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Luciano Jacinto
Setembro de 2015
Conteúdo
1 Introdução 1
1 Introdução
É aceite em geral que as vigas resistem ao esforço transverso segundo um mecanismo de treliça,
vulgarmente conhecida como treliça de Morsch—Figura 1. As barras traccionadas estão repre-
sentadas a traço contı́nuo e as barras comprimidas a traço interrompido.
As forças nas barras verticais serão resistidas por estribos e as forças na barras inclinadas
por bielas (ou escoras) de betão (Figura 2).
O modelo de treliça sugere que o EL último de esforço transverso pode ser atingido de dois
modos distintos:
1
Figura 1: Idealização de uma treliça no interior de
uma viga de betão—treliça de Morsch.
O EC2 denota o esforço transverso associado à cedência dos estribos por VRd,s e o esforço
transverso associado ao esmagamento de betão por VRd,max .
Critério de verificação de segurança:
com,
(
VRd,s
VRd = min
VRd,max
2
Mas, por equilı́brio do nó 1, Fb sin θ = Fsw sin α, pelo que,
Seja, Asw /s a área distribuı́da dos estribos, expressa por exemplo em cm2 /m. Considerando
que o comprimento de influência de cada tirante é de z(cot θ + cot α), a área dos estribos nesse
comprimento é de Asw /s z(cot θ + cot α). Assim, o esforço transverso associado à cedência dos
estribos é dado por VRd,s = Fsw sin α = fyd (Asw /s) z(cot θ + cot α) sin α, e portanto
Asw
VRd,s = fyd z(cot θ + cot α) sin α (4)
s
A Tabela 1 mostra os valores de fyd para as duas classes de aço utilizadas em Portugal.
cot θ + cot α
VRd,max = αcw νfcd bw z (5)
1 + cot2 θ
em que fck é a resistência caracterı́stica do betão aos 28 dias, medida em provetes cilı́ndricos,
expressa em MPa.
3
Relativamente ao braço z das forças internas, o EC2 (Cl. 6.2.3(1)) refere que, não existindo
esforço axial, poderá em geral utilizar-se:
z = 0.90 d (7)
Em relação à inclinação das bielas, θ, o EC2 (Cl. 6.2.3(2)) refere que 1 ≤ cot θ ≤ 2.5, que é
equivalente a:
αcw ν fcd bw z
VRd,max = (10)
tan θ + cot θ
Resolução
4
Figura 4: Secção transversal de um elemento
sem armadura especı́fica de esforço transverso.
esforço transverso resistente de cálculo de elementos sem estribos (ou que não tenham a armadura
mı́nima de estribos), representado por VRd,c , é dado por:
0.18 1/3
VRd,c = k (100 ρl fck ) + 0.15 σcp bw d; (11)
γc
onde:
NEd é o esforço normal na secção devido às acções aplicadas ou ao pré-esforço (N Ed > 0
para compressão). Para efeitos de cálculo de NEd a influência das deformações impostas
poderá ser ignorada.
5
Figura 5: Viga de altura variável.
Resolução
r
200
k =1+ = 2.29 → 2;
120
7.9
ρl = = 0.0066 (< 0.02);
100 × 12
0.18
ν= × 2.0 (100 × 0.0066 × 25)1/3 = 0.61 MPa;
1.5
νmin = 0.035 × 23/2 × 251/2 = 0.5 MPa;
Comparando esta última Equação com a Eq. (2), podemos concluir que uma forma de
abordar as vigas de altura variável consiste em corrigir o esforço transverso actuante como
segue:
0
VEd = VEd − Fc sin βc − Fs sin βs , (15)
6
Admitindo que as componentes horizontais das forças nos banzos, Fc cos βc e Fs cos βs , são
ambas iguais a MEd /z (hipótese aceitável se não existir esforço axial), vem:
0 MEd
VEd = VEd − (tan βc + tan βs ) . (17)
z
No caso de apenas um banzo possuir inclinação, a expressão acima simplifica-se, vindo:
0 MEd
VEd = VEd − tan β (18)
z
Resolução
7
Adoptando estribos verticais e bielas a 30o , a área de estribos necessária é de:
Asw 132.2
= = 2.6 cm2 /m;
s (0.90 × 0.75) 43.5 cot 30o
Verificação da segurança ao esmagamento das bielas de betão:
25
ν = 0.60 1 − = 0.54
250
8
Figura 7: Armadura de costura na ligação banzo-alma e esquema de fissuração
caso a armadura seja insuficiente.
9
direcção longitudinal (ver Figura 6.), tem-se:
∆Fd
Fd + vEd ∆x − Fd − ∆Fd = 0 ⇔ vEd = . (19)
∆x
A força de tracção fs obtém-se facilmente por equilı́brio, vindo fs = vEd / cot θ (ver Figura 6).
Assim, a armadura de costura necessária é dada por:
Asf fs vEd
= = . (20)
s fyd fyd cot θ
O problema da determinação das armaduras na ligação banzo-alma resume-se assim à deter-
minação do fluxo vEd .
Relativamente ao comprimento ∆x, o EC2 refere que se poderá considerar, no máximo,
metade da distância entre as secções de momento nulo e momento máximo, o que equivale a
afirmar que se pode calcular a armadura de costura usando o fluxo de corte médio entre as
secções de momento nulo e momento máximo (Figura 9).
É necessário verificar ainda a segurança ao esmagamento das bielas de betão nos banzos, o
que equivale a verificar a seguinte condição:
ν fcd hf
vEd ≤ , (21)
tan θ + cot θ
onde hf é a espessura do banzo. Se esta condição não for satisfeita, aumenta-se a espessura do
banzo (ou então aumenta-se a classe do betão).
Relativamente ao ângulo das bielas nos banzos, o EC2 (Cl. 6.2.4(4)) dá as seguintes in-
dicações:
1. Banzos comprimidos: 26.5◦ ≤ θ ≤ 45◦ ;
2. Banzos traccionados: 38.6◦ ≤ θ ≤ 45◦
De um ponto de vista prático, é possı́vel realizar algumas transformações nas equações acima
e tirar algumas conclusões úteis. Considere-se a secção representada na Figura 10 e admita-se
que a viga é de altura constante. Seja Fc a força no banzo, e admita-se que a linha neutra, em
estado limite último, está no banzo, como acontece na grande maioria das situações. A parcela
desta força que vai para uma das partes do banzo pode ser calculada por:
Fc 0 ∆Fc 0
Fd = b ⇒ ∆Fd = b (22)
b b
Sabemos que em cada secção a força Fc no banzo é dada por Fc = MEd /z (estamos a admitir
que não existe esforço axial). Assim, uma vez que a viga é de altura constante, ∆Fc = ∆MEd /z.
Tem-se pois:
∆Fd ∆Fc b0 ∆MEd b0 VEd b0
vEd = = = = . (23)
∆x ∆x b z ∆x b z b
Aplicando agora a Eq. (20) Tem-se finalmente:
10
Figura 10: Secção T pondo em
evidência a largura da aba, b0 .
M 1 (25)
⇔ Fs = + V (cot θ − cot α)
z 2
Assim, para que a nossa análise seja coerente com o modelo de treliça empregue, a força a
considerar na armadura longitudinal deve ser a que resulta da flexão, M/z, acrescida da que
resulta da contribuição do esforço transverso, ∆F = (1/2) V (cot θ − cot α). A Cl. 6.2.3(7) do
EC2 (p. 102), refere o seguinte:
11
Figura 12: Viga simplesmente apoiada. Diagrama da força Fs na armadura longi-
tudinal.
Considere-se a viga simplesmente apoidada na Figura 12. Observe-se que na secção onde o
momento é máximo, V = 0, pelo que nesta secção não é necessário considerar força adicional
na armadura. Ou seja, o esforço transverso não afecta a área máxima de armadura longitudinal
(que ocorre no meio vão no presente caso), mas apenas a secção onde se pode efectuar a dispensa
da armadura longitudinal.
Em alternativa à Eq. (25), a determinação do acréscimo da força na armadura devido ao
esforço transverso—e consequentemente a determinação das secções a partir das quais se pode
interromper para da armadura longitudinal—, pode ser efectuada recorrendo à chamada regra
da translação (Cl. 9.2.1.3(2), p. 172). Esta regra consiste em provocar uma translação no
diagrama de forças M/z dada por (Figura 12):
1
al = z (cot θ − cot α) (26)
2
A Eq. (25) mostra ainda que em apoios de extremidade (momento nulo), é necessário prever
uma armadura capaz de resistir a uma força dada por:
1
Fs = V (cot θ − cot α) (27)
2
Para mais pormenores, ver Cl. 9.2.1.4, p. 173.
b) Verifique se a dispensa dos 2φ20 pode ou não ser realizada na secção indicada (secção a
1.00 m do apoio). Se não poder, determine a secção onde se pode dispensar os 2φ20.
12
c) Verifique se a armadura no apoio cumpre o disposto na Cl. 9.2.1.4 (p. 173).
Resolução
13
A força actuante na armadura, incluindo a influência do esforço transverso (ou o efeito
das fendas inclinadas), é dada por:
MEd 1 126.0 1
Fs = + (cot θ − cot α) = + 108.0 × cot 30◦ = 308.9 kN;
z 2 0.90 × 0.65 2
Força disponı́vel:
FRd = 43.5 × 2 × 3.14 = 273.2 kN; < 308.9, pelo que a dispensa de armaduras não pode
ser efectuada na secção indicada.
A determinação da secção a partir da qual os 2φ20 podem ser dispensados pode ser feita
analiticamente, recorrendo à Eq. (25) ou recorrendo a uma construção geométrica baseada
na regra da translacção. Se optássemos por recorrer à Eq. (25), bastaria expressar Fs em
função de x e determinar x de forma a que:
M (x) 1
Fs = FRd ⇔ + V (x) (cot θ − cot α) = 273.2
z 2
14
c) De acordo com a referida Cláusula, a armadura no apoio tem de ser pelo menos 25% da
armadura no vão, o que se verifica no presente caso. Além disso, a armadura deve resistir
à força dada por:
15
Figura 13: Localização do primeiro tirante depois do apoio.
distância do apoio, por exemplo z cot θ. Para z = 0.90 d e θ = 30◦ , a distância seria 1.56 d.
Sobre este aspecto a C. 6.2.1(8), p. 96, refere:
16
Figura 15: Diferença entre aplicar uma carga na face supeior ou suspendê-la na
face inferior.
Figura 16: Diferença entre aplicar uma carga na face superior ou suspendê-la na
face inferior.
1. Armadura mı́mima:
√
Asw fck
= 0.08 bw sin α
s min fyk
17
2. Espaçamento longitudinal máximo: sl,max = 0.75 d (1 + cot α)
1. Calcula-se VEd
18
d) Independentemente da escolha de armadura que fez na alı́nea anterior, admita que a
armadura adoptada é de φ6//0.10 – 2R. Determine a distância a partir da secção B a que
essa armadura pode passar para φ6//0.20 – 2R
Resolução
19
c) A área de armadura correspondente a φ6//0.20 – 2R é igaul a 2.8 cm2 /m, que é superior
à armadura mı́nima. A esta armadura corresponde um esforço transverso resistente de:
Asw
VRd,s = fyd z cot θ = 43.5 × 2.8 × 0.495 × cot 30◦ = 104.4 kN;
s
Considerando um sistema de referência com x a começar a partir de B, tem-se:
VEd (x) = 195.8 − 47.25 x;
195.8 − 104.4
VEd (x) = 104.4 ⇔ x= = 1.93 m.
47.25
Portanto a uma distância de 1.93 m da secção B, os estribos podem passar para φ6//0.20
– 2R.
20