CARTA ABERTA EM DEFESA DA VIDA E DO DIREITO À INFÂNCIA E À ADOLESCÊNCIA
Nós, trabalhadoras e trabalhadores da Rede de Atenção Psicossocial Infantojuvenil do
Estado de São Paulo, diante dos retrocessos nas políticas públicas voltadas a esta população, sobretudo no que se refere ao cuidado de crianças e adolescentes em condições de intensa vulnerabilidade, vimos pelo presente documento reafirmar nosso compromisso com o cuidado em liberdade, pautado na garantia dos direitos humanos fundamentais, indisponíveis e inalienáveis de crianças e adolescentes em nosso país. Entendemos a desigualdade social como fator que potencializa os processos de exclusão, criminalização e desfiliação de crianças e adolescentes, e que estes processos estão diretamente ligados ao sofrimento mental apresentado por esta população. Destacamos ainda a triste estatística da violência, sobretudo pautada no racismo, machismo, capacitismo, lgbtfobia, que são estruturais em nossa sociedade. As redes de cuidado de saúde mental abarcam uma parcela importante da população, em condições biopsicossociais agravadas pelas tantas dimensões implicadas e que atravessam o cuidado na infância e adolescência em nosso país. Nos últimos meses temos nos deparado com o avanço do desmonte dos serviços e das políticas públicas que trabalham na perspectiva de garantia de direitos substituindo-os por outros tantas políticas e serviços que são pautados em lógicas segregadoras e manicomiais, de modo a criminalizar a população infantojuvenil mais vulnerada. Diante de tais considerações e da realidade em que se encontram as políticas para esta população, reafirmamos que nosso compromisso está pautado nos direitos humanos, no direito a igualdade que, em essência configura-se como direito à diferença, direito em ser e estar no mundo como se é, rompendo a lógica opressora e excludente do preconceito que provoca a violência e o genocídio de jovens negros e pobres; rompendo, também, com a lógica capacitista que, sob o argumento do cuidado e da tutela retira a possibilidade da vida em liberdade e autônoma de crianças e jovens com deficiência. Por fim, nos colocamos como agentes de transformação que está muito além dos serviços de saúde mental, no entanto, nos atravessa como trabalhadoras e trabalhadores, à medida que nos deparamos cotidianamente com o sofrimento mental produzido pela lógica social sob a qual estamos todas e todos expostos em nosso país.
Nenhum passo atrás, manicômio nunca mais!
Coletivo Estadual de Trabalhadores e Trabalhadoras do Estado de São Paulo