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2022)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Sistema Estadual de Bibliotecas Escolares - SIEBE / SEDUC – PA
Semestral
ISSN: 2596-0431
Revista de relatos de experiência em foco do Centro de Formação dos
Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará (Cefor).
CDD - 22. ed
EDITORES
SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO
Nádia Eliane Cortez Brasil
(SAEN)
Sandra Lúcia Paris
Regina Lucia de Souza Pantoja
CONSELHO EDITORIAL
Esther Maria de Souza Braga
SECRETARIA ADJUNTA DE GESTÃO Francisco Augusto Lima Paes
DE PESSOAS (SAGEP) Nádia Eliane Cortez Brasil
Cleide Maria Amorim de Oliveira Martins Sandra Lúcia Paris
DIAGRAMAÇÃO
SECRETARIA ADJUNTA DE PLANEJA- Paulo Roberto Sousa David
MENTO E GESTÃO (SAPG)
CAPA
Delciene Loureiro Corrêa André Luís Pereira de Freitas
PARECERISTAS AD HOC
SECRETARIA ADJUNTA DE LOGÍSTICA Profª Ma. Ana Lúcia Brito
ESCOLAR (SALE) Profª Ma. Daniela de Nazaré Torres de Barros
Alexandre Buchacra Profª Ma. Esilene dos Santos Reis Arruda
Profª Ma. Esther Maria de Souza Braga
Profª Ma. Gláucia de Nazaré Baía e Silva
DIRETORIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA Profº Me. Roberto Pinheiro Araújo
(DEB) Profª Ma. Salier Juliane dos Santos Castro
Comissão Editorial
RESUMO
A experiência ora apresentada cumpriu a finalidade de atender às dinâmicas organizadas pela equipe regional do
Pará que participa anualmente da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Há três anos a Escola Estadual de
Ensino Médio Júlia Passarinho representa o município de Cametá neste evento, com o propósito de desenvolver
práticas que visem refletir aspectos relacionados à ciência e à tecnologia na realidade discente. Integrados ao
projeto “A ciência no cotidiano: território propício à transversalidade” (SNCT-Pará 2021), os discentes da referida
instituição foram convidados a visitar e cartografar diferentes ambientes que caracterizam os cenários que
movimentam o setor econômico da região de Cametá, num processo de pesquisa em atividades como: a coleta do
açaí, a produção de farinha e a captura do pescado. Ao retornarem à realidade de sala de aula, o propósito de aliar
a prática vivenciada às reflexões teóricas que corroboram para a compreensão da realidade foi crucial para
ressignificar a experiência proposta na SNCT e o cotidiano educacional em diferentes componentes curriculares. O
projeto foi desenvolvido ao longo do ano letivo encerrando na I Mostra Científico-Cultural em dezembro de 2021
exibindo webdoc’s, palestras e apresentações refletindo sobre temáticas relevantes durante o processo.
1 INTRODUÇÃO
1
Mestre em Ciências da Comunicação pelo programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia
(UFPA); e especialista em Língua Portuguesa: Uma Abordagem Textual (UFPA); especialista em Gestão Escolar
(UFPA). Integrante do Grupo de Pesquisa em Processos de Comunicação (PESPCOM/UFPA). Docente de Lín-
gua Portuguesa na rede estadual e municipal da Educação Básica do Estado do Pará, em Cametá (PA).
2
O projeto alcançou dez municípios paraenses: Abaetetuba, Ananindeua, Belém (capital), Bragança, Santarém,
Cametá, Castanhal, Igarapé-Açu, Igarapé-Miri e Irituia.
3
MLink de acesso aos vídeos no site da SNCT Pará: https://snctpara.ufpa.br/acervo/.
4
Interessante reflexão sobre esta temática, do ponto de vista da pesquisa qualitativa, pode ser ratificada em YIN,
Robert K. Pesquisa qualitativa do início ao fim. Porto Alegre, Penso, 2006, p. 134.
Gráfico 1 - Dados compilados em conversas informais de sala de aula, durante a orientação para a imersão no
campo, em junho de 2021.
Fonte: Compilação do autor
No âmbito dos saberes pedagógicos em crise, ao recolocar questões tão relevantes agora
quanto foram na década de 60, Freire, como homem de seu tempo, traduz, de modo lúcido
e peculiar, aquilo que os estudos das ciências da educação vêm apontando nos últimos
anos: a ampliação e a diversificação das fontes legítimas de saberes e a necessária
coerência entre o “saber-fazer é o saber-ser-pedagógicos” (Prefácio de Pedagogia da
Autonomia, 1996, p. 7).
5
Paneiro feito de talas extraídas de árvores na zona ribeirinha do município de Cametá.
Imagem 01 - Apresentação da proposta da SNCT 2021 aos alunos concluintes na EEEM Júlia Passarinho.
Fonte: Acervo do projeto.
7
Webdocumentário: produto cultural com linguagem documental, criado para o cinema e para a televisão e, re-
centemente, adaptado para a rede da Internet.
É importante ressaltar que, durante o processo de investigação científica das equipes nas
diferentes ambiências visitadas, nem sempre todos tiveram êxito em seus projetos previamente
registrados. Muitos foram os entrevistados que se recusaram a gravar as entrevistas ou
aparecer nos vídeos; alguns desses registros foram socializados em sala somente de forma oral,
o que não inviabilizou a importância desse momento, pois incentivou a equipe a ir em busca de
novos sujeitos a serem entrevistados e compreender que nem sempre um projeto que traçamos
virá a dar certo da maneira exata como fora pensado.
Desse modo, em dezembro de 2021 várias turmas foram mobilizadas a fazer uma
exposição de todo o trabalho desenvolvido na instituição ao longo do ano letivo e muita riqueza e
sabor científico estavam presentes no evento8. Foram exibidos a todos os alunos e convidados
presentes as práticas investigadas e registradas nos webdoc’s9 produzidos pelos alunos-
pesquisadores.
Além das palestras dos professores da instituição, com o olhar transversal das várias
áreas do conhecimento, ouvimos, a partir da Matemática, Biologia, Filosofia, Química, Língua
Portuguesa, Literatura, Arte e outras, como se constrói o universo da ciência sob um prisma que
se articula e se cruza com vários componentes curriculares. Buscamos fazer com que os alunos
entendessem que não se faz pesquisa somente por fazer e que há a necessidade de
compreendermos que os produtores da farinha, os cultivadores de hortaliças e os apanhadores
de açaí e do pescado nas realidades investigadas, têm consciência de que produzem e fazem
8
Alguns estandes exibiam trabalhos e pesquisas realizados a partir do componente curricular de Arte.
9
ALinks de acesso nos canais do You Tube: https://www.youtube.com/watch?v=N4y4clxHBPk; https://
www.youtube.com/watch?v=Xf_driNFSbA; https://www.youtube.com/watch?v=-2zBLRbrB5E; https://
www.youtube.com/watch?v=k5ZhTF9SVho; https://www.youtube.com/watch?v=-aeldENpWCk; https://
www.youtube.com/watch?v=uZHQ1Vj795c.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensar, configurar e implementar estratégias cada vez mais interessantes no universo de
nossas instituições escolares nunca se fez tão necessário como em tempos hodiernos. Diante
de tantos recursos tecnológicos e informações disponíveis nas mídias, reside a importância de
tornarmos cada etapa vivida pelos nossos alunos em nossa sala de aula, e as práticas
educativas que acontecem fora dela, mais atraentes e instigadoras de conhecimento.
A Base Nacional Comum Curricular é bastante enfática ao pontuar que devemos ter
cautela ao trabalhar com este público, que nem pode ser considerado infanto, tampouco um
adulto em formação, pois não são sujeitos em uma “passagem da infância à maturidade”.
Entrementes, constituem-se agentes a serem considerados em suas múltiplas dimensões
(social, histórica, cultural etc.) e, portanto, devem ser vistos como sujeitos diversos, dinâmicos e
participantes (BRASIL, 2018, p.462).
Nesse ínterim, ao estilo freireano, buscamos articular as mais diversificadas experiências
científicas que acontecem entre os diferentes eixos curriculares para, com os alunos,
compreendermos o funcionamento e a dinâmica do processo científico dentro e fora de sala de
aula.
Registramos ambiências, práticas, saberes, mas, acima de tudo, registramos sentimentos,
comportamentos, que ressignificaram as práticas científicas arroladas no senso comum e que
atribuem sentido e relevância às práticas científicas nas academias e instituições educativas.
BACICH, L. MORAN, J. (Orgs.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma
abordagem teórico-prática [recurso eletrônico]. Porto Alegre: Penso, 2018. e-PUB.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Educação é a Base. Ensino Médio. Brasília:
Ministério da Educação, 2018.
Freire, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:
Paz e Terra, 1996.
MORAN, J. M. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. 5. ed.
Campinas: Papirus, 2014.
YIN, Robert K. pesquisa qualitativa do início ao fim. Porto Alegre: Penso, 2016.
RESUMO
Neste relato de experiência pode-se verificar avanços significativos a partir da arte com um aluno durante os
atendimentos especializados do Serviço de Atendimento Educacional Especializado (SAEE) que o tornaram
protagonista de práticas e processos de criação que, ao longo do plano de desenvolvimento individual elaborado
para ele, possibilitaram-no socializar suas produções e o auxiliaram a amenizar suas dificuldades escolares, de
aprendizado, comunicação e socialização.
1 INTRODUÇÃO
A escola Vera Simplício fica localizada na Rua do Una no Bairro Telégrafo em Belém/PA.
Atualmente, atende a uma clientela estimada em 600 alunos nos turnos da manhã e da tarde;
seu principal público são crianças oriundas de bairros periféricos da cidade (Vila da Barca,
Barreiro, Acampamento, etc.).
Ela possui um corpo técnico completo, assim como a equipe docente, sua gestão é
democrática e participativa e, por ser uma escola inclusiva, recebe muitas demandas de alunos
com necessidades educacionais especiais, tais como autistas, cegos, crianças com
incapacidade motora cerebral, com síndrome de down, com deficiência no processamento
auditivo central (DEPAC), com deficiência intelectual e com déficit de aprendizagem. Estes
estudantes, além da sala de aula regular, recebem o atendimento especializado.
1
Professor do SAEE/SEDUC
2
Professora do SAEE/SEDUC
André, embora com muitas dificuldades na escola sempre foi um aluno dedicado, assíduo
e participativo e em todo esse processo teve apoio da família que nunca mediu esforços para
que sua total integração fosse possível. Notou-se, também, outra característica muito
interessante do aluno em questão: a predisposição e interesse pela arte, principalmente a
pintura de quadros à mão livre; suas habilidades o destacavam tanto na sala de aula regular,
nas aulas de Arte, quanto no SAEE, frequentado no contraturno de sua escolarização.
O plano de ação desenvolvido no SAEE foi então voltado para esses momentos de
imersão artística e conversas sobre o dia a dia de André e suas dificuldades, uma vez que se
comunicava melhor desta forma; ressalta-se também que havia sempre um bom canal de
comunicação com a área de saúde, a qual André era assistido e sua família.
Portanto, foi possível verificar avanços significativos a partir da arte com o aluno, uma vez
que o tornamos protagonista de práticas e de processos de criação que, ao longo desse plano,
possibilitaram-no socializar suas produções em sua sala de aula com seus colegas de classe e,
posteriormente, com o restante das turmas da escola em sua própria exposição com visitas
dirigidas e mediadas por ele.
2 DISCUSSÃO TEÓRICA
Em primeira instância, entendamos o Serviço de Atendimento Educacional Especializado
como recurso escolar importante para o desenvolvimento do aluno com deficiência, instituído no
DECRETO nº 6.571 de 17 de setembro de 2008 para um sistema educativo mais democrático e
efetivo:
3
Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
Para Moura e Souza (2015), a inclusão escolar envolve não somente princípios e
procedimentos para inserção, eliminando barreiras e bloqueios para o acesso, mas, sobretudo,
mudanças atitudinais, posturais do educador e dos grupos sociais, garantindo a permanência
nas classes regulares, aperfeiçoando e otimizando a educação em benefício dos alunos com e
sem necessidades educacionais especiais.
A inclusão rompe com paradigmas que sustentam o conservadorismo das escolas e com o perfil de
aluno ideal, pois elimina modelos específicos e contesta a seleção de eleitos para frequentar a
escola, provoca o professor a novos saberes e os gestores a adequação, pois uma escola inclusiva
precisa pretender o aluno PcD e não a chegada do mesmo para adequar-se (MOURA; SOUZA,
2015, p. 5)
Durante esse processo, foram registrados os avanços e dificuldades a cada encontro com
o aluno individualmente e também em sua sala de aula até chegarmos à culminância dessa
experiência. André era um aluno agitado, com muitas dificuldades de aprendizagem e mudanças
de comportamento abruptas, ora era comunicativo e participativo e em outros momentos
introspectivo e sem motivação, tinha muitas dificuldades em se relacionar com outros colegas,
não participava de rodas de conversas ou atividades coletivas, procurando sempre se isolar da
turma e dos professores.
Além disso, embora já alfabetizado, tinha dificuldades de inferir textos um pouco mais
elaborados e acumulava incompreensões em matemática. O Conselho Estadual de Educação
(CEE/PA) determina que essa avaliação do desempenho escolar do aluno deve constatar os
avanços acadêmicos alcançados pelo estudante, prevendo intervenções pedagógicas
elaboradas exclusivamente para ele, competências, habilidades, conhecimentos adquiridos no
decurso de sua escolarização e frequência mínima de 75% na escola, igualmente aos demais
alunos.
A educação, por meio da escolarização, consolidou-se nas sociedades modernas como um direito
social, ainda que não tenha sido universalizada. Concebida como forma de socializar as pessoas de
acordo com valores e padrões culturais e ético-morais da sociedade e como meio de difundir de
forma sistemática os conhecimentos científicos construídos pela humanidade, a educação escolar
reflete um direito e representa componente necessário para o exercício da cidadania e para as
práticas sociais (BRASIL, 2013. p 150).
Utilizar das Artes nos atendimentos especializados é uma estratégia interessante, pois,
por não ter a obrigatoriedade do currículo de Arte a ser cumprido neste horário, são colocadas
3
NEste relato se refere ao período que se inicia no segundo semestre de 2021 e se conclui no primeiro bimestre
de 2022 quando a experiência com André aconteceu e quando começaram a ser analisados e avaliados todos os
processos.
Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual,
sonora e digital –, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em
diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao diálogo, à resolução de conflitos e à
cooperação (BRASIL, 2018, p. 65).
3 PERCURSO METODOLÓGICO
A partir da observação em sala de aula e outros espaços escolares, principalmente nas
aulas de Arte, verificamos que o aluno tinha grande interesse pelas Artes Visuais. André trazia
de casa informações já previamente pesquisadas, sobre técnicas, História da Arte e produções
artísticas; o hobby rapidamente se tornou principal assunto nos atendimentos do SAEE, assim,
partindo desse ponto inicial, foi desenvolvido um plano de atendimento.
Nesse plano, ora eram apresentados a André textos, imagens, filmes e animações, que
exploravam muitos e diferentes recursos visuais, ora eram oferecidos materiais diversos para
produção artística; logo verificamos que sua maior afinidade estava na pintura de quadros,
usando tinta guache escolar sobre tela, e modelagem com cerâmica fria (biscuit).
O primeiro é o domínio das imagens como representações visuais: desenho, pintura, gravuras,
fotografias e as imagens cinematográficas, televisivas, holo e infográficas pertencem a esse
domínio. Imagens, nesse sentido, são objetos materiais, signos que representam o nosso ambiente
visual. O segundo é o domínio imaterial das imagens na nossa mente. Neste domínio, imagens
aparecem como visões, fantasias, imaginações, esquemas, modelos, ou, em geral, como
representações mentais (SANTAELLA; NÖTH, 1998, p.15).
Após essa primeira experiência, sugerimos ao aluno que compartilhasse seus resultados
com sua turma e professores, para que expressassem suas opiniões; a partir da socialização
dos seus trabalhos, André passou a protagonizar uma experiência de reconhecimento e
identificação com o grupo pelas impressões apresentadas a ele, de forma positiva,
principalmente pelo fato dos demais alunos passarem a enxergá-lo como artista e até sugerirem
outras perspectivas de pintura.
A valorização pela qual o aluno passou com sua experiência em compartilhar sua arte o
remeteram a uma nova tendência na pintura, cores mais vivas, paisagens mais alegres e
principalmente a ânsia de compartilhar sua produção.
CONCLUSÃO
Ao término de todo processo, ficou evidente a possibilidade de ressignificar a condição do
aluno, principalmente pelo fato do trabalho coletivo dos profissionais que o acompanhavam e a
sensibilidade em aproveitar seu objeto de interesse para diminuir suas condições de déficit de
aprendizagem e ansiedade; além de estimular a autoestima do André, provando que o aspecto
socioemocional do aluno influi em seus rendimentos escolares.
Embora André continue frequentando o SAEE em nossa escola, hoje ele cursa o sexto
ano do Ensino Fundamental em outra unidade escolar perto de sua casa; sua transição está
sendo tranquila e ele está se adaptado com seus novos amigos e professores, continua
praticando a arte como ferramenta de transformação de sua condição e vem tendo avanços
significativos nas áreas de conhecimento, dessa forma podemos afirmar que a vinculação da
tríade de sala de aula regular, SAEE e Arte fora responsável pela amenização de muitos de
seus problemas. André ainda tem um caminho promissor a traçar em toda sua trajetória e
ficamos felizes em poder ter feito parte do início dela.
REFERÊNCIA
MOURA. Simone; SOUZA. José. Auto do Círio, uma experiência de inclusão por meio da
arte na escola Vera Simplício. Anais do XXV CONFAEB, III Congresso Internacional da
Federação de Arte/educadores. Fortaleza, CE, 2015.
SANTAELLA, Lúcia; NÖTH, Winfried. Imagem, cognição, semiótica, mídia, Iluminuras, São
Paulo, 1998.
RESUMO
Compartilho uma experiência que tem sido referência para o desenvolvimento da competência leitora dos alunos do
6º ao 9º ano dos anos finais do ensino fundamental da Escola Estadual Ruth Passarinho. O Projeto Tarde de
Autógrafo “Ler é uma aventura” vem sendo desenvolvido na escola desde o ano de 2019 e tem como objetivo
principal despertar o desejo pela leitura. A 1ª versão do projeto, desenvolvida em 2019 e 2020, culminou com a
publicação de um livro de autoria dos próprios alunos que reúne as produções textuais realizadas em sala de aula
durante as aulas de língua portuguesa. O livro foi publicado em fevereiro de 2020 pela Editora Dalcídio Jurandir do
IOEPA. Em 2021, foi desenvolvido uma 2ª versão do projeto que culminou com a confecção de um Portfólio dos
textos produzidos em sala de aula, hoje disponível na biblioteca da escola para uso dos estudantes. Hoje já
estamos trilhando novos caminhos para a 3ª versão do projeto Ler é uma aventura, uma vez que tem sido de muita
relevância para a comunidade escolar e valorização das capacidades de leitura e escrita de nossos alunos e tem
contribuído para a formação de alunos leitores e escritores.
1 INTRODUÇÃO
Na concepção interacional (dialógica) da língua para Koch; Elias, (2009, p. 10), “os
sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, sujeitos ativos que dialogicamente se
constroem e são construídos no texto, considerando o próprio lugar da interação e da
constituição dos interlocutores.” Esse texto reflete um pouco das minhas vivências de sala de
aula como professora de língua portuguesa no processo de formação de alunos leitores e
escritores. Experiências que a cada ano letivo se aperfeiçoam e vão ganhando novos rumos
com o intuito de despertar no aluno o prazer pela leitura nas aulas de língua portuguesa.
De acordo com a autora, a criança é vista como um sujeito histórico e de direitos, que
interage e constrói sua própria identidade. Um ser que brinca, imagina e deseja. Um ser que
narra sua história, produz conhecimentos e constrói seu próprio saber. E é nessa perspectiva de
ser criança como sujeito ativo e autor da sua própria história, que busco descrever neste relato o
processo de formação de alunos leitores e escritores que vem sendo desenvolvido na Escola
Estadual Ruth Passarinho da USE 08. A escola está localizada na Passagem Torres, SN, no
bairro Curió-Utinga, Belém - Pa, bairro de periferia de Belém que atende estudantes oriundos de
comunidades ribeirinhas do rio Guamá, nas proximidades da estrada da Ceasa e das
1
Graduada em Licenciatura Plena em Letras – UFPA. Graduada em Pedagogia – UNAMA. Professora da rede
estadual de ensino do Estado do Pará – SEDUC. Técnica em Gestão Pública – SEMAS/PA. Especialista em Psi-
copedagogia–Universidade Estadual do Vale do Acaraú. E-mail:oleidiane@yahoo.com.br.
O projeto surgiu com foco nas leituras de textos literários e atualmente tem também enfoque
nas linguagens tecnológicas digitais, na cultura de hipertextos na sala de aula, considerando o
novo cenário que vivemos devido à necessidade de ensino remoto por causa da pandemia do
Novo Coronavírus. Nesse sentido, o projeto, em 2021, objetivou relacionar os textos literários
com os hipertextos na sala de aula. Trabalhamos com a charge digital, memes, blogs, paródias,
vídeos-minutos e outros textos digitais que possibilitam os multiletramentos na escola.
Com o avanço da sociedade digital, nossos alunos não são mais os mesmos, estão cada
vez mais integrados às novas tecnologias digitais, o que exige da escola outros métodos de
aprendizagem, para integrar os textos digitais com os textos impressos. Diante desse novo
cenário mundial, senti a necessidade de incluir cada vez mais a cultura digital na sala de aula,
4
Lei nº13.415, de 16 de Fevereiro de 2017. Altera as Leis nºs 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece
as diretrizes e bases da educação nacional, e 11.494, de 20 de junho 2007, que regulamenta o Fundo de Manu-
tenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, a Consolidação
das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e o Decreto-Lei nº 236,
de 28 de fevereiro de 1967; revoga a Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005; e institui a Política de Fomento à
Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/
legin/fed/lei/2017/lei- 13415- 16-fevereiro-2017-784336-publicacaooriginal-152003-pl.html Acesso: 9 de dezembro
de 2021.
Vale ressaltar que a BNCC define competências gerais para a educação básica que
orientam as habilidades, conhecimentos, atitudes e valores que todos os alunos devem
desenvolver ao longo da sua formação. Uma das competências gerais da BNCC é compreender,
utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação, o que exige dos estados e
municípios investimentos em tecnologia na escola, disponibilização de wi-fi, equipamentos
(datashow, tablets, computadores), para o desenvolvimento das atividades de leitura e escrita na
escola com maior dinamicidade.
O referido relato tem como objetivo contribuir para a atuação do professor de língua na
sala de aula, voltado para estudantes do 6º ao 9º anos finais do ensino fundamental, a partir de
experiências simples, mas possíveis de serem desenvolvidas e aperfeiçoadas, por meio da
criação e recriação de textos na sala de aula, a fim de que
[...] a experiência da literatura – e da arte em geral – possa alcançar seu potencial
transformador e humanizador, é preciso promover a formação de um leitor que não
apenas compreenda os sentidos dos textos, mas também que seja capaz de fruí-los. Um
sujeito que desenvolve critérios de escolha e preferências (por autores, estilos, gêneros) e
que compartilha impressões e críticas com outros leitores (BRASIL, 2018, p. 156).
2 DISCUSSÃO TEÓRICA
Como professora de língua portuguesa, sempre tive uma preocupação muito grande no
que ensinar e como ensinar. Nos últimos anos, meu objetivo tem sido cada vez mais contribuir
para o desenvolvimento da competência comunicativa dos estudantes, utilizando estratégias
com vistas a sanar suas dificuldades de aprendizagem e auxiliá-los no processo de formação de
leitores críticos, capazes de exercer sua autonomia no uso da linguagem.
Os anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) é a etapa que além de buscar o
aprofundamento e ampliação do repertório do aluno, tem como foco o desenvolvimento da
autonomia. Um dos objetivos de ensino da língua portuguesa é desenvolver a competência
leitora dos alunos, de modo que este aluno desenvolva habilidades de expressão oral e escrita,
de leitura, de produção textual e aprenda compartilhar suas experiências locais e regionais por
meio da linguagem em diferentes situações comunicativas do cotidiano. Este é o desafio não só
do professor de língua como dos demais professores de outras áreas de conhecimento que têm
também a responsabilidade de ampliar as capacidades expressivas dos alunos.
Além disso, a BNCC (BRASIL, 2018, p. 19) propõe “incorporar aos currículos e às
propostas pedagógicas a abordagem de temas contemporâneos que afetam a vida humana em
escala local, regional e global, preferencialmente, de forma transversal e integradora.”
Entendo que meu papel como professora sempre foi contribuir para a formação de
pessoas críticas e não apenas transmitir conteúdo. Aprendi durante todo o meu processo de
atuação docente que o professor de língua portuguesa é aquele que busca possibilitar aos
estudantes práticas diversificadas de linguagem, para o desenvolvimento habilidades de
oralidade, de leitura, de escrita, de produção textual e de análise linguística e literária.
Nessa perspectiva, a prática que venho desenvolvendo na escola estadual Ruth Passarinho
tem considerado a interação professor-aluno e aluno-professor como fator determinante no
processo ensino-aprendizagem da língua portuguesa. Vale ressaltar, que a compreensão que o
professor tem de sujeito e de língua, influencia no processo de ensino e aprendizagem, logo, se
o aluno é visto como sujeito, autor da sua própria história, o ensino da língua portuguesa passa
também a ser visto como processo de interação entre os interlocutores.
Paulo Freire discorre, que ensinar está intimamente ligado à produção das condições
pertinentes de um aprender crítico, envolvendo os sujeitos do processo (FREIRE, 1996). Isto é,
ensinar é muito mais que formar o ser humano em sua destreza, mas é estar atento para a
formação ética dos alunos, de modo que possam estimulá-los a uma reflexão crítica da realidade
em que estão inseridos.
Içami Tiba (2011, p.103) em diálogo com a proposta Freireana de que o processo de ensino-
aprendizagem é um profundo movimento de mutualidade entre educador/educando, que “Em
qualquer ocasião, sempre há alguém ensinando e outro aprendendo, direta ou indiretamente”,
ou seja, o “Educador não é somente aquele que se propõe a ensinar” (TIBA, 2011, p.104).
Portanto, ensinar vai além do conteúdo a ser ensinado, pressupõe uma relação dialógica na sala
de aula, em que o professor propõe e o aluno produz a partir de suas experiências.
Irandé Antunes (2003, p. 37) também explica sobre esse novo perfil de ser um professor,
como sendo um “novo perfil do professor que deve ser um ‘pesquisador’, que, com seus alunos
Os textos são vistos como hiper, ou seja, não têm mais caráter único, eles são múltiplos.
São interativos, colaborativos e híbridos, o que faz com que o ensino também mude, uma vez
que trabalhar com esses tipos de textos requer estratégias metodológicas inovadoras para
desenvolver no aluno mais habilidades de leitura e mais vivências com variedades de textos que
circulam no meio social.
Autores como Rojo e Moura explicam multiletramentos como textos que possuem um
caráter multi “um dos mais destacados funcionamentos desses novos textos que requer novos
letramentos é seu caráter multi, mas hiper: hipertextos, hipermídias” (ROJO E MOURA, 2012 p.
21).
Nessa perspectiva de multiletramentos, os hipertextos colocam novos desafios aos
professores e alunos, pois exigem de ambos, o multiletramento, muito mais que a leitura de
textos, e sim a leitura de mundo, o que exige do leitor o esforço para inferir, preencher lacunas e
utilizar todo o seu conhecimento enciclopédico.
A BNCC (BRASIL, 2018, p, 136, grifo nosso) também propõe multiletramentos na prática
educativa:
Nos Anos Finais do Ensino Fundamental, o adolescente/jovem participa com maior
criticidade de situações comunicativas diversificadas, interagindo com um número de
interlocutores cada vez mais amplo, inclusive no contexto escolar, no qual se amplia o
Nesse contexto, as práticas de leitura e escrita que vêm sendo desenvolvido nas aulas de
língua portuguesa são práticas que exigem um novo olhar para o processo de ensino e
aprendizagem. Busca-se desenvolver práticas inovadoras de leitura e de escrita na escola. E é
nessa perspectiva que a escola Ruth Passarinho passa a ter novos desafios para que de fato
ocorra o desenvolvimento da competência leitora.
Com o avanço do acesso às tecnologias digitais, cabe ao professor de língua portuguesa
adotar um novo enfoque na sua formação e assim possa reconhecer o potencial dos alunos
enquanto protagonistas na construção do conhecimento, de modo que os alunos se tornem
agentes culturais ativos para viver numa sociedade pós-contemporânea.
3 PERCURSO METODOLÓGICO
No ano de 2021, com o retorno das aulas presenciais nas escolas públicas, deu- se
continuidade ao desenvolvimento do projeto Tarde de Autógrafo “Ler é uma aventura” a partir da
metodologia de criação e recriação de textos nas aulas de língua portuguesa, por meio da ação
escrita-feedback-reescrita de textos produzidos pelos alunos. Busquei desenvolver estratégias
metodológicas de leitura e escrita, em que a partir da leitura de textos diversos, o aluno recriava
outros textos, dando novo sentido a eles, ou seja, busquei orientá-los para as produções e
recriações de suas próprias autorias. Normalmente, os textos eram corrigidos pelos alunos, após
as observações feitas pelo professor, e quando estes estavam compreensíveis e organizados,
eram selecionados para compor a coletânea de textos ao final do ano letivo.
Legenda: (1) Portfólio na biblioteca da escola (2) Criação e recriação de textos em sala de aula (3) Produção de
aluno com deficiência - PcD,(4) Exemplo de Conto em Cordel (5) Linguagem de internetês (6) Autógrafo do livro na
24º Feira Pan Amazônica do Livro /2021.
Fonte: Compilação do autor (2021)
4 RESULTADOS
Com o projeto “Ler é uma aventura”, a leitura foi ganhando mais espaço nas aulas de língua
portuguesa, o espaço da biblioteca passou a ser mais valorizado, incentivou-se o hábito de ler
na biblioteca com mais frequência, seja por intermédio do professor, seja por livre iniciativa do
estudante. Aos poucos vem se intensificando na escola o hábito da leitura.
Entretanto, o resultado do projeto não pode ser mensurado ainda, por ser um processo
lento, com várias interrupções devido à pandemia do Novo Coronavírus. Sabe-se que nossos
alunos retornaram à sala de aula com mais dificuldades do que antes, menos concentração,
menos hábito de leitura e mais acesso ao celular. A escola tem o desafio de despertar esse
prazer pela leitura e continuar estimulando novos processos de aprendizagem de forma mais
Ainda assim, entendo que o objetivo do Projeto vem sendo alcançado, mesmo que
lentamente; adquirir o hábito e o prazer pela leitura é um processo contínuo, que deve ocorrer
tanto no meio escolar, quanto no meio familiar.É importante destacar, que o envolvimento da
família pode fazer toda a diferença. Há a necessidade de se criar mais estratégias de
envolvimento dos pais/responsáveis no acompanhamento das atividades de seus filhos, tendo
em vista que a família precisa fazer parte do processo de aprendizagem dos filhos, o que poderá
auxiliar a sanar as dificuldades dos estudantes. Acreditamos, então, que família e escola devem
educar juntas e a escola, por sua vez, deve envolver a família em projetos escolares, visando
assim a melhores resultados.
CONCLUSÃO
Sabemos que para o hábito e o prazer pela leitura na escola requer uma mudança de
postura do professor de todas as áreas de conhecimento, a fim de que este alcance mudanças
significativas no processo de ensino e aprendizagem. O professor de língua portuguesa,
especialmente, precisa além de ensinar gramática, possibilitar o desenvolvimento de uma atitude
crítica no aluno, preparando-o para a leitura do seu mundo e todos os mundos possíveis. Sobre
isso Koch (2011 p. 157), já dizia que o
importante é o aprendiz notar que cada nova leitura de um texto lhe permitirá desvelar
novas significações, não detectadas nas leituras anteriores. Esse fato poderá, inclusive,
servir-lhe de motivação, despertando-lhe maior gosto pela leitura ao perceber que, pela
reconstrução que ele próprio faz do texto, acaba por recriá-lo, tornando-se por assim dizer,
o seu coautor.
ANTUNES, Irandé. Aula de Português: encontro & interação. São Paulo: Parábola Editorial,
2003.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ministério da Educação. Brasília, DF: MEC, 2018,
p. 15-135.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Argumentação e Linguagem. Algumas reflexões sobre o
ensino da leitura. São Paulo: Cortez, 3º ed., 2011.
KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e Compreender: os sentidos do texto. São
Paulo: Editora Contexto, 2009.
MARCUSCHI, Luis Antônio & XAVIER, Antônio Carlos (Orgs.). Hipertextos e Gêneros Digitais:
novas formas de construção de sentido. São Paulo: Cortez, 3º ed., 2011.
ROJO & MOURA. Roxane Helena R e Eduardo (Orgs.). Multiletramentos na escola. São
Paulo: Parábola Editorial, 2012.
TIBA, Içami. Pais e educadores de alta performance. São Paulo: Integrante Editora, 2011.
RESUMO
O projeto Jornal Escolar foi desenvolvido por estudantes do ensino médio em uma escola rural em Brasil Novo (PA)
e teve como objetivo dar condições para que os alunos criassem dois jornais - vídeo e impresso - que
desempenhassem um papel importante para o processo educativo, ao desenvolver habilidades em leitura, escrita,
oralidade e cidadania. O jornal procurou divulgar saberes não apenas como informação para o público acerca de
questões ligadas à escola, mas também refletir acerca de aspectos sociais. A preparação para o projeto foi muito
importante para a construção do conhecimento dos educandos, pois eles puderam investigar várias questões que
estimularam o seu senso crítico. Ao final, a divulgação do material trouxe informação para a comunidade escolar,
além de dar foco aos alunos, propagadores de informações e saberes sociais, culturais e pedagógicos.
1 INTRODUÇÃO
1
Professor de Língua Portuguesa do Sistema Modular de Ensino (SOME) Altamira-PA.
2
Professor de Língua Portuguesa do Sistema Modular de Ensino (SOME) Altamira-PA.
2 REFLEXÃO TEÓRICA
É necessário, porém, um debate a respeito do que vai ser produzido e a forma como
ocorrerá essa produção. Nesse sentido,
É necessário refletir acerca do papel representado por esta prática [de produção do jornal
escolar] no ambiente escolar, haja vista que este projeto não pode ter um caráter de pura
mídia dos alunos (uma vez que se perde de vista a especificidade da esfera jornalística,
empobrecendo o conteúdo de linguagem a ser apreendido pelo aluno), mas também não
pode se tornar um mero simulacro do jornal convencional (sob pena de se perder de vista
a sua especificidade enunciativa escolar, o que lhe confere valor subjetivo do ponto de
vista do aluno como sujeito autor) (BONINI, 2011, p. 161-162).
A imensidão dessa indústria leva a uma transformação dos jovens pelas experiências da
mídia, pois “a proliferação das tecnologias midiáticas, a comercialização e a globalização das
mídias, a fragmentação das audiências de massa e a ascensão da
'interatividade''' (BUCKINGHAM, 2010[2003], p. 15) compõem o dia a dia da juventude
contemporânea e, em boa medida, formam a cultura de uma sociedade de consumo, por
intermédio “da televisão, do vídeo, dos jogos de computador, da Internet, da telefonia móvel, da
música popular e pelo leque de commodities ligadas à mídia” (BUCKINGHAM, 2010, p. 42).
A indústria midiática, conforme observamos, alcança vários níveis da nossa sociedade;
ela está presente nos lares, contribui para a formação de opiniões, noticia os fatos correntes,
além de impor sua visão sobre esses fatos. Sendo assim, é impossível falar de mídia e não
pensar em poder, não analisar o que está por trás dos fatos noticiados ou mesmo na escolha de
quais fatos serão anunciados.
Para Kellner e Share (2008), as novas tecnologias de comunicação são ferramentas “que
podem libertar ou dominar, manipular ou esclarecer” (KELLNER; SHARE, p. 703); assim, ensinar
os alunos a usar e analisar as mídias é um trabalho vital e necessário, a fim de que se
desenvolva senso crítico e democrático nos educandos:
No contexto da contínua expansão da transformação tecnológica e econômica, a
alfabetização crítica da mídia é um imperativo para a democracia participativa, pois as
novas tecnologias de informação e comunicação, associadas a uma cultura de mídia com
base no mercado, fragmentaram, conectaram, convergiram, diversificaram,
homogeneizaram, estabilizaram, ampliaram e remodelaram o mundo (KELLNER; SHARE,
2008, p. 689-690).
Por fim, podemos afirmar que as pesquisas aqui analisadas apontam para a validade do
trabalho, principalmente no sentido de buscar uma sociedade menos opressiva e mais igualitária
(KELLNER; SHARE, 2008), na qual os jovens sejam mais críticos, repensem os discursos
3 PERCURSO METODOLÓGICO
Posteriormente, os alunos formaram grupos (imagem 1): um para trabalhar com o jornal
impresso e outro para o jornal audiovisual. Em conjunto, tendo o direcionamento do professor,
elegeram como foco para as matérias a serem escritas: notícias locais, notícias sobre a
pandemia, entrevista com secretário de saúde, entrevista com funcionários públicos locais,
entrevista com secretário de educação e entrevista com o prefeito. Sob orientação, os alunos
elaboraram os questionários para as entrevistas, adaptaram textos de grandes veículos de
comunicação e produziram textos próprios.
Após esse momento, um estúdio improvisado - que utilizou tecido verde para o chroma key,
refletores, tripés e celulares - foi montado em sala de aula pelos alunos sob orientação dos
professores (imagem 3). Foram gravadas, nesse estúdio, as imagens e áudios da apresentação
do jornal, além das reportagens.
Para a gravação das imagens com chroma key, foi utilizado o aplicativo Prism, com
estúdios virtuais baixados da internet e imagens gravadas na zona urbana (imagem 4). Além
disso, para captar imagens, foram utilizados o Open Camera e outros aplicativos de câmeras
dos celulares. Para a captação de áudio, foram utilizados aplicativos de gravação de áudio e
microfone de mão e de lapela.
Depois da captação das imagens e áudios, houve a edição e, para isso, utilizamos um
computador e o software Movavi - de edição de vídeo - (imagem 5 e 6), além de templates
obtidos no site https://flixpress.com/AutomatedTemplates.aspx.
Durante este projeto foi constatado que a educação transborda as barreiras do prédio
escolar, pois se mostra ativa dentro dos demais contextos em que ela é inserida. Os estudantes
se tornaram protagonistas do seu aprendizado sendo estimulados a compor os novos
conhecimentos, ou seja, além da descoberta podemos destacar a autonomia. O jornal escolar
também tornou as aulas mais dinâmicas aumentando de forma significativa o interesse e
motivação dos estudantes.
No mundo globalizado e cada vez mais tecnológico, notamos que as duas formas de
jornais - impresso e audiovisual - foram de extrema importância para atrair os educandos e, ao
mesmo tempo, auxiliaram no desenvolvimento de habilidades comunicativas, seja por meio da
produção coletiva ou individual. O jornal ofereceu uma visão ampliada e atualizada sobre os
diversos assuntos propostos por eles de forma multidisciplinar e interdisciplinar como: pandemia,
vacinas, estradas, saúde, educação, serviços públicos entre outros.
CONCLUSÃO
Portanto, este projeto foi importante para construção do conhecimento acerca das
práticas de linguagem que envolvem a leitura, a produção de texto e a oralidade. As mídias
criadas pelos alunos possibilitam o debate na comunidade escolar e na sociedade a respeito das
relações de poder pelos veículos de comunicação. A construção do conhecimento durante o
andamento do projeto enriqueceu a experiência de ensino-aprendizagem ampliando as
possibilidades de desenvolvimento de novas soluções para problemas diagnosticados.
O jornal escolar empodera o aluno, faz com que repensem a sociedade e se tornem
cidadãos mais engajados. Produzir um jornal escolar é essencial para a escola, pois desenvolver
a educação e a comunicação viabiliza na escola a produção do conhecimento científico,
mobilizando uma série de ações visando à promoção, no aluno, da consciência crítica quanto
aos usos da linguagem e da comunicação.
Quando falamos em leitura, escrita, oralidade e cidadania desenvolvido por meio de
mídias, podemos recorrer a Freire (1987, p.32), quando afirma que “(...) a leitura da palavra não
é apenas precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma de escrevê‐lo ou de
reescrevê‐lo, quer dizer, de transformá‐lo através de nossa prática consciente”. O jornal foi uma
estratégia pedagógica de incentivou a leitura, o letramento, a produção textual, criticidade e
também o letramento digital, com uso das tecnologias por meio de ferramentas tecnológicas.
Assim, o projeto mostrou-se uma forte fonte de conhecimento, sendo muito importante
inseri-lo dentro do contexto escolar, pois além de formar o senso crítico do cidadão, torna os
estudantes mais conscientes e participativos. Trabalhar com projetos pedagógicos é uma forma
de melhorar a qualidade de aprendizagem e, no campo da linguagem, especificamente neste
projeto, o jornal aborda os mais diversos conteúdos e formas como que eles são abordados,
despertando a curiosidade e a criticidade dos estudantes, que deixam de usar apenas os
métodos mais tradicionais, como o livro didático, e passam a ser responsáveis pela construção
do seu conhecimento.
FARACO, Carlos Alberto. Autor e Autoria. In: BRAIT, BETH (org). Bakhtin: conceitos-chave.
São Paulo: Contexto, 2012).
KELLNER, Douglas; SHARE, Jeff. Educação para a leitura crítica da mídia, democracia
radical e a reconstrução da educação. Tradução de Márcia Barroso. Campinas: Educ. Soc.,
2008.
SANTOS, Antônio; PINTO, Manuel. O jornal escolar: por que e como fazê-lo. Porto: Edições
Asa, 1995.
SEDUC. Proposta curricular na área de linguagens, códigos e suas tecnologias. Belém,
2006.
RESUMO
Este texto relata a experiência vivenciada pelos seus autores na execução de um projeto denominado “Projeto
ENEM”, desenvolvido na EEEM Soraya Marques Chayb, município de Curuá, Pará, desde o ano de 2019, cuja
finalidade principal é oferecer aulas preparatórias para o Exame Nacional do Ensino Médio, aos alunos concluintes
da educação básica da referida escola. As aulas do projeto ocorrem no contraturno para os alunos que estudam
pelo período da manhã e tarde, em dias alternados da semana no turno da noite com aulas presenciais, atividades
impressas e vídeo aulas para o aprofundamento de seus conhecimentos para fazerem a avaliação do ENEM. O
aporte teórico conta com as recomendações da BNCC decorrentes da CF de 1988 e da LDB de 1996, e de autores
como Freire (2004), Alarcão (2011), Vigotsky (1987), Morin (2011), Loureiro (2007), dentre outros. Os resultados
das ações desenvolvidas no projeto foram visivelmente positivas e animadoras o que estimulou os autores a
produzirem este relato e continuarem com o projeto no espaço da escola.
1 INTRODUÇÃO
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é uma avaliação realizada em todo o Brasil,
pelo Ministério da Educação (MEC), por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP), para avaliar a qualidade de ensino do Ensino Médio nas
escolas brasileiras, além de ser o meio pelo qual muitos jovens têm acesso a universidades
públicas e privadas a partir da nota que vai ser ponderada no SISU, no PROUNI e em outros
processos de seleção das instituições de Ensino Superior.
Em virtude disso, a Escola Estadual de Ensino Médio Soraya Marques Chayb, localizada em
Curuá, Pará, desenvolve o “Projeto ENEM” desde 2019, sob a coordenação do Prof.º Dr. João
Aluízio Piranha Dias (coordenador pedagógico da escola) e da Prof.ª Ma. Ana Diane Vinhote de
Almeida (professora de Língua Portuguesa da escola), com o objetivo de desenvolver,
primeiramente, a autoconfiança dos alunos em fazer o ENEM e, segundamente, ampliar os seus
conhecimentos para terem um bom rendimento nessa avaliação. Integraram também o projeto
1
Mestra em Letras (UFOPA, 2019), Licenciada Plena em Letras (UFPA, 2009), Professora de Língua Portuguesa
lotada pela SEDUC/PA, na EEEM Soraya Marques Chayb, município de Curuá, Pará.
2
Doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia (2019), Licenciado Pleno em História e Pedagogia, Professor de
História e Especialista em Educação lotado pela SEDUC/PA, na EEEM Soraya Marques Chayb, município de Cu-
ruá, Pará.
2 DISCUSSÃO TEÓRICA
Nas primeiras décadas do século XXI, o ensino no Brasil vem passando por mudanças,
principalmente, a partir da homologação da Base Nacional Curricular – BNCC, que atende às
recomendações legais advindas da Constituição de 1988 e da própria LDB de 1996. Tal fato faz
com que os professores comecem a rever suas práticas e pensar na formação integral tão
colocada na BNCC. Ademais, com o Novo Ensino Médio novas perspectivas surgem e é fato
Nessa perspectiva, busca-se essa autonomia responsável dos alunos no Projeto ENEM,
pois eles são motivados a ter uma prospecção do seu futuro e se preparar para ele. Nesse viés,
percebe-se que à medida que vão adquirindo a capacidade de planejar sua rotina de estudos,
abstrair informações e relacionar às demais situações sociais exigidas para a compreensão dos
conhecimentos – são as conexões – que fazem com que o indivíduo possa desenvolver essa
formação humana integral. Diante disso, percebemos que as ações desenvolvidas no projeto
capacitam o aluno para esse fato, pois, segundo Aguiar (2006, p. 12), baseado na proposta de
pensamento e linguagem de Vigotsky, o indivíduo é “constituído na e pela atividade, ao produzir
sua forma humana de existência revelada em todas as suas expressões a historicidade social, a
ideologia, o modo de produção”.
Assim, vale dizer que o Projeto ENEM tem um objetivo de responsabilidade educacional e
também social, pois buscamos instigar nos jovens a ação, proposta por Vigotsky (1987) como
atividade, a fim de que possam trilhar o futuro deles com autonomia, com objetivos firmados e
com autoestima. O referido objetivo é sempre alcançado, pois os jovens, quando bem mediados,
conseguem resultados positivos.
3 PERCURSO METODOLÓGICO
O percurso metodológico trilhado pelo Projeto Enem seguiu uma dinâmica própria, ajustada à
disponibilidade de tempo dos professores, que idealizaram o projeto juntamente com
professores que trabalham na rede municipal de ensino de Curuá, e se disponibilizaram a
contribuir com a preparação dos alunos para a prova do Enem. Desde o início o projeto conta
com aulas presenciais e virtuais, realização de tarefas impressas, vídeo aulas, oficinas de
execução de atividades como redação, resolução de questões das provas anteriores do Enem,
além dos encontros nos finais de semana quando um professor convidado trabalha com a turma
assuntos específicos de sua área que mais são cobrados na prova.
A Escola Estadual de Ensino Médio fica localizada no município de Curuá, oeste do Pará.
Essa instituição tem uma estrutura pequena, apenas 7 salas de aula e, no momento, adaptação
de outros espaços que funcionam como sala de aula, no caso, a biblioteca e o laboratório de
Tal trabalho não tem sido muito fácil ao longo dos anos, primeiramente porque não é só o
trabalho dos professores que conta, mas uma organização de toda a escola. Assim, poucos
alunos conseguiam notas boas no ENEM, quando faziam. Na sequência, um quadro demonstra
os percentuais de alunos do terceiro ano do ensino médio que realizaram as provas do Enem
nos anos de 2016 a 2019. Percebe-se claramente o baixo percentual de alunos que se
inscreviam para fazer a prova, ficando abaixo de 30% do total de alunos concluintes.
Além disso, a escola não tem quadra poliesportiva, auditório, laboratório de informática
funcionando, nem laboratório multidisciplinar, muito menos a biblioteca em funcionamento. Há
uma cantina, secretaria, sala da direção e sala de professores, dois laboratórios (um está
ocupado com os livros didáticos e da biblioteca). Em vista dessa realidade estrutural da escola,
tem-se que desenvolver um trabalho que conduza os estudantes de maneira competente ao
ENEM.
Em 2019, o número de alunos inscritos foi ainda mais baixo, apenas 17% (em torno de 40
alunos). Ainda não temos dados disponíveis dos anos de 2020 e 2021.
Trabalhar com entusiasmo tem sido a tônica do desenvolvimento das ações do Projeto ENEM
da Escola Soraya Marques Chayb. É verdade que muitas vezes vem o desânimo por se
perceber que nem todos os professores concebem a importância dessa preparação que vai além
do trabalho normal em sala de aula. Alguns se limitam a trabalhar a sua carga horária e, mesmo
dentro desse tempo, cumprem a execução de sua tarefa de forma mecânica sem provocar no
3
A formação Integral, aponta para a formação de um aluno que possa ter compreensão de si e do outro, superan-
do a lógica da linearidade e ir em busca de uma formação humana que valorize o acolhimento, o reconhecimento
e o desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades. E nessa direção, a escola, como espaço de
aprendizagem e de inclusão, deve se fortalecer na prática da não discriminação, não preconceito e primar pelo
respeito às diferenças e às diversidades, é o que preceitua a BNCC (2018).
[...] na medida em que o educador é um ser político, ele tem que ter uma relativa clareza,
pelo menos com relação à sua opção política, o que vale dizer que ele precisa se
perguntar: em favor de quem eu trabalho em Educação, em favor de que, ou em outras
palavras, qual é o meu sonho enquanto educador. Isso vale perguntar também contra que
eu estou trabalhando, porque eu conheço uma coisa pelo contrário dela, é preciso que eu
saiba então como educador com quem eu estou. Qual é a minha opção, qual é o meu
compromisso (FREIRE, 2004, p. 35).
As aulas começaram em março e ainda remotas por conta da pandemia, na qual estudamos
algumas competências que nos ajudaram na produção da redação. Em julho ficamos de
férias e em agosto retornamos presencialmente. As aulas online são boas, mas
presencialmente são melhores porque no caso da internet, às vezes a internet travava muito
e tinha aqueles colegas que moravam distante e não tinham acesso à internet também, e
4
Os alunos foram identificados com a letra maiúscula (A e B), respectivamente, preservando-se a identidade de
cada um.
embora a educação fosse considerada como um valor intelectual relevante para a formação
das pessoas, esse valor tornava-se, realmente essencial, quando alguém pretendia dedicar-
se a uma profissão específica que exigia uma formação em nível superior. Ou para exercer
o magistério primário, que requeria o antigo Curso Normal, procurado pela parte das poucas
mulheres que ingressavam numa vida profissional.
Mas, no geral, a educação escolar não era considerada como elemento fundamental da
inclusão plena de alguém na sociedade ou de sua exclusão dela, posto que as principais
atividades econômicas, pelo menos aquelas ligadas ao extrativismo e à vida no interior,
podiam ser exercidas sem qualquer escolaridade maior (LOUREIRO, 2007, p. 19).
É fato que os tempos mudaram, inclusive no que tange às políticas públicas e nos
investimentos para a educação, principalmente a partir da promulgação da Constituição Federal
de 1998 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, mas ainda há fortes
resquícios de um pensamento que não consegue perceber a força e a importância da educação
na transformação dos sujeitos e da própria sociedade. Talvez isso decorra ainda, do próprio
contexto da realidade onde estão inseridos que não permite um olhar diferente, visto que desde
cedo muitos meninos e meninas já iniciam nos trabalhos da roça, do gado, da pesca e até
mesmo no mundo das drogas e da prostituição.
Mesmo diante desse cenário o grupo de professores do projeto faz um trabalho de
formiguinhas e a cada aluno que consegue ingressar na universidade é uma alegria para todos.
A partir de 2021, as redes sociais5 foram grandes aliadas para a divulgação dos resultados e
depoimentos como forma não só de mostrar o trabalho, mas estimular àqueles que ainda estão
5
Instagram, Facebook, Whatsapp por meio das quais foram veiculados fotografias, imagens, vídeos e depoimentos
dos alunos que obtiveram bons resultados nas provas do Enem, em 2021.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como enfatizamos durante a apresentação do Projeto, buscamos mostrar como tal trabalho
pedagógico é relevante para o desenvolvimento e a formação integral dos alunos de Ensino
Médio na Escola Estadual Soraya Marques Chayb. A partir da contextualização, aporte teórico e
análise dos resultados é possível afirmar como o Projeto ENEM é positivo para a ampliação da
capacidade cognitiva e autônoma dos alunos.
Apesar disso, não devemos ver esse projeto como a fórmula para a solução dos problemas
no ensino, mas ele mostra os caminhos possíveis para que isso aconteça. De fato, ainda há
ajustes a serem feitos, por exemplo, só conseguimos atingir os alunos dos turnos da manhã e da
tarde, pois as aulas são à noite, mas os alunos da noite ficam impossibilitados de participar. Isso
é uma falha que deve ser resolvida. Desse modo, fica a cargo do leitor também pensar junto
conosco nas soluções para esse entrave, além de acrescentar sugestões que muito
contribuiriam para adaptar à realidade de cada instituição de Ensino Médio que tem suas
peculiaridades e realidades diferentes da que apresentamos aqui.
Nesse sentido, o objetivo é conduzir os alunos de Ensino Médio ao ENEM, por intermédio de
concepções teóricas aqui já definidas, com autoestima, ou seja, confiando em suas
capacidades, com projetos traçados daquilo que pretendem para o seu futuro. Além disso, ter
seus conhecimentos ampliados, principalmente, para a escrita da redação, que ainda é um dos
maiores problemas dos alunos que participam do Exame Nacional de Ensino Médio.
REFERÊNCIAS
ALARCÃO, Isabel. Professores Reflexivos em uma Escola Reflexiva. 8ª Ed. São Paulo:
Cortez, 2011 (Coleção questões de nossa época; v. 8).
BRASIL, Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular Ensino Médio. Brasília,
2018.
MORAN, José. Educação Híbrida: um conceito chave para a educação, hoje. In, BACICH,
TANZI & TREVISANI (Orgs.) Personalização e Tecnologia na Educação – Porto Alegre:
PENSO, 2015, pp. 27-45.
MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 2ª Ed. Revisada – São
Paulo: Cortez; Brasília, DF. UNESCO, 2011.
RESUMO
Abordar sobre povos minoritários, tais como as comunidades indígenas, é fundamental e urgente em contexto da
Educação Básica, sobretudo em escolas da zona urbana. Assim sendo, este relato de experiência teve como
propósito compartilhar o desenvolvimento e o resultado do projeto “O índio que mora na nossa cabeça”, aplicado no
ano de 2022, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professora Placídia Cardoso, localizada no bairro
do Jurunas, em Belém/PA. O referido projeto, que envolveu os componentes curriculares Língua Portuguesa,
História e Estudos Amazônicos e o espaço pedagógico Biblioteca Escolar, tinha como objetivo desconstruir, junto
aos alunos, a imagem tradicional do índio contactado em 1500. Esse se embasou na literatura indigenista,
fundamentando-se em autores como: Grupioni (2004; 2012); Medeiros (2012); Moore, Galuccio e Gabas Jr. (2008);
Pimentel (2012); Quaresma (2021); bem como no DCE-PA (SEDUC, 2019). Os resultados alcançados são de cunho
qualitativo, percebeu-se que o público-alvo compreendeu a visão real dos povos indígenas da região amazônica
brasileira, construindo uma imagem valorativa do indígena enquanto cidadão participativo nesta sociedade.
Palavras-chave: Povos indígenas. Culturas indígenas. Reconstrução da identidade do indígena. Currículo inclusivo.
Aluno não indígena.
1 INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, atuando como professoras da Educação Básica, notamos o quão
desinteressantes são determinados temas para os alunos. Um desses temas é, sem dúvida, a
questão indígena.
Considerando que o estado do Pará configura-se como uma das unidades federativas
com maior população indígena do país e com uma diversidade de línguas indígenas faladas em
seu território; bem como considerando que a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio
1
O subtítulo atribuído a este relato de experiência foi inspirado no livro de Pimentel (2012), cujas informações com-
pletas encontram-se na seção Referência deste manuscrito.
2
Professora de Língua Portuguesa e Francesa da Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc/PA). Doutora
em Letras - Linguística pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Mestra em Letras - Linguística pela mesma uni-
versidade. Especialista em Letras - Língua Portuguesa pela UFPA. Graduada em Letras pela referida universidade.
3
Professora de Língua Portuguesa da Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc/PA). Especialista em
Letras – Literatura e suas interfaces pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). Graduada em Letras pela Uni-
versidade da Amazônia (UNAMA).
4
Professora de História e Estudos Amazônicos da Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc/PA). Gradu-
ada em História pela Universidade Federal do Pará.
Na tentativa de mudar esse cenário, escolheu-se o índio como alvo deste projeto de
ensino. E foi com interesse que todos mergulharam numa pesquisa ampla e histórica sobre os
povos originários, a fim de desvendar os mistérios do momento atual no qual eles se encontram.
Afinal, há riqueza maior neste território do que a cultura daqueles que aqui já habitavam, quando
chegaram os homens brancos?
A escola, enquanto lugar de formação do indivíduo, é uma instituição que pode cooperar
nessa desmistificação, desenvolvendo ações de conscientização de seus alunos no que
compete aos povos minoritários, tais como as comunidades indígenas. Nesse sentido, a escola,
na figura do corpo docente, buscou fazer a sua parte frente ao público-alvo selecionado, alunos
do Ensino Fundamental maior matriculados nas turmas de oitavo, turno matutino, no ano letivo
de 2022.
2 APORTE TEÓRICO
5
A ortografia dos nomes dos grupos indígenas aqui mencionados segue o exposto em SEDUC/PA (2019).
Conforme Quaresma (2021), a escola tem função social relevante diante da formação do
indivíduo como cidadão, haja vista que constitui um lugar onde o aluno aprende a lidar com os
desafios do mundo moderno. Entre esses desafios, citamos o da convivência responsável e
respeitosa com o outro, o que inclui conviver responsável e respeitosamente com a cultura
alheia. A autora afirma que cabe à “escola a formação do ser crítico e criativo, conhecedor das
ciências e saberes que regem não somente a sociedade na qual está inserido, mas também os
demais grupos circunvizinhos” (QUARESMA, 2021, p. 260), a exemplo dos grupos indígenas
presentes no contexto da amazônia paraense.
Com a proximidade do Dia dos Povos Indígenas, surgiu a ideia de trabalhar, junto aos
alunos, qual a verdadeira imagem que esses têm dos indígenas, na atualidade. Levando em
conta a hipótese de que essa imagem era certamente equivocada, levantou-se o fato de que era
possível “desconstruir” esse elemento, a fim de que os estudantes pudessem ter uma ideia
verossímil do que realmente representa o índio no mundo de hoje.
Depois das pesquisas, uma nova roda de conversa foi necessária para coletar os
resultados e esclarecer as dúvidas dos alunos. Essa roda foi promovida durante as aulas de
Língua Portuguesa, sendo essa ação seguida da confecção dos painéis contendo fotos, textos e
desenhos indígenas sobre os mais variados aspectos da cultura autóctone.
6
Disponível em: https://www.socioambiental.org/. Acesso em: 10 abr. 2022.
• Confecção dos painéis com fotos, textos e desenhos dos indígenas, assim como sua
grande contribuição para a cultura nacional.
• Culminância do projeto.
Em seguida, após a fala das organizadoras, os discentes assistiram ao vídeo com a mensagem
do líder indígena Katê Parkatêjê, na qual esse saudava os alunos placidianos, fazendo uma
breve exposição sobre o seu grupo indígena e sobre a relação que esses mantêm com a
natureza. Na sequência, foi exibido um documentário, também sobre o povo Parkatêjê, intitulado
“Mẽ ikwỳ tekjê ri – Isto pertence ao meu povo” (JÕPAIPAIRE, 2011). Tinha-se como objetivo
proporcionar aos alunos o conhecimento sobre a história de luta e de resistência dessa etnia
indígena.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tratar sobre a temática indígena em uma escola localizada na capital paraense foi
desafiador, haja vista que o objeto de ensino, os povos e as culturas indígenas, embora presente
no estado do Pará como um todo, está distante da realidade visual do aluno dos centros
urbanos. A imagem construída pelo aluno da escola urbana embasa-se nos conhecimentos
adquiridos durante as aulas, fundamentadas ora nos livros didáticos, ora em ações pedagógicas
desenvolvidas no ambiente escolar. Em relação aos povos originários, muitas vezes, o aluno
conhece tão somente a data alusiva à comemoração do Dia dos Povos Indígenas, o 19 de abril,
guardo na memória tão somente a lembrança de como retornava da escola para sua casa:
pintado e adornado como indígena.
Não obstante, as ações deste projeto promoveram, junto ao público-alvo, uma reflexão
crítica sobre os povos minoritários e sobre sua luta e resistência diante das adversidades
resultantes do contato com o não índio. Para tanto, os conteúdos curriculares foram trabalhados
de forma crítica, contextualizada e interdisciplinar, conforme a orientação tanto do DCE-PA
quanto da Lei nº. 11.645, a qual estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
CANTOS de caçador: povo Parkatêjê - Pará. Belém: Instituto de Artes do Pará, 2014.
GRUPÍONI, Luís Donisete Benzi. Viagem ao mundo indígena. São Paulo: Berlendis e
Vertecchia, 2004.
GRUPÍONI, Luís Donisete Benzi. Juntos na aldeia. São Paulo: Berlendis e Vertecchia, 2012.
JÕPAIPAIRE, Toprãmre Krôhôkrenhũm. Mẽ ikwỳ tekjê ri – Isto pertence ao meu povo. Marabá,
PA: GKnoronha, 2011.
MEDEIROS, Juliana Schneider. Povos indígenas e a Lei nº. 11.645: (in)visibilidades no ensino
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Mediação, 2012.
MOORE, Denny; GALUCIO, Ana Vilacy; GABAS JÚNIOR, Nilson. Desafios de Documentar e
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In: MOURA e SILVA (Org.). O direito à fala – a questão do preconceito linguístico. Florianópolis,
Editora Insular, 2000.
PIMENTEL, Spency. O índio que mora na nossa cabeça – sobre as dificuldades para entender
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QUARESMA, Francinete de Jesus Pantoja. Livro didático e práticas em sala de aula para
alfabetização em Parkatêjê. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Pará: Belém, PA,
2021.
RESUMO
Com base na Lei n° 14.191/2021, o ensino de Língua Brasileira de Sinais (Libras) deve ocorrer por meio de
metodologias que considerem como língua de instrução. O objetivo deste trabalho é detalhar as experiências
enquanto professor de Libras como Primeira Língua de instrução (L1 para surdos matriculados na APAE do
município de Tomé-Açu/PA. O relato de experiência foi caracterizado por pesquisa-ação e observação ótica de
Oliveira (2011); como principal teórico para o desenvolvimento da problemática apresentada, trazemos os
postulados de Quadros (2019) que subsidiarão esta produção. Ao longo deste percurso, observarmos que ainda
são poucos os professores bilíngues presentes nas escolas e essa demanda precisa ser atendida
emergencialmente, de uma feita que o aluno surdo terá dificuldade em aprender e divulgar o saber se não for
instruído por meio de profissionais que utilizem a Libras, a aprendizagem da Libras se dá mais proveitosa quando
iniciada o mais breve possível, a fim de criar uma consciência linguística no aluno e possibilitar que o aluno
desenvolva a linguagem e a expressão em Libras; com domínio da língua e boa sinalização e o estudo apontou que
a aprendizagem de Libras é fundamental para pessoas surdas.
1 INTRODUÇÃO
O ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras como primeira língua para surdos foi uma
reivindicação que a comunidade tem lutado para assegurar este direito cada vez mais. A recente
Lei 14.191/21 aponta no “Art. 60-A. Entende-se por educação bilíngue de surdos, para os efeitos
desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida em Língua Brasileira de Sinais (Libras),
como primeira língua, e em português escrito, como segunda língua (...)” (BRASIL, 2021, n.p.).
Assim, surge como um marco histórico para a educação bilíngue de surdos, pelo motivo
de determinar de forma abrangente no território brasileiro que as metodologias de ensino para a
educação de surdos devem, obrigatoriamente, ter a Libras como primeira língua de instrução na
comunidade escolar.
1
Especializando em Libras e Educação Especial e Inclusiva pelo Centro Universitário Leonardo da Vince
(UNIASSELVI). Licenciado em Letras com habilitação em Língua Portuguesa pela Universidade Federal Rural da
Amazônia (UFRA). Professor da Secretaria Municipal de Educação e Desporto de Tomé-Açu (SEMED) E-mail: se-
nhorwalace@gmail.com
2
Especialista em Educação Especial pela Faculdade do Espírito Santo (FAES). Licenciada em Pedagogia pela Fa-
culdade Integrada de Cruzeiro (FIC) e professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) da Secretaria
Municipal de Educação de Tomé-Açu (SEMED). E-mail: Carliane_vk@hotmail.com
3
Doutorando e Mestre em Letras – estudos linguísticos pela Universidade Federal do Pará (PPGL/UFPA). Especi-
alista em Libras pela Universidade Candido Mendes (UCAM). Graduado em Letras – Libras e Língua Portuguesa
como L2 pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e professor assistente da Universidade Federal Rural da Ama-
zônia (UFRA) campus universitário de Tomé-Açu/PA. E-mail: WalberAbreu30@gmail.com
Este relato de experiência é fruto de aulas de Libras para três alunas matriculadas na
APAE, lá, ocorreram os encontros no período da tarde durante o ano letivo de 2021. A
coordenação de educação especial por meio da Secretaria Municipal de Educação e Desporto
de Tomé-Açu – SEMED, disponibilizou os profissionais da equipe multidisciplinar para
realizarem atendimentos, entre eles, um professor de Libras.
Um estudo dessa natureza foi, antes de tudo, um dos meios para contribuir para a
educação de surdos do município de Tomé-Açu. Os alunos são beneficiados diretamente com
essas práticas e acreditamos que é preciso realizar mais estudos e desenvolver mais
problemáticas com os profissionais da educação, os educandos e as práticas de ensino.
Veremos, a partir de agora, a discussão teórica, a fim de dar base para as questões
levantadas neste estudo, seguida do detalhamento da metodologia selecionada para especificar
os métodos de coleta e análise de dados e, finalmente, comentar os resultados e realizar nossas
considerações finais sobre os achados.
2 DISCUSSÃO TEÓRICA
A Libras foi reconhecida como sistema linguístico de comunicação e expressão pela Lei nº
10.436/02 (BRASIL, 2002) e regulamentada pelo Decreto nº 5.626/05 (BRASIL, 2005); ambas as
legislações possibilitaram ações posteriores com o desenvolvimento de formações e atividades
para a inserção da comunidade surda no ambiente escolar.
Olhando do ponto de vista cultural e social, a língua compõe a bagagem da vida do sujeito
surdo. Strobel (2009), em seus estudos, explica muitas temáticas importantes para a vida do
surdo. No que se refere à língua, é destacado que não é apenas um instrumento de ensino para
a língua oral, mas sim pertencente ao ser surdo.
Ainda nesse sentido, é importante enfatizar a diferença paramétrica entre língua oral e de
sinais; assim,
Ao perceber que essas línguas citadas são diferentes, precisamos ter a ciência de que o
ensino planejado e aplicado, também, é diferente durante o processo. A comunicação precisa
ser embasada na Libras como primeira língua a fim de se tornar eficaz na instrução dos
discentes surdos.
Ao manusear duas línguas para o ensino, o professor poderá refletir sobre a própria
prática e os instrumentos pedagógicos selecionados. Nesse sentido, é essencial pensarmos no
planejamento de ensino, conforme dialogam Baú e Kubo (2009) e Libâneo (2013), que apontam
acerca da ação de ensinar como precedente de uma preparação e estudo anterior.
Por isso, concluímos que a pessoa surda, ao ser inserida em uma educação bilíngue,
poderá apresentar melhor desenvolvimento educacional, provido de práticas acessíveis para um
ensino efetivo. Os estudos realizados apontaram que o uso da Libras na educação de surdos foi
uma das melhores metodologias para contribuir com a aprendizagem e desenvolvimento social.
3 PERCURSO METODOLÓGICO
As participantes deste Relato foram três surdas4, alunas da rede de ensino regular, cada
uma foi atendida individualmente em um horário para aulas de e em Libras. Não houve critérios
para a seleção delas, apenas foi organizado a distribuição das atividades semanais e o conteúdo
ministrado (Quadro 1).
Ao observar as participantes ao discorrer das aulas, podemos notar que houve o interesse
em aprender mais sobre Libras. as aulas tiveram aulas regularmente e pouquíssimas vezes
faltaram. Na procissão seção, veremos a abordagem metodológica realizada durante a coleta de
dados.
4 ABORDAGEM METODOLÓGICA
A pesquisa-ação, segundo oliveira (2011) tem a função de resolver uma determinada
problemática, além de disso, o autor destaca que “é utilizada para identificar problemas
relevantes dentro da situação investigada, definir um programa de ação para a resolução e
acompanhamento dos resultados obtidos” (OLIVEIRA, 2011, p. 42). Logo, foi possível utilizar a
técnica para observar um fenômeno em desenvolvimento e descrever esse processo.
Em relação à observação, o autor acima destaca que “é considerada uma coleta de dados
para conseguir informações sob determinados aspectos da realidade” (OLIVEIRA, 2011, p. 38).
Portanto, combinando com a técnica anterior, foi possível identificar que a metodologia é
eficiente para este estudo.
Ao sabermos que iríamos ministrar aulas em Libras para alunas surdas, nossa primeira
4
Por ser um relato de experiência, todas as informações descritas nesse trabalho são resultantes das reflexões e
saberes adquiridos em sala, não ocorrido entrevistas, questionários ou qualquer outra forma de obtenção de dados
por parte das alunas atendidas.
5
Com base nos registros feitos pelos autores.
A escolha dos materiais teve como base os já disponíveis na APAE e materiais impressos
como atividades de escrita e visual. O nosso objetivo foi compartilhar conhecimentos, visando à
comunicação e ao pleno desenvolvimento da linguagem; portanto, não nos ativemos a provas ou
a testes comuns, pois não era esse o objetivo da atividade, mas foi realizada a avaliação da
aprendizagem por outras vias.
Entendemos também que ensinar uma língua de modalidade diferente é um dos desafios
para os professores ouvintes da educação de surdos, pelo motivo de não termos crescido com
essa cultura em nossas vidas escolares; por isso, é necessário antes do momento do ensino,
uma formação específica para que o docente possa adquirir conhecimento e experiência sobre o
que ensinará, consequentemente a prática o levará a melhorar.
Por fim, o ensino, como um todo na rede, precisa de mais valorização, de mais pessoas
interessadas em atuar e de condições equitativas para todos, afinal, o ensino da Libras é
relevante e urgente, necessitando contemplar a todos por ser um direito adquirido.
Como não poderia deixar de ser, tivemos dificuldades ao longo do percurso; as alunas
eram fáceis de lidar, não tínhamos dificuldades na comunicação, porém, elas facilmente perdiam
a atenção e gostavam de conversar sobre outros assuntos, o que, analisamos como prejudicial
ao processo de ensino-aprendizagem naquele momento.
Para amenizar os ruídos que se faziam nesse caminho, utilizamos estratégias para
orientá-las a não conversarem paralelamente durante as aulas, explicando a importância do
momento e sensibilizando-as nesse sentido.
Outro ponto negativo diz respeito ao letramento das alunas; embora todas soubessem
Libras, não tinham as habilidades necessárias para o letramento nessa língua; dessa forma, foi
necessário explicar os sinais que elas não sabiam, expressões e conceitos para que pudessem
continuar dialogando sobre o assunto da aula.
Por fim, cada aluna foi atendida em horário próprio, o que possibilitou avaliar e
acompanhar de forma mais efetiva a aprendizagem e uso da Libras como primeira língua,
visando uma comunicação efetiva.
No que se refere ao ensino bilíngue, Quadros (1997) afirma que devemos utilizar dois
idiomas para comunicação durante o processo de ensino-aprendizagem. Em relação aos surdos,
manusear a Libras como primeira língua de instrução, é o que a Lei nº 14.191/21 (BRASIL,
2021) discorre, pois possibilitará mecanismos linguísticos acessíveis ao surdo, ao ensino e ao
professor.
Notamos, ainda, que a educação bilíngue é mais proveitosa para todos os sujeitos
envolvidos quando a experiência é multiplicada em relação aos objetos de conhecimento
trabalhados; a cultura enriquece e possibilita evitar confrontos, pois começamos a entender as
maneiras de pensar em comportamentos promovidos pelo uso da língua. Com isso, defendemos
que a educação bilíngue não deve ser apenas para os surdos, mas sim a todos em sociedade.
CONCLUSÃO
Ao longo deste estudo, identificamos algumas necessidades como, por exemplo,
investimento em formação continuada para professores que ministram aulas para surdos; além
disso, é preciso realizar adequação de procedimentos e técnicas pedagógicas para as aulas e,
principalmente, da conscientização sobre o ensino bilíngue.
Observamos que ainda são poucos os professores bilíngues presentes nas escolas e
essa demanda precisa ser atendida emergencialmente, tanto em escolas municipais quanto
estaduais. O aluno surdo terá dificuldade em aprender e divulgar o saber se não for instruído por
meio de profissionais que utilizem a Libras.
BRASIL. Lei nº 10.436. dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, 24 de abril. 2002. Disponível em http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesso em 20 de fev de 2021.
BRASIL. Decreto nº. 5. 626. Regulamento a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe
sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras), e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de
2000. Diário da União, Brasília, 22 dez, 2005. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em 20 de fevereiro de 2021.
QUADROS. R. de M. Libras. Editores científicos: Tommaso raso; Celso Ferrarezi Jr. 1. Ed. São
Paulo: Parábola, 2019.
RESUMO
O referido trabalho vem de um projeto de criação literária construído e aplicado no ano letivo de 2022, em uma
turma de 9º ano. Nossa discussão se dá a partir da observação dos processos de escrita de textos literários e da
composição de um livro de minicontos lançado pelos discentes no ambiente escolar. O objetivo deste trabalho é
discutir os processos de criação literária da escrita de alunos mediante as orientações dadas aos textos. Para fins
metodológicos, esboçamos o trajeto da criação dos minicontos, durante as aulas de Língua Portuguesa, e
selecionamos um texto produzido por uma aluna para evidenciar seu processo criativo. Como principal aporte
teórico, embasamos nossa discussão a partir de recortes de conceitos sobre escrita, subjetividade e psicanálise nos
estudos de Abed (2022), Barzotto (2016), Belintane (2013), Cavalcanti (2015), Geraldi (2015), Riolfi e Andrade
(2011), os quais consideram que o ato da escrita é um espaço no qual subjetividades são mobilizadas, ante as
diferentes relações estabelecidas em um cenário de ensino-aprendizagem. Os resultados nos mostram a
necessidade de tomar a escrita como um trabalho constituído por etapas e também indicam as diversas formas da
apropriação da escrita, apontando indícios da singularidade dos autores e autoras dos textos.
1 INTRODUÇÃO
1
É licenciado em Letras – Língua Portuguesa, Mestre em Estudos Linguísticos e atualmente cursa o Doutorado em
Estudos Linguísticos, ambos pela Universidade Federal do Pará (UFPA). É professor de Língua Portuguesa e Lite-
ratura na Escola Estadual Júlia Seffer, em Ananindeua, e na Escola Estadual Cruzeiro do Sul, em Belém.
2 A ESCRITA DO ENTREMEIO
Em uma sociedade permeada pela letra, vê-se que as práticas de leitura e de escrita
surgem como atividades socioculturais engendradas em cada setor da vida. Não seria diferente
perceber o viés valorativo tão fortemente veiculado a tais práticas no setor escolar, no entanto,
sabemos que nem sempre a abordagem dada à escrita neste cenário é significativa.
Ao falarmos a respeito do ensino de escrita, torna-se indispensável levar em consideração a
dimensão da subjetividade que constitui os sujeitos que interagem na escola. Para Geraldi
(2015), o encontro na sala de aula se dá sob uma ótica dialógica, ou seja, em um diálogo entre o
“eu” e o “outro”, podendo ser entre professor e aluno, entre alunos ou mesmo entre professores.
Sendo assim, considerar este “outro” é um aspecto importante para compreender a constituição
da subjetividade mediada, em um momento inicial, a partir da interveniência do “outro”.
Por isso, segundo o autor, os sujeitos não devem ser vistos como completos e totalmente
definidos, mas como seres inconclusos e em permanente constituição, já que à própria
linguagem é dado o atributo de permanente construção. Assim, a constitutividade torna-se
questão primordial nas relações de ensino/aprendizagem, pois “supõe uma teoria do sujeito e
esta, por seu turno, implica a definição de um lugar nem sempre rígido a inspirar práticas
pedagógicas e por isso mesmo políticas” (GERALDI, 2015, p. 30). Desta forma, os usuários da
língua precisam ser considerados quanto a sua subjetividade.
Diante disso, o ensino da escrita necessita ser visto como um espaço no qual subjetividades
são mobilizadas, uma vez que, no ato da escrita, não se está somente manifestando uma
expressão verbal, mas é uma combinação de experiência, vivências e saberes que o sujeito
3 A ESCRITA ALIENADA
Notamos que o ato de escrever não consiste apenas em dominar uma técnica ou uma forma,
mas também implica o desejo inconsciente. Deste modo, partindo de conceitos que articulam
psicanálise e educação, vemos que o sujeito escreve o texto e, durante o processo, também se
reescreve, construindo suas posições subjetivas nesse “entre-textos” na medida em que retoma
suas demandas.
Assim, haveria duas maneiras de o estudante se apropriar da escrita: de uma forma mais
obediente ao comando da tarefa, portanto, mais alienada, ou de uma maneira a cumprir a
solicitação dada ao mesmo tempo em que extrapola a própria tarefa, aproximando-se então de
uma postura mais singular. Sobre isso, Barzotto (2016) chama “atividade de repetição”, ao
retratar uma postura mais subordinada e mais acomodada, e “atividade de produção”, quando o
sujeito desestabiliza o lugar do conhecimento e tende a uma postura mais autônoma.
Em outras palavras, a partir do momento em que uma atividade é dada pelo professor, os
discentes podem agir de duas diferentes maneiras: realizando a tarefa escrita dentro do que está
estabelecido ou transplantando a um lugar mais significativo sua escrita, de maneira a torná-la
mais elaborada. É importante enfatizar que essas posições subjetivas nem sempre se dão na
dimensão do consciente, uma vez que trabalhamos com o conceito de subjetividade em
permanente constituição.
Para essa escrita inicial, que realiza o cumprimento da tarefa e quer somente mascarar o ato
da escrita, Riolfi e Andrade (2011) chamam “escrita cosmética”, já que surge como maneira de
corresponder à demanda de escrever “maquiando” com palavras o desejo bastante vinculado ao
“outro” que solicitou a atividade - em nosso caso, seria a figura docente.
Vê-se, assim, que, apesar de apresentar possivelmente uma escrita coerente, a escrita
cosmética se revela fortemente esmagada pelo desejo do “outro”, eliminando, por fim,
possibilidades de uma escrita mais autoral. Porém, a partir do momento em que se sabe lidar
com o discurso do outro, marcado pela imposição de uma tarefa e de comentários feitos sobre o
texto que é produzido, há brechas para uma escrita mais instituída, um trabalho com escrita de
fato que, segundo as autoras, leva a apresentar indícios da singularidade de quem escreve.
Para termos, então, uma possibilidade para apropriação da escrita, é preciso sair de uma
posição mais subordinada, mais colada à palavra do outro e elaborar a tarefa considerando suas
próprias demandas. Em suma, se faz necessário abandonar a escrita mais alienada, a qual se
espelha a todo tempo no comando dado pela figura do professor e pelas regras que estão em
jogo em determinada tarefa, a fim de trazer à tona a palavra que se refere à própria voz do
aluno. Rompendo tal alienação, seria possível quebrar essas relações mais narcísicas de um
4 CAMINHOS METODOLÓGICOS
2
A versão digital de “Cada Gota Tem Uma História” pode ser acessada em: https://drive.google.com/file/d/1t2I_ueY
-cpnVajaBKFtj6bniKXmX3RPI/view
Dedicarei esta seção para analisar o processo de criação dos textos, retomando os
principais conceitos teóricos já mencionados para articular à nossa experiência pedagógica.
Desde o momento inicial do projeto de montagem do livro, destacamos que um texto precisava
ser concebido como algo sujeito a mudanças e alterações, o que significa dizer que é comum
escrever várias versões de um texto até que se alcance a provável versão finalizada,
corroborando o conceito de escrita como um processo organizado por etapas.
Tentei oportunizar momentos de produção textual que dessem conta de um retorno àquilo
que era comentado a partir da primeira versão escrita. E, como a escrita se deu durante o
período das minhas aulas na escola, era preciso que o meu feedback e o dos discentes fossem
cumpridos dentro de um prazo determinado. Desta feita, a escrita só poderia avançar para uma
próxima versão caso houvesse algum tipo de comentário ou ajuste a ser feito, indicando um
texto a ser moldado com base no diálogo e na interação entre diferentes sujeitos. Não era uma
escrita solitária, era uma escrita que sofria a interveniência de um “outro”.
Assim, tornou-se importante submeter a produção dos minicontos a processos de escrita
e reescrita, nos quais é comum haver algum tipo de desconforto ou resistência por parte dos
alunos, na medida em que uma nova demanda de ajustes no texto é cobrada. No entanto, ao se
perceber que se tem em mãos uma versão pronta de sua própria criação, essas retomadas ao
texto podem gerar prazer e satisfação. De forma geral, assumir o texto como um material a ser
enredado aparece como um fator importante para lidar com as diferentes demandas que surgem
a partir de cada versão escrita.
Para exemplificar brevemente, selecionei um momento de criação dos minicontos com
base na elaboração textual de uma aluna. O que era aparentemente um “erro” criou a
possibilidade de trabalho com uma escrita mais instituída, aproveitando o comentário que fiz
acerca do texto para produzir o efeito estético necessário ao miniconto. A seguir, consta a
versão final do texto:
Texto 1:
DESLIZAMENTO DOS CORPOS
Esses dias teve um deslizamento de terra, e muitas pessoas foram engolidas pela
tragédia. Casas foram derrubadas com muita força e muitas pessoas morreram.
Depois de dois dias, os bombeiros foram ao local e começaram a procurar por
sobreviventes. De repente, corpos puxaram cada bombeiro pro fundo da terra. Os
bombeiros começaram a pedir socorro, mas não deu em nada.
Escolhi esse texto para comentar a respeito do modo como chegamos a sua versão final,
a fim de enfatizar a ideia de processo de criação. A autora do texto, ao apresentar a primeira
versão, escreveu algo mais próximo de uma notícia cuja informação relatava um caso de
deslizamento de terra por causa de uma forte chuva. Apesar de fazer referência ao elemento
“chuva”, a primeira versão era mais informativa do que literária. Quando conversei com a
discente, destaquei que ela precisava ajustar o texto à proposta do livro, mas que tentasse
aproveitar os principais elementos da notícia para a criação de seu miniconto. O que expomos
CONCLUSÃO
De forma geral, pudemos observar como os processos de escrita e reescrita podem levar ao
trabalho de uma escrita mais elaborada, já que potencializa as mudanças subjetivas necessárias
para lidar com as possibilidades que vão surgindo a partir da proposta de reelaboração textual.
Tal fato corrobora a noção de escrita como trabalho processual que vai sendo moldado
conforme as demandas do trajeto da escrita do aluno. Assim, a escrita pode gerar uma
transformação subjetiva cuja marca é a construção de um estilo singular que ressignifica a
produção, causando ruptura, à procura da aparição do sujeito como um ser participante do
processo.
Cabe também salientar toda a mobilização realizada para o lançamento do livro, que acabou
por dinamizar a própria inserção dos alunos como sujeitos participantes do processo de ensino-
aprendizagem, os quais atuaram em todas as etapas da produção de um livro, desde a criação
dos textos até a distribuição do material literário presencialmente durante a publicação de “Cada
REFERÊNCIAS
ABED, Carolina Zuppo. Como escrever mesmo estando em pânico. São Paulo: Editora
Europa, 2022.
BARZOTTO, Valdir. Leitura, escrita e relação com o conhecimento. Campinas, SP: Mercado
das Letras, 2016.
GERALDI, João Wanderley. A aula como acontecimento. São Paulo: Pedro e João Editores,
2015.
RIOLFI, Claudia; ANDRADE, Ernani. A escrita cosmética: textos produzidos em uma graduação
semipresencial. In: RIOLFI, C.; BARZOTTO, Valdir. O inferno da escrita: produção escrita e
psicanálise. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2011.
RESUMO
A pandemia de Covid-19 atingiu a educação e trouxe à tona o ensino remoto, regularizado como uma alternativa
emergencial. Em Belém, cada unidade escolar teve que adequar o ensino de acordo com as características de sua
comunidade; sendo assim, após realização de um diagnóstico via telefonia móvel, formulário Google e atividades
impressas, a prática pedagógica adotada na Escola Municipal “Alzira Pernambuco” para atender aos 51 alunos
matriculados no 3°ano do ensino fundamental, em 2021, foi a introdução das Tecnologias Digitais de Informação e
Comunicação - TDICs - por meio de aplicativos de mensagens e de videoconferências que, entre as diversas
soluções educacionais, geraram 12 aulas on-line, as quais destacaram os objetos de conhecimento fundamentais
para o desenvolvimento de competências que são alvo do ciclo de alfabetização. Assim, este trabalho apresenta um
relato da experiência de alfabetização desses alunos por meio das TDICs durante esse período, tendo como
suporte metodológico os estudos de Pierre Lévy (1999) e Edméa Santos (2019) sobre cibercultura; da visão
humanista Freireana (FREIRE, 2007); de alfabetização de Ferreiro (2013) e da filosofia da educação de Luckesi
(2011). Esta experiência pedagógica procurou resgatar a dimensão humana no ensino e na aprendizagem durante
as atividades remotas.
1 INTRODUÇÃO
A Ciência tem contribuído de inúmeras formas para o fim da pandemia do novo
Coronavírus (COVID-19). No contexto da educação, as pesquisas atuam de forma a localizar os
fatores que têm dificultado o processo de ensino e aprendizagem; além disso, procuram trazer à
luz aqueles que contribuíram para a sua continuidade, ainda que a distância. Diante dessa
situação, as redes aplicaram medidas emergenciais, tais como a implantação do Ensino Remoto
em todo o território nacional a fim de dirimir eventuais problemas por conta da pandemia.
Com isso, a educação e as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação
(BRASIL, 2014) tornaram ainda mais árdua e desafiadora a tarefa dos educadores, acelerando
1
Servidora pública na Secretaria de Educação do Município de Belém; Servidora pública da Secretaria de Educa-
ção do Estado do Pará; Professora Alfabetizadora da Escola Municipal Alzira Pernambuco Especialista na Unidade
SEDUC na escola 08; Licenciada Plena em Pedagogia pela Universidade do Estado do Pará, Especialista em Cur-
rículo e Avaliação na Educação Básica pela Universidade do Estado do Pará. e-mail: evi-
la.rsilva@escola.seduc.pa.gov.br
2
Servidora pública na Secretaria de Educação do Município de Belém; Servidora pública da Secretaria de Educa-
ção do Estado do Pará; Professora Alfabetizadora da Escola Municipal Alzira Pernambuco e da Escola de Ensino
Fundamental e Médio Stélio Maroja; Especialista em educação na Escola Estadual; Licenciada Plena em Pedago-
gia pela Universidade do Estado do Pará, Especialista em Psicologia Educacional com ênfase em psicopedagogia
preventiva pela Universidade do Estado do Pará. e-mail: daniellecristinaaraujo.silva@escola.seduc.pa.gov.br
2 DISCUSSÃO TEÓRICA
3 PERCURSO METODOLÓGICO
Após as aulas on-line pelo aplicativo Google Meet durante os meses de abril a agosto,
realizamos os comparativos acerca da avaliação diagnóstica inicial, realizada por meio de
questionários via telefonia móvel, Google Forms e material impresso, com as avaliações
ocorridas na primeira quinzena do retorno presencial já no mês de agosto.
A avaliação diagnóstica foi aplicada para 51 famílias, cujo resultado (Gráfico 1) demonstra
o crescimento do engajamento delas neste processo e a importância de uma constante busca
ativa.
As aulas on-line via aplicativo Google Meet contaram com a participação de 39,21 a 52,94
% dos alunos em cada aula (Gráfico 2).
CONCLUSÃO
A experiência pedagógica com o Uso das TDICs na alfabetização dos alunos do 3°ano
da Escola Municipal Alzira Pernambuco, no contexto da pandemia da COVID-19, revelou a
busca pelo resgate da dimensão humana no processo de ensino-aprendizagem durante o ensino
remoto e a mudança no papel do professor e nas metodologias nesse processo.
As TDICs, com seus aplicativos de mensagens instantâneas e vídeos chamadas,
favoreceram a possibilidade de resgatar aspectos das relações interpessoais estabelecidas
entre professores, alunos e responsáveis; a experiência de ver e ser visto, ouvir e ser ouvido,
interagir com o corpo em movimento por meio do cantar, do dançar e do brincar, tornou o ensino
ainda mais significativo.
O professor e o aluno, ao retomarem essa relação, ativaram sensações emocionais
necessárias à saúde mental: esperança de um breve retorno, alegria de conhecer o novo,
superação diante dos desafios, entre outros sentimentos.
Essas ferramentas, usadas com mais frequência nos ambientes escolares das redes
particulares de ensino, passam por processo de expansão e chegam de forma modesta nas
redes públicas de ensino, na maioria das vezes ancorada em ferramentas de uso particular; a
prática relatada revelou a necessidade de políticas públicas que sejam capazes de democratizar
o acesso à internet, aos monitores e outras ferramentas, a fim de que possa alcançar as salas
de aula das redes públicas com equidade no processo.
A cultura cibernética diminui as distâncias entre o espaço e o tempo, dinamizando os
saberes e multiplicando suas fontes e linguagens. Sendo assim, a escola entra num movimento
de ultrapassar as paredes físicas e agregar novas metodologias a fim de que possa atingir sua
função social de conectar o conhecimento às vivências dos alunos, sendo significativa e
servindo de base para uma consciência social.
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GROSSI, Esther Pillar. Didática da Alfabetização. 11 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra Ltda,
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