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William Rodrigues

Crônicas de Sten Windborn


O iniciado a Paladino de Helm
Um prólogo dos contos e histórias...
Sonhos Sombrios

Seu capuz azul cobria parcialmente o rosto enquanto a capa, presa com fechos
da Ordem ombros, sobre um fundo azul celeste, acompanhava seus movimen-
tos rápidos, precisos e mortais. Portando a Semper Vigilans na sua mão es-
querda e seu escudo de proteção na outra, sentia-se como um só ser: homem,
espada e escudo. Destinado a cumprir suas ordens a qualquer custo, Sten
Windborn já estava cercado por cinco homens armados com espadas, mas
nada o impediria.
Ao mover-se em direção ao primeiro soldado, com apenas um golpe
atravessara o camisão de malha e com isso seu adversário caı́ra prostrado e
morto. Com o seu escudo em punho defendeu o golpe de um soldado que
estava à sua esquerda, e com um golpe preciso perfurou o estômago deste,
caı́ra com os olhos fechados, lamentando os seus pecados. Dois homens já
estavam mortos no chão, o sangue dos não merecedores escorria pela Semper
Vigilans, Sten Windborn estava sereno e calmo, seu rosto não demonstrava
nenhuma expressão.
Com um passo para trás encarou o terceiro soldado que já estava na
sua frente, esperou o momento correto e esquivando perfeitamente do golpe
acertou as costas do homem que urrando de dor pediu uma morte rápida. Os
dois últimos soldados tentavam flanqueá-lo seu oponente, no entanto a habil-
idade de Sten Windborn era muito superior, sua movimentação era perfeita,
afinal e contas era apenas um ser (homem, escudo e arma). Com apenas dois
golpes fatais encerrou o encontro. Ajoelhou-se e fez uma breve prece agrade-

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cendo ao poderoso Helm, por lhe conceder a benção e graça de manter-se


sempre vigilante. Ao levantar, limpou sua espada e se dirigiu ao fundo do
fundo do corredor, encontrou o que procurava, um grande salão, com uma
mesa enorme ao centro repleto de pessoas.
Um grupo de músicos tocava em uma plataforma, e em outra es-
tava uma estátua de bronze, uma figura de rara beleza com o dobro de
tamanho de um homem real. Quando Sten Windborn entrou, viu Ander
Storm cumprimentando o artista. Ninguém notara nada de estranho, era um
nobre, estava trajando seu uniforme de combate, espada na bainha, escudo
sempre em mãos. Mas, na mente de Sten Windborn, tudo mudaria a partir
desde dia. Esperou Ander Storm se afastar do grupo e em seguida Storm
ouviu o desembainhar de uma espada e viu a lâmina contra a sua garganta:
- Adeus, Ander Storm, disse Sten Windborn friamente.
Ander Storm tentou empurrar Sten Windborn para longe e chamar
os guardas, mas Sten Windborn cortara sua garganta. Agora incapaz até
mesmo de gorgolejar, Storm caı́ra de joelhos, as mãos instintivamente agar-
rando o pescoço em uma tentativa inútil de estancar o sangue que jorrava.
Sten Windborn cortou a algibeira que estava no cinto do homem ao abrı́-
la sorriu, finalmente encontrou o que procurava. Mas agora tudo estava em
silêncio. A música tinha sido interrompida quando os convidados começaram
a se virar e a olhar, sem compreender ainda o que havia acontecido.
- Hoje encerro minha vingança! - Mumurrou Sten Windborn.
E Sten Windborn sempre acordava ofegante. Estava sozinho em seu
dormitório como todas as manhãs, ao seu lado havia uma vela já apagada,
papel e tinta. O dia amanhecia como outro qualquer, tinha chovido durante
à noite, lembrou que precisava finalizar a conferência do estoque de grãos que
seu pai havia lhe mandado fazer no dia anterior. Não gostava dessas ativi-
dades, mas como Skari Lackman mais de uma vez lhe alertou a necessidade
de ser prestativo para com o seu pai.
Brandt Night Hammer

- Precisamos reforçar nossas defesas no Forte de Helm. Necessitamos de


homens e armas. Novas ameaças foram vistas por nossos batedores e decidi-
mos que precisamos aumentar a nossa vigı́lia. Erick Whitehawk, o lı́der está
preocupado. Disse um dos cavaleiros da Ordem da Manopla.
Quem falava era Igor Cavalier, um velho amigo de Brandt Night
Hammer (pai de Sten Windborn). Night Hammer era o senhor, um homem
sério, de poucas palavras, era evidente que na sua juventude tinha sido um
homem muito forte, mas a idade tinha lhe alcançado. Já não possuı́a força
do passado e isso começava a lhe preocupar. Sua esposa a Lady Fiske es-
tava sempre ao lado de seu marido e costumava tomar algumas decisões mais
pontuais no lugar dele, o qual mantinha-se mais preocupado com a adminis-
tração geral e necessidade de segurança para sua vila. Sten Windborn, seu
filho, não se interessava pelos assuntos da das terras do pai e isso irritava
Brandt.
- Talvez, você deva se alistar junto à Ordem da Manopla, Sten Wind-
born. Aprender a manusear uma espada, jurar lealdade a Helm. Disse Brandt
Night Hammer com a sua voz serena e um olhar fixo ao Sten Windborn.
Um silêncio tomou conta da sala e não houve resposta verbal de Sten
Windborn, apenas baixou a sua cabeça e manteve-se sem palavras.
- A Ordem da Manopla precisa de homens, nós precisamos de bons
soldados para nossas defesas, você é jovem e capaz, não entendo a sua falta de
interesse. Seria uma honra para nossa famı́lia que você se alistasse à Ordem.

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- Mas, senhor, meu pai. Meu trabalho é aqui, cuidando das nossas
terras.
- Trabalho?! Acho que se não fosse Lackman no seu pé, você não
faria nada.
Um novo silêncio tomou conta do salão, enquanto isso Brandt Night
Hammer voltou a conversar com Igor Cavalier. E o almoço seguiu sem mais
interrupções. Igor Cavalier informou que logo após o almoço precisaria partir
em viagem. O tempo era curto eles não poderiam descansar muito.
Como dito, logo após o almoço, os cinco membros da Ordem da
Manopla partiram em direção Sul.
Ao fim do dia, nas primeiras horas da noite, Brandt Night Hammer
demonstrava, em particular, a sua preocupação para sua esposa Lady Fiske,
a qual escutava-o atentamente. Mas, o que mais Brandt lamentava era a total
falta de interesse de Sten Windborn pelo chamado da Ordem da Manopla.
Como ele iria defender suas terras e as pessoas que deles dependiam? Brandt
sentou-se olhando pela janela e de longe viu sombras de várias criaturas a
pouca distância da vila, levantou-se e percebeu que tudo ficou escuro de
repente.
- Esposa, estamos sob ataque!
Skari Lackman

Skari Lackman era um sacerdote próximo a seus 50 anos e foi destinado a en-
sinar e cuidar de Sten Windborn. Lackman era um homem sábio, conhecido
pela nobreza e também por esconder alguns segredos da Casa Mecha Real,
pelo ao menos era o que o senso comum dizia. Estava ansioso pelo retorno
à corte para a festa anual da colheita. Contudo naquele mesmo dia, Sten
Windborn tinha contado novamente à Lackman o sonho que costumava ter:
o capuz, a espada, a morte e o item na algibeira. Não conseguia esquecer,
era um sonho constante, ele já não sabia se era apenas imaginação dele ou
se era um sonho recorrente. Lackman lhe censurou disse que ele tinha que
esquecer esse sonho e levar a vida normalmente. Mas Lackman sabia que
Sten Windborn não conseguia esquecer.
Antes do almoço Lackman se dirigiu aos celeiros para saber se Sten
Windborn conseguiu finalizar a tarefa de contar o estoque de grãos. Lá
estava Sten Windborn, deitado sobre os fenos dos cavalos. Lackman sem
pensar duas vezes pegou seu cantil de água e despejou sobre Sten Windborn,
o qual espantando derrubou o vinho que estava ao seu lado.
- Que irresponsabilidade é essa! Tenha atitude. Levante-se e termine
logo esta tarefa. Seu pai lhe espera no salão principal para o almoço, temos
visita.
Sten Windborn com raiva finalizou o trabalho e se dirigiu ao salão
principal, afinal de contas Lackman estava ao seu lado monitorando. Algum
tempo depois Lackman retornou aos seus aposentos, sentou-se na escrivan-

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inha abriu sua gaveta e em um fundo falso pegou um pedaço de pergam-


inho em branco e escreveu: O tempo está se esgotando, é preciso tomar
providências para que a ordem prevaleça. Enrolou o pergaminho e colocou no
seu bolso.
Ao se dirigir ao salão principal, Lackman contou cinco membros
da Ordem da Manopla estavam presentes. Contudo apenas um estava em
diligência com o pai de Sten Windborn. Cumprimentou um dos soldados da
Ordem da Manopla e sentou-se na cadeira que era destinado à sua pessoa e
lá permaneceu.
Coitado do Brandt, pensou Lackman, gostaria de ajudá-lo mais, a
sabedoria de Brandt não será suficiente para contonar todos os problemos
que a vila possui. Sten é um inútil, só quer saber de bebedeiras. Quem
irá substituir Brandt quando ele morrer? Era um pensamento cotidiano de
Lackman. Sentia que de alguma forma havia falhado com Brandt e com a
Ordem. Precisava de ajuda, precisava tomar providências o quanto antes.
Sten Windborn

Não ligava muito para o que o seu pai dizia, afinal achava que seu pai estava
muito velho, só tinha histórias e mais histórias para contar. Para seu pai
as leis e costumes eram importantes e necessariamente teriam que ser boas.
Sten não se importava muito com isso. Na verdade, ele queria era que o
Lackman fosse logo embora, para que pudesse ficar mais livre.
Naquela noite bebeu muito e foi direto para seu cômodo, chegou
cambaleando tomou mais um gole de vinho e capotou na cama. Perdeu a
noção do tempo, não soube dizer quanto tempo passou, só a lembrança de
Lackman ao lado de sua cama com um balde de água e gritos:
- ACORDE!!!! ACORDE!!!! ACORDE!!!!
Estava tonto, Lackman aparentemente estava ferido sangrava no
braço esquerdo. Lackman gritava:
- Vamos correr, venha. Estamos sendo atacados. Venha comigo
(gritava Lackman).
Sten continuava tonto. Não conseguia se movimentar direito, as
pernas estavam cambaleantes, mal se apoiava.
- O quê, qqqqquê essssstá acontecendo?
Não obteve resposta, quando saiu da casa, viu que tudo estava
tomado por fogo e várias criaturas horrendas tinham invadido a vila. Es-
tavam destruindo tudo, enxergou homens, mulheres e crianças serem mortas.
Estava muito bêbado para tentar fazer alguma coisa. Os poucos homens que
estavam lutando estavam encurralados e sendo mortos um a um.

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Lackman o puxava para longe da destruição. Em vã uma tentativa


de correr para onde acontecia a batalha acabou lembrando - sua mãe e seu
pai. Era tarde demais. Lackman segurando-o começou a gritar:
- ESTÃO MORTOS, SEU PAI, SUA MÃE, TODOS MORTOS.
Os olhos de Sten encheram-se de lágrimas, era sua culpa, foi o
primeiro pensamento que veio na cabeça.
Enquanto eles tentavam correr para longe de tudo, Sten demorou a
perceber que uma flecha tinha acertado as costas de Lackman. Depois de
algum tempo conseguiram se afastar o suficiente para não serem encontrados.
Sten ainda permanecia tonto, cambaleante e com a enorme sensação de culpa,
tinha falhado como filho, herdeiro e protetor. Como seu pai sempre dizia,
precisamos cuidar daqueles que acreditam em nós. Tinha falhado!
Lackman já estava exausto, tinha perdido muito sangue, não con-
seguia mais seguir em frente. Sentou-se junto às raı́zes de uma árvore e
ofegante disse:
- Sten, vá ao Forte de Helm, procure Javen e, entregue isto. Lackman
retirou um pedaço de papel de seu bolso. No papel tinha um desenho de o
olho de Helm sobre uma manopla de ouro fechada em um punho. A morte
já estava nos olhos de Lackman e com um último suspiro, disse:
- Que Helm lhe acompanhe.
Sten chorou, de alguma forma admirava Lackman, tinha perdido sua
famı́lia e tudo aquilo que possuı́a. Esperou um pouco para tentar recuperar
a lucidez, conseguiu encontrar alguns poucos sobreviventes e menos amigos
ainda. Era evidente o sofrimento e a angústia nos olhares dos aldeões, o olhar
de reprovação, a dor e o desespero. Passaram a noite escondidos na floresta,
ninguém dormiu.
No dia seguinte conseguiram constatar a destruição com seus próprios
olhos, não tinha sobrado nada. Os sobreviventes buscavam seus familiares
para realizarem os rituais fúnebres, o cenário era de dor, sofrimento e de-
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struição. Quando encontrou seus pais, Sten chorou novamente, pediu perdão
e pela primeira vez, tomou às rédeas da situação, cuidou de todo o funeral
e dos demais que ocorrem naquele dia. Ao fim do dia avisou que aqueles
que quiserem ir com ele deveriam se dirigir ao Forte Helm para proteção e
recomeço. Já não era mais o mesmo, algo tinha sido quebrado, Sten sentia o
peso da responsabilidade, algo que nunca tinha lhe passado.
Ao raiar do dia, juntaram o pouco de recursos e mantimentos que
conseguiram reunir e em comitiva partiram para o Forte de Helm, seria uma
viagem tranquila, a estrada era protegida, dois dias e uma noite de viagem
chegariam ao Forte. A viagem decorreu sem maiores problemas, ao fim do
primeiro dia, encontraram um grupo de soldados do Forte os quais lhe con-
cederam proteção até a chegada no Forte de Helm.
O Forte de Helm ainda é um relativo pequeno assentamento: um
punhado de ruas que circundam o mercado central, com paredes robustas
de pedra e madeira por todos os lados. No centro da cidade está a Ala da
Paixão, um amplo mercado com diversas fileiras de barracas a partir de seu
centro, e uma antiga forca que não parece muito em uso nos últimos tempos.
O mercado é assim nomeado devido ao santuário dedicado à Sune, que uma
vez havia em seu limiar. Este santuário tem sido substituı́do por um templo
recentemente construı́do para a Dama Ruiva, chamado de Salão da Paixão1 .

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Costa da Espada (2015, p. 85).
Javen Tarmikos

Ao adentrar o Forte de Helm, Sten foi encaminhado a Javen Tarmikos um


homem alto, portando uma armadura de batalha e uma espada. Em sua
armadura estava esculpido o sı́mbolo de Helm, Javen era um Paladino de
Helm e ao seu lado tinha um estandarte em vermelho com a manopla cerrada
e o olho de Helm. Sten entregou o papel que recebera de Lackman. Tarmikos
molhou o dedo com um lı́quido que estava sobre a mesa e esfregou no papel.
- Acredito que Lackman esteja morto. Afirmou Javen. Sten confir-
mou com a cabeça e disse:
- Fomos atacados à noite. Todos morreram, meu pai, minha mãe,
Lackman e muitas outras famı́lias as quais acreditavam no meu pai...
- Eu sabia! Interrompeu Javen. – Eu avisei a todos que precisávamos
atacar o quanto antes, não podemos esperar que as ameaças se concretizem.
Temos de aniquilar o mal antes que ele apareça. Eu vi o olho de Helm
derramar lágrima. Devemos nos antecipar. A Ordem da Manopla é precavida
demais. Você fez alguma coisa para evitar essa tragédia Sten? Você fez algo?
- Não senhor. Respondeu Sten quase inaudı́vel.
- Então você é o culpado. Javen deu um soco na mesa e apontando
o dedo para Sten, continuou.
– Você deveria ter protegido sua famı́lia, honrado seu nome. Agora
o sangue deles corre em suas mãos. Pela sua fata de ação, falta de iniciativa,
por isso dezenas de inocentes foram mortes, vidas que poderiam ter sido
salvas, se você tivesse agido previamente, com antecedência. Antes que mal

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batesse à sua porta. Você deveria ter protegido os inocentes. O que você irá
fazer? Agora? Neste momento?
- Eu não sei senhor. Quero apenas vingar a morte dos meus pais.
- Não sei se lhe posso fornecer a sua vingança, isso é algo que você
deverá resolver sozinho. Mas, eu preciso de homens corajosos que podem
ser treinados para fazerem parte da Ordem que tem apenas o objetivo de
servir a Helm e destruir o mal, seja ele qual for. Faça o treinamento inicial
e ao final eu decidirei se você poderá carregar o estandarte da Ordem do
Olho Dourado e depois fazer o juramento sagrado. Nosso objetivo segue o
propósito de não ser bastante enfrentar apenas as ameaças que se expõem. Ao
contrário da Ordem da Manopla, nós acreditamos que muitas vidas podem
ser salvas se os sinais da maldade e aqueles imergidos na escuridão sejam
vistos e destruı́dos antes que eles abram os portões para ameaças maiores.
Eu vejo que você tem potencial. Jure lealdade à Ordem do Olho Dourado,
sera devoto de Helm, seja vigilante. Nunca traia a confiança. Seja vigilante.
Esteja de prontidão, espere e guarde cuidadosamente. Seja justo e diligente
na condução de ordens. Proteja os fracos, pobres, feridos e jovens e não os
sacrifiquem pelos outros ou por você mesmo. Antecipe os ataques e esteja
pronto. Aprenda sobre seus inimigos. Cuide para que suas armas possam
cumprir seu dever na hora que forem solicitadas. Planejamento cuidadoso
sempre derrota ações precipitadas. Sempre obedeça as ordens, obedecendo
todas que seguem os ditames de Helm. Demonstre excelência e lealdade pura
no seu papel como guardião e protetor.
Aquele discurso tomou a cabeça de Sten Windborn. Se ele não fosse
tão disciplicente certamente poderia ter feito algo para evitar a tragédia.
Sten estava decidido queria ser tornar um Paladino de Helm. E a partir
deste momento jurou lealdade à Ordem do Olho Dourado.

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