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Resumo
Introdução
A partir dos anos 1970 o espaço urbano passa a ser estratégico para o
desenvolvimento da “nova economia urbana”, pautado nas atividades comerciais e
de serviços, em detrimento das atividades de produção industrial que
predominavam até então. O espaço urbano é deliberadamente transformado em
ferramenta - para a ação econômica - e produto - para o mercado. Iniciativas
públicas e privadas associam-se para transformar o espaço, particularmente das
áreas centrais, anteriormente dinâmicas, em produtos, reincorporando essas
áreas a uma estratégia espacial de desenvolvimento. A cidade transforma-se,
então, numa cidade-empreendimento, como descreve Arantes.
Esse modelo descrito por Arantes “passa a ser reproduzido quase como uma
receita de urbanismo em inúmeras cidades pelo mundo”, considerado por muitos
pesquisadores como “um divisor de águas entre o planejamento urbano e regional
tradicional, concebido pela racionalidade territorial sob o controle do Estado, e o
planejamento estratégico - concepção que toma a cidade aos fragmentos,
comandada pela lógica empresarial neoliberal”. (ARANTES:2000, p. 5I)
1
MARICATO, Ermínia. Planejamento para a Crise no Brasil, Brasil, cidades. Rio: Vozes, 2001.p. 59.
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Para Fernandes,
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Silva, Helena Menna Barreto. De volta à cidade: dos processos de gentrificação às políticas de “revitalização” dos centros
urbanos, (coord) Catherine Bidou-Zachariasen, São Paulo: AnnaBlume, p.13
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Podemos observar esse conflito, ainda que na atual etapa os gestores destaquem
a importância de assegurar os direitos da população de baixa renda que reside na
área do centro histórico. O que se constata, é que as alterações introduzidas pelo
governo estadual não decorreram de mudanças de concepção em relação ao
programa de recuperação do centro histórico de Salvador. Elas foram inseridas
em função de exigências para o acesso aos recursos do Programa Monumenta e
devido às críticas ao esgotamento de um modelo aplicado nas etapas anteriores,
aliado a necessidade de reintroduzir a função residencial visando ao uso
permanente e contínuo da área. Vale ressaltar que a habitação social, inserida na
7ª Etapa do projeto, foi fruto da mobilização dos movimentos sociais que pautaram
de fato suas demandas. Como veremos adiante, o que ocorreu é que o Ministério
Público foi acionado pela população e conseguiu articular um Termo de
Ajustamento de Conduta – TAC.
Mapa 1
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Segundo Fernandes, o texto elaborado pelo Estado “remete à experiência considerada exitosa e exemplar de renovação
urbana realizada em Les Halles, zona central de Paris, que integra uma grande estação de metrô, um shopping center e um
centro cultural do porte do Beaubourg, sugerindo ser esse um bom caminho a ser seguido. Esse documento, segundo
declaração de Waldeck Ornellas, secretário estadual de planejamento na gestão de Antonio Carlos Magalhães – que se
elegeu governador nas eleições de 1990 –, vai ser plenamente apropriado pela nova equipe de governo, bem como vai
guiar a sua ação em várias iniciativas, particularmente no que diz respeito ao trabalho a ser desenvolvido sobre o centro
antigo de Salvador”, FERNANDES, Ana. Grandes projetos urbanos: o que se pode aprender com a experiência brasileira?
Programa de Recuperação do Centro Histórico de Salvador (Bahia, Brasil), 2006, p.13.
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Para Fernandes,
Cabe ressaltar que esse projeto embora tenha sido concebido após a aprovação
da Constituição de 1988, desconsiderou completamente a concepção de proteção
ao patrimônio cultural introduzidos nos artigos 215 e 216, o programa de
recuperação transformou de forma autoritária e excludente o uso dos imóveis.
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Relatório elaborado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia - IPAC, SUB-Gerência de Obras, SUOB
informa que foram recuperados somente 18 imóveis na 6ª etapa, 26/03/2007, p. 4.
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O programa MONUMENTA foi elaborado durante o primeiro mandato do governo Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a
1998, tendo como diretriz a estruturação de um modelo de financiamento cultural e gestão de parcerias que envolvesse os
três níveis de governo e a iniciativa privada.
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CONDER/MONUMENTA-BID, Resumo Executivo do Projeto de Recuperação da 7ª Etapa do CHS, pgs. 30 a 32.
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SAULE JÚNIOR, Nelson; CARDOSO, Patrícia de Menezes, O Direito à Moradia no Brasil - Relatório da Missão Conjunta
da Relatoria Nacional e da ONU 29 de maio a 12 de junho de 2004 – Violações, Práticas positivas e Recomendações ao
Governo Brasileiro, São Paulo: Instituto Pólis, 2005, p.91.
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Considerações finais
Esta que poderia ser apontada como uma experiência de combate ao processo de
gentrificação do centro histórico de Salvador, com a inclusão da população
residente no projeto, colocando em prática a diversidade de uso e social, inserido
programas salvaguarda social - tem se demonstrado completamente distante dos
princípios introduzidos no Estatuto da cidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANTES, Otília “Uma estratégia fatal: a cultura nas novas gestões urbanas” in
ARANTES, Otília, VAINER, Carlos, MARICATO, Ermínia. “A Cidade do
Pensamento Único. Desmanchando Consensos”, Petrópolis, Vozes, 2000.
SMITH, Neil. The New Urban Frontier: gentrification and revanchist city. London,
Routledge, 1996.