha visto. Mas sua irmã Maria tinha obser
vado que qualquer cousa se tinha passado de sobre
natural no momento da cura, aos olhos da irmãsinha.
Seu rosto se tinha transformado, seus olhos
fitos na imagem pareciam ver algo de celestial.
Quando as duas irmãs ficaram a sós, ás perguntas
insistentes de Maria o segredo de Terezinha se
PETALAS DE HOSA
3elo
* * "'
Vicfi"la esconõiiJa
Pelos 1 2 annos de edade, T'e rezinha era uma
alma sensibilíssima. Ella mesma diz que derramava
lagrimas com extrema facilidade. A's vezes depois
de ter chorado por causa insignificante, chorava no
vamente lembrando-se de que tinha derramado la
grimas á tôa. Isto nos revela a delicadeza dessa
alma e sua propensão para soffrer. Um coração
assim impressionavcl padeoe pelas provações pro
prias e alheias ; padece pelas recordações dolorosas
do passado .e pelas previsões afflictivas do fu
turo. Ora, as penas do present·e já s ão numerosas ;
por que juntar-lhe tantas outras ? Mas s i o soffri
mento é precioso, porque •estancar as duas fontes
do passado e do futuro ?
Terezinha estava na via da cruz e sabia tirar
proveito das amarguras para as suas ascenções.
Mais tarde sua natureza adquiriu uma resisten
cia formidavel e extraordinaria capacidade de soffrer.
As pequenas impressões não terão mais força
de a abalar. Saberá passar por sobre provações
communs sem se abater, e assim se tornará capaz
de fortes afflicções.
Pouco e pouco, Deus vae preparando essa vi
ctima que na sua simplicidade supportará um gráu
heroico de sacrifício - sacrifício coberto de flores
e sorrisos, mas perfeitamente real.
Grande parte desse holocausto foge totalmente
á observação - é todo intimo e sem manifestação
alguma exterior. Nem ha necessidade de que a dor
S A I" T A TEREZI'S'HA 45
fiqceios apostolicos
Como é bello o apostolado !
As almas-apostolos como s ão grandes ! Não
querem o céo para si unicamente : querem-no para
outros tambem, para muitos, para todos. Cultivam
a virtude no proprio coração, e, com egual empenho,
tentam cultivai-a no terreno alheio. Amam a Deus
e querem vel-o amado tambem dos outros. A ca
ridade faz dcsapparecer o limite individual : o in
teresse geral, o bem das almas, o amor de Deus
é a preoccupação dessas grandes almas .
• • •
Um passo áijficil
Terezinha de 14 para 15 annos já era uma alma
forte, varonil. Seus desejos de sacrifício, sua abne
gação occulta e constante deram-lhe uma tempera
-
robusta.
O mundo n ão devia ser para ella. Sua vontade
andava lá pelas alturas em anocios de perfeição.
Esperava apenas o momento em que se abrissem
para ella as portas do claustro. Uma lucta toda in·
tima, mas renhida, dev·eria, porém, preceder o seu
ingresso na vida religiosa. Duas de suas irmãs mais
velhas já se tinham consagrado a Deus ; mas o
pensamento de dever separar-se de Celina, a irmã
que lhe restava e a quem amava ternamente, lhe
era sobremodo doloroso. Como porém esta irmã
de modo algum se oppunha aos s·eus des·ejos, a
barreira se transporia sem maior demora. O que
se afigurava arduo em extremo a T.erezinha era
·
falar ao pae do seu ideal.
-
-1 /
· -- - - ··-
Um pae heroico
já conhecemos de que tempera era a aima
christã do Snr. Martin. Sua dilecta filha Terezinha,
muitas vezes a elle se refere com a veneração com
que se falia de um santo. Quando ella o surprehen
deu com o pedido de entrar no convento em tão
tenra edade, o ancião que a queria tanto, qu(e
a considerava seu lenitivo na 'lida, que a chamava
sua «pequena rainha» - sentiu-se sacudido por uma
commoção profunda. As lagrimas àeslizaram a fio
pela brancura das s uas barbas, e a voz se lhe de:
teve na garganta.
Depois com a delicadeza de consciencia de quem
teme contrariar os planos de Deus, ob}ectou-lhe
apenas que era m uito creança ; nada porém lhe
disse que pudess,e prejudicar-lhe a vocação. De
pois que o venerando pae e a fi lha santa paga ram
PETALAS DE ROSA
Sy"lbolis"los
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SAJS"TA TEREZI:\HA 49
fi vo3 àe �eus
A vocação é um chamamento de Deus. Algumas
vezes .esse chamamento urge tão fortemente que
a alma por elle favorecida sente viva dôr no de,
morar um só momento em attender á voz do Se
nhor. E essa voz se faz ouvir no intimo da conscien·
cia. faz-se uuvir em altos brados, insistente, ine·
quivoca, a despeito do ruido atordoador que por
vezes se levanta em derredor da alma .
• • •
T(.ejlexos
Muitas vezes o tempo sombrio ou risonho se
reflecte em nosso temperamento. Nem é para ex
tranhar que a atmosphera e�erça sua influencia phy
sica em nosso systema nervoso. Tampouco nos admi
ramos de que varie a nossa phantasia quando o
céo carregado de nuvens densas passa a sorrir-nos
com a limpidez de sua face tão bella.
Que se dê o inverso é que se não concebe.
A tristeza de nossa alma não póde fazer chorar a
natureza ; nem as nossas alegrias intimas podt•m
tornar o céo sereno e azul.
• • •
• • •
€m .!Jageuz
Terezinha foi apresentada ao Diocesano que
fez questão de que ella se sentasse em uma SQ.o
lemne poltrona onde se sentiu muito confusa ; mas
obedeceu.
Seu venerando pae que, suppunha ella, se en
carregaria de expôr ao Bispo o fim daquella visita,
deu-lhe a palavra a ella que já se sentia tão emba
raçada. Mas, num ,esforço supremo, se desvinci
lha do seu constrangimento e expõe quanto de
sejava, fundamentando suas razões.
.'\4 P ET A LA S ])]<; I:Of'A
E o dialogo proseguiu.
Emquanto Tcrczinha pugnava pelas suas aspi
rações de consagrar-se a Deus, diante do Exmo.
Bispo de Bayeux, o sr. Martin a ouvia, commovido
pelo ardor com que a filha falava. Afinal ell e
intervém para advogar o i nteresse da sua filha
contra os proprios interesses.
Elle a amava com extremos e faria o maior
dos sacrificios quando a entregasse a Deus ; mas vi
sando apenas a felicidade della que sabia não ter
nascido para este mundo sordido - n ão d uvidou
auxiliai-a.
Admirou-se o Bispo de tanta m agnanimidaàe
paterna.
O resultado final foi prometter o Bispo enten
der-se - com o Superior .do Carmello para chegarem
a uma decisão. Para Terezinha foi cruel esse final,
p9 is ella já sabia que o · superior do Carmello não
lhe tinha sido favoravel. Não se pôde conter. Ape
zar da recommendação feita pelo Vigario Geral de
55
----
fimou muito
A medida do amor é amar sem medida - foi
escripto.
Pelos quinze annos de edade, já Terezinha não
queria outra medida para seu amor a Deus.
Quanto o amava ! O coração é um recipiente
de amor. Quando os entulhos terrenos, que são
todas as cousas transitarias, o obstruem, é claro,
o amor de Deus não tem alli entrada. felizes os
que s abem alijar toda a carga inutil dos bens ter
renos ! Felizes os que, como Terezinha, dão largas
ao amor purissimo de Deus ! Sabemos que muitas
vezes ella se sentia enlevada pelo Summo Bem que
se lhe revelava mais e mais. Transportes de amor
indescriptiveis, abriam aos seus olhos um paraiso
encantador entre as provações que se iam m ulti
plicando em seu caminho.
A que altura já pairava então essa candida
alma póde calcular-se por esta expressão que lhe
cahiu da penna : «. de boa mente eu me deixaria
. .
O Justo de Jfa�arefh
Os grandes devotos da Virgem Santíssima sen
tem-se bem de pressa toma d os de grande devoção
para com o grande Santo que lhe foi o esposo.
Justifica-se perfeitamente esse facto. Seria até illo
gico si não se desse. A Providencia uniu admiravel
mente as duas existencias de Maria e José. As ale
grias e os sacrifícios do abençoado lar eram divi
didos entre cllcs. A commu,nhão de interesses, de
ideas e sentimentos fazia com que vivessem ambos
a mesma vida.
, • • •
fipôs a Com"luqhão
Para as almas ricas de fé não ha momentos
mais preciosos, na vida, do que os subsequentes á
Communhik'. A presença de J esus Christo na alma
que recebeu a communhão dura po uco tempo, mas
o valor desse tempo n ão pode ser calculado. Todas
as riquezas imaginarias estão ao alcance de uma
pessoa que tem comsigo o Summo Bem. Si n ão
fosse a palavra do proprio Deus i nfallivel a affir
mar que elle se dá á alma na Communhão, seria
uma temeridade crer em semelhante possibilidade .
.. ... ..
j)ec/icação filial
E' u m a nota muito sympathica na vida de S.
T erezinha o extremoso carinho que ella consagrava
a seu pae, aliás mui !Derecedor dos affectos de·
sua querida filha. Durante a viagem que fizeram a
Roma, em devota romaria, manifesta-se mais de
uma vez essa dedicação filial. Estando em Paris,
antes de tomar o comboio, o sr. Martin levou as
filhas á basilica do Coração de J esus de Montmartre
e ahi todas se consagraram ao Divino Coração.
O comboio partiu. Tratou-se então de dar o
nome de um santo a cada carro. A's vezes e ra esco
lhido o do orago da parochia cujo parocho ia no
carro. Para o carro em que ia Terezinha o director
da peregrinação escolheu o nome de São Martinho,
naturalmente para homenagear ao optimo catholico
sr. Martin. Terezinha muito mais tarde recorda
va-se com gratidão dessa deferencia para com o seu
excellente pae, pois, talvez mais do que elle, elht
propria se sentiu penhorada pela homcnag-t'lll.
Relembrando as particula riuades dl�ssn l l l l' 'l l l l a
6o
ê171 peregrinação
Em companhia de uma i rm ã e do pae, partiu
Terezinha para Roma. Ao chegar em Pariz, quiz
o sr. Martin mostrar ás filhas a grande capital ; quiz
que ellas conheoess·em as obras maravHhosas da
arte e da s ciencia de que a cidade Luz possue gra nde
variedade. Aos quinze annos a phantasia é . forte
e as suggestões do bello são profundamente vivas.
Mas a nossa santinha já exercia grande domínio
sobre si e não pe rdia de vista o ideal da sua vida.
De tudo quanto viu uma unica impressão lhe ficou
a da visita que fc1. a N. Senhora das Victorias.
Cumpre recordar que a imagem de N. Senhora das
Victorias tinha encantos especiaes para Terezinha.
Era a imagem do seu qua rto, a imagem que ella
viu sorrir quando lhe restituiu a saude perdida. Vêl-a
61
.. .. ..
.. .. .
�o ma
Roma é um nome magico para os filhos da
Egreja. Residencia do Representante de Jesus Chris
to, capital do mundo christão - Roma é uma sug
gestão poderosa ! A Historia Ecclesiastica deve-lhe
os capitulas mais interessantes c, em particular, o
Martyrologio christão, recordando as dez tremen
das perseguições, vinculou os fastos mais gloriosos
da Egreja á cidade dos Cesares .
• • •
Jfo Vaticano
Governava gloriosamente a Egreja de Jesus
Christo o Santo Padre Leão X I I I quando nossa
Santinha visitou o Vaticano. A espectativa da vi
sita ao Summo Pontífice fazia Terezinha estreme
cer. Ella não desejava apenas ver o Papà : queria
falar-lhe, pedir-lhe uma grande graça. Ora, ella
bem sabia que, falar ao Summo Pontífice, em au
diencia publica, diante da corte pontifícia, óos visi
tantes todos, era para intimidar a qualquer alma
mesmo pouco ou quasi nada tímida .
• • •
firrôjo
Achavam-se os peregrinos francezes em vasta
sala do Vaticano, na presença do Summo Ponti
fice Leão XI I I. Passavam todos pelo throno de
sua santidade. Depois do beija-pé, cada qual se
erguia, beijava a mão do Papa, recebia-lhe a ben
ção e cedia o Jogar a outro. Si algum se detinha
por um instante, um dos guardas pontifícios fa
zia-lhe signal para sahir.
Ninguem podia dirigir palavra alguma a S.
Santidade. Esta prohibição foi renovada, no mo
mento, em voz alta.
• • •
fi immolaç6o
f.'! * •
j)e(/uenas virfuões
De gottas d'agua se constitue o oceano, de
granulas microscopicos se forma a mole colossal
das montanhas. Ha tambem virtudes que nos assom
bram pela sua magnitude e se constituíram pela
multiplicação de pequeninos actos virtuosos á ma
neira de cellulas diminutas ou fibras subtilissimas
na contextura dos gigantes vegetaes.
A montagem desse apparelho de peças deli
cadissimas, algumas quasi imperceptíveis, foi ad
miravelmente comprehendida por Terezinha. P·ersua
dida de que •era uma alma pequenina, incapaz de
grandes causas, deu-se á pratica dos pequenos actos
de virtude. E como nossa vida é uma serie de acções
pequenas e simples, no exercido das pequenas vir
tudes, praticamente, é que se prova a verdadeira
santidade.
Falando da vida mortificada, que levava, em
preparação á sua consagração a Deus, Terezinha
m anifesta essa admiravel intuição da perfeição chris
tã, tão mal comprehendida pelos admiradores das
virtudes de apparencia, da santidade chimerica, dos
projectos heroicos, mas que não passam disso.
Eil-a como se exprime : «vida mortificada, mas
não entendo fallar com isso em penitencias de san
tos ; pois longe de me parecer com as almas de escol,
que desde a infancia praticaram toda sorte de ma
cerações ; toda me empenhava em governar e que
brantar a minha vontade, em reprimir uma palavra
de replica, ·em prestar servicinhos aos que con-
PETALAS DE ROSA
"' * *
O Coliseu
Entre as ruínas de Roma, o Coliseu desperta
interesse particular aos que vão estudar o passado
mais com olhos de fé do que de sciencia. Desperta
o famoso amphitheatro a recordação dos combates
que a Egreja travou corpo a corpo - si é licitio
expressar-me assim - com o paganismo. E cada
martyr que tombava naquclla a rena, era um trium
pho mais para a Egreja nascente. Do sangue des
ses bravos, como sementeira espiritual, surgiam le
giões de neophytos que, por sua vez, cobriam de
gloria a novel instituição de Jesus Christo .
• • •
Oufra seme/ha'lça
Santa lgncz era, em muih>s pontos, semelhante
a nossa Santinha, quando esta a visitou em sua
Egreja, em Roma. A suavidade das suas virtudes,
na flor dos annos, a pureza virginal da sua alma
- lembram o perfil doce e candido da alma de
Terezinha. E a nossa Santinha professa-va devoção
mui sincera á illustre martyr dos primeiros se
cuias do Christianismo.
Calculemos quão· grande foi o jubilo de Tere
zinha quando lhe foi dado visitar a Egreja de Sta.
Ignez ! Dessa visita ella desejava levar uma recor
dação para doce renovação dos grandes sentimentos
que lhe innundaram a alma, quando lhe pareceu
estar o mais perto possível da sua santa amiga.
Tentou então conseguir uma reliquia, para of-
---·--------------
S A J'iTA
-----
TE!U�Z l :\ H A 75
------'-
-"
Em .Coreto
Pessôas ha que VIaJam sem perceber grandes
impressões, porque se deixam transportar machi
nalmente, sem noções dos lagares por onde pas
sam. Faltam-lhe, ás vezes, conhecimentos histori
cos, outras vezes fallece-lhes a fé que faz vibrar
a alma ao contacto de um estimulo que não attinge
as faculdades naturaes .
.. . .
-Em )VIilão
€m Jfapoles
O bello horrivel dos vulcões sacode fortemente
a alma dos qut nunca contemplaram a natureza
SA::-.ITA TEREZINHA 79
Em Jissis
Nossa santinha esteve tambem na cidade de
Assis, onde São Francisco e Santa Clara deixaram
exemplos tão bellos de virtudes heroicas. Deu-se
ahi um episodio sem grande irnportancia na vida
de Terezinha, mas que nos deixa ver, mais uma
vez, o caracter infantil dessa alma de tempera aliás
forte e decidida. Visitando o celebre convento dos
filhos do glorioso patriarcha, ella deixou cahir a
fivela do cinto, sem saber onde.
Depois de a procurar debalde� teve de agei
tar, da melhor maneira que pôde, seu cint<> des
provido de fivela. Nisto empregou algum tempo
e quando foi procurar, á porta do convento, o
carro que a devia l,evar em compa nhia de seu
pae el sua irmã, com surpreza verificou não es
tarem mais alli os carros dos romeiros, a não
ser um só. E este unico e ra o do Vigario Geral
de Bayeux.
� .\ :\ T A TEP.EZINIJA Sr
Sanficlaae . ameqa
Deus é o autor do cardo e do li rio ; foi elle.
quem creou o fructo aspero e cheio de travo como
os mais delicados e sabo rosos ; é delle a tempes
tade e a calma das bonanças. Em tudo isso, brilha
egualmente sua pote1ncia. Nas austeridades de Maria
Egypciaca a macerar-se na pfj11itencia de um pa-
82 I'J.:TAI.A:,; l iE l H.• t' .-1.
• • •
SA'."TA TEREZINHA 83
-- - -- - - � - - - - � - ----- ___:_
_____ :__
j(aluraliáade
A naturali dade é um dos encantos da virtude
legitima.
Essa naturalidade emana primeiramente da con
vicção.
Quero dizer : a alma plenamente persuadida
de que serve a Deus, de que Deus a vê - n ão
pode ser artificial no seu procedimento. Não se
embaraça com o reparo dos homens, porque Deus,
no seu espírito, supplanta qualquer consideração
humana.
Outra cousa muito importante desse cunho na
tural nas pessoas virtuosas é o desejo de fazer
passar despercebidas as grandes acções.
Tudo que é natural passa sem chamar a at·
tenção dos homens. Quem deseja attrahir sobre si
86 PETALAI' liE ROSA
• • •
. .. ...
Ventura sobreqafural
• • •
yae e filha
Raiou o dia ardentemente 'desejado por Tere
zinha, o dia 9 de Abril de 1 888 dia da sua en
-
Fecl7a-se a poria
Atraz de Terezinha fechou-se a porta do se
culo ou a porta do santuario. Do seculo - porque
lhe fechou para sempre o caminho das glorias
ephemeras, dos prazeres fugazes, das vaidades que
não lograram empolgar-lhe a alma ; do santuario
- porque lhe abriu os thesouros só conhecidos
das almas acolhidas nos penetraes da solidão reli
giosa. Muralha bemdicta - essa porta collocada
para ella entre o céo e a terra, marcou, ao fe
char-se, o inicio de uma phase de progressos admi
raveis na via espiritual da nossa santinha .
.. . .
Jfo clausfro
Era então postulante a nossa Santinha, no car
melo de Lisieux. - O que quer dizer : prepara
va-se para fazer o seu noviciado.
Nessa epoca, suas superioras puzeram-lhe á pro
va o espírito de humildade, com amiudadas humi
lhações - provas que Tcrezinha superou admira
velmente. Para exemplo, ella mesma nos narra com
encantadora simplicidade algumas dessas pequenas
censuras e reprehensões.
Certa vez, encontra-se com uma das madres
que lhe reprova o trabalho por mal feito ; outra
lhe lança em rosto que nada faz o dia inteiro.
Nada tecm de extraordinario essas pequenas
provas, mas era extraordinario o modo simples,
natural e alegre, com que aquelle coração sensível
e delicadíssimo tudo acceitava, tudo soffria no maior
silencio. Mais tarde ella escreveu que dava mil
graças a Deus por ter sido tratada com energia
e severidade. Ella apreciava a educação forte e
comprehendia os perigos de uma educação de ca
rinhos e doçuras, mui particularmente para as al
mas que querem canalizar para Deus todas as suas
affeições. Assim, Terezinha nós offerece um es
pecimen admiravel desses typos fortes e suaves
- allianças apparentemente contradictorias da man
sidão mais doce com a severidade inflexível. Gra
ças a essa união admiravcl, logrou nossa Santi
nha encobrir seus merecimentos e revestir sua he
roica santidade com as apparencias mais naturaes ...
94 PET A L A S llE l : OSA
Virtuae real
E' interessante ouvir Terezinha a contar seus
actos de virtude quando a obrigavam a isso. Com
infantil simplicidade ella descreve a cções que ap
parentemente não passam de sacrHicios i nsignifi
cantes. Ha nisto uma santa industria da nossa san
tinha. Quem a ouve fallar assim tem, a principio,
a impressão de que realmente eram pequeninas
as suas virtudes. Mas um olhar observador, atra
yez dessas pequenas amostras, pôde claramente di
visar nella um completo domínio sobre si m esma,
uma total lndependencia daquella alma que já se
havia libertado de· todas as cadeias terrenas .
• • •
roriYJaÇão eqergica
Terezinha, com seus quinze annos, e ra a mais
nova do convento -- a caçula. Mas não se cuide
lá por isso que sua formação religiosa no Carmello
fosse toda a poder de caridas. A superiora que
a queria muito e desejava vel-a aproveitada na
vi1iude, não se deixou levar pelo falso amor com
que muitas vezes as mães, á força de mimos, criam
filhos voluntariosos e immortificados.
Cuidadosamente procurava a superiora todo o
ensejo para chamar a attenção da jovem religiosa
para a mais leve omissão ou falta nos serviços
domesticas a seu cargo. E ella docil e humilde re
rec�bia gostosamente esses espinhos que pungiam
fundo, porque em casa tratavam-na como rainha.
E quando se considera que a alma de nossa san
tinha e ra de extrema sensibilidade e se empenha
Ya com todo o esmero para ser exactissima no cum
primento dos seus deveres, bem se pode avaliar
quanto não soffresse a pobre menina com taes re
pri!hensões.
Uma das primeiras cruzes desse geneiO ficou
lhe bem impressa na memoria e muitos al!nos mais
tarde ella a refere ingenuamente :
«. . . uma vez em que eu havia deixado no
claustro uma teia de aranha, disse-me (a superiora)
diante de toda a communidade : «]á se vê que
P ET A LA l< U E ROSA
Jfão arrefece
• • •
fi dor silenciosa
Faze r sacrifício e bôas obras é, sem duvida,
cousa m uito bôa, e não se pôde dizer que seja ra;ro
encontrar pessoas dedicadas a essas santas praticas.
O que realmente é raro e bem raro é encontrar
quem faça tudo isso em silencio - quero dizer :
sem deixar apparecer o bem que faz ou a dor que
soffr.e. Ha, com effeito, em nós, uma tendencia in
nata para. tornar conhecido de outros tu ctp quanto
nos possa grangear louvores. Quem dormiu mal a
noite, na manhã seguinte quer que se saiba disso ;
quem soffreu uma injuria com superioridade de ani
mo, não sabe silenciar sobre seu acto de nobreza. As
sim é que um gesto de grandeza d'alma, muitas v·e
zes, se desdoura, pela fraqueza do autor que não é
capaz de esconder seus meritos. Ha, sem duvida, ca
sos, em que se impõe a necessidade de tornar co
nhecidas as boas obras ; mas mui ias vezes trata-se
de uma vaidade secreta .
• • •
.Ceis opposfas
As leis do espírito são, por vezes, diametral
mente oppos tas :'1 s da materia. Por ahi, o homem
percl'hc m u i claramente que é elle um mixto de
substancia espi ritual e m aterial. Como explicar que
a repugnancia innata ao soffrimento se coaduna com
o desejo de padecer em uma mesma pessoa ? Di r
se-á que é a graça. Corrijamos então assim o
nosso acerto : as leis do espírito illuminado pela
g·raça são, por vezes, diametralmente oppostas ás
da materia.
.. .. ..
"R,apida escalada
j)ous heróes
ficaso ?
N a vida de Terezinha encontramos factos que
diríamos fortuitos, e ella os considerou disposições
divinas em seu favor.
Uma dessas coincidencias puramente naturaes,
na apparencia, deu-se no dia em que ella recebeu
o habito sagrado de Carmellita. A ceremonia es
tava concluída. Terezinha radiante de j ubilo, reves
tida exteriormente de aspero burel e interiormente
de ineffavel consolação, retirava-se da capella para
o interior do convento.
O prelado que h a via presidido á cerimonia
<·ntila o Te Deu m. Ad ve rti u-l he um sacerdote que
se· havia equivocado, pois esse hymno se entoava
a pt'n-. a ccremonia da profissão e não da tomada
1 04 PETALAS DE HOI>.\
fi neve
• • •
Seu programma
Quem lê a vida d e Terezinha, difficilmente per
cebe o perfil rigoroso da heroína christã, sob aquella
simplicidade i nfantil, com que ella se apresenta.
Mas a grandeza dessa alnia se patenteia aos olhos
de um observador o qual estude as aspirações que
ella deixa transparecer aqui e acolá. lndice seguro,
esses anceios bem mostram que não era uma crean·
ça a dona do cora-ção donde elles brotavam ; era
wn coração de tempera robusta, se m temo res i n ·
fàntis , de ambições diffioeis de contentar, ao (.'O D ·
trario do q ue succede com os anoeios pue ri a . Dea·
1 06 PETALAS ij('; HOSA
fi cantora ao Senqor
Conta a ·meiga Terezinha que, em creança, pos
·
suíra alguns passarinhos, entre os quaes, um ca
nario e um pinta-roxo.
O pinta-roxo fôra objecto dos seus desvelos
desde que sahiu do ninho. Creado assim longe dos
paes, não teve opportunidade de apprender com
elles os seus trinados. Mas o canario fazia sempre
ouvir as suas melodias ao pequeno pinta-roxo. Este
se poz a arremedar o eximia càntor, mas . não era
. .
Fi!Jta a171orosa
O Sr. Martin, pae de nossa santinha teve im
mensa consolação quando offereceu a N. Senhor
I OR PFTA L A S DV lWS A
------ - - · - - - -- - - - - - - -- - - -
Ser pobre
j)obre�a pralica
Com a maior ingenuidade, Terezinha illustra
em um singelo facto o que ella dizia de si - isto
é que depois de ter recebido o habito religioso, foi
sempre m ais se despojando de tudo o que é con�
forto e affeição ás commodidades.
Estava ella em sua cella, á noite, e dispunha
s e a trabalhar bastante. Procura o lampeão para
illuminar sua pobre cella e não o encontra.
I IO PETALAt:' DE HO:-iA
})olorosa provação
Nota-se com frequencia na vida dos que se
consagraram a Deus um phenomeno extranho.
O chamamento divino ou vocação religiosa para
muitas dessas pessoas inspirava-lhes um gosto ac
centuado pela vida a que aspiravam ; o enthusiasmo
lhes communicava energias novas. Mas é o que
-
fi profissão
Terezinha fez então seus votos religiosos com
immenso gaudio. O que se passou em sua grande
II2 PETAL.-\S DE ROSA.
. . ..
:J"Iperfurbavel
Já nos referimos á conformidade e calma com
que Terezinha soffria as desolaçõ,es do seu espí
rito pela falta de consolação nos exercidos de pie
dade. Essa conformidade era virtude muito alta
e propria dos santos. Terezinha porém não attri
buia tão bellas disposições do seu espírito á vir-
1 14 PETALAS DE RCSA
fibaqdono
Ha pessoas que se affligem inutilmente em
estudar o futuro, procurando os meios de perfei
ção que julgam indispensaveis para a quella e aquel'
outra phase de vida. Quebram a cabeça em pre
visões de difficuldades e pesquizas de soluções para
as mesmas. Esse porvir architectado pela phan-
SANTA TEUEZINHA 1 15
j)elos sacerdotes
Que alta comprehensão tinha a nossa santinha
do caracter sacerdotal ! Os escolhidos de Deus para
continuadores da obra divina, os sacerdotes, tinham
para os olhos de T,e rezinha cheios de fé, uma au
reola que os tornava inconfundíveis com os outros
homens.
Aliás, os espíritos illuminados pela fé, não po
dem deixar de reconhecer a magestade que Deus
empresta ao homem tão mesquinho para tornai-o
seu representante na terra e dispensador dos seus
thczouros.
. .. ..
}fas a/furas
Muitas vezes, onde a alma debil encontra a
desedificação e se escandalisa, a alma forte se re
tempera e purifica.
A vaidade terrena, o fausto inspirava a Tere
zinha um nobilíssimo sentimento de d esdem pelo
mundo. Não a enfeitiçavam as galas mentirosas,
mas consolidavam sua firmeza no s ummo e unico
Bem.
* * *
Esposa cleáicaáissima
Um dia Terezinha foi chamada ao locutorio
do convento. Era uma sua prima, casada havia pou
co, que lhe foi fazer uma visita.
1 20 PETALAS DE ROSA
* * *
Seu }liesfre
No inicio da vida religiosa, tão nova ainda,
era entretanto já provecta nossa Santinha. Tinha
corrido tanto pela estrada da santidade que já to.
cava o extremo final quando se poderia suppôr que
estivesse ainda no inicio da caminhada que sóe ser
tão longa e penosa. Peroebe-se o estado de grande
adiantamento do seu espirito pelo facto de . já dis
pensar livros e mestres, bastando-lhe seu Jesus
tão só.
Ouçamol-a : «Entendo e por experiencia o s ei :
o reino de Deus está dentro em nós (Lucas 1 7-2 1 ) .
Jesus não tem necessidade de livros nem d e dou
tores para instruir as almas ; elle é o Doutor dos
doutores e ·ensina sem o ruido das palavras. Nun
ca lhe ouvi a voz, e ntretanto tenho a certeza de
que elle está ·em mim . . » Ahi está o segredo do
.
Creaqça espiritual
• • •
fi escripfora
-
fimor e temor
Sempre se ensina que o amor de Deus é mais
effi caz do que o temor, no aperfeiçoamento das
almas. Mas a doutrina é pouco comprehendida. Tal
vez porqtlle as almas vulgares sentem mais o te
mor de Deus do que o amor para com elle. Deus
- punidor dos crimes - faz-se talvez mais sensivei,
ao homem terreno e, por isso muitas vezes os
peccadores s e penitenciam movidos pelo temor. Mas
as almas que sabem amar a Deus e ncontram estí
mulos immensamente mais influentes para se emen
darem no amor a Nosso Senhor.
I 28 PETALAS DE fiOSA
Soli J)eo
Só quer o sobrenafural
Manifestou Terezinha que sentia tres grandes
desejos : 1 .0 - o de poder repmduzir n a tela os
traços e cores, como sua irmã Celina, com arte
singular, sabia fazel-o ; 2.0 _o de fazer versos ;
-
· Saqfo varão
Um encaqfo !
.Ciqhas recfas
fi enfermeira
Não se cuide que a vida de nossa santinha
fosse um constante mar de rosas.
Pelo fim do anno de 1 891 uma provaçã,o do
lorosa visitou o Carmello de Lisieux. A grippe, e in
fórma epidemica e ·em caracter violento atacou as
CarmeJlitas. Terezinha foi tambem a ccommettida do
mal, mas não muito gravemente, de modo que
ficou como enfermeira e prestou abnegados ser
viços. Ella assim descreve aquella quadra dolorosa :
:-; A fliT A T EREZl.KHA
ClarivideTJCia
Tcrl'zinha commentou, com habilidade rara, va
rias textos sagrados. Assim, com uma naturalidade
espantosa, sem ella mesma talvez perceber que es
tava discorrendo magistralmente sobre assumpto .bem
profundo, a nalysava com extrema facilidade. Ella
senti a em si mesma, muitas vezes, a verdade que
seus olhos liam nos livros. Por isso lhe era pa
tente o sentido intimo, para outros muito recon
dito, de certos passos do Evan_gelho, do Cantico
dos Canticos, do Apocalypse, dos salmos, das cartas
de São Paulo, de varias livros do Antigo Testa
mento. Ella cita com grande facilidade todos esses
livros como conhecedora do terreno que era. A
P E T .\ L ... S llfo: B o:-;.\
• • •
filma eucharisfica
E' tão sublime o m ysterio da Eucharistia que
tudo quanto se relaciona com elle, s·e reveste de
grandeza e santidade. Os vasos sagrados, as al
faias, e quanto proximamente se destina ao culto
eucharistico merece-nos veneração e carinho. O pro·
8 A :\ 'I'A TFH E Z ! N J L \ 1 39
fi Sagrada Face
A n ossa Santinha era não só do «Menino Je
sus», mas tambem da «Sagrada Face». Parece ex
tranha a principio a escolha desses dous sobreno mes.
Uma devoção especial pela Sagrada Face de Jesus,
J40 PETA I . A t:' l l E l:OSA .
.. . ...
.f/mar â paz.
Porque razão se tornou tão popular, em tão
breve tempo, nossa santinha ? Pensamos que pa ra
isso concorreram varias factores preordenados pela
Providencia. Muito ha de ter concorrido o caracter
� A :\ T A TEI: EZ l :\ 1 1 !1. 1 43
• • •
Vicli"'a origi'lal
Parece que nada se aprecia tanto em Iittera
tura como a originalidade.
Todos têm pavor (os de bom gosto - enten
de-se) da rotina ; acha-se insupportavel tudo quanto
é figura s ediça. E quando falta a originalidade, dis
farça-se quanto possivel a expressão batida ou a
idéa repisada.
JYliiT/OS ?
A superiora de Terezinha no Convento de Li
sit!ux e ra conhecedora dos caminhos de Deus e
sabia guiar por elles as almas. Convencida estava
portanto, de que na humildade devia ella culti\'ar
a alma de escol que Deus lhe confiára, entregan
do-lhe Terezinha. Apezar de lhe querer muito bem,
humilhava-a constantemente, digo mal : por isso mes
mo que muito bem lhe queria, constantemente a
humilhava.
M as nossa Santinha recebia toda essa provação
dolorosa com tanta submissão, tanta naturalidade
e bom animo que suas irmãs do habito não cui
davam que ella soffresse. Pelo contrario : chegaram
a suppôr que a Superlora a tratava com nímia be
nevolencia ; era ao menos tida em conta de muito
mimada.
Nisto, Terezinha foi sempre habilíssima : em
esconder seus sacrifícios, suas austeras virtucles sob
apparencias enganadoras. Mais tarde, ella agrade
cia, de toda a alma, á Superiora ter sido s evéra
para com ella, não a poupando ás humilhações;.
SA:'\iTA TEREZI:-IHA 1 47
{) jtlesfre iqvisivel
O Evangelho
õs louvores a J)eus
A gloria exterior de Deus resulta de um con
juncto harmonioso de vozes que se desprendem d e
suas cr.eaturas. Algumas dessas vozes exaltam a
justiça divina, outras a misericordia, outras a sa
bectoria, outras a omnipotencia, etc. Desse côro a
hosannar os attributos de Deus devem fazer parte
todos os seres creados. Felizes aq!J.elles que esco
lhem, para exalta r, a bondade divina ! E' a me
lhor parte. Cantar-lhe a justiça é doloroso ; mas
passar a vida a desferir hymnos á misericordia, é
fazer côro com os anjos da Gloria .
• • •
• • •
..f/fê a loucura
A amizade que Terezinha dedicava a seus paes
e irmans, desde que entrou na vida religiosa, tor
nou-se sobremodo elevada. Amava-os sobrenatural
mente, desejando-lhes, de toda a alma, a maior
fellcidade, em Deus. Subia ella, a nossa Santinha,
ás alturas da perfeição e a amizade aos seus ca
ros parecia crescer tambem, espiritualisando-se, mais
e mais.
Depois que seu estremecido pae passou a me
lhor vida e a sua irman Celina deixou o m undo
para viver com ella á sombra do Carmello - na
da mais desta terra desejava a nossa Santinha.
�:ANT.� TEREZI!I:HA
reli� coqvicção
O Sr. Martin, o venerando pae de Terezinha,
teve seus ultimas annos amargurados por cruel en
fermidade que lhe paralysou alguns m embros e
fez soffrer muito a elle e ás filhas. Raramente
podia visitar as que se achavam no convento
de Lisieux. A ultima dessas visitas ficou impressa
dolorosamente no coração de Terezinha, a «peque
na rainha» do incomparavel pae. Quando o santo
velho se despediu de suas filhas n o locutorio do
·
Caminhos de J)eus
Diz o propheta Isaías (3, 1 0) : «Ao justo, fa
zei-lhe saber que será bem succedido». Santa Te
rezinha que commentava com m uita luz as palavras
da Sagrada Escriptura, a1 ravrs desse texto con-
1 54 PETALAS DE ROI"A
•••
fliqaa o abandono
A natureza humana tem horror ao soffrimento
e á m o rte. O instincto de conservação que Deus
plantou no intimo do nosso ser inspira -nos natu-
SANTA 1'EREZINHA I 57
• • •
Gs fenzperanzeqfos diversos
Por mais santa que s eja uma communidade re
ligiosa, nada extranhavel que a . diversidade dos
caracteres constitua forte soffrimento para alguns
membros. Ha indviiduos até que quanto mais fazem
PETALAS DE ROSA
.7unel pavoroso
Sempre Jru171ilde
"' "' *
1 6o PETALAS DE ROSA
j(o iqfimo
Quem visse as disposições felizes com que a
boa Religiosa cumpria seus deveres n o convento,
a maneira affavel de tratar a todos, a paz, a ale..
gria santa que transpirava em todos os seus mo
vimentos, havia de crer que ella desconhecesse as
provações interiores. Escreveu então bellas poesias
em que a fé mais viva a derramar celestial doçura�
revelava uma autora sobrenaturalmente illuminada.
Ora precisament·e nessa ·epoca passava nossa
santinha pela mais rude provação - sua fé, por
um phenomeno não raro na vida dos santos, eclip
sou-se. Ella entretanto continuama a agir como
si farta luz sobrenatural illuminasse ainda seu cami-
163
----- - ---- ---------'
FiiJra aa obeáiencia
Terezinha v i via no mesmo Carmelo com ou
tras irmãs, filhas tambem do abençoado casal Mar
tin. j ulgava-se feliz em poder servir- a Deus ao lado
desses seres que tanto estremecia. Tinham-se ama
do com extremos no lar paterno e os vínculos des
sa affeição fraterna longe de se affrouxarem no
Carmelo tornaram-se mais estreitos. Pois a ternura
natural entre as pessoas que se consagram a Deus,
dizia ella, torna-se «mais pura e mais divina». jul
gava-se feliz co m o o s ol d a d o que tendo outros ir
mãos no mesmo campo de batalha vôa com elles
- i1 conquista da vi ctoria. Comtudo, affirmava, si o
General a mandasse combater longe, não hesitaria
em obedecer, deixando a doce companhia de suas
irmãs de habi to e de sangue. E tão be llas e ra m
PETALA!' DE HOSA
éJ céo
Logo a pô s o appa recimento dos primeiros sym
ptomas da enfermidade que devia ceifar tão mimo
sa flôr do Carmello - era n aturalissimo que o
abatimento se apoderasse da heroica Carmellita.
Nem mesmo physicamentc, porém, se mostrou me
nos animada, logo a pó s a noite do seu p ri meiro
vomito de sangue. Um fervor novo se lhe d es pe r