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I. Apresentação
A. Por quê ler esse relatório?
B. Qual é o contexto em que se insere a pesquisa?
C. Outro Movimento Estudantil é possível!
D. Quer lutar com a gente? Se inscreva!
Se você é um desses estudantes, esse relatório é para você saber que você não está
sozinhe. Graças à muita luta dos movimentos sociais e às políticas de democratização da
universidade, hoje, a periferia de Campinas ocupa a Universidade Estadual de Campinas.
Saiba que essa pesquisa surgiu de uma moradora que descobriu que podia lutar por meio do
movimento estudantil por seus direitos.
Se você não é um desses estudantes, venha exercer empatia e se somar nessa luta por
direito à educação, permanência, segurança e à multiplicidade da vida.
Saibam que esse coletivo agora está em campanha por FRETADOS ESTUDANTIS
JÁ!
Se você não vive esse problema, também venha então conhecer a gravidade que é
hoje não haver fretados para atender es estudantes periféricos.
Nas próximas semanas, o Coletivo Viramundo irá promover uma série de reuniões por
meio de um Grupo de Trabalho que organize a luta por fretados (GT dos Fretados Estudantis
Já!).
Se você quiser se somar, é só se inscrever por meio do formulário abaixo:
https://forms.gle/iw9SeVwaj8VFsx8e6
O formulário foi realizado por meio do Google Forms, com restrição à respostas
únicas e exclusivamente por meio de um e-mail da UNICAMP. Todas as respostas foram
feitas de forma anônima, contendo exclusivamente o RA de cada estudante.
Buscamos que a pesquisa de demanda não fosse amostral, sim de fato uma pesquisa
populacional. Ou seja, tentamos medir a demanda exata por fretados estudantis, divulgando a
pesquisa no e-mail de todes es estudantes1, além de construir um formulário que fosse curto,
afinal, justamente nosso público alvo, nós estudantes da periferia, que hoje possui pouco
tempo para além de ir para a aula estudar e passar a maior parte do dia se locomovendo para
tal.
B) Dados quantitativos
O formulário foi respondido por 557 estudantes, dos mais diferentes cursos de
graduação e pós graduação e do ProFIS.
1
Fica aqui nosso agradecimento à APG pela parceria na divulgação do formulário.
Dos 557 estudantes, 317 se autodeclararam de cor/raça branco (56,9%), 227 se
autodeclararam de cor/raça preto ou pardo (40,8%), 9 de cor/raça amarelo (1,6%), 5 de
cor/raça (indígena), 2 não quiseram se identificar (0,4%) e 1 se declarou miscigenado (0,2%).
Descrevendo os principais resultados, das 501 pessoas que alegaram não morar em
Barão Geraldo, 271 estudantes (54,1%) demoram em média entre 1h e 1h30min e 159
estudantes (31,7%) demoram mais que 2h no trajeto para a Unicamp.
Disso, nós fizemos alguns recortes com os dados de modo a permitir que
enxerguemos melhor a realidade exposta. Primeiro, analisamos a região daqueles
estudantes que demoram entre 1h e 1h30min.
Tendo em vista a possibilidade dos fretados saírem diretamente do seu distrito, isso seria útil
para os estudantes que dependem do transporte público?
“Uma vez que a Unicamp tem a intenção de conseguir inserir pessoas da periferia e de
aumentar o número de alunos que tem origem na rede pública de ensino, é indispensável
pensar no translado dessa quantidade crescente de alunos que vivem em regiões afastadas e
que não podem se mudar para Barão Geraldo por vários motivos. Minha irmã passou por
isso há 10 anos e eu hoje vivo o mesmo perrengue de pegar 2h de ônibus, é muito cansativo e
tem que ser resolvido urgentemente.” - Estudante de Ciências Econômicas.
“Tem dias que eu passo mais tempo no ônibus do que em aula, no final do curso vou ter
praticamente a mesma quantidade de horas no ônibus do que a quantidade de horas no
diploma, isso é desanimador, além de ter questões como a qualidade do ensino básico que
nos deixa sempre um passo atrás ainda temos que nos matar no transporte público todos os
dias.” - Estudante de Engenharia de Alimentos.
“Meu tio é funcionário da Unicamp, entra as 08h e usufrui do fretado. Ele mora duas ruas
pra cima de casa. Eu tenho que sair de casa 1h mais cedo do que meu tio pra chegar no
mesmo horário que ele. E o fretado passa duas ruas acima de casa. Conheço a história de
um cara que mora no bairro ao lado do meu que desistiu da Unicamp por que não aguentou
a rotina de ter que acordar às 05h pra poder assistir a aula das 08h. Disponibilizar um
fretado aos alunos, mesmo que não passe na casa de cada um, iria nos ajudar muito! É sobre
política de permanência e investimentos na educação!” - Estudante de Estatística.
“Moro na Vila União e muitas vezes utilizo 3 linhas para chegar até a Unicamp, sempre mais
de 2 horas de deslocamento. Os ônibus não cumprem horário e são extremamente
desconfortáveis, causando atrasos frequentemente, apesar de pagarmos uma das passagens
mais caras do país. Muitos estudantes que vêm de fora de Campinas acabam tendo um pouco
mais de conforto no deslocamento, por estarem na Moradia, enquanto quem mora na
periferia da cidade vem de longe e são esquecidos pela política assistencial da Universidade.
O aluguel na região de Barão Geraldo é impraticável, tornando os deslocamentos de
praticamente 5 horas por dia uma tortura obrigatória.” - Doutorando em Educação.
“Um fretado de funcionários do meu bairro para a Unicamp já existe, mas não tenho acesso.
Seria muito bom se tivéssemos acesso a este pois melhoraria minhas possibilidades de vir
para a universidade e voltar para casa a noite. Além disso, um fretado saindo do centro de
Campinas só faria sentido se funcionasse com uma frequência maior que a do 330, pois este
atende bem o trajeto do centro para a Unicamp, não demorando mais do que 40 minutos.” -
Estudante de História.
“O ônibus que pego para vir até a Unicamp é o 724 e seus horários diminuíram durante a
pandemia e não voltaram mais ao normal. Já reclamei para a empresa, mas não deram
previsão de quando os horários normais de ônibus irão retornar. Quando tenho aula até às
18h00 tenho que pegar de dois a três ônibus para chegar em casa, uma vez até peguei
quatro. Isso é muito exaustivo e um fretado com certeza me ajudaria caso a EMTU não volte
com os horários normais.” - Estudante de Dança.
“Por anos vi um fretado da Unicamp para funcionários passar na esquina da minha casa às
7:15h sem poder pegá-lo (pois o uso por alunos não é permitido) para entrar na aula às 8h.
Por que não pensar em aproveitar esse serviço/contrato já existente e os bancos vazios (que
existem em diversas linhas) para atender aos alunos?
Eu iniciava meu percurso às 6h10min (no mais tardar), para chegar no mesmo horário ou,
em grande parte das vezes, atrasada pois os ônibus da linha 330 (Unicamp) estavam tão
lotados que não podiam mais receber passageiros e era necessário esperar o próximo.
Qualquer intercorrência ou alteração de 1min acarretava um atraso de 1h (tempo entre
espera até o próximo carro e depois de fato o deslocamento até a Unicamp). Eu gastava em
média 4h/dia de transporte. Estudando em período integral (no ProFIS) saia de casa 6h e
voltava 20h30min, às vezes 21h!
Hoje, estudando a noite e morando em outro bairro, o acesso é um pouco mais facilitado,
mas ainda assim, levo 1h30min de trajeto para ir ou voltar de ônibus. A noite, retornar de
ônibus é extremamente perigoso, seja por criminalidade seja pelo risco de perder o último
ônibus que sai da Unicamp até o Centro (que parte antes das 23h, ou seja, antes de
acabarem as aulas) e precisar pagar um transporte por aplicativo ou táxi.
A mobilidade urbana em Campinas é horrível, a Unicamp é muito distante do restante da
cidade e todos os problemas que isso acarreta afetam a qualidade de vida do estudante e,
consequentemente, seu desempenho acadêmico. Os fretados para alunos são uma
necessidade urgente e referente a tão falada permanência estudantil. Em breve me formo,
mas gostaria muito que próximos os alunos de escola pública, vindos da periferia da cidade,
tivessem uma melhor experiência do que a minha nesse sentido!” - Estudante de Arquitetura
e Urbanismo.
“Parece bobeira, mas quem pega horas de ônibus até chegar na faculdade sabe o quanto é
cansativo, principalmente quando o ônibus está lotado e você tem que ficar de pé, espremido
e no calor durante todo o trajeto. Eu tenho certeza absoluta que eu me sentiria mil vezes
mais motivada a ir pra faculdade se eu não precisasse levar esse tempo inteiro até chegar lá
e que conseguiria me dedicar mais nos meus estudos, porque atualmente a rotina é muito
cansativa :/” - Estudante de Fonoaudiologia.
Os dados e os relatos des alunes dizem por si só: os fretados estudantis são uma
política urgente de permanência, especialmente para aqueles que residem nos distritos do
Ouro Verde e Campo Grande, que são a maioria daqueles que demoram muitas horas todos
os dias no transporte público. O acesso aos fretados permitiria uma melhora significativa na
rotina e na qualidade de vida daqueles que passam horas no transporte público,
proporcionando uma maior possibilidade de foco nos estudos e aproveitamento de todas as
esferas da vida acadêmica.
É importante frisar que a criação dos fretados estudantis e o acesso aos fretados dos
funcionários deve ocorrer com custos inteiramente cobertos pelo orçamento da
universidade e sem cortes de qualquer bolsa auxílio transporte, pois es alunes não estar
amarrados somente aos horários dos fretados e o direito à mobilidade não se restringe
ao trajeto para a universidade.