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A TRANSIÇÃO DO ENSINO PRESENCIAL PARA O ENSINO

REMOTO À DISTÂNCIA EM MEIO AO COVID-19

INTRODUÇÃO
Com o aumento do uso das Tecnologias da Informação e da
Comunicação (TIC’s), as plataformas online disponibilizadas para o
ensino digital tornaram-se importantes para um sistema de estudo
mais flexível, além de auxiliarem na aprendizagem. Contudo, há
debates acerca das estratégias utilizadas para um ensino-
aprendizagem virtual de qualidade, como também, um ambiente
adequado para ser possível o acesso a esse ensino.
Apesar de haver tais questões em relação ao assunto, o Ministério
da Educação (MEC) promulgou um decreto que consta o incentivo do
governo em desenvolver e veicular o EAD em todos os níveis de
ensino. Ademais, há a possibilidade de a instituição educacional optar
por fornecer um ensino à distância, solicitando o credenciamento da
mesma ao Estado. Porém, a inesperada situação com o surgimento da
pandemia, fez com que as instituições de ensino fechassem
temporariamente e realizassem a transição do ensino presencial ao
online rapidamente, apresentando diversos desafios para a adaptação
dos professores e estudantes no modo remoto. Com isso, houve uma
intensa organização e discussão para satisfazer as condições dos
alunos, mas por não haver um planejamento adequado de imediato, os
primeiros meses foram marcados por dificuldades.
Dessa forma, fez-se necessário analisar o desempenho estudantil
remoto dos alunos do ensino médio e superior, devido a rápida
mudança dos estudos durante a transição. Por isso, foi realizado um
questionário online com 29 perguntas objetivas e 3 perguntas abertas,
com o intuito específico de : identificar as primeiras percepções
mediante nível de satisfação no ensino remoto, verificar possível
disparidade entre instituições públicas e privadas, e discutir a
aplicabilidade das redes digitais no cenário educacional mediante
situações emergenciais
1. REFERENCIAL TEÓRICO
Com o uso potencializador das TIC’s, a questão do desenvolvimento
da comunicação e educação entra em evidência nos contextos que
fazem parte dessa nova geração, como o ensino híbrido, EAD, ensino
online, entre outros. Os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA)
auxiliam esses métodos de ensino por meio das plataformas digitais,
disponibilizando o material necessário para a aprendizagem.
O ensino híbrido pode ser representado como uma mistura dos
métodos presenciais e online do ensino, podendo algumas matérias
serem ministradas cara a cara ou pela internet. Enquanto isso, o EAD
é um sistema de estudo mais flexível, já que permite a comunicação
entre o aluno e o professor em diferentes ambientes e tempos e a
organização de horários e estudos. Já o ensino online, pode ser
considerado a união do método presencial, à distância e híbrido, pois
obtém o distanciamento físico do professor e aluno, mas há atividades
síncronas e assíncronas por meio das plataformas digitais.
Esses novos contextos do ensino-aprendizagem permitem uma
educação menos conteudista e mais aprimorada nos âmbitos culturais,
sociais e políticos. Entretanto, há ainda alguns métodos fundados
unicamente no conteúdo, o que comprova que a educação online não
é menos válida na questão de transmissão do aprendizado. De acordo
com Santos, essa troca de informações depende “do movimento
comunicacional e pedagógico dos sujeitos envolvidos para a
garantia da interatividade e cocriação”.
Contudo, em uma era onde a tecnologia e o mundo online
adquiriram tanta importância nos modos de ensino-aprendizagem, é
fundamental que haja a inclusão de todos os estudantes nos sistemas
remotos. Além do fornecimento de como usar corretamente as
plataformas digitais e os controles de dados, a desigualdade social
afeta o acesso dos alunos ao material necessário.
De acordo com dados do IBGE, cerca de 79% dos domicílios
possuíam acesso à internet. Além de possuir as conexões
necessárias, o resto da população também precisa se preocupar com
os planos de banda larga, que nem sempre são acompanhados de uma
boa qualidade, assim como, adquirir os aparelhos eletrônicos para o
uso da informática, mas ambos estão em um valor muito alto no
mercado.
Após os dados dos candidatos do ENEM serem divulgados,
salientou-se a preocupação em relação aos alunos que obtiveram
acesso a internet para ter uma educação online de qualidade. Com
isso, o debate acerca do alcance dos modos de ensino online a todos
os estudantes tomou intensidade, especialmente no contexto
pandêmico que a população se encontrou. Por conta do Covid-19, a
transição das aulas presenciais para as aulas no mundo digital ocorreu
de forma brusca, gerando dificuldades para os orientadores
adquirirem um planejamento adequado, e também, para os estudantes
conseguirem acesso ao conteúdo online.
De acordo com o Diário da União, as informações constam que:
“dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em
meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo
Coronavírus - COVID-19”. Especificamente, as orientações se
aplicam a todos os cursos, exceto ao curso de Medicina e ações que
envolvem o uso do laboratório e a parte prática de estágios. Tal
portaria foi retirada e o novo decreto deu uma nova data para as aulas
online.
Com a continuidade do Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM), surgiu um amplo debate a respeito dos alunos do ensino
médio. O pedido para o adiamento da prova repercutiu nas redes
sociais e gerou uma enorme comoção, por causa do sentimento de
injustiça em relação aos estudantes que sequer tiveram aulas durante a
pandemia. Essa situação evidenciou como os candidatos se
diferenciavam em suas preparações para a prova, pois não obtiveram
as condições para continuar seus estudos.
Mesmo assim, é inegável o apoio que o ensino online forneceu
durante a pandemia. Mas, como uma educação de qualidade não se
baseia apenas em conteúdo, a transição do presencial para o remoto
fez com que surgissem inúmeras dificuldades para passar aquilo que
realmente era necessário.

2. METODOLOGIA
Através de uma análise de origem quantitativa, um questionário
online foi feito para verificar as mudanças na transição do presencial
para o remoto em diferentes grupos sociais. Essa pesquisa, teve seu
fundamento em estatísticas, e não probabilísticas, e foi formada por
29 perguntas. Sua veiculação se deu por meio das redes sociais,
transmitindo o questionário para amigos e seus conhecidos, técnica
denominada como “bola de neve”.
As perguntas foram divididas entre 26 questões de múltipla
escolha e 3 questões abertas. Além disso, por ter natureza
quantitativa, o participante tinha que classificar sua satisfação do
“ruim” até o “excelente”, colocando de forma crescente os números 1
a 5 de acordo com a sua opinião. Ademais, as perguntas foram
selecionadas especificamente em relação à finalidade da pesquisa:
“realizamos 6 (seis) perguntas para mapear os participantes, em
seguida, 4 (quatro) para compreender os materiais e metodologias
utilizados por professores e estudantes, após isso, 9 (nove)
perguntas para comparar com as 9 (nove) seguintes, a percepção
acerca do antes e durante a pandemia, por fim, uma pergunta
final para obter uma palavra que representasse o momento
passado pelos discentes”.
Ao todo, contaram com 191 (cento e noventa e um) participantes
para a análise, entre 09 de abril de 2020 à 16 de abril de 2020,
sendo eles estudantes de cursinho pré-enem, ensino médio e
superior, das regiões Norte, Sudeste, e em sua maioria, Nordeste. Por
não haver respostas suficientes de estudantes realizando o cursinho
para o Enem, e também pela falta de participantes das regiões do
Sudeste e Norte, foi preferível fazer a análise somente com os alunos
do ensino médio e superior e dos estados que obtiveram maior alcance
do Nordeste: Pernambuco e Paraíba.
Com isso, os 122 (cento e vinte e dois) participantes que sobraram
foram divididos pela classificação de instituições públicas e
privadas, além da divisão entre quem sempre estudou
presencialmente e quem já havia optado por uma educação online
antes. Assim como, também ocorreu a classificação das faixas etárias
entre 20 (vinte) a 50 (cinquenta) anos, em um período de 5 (cinco) em
5 (cinco) anos.
Após realizada a análise, foi perceptível a existência de uma
diferença entre a educação pública e privada, também como, a
transição do remoto para o online antes e depois. Essas observações
foram feitas utilizando métodos de tabelas e gráficos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Entre as 29 perguntas, foram selecionadas apenas 15 para
discutir os resultados. Em relação ao gênero, sob a análise de 122
participantes, cerca de 63% (78 pessoas) eram do sexo feminino e
36% (44 pessoas) do sexo masculino. Acerca da faixa etária,
observa-se que entre 21 e 25 anos foram cerca de 49%,e menos de
20 anos, cerca de 32%.
Os dados em relação ao tipo de instituição se deu em 50%
público e 50% remoto, o que colaborou nas classificações acerca das
experiências entre esses estudantes.
Entre os estudantes universitários federais, cerca de 93% (114
alunos) são da Paraíba e 6,5% (8 alunos) de Pernambuco.
Ressaltando que, aproximadamente 88% (108 alunos) sempre
estudaram de forma presencial e 11,4% (14 alunos) já haviam tido
experiências no ensino remoto. Importante lembrar que no momento
da pesquisa, todos utilizavam o mesmo contexto de ensino online.
A seguinte questão foi em relação às estratégias utilizadas no
ensino-aprendizagem virtual. Nisso, foi visualizado uma similaridade
entre as técnicas onlines usadas, como por exemplo, gravações das
aulas, uso das plataformas digitais para fins educacionais,
questionários online, indicações de livros e conteúdos científicos,
entre outros. Todas essas estratégias foram consideradas adequadas
para a continuidade do ensino-aprendizagem, durante o início da
transição para o remoto, pois ainda estavam em adaptação nas
questões interativas entre os estudantes.
A próxima análise foi feita pela percepção dos próprios alunos,
classificando as estratégias escolhidas para adquirir o conhecimento
antes do isolamento social, no modo presencial, e depois do
surgimento do vírus, no modo online. Em relação ao presencial, tanto
a rede privada, quanto a rede pública, obtiveram resultados positivos
semelhantes, intercalando entre “bom” (27% pública e 22%
privada) e “ótima” (57% pública e 52% privada).
Quando o assunto foi o modo de ensino remoto, houve
diferenças nas experiências das instituições. Na rede privada,
apresentou-se um percentual de 39,3% na opção “bom”, mas
aconteceu a aparição da opção “ruim”, com um percentual de 14,7%,
e da opção “regular”, com um percentual de 19,7%. No caso da rede
pública, houve uma insatisfação maior que a rede privada, tendo
apenas 24,5% na opção “bom” e 31,1% na opção “ruim” e 31,1% na
opção “regular”. Como resultado dessa análise, observa-se um
descontentamento maior dos alunos de instituições públicas em
relação ao ensino remoto, mas não foi objeto de estudo se de fato eles
receberam o conhecimento.
A próxima discussão levantada foi o modo de ensino-aprendizagem,
antes e depois da transição, que se baseia nos comportamentos
docentes, material utilizado, entre outros. No modo presencial, cerca
de 50,8% dos alunos da rede pública responderam “ótimo”, enquanto
50,8% da rede privada responderam “excelente”. Já no período inicial
da transição para o remoto, aproximadamente 27% das respostas dos
estudantes da rede privada foram a opção “bom”, cerca de 22% foram
satisfação “regular” e 27,8% foram “ruim”. Enquanto isso, para os
estudantes da rede pública, a maior parte teve satisfação “ruim”,
correspondendo a 42,6%.
As observações advindas das análises com os resultados da
pesquisa, mostraram o baixo índice de satisfação dos alunos da rede
pública em relação ao ensino online. Isso evidencia a falta de
investimentos nas abordagens remotas em relação a esses estudantes,
o que agravou com a brusca transição para o ensino remoto. Logo,
torna-se preocupante a veiculação dos materiais necessários para o
estudante vir a ser um cidadão e profissional íntegro, não só em níveis
conteudistas, mas também, no ensino cultural.
Em uma das perguntas abertas, foi questionado qual palavra
definiria a percepção do aluno em relação ao ensino remoto. Na maior
parte das respostas, houve uma índole negativa, salientando o
descontentamento dos alunos ao responderem palavras como:
insatisfação, desorganização, necessário, estresse, ineficiente,
difícil, ruim e acumulativo.
Ainda assim, houve respostas com sentido positivo, como por
exemplo: bom e ótimo, repetido sete e cinco vezes,
respectivamente. Boa parte das opções e respostas satisfeitas foram
feitas por alunos da rede privada, confirmando o resultado dos dados
que indicam menor satisfação dos estudantes da rede pública.
Mesmo mostrando-se nítida a necessidade de investimentos no
ensino remoto para as instituições públicas, outros fatores contribuem
para esse despreparo, tais como: desigualdades sociais em relação
ao acesso à internet, a formação e valorização do trabalho das
equipes pedagógicas, e políticas públicas de investimentos
monetário para inclusão digital. No início da transição para o
remoto, a rápida necessidade de encaminhar os estudos presenciais
para o online também afetou consideravelmente a reação insatisfatória
dos estudantes públicos.
Muitos especialistas, como Waldomiro Loyolla, dizem que a rede
pública de ensino brasileiro possui conectividade com a internet,
porém isso não é bem evidenciado. Em situações atípicas como as
que o Covid-19 trouxe para a educação, o fator determinante de um
ensino-aprendizagem online não é só o acesso à internet, mas
também, o seu uso de qualidade e a disponibilidade dos aparelhos
eletrônicos corretos para isso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contudo, nota-se a diferença na percepção dos alunos em relação
aos seus ensino-aprendizagem durante o início da pandemia. É
valioso ressaltar, que a análise feita pela pesquisa abrange um
pequeno número de estudantes brasileiros, incluindo apenas uma
porcentagem dos estados da Paraíba e Pernambuco. Mesmo assim,
facilitou o entendimento do processo que foi a transição inicial para o
ensino remoto no contexto pandêmico de isolamento social.
Percebe-se também, como um grupo social foi mais afetado que
outro. Apesar de haver decretos que incentivem os meios da rede
educacional pública, há uma grande diferença entre os acessos e
ensino adequado remotos dos estudantes privados e públicos.
Ressaltando que, com a existência do isolamento social, a
disponibilidade de internet nas instituições não valeram muito, já que
os docentes e discentes necessitam do acesso em suas residências
particulares.
Com a grande indignação popular, as pessoas se comoveram nas
redes sociais em busca de visibilidade para o ensino justo. A
sociedade visualizava que no momento que todos precisavam de
educação online adequada, não havia oportunidade para todos os
alunos, excluindo certos estudantes que não conseguiam ter o acesso e
uso de qualidade do mundo virtual.
Além disso, a discussão referente à meritocracia no âmbito
educacional salientou o pensamento da população sobre as pessoas
que recebem mais oportunidades, classificando-as como mais aptas e
estudadas, ignoram as desigualdades sociais. Os resultados obtidos
evidenciam uma situação extraordinária pela qual o país passava, um
contexto de sucateamento da educação pública e desvalorização
da formação e trabalho docente.
Apesar da observação de um contentamento maior em relação às
oportunidades privadas do que as públicas, as dificuldades dos alunos
das instituições particulares não deixaram de existir. Como dito, não
basta só o acesso a internet, mas também, os aparelhos adequados
para o uso. Assim como, um ambiente propício ao estudo e a
concentração, além de outros fatores, precisam ser fornecidos a todos.
Ofertar as ferramentas online, mas esquecer da capacitação por
parte dos docentes e discentes, é como pedir para uma galinha
voar, ao passo que ela possui as asas, consegue sair do chão, mas
não vai muito longe.
De acordo com alguns especialistas, a educação tem a função de
ensinar sobre a cultura, leis e o processo de desenvolvimento.
Apesar de cada pessoa ter seu jeito próprio de ensinar e aprender, os
estudantes devem ser tratados com igualdade durante a aprendizagem,
para fornecer a melhor experiência a todos, em qualquer que seja a
instituição.
Muita coisa evoluiu com o surgimento da pandemia, alterando toda
a educação tradicional de antes para uma educação moderna. Dessa
forma, é certo que os modos de ensino mudarão futuramente, obtendo
o uso das consequências do período atípico pandêmico, seja na forma
de ensino quanto de aprendizagem.

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