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1. INTRODUÇÃO .................................................................................... 5
2. PRINCIPAIS TIPOS DE COESÃO ............................................................ 8
2.1. Quadro esquemático da coesão referencial e da sequencial .......... 10
2.2. Coesão referencial .......................................................................... 10
2.2.1. Por uso de formas gramaticais ................................................. 10
2.2.2. Por uso de formas lexicais........................................................ 12
2.3. Coesão sequencial .......................................................................... 13
2.3.1. Sequenciação parafrástica ....................................................... 13
2.3.2. Sequenciação frástica .............................................................. 15
2.4. A relevância dos operadores argumentativos na avaliação da
Competência IV ..................................................................................... 17
3. MATRIZ DE REFERÊNCIA PARA A COMPETÊNCIA IV ........................... 21
4. ESPECIFICIDADE DA AVALIAÇÃO DA COMPETÊNCIA IV EM RELAÇÃO ÀS
COMPETÊNCIAS I E III .......................................................................... 21
5. GRADE ESPECÍFICA DA COMPETÊNCIA IV .......................................... 25
6. TERMOS IMPORTANTES PARA A APLICAÇÃO DA GRADE ESPECÍFICA DA
COMPETÊNCIA IV ................................................................................ 26
6.1. Presença de elementos coesivos .................................................... 26
6.2. Coesão intraparágrafo e interparágrafos ........................................ 27
6.3. Repetição ........................................................................................ 36
6.4. Inadequação coesiva....................................................................... 42
6.5. Monobloco ..................................................................................... 45
7. ROTEIRO PARA APLICAÇÃO DA GRADE ESPECÍFICA DA COMPETÊNCIA IV
........................................................................................................... 49
8. DESCRIÇÃO DOS NÍVEIS .................................................................... 50
8.1. Nível 0 (nota 0) ............................................................................... 52
8.2. Nível 1 (nota 40) ............................................................................. 54
8.3. Nível 2 (nota 80) ............................................................................. 57
8.4. Nível 3 (nota 120) ........................................................................... 61
8.5. Nível 4 (nota 160) ........................................................................... 65
8.6. Nível 5 (nota 200) ........................................................................... 69
9. ANÁLISE COMPARATIVA DAS COMPETÊNCIAS III E IV ....................... 72
10. CONCLUSÃO .................................................................................. 75
11. REFERÊNCIAS ................................................................................. 76
ANEXO ................................................................................................ 77
GLOSSÁRIO DA COMPETÊNCIA IV .......................................................... 77
1. INTRODUÇÃO
Este módulo tem como objetivo abordar a avaliação da coesão textual nas
redações do Enem. De acordo com a Matriz de Referência para Redação do Enem,
a Competência IV se destina a avaliar a capacidade de o participante demonstrar
conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da
argumentação. Isso significa que, nesta Competência, analisamos como o
participante se vale dos recursos coesivos para articular os enunciados de seu
texto.
Isso posto, começamos a apresentação dessa temática propondo uma reflexão
sobre as diversas formas de se construir a coesão. Algumas delas podem ser
observadas nos versos de Cora Coralina (1965, p. 22), a seguir:
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Sem nos aprofundarmos nos aspectos poéticos e estéticos desse texto, podemos
utilizá-lo como um exemplo da maneira como as frases (nesse caso, os versos) vão
sendo concatenadas em um todo coerente e coeso. Ao longo da composição, os
elementos coesivos desempenham funções primordiais na construção das
relações semânticas. Observe-se, por exemplo, como o pronome “seu” (verso 4)
constrói uma ligação com o referente “passado” (verso 3), do mesmo modo que
“suas” (verso 5) se refere a “vida” (verso 1) e “delas” (verso 12) se refere a “lições
de vida” (verso 11). Além dessas ligações entre os elementos referenciais do
texto, também podemos observar relações entre argumentos, como o sentido
adversativo expresso pelo termo “mas”, ao articular os versos 3 e 4, permitindo a
interpretação de que, embora o passado desse eu lírico tenha sido duro e sofrido
(o que permite recuperar a ideia de “face negativa” da vida, no início do poema),
deixou um legado de aprendizagens, descritas nos versos seguintes (o que
recupera a ideia de “face positiva” da vida). Esses aspectos, além de outros
fenômenos que interligam as palavras e as frases no poema (como a aliteração e
a assonância que se estabelece ente “limitações”, “contradições” e “lições”), nos
levam a perceber como um texto se desenvolve conectando temas, ideias e
informações por meio da articulação entre as palavras em sua superfície textual.
Veremos, adiante, as várias formas nas quais a coesão se manifesta, a depender
da tipologia dos textos, e, então, destacaremos aquelas que nos interessam nos
textos dissertativo-argumentativos.
Por ora, valemo-nos da linguagem poética para despertar nossa compreensão
sobre aquilo que Abaurre et al (2000, p. 129) chamam de “argamassa textual”,
isto é, certos termos que fazem a ligação entre os elementos de um texto,
garantindo sua progressão e sua articulação.
Desse modo, no que diz respeito ao seu funcionamento, a coesão atua na
superfície textual, ou seja, ela se manifesta por meio de marcas linguísticas que
ajudam a chegar à compreensão profunda do texto:
[...] por coesão se entende a ligação, a relação, os nexos que se estabelecem entre os
elementos que constituem a superfície textual. Ao contrário da coerência, que é subjacente,
a coesão é explicitamente revelada através de marcas linguísticas, índices formais na
estrutura da sequência linguística e superficial do texto, o que lhe dá um caráter linear, uma
vez que se manifesta na organização sequencial do texto (KOCH; TRAVAGLIA, 2013, p. 47).
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A linguista Ingedore Koch (1999, p. 35) acrescenta que “coesão é o modo como os
elementos linguísticos presentes na superfície textual se encontram interligados,
por meio de recursos também linguísticos, formando sequências veiculadoras de
sentido”.
Feitas essas considerações iniciais sobre a coesão textual, relembramos o tipo de
texto proposto pela prova de redação do Enem: dissertativo-argumentativo.
Tendo em vista o espaço relativamente curto de 30 linhas para que se disserte
sobre um tema de relevância social – como é comum nas propostas temáticas do
Enem –, o uso de elementos linguísticos de coesão é essencial, já que eles serão
os responsáveis pela concatenação de ideias, fazendo o texto avançar na
formulação de argumentos. No entanto, não basta a mera presença dessas
palavras. Para que o texto dissertativo-argumentativo seja avaliado nos níveis
mais altos da Competência IV, é necessário que haja uso adequado e diversificado
desses elementos linguísticos:
[...] A adequação do emprego garante que os elos semânticos criados por esses
elementos sejam corretamente estabelecidos. Já sua diversidade garante a
utilização de diferentes estratégias discursivas na formulação de argumentos. Não
se trata, de forma alguma, de tornar o texto rebuscado. O rebuscamento do estilo
serve apenas para desorientar o leitor em relação à direção argumentativa do
texto (PEIXOTO, 2016, p. 159).
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Desse modo, o enquadramento da redação em um nível específico requer análise
atenta por parte do avaliador – isso porque, por exemplo, um texto pode
apresentar muitos elementos de coesão, tais como os operadores
argumentativos, mas mobilizados de maneira inadequada, não podendo, assim,
ser avaliado no nível máximo.
Outro aspecto que demanda atenção é a repetição dos elementos coesivos. Tendo
em vista a necessidade de se manter dentro do tema proposto, é natural que haja
alguma repetição, principalmente em retomadas referenciais de palavras da frase
temática e de seus sinônimos (por exemplo, “estigma”, “doenças mentais”,
“preconceito” e “depressão”), certos pronomes (“esse”, “essa”, “sua”, “seu”),
bem como é esperada a recorrência de conjunções e preposições que
inevitavelmente aparecem com bastante frequência na língua portuguesa (tais
como “com”, “como”, “para”, “e”, entre outras).
Voltaremos à ideia de repetição mais adiante, mas é extremamente importante
salientar, desde já, que a recorrência de algumas palavras ligadas ao tema e de
alguns operadores linguísticos de coesão, como esses acima explicitados, não
significa a automática classificação da redação nos níveis de notas mais baixos da
Grade Específica – daí a importância do nosso trabalho de análise textual e da
avaliação rigorosa seguindo os critérios preestabelecidos, porque, a depender de
como a coesão é feita ao longo da produção escrita, textos com essas
propriedades podem atingir até faixas mais altas de notas, desde que,
obviamente, cumpram outros requisitos dos descritores de notas desses níveis
mais elevados, conforme veremos detidamente ainda neste Módulo.
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são menos e quais são mais desejáveis para a articulação dos argumentos, naquilo
que concerne à tipologia dissertativo-argumentativa que caracteriza a redação do
Enem.
Algumas estratégias coesivas, como a repetição do mesmo termo e dos mesmos
recursos fonológicos (produzindo efeitos de rima, eco etc.), fazem sentido na
produção poética, mas, grosso modo, não são valorizadas em textos dissertativo-
argumentativos. Outras, como o paralelismo, a elipse, a coordenação e a
subordinação de orações, são típicas das dissertações, entretanto, em razão de
demandas da prática de avaliação em larga escala, não serão destacadas durante
a análise das redações neste Material.
Tomando as bases teóricas apresentadas do início do capítulo até aqui, destacam-
se dois principais tipos de coesão: a referencial, que retoma elementos já
mencionados em um texto ou introduz aqueles ainda a serem mencionados
(pronomes, por exemplo), e a sequencial, que diz respeito aos procedimentos
linguísticos por meio dos quais se estabelecem diversos tipos de interdependência
semântica e/ ou pragmática entre enunciados, à medida que faz o texto progredir
(KOCH, 1988, p. 75).
A tabela com os principais tipos de coesão é baseada nos estudos expostos em
Koch (2013, p. 29-78).
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2.1. Quadro esquemático da coesão referencial e da sequencial
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Observa-se o uso do advérbio de lugar “lá”, que retoma o sanatório de Colônia,
localizado na cidade de Barbacena, em Minas Gerais.
Ex.: A sociedade costuma se referir aos doentes mentais com grande dose de
preconceito, mas é porque há muito tempo difunde-se a ideia de que eles são
malucos ou alienados.
Observa-se o uso do verbo “ser” para retomar o conteúdo da primeira oração.
Esse caso é mais comum em textos na modalidade oral e não é considerado na
avaliação da Competência IV.
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D. Numerais (números cardinais, ordinais, fracionais...)
Ex.: Muitas doenças mentais são causadas por antigos traumas aparentemente
esquecidos no passado. Duas são a depressão e a fobia social.
Observa-se que o termo “duas” retoma e especifica “doenças mentais”.
Ex.: A OMS indica que o Brasil é o país que mais tem pessoas com a saúde mental
abalada. 50% desse público é representado por mulheres maiores de idade. 20%
é a parcela formada por homens na mesma faixa etária das mulheres. 30%
correspondem a crianças e adolescentes. Em todos os casos, a internet é apontada
como o principal fator que prejudica a saúde mental dos seus usuários.
Nesse exemplo, as expressões “50%”, “20%” e “30%” retomam, para
pormenorizar, as “pessoas com a saúde mental abalada”, além de funcionarem
como articuladores intraparágrafo, conectando os períodos.
B. Relação de hiperonímia-hiponímia
Ex.: As doenças mentais ainda são vistas pela sociedade de forma superficial.
Casos de ansiedade incontrolável e depressão, por exemplo, continuam sem ter
a devida atenção das autoridades responsáveis pela saúde pública.
Observa-se que as formulações “ansiedade incontrolável” e “depressão” são
hipônimos do hiperônimo “doenças mentais”.
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C. Nomes genéricos (palavras que produzem relações de sinonímia; casos comuns
são os termos “fato”, “evento”, “fenômeno”, “crença”, entre outros)
Ex.: No filme “Cisne Negro” uma jovem bailarina é induzida pela mãe a conseguir
o papel principal de qualquer maneira, causando-lhe severos distúrbios
emocionais. O fato foi amplamente discutido na época do lançamento do filme
por retratar uma história real peculiar em relação às doenças mentais.
Observa-se como “fato” retoma a ideia de indução prejudicial da mãe sobre a
filha.
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B. Recorrência da mesma estrutura sintática
Ex.: A voz de minha bisavó / ecoou criança / nos porões do navio.
A voz de minha mãe / ecoou baixinho revolta / no fundo das cozinhas alheias
(EVARISTO, 2008).
Observa-se que a estrutura sintática se repete nas duas “linhas” (há três versos
em cada linha), colaborando para a coesão. Esse recurso, embora seja uma forma
legítima de construir a coesão, opera no nível da sintaxe. Levando em
consideração as demandas da Competência IV na avaliação de textos em larga
escala, tal recurso não é considerado nessa Competência.
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2.3.2. Sequenciação frástica
A. Manutenção temática (uso de termos do mesmo campo lexical)
Ex.: Portadores de transtornos mentais podem ser plenamente úteis à sociedade,
por exemplo, no campo cultural, como atestam as obras-primas de inúmeros
artistas: as pinturas de Vicent Van Gogh (que sofria de esquizofrenia), os afrescos
de Michelangelo (transtorno obsessivo compulsivo), as esculturas de Yayoi
Kusama (depressão e borderline) e as interpretações de Nina Simone
(bipolaridade), na música.
Nesse exemplo, a coesão temática funciona pela presença dos termos relativos a
doenças mentais, evocados pelo tópico “[Portadores de] transtornos mentais”,
como “esquizofrenia”, “transtorno obsessivo compulsivo”, “depressão”,
“borderline” e “bipolaridade”, bem como as menções às pessoas portadoras
dessas doenças, como “Vicent Van Gogh”, “Michelangelo”, “Yayoi Kusama” e
“Nina Simone”. O mesmo funcionamento coesivo acontece nas referências a
palavras do mesmo campo semântico estabelecido por “campo cultural”
(funcionando também como hiperônimo) e as demais formulações
identificadoras de produções artísticas, como “pinturas”, “afrescos”, “esculturas”
e “música” (funcionando, também, como hipônimos), além dos nomes dos
artistas que, por serem notórios, também se apresentam como referentes típicos
do campo cultural.
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Ressalte-se que, embora a coesão por justaposição seja adequada e muito comum
na tipologia argumentativa, para fins de avaliação em larga escala (levando em
consideração a necessidade de distribuir as redações nos seis níveis de nota da
Competência IV e a dificuldade em sistematizar, distinguir e marcar essa forma
específica de articulação textual), o processo de subordinação/coordenação não
será considerado na avaliação dessa Competência.
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2.4. A relevância dos operadores argumentativos na avaliação
da Competência IV
De acordo com Koch e Elias (2016, p. 76), os operadores argumentativos são
elementos que fazem parte do repertório linguístico e “são responsáveis pelo
encadeamento dos enunciados, estruturando o texto e determinando a
orientação argumentativa”. Isso nos permite concluir que esses elementos
linguísticos devem estar entre os principais componentes da articulação do texto
dissertativo-argumentativo, o que justifica o fato de as notas mais altas exigirem
operadores argumentativos, como se verá na Grade Específica.
Ao mobilizarmos esse conceito linguístico na avaliação em larga escala, uma
ressalva se faz necessária. Assim como já elucidamos no início deste capítulo, há
várias formas legítimas de se construir a coesão, mas as demandas de
seleção/categorização da Matriz nos obrigam a valorizar algumas e a
desconsiderar outras; o mesmo procedimento vale para a aplicação do conceito
de operador argumentativo. Proposta originariamente por Oswald Ducrot (1977,
1987), a ideia de “argumentação na língua” é muito rica e abrangente, incluindo,
por exemplo, advérbios utilizados nas interações verbais mais corriqueiras,
marcadas, às vezes, por termos como “ainda”, “já”, “não”, e até mesmo por certos
verbos como “abandonar” e “deixar”, indicadores de implícitos, pressupostos e
subentendidos (Cf. Ducrot, 1977). Na avaliação da redação do Enem, todavia, não
é desejável, nem possível, considerar a argumentação a partir do estatuto dos
implícitos; portanto, decisões são tomadas no sentido de privilegiar os operadores
mais efetivos na tipologia dissertativo-argumentativa.
Para esclarecer ao máximo essas decisões para os avaliadores, apresentamos, a
seguir, cada um dos tipos de operadores argumentativos considerados na
Competência IV, ilustrando-os com exemplos, além de incluirmos um Glossário
nas páginas finais deste material, com orientações sobre os elementos coesivos,
principalmente operadores argumentativos, em especial os que mais levantam
dúvidas na aplicação da grade.
Classificação dos operadores argumentativos considerados na Competência IV:
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A. Operadores que somam argumentos a favor da mesma conclusão.
Exemplo 1
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D. Operadores que contrapõem argumentos orientados para conclusões
contrárias.
Exemplo 4
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G. Operadores que estabelecem relações de comparação entre elementos,
visando a uma determinada conclusão.
Exemplo 7
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3. MATRIZ DE REFERÊNCIA PARA A COMPETÊNCIA IV
COMPETÊNCIA IV
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Todavia, cada Competência deve ser avaliada de forma autônoma, considerando
sempre que os participantes não podem ser penalizados duas ou mais vezes pelo
mesmo motivo e em competências diferentes.
Por essa razão, vale a pena explicitar a diferença entre essas competências,
começando pela especificidade das Competências III e IV, pois, ainda que,
segundo a Matriz de Referência para Redação do Enem, ambas considerem a
construção da argumentação, elas avaliam aspectos diferentes do texto.
Assim sendo, na Competência III, analisa-se a capacidade do participante de
selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e
argumentos em defesa de um ponto de vista, ou seja, trata-se da avaliação da
estrutura mais profunda do texto, a qual depende de informações semântico-
argumentativas complexas, que subjazem à superfície textual.
Na Competência IV, por sua vez, em linhas gerais, devemos avaliar se o repertório
de recursos coesivos é diversificado (isto é, se há variedade de elementos
coesivos, em diferentes graus de presença desses elementos, e se há repetições
de alguns desses conectores) e se esses recursos são utilizados adequadamente.
Conforme já explicado, os elementos coesivos são marcadores explícitos que, se
presentes nos textos, são facilmente identificáveis e, quando empregados de
forma precisa, devem contribuir para a organização e compreensão das ideias
apresentadas. A diferença entre as duas competências está evidenciada também
no item 9, a partir da análise de uma mesma redação sob a perspectiva de cada
uma das duas competências.
Além dessa possível confusão entre as Competências III e IV, pode haver também
dúvidas sobre a relação entre a Competência IV e a Competência I, esta última
responsável por avaliar o domínio da modalidade escrita formal da Língua
Portuguesa, que também se encontra na superfície textual (por exemplo, a
presença de desvios gramaticais, de convenções da escrita, de escolha de registro,
de escolha vocabular, além de problemas relacionados à construção sintática).
Uma das questões mais relevantes no que tange à relação entre essas duas
competências diz respeito ao uso da pontuação: deve-se analisar a pontuação na
Competência I ou na IV? Ainda que uma falha dessa ordem possa afetar a coesão
do texto, foi deliberado que a pontuação será cobrada na Competência I. Essa
decisão deve-se ao fato de que o uso da pontuação está relacionado a dois fatores
principais:
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• As regras de pontuação são convencionadas pelas gramáticas (exemplo: não
se pode separar sujeito e predicado por vírgula), fazendo parte, de maneira mais
próxima, das convenções que integram a prática analítica da Competência I;
• A falta ou o excesso de pontuação pode trazer problemas relacionados à
construção sintática, que também é avaliada na Competência I.
Outro aspecto que diferencia a avaliação das Competências I e IV é a grafia: a
Competência I avalia o cumprimento das normas ortográficas na grafia de
palavras que funcionam como conectivos, enquanto a Competência IV examina o
funcionamento semântico-argumentativo desses elementos coesivos, ou seja, as
relações de coesão propriamente ditas. Selecionamos as ocorrências a seguir para
ilustrar essa distinção:
Exemplo 9
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Exemplo 10
X
SUPERFÍCIE DO TEXTO ESTRUTURA PROFUNDA DO TEXTO
COMPETÊNCIA IV COMPETÊNCIA I
SUPERFÍCIE DO TEXTO
X SUPERFÍCIE DO TEXTO
RECURSOS COESIVOS MODALIDADE
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Uma vez que estamos tratando da coesão neste Módulo, podemos assumir que
um dos objetivos do Curso de Capacitação é tornar coeso o Brasil inteiro: milhares
de avaliadores lendo milhões de redações, aplicando os mesmos critérios de
correção. Esse é um bom exemplo do que poderíamos chamar de coesão humana:
se buscarmos uma unidade na aplicação dos critérios, resultando na diminuição
das discrepâncias, certamente nosso trabalho final se mostrará coeso.
COMPETÊNCIA IV
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 25
6. TERMOS IMPORTANTES PARA A APLICAÇÃO DA
GRADE ESPECÍFICA DA COMPETÊNCIA IV
Com o objetivo de facilitar a observação, nas redações, dos conceitos abordados
na Competência IV, iremos utilizar algumas marcações nas imagens, considerando
a legenda a seguir:
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6.2. Coesão intraparágrafo e interparágrafos
Ao mencionar coesão intraparágrafo, a terminologia da Grade se refere à
presença de elementos coesivos, adequadamente mobilizados, dentro do
parágrafo (Quadro 1, vocábulos em azul). Por sua vez, a coesão interparágrafos
é a presença de elementos coesivos, adequadamente mobilizados, entre os
parágrafos (Quadro 1, vocábulos em laranja). Esses elementos localizam-se,
geralmente, no início das alíneas, mas também podem aparecer ao longo do
primeiro período do parágrafo, de forma deslocada, como se observa na
ocorrência de “portanto”, no último parágrafo do texto ilustrativo no Quadro 1.
Eles funcionam relacionando tanto ideias mais gerais entre parágrafos quanto
períodos ou trechos específicos de ideias.
Quadro 1
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 27
Mais adiante, na seção 6.4, veremos que não basta identificarmos a presença
desses elementos coesivos; também é preciso verificar se eles estão
adequadamente empregados no texto, promovendo o funcionamento de suas
relações semânticas.
Como apontado na Grade Específica, para um texto atingir os níveis 4 e 5 na
Competência IV, ele precisará, necessariamente, ter a presença de alguns
elementos coesivos específicos (os chamados operadores argumentativos)
interparágrafos, além de outras formas de coesão. Assim, é importantíssimo, para
fazer a distinção entre os níveis mais altos, identificar se a relação de um elemento
coesivo localizado no início de um parágrafo se dá entre ele e o conteúdo do
parágrafo anterior (relação interparágrafos) ou entre conteúdos “internos” do
próprio parágrafo (relação intraparágrafo). Os Exemplos 11 e 12 ilustram
ocorrências de coesão intra e interparágrafos que podem, eventualmente,
confundir, se não houver atenção na leitura:
Exemplo 11
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Exemplo 12
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localizado entre dois parágrafos, esse item coesivo opera de maneira “local”, ou
seja, ele é um elemento coesivo intraparágrafo, pois o leitor não precisa recorrer
ao parágrafo anterior para saber o que se deve “ter em vista”. A informação está
disponível dentro deste mesmo parágrafo, nas linhas 18 e 19: tendo em vista o
estigma associado às doenças mentais no Brasil, pode-se propor as intervenções
apresentadas a partir da linha 20, abrangendo ações do Ministério da Saúde e da
Educação.
Exemplo 13
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Exemplo 14
Exemplo 15
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“A fim de” (linha 21): A coesão é intraparágrafo, realizada por um operador
argumentativo com função de indicar “finalidade”. No caso, apresentam-se tanto
o objetivo de uma ação (garantir o cuidado com a saúde mental dos brasileiros),
quanto a própria ação (investir em campanhas e tratamento para transtornos
mentais) dentro de um mesmo parágrafo.
Exemplo 16
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Exemplo 17
6.3. Repetição
A recorrência dos mesmos elementos coesivos em uma determinada redação
deve ser avaliada, assim como os demais critérios, com muito cuidado. Acima de
tudo, porque é impossível contabilizar a repetição de forma absoluta, impondo
um padrão quantitativo aplicável a todo e qualquer texto. Não se trata de contar
as palavras repetidas; é necessário, sempre, considerar a repetição em relação
àquilo que o participante apresentou, concretamente, em sua produção escrita,
verificando em que medida essa repetição prejudica (ou não) a articulação dos
argumentos dentro de um dado conjunto textual.
Conforme já mencionado, trata-se de um recurso legítimo na construção da
coesão. Aquino (2016, p. 195) afirma que, “como a redação do Enem é um texto
curto, qualquer repetição se torna mais saliente, o que não significa que seja
necessariamente problemática”. Nesse sentido, de acordo com a autora, “o
avaliador deverá distinguir a repetição promotora de coesão daquela que torna o
texto cansativo, sem nuances” (2016, p. 195), além de avaliar o emprego de outras
formas coesivas operando conjuntamente para a articulação das ideias ao longo
do texto dissertativo-argumentativo.
Nesse contexto, as repetições são problemáticas quando fazem rarear a
diversidade do repertório coesivo, ou seja, quando o participante não se vale de
recursos variados ao longo do texto. A variedade no repertório traz maior fluidez
à construção dos sentidos da produção textual. Reforçamos que a recorrência de
palavras do campo semântico da frase temática (no caso da proposta de 2020,
“doenças mentais”, “estigma”, “saúde mental”...) e seus sinônimos é esperada, e,
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 36
quando aliada a outras estratégias coesivas, pode até ser eficiente na construção
da coesão. Por essa razão, a avaliação da repetição deve incidir, prioritariamente,
sobre a coesão sequencial representada, na grande maioria das vezes, pelos
operadores argumentativos.
O exemplo a seguir traz o excerto de uma redação que ilustra o tipo de repetição
que deve ser penalizada na Competência IV. As ocorrências de “depressão” foram
destacadas porque, embora se refiram a um elemento da frase temática,
aparecem com uma frequência muito grande no trecho em questão e, somadas à
repetição de outros vocábulos, contribuem para prejudicar a articulação do texto,
não sendo contadas no repertório de elementos coesivos adequadamente
mobilizados. As marcações tracejadas identificam a repetição.
Exemplo 18
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 37
O Exemplo 18 apresenta apenas um trecho de redação, pois não nos interessa, no
momento, avaliar o nível do texto na Competência IV, mas apenas demonstrar
como a repetição aparece empiricamente. O primeiro aspecto a se observar é o
fato de a repetição prejudicar a articulação do texto quando as ocorrências do
mesmo vocábulo acontecem de maneira muito próxima entre si. Tal fenômeno se
manifesta, por exemplo, nas ocorrências de “isso” e de “tá” (verbo “estar”) nas
linhas 14 a 19 e 26 a 29, nas quais se lê: “... isso, querendo ou não afeta muito o
jovem pode acabar vendo coisas que não deve na internet e isso meche com o
psicológico da pessoa esse problema ou surto de depressão tem que acabar isso
tá matando muita gente tá ficando comum depressão isso é alarmante e pior que
tá morrendo muita gente”, bem como nas ocorrências de “depressão” em várias
partes do texto, do qual destacamos as linhas 24 a 29: “...mais de 300 pessoas
estão com depressão no mundo. Depressão está acabando com a vida de muita
gente isso é horrível tá cada vez mais comum um jovem morre de depressão isso
tem que acabar é muito sério e tem pessoas que ainda acha que depressão é
frescura que acha isso...” (além de casos adicionais de “isso” e de outros termos
repetidos).
Como já o dissemos, ainda que “depressão” remeta à frase temática e integre o
conjunto lexical que deve ser avaliado com flexibilidade, pode haver casos em que
a recorrência desse termo manifeste a falta de coesão no texto e funcione como
um indício, chamando a atenção do avaliador para a repetição de outros termos.
A repetição pode incidir sobre um mesmo termo, mas, muitas vezes, aparece de
forma generalizada. No caso de “jovens”, as ocorrências não tratam sempre do
mesmo referente, mas marcamos o termo nesse fragmento com o intuito didático
de ilustrar como a pouca habilidade em recorrer a sinônimos é outro indício de
coesão prejudicada pela repetição – o participante poderia ter utilizado
“adolescentes”, “menores de idade”, “estudantes” ou “crianças”, por exemplo.
Esse aspecto se intensifica de maneira significativa quando incide sobre um
operador argumentativo (veremos casos assim nos exemplos à frente), pois
prejudica sobremaneira a articulação dos argumentos, uma vez que repete
sempre a mesma relação semântica, a cada reprodução do mesmo elemento
coesivo, e revela o pouco domínio dessa Competência, tendo em vista que, se o
participante repete o vocábulo, ele o faz porque desconhece outras formas de
produzir coesão.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 38
Embora seja mais comum em substantivos e em operadores
argumentativos, a repetição também pode incidir em verbos, como é o caso
do já mencionado verbo “estar”, empregado sucessivas vezes no texto como
“tá”, “está” e “estão” e em adjetivos ou advérbios, como o caso de
“muito/s”, por exemplo, o que só confirma a escassez articulatória do texto.
Ressaltamos que ainda não estamos falando sobre a atribuição de um nível
específico às redações, porque o objetivo, neste momento, é compreender
o funcionamento da repetição, visando à identificação dos momentos em
que ela deve ser penalizada ou que pode ser tolerada. A partir do tópico 8,
apresentaremos redações completas, avaliadas integralmente em cada um
dos níveis da Competência em estudo, inclusive com outros casos de
repetição.
Na redação do Exemplo 19, veremos, agora, como o participante emprega
alguns termos reiteradas vezes, mas sem caracterizar repetição em seu
texto, muito embora palavras da frase temática e outros referentes
apareçam várias vezes ao longo da redação. O intuito é demonstrar que a
coesão pode ser construída de maneira eficiente, intercalando a recorrência
de uma mesma palavra com sinônimos, hipônimos, pronomes etc. Para
tanto, selecionamos três referentes, destacados em cores diferentes:
“Constituição de 1988” (colorido de rosa), “cidadãos” (colorido de azul) e
“doenças mentais” (amarelo), observando como eles vão sendo citados ao
longo da produção textual.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 39
Exemplo 19
1
No campo acadêmico, uma pesquisa linguística poderia defender a existência de referentes diferentes na
mesma cadeia de retomadas, por exemplo, quando se particulariza “cidadão” em “jovens e adolescentes”.
Entretanto, para a avaliação de redações em larga escala, especialmente no que diz respeito à influência da
repetição na construção da coesão, basta que o avaliador identifique a rede tecida entre os referentes (e entre
os argumentos) na superfície textual e se essa rede é costurada sempre com o mesmo ponto (o mesmo termo),
compondo um “bordado” de padrão repetitivo ou com nós e laços diferentes, como acontece nos textos
avaliados nos níveis mais altos, bordando um desenho rico em formas e nuances, que conduz o leitor a visualizar
o projeto argumentativo daquele texto. Por outro lado, em defesa da interpretação de que se trata da mesma
cadeia referencial, pode-se constatar que o participante poderia, por exemplo, ter utilizado “cidadãos” em
todas as ocorrências pintadas de azul, e o sentido permaneceria o mesmo, porque o referente é o mesmo,
embora, é claro, o texto incorresse em repetições penalizáveis e perdesse os contornos de seu “desenho”, o
que o manteria em um nível mais baixo na Competência IV.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 41
preposições e conjunções como “por”, “com” e “e” deve ser vista com parcimônia,
de acordo com o conjunto textual produzido pelo participante, e raramente será
motivo para baixar o nível de um texto. Alguns desses vocábulos (como “por”,
“com”, “e”, “que”) sequer são observados, a não ser na avaliação do nível zero.
Exemplo 20
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 42
Exemplo 21
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 43
ATENÇÃO
O Exemplo 23 NÃO se enquadra no conceito de inadequação, pois, nele observa-
se um tipo de ocorrência que é avaliada na Competência I como desvio de grafia
e avaliada como emprego adequado na Competência IV.
Exemplo 23
No Exemplo 23, o advérbio “mais” está no lugar do elemento coesivo “mas”, com
função adversativa nos trechos em que aparece (linhas 10 e 12). Isso ilustra uma
ocorrência em que verificamos o uso correto de um conectivo – nesse caso, com
função de operador argumentativo –, que, no entanto, se apresenta com um
desvio de grafia. Casos desse tipo, conforme visto no Módulo 3, são penalizados
na Competência I.
Sem querer apresentar uma lista de exceções – justamente porque muitas delas
são bastante polêmicas no âmbito dos estudos gramaticais –, decidimos assumir
alguns usos não canônicos, que serão aceitos na Competência IV sem penalizar
suas ocorrências como inadequação. São eles: “através de” (fora de contextos
literais), “o mesmo” (usualmente mobilizado em retomadas referenciais) e
“onde” especificamente relacionado à “sociedade” ou à ideia de “lugar virtual”
(site, blog, link...). A troca entre esse/este, isso/isto etc. também não será
penalizada. Os usos de “dessa forma”, “dessa maneira” e “assim”, em geral,
também devem ser avaliados em benefício do participante. No entanto, há
situações específicas em que o uso de “dessa forma” é flagrantemente
inadequado e deve ser penalizado, como ocorre no exemplo a seguir:
Exemplo 24
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 44
Em casos como o Exemplo 24, o conectivo “dessa forma” está inadequado e
deverá ser penalizado na nota atribuída, a depender da quantidade de
ocorrências desse conectivo e de outros também inadequados ao longo do texto,
caracterizando, assim, excessivas, muitas, algumas ou poucas inadequações. A
relação semântica entre as duas orações que ele articula é de oposição ou
contrariedade, o que demanda o emprego de um item coesivo adversativo, como
“porém” ou “entretanto”.
Por essas razões, uma vez identificada a presença de elementos coesivos, eles
devem ser sempre avaliados quanto à adequação no texto. Essa observação é
coerente com a ideia central na prática avaliativa da Competência IV, que valoriza
o funcionamento das relações semânticas (de oposição, de enumeração, de
causa-consequência etc.) na articulação de ideias e argumentos.
A relevância desse aspecto se dá, principalmente, na atribuição dos níveis 4 e 5.
Caso haja uma inadequação de qualquer tipo, o texto não poderá chegar ao nível
5, pois o descritor dessa nota na Competência IV não permite qualquer
inadequação coesiva. Além disso, caso se observe uma inadequação no único
momento em que o participante tentou fazer a coesão interparágrafos, esse
elemento coesivo não contará como válido, e esse texto não poderá ser avaliado
no nível 4, dado que seu descritor exige elemento coesivo interparágrafos em,
pelo menos, um momento da produção textual.
6.5. Monobloco
Por fim, abordaremos um último termo que figura na Grade Específica da
Competência IV: o monobloco.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 45
espaçamento no início e/ou no final de algumas linhas é um indício importante
para identificar se um texto foi escrito ou não em forma de monobloco – mas nem
sempre é o suficiente. Quando se identificam espaços no início e/ou no fim das
linhas, é necessário confirmar se há de fato um novo parágrafo, recorrendo a
evidências como estrutura sintática indicativa de início de um novo período e/ ou
letra maiúscula e/ou pontuação no fim da linha. A seguir, pode-se observar dois
exemplos de monobloco:
Exemplo 25
No Exemplo 25, observa-se um único recuo na primeira linha (há textos em que
nem esse primeiro espaçamento é observado), sem qualquer outro indício de
parágrafo até a última linha do texto. Embora haja breves espaços no fim das
linhas 10 e 16, a sintaxe, bem como a continuação da frase com letra minúscula
nas linhas subsequentes, comprovam que não há outros parágrafos nessa
composição textual.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 46
Exemplo 26
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 47
Exemplo 27
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 48
Em relação aos textos que se apresentam em forma de monobloco, algumas
considerações se fazem necessárias:
MONOBLOCO
Uma redação pode ser monobloco e, ainda assim, apresentar as três partes
do texto dissertativo-argumentativo (introdução, desenvolvimento e
conclusão). O monobloco diz respeito à falta de paragrafação, tratando-se,
pois, de um conceito espacial, a ser penalizado na Competência IV. Como
A estudado no Módulo 4, sua única interferência na Competência II ocorre
quando o corpo do texto de uma redação monobloco apresenta até 8
linhas, pois, nesse caso, apesar de não ser possível identificar as partes, há
ao menos uma delas embrionária.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 49
Em termos simples, pode-se dizer que isso acontece porque, para um texto ser
avaliado em um nível específico, ele tem que cumprir todos os requisitos (todos
os itens dos descritores na Grade Específica) desse nível. Se ele não satisfez esses
requisitos, então deve regredir até o nível que lhe cabe. Por exemplo: se um texto
hipotético apresenta “Presença expressiva de elementos coesivos inter e
intraparágrafo E raras ou ausentes repetições” (que é parte do descritor do nível
5 da Competência IV), mas também apresenta poucas inadequações (que é uma
característica do nível 4 da Competência IV), então ele deve ser enquadrado no
nível mais baixo – nesse caso, o nível 4 –, tendo em vista que o descritor do nível
5 exige que a redação não tenha inadequação alguma.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 51
8.1. Nível 0 (nota 0)
Exemplo 28
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 52
argumentativas que lhes caberiam. Nesse sentido, é importante lembrar que
ausência de articulação não significa ausência de elementos coesivos. Como
acabamos de notar, é possível encontrar redações em que se visualize a presença
até mesmo de operadores argumentativos como “porque”, que vemos nesse
exemplo, ou “mas” e “portanto”, espalhados pelo texto. Entretanto, a avaliação
qualitativa revela que eles estão inadequados ou simplesmente inertes na
produção escrita, portanto, não são considerados no repertório de coesivos
adequadamente mobilizados.
Além disso, ainda que algumas ocorrências do verbo “estar” fossem, na verdade,
o pronome “esta”, esse pronome também seria uma inadequação, pois não foi
empregado com seu sentido típico, não é possível recuperar qual referente ele
estaria retomando.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 53
8.2. Nível 1 (nota 40)
Presença rara de elementos coesivos inter e/ou intraparágrafo E/OU excessivas repetições
1
E/OU excessivas inadequações.
Exemplo 29
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 54
No caso do Exemplo 29, independentemente de existirem parágrafos (na linha 7,
por exemplo, parece haver um parágrafo), ele foi avaliado no nível 1 pela presença
rara de elementos coesivos, compostos, principalmente, por coesão elementar,
tal como se observa no emprego de “e” (linhas 5 e 11), “que” (linhas 4, 5 e 18) e
“seu melhor” (linha 15). Na avaliação desse texto, dois fatos merecem atenção:
conforme já mencionado, termos como “e” e “que” são casos de coesão
elementar, só considerada para distinguir os níveis 0 e 1; problemas na
concordância, como em “as maior partes das doenças”, são avaliados na
Competência I e não na IV.
Não há “excessivas repetições” e “excessivas inadequações”, outro aspecto
considerado no descritor do nível 1, embora se observe uma inadequação no
emprego de “A maior parte das [doenças mentais]” (linha 1), que não se liga, nem
mesmo cataforicamente, a qualquer elemento desse primeiro parágrafo
(poderíamos nos perguntar: A maior parte das doenças mentais o quê?). Mesmo
sem cumprir todo o descritor do nível 1, a presença rara de elementos coesivos é
determinante para que este texto seja avaliado, então, no nível 1 da Competência
IV.
Vejamos, a seguir, um perfil de texto bastante diferente, mas que também se
encaixa no nível 1.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 55
Exemplo 30
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 56
8.3. Nível 2 (nota 80)
Presença pontual de elementos coesivos inter e/ou Textos em forma de
2 intraparágrafo E/OU muitas repetições E/OU muitas monobloco não devem
inadequações. ultrapassar este nível.
Exemplo 31
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 57
com recursos que não são destacados além do nível 1, não foram marcadas todas
as retomadas e cadeias referenciais (evitando poluir o texto e desviar a atenção
dos operadores argumentativos), porém é possível constatar que o texto do
Exemplo 31 é visivelmente mais articulado do que o do Exemplo 30, de nível 1.
Por outro lado, ainda que não haja repetições nem inadequações no texto
analisado, que é uma característica de níveis mais altos, ele não pode ser avaliado,
por exemplo, no nível 3 porque a presença de elementos coesivos não se
enquadra na ideia de presença regular, mantendo-se um pouco aquém disso, na
presença pontual de elementos coesivos, confirmando o nível 2.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 58
Exemplo 32
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 60
8.4. Nível 3 (nota 120)
Exemplo 33
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 61
na linha 15), “Para” (linha 20, com sentido de “a fim de”), “esse preconceito”
(linha 20), “essa conscientização” (linha 23), “através de” (linha 25).
Observe-se que a expressão “Para que esse preconceito” (linha 20, junção do
operador argumentativo “para” com o elemento referencial “esse preconceito”)
funciona, nesse caso, como um recurso coesivo interparágrafos, por retomar a
questão do preconceito, apresentada nas linhas 1 a 6, e oferecer, na sequência,
uma possível resolução para essa situação. Esse caso é ilustrativo do uso de
muitos operadores argumentativos, como “além de”, “de acordo com”, “tendo
em vista o”, em que apenas o contexto específico de emprego pode determinar
se são intra ou interparágrafos.
Não há inadequações no uso dos itens coesivos; todos estão devidamente
empregados e contribuem para a articulação do texto. Não há, igualmente,
repetições no conjunto textual. O fator determinante na avaliação desse texto é
a “presença regular de elementos coesivos”, condição suficiente para enquadrá-
lo no nível 3 da Competência IV. Vale destacar também que o fato de o texto
apresentar um elemento coesivo do tipo “operador argumentativo” entre os
parágrafos, descritor do nível 4, poderia conduzir o avaliador a atribuir
equivocadamente ao texto uma nota mais alta. Entretanto, a presença regular de
elementos coesivos (característica do nível 3) impede que o texto alcance o nível
4, cujo descritor exige, além de pelo menos um elemento coesivo do tipo
“operador argumentativo” entre os parágrafos, a presença constante de recursos
coesivos intraparágrafo, aspecto não identificado na redação sob análise.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 62
Exemplo 34
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 63
(linha 30, retomando “projetos sociais” e “famílias”, nas linhas 28 e 29,
respectivamente).
Não há inadequações no que se refere ao uso dos itens coesivos, e, no que diz
respeito à repetição, observam-se as ocorrências do operador argumentativo
“para” (linhas 15, 18, 23, 26 e 29, com o sentido de “a fim de”), situação que se
enquadra no critério de “algumas repetições”, outra característica do nível 3, o
que também impede a avaliação do texto nos níveis mais altos.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 64
8.5. Nível 4 (nota 160)
Exemplo 35
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 65
“depressão” na linha 11), “também” (linha 15), “dele” (linha 15, referindo-se a
“indivíduo” na linha 14), “visto que” (linha 15), “ou” (linha 19), “para” (linha 20,
com sentido de “a fim de”), “isso” (linha 21, retomando a informação de que
“doenças mentais não são brincadeira ou algo que deva ser visto como frescura”
nas linhas 18 a 20), “recolocá-los” (linha 22), “como consequência” (linha 22).
Além disso, há operador argumentativo interparágrafos em um momento do
texto (“Portanto” – linha 18), não há repetições nem inadequações, mas, de
qualquer forma, o texto não poderia chegar à nota máxima porque, além de a
presença de elementos coesivos não chegar a ser expressiva, ele não apresenta
operadores argumentativos interparágrafos em, pelo menos, dois momentos do
texto. Por isso, é avaliado no nível 4.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 66
Exemplo 36
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 68
8.6. Nível 5 (nota 200)
Exemplo 37
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 69
A redação do Exemplo 37 apresenta repertório com presença expressiva de
elementos coesivos. O conceito de expressividade do repertório coesivo não diz
respeito à presença de termos pouco usuais, supostamente considerados um
indício de erudição ou sofisticação, como “adrede”, “debalde” e “a priori”. A ideia
subjetiva de “linguagem sofisticada” não é avaliada na Competência IV. Antes, ao
considerarmos a presença expressiva de elementos coesivos, observamos o uso
estratégico no emprego desses elementos, isto é, o texto se destaca pela
mobilização estratégica de conectivos, uma vez que estes provam-se significativos
para a concatenação dos períodos tanto intraparágrafo (dentro dos parágrafos)
quanto interparágrafos (entre os parágrafos), potencializando a argumentação
nos trechos em que funcionam como partícula coesiva.
No que concerne ao uso de elementos coesivos interparágrafos no texto em
análise, nota-se, em dois momentos diferentes, o emprego de operadores
argumentativos: em “Ademais” (linha 18) e em “Logo” (linha 25).
Vale lembrar que, para a atribuição do nível 5, segundo o descritor da Grade
Específica, há duas ressalvas indicadas por asteriscos: a necessidade de haver, na
redação, ao menos dois operadores argumentativos interparágrafos em
momentos diferentes do texto, requisito cumprido pela produção em questão,
além de haver pelo menos um elemento coesivo, que pode ser de qualquer tipo,
dentro de todos os parágrafos, o que também se observa na redação sob análise.
No que diz respeito ao uso de elementos coesivos intraparágrafo (a segunda parte
da ressalva na Grade Específica), constata-se que o texto apresenta, em todos os
parágrafos, emprego de variados tipos de coesão referencial e sequencial, dentre
os quais assinalamos os seguintes exemplos: no primeiro parágrafo, “Apesar de”
(linha 1), “seu artigo” (linha 1, referindo-se à “Constituição Federal”, também na
linha 1), “ainda” (linha 3), “relacionadas às” (linha 3, retomando “doenças
mentais”, na mesma linha 3), “Esse cenário” (linha 3, referindo-se ao contexto
explicitado no período anterior), “principalmente” (linha 4), “acerca de/essas
enfermidades” (linha 5, retomando “doenças mentais”, na linha 3), “bem como”
(linha 5), “para” (linha 5, com sentido de “a fim de”), “o que” (linha 6), “Por isso”
(linha 7), “no sentido de” (linha 8) e “esses estigmas” (linha 8, retomando os
aspectos negativos pertinentes às doenças mentais apresentados ao longo do
primeiro parágrafo).
No segundo parágrafo, “essa mentalidade” (linha 9, retomando a ideia de
preconceito em relação às doenças mentais descrita no parágrafo anterior), “por
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 70
exemplo” (linha 11), “a qual” (linha 11, para se referir a “essa mentalidade”, na
linha 9), “Tal panorama” (linha 11, retomando o conteúdo apresentado no
período anterior), “acerca de/essas doenças” (linhas 12 e 22, referindo-se a
“doenças psicológicas” na linha 10 e em outros momentos do texto), “ao passo
que” (linha 13), “suas reais” (linha 13, para se referir ao desconhecimento sobre
a existência das doenças), “grande parte da” (linha 13), “Com isso” (linha 14),
“parcela significativa dos” (linha 15, para se referir às pessoas afetadas por
doenças mentais), “ou” (linha 15) e “em decorrência do” (linha 16).
No terceiro parágrafo, “no tocante à” (linha 18), “Essa situação” (linha 19,
retomando o conteúdo do período anterior), “no qual” (linha 20, referindo-se ao
“jogo ‘Outlast’” na mesma linha), “sua ida” (linha 20, retomada de “jovem
repórter”), “o lugar” (linha 21, para se referir a “manicômio” na linha 20), “cuja”
(linha 22), “acerca de” (linha 22), “Assim” (linha 23), “com o objetivo de” (linha
23) e “Dessa forma” (linha 24).
No quarto e último parágrafo, “acerca de” (linha 25), “mediante” e “por exemplo”
(linha 26), “essa disseminação” (linha 27, retomando “divulgação” na linha 25),
“com o intuito de”, (linha 27), “dessas enfermidades” (linha 28, retomada de
“doenças mentais” na linha 26), “Além disso” (linha 28), “por meio de” (linha 29),
“a fim de” (linha 30) e “dessa maneira” (linha 30).
Desse modo, ele cumpre plenamente a segunda ressalva indicada pelos dois
asteriscos – haver elementos coesivos de qualquer tipo dentro de todos os
parágrafos. Em acréscimo, conforme preconiza nossa Grade Específica, devemos
verificar se, no texto em questão, todos os elementos coesivos foram empregados
corretamente, ou seja, se não há inadequações no uso do repertório coesivo. De
fato, no Exemplo 29, podemos observar que todos esses elementos cumprem
corretamente suas funções no texto, estabelecendo relações válidas de sentido
entre seus enunciados. Além disso, o texto não apresenta repetições, lembrando
que o nível 5 admite até “raras repetições”. Portanto, a redação deve ser avaliada
no nível 5 da Competência IV, já que há presença expressiva de elementos
coesivos inter e intraparágrafo e não apresenta repetições nem inadequações.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 71
9. ANÁLISE COMPARATIVA DAS
COMPETÊNCIAS III E IV
Antes de finalizarmos o Módulo, gostaríamos de retornar à questão levantada no
tópico 4 sobre a diferenciação entre as Competências III e IV. Para ilustrar a
independência na avaliação dessas duas competências em um mesmo texto,
analisaremos a redação a seguir.
Exemplo 38
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 72
Considerando a Competência IV, o texto do Exemplo 38 é avaliado no nível 5,
porque se observa presença expressiva de elementos coesivos, com uso de
operadores argumentativos interparágrafos (entre os parágrafos) em, pelo
menos, dois momentos do texto: “Além disso” (linha 16) e “Portanto” (linha 25),
bem como o uso de elementos coesivos intraparágrafo (dentro dos parágrafos)
em todos os parágrafos: “sua população” (linha 2, referindo-se ao “nível
nacional”, na mesma linha, que, por sua vez, se refere ao Brasil, país representado
pela “Constituição Federal de 1998”, na linha 1), “Todavia” (linha 2), “tal fato”
(linha 3), “onde” (linha 3), “assim como” (linha 4), “Outrossim” (linha 4), “parte
da” (linha 6 e 13), “sociedade brasileira” (linha 6, que retoma “população” e
“Brasil”, já citados nesta enumeração), “a exemplo da” (linha 7), “quadro clínico”
(linha 8), “Tal quadro clínico” (linha 9), “diante de” (linha 9 e 13), “Ademais” (linha
11), “a doença” (linha 12), “devido ao fato de” (linha 12), “tal problema” (linha
13), “dessas pessoas” (linha 14), “assim” (linha 15), “bem como” (linha 15), “seus
efeitos” (linha 15), “de acordo com” (linha 16), “mais de 5%” (linha 17),
“população brasileira” (linha 17, retomando “sociedade brasileira” e outros
sinônimos já mencionados nesta enumeração), “o que” (linha 17), “Tal índice”
(linha 19), “nesse quadro” (linha 20), “uma vez que” (linha 20), “nesse sentido”
(linha 21), “com a qual” (linha 22), “de forma a” (linha 23), “intensificando-os”
(linha 24), “os tornando” (linha 24), “para” (linha 26, com sentido de “a fim de”),
“pessoas acometidas” (linha 27), “estas” (linha 27, referindo-se à “doenças
mentais”, na linha anterior), “paralelamente a” (linha 27), “essas medidas” (linha
28), “no que se refere a” (linha 29) e “a fim de” (linha 30).
Nesse conjunto textual, vale a pena ressaltar as substituições referenciais de
“depressão” (linha 3): “todo o âmbito referente à saúde mental” (linha 4, que
abrange como um hiperônimo, o hipônimo “depressão”), “os conceitos de saúde
mental, doença mental e depressão” (linha 5), “as doenças mentais” (linha 7),
“depressão” (linhas 8, 17, 19 [“pessoas com depressão], linha 21, 22, que não
caracterizam repetição por estarem relacionadas à frase temática e, sobretudo,
por aparecerem em conjunto com sinônimos, hiperônimos etc.), “quadro clínico
que requer tratamento psíquico” (linha 8), “falsa sensação de [...]” (linha 10), “a
doença” (linha 12 e 23), “tal problema” (linha 13), “fruto da imaginação” (linha
14), “a real dimensão da doença” (linha 15), “seus efeitos” (linha 15), “quadros
ainda mais delicados e prejudiciais” (linha 24), “doenças mentais” (linha 26),
“doenças mentais / depressão” (linha 30).
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 73
Todo esse repertório coesivo confirma a excelente articulação do texto, sem
repetições nem inadequações, o que justifica sua avaliação no nível 5 da
Competência IV.
Considerando a avaliação da Competência III, o mesmo texto foi avaliado no nível
3, porque se caracteriza pela abordagem completa do tema (o elemento “doenças
mentais” [“depressão”] aparece na linha 3 e “estigma” na linha 5) e apresenta um
projeto de texto com algumas falhas E desenvolvimento de informações, fatos e
opiniões com algumas lacunas.
Com relação às falhas no projeto de texto, observa-se que o participante anuncia,
logo na introdução, que discutirá o fato de que a depressão é negligenciada pelos
órgãos competentes e que há um estigma generalizado na sociedade contra as
doenças mentais em geral. No entanto, ao longo do texto, ele privilegia discutir o
quanto a depressão é um quadro clínico sério (1º parágrafo) e o quanto ela tem
crescido na sociedade brasileira, bem como os efeitos da doença (2º parágrafo).
Ou seja, praticamente não trata do problema da negligência governamental e
discute apenas de passagem o estigma social no final do primeiro parágrafo. Do
mesmo modo, na conclusão, ele dá centralidade ao papel que o Ministério da
Saúde e o governo como um todo teriam em promover políticas de
"conscientização", mas, ao longo do texto, não discutiu o quanto faltam políticas
de discussão com a sociedade. Desse modo, o participante revela uma dificuldade
de selecionar as informações adequadas para a defesa do seu ponto de vista, bem
como de relacionar os argumentos apresentados à tese anunciada logo na
introdução.
Já em relação ao desenvolvimento, há algumas lacunas, como no segundo
parágrafo, em que se afirma que a depressão influencia no comportamento das
pessoas e prejudica as relações interpessoais, mas não se explica como isso se dá
concretamente; do mesmo modo, na conclusão, o participante afirma de modo
genérico que o Ministério da Saúde deve ter uma atenção direcionada para essa
problemática, mas não especifica que tipo de atenção deveria ser dada - cabendo
ao leitor, nos dois casos, preencher as lacunas deixadas pelo participante.
A partir da avaliação dessa redação, evidencia-se a independência entre as
Competências III e IV. Enquanto a Competência IV avalia as relações construídas
na superfície textual a partir da presença e do uso adequado dos recursos
coesivos, a Competência III observa relações de sentido mais profundas,
analisando se a escolha e a organização de argumentos foram estratégicas para a
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 74
defesa de um ponto de vista e se esses argumentos foram suficientemente
desenvolvidos para que sua interpretação não fique a cargo do leitor.
Com essa análise comparativa, esperamos ter contribuído para a especificação
dessas duas competências no momento da avaliação dos textos, auxiliando os
avaliadores na importante – e sempre complexa – tarefa de aplicar os critérios da
Grade Específica na avaliação das redações do Enem.
10. CONCLUSÃO
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 75
11. REFERÊNCIAS
ABAURRE, Maria Luiza; et al. Português: língua, literatura, produção de texto. São
Paulo: Moderna, 2000.
ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola, 2005.
AQUINO, Maria de Fátima de Souza. A coesão na tessitura textual: a avaliação do
emprego dos recursos coesivos. In: GARCEZ, Lucília Helena do Carmo; CORRÊA, Vilma
Reche. (org.) Textos dissertativo-argumentativos: subsídios para qualificação de
avaliadores. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira, 2017.
CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. São Paulo: José Olympio,
1965.
CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio
de Janeiro: Lexikon, 2014.
DUCROT, Oswald. Dizer e não dizer: princípios de semântica linguística. São Paulo:
Cultrix, 1977.
DUCROT, Oswald. O dizer e o dito. Campinas: Pontes, 1987.
EVARISTO, Conceição. Poemas da recordação e outros movimentos. Belo Horizonte:
Nandyala, 2008.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Principais mecanismos de Coesão Textual em
Português. Campinas: Cadernos de Estudos Linguísticos/UNICAMP. v. 15, pp. 7380,
1988.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1999.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São
Paulo: Contexto, 2013.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; ELIAS, Wanda Maria. Escrever e argumentar. São
Paulo: Contexto, 2016.
PEIXOTO, Jacqueline dos Santos. A avaliação do emprego de operadores e conectivos
argumentativos. IN: GARCEZ, Lucília Helena do Carmo; CORRÊA, Vilma Reche. (org.)
Textos dissertativo-argumentativos: subsídios para qualificação de avaliadores.
Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2017.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 76
ANEXO
GLOSSÁRIO DA COMPETÊNCIA IV
1. Intencionalmente, de propósito.
Adrede 2. Previamente.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 77
enclausurando-se em um mundo de solidão e de comportamentos
compulsivos.
(loc. adv.)
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 78
Obs.: por desempenharem ora função adverbial, ora função
adjetival, ambas incidindo de modo localizado em relação ao
termo/à expressão que predicam, não desempenham o papel de
elemento coesivo tal como se espera na construção da coesão.
Portanto, quando empregadas, respectivamente, no lugar de “em
primeiro lugar”/“em segundo lugar” ou
“primeiramente”/“posteriormente”, não serão aceitas como
elemento coesivo, nem consideradas inadequação.
De fato
Ex.: A eliminação do estigma contra doentes mentais está, de fato,
longe de ser conquistada no Brasil.
Obs.: não será aceito como elemento coesivo porque sua função é
mais predicar o referente do que retomá-lo.
Debalde
Ex.: Debalde, alguns políticos tentam implementar medidas mais
inclusivas para portadores de transtornos mentais no mercado de
trabalho.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 79
Desde... até...
Durante a... Ex.: Desde a primeiro caso de esquizofrenia descrito por Sigmund
Freud, a psiquiatria evoluiu bastante.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 80
Casos aceitos como elemento coesivo e como operador argumentativo
(podem ser empregados intra ou interparágrafos)
Dessa forma Ex.: O estigma contra doentes mentais acontecerá quando essas
pessoas forem capacitadas e tiverem a oportunidade de trabalhar
Desse modo
tanto em funções operacionais quanto nas áreas de gestão e de
supervisão. Assim, a sociedade passará a vê-las com naturalidade
e o preconceito diminuirá continuamente.
Com efeito:
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 81
2. Então; portanto; (sentido conclusivo, quando apresenta a
finalização/conclusão de uma ideia anterior).
1. Apesar de.
Ex.: Foi trabalhar, não obstante o ambiente deletério à saúde
mental em que desenvolvia suas atividades.
Não obstante
2. Contudo, apesar disso (do que foi antes mencionado).
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 82
Ex.: O chefe era um sociopata e assediava moralmente alguns
funcionários, não obstante, alguns relutavam em confrontá-lo.
* * * * * * * *
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ATENÇÃO: este uso de “para” não é aceito como operador
argumentativo:
Ex.: “A diminuição do preconceito é importante para a sociedade”.
Ex.: “Essa música é excelente para relaxar, muito útil para quem é
ansioso”.
MÓDULO 06 | COMPETÊNCIA IV 84
EQUIPE TÉCNICA
Ana Laura Gonçalves Nakazoni
Cristiane Borges de Oliveira
Deni Yuzo Kasama
Giovana Dragone Rosseto Antonio
Hélio de Oliveira
Isabel Cristina Domingues Aguiar
Jully Liebl
Larissa Satico Ribeiro Higa
Mahara Hebling
Mariana Masotti Cesari
Natália Alexandrino Rocha
Rafael José Masotti
Regina Claudia Garcia Oliveira de Sousa
Rodrigo Alves do Nascimento
Sidnei Francisco Soprano
COORDENAÇÃO ACADÊMICA
Tânia Cristina Arantes Macedo de Azevedo
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