Você está na página 1de 14

Relatório Centro Acadêmico da Economia “Maria

da Conceição Tavares” e Coletivo Viramundo

Dados da pesquisa e posicionamento acerca da necessidade de


transportes fretados para es alunes das periferias da Unicamp.
Sumário

I. Apresentação
A. Por quê ler esse relatório?
B. Qual é o contexto em que se insere a pesquisa?
C. Outro Movimento Estudantil é possível!
D. Quer lutar com a gente? Se inscreva!

II. Metodologia e resultados


A. Sobre o formulário e sua divulgação
B. Dados quantitativos
C. Alguns relatos des alunes

III. Solução e Conclusão: FRETADOS ESTUDANTIS JÁ!


I. Apresentação

A) Por quê ler esse relatório?

A pesquisa de demanda estudantil por fretados que atendam es moradores da periferia


de Campinas que estudam na UNICAMP, obteve no total 557 respostas. A realidade é que
hoje centenas de estudantes demoram mais de 2h por dia em transportes lotados, com medo
por sua segurança, com menos horas de sono e tempo possível de dedicação ao estudo e com
a vivência universitária prejudicada em geral.

Se você é um desses estudantes, esse relatório é para você saber que você não está
sozinhe. Graças à muita luta dos movimentos sociais e às políticas de democratização da
universidade, hoje, a periferia de Campinas ocupa a Universidade Estadual de Campinas.
Saiba que essa pesquisa surgiu de uma moradora que descobriu que podia lutar por meio do
movimento estudantil por seus direitos.

Se você não é um desses estudantes, venha exercer empatia e se somar nessa luta por
direito à educação, permanência, segurança e à multiplicidade da vida.

Saibam que esse coletivo agora está em campanha por FRETADOS ESTUDANTIS
JÁ!

B) Qual é o contexto em que se insere a pesquisa?

Após muita luta do movimento negro e estudantil, as universidades públicas estaduais


paulistas foram as últimas no país a adotarem o sistema de cotas sociais e raciais, além do
vestibular indígena.

A democratização do acesso permite hoje termos uma nova composição do corpo


discente na Universidade de Campinas. Com isso, é natural que surjam novas demandas por
parte des estudantes, sobretudo as reivindicações por permanecer no ambiente universitário.

Tendo em vista o ineficiente transporte público utilizado pelos estudantes periféricos


da Universidade Estadual de Campinas, tanto no que envolve o longo tempo do trajeto -
sujeito à trânsitos diários e a remanejamentos sem aviso prévio -, bem como a má qualidade
dos veículos que ainda circulam pela cidade, os membros do Centro Acadêmico da Economia
“Maria da Conceição Tavares” e do Coletivo Viramundo realizaram uma pesquisa com o
objetivo de coletar dados acerca da rotina dos alunos que dependem do transporte público
para o acesso à universidade. Em seguida, tendo em vista os relatos e as demandas
apresentadas, buscamos estabelecer uma proposta de solução e agora apresentamos tudo isso
para a universidade para que essas informações sejam públicas e que assim possamos avançar
nessa política urgente de permanência estudantil.

C) Outro movimento estudantil é possível!

O Coletivo Viramundo surgiu em 2021 des estudantes periféricos, negras e negros,


LBTQIA+ e indígenas do Instituto de Economia que não se identificavam com o movimento
estudantil universitário. Naquele ano, o CAECO (Centro Acadêmico da Economia da
Unicamp) era majoritariamente composto por homens brancos da elite e que pouco atuavam
concretamente na luta por uma universidade mais popular. Faltava representatividade e
representação real das novas demandas estudantis.

Começamos a mudar o movimento estudantil no agora chamado CAECO Maria da


Conceição Tavares, mas nosso objetivo não é parar por aí. Hoje o Coletivo Viramundo é
composto por estudantes de diferentes institutos e campi da Universidade de Campinas e
queremos levar essa transformação para outras unidades e para toda a universidade.

Mais do que um "discurso radicalizado", acreditamos que a atuação de fato radical é


aquela que abala a estrutura material, ideológica e simbólica da nossa sociedade e, no caso,
da universidade. Logo, essa mudança é necessariamente concreta, prática, não somente por
meio do também importante instrumento que são as palavras de ordem.

Para isso, necessariamente precisamos estar constantemente em processo de escuta e


diálogo com todo o corpo discente: graduandes, pós graduandes, entidades, coletivos e
grupos de estudos. Afinal, quanto mais coletiva for a luta, maior é a chance de conquistar
nossos direitos e também ampliar a consciência política des estudantes.

É nesse sentido que, primeiro, acreditamos que um outro movimento estudantil é


possível: que seja de fato composto pela classe trabalhadora e lute concretamente por uma
universidade pública mais popular. E, segundo, apresentamos esse relatório: após escutar o
máximo de estudantes possível, com suas diferentes realidades e opiniões, de modo a expor a
demanda efetiva por fretados estudantis, convidamos a todes esses estudantes a lutar pelos
seus direitos de forma consciente de que seu problema não é individual e que há sim
possibilidade concreta de mudança.

Se você não vive esse problema, também venha então conhecer a gravidade que é
hoje não haver fretados para atender es estudantes periféricos.

D) Quer lutar com a gente? Se inscreva!

Nas próximas semanas, o Coletivo Viramundo irá promover uma série de reuniões por
meio de um Grupo de Trabalho que organize a luta por fretados (GT dos Fretados Estudantis
Já!).
Se você quiser se somar, é só se inscrever por meio do formulário abaixo:

https://forms.gle/iw9SeVwaj8VFsx8e6

II. Os resultados da pesquisa realizada

A) Sobre o formulário e sua divulgação

O formulário foi realizado por meio do Google Forms, com restrição à respostas
únicas e exclusivamente por meio de um e-mail da UNICAMP. Todas as respostas foram
feitas de forma anônima, contendo exclusivamente o RA de cada estudante.

Buscamos que a pesquisa de demanda não fosse amostral, sim de fato uma pesquisa
populacional. Ou seja, tentamos medir a demanda exata por fretados estudantis, divulgando a
pesquisa no e-mail de todes es estudantes1, além de construir um formulário que fosse curto,
afinal, justamente nosso público alvo, nós estudantes da periferia, que hoje possui pouco
tempo para além de ir para a aula estudar e passar a maior parte do dia se locomovendo para
tal.

B) Dados quantitativos

O formulário foi respondido por 557 estudantes, dos mais diferentes cursos de
graduação e pós graduação e do ProFIS.

1
Fica aqui nosso agradecimento à APG pela parceria na divulgação do formulário.
Dos 557 estudantes, 317 se autodeclararam de cor/raça branco (56,9%), 227 se
autodeclararam de cor/raça preto ou pardo (40,8%), 9 de cor/raça amarelo (1,6%), 5 de
cor/raça (indígena), 2 não quiseram se identificar (0,4%) e 1 se declarou miscigenado (0,2%).

Em relação ao distritos de Campinas, o resultado foi que moram: 138 estudantes na


região Sudoeste (24,8%), 136 na região Norte (24,4%), 101 na região Noroeste (18,1%), 98
na região Sul (17,6%) e 84 na região Leste (15,1%).
473 estudantes (84,9%) que responderam o formulário utilizam o transporte público
para se mover no trajeto moradia-universidade-moradia.

Descrevendo os principais resultados, das 501 pessoas que alegaram não morar em
Barão Geraldo, 271 estudantes (54,1%) demoram em média entre 1h e 1h30min e 159
estudantes (31,7%) demoram mais que 2h no trajeto para a Unicamp.
Disso, nós fizemos alguns recortes com os dados de modo a permitir que
enxerguemos melhor a realidade exposta. Primeiro, analisamos a região daqueles
estudantes que demoram entre 1h e 1h30min.

Em seguida, analisamos as regiões daqueles estudantes que demoram mais de 2h:


Fica evidente que a maioria des estudantes que demoram mais de 2h no trajeto
moram na região Sudoeste (38%) e na região Noroeste (36%), ou seja, no Campo
Grande e no Ouro Verde.

Considerando uma possibilidade das linhas dos fretados estudantis partirem


diretamente do centro - o quão útil isso seria para os estudantes das regiões periféricas da
cidade?

Para a região Noroeste:


Para a região Sudoeste:

Tendo em vista a possibilidade dos fretados saírem diretamente do seu distrito, isso seria útil
para os estudantes que dependem do transporte público?

Para a região Noroeste:


Para a região Sudoeste:

C) Os relatos des estudantes

“Uma vez que a Unicamp tem a intenção de conseguir inserir pessoas da periferia e de
aumentar o número de alunos que tem origem na rede pública de ensino, é indispensável
pensar no translado dessa quantidade crescente de alunos que vivem em regiões afastadas e
que não podem se mudar para Barão Geraldo por vários motivos. Minha irmã passou por
isso há 10 anos e eu hoje vivo o mesmo perrengue de pegar 2h de ônibus, é muito cansativo e
tem que ser resolvido urgentemente.” - Estudante de Ciências Econômicas.

“Tem dias que eu passo mais tempo no ônibus do que em aula, no final do curso vou ter
praticamente a mesma quantidade de horas no ônibus do que a quantidade de horas no
diploma, isso é desanimador, além de ter questões como a qualidade do ensino básico que
nos deixa sempre um passo atrás ainda temos que nos matar no transporte público todos os
dias.” - Estudante de Engenharia de Alimentos.

“Quando eu participei do programa Ciência e Arte nas Férias, a Unicamp disponibilizou o


fretado para os alunos, e eu demorava no máximo 1 hora pra chegar na Unicamp além do
cansaço ser mínimo. Sinto muita falta e acho que faria muita diferença na minha vida.
Parabéns pela iniciativa do CA.” - Estudante de Engenharia Agrícola.

“Meu tio é funcionário da Unicamp, entra as 08h e usufrui do fretado. Ele mora duas ruas
pra cima de casa. Eu tenho que sair de casa 1h mais cedo do que meu tio pra chegar no
mesmo horário que ele. E o fretado passa duas ruas acima de casa. Conheço a história de
um cara que mora no bairro ao lado do meu que desistiu da Unicamp por que não aguentou
a rotina de ter que acordar às 05h pra poder assistir a aula das 08h. Disponibilizar um
fretado aos alunos, mesmo que não passe na casa de cada um, iria nos ajudar muito! É sobre
política de permanência e investimentos na educação!” - Estudante de Estatística.

“Moro na Vila União e muitas vezes utilizo 3 linhas para chegar até a Unicamp, sempre mais
de 2 horas de deslocamento. Os ônibus não cumprem horário e são extremamente
desconfortáveis, causando atrasos frequentemente, apesar de pagarmos uma das passagens
mais caras do país. Muitos estudantes que vêm de fora de Campinas acabam tendo um pouco
mais de conforto no deslocamento, por estarem na Moradia, enquanto quem mora na
periferia da cidade vem de longe e são esquecidos pela política assistencial da Universidade.
O aluguel na região de Barão Geraldo é impraticável, tornando os deslocamentos de
praticamente 5 horas por dia uma tortura obrigatória.” - Doutorando em Educação.

“Um fretado de funcionários do meu bairro para a Unicamp já existe, mas não tenho acesso.
Seria muito bom se tivéssemos acesso a este pois melhoraria minhas possibilidades de vir
para a universidade e voltar para casa a noite. Além disso, um fretado saindo do centro de
Campinas só faria sentido se funcionasse com uma frequência maior que a do 330, pois este
atende bem o trajeto do centro para a Unicamp, não demorando mais do que 40 minutos.” -
Estudante de História.

“O ônibus que pego para vir até a Unicamp é o 724 e seus horários diminuíram durante a
pandemia e não voltaram mais ao normal. Já reclamei para a empresa, mas não deram
previsão de quando os horários normais de ônibus irão retornar. Quando tenho aula até às
18h00 tenho que pegar de dois a três ônibus para chegar em casa, uma vez até peguei
quatro. Isso é muito exaustivo e um fretado com certeza me ajudaria caso a EMTU não volte
com os horários normais.” - Estudante de Dança.

“É realmente complicada a experiência de morar na região do Ouro Verde e estudar na


Unicamp . Os trajetos são longos e demorados . Ônibus sempre cheios , raramente cumprem
os horários. E para finalizar este trágico cenário a linha 337 no horário próximo da entrada
no noturno possui saída de hora em hora do terminal de barão , muitas vezes fazendo com
que o estudante chegue mais de meia hora atrasado nas aulas . Enfim , qualquer medida
adotada visando diminuir estes tempos de trajeto será muito benéfica .” - Estudante de
Pedagogia.

“Parabéns pela iniciativa! A questão do acesso à Cidade Universitária é urgente. Dentre


meus colegas, esse assunto está sempre presente. Respondi ao questionário, mesmo não
morando em Campinas, pois creio que esta pauta seja de interesse de parte considerável da
comunidade universitária - não apenas daqueles que moram nas periferias de Campinas ,
mas também daqueles que moram no entorno da cidade. No meu caso, moro numa cidade
vizinha de Campinas, Indaiatuba. Se fosse de carro, o trajeto levaria 40 min. No entanto,
usando o transporte público, levo, ao menos, 3 horas. A criação de linhas de fretado seja nas
periferias, seja no centro de Campinas ajudaria muito a locomoção, permitindo um melhor
aproveitamento da vida universitária.” - Doutorando em Teoria Literária.

“Por anos vi um fretado da Unicamp para funcionários passar na esquina da minha casa às
7:15h sem poder pegá-lo (pois o uso por alunos não é permitido) para entrar na aula às 8h.
Por que não pensar em aproveitar esse serviço/contrato já existente e os bancos vazios (que
existem em diversas linhas) para atender aos alunos?
Eu iniciava meu percurso às 6h10min (no mais tardar), para chegar no mesmo horário ou,
em grande parte das vezes, atrasada pois os ônibus da linha 330 (Unicamp) estavam tão
lotados que não podiam mais receber passageiros e era necessário esperar o próximo.
Qualquer intercorrência ou alteração de 1min acarretava um atraso de 1h (tempo entre
espera até o próximo carro e depois de fato o deslocamento até a Unicamp). Eu gastava em
média 4h/dia de transporte. Estudando em período integral (no ProFIS) saia de casa 6h e
voltava 20h30min, às vezes 21h!
Hoje, estudando a noite e morando em outro bairro, o acesso é um pouco mais facilitado,
mas ainda assim, levo 1h30min de trajeto para ir ou voltar de ônibus. A noite, retornar de
ônibus é extremamente perigoso, seja por criminalidade seja pelo risco de perder o último
ônibus que sai da Unicamp até o Centro (que parte antes das 23h, ou seja, antes de
acabarem as aulas) e precisar pagar um transporte por aplicativo ou táxi.
A mobilidade urbana em Campinas é horrível, a Unicamp é muito distante do restante da
cidade e todos os problemas que isso acarreta afetam a qualidade de vida do estudante e,
consequentemente, seu desempenho acadêmico. Os fretados para alunos são uma
necessidade urgente e referente a tão falada permanência estudantil. Em breve me formo,
mas gostaria muito que próximos os alunos de escola pública, vindos da periferia da cidade,
tivessem uma melhor experiência do que a minha nesse sentido!” - Estudante de Arquitetura
e Urbanismo.

“Parece bobeira, mas quem pega horas de ônibus até chegar na faculdade sabe o quanto é
cansativo, principalmente quando o ônibus está lotado e você tem que ficar de pé, espremido
e no calor durante todo o trajeto. Eu tenho certeza absoluta que eu me sentiria mil vezes
mais motivada a ir pra faculdade se eu não precisasse levar esse tempo inteiro até chegar lá
e que conseguiria me dedicar mais nos meus estudos, porque atualmente a rotina é muito
cansativa :/” - Estudante de Fonoaudiologia.

III. Solução e Conclusão: FRETADOS ESTUDANTIS JÁ!

Os dados e os relatos des alunes dizem por si só: os fretados estudantis são uma
política urgente de permanência, especialmente para aqueles que residem nos distritos do
Ouro Verde e Campo Grande, que são a maioria daqueles que demoram muitas horas todos
os dias no transporte público. O acesso aos fretados permitiria uma melhora significativa na
rotina e na qualidade de vida daqueles que passam horas no transporte público,
proporcionando uma maior possibilidade de foco nos estudos e aproveitamento de todas as
esferas da vida acadêmica.

Acreditamos que não devemos ser desonestos com es estudantes periféricos e


criar expectativas para além da realidade do que consideramos o horizonte possível. Por
isso, considerando a dificuldade histórica de mobilização em unidade do movimento
estudantil e da falta de escuta do corpo docente, que raramente trata com seriedade as vozes e
demandas estudantis, acreditamos que o primeiro passo será conquistar fretados que
atendam ao menos as regiões do Ouro Verde e do Campo Grande para o início do ano
letivo de 2024. Em seguida, continuaremos atuando e cobrando para que a universidade se
responsabilize também por atender a demanda por fretados em outras regiões. Afinal,
com a popularização da universidade, a tendência é que gradualmente se expanda a cada ano
a quantidade de alunes periféricos.

Além da criação de linhas de fretados estudantis para as duas regiões citadas e da


responsabilização da universidade por analisar e medir a demanda estudantil com os
instrumentos devidos, nos posicionamos sobre a abertura do acesso des estudantes às
linhas de fretados dos funcionários, afinal, hoje muitos deles circulam com capacidade
bem abaixo da lotação.

É importante frisar que a criação dos fretados estudantis e o acesso aos fretados dos
funcionários deve ocorrer com custos inteiramente cobertos pelo orçamento da
universidade e sem cortes de qualquer bolsa auxílio transporte, pois es alunes não estar
amarrados somente aos horários dos fretados e o direito à mobilidade não se restringe
ao trajeto para a universidade.

Portanto, declaramos que nosso coletivo está em campanha por FRETADOS


ESTUDANTIS JÁ! Se você é um estudante que demanda essa política de permanência,
venha lutar com a gente. Se você é um estudante que se solidarizou com a causa, também é
bem vinde. Se você é professor universitário ou do corpo diretivo da universidade, pedimos
que nos escutem e estejam abertos ao diálogo. Se você é de um Centro Acadêmico ou de
qualquer outra entidade estudantil, divulgue nosso relatório e demais postagens nas redes.

Você também pode gostar