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ISSN: 2596-0431
Revista de relatos de experiência em foco do Centro de Formação dos Profissionais da
Educação Básica do Estado do Pará (Cefor).
GOVERNADOR EDITORAS
Helder Zahluth Barbalho Nádia Eliane Cortez Brasil
Sandra Lúcia Paris
VICE-GOVERNADORA
Hana Ghassan Tuma CONSELHO EDITORIAL
Esther Maria de Souza Braga
SECRETÁRIO DE ESTADO DE EDUCAÇÃO - Francisco Augusto Lima Paes
SEDUC Nádia Eliane Cortez Brasil
Rossieli Soares da Silva Sandra Lúcia Paris
EMPODERE-SER ............................................................................................................................. 19
Cléa Magnólia Figueira Palha, João Batista Feitosa Machado e Nelma Suely Barros Freitas
Resumo
O objetivo central deste relato de experiência é destacar as ações desenvolvidas em uma escola pública de Ensino Médio
Integral em Belém-PA, esclarecendo as formas de violência contra as mulheres, principalmente o assédio sexual. A
finalidade dessas ações visa, além de esclarecer, a enfatizar a importância das denúncias e dos mecanismos legais para
a punição dos abusadores. Consideramos neste relato que essas ações contribuem para o empoderamento feminino. As
ações desenvolvidas na escola fazem parte do projeto “Empoderamento Feminino” desenvolvido pelo Centro de Formação
dos Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará (CEFOR) da Secretaria de Estado de Educação do Pará
(SEDUC). Adotamos como procedimentos metodológicos as rodas de conversa com alunos e alunas da 1ª, 2ª e 3ª série
do ensino médio e, para subsidiar as rodas, elaboramos um questionário quantitativo e uma pesquisa qualitativa sobre o
assédio sexual. Alguns resultados iniciais do questionário demonstram que, apesar dos avanços legais, o assédio contra
as mulheres é praticado em espaços públicos e privados e o grande temor das mulheres entrevistadas é ser culpabilizada
pelo assédio, dificultando a denúncia. As rodas de conversa foram momentos importantes de desnaturalização da violência
contra a mulher, mostrando suas origens na sociedade patriarcal e a importância da informação e do conhecimento para
o empoderamento feminino.
Introdução
A violência contra as mulheres nos revela em dados de 2021 da Ouvidoria Nacional dos Direitos
Humanos que, no Brasil, 677 mulheres foram assassinadas em decorrência da violência de gênero.
Para esta Ouvidoria, até julho de 2022, também foram registradas 31.398 denúncias de violência
contra as mulheres. Em 2023, o Ministério Público do Trabalho registrou o crescimento das denúncias
de assédio moral e sexual no Brasil. A entidade recebeu, de janeiro a julho, 8.458 denúncias em todo
o país. Este número representa quase a mesma quantidade do total de denúncias de todo o ano
passado, com o número de 8.5084.
Esses números demonstram que, apesar dos avanços legais penalizando os diferentes tipos
de agressões contra as mulheres, ainda temos um longo caminho de desconstrução de desigualdades
históricas a combater. Esta preocupação com o avanço da violência contra as mulheres, em especial
o assédio sexual, levou-nos a refletir a respeito de quais ações poderíamos considerar na intenção de
contribuirmos para esclarecer, principalmente às meninas da escola, sobre a violência sexual.
Para tais ações foi importante também identificar se as meninas da escola sofreram assédio
sexual ou moral. Procedemos com um questionário em que alunos, alunas, professores e professoras
puderam responder a algumas perguntas. Para os professores e professoras envolvidas/os neste
projeto, o empoderamento é uma conquista também quando as mulheres se apropriam da origem
desses problemas, da formação de uma sociedade patriarcal e das desigualdades de gênero.
O relato exposto neste trabalho é o resultado desse esforço coletivo. Por outra, esse projeto faz
parte de um Programa intitulado “Empoderamento Feminino” desenvolvido pelo Centro de Formação
dos Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará (CEFOR) da Secretaria de Estado de
Educação do Estado do Pará (SEDUC).
As atividades desenvolvidas pelo CEFOR estão em consonância com a lei estadual 8775/2018
(Pará, 2018, n.p.), expressas no artigo 1° “Fica instituído, no âmbito do Estado do Pará, a primeira
semana do mês de março, como a semana dedicada a discutir a igualdade de gênero, como foco em
ações que promovam o empoderamento”6. Segundo esta lei, o empoderamento feminino é o ato de
estimular entre meninas, jovens e mulheres sua participação efetiva nas diversas esferas da
sociedade, estimulando mudanças culturais, desconstruindo preconceitos e promovendo a equidade
de gênero.
O projeto iniciou em 2022 e está sendo desenvolvido em escolas de Ensino Médio Integral em
Belém-PA7. Portanto, os dados e a pesquisa para este relato são resultados deste trabalho no período
compreendido entre maio a dezembro de 2022, com alunos e alunas da 1ª, 2ª e 3ª séries de uma
escola de Ensino Médio na cidade de Belém-PA. O objetivo central do projeto construído na escola foi
esclarecer sobre as diferentes formas de violência contra as mulheres, principalmente o assédio
sexual em espaços privados e públicos. Para isso, procuramos elaborar com as alunas e alunos um
levantamento de dados e situações de violência contra as mulheres no Brasil.
A cada roda de conversa, os dados dos questionários e os vídeos produzidos pelas turmas da
escola fortaleciam as discussões. Optamos, neste relato, em transcrever as falas das
meninas/protagonistas sem modificá-las, na intenção de mostrar essas experiências em seus
cotidianos.
É sobre esta experiência e os resultados alcançados que versa este relato. Este trabalho está
assim organizado: primeiramente, destacamos alguns dados sobre a violência contra as mulheres
referentes ao assédio sexual. No segundo momento, apresentamos a trajetória do projeto na escola
e a organização em todos os momentos - ou o passo a passo. Por último, destacamos as rodas de
conversa e os resultados iniciais alcançados pelo projeto em andamento.
O levantamento de dados sobre a violência contra a mulher foi central na preparação do projeto
e debatido em sala de aula. Dentre esses dados, um nos chamou a atenção, o Relatório do Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), intitulado “Índice de Normas Sociais de Gênero”
(ONU, 2023). Esta pesquisa destaca os dados sobre o preconceito contra as mulheres. Foram
utilizadas quatro dimensões para esta análise: educação, integridade física, política e economia.
Segundo o PNUD, este estudo foi realizado em vários países da Europa, América do Norte e América
do Sul.
O Brasil foi o único país de língua portuguesa no estudo. O levantamento apontou que 84,5%
dos brasileiros têm pelo menos um tipo de preconceito contra as mulheres. A pior avaliação foi no
quesito integridade física. Em média, mais de 75% dos brasileiros entrevistados têm preconceitos em
questões de violência e direito de decisão sobre ter filhos.
Quanto à participação feminina na política, a pesquisa evidencia que mais de 39% dos
entrevistados acreditam que as mulheres não desempenham esse papel tão bem quanto os homens;
31% dos brasileiros consideram os homens com mais direitos a vagas de trabalho; e apenas 15,5%
da população do Brasil afirmam não ter preconceito contra as mulheres.
A tentativa consciente de naturalizar formas de violência foi identificada inclusive nos relatos
das meninas quando responderam ao questionário, se já haviam sofrido algum assédio sexual ou
constrangimento. De 125 respostas, 124 meninas responderam que sim! E os espaços vão desde a
casa, igreja, ônibus, trabalho e escola. E como relatou uma aluna do 1° ano: “não estamos livres nem
em casa”.
Iniciamos o projeto no segundo semestre de 2022, após uma reunião do CEFOR na escola. O
passo a passo incluiu o tema do assédio sexual e moral contra a mulher nos componentes curriculares
de Geografia, Filosofia, História e Sociologia. Reforçamos como escola o debate em oficinas
ministradas sobre a lei Maria da Penha (Brasil, 2006), coordenada pela professora de Geografia; e
sobre o feminicídio e assédio sexual, coordenada pela professora de química com formação também
na área do Direito. O projeto contou com o apoio de diferentes áreas para o esclarecimento - inclusive
jurídico - dessas formas de violência.
Motivados por essas situações, consideramos que a melhor forma de empoderar as alunas
seria o esclarecimento ao propor os seguintes questionamentos: o que era o assédio? Quais canais
de denúncias para esses crimes? Tal esforço é importante não somente para esclarecer como também
por evidenciar as leis e as punições cabíveis nestas formas de violência. Inclusive, muitos alunos e
alunas desconheciam os canais de denúncia ou mesmo as formas de assédio.
Realizamos também uma homenagem àquelas mulheres que muitas vezes são invisibilizadas
nos seus trabalhos cotidianos dentro da escola: serventes, cozinheiras, secretárias da escola, mas
também destacamos o trabalho das professoras.
Finalizamos este evento com música e um chá9 de empoderamento com alunas e alunos da 1ª
série; nesse chá, contamos com a contribuição de uma professora de linguagens contribuindo na
organização e com músicas para despertar a vivência de e com mulheres. Consideramos importante
9 O chá foi uma forma simbólica de mostrar o trabalho das mulheres, visibilizando suas ações na escola foco deste relato.
No início, o silêncio, mas pouco a pouco os relatos corajosos de meninas que sofreram abusos
foram decisivos para uma série de denúncias. As falas foram muitas e os debates mostraram o
desconhecimento sobre as leis, sobre as formas de assédio e constrangimentos sofridos no cotidiano
e em diferentes espaços: na escola, na igreja, na casa. Abusos relatados e abusadores conhecidos,
como parentes, amigos ou membros da igreja. Aqueles que deveriam proteger eram os algozes.
Nas falas das meninas, ficou marcada a angústia e o sentimento de não saber o que fazer. A
seguir, apresentamos algumas dessas narrativas, ocultando nomes.
Desde criança o amigo da família me chamava de mulher e passava a mão no meu corpo, falei para
minha família que não acreditou em mim. Os abusos continuaram e eu não tinha a quem recorrer, pois
ninguém acreditava em mim. Até que finalmente fomos embora para outro bairro e pude dormir mais
tranquila (Relato de uma aluna da 1ª série).
Morava em uma vila e o marido de minha prima bebia, e ficava me olhando escondido me esperava
trocar de roupa. Eu soube por que vi ele me espiando, fui falar com ele e me disse que eu era bonita e
ficava me exibindo. Ele não achava que estava fazendo algo errado. Falei para minha prima e ela não
fez nada, ela sofria violência, apanhava e justificava o fato dele estar bêbado. Vivia assustada e me
escondendo. A minha família disse para eu não falar nada, para não magoar outros membros da família.
Fiquei mais tranquila agora que eles foram embora da vila. (Relato de uma aluna da 2ª série).
Eu conhecia o garoto, éramos amigos, mas ele me assediava sempre. Não conseguia falar, tinha medo.
Medo da família, dos amigos de ficar sendo apontada. É a primeira vez que exponho essas questões.
Guardei, pois além do medo, não sabia a quem recorrer sem ser apontada como a culpada. (Relato de
uma aluna da 3ª série).
As falas representam o medo, a insegurança e o desamparo por não saber a quem denunciar.
Considerando as falas, percebemos que a família não dá suporte necessário e até impedem e
intimidam. O primeiro movimento das meninas que sofrem assédio é procurar a família; e isto também
foi narrado por outras meninas. Contudo, em grande parte, não são ouvidas ou levadas a sério. Muitas
relataram que a família sabia, mas pediram para silenciar em nome da harmonia familiar.
1. Você já recebeu cantadas? Nessa pergunta optamos por colocar um nome conhecido dos
alunos e alunas, o termo cantada.
8. Se sim, onde?
As respostas do questionário
As respostas vieram, em sua maioria, das meninas. Não há respostas dos meninos ao
questionário. Nossa hipótese, é de que os meninos consideravam o tema como “algo relativo às
mulheres”. Essa hipótese precisa de uma outra pesquisa para analisar este silêncio masculino
Não! As meninas não gostam de ouvir cantadas. É o que mostra o percentual de 93,7%. Nesse
quesito, muitas relataram ficar caladas ou intimidadas. Já no Gráfico 3, 59,1% reagiram às cantadas
e foram novamente agredidas. Nos relatos, a reação à agressão é vista pelos agressores como
“vitimismo”; “coisa de mulher mal-amada”. As expressões “és uma delícia”, “gostosa”, “te pegava toda”,
“senta aqui no meu colo”, “bora ali no canto”, “ô lá em casa” são comuns nas ruas e praças, segundo
gráfico 2.
Sobre esta destruição moral, vários relatos expressam: “Não sei o que fazer”; “Saio correndo e
se denuncio me dizem, deixe de passar por este lugar, evite!”; “Se coloco um short, tá curto demais,
se acho graça, estou aceitando a cantada”. O medo do assédio é um sentimento comum em 92,8%
das mulheres em resposta às perguntas do questionário, fazendo-as mudar inclusive o
comportamento, falar menos, rir menos ou, como informou outra menina, “eu fico de cabeça baixa e
sigo em frente, tenho receio de olhar para quem está me cantando”. O sentimento dessas mulheres é
do seu corpo (ou comportamento) ser o responsável pelo assédio.
Ao debatermos esses dados nas rodas de conversa, a escuta foi o primeiro passo; o segundo
foi dar atenção a essas falas como vivências e experiências, aproximando-as dos dados nacionais; o
terceiro passo foi desconstruir o julgamento do corpo e da culpa por ser mulher. A estas questões
colocadas pelas meninas, seguiram-se o debate - mais entre meninas e meninos - mediado/mediadas
pela reflexão de uma sociedade ainda moldada por discursos que naturalizam o machismo e o controle
sobre o comportamento feminino.
As rodas de conversas motivaram outras dúvidas: o que fazer diante de tantas denúncias? Qual
o papel da escola e das professoras e professores? Primeiramente, não é fácil tratar deste assunto
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 16
sem mostrar as dificuldades de enfrentá-los, posto ser a escola um lugar também de desigualdades
de gênero e de violência. Em muitas situações, o tratamento dado em muitas escolas para o problema
da violência contra a mulher é oferecer uma rosa ou lembrança no dia 8 de março. Em uma reunião
para tratar acerca do mês das mulheres, um professor, questionando sobre esta data, alertou a
respeito da romantização da violência contra as mulheres e, em vez de somente flores, dar-lhes
oportunidade de falar, serem ouvidas e amparadas.
A escola precisa ser um lugar seguro e seus componentes curriculares e suas ações devem
referenciar a importância da diversidade, do respeito e a desconstrução de preconceitos. As perguntas
no parágrafo acima ainda não foram completamente respondidas, compreendemos que outros passos
deverão ser dados nas escolas, esbarrando no currículo engessado, no temor a certos assuntos, na
formação dos professores, na ausência ou pouca visibilidade desses temas pela Secretaria de
Educação.
Consideramos que avançamos alguns passos (mesmo que ainda cambaleantes), mas ao ouvir
o sentimento das meninas sobre a importância destas ações na escola, de terem perdido o medo e a
culpa, de sentirem-se empoderadas e apoiadas em um espaço no qual passam grande parte da vida,
sentimos um alento, reforçando o papel da escola nessas transformações.
Considerações finais
Empoderar significa também dar o poder a quem foi apartado historicamente das decisões.
Mostrar estes caminhos nada fáceis foi também um desafio. Na escola foco deste relato, as ações do
projeto contaram com a participação de outras professoras e professores das áreas de Ciências
Exatas e de Linguagens. Flexibilizamos as ementas de alguns componentes curriculares, na
possibilidade de aproximar o conhecimento científico com a realidade vivenciada de meninas e
meninos da escola.
Referências
Resumo
Este presente trabalho tem o objetivo de relatar o projeto Empodere-SER, desenvolvido na Escola Estadual Visconde de
Souza Franco, como implementação da lei nº 8.775, de 16 de outubro de 2018 (Pará, 2018), institui no âmbito do Estado
do Pará, a primeira semana do mês de março como a semana dedicada a discutir a igualdade de gênero, com foco em
ações que promovam o empoderamento feminino nas escolas públicas e privadas do Estado. Com o aumento dos casos
de feminicídio e considerando a finalidade da educação escolar em formar cidadãos ativos, desenvolvendo sua consciência
crítica, a equipe de professoras, coordenadoras do projeto Empodere-SER, concordam com a necessidade de
engajamento da instituição escolar na luta contra a violência de gênero e a importância em sensibilizá-los para reconhecer
e coibir atitudes de violência contra a mulher. As ações possibilitaram que as/os estudantes protagonizassem todo o
processo, contribuindo de forma eficaz para a construção de sua consciência crítica.
Introdução
O presente trabalho tem o objetivo de relatar a experiência obtida, na Escola Estadual Visconde
de Souza Franco, com o desenvolvimento do projeto Empodere-SER, iniciado com o Curso Educação
e Diversidade de Gênero: formando para o empoderamento feminino, ofertado pelo Centro de
Formação dos Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará (CEFOR) em parceria com a
Secretaria de Estado de Educação (SEDUC).
Foi apresentado às escolas em Tempo Integral (TI) como proposta piloto para implementação
da lei nº 8.775, de 16 de outubro de 2018 (Pará, 2018), institui no âmbito do Estado do Pará, a primeira
semana do mês de março como a semana dedicada a discutir a igualdade de gênero, com foco em
ações que promovam o empoderamento feminino nas escolas públicas e privadas do Estado.
Entende-se por empoderamento feminino o ato de estimular entre meninas, jovens e mulheres
sua participação efetiva nas diversas esferas da sociedade, estimulando mudanças culturais,
desconstruindo preconceitos e promovendo a equidade de gênero.
1 Especialista em Arte na educação escolar pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Professora do componente
curricular Artes da Secretaria de Estado da Educação (SEDUC-PA). Email: clea.palha@escola.seduc.pa.gov.br
2 Especialista em Educação. Técnico pedagógico da Secretaria de Estado da Educação (SEDUC-PA). Email:
joao.machado@escola.seduc.pa.gov.br
3 Especialista em Políticas de Promoção da Igualdade Racial na Escola pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
Discussão Teórica
Joice Berth (2019) oferece parâmetros relevantes para entendimento e compreensão da noção
de Empoderamento, dizendo que ele é
Para uma melhor compreensão, a autora faz uma simples analogia, “se o empoderamento fosse
uma casa, os indivíduos seriam seus materiais de construção -, tijolos, argamassa, telhado, piso,
pintura etc. Serão adquiridos e trabalhados para que a união de todos se transforme na tão sonhada
moradia” (Berth, 2019, p. 54-55). Ressaltando que “esses elementos construtivos precisam ter uma
qualidade individual para que o resultado seja igualmente qualitativo. Se isolados, não conseguem
complementar a função inicial que é edificar a moradia”.
Atualmente, as instituições escolares, que estão presentes em todos os setores e são parte
constituinte da sociedade contemporânea, responsáveis pela formação de seus indivíduos, seguem
orientações de documentos oficiais que reforçam a importância do pensamento crítico.
A escola tem o papel de viabilizar processos que possibilitem aos alunos e alunas condições
para que se tornem capazes de problematizar as formas de vida, criando iniciativas que tratem dessa
temática. Enquanto mulheres docentes envolvidas nesse contexto, temos consciência da importância
dessas práticas no âmbito escolar e da emergência em discutir e sensibilizar a comunidade escolar
para esse tema, envolvidas na esperança de que é possível uma transformação social a partir deste
espaço geográfico, chamado escola, para que todo o conhecimento produzido nele ultrapasse os
muros e sejam levados para outros espaços. Acreditamos que os docentes podem contribuir para a
formação de cidadãs/ãos ativas/os compromissadas/os com mudanças sociais.
[...] a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I
- a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos
ou diretamente, nos termos desta Constituição’ (Brasil, 1988, n.p.).
Apesar disso, existem inúmeros casos em que a República Federativa do Brasil, não garante
esses direitos de fato. Foi o caso da farmacêutica Maria da Penha, que teve seus direitos garantidos
após a condenação do Brasil por ineficiência de proteção às mulheres.
Dessa trágica história, surge a lei 11.340 (Brasil, 2006), conhecida como lei Maria da Penha,
sancionada em 7 de agosto de 2006, cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e
familiar contra a mulher, determinando como violência doméstica qualquer ação ou omissão baseada
no gênero que lhe cause anomorte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial. Esta lei é considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) uma das três mais
avançadas do mundo por ser um marco na luta contra a violência de gênero. Anterior a essa lei, as
denúncias de casos de violência doméstica eram enquadradas como causas cíveis de menor
complexidade.
Outra conquista importante, é a inserção do crime de feminicídio no código penal brasileiro pela
lei nº 13.104, de 9 de março de 2015 (Brasil, 2015). É qualificado como feminicídio quando o
assassinato de mulheres for motivado por razões de violência doméstica e familiar, ou pelo
menosprezo ou discriminação da condição de mulher, podendo ser incluído no rol dos crimes
hediondos.
Diante desse contexto lastimável, é imprescindível criar uma rede de diálogos para discutir e
obter uma compreensão maior sobre os crimes que vitimizam as meninas e mulheres, dispondo de
um engajamento, não apenas de meninas e mulheres, mas, também, de meninos e homens, na luta
para mudança desses dados estatísticos, porque a violência contra a mulher não é um problema
unicamente do gênero feminino e sim de todos, pois atinge as diversas camadas sociais.
A violência contra a mulher constitui violação dos direitos humanos e liberdades fundamentais
na Convenção de Belém do Pará, como ficou conhecida a Convenção Interamericana para prevenir,
punir e erradicar a violência contra a mulher, adotada em 9 de junho de 19945 pela Assembleia Geral
da Organização dos Estados Americanos (OEA). Nos dispositivos das diretrizes curriculares, os
direitos humanos estão como princípio norteador e como um dos papéis fundamentais da escola em
garanti-los, contribuindo para o conhecimento de direitos fundamentais.
Empodere-SER
O espaço de desenvolvimento da proposta foi a Escola Estadual Visconde de Souza Franco que
funciona, atualmente, com 9 turmas e divide um prédio público, na avenida Almirante Barroso, com
outras organizações da SEDUC, a então USE 8 e o Centro de Atendimento Educacional Especializado
4 O FBSP é uma organização não-governamental, apartidária, sem fins lucrativos, que se dedica a construir um ambiente
de referência e cooperação técnica na área de segurança pública. Site: https://forumseguranca.org.br/.
5 Convenção Interamericana Para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, “Convenção de Belém do
Pará”. Adotada em Belém do Pará, Brasil, em 9 de junho de 1994, no Vigésimo Quarto Período Ordinário de Sessões da
Assembleia Geral. Disponível em: https://www.oas.org/pt/ cidh/ mandato/basicos/belemdopara.pdf. Acesso em: 4 nov.
2023.
6O Cine Soufran é um projeto desenvolvido na escola pela área do conhecimento em Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas.
Para as turmas da 3ª série, foram ministradas aulas sobre performance, segmento artístico
estudado na arte contemporânea. De acordo com Yasmim Abdalla (2017) 7, esse estilo de arte passou
a ser catalogada desde as décadas de 50 e 60 do século XX, um dos destaques deste segmento é a
performista Marina Abramovic, que atua desde a década de 1970.
A partir dessa iniciativa, as turmas foram divididas em equipes, cada uma responsável pela
idealização, a caracterização de personagens e a produção de figurinos que estivessem relacionados
aos diálogos desenvolvidos em sala. O que resultou em uma série de performances relacionadas ao
universo feminino, pensadas pelas/pelos alunas/os, que apresentaram com brilhantismo e
sensibilidade.
Com a finalidade de socializar toda a produção elaborada e trazer o debate para toda a
comunidade escolar, realizamos uma manhã de culminância, em alusão ao dia da mulher, celebrando
os produtos dos alunos e alunas. A abertura desta celebração, no hall central da escola, foi realizada
por nós, professoras Clea Palha, Nelma Freitas e a diretora Marilena Guimarães. Também, estavam
presentes os formadores do Cefor, Marcello Casanova e Salier Castro, orientadores do projeto
(Imagem 2).
Neste espaço, foram expostos os cartazes, um varal com as colagens e a realização de quatro
performances. A primeira, Mulher e o Padrão da Sociedade, duas alunas robotizadas, com um cartaz
grande pendurado no pescoço escrito: ‘O que falta para ela ser perfeita para você?’ Os demais,
7é a plataforma digital da SP–Arte que tem por objetivo conectar as galerias participantes a colecionadores e amantes
das artes. Disponível em: https://www.sp-arte.com/
A segunda equipe abordou o tema da violência contra mulheres trans e travestis, Não é só Maria
que sofre: Roberta da Silva sofreu também, um aluno estava caracterizado com um vestido todo
confeccionado de jornais, tendo seu rosto coberto com uma peça circular, também de jornal, desfilava
no hall seguido pelos demais componentes da equipe que seguravam pequenas placas com as
seguintes frases, quem ama não bate, o feminismo nunca matou ninguém, o machismo mata todos
os dias, uma vida sem violência é um direito das mulheres (Imagem 4).
Mexeu com uma, mexeu com todas foi o tema da performance de outro grupo, tinham cartazes
vermelhos pendurados no pescoço com frases não é não, assédio não é elogio, e a culpa não é da
vítima. As alunas usavam capa de tecido branco manchado com tinta vermelha e o aluno tinha suas
mãos pintadas de vermelho.
Segundo o Dossiê de Mortes e Violências Contra LGBTI+8, em 2022, foram cerca de 273 casos
de mortes violentas, sendo 58,24% de pessoas travestis e mulheres transsexuais. O Brasil foi o país
que mais matou LGBTQI+ em todo o mundo, pelo 14º ano consecutivo. Sendo considerado um lugar,
extremamente, inseguro para essa população.
Uma terceira ação, surge a partir da solicitação dos alunos por um espaço que pudessem recitar
poesias, fazer denúncias, desabafos, compartilhar experiências (Imagem 5).
Para atendê-los, havia um Microfone Aberto - um espaço disputado e bastante usado durante o
evento.
Considerações Finais
Durante as aulas e culminância do projeto, por diversas vezes, alunos e alunas relataram
experiências, vividas ou testemunhadas, a respeito de crimes que vitimam meninas e mulheres.
A escola foi palco não apenas de conteúdo, mas de vivências, trocas de experiências e
transformações de saberes, diante do exposto, pode-se afirmar que alcançamos o objetivo de
contribuir para a construção de uma consciência crítica para reconhecer e coibir atitudes de violência
8 O Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil é uma instância da sociedade civil autônoma,
protagonizada pela parceria entre Acontece LGBTI+, ANTRA e ABGLT. Nossa missão é a garantia do Direito à Vida da
comunidade LGBTI+. Disponível em: https://observatoriomortes eviolenciaslgbtibrasil.org/slides/observatorio-mortes-lgbt/
Esta primeira experiência, será relevante para as próximas etapas, foi um desafio e nem tudo
o que foi planejado foi executado, mas entendemos que isso, também, faz parte do processo. Após
uma avaliação, elaboramos novas estratégias para o desenvolvimento do projeto no próximo ano letivo
que a lei 8.775/2018 (Pará, 2018) e sua implementação com os projetos desenvolvidos nas escolas
sejam mais um instrumento de combate e enfrentamento de violências contra as mulheres existentes
em nossa sociedade.
Referências
ABDALLA, Yasmin. Mas, afinal, o que é uma performance?. São Paulo: SP-Arte Editorial, 2017.
Disponível em: <https://www.sp-arte.com/editorial/mas-afinal-o-que-e-uma-performance/>. Acesso
em 26 nov. 2023.
BERTH, Joice. Empoderamento. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
BRASIL. Constituição Federativa do Brasil. Brasília: Presidência da República, 1988.
BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Brasília,
DF:Diário Oficial da União, 1996.
BRASIL. Senado Federal. Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha e normas
correlatas. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2019. Disponível em:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/496319/000925795.pdf. Acesso em: 3 nov. 2023.
BRASIL. Casa Civil. Lei 13.104, de março de 2015. Brasília: Casa Civil, 2015. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_ 03/_ato2015-2018/ 2015/lei l13104.htm.> Acesso em: 5 nov.
2023.
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação – uma introdução ao pensamento
de Paulo Freire. 3. ed. São Paulo: Cortez & Moraes, 1980.
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
PARÁ. Lei Ordinária nº 8775, de 16 de outubro de 2018. Institui no âmbito das escolas públicas e
privadas do estado do Pará a semana do empoderamento feminino. Belém, PA: Diário Oficial do
Estado, 2018.
Resumo
Este relato de experiência objetiva compartilhar o desenvolvimento e o resultado da intervenção pedagógica intitulada
“Uma história contada em biografia”, realizada como parte das ações da Semana do Empoderamento Feminino, instituída
pela Lei 8775/2018 (Pará, 2018). Tomamos o gênero textual biografia como ponto de partida à produção de texto de
alunas/os do 9º ano do Ensino Fundamental, da Escola E.E.F.M. Professora Placídia Cardoso, no ano letivo de 2023. Em
uma atividade interdisciplinar, exploramos tanto os saberes da Língua Portuguesa quanto os da História, evidenciando o
gênero em questão como um caminho para o ensino-aprendizagem de conceitos importantes, como o de Empoderamento
Feminino; bem como à realização de atividades de uso e reflexão linguística, e de apresentação de fatos históricos do
cotidiano do discente. Os pressupostos teóricos que fundamentam a atividade embasaram-se, dentre outros, em
Marcuschi (2010), Koch (1992, 2011, 2012), Koch e Elias (2016), Silva (2010), Berth (2019) e Documento Curricular do
Estado do Pará (Pará, 2021).
Introdução
Assim sendo, a fundamentação teórica que subsidia esta discussão se baseia nos
pressupostos dos gêneros textuais, em especial o gênero biografia (Marcuschi, 2010; Silva, 2010),
apontado aqui como uma alternativa para o ensino de objetos de conhecimentos da Língua
Portuguesa e da História. No campo específico das Ciências Humanas, buscamos subsídio em Berth
(2019), com o propósito de fundamentar os saberes do componente curricular História, em especial,
a história e a construção do conceito de Empoderamento Feminino. Não obstante, subsidiamos nossa
discussão do Documento Curricular do Estado do Pará - DCE/PA (Pará, 2021).
A realização desta atividade junto a uma turma de 9º ano agregou uma grande experiência
em relação ao trabalho interdisciplinar e à vivência narrada por nossas/nossos estudantes. As histórias
compartilhadas enriqueceram nossa formação enquanto ser humano e educadoras, mostrando o
quanto é importante, em nossa prática pedagógica, despertar no aprendiz os saberes e os sentimentos
que ainda estão adormecidos. Por meio da biografia, as/os alunas/os tiveram a oportunidade de lançar
um olhar mais atento ao seu ambiente familiar, percebendo que, nesse círculo, há mulheres com
grandes histórias de vida, que podem ser vistas como Mulheres Empoderadas.
Aporte Teórico
Diante dessa compreensão, Marcuschi (2010) destacou a necessidade de tomar a noção dos
gêneros textuais como abordagem de ensino-aprendizagem de línguas, visto se constituírem
verdadeira oportunidade de estudá-las, em situação cotidiana, em seus usos autênticos. Marcuschi
(2010, p. 37) destaca que “nada do que fizermos linguisticamente estará fora de ser feito em algum
gênero”, fazendo uso de algum texto. O autor corrobora com os postulados de Dolz e Schneuwly
(2004, p. 57), para quem os gêneros “devem constituir os ingredientes de base do trabalho escolar,
pois, sem os gêneros, não há comunicação e, logo, não há trabalho sobre comunicação.”
Há alguns anos, em contexto brasileiro, nas escolas da Educação Básica, os gêneros textuais
servem de modelo didático para o ensino da Língua Portuguesa. Em outras palavras, no campo do
ensino-aprendizagem das línguas, os gêneros textuais embasam currículos escolares, a exemplo do
que acontece na educação pública do Estado do Pará. O DCE/PA (Pará, 2021), seguindo orientações
presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (Brasil, 1998) e na Base Nacional Comum
curricular - BNCC (Brasil, 2018), pauta a abordagem do ensino da Língua Portuguesa na concepção
interacionista da linguagem, tomando o texto como objeto de ensino e os gêneros textuais como eixo
de progressão e articulação para o Ensino da Língua Portuguesa.
Assim,
[...] o ensino por meio de diferentes gêneros permite a valorização das culturas específicas de
cada lugar e da própria identidade, relacionando a forma do sujeito ser estar no mundo com
outras formas diferentes da sua; logo, considerando aspectos como as necessidades e
finalidades de aprendizagem, a faixa etária, a série, sugere-se um trabalho sistematizado e
aprofundado com um gênero discursivo por bimestre (Pará, 2021, p. 108).
Seguindo essas diretrizes do documento curricular paraense que orienta nossa prática
pedagógica, na ação que desenvolvemos, optamos por trabalhar com o gênero textual biografia,
realizando encaminhamentos didáticos sistematizados em sequência didática (Dolz; Noverraz;
Schneuwly, 2004), conforme sugerido pelo DCE/PA (Pará, 2021).
[...] ela se apresenta como um meio que facilita a discussão histórica ao despertar a curiosidade
dos alunos porque fornece nomes e faces aos processos históricos. Ou seja, a biografia
personaliza a História que enfoca estruturas e processos amplos. E, em uma sociedade em quem
a individualização está por toda parte, associar contextos históricos a personagens que os alunos
possam nomear, dos quais possam se recordar, é fornecer as ferramentas mais importantes, se
interessar por esses momentos históricos (Silva, 2010, p. 17).
Dentro das ações realizadas na intervenção pedagógica Uma história contada em Biografia,
a atividade consistiu em as/os alunas/os biografar uma mulher vista por elas/eles como empoderada,
pertencente ao seu seio familiar. Nesse momento, as/os alunas/os tinham a palavra e escreviam
conforme a sua interpretação dos fatos coletados em entrevista informal. O objetivo era mostrar a
mulher empoderada que havia em sua família, a qual era digna de sua admiração. A atividade de
escrita deu-se, portanto, de forma contínua, em que os estudantes escreveram e reescreveram seu
próprio texto a fim de aperfeiçoá-lo quanto aos aspectos discursivo e formal.
Na referida atividade, vimos o gênero textual biografia como uma possibilidade para a/o
aluna/o apresentar sua compreensão sobre o conceito que estava sendo trabalhado naquela
sequência didática: Empoderamento Feminino. Discutimos sobre o conceito apresentado na Lei da
Semana do Empoderamento Feminino, Lei 8775/2018 (Pará, 2018), de autoria do Deputado Carlos
Bordalo.
[...] a autoaceitação de características culturais e estéticas herdadas pela ancestralidade que lhe
é inerente para que possa, devidamente munido de informações e novas percepções críticas
sobre si mesmo e sobre o mundo em volta, e, ainda, de suas habilidades e características
próprias, criar ou descobrir em si mesmo ferramentas ou poderes de atuação no meio em que
vive e em prol da coletividade (Berth, 2019, p. 18).
O conceito de Empoderamento Feminino assumido por Berth, deve ser visto como instrumento
de emancipação política e social, o qual visa promover a equidade entre os gêneros, defendendo a
liberdade e o direito igual. Empoderar-se, portanto, significa tomar poder sobre si!
Percurso Metodológico
A primeira ação realizada teve como ponto de partida a exibição do vídeo “Empoderamento
das mulheres” disponível no YouTube4, com duração de 2min37’. Após assistirmos ao vídeo, abrimos
uma roda de conversa para que os estudantes pudessem compartilhar o que aprenderam. A discussão
encadeou-se em uma perspectiva histórica e, a partir das falas dos discentes, buscamos construir
suas interpretações sobre Empoderamento Feminino. Na sequência, apresentamos o conceito desse
tema, segundo a perspectiva de Berth (2019).
Nessa mesma aula, também destacamos a importância das obras realizadas por Marie Curie
e por Clarice Lispector dentro do contexto histórico e geográfico em que essas viveram, o que nos
oportunizou dialogar sobre aqueles momentos históricos, enfatizando o pensamento humano daquela
época. Assim, conseguimos mostrar aos discentes o porquê das referidas mulheres terem sido
destaques na sociedade em que viveram.
Depois, acrescentamos outros questionamentos que a turma poderia fazer, a fim de obter
informações que exemplificassem o empoderamento de sua biografada. Sugerimos às/aos estudantes
que realizassem a entrevista “A mulher que me tornei” em forma de uma conversa, buscando um
ambiente agradável para que a entrevistada pudesse ficar confortável para buscar suas lembranças.
Recomendamos também que as alunas e os alunos tomassem nota das informações para,
posteriormente, escrever a biografia.
O material coletado foi analisado por nós, professoras, e, quando necessário, pedimos às/aos
estudantes para buscar mais informações sobre determinado fato, explorando a lembrança de sua
entrevistada. Na sequência, pedimos aos/às discentes que escrevessem o texto da biografia,
colocando em prática a sequência cronológica trabalhada em forma de linha do tempo. Orientamos
as/os estudantes a seguirem o modelo da biografia de Clarice Lispector, trabalhada no início dessa
intervenção pedagógica (Figura 1).
De posse das biografias escritas, realizamos a leitura. Ao invés de corrigir o texto, segundo a
norma culta, preferimos apontar os problemas ortográficos, orientando-os a buscar a forma correta.
Também apontamos os problemas referentes à coerência textual, pedindo às/aos estudantes que
reescrevessem alguns trechos.
Ao devolvermos os textos das biografias aos seus autores, procuramos trabalhar com eles os
marcadores discursivos, a fim de promover o encadeamento e a coesão textual (Koch, 1992, 2012,
2012; Koch; Elias, 2016). Listamos alguns marcadores discursivos presentes em textos de biografias
e exploramos o conhecimento das/dos estudantes, pedindo que apontassem outros operadores
linguísticos com a mesma funcionalidade. Recebemos uma nova versão do texto e, dada a
proximidade da culminância do evento, fizemos as correções e as orientações necessárias para
adequá-los à norma culta.
Os textos foram digitados para passarmos a uma nova fase da nossa ação: a confecção do
painel contendo as biografias, o qual seria apresentado na culminância do Projeto Trabalhando o
Empoderamento Feminino na Escola, realizado por ocasião da Semana do Empoderamento
Feminino, pela Escola Professora Placídia Cardoso. Vale ressaltar que esse painel foi produzido pelos
próprios discentes, sob nossa orientação.
Além desse, as/os estudantes também produziram um vídeo, fazendo a leitura de algumas
narrativas que foram selecionadas por nós, professoras. A fim de não constranger as biografadas,
optamos pela não identificação dessas. Assim sendo, as/os estudantes colocaram apenas as iniciais
de seus nomes e a leitura dos textos, durante a apresentação na culminância do Projeto, foi feita de
forma aleatória, isto é, sem a correspondência autor-texto
Periférico, o bairro do Jurunas é marcado pela luta e pelo trabalho de sua população, que vive
o desafio do saneamento básico, da segurança pública, da violência e da oportunidade de trabalho
(EEEFPPC, 2015), sem perder a esperança de uma vida melhor. As mulheres jurunenses, em especial
as biografadas pelas/pelos alunas/os, são batalhadoras: “Descendente de OS. e OC., R. sempre foi
uma mulher batalhadora e guerreira” e “Ela trabalha desde os 12 anos”. São empreendedoras: “Em
2016, ela começou a trabalhar com sublimação. Ela abriu um negócio e começou a ganhar muito
dinheiro com isso”. São vencedoras: “Mulher estudiosa e trabalhadora, concluiu os estudos”. São
generosas: “Ela gosta de aprender e compartilhar.”
Elas também são sonhadoras. Alguns dos sonhos já foram realizados: “Hoje, ela está muito
motivada para voltar a estudar e dessa vez realizar sua vontade que é cursar Designer de
sobrancelhas. Ela já conseguiu fazer um curso de 03 meses nessa área e espera aprender ainda
mais”. Outros, ainda são almejados: “Desde a infância C. tinha o sonho de cursar Medicina”; “Seu
maior sonho sempre foi ter uma casa com jardim”; “Seu maior sonho é conhecer Paris”; e “Seu maior
sonho é fazer missões, levando a Palavra de Deus para às nações”.
Os/as estudantes narram que suas homenageadas são dedicadas à família: “Seus filhos são
a sua motivação para continuar lutando cada dia mais. Nos textos, são perceptíveis também o olhar
que as mulheres têm sobre elas mesmas: “Hoje em dia, M. trabalha como empregada doméstica e se
considera uma mulher muito trabalhadora” e “Embora sua vida seja corrida, ela ama o que tem e o
que faz”.
Por meio dessas conquistas, os autores e as autoras das biografias consideraram essas
mulheres empoderadas: “Ela é mãe, esposa, trabalhadora e, principalmente, uma mulher
empoderada” e “Esta é sua história: uma mulher guerreira, dedicada e uma ótima mãe.”
Mas, como diz a canção, “nem tudo são flores”, os textos também retratam a história de luta
das biografadas, mostrando momentos de dificuldade financeira: “A vida dela era muito complicada
lá. Ela trabalhava com seu pai pescando camarões. Ela comia cabeça de camarão para vender o
corpo do marisco e conseguir dinheiro para dar comida aos seus irmãos mais novos”; “Neste momento
de suas vidas, passaram muitas dificuldades financeiras”; “[...] foi quando ela começou a trabalhar
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 35
com corte e costura. Desde então ela começou a ajudar o seu pai, sua mãe e seu irmão com o pouco
do seu dinheiro”; e “Ela estudou em uma escola, era bem dedicada. Mas as muitas dificuldades na
infância acabaram atrapalhando um pouco”.
Mostram também um histórico de violência vivido por elas desde a infância (quando viviam
com os pais): “Quando nova, apanhava muito de sua mãe. Mas aos 16 anos cansou da vida que
levava e foi embora para Belém do Pará, onde começou a trabalhar em casas de família [...]”; até o
momento atual (quando vivem com os companheiros): “O relacionamento com o pai de sua filha foi
temporário, pois ele era uma pessoa agressiva e ela não queria que sua filha crescesse presenciando
cenas de agressões, como ela vivenciou na infância”.
Foram muitas histórias de sofrimento, mas também de superação, o que fizeram os/as
estudantes compreenderem que as mulheres biografadas por eles são, sim, empoderadas, pois
assumiram seu lugar no mundo, compreendendo o papel que lhes cabe, lutaram por seus sonhos e
superaram e/ou buscam superar os percalços da vida.
Os textos produzidos de acordo com o gênero biografia constituíram-se também um meio para
que nossas alunas e nossos alunos colocassem em prática saberes aprendidos em Língua
Portuguesa e História. Trabalhamos a organização das informações em forma de linha do tempo, a
fim de fazer o/a estudante observar a cronologia dos fatos, o que pode ser visto neste trecho da
biografia “C.H.S. - a biomédica de sucesso”, em que o autor apresentou informações sobre o
nascimento da homenageada, seguida da informação sobre a família e a infância, passando para o
momento da juventude. No trecho, fica evidenciado uma cronologia seguida pelo estudante, muito
embora as informações não sejam necessariamente colocadas na ordem dos acontecimentos. Para
organizá-lo, o discente lançou mão de recursos linguísticos como “Quando jovem” e “Mas, antes disso”
(Destaque nosso):
CHS. nasceu no ano de 1989, no dia 13 de abril. Ela é de Belém do Pará. Os seus pais eram
autônomos e trabalhavam em cidades festivas de santos, vendendo lembrancinhas. C. é a
terceira de seis filhos do casal, filhos esses biológicos e afetivos.
Desde a infância C. tinha o sonho de cursar Medicina. Ela era muito estudiosa. Ela esforçou-se
muito para poder ser médica. Porém não conseguiu ser aprovada nesse curso. Ela passou no
vestibular para Biomedicina. C. se orgulha muito de ter se formado nesse curso superior.
Quando jovem, namorou com PR., com quem se casou. Mas, antes disso, ganhou o prêmio
de Miss Simpatia, do qual se orgulhou demais. C. era uma jovem que gostava muito de
festividades, sobretudo as juninas.
Sobre as produções textuais discentes, é válido informar que, das vinte biografias produzidas,
nem todas foram escritas fazendo uso dos recursos linguísticos aqui destacados. Em algumas havia
apenas as informações em sequência cronológica, obedecendo a ideia de linha do tempo trabalhada
e de narração da história de uma mulher que, aos olhos do discente/autor, é empoderada.
Considerações Finais
As atividades desenvolvidas nesta intervenção pedagógica nos permitiram perceber que as/os
estudantes envolvidas/os conseguiram compreender o conceito de Empoderamento Feminino
trabalhado, conforme os trechos destacados; bem como conseguiram aplicar, em sua produção
textual, os objetos de conhecimentos dos componentes curriculares Língua Portuguesa e História que
foram tratados, tal como objetivávamos.
O resultado aponta, dessa forma, o gênero textual biografia como um caminho possível para
o ensino dos referidos componentes curriculares, bem como para o ensino de conceitos importantes
para a formação discente. Não obstante, trata-se também de um recurso pertinente para atividades
de uso e de reflexão linguística discursiva.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BERTH. Joice. Empoderamento - Feminismos plurais. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa: terceiro
e quarto ciclos. Brasília: MEC/SEF, 1998.
Resumo
Este relato tem como objetivo apresentar uma experiência didático-pedagógica realizada com um grupo de seis alunas do
Ensino Médio, como parte das ações que integraram as ações da Semana do Empoderamento Feminino, instituída pela
Lei 8.775/2018 (Pará, 2018), de autoria do Deputado Carlos Bordalo. Dentro desse contexto, produzimos com essas alunas
o ensaio fotográfico Revelando Sentimentos: Da dor ao Empoderamento (Exposição Fotográfica). Esse ensaio tem o intuito
de retratar a violência contra as mulheres e refletir sobre os sentimentos aflorados nessas estudantes durante a produção
das fotos. Os resultados revelaram que as alunas envolvidas captaram os conceitos e as leis trabalhadas durante as aulas,
assim como, compreenderam como agir e proceder em eventuais situações de violência, nas quais elas forem as vítimas.
Introdução
Essa experiência teve como objetivo representar por meio de um ensaio fotográfico a violência
contra as mulheres e discutir acerca das sensações sentidas no processo de produção das fotos.
Acredito que convidar nossas alunas a participarem de projetos como esse, nos quais se tornam
protagonistas de suas experiências e descobertas, vai fazer com que elas se sintam mais vivas e
sabedoras das providências e ações que devem tomar em caso de violência contra elas.
Nesse projeto, houve uma conexão com as artes envolvendo uma produção fotográfica
relacionada à violência contra mulher, principalmente a física; e para torná-lo mais significativo,
fizemos um debate sobre os sentimentos e emoções aflorados durante o desenvolvimento do trabalho.
As atividades artísticas expressam diversas formas de interpretação e sentimentos, e foi com essa
intenção que busquei criar com um grupo de alunas, por meio de um ensaio fotográfico realizado por
elas, um momento de reflexão, com o intuito de produzir pensamentos sobre os aspectos relacionados
à violência física contra a mulher.
1Professora de Língua Inglesa da Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc/PA). Especialista em Letras pela
UEPA. Graduada em Letras pela UNAMA.
Empoderar-se!
Nesse sentido,
Empowerment é um conceito do qual muito se fala, mas pouco se pratica. Seu objetivo é simples:
transmitir responsabilidade e recursos para todas as pessoas a fim de obter a sua energia criativa
e intelectual, de modo que possam mostrar a verdadeira liderança dentro de suas próprias
esferas individuais de competência, e também, ao mesmo tempo, ajudá-las a enfrentar os
desafios globais de toda a empresa. O empowerment busca a energia, o esforço e a dedicação
de todos e tirar do gerente o antigo monopólio do poder, das informações e do desenvolvimento
(Chiavenato, 1999 apud Silva; Souza Júnior, 2019, p. 3).
O empoderamento vem dar poder às mulheres para que elas conquistem seu papel na
sociedade e se conheçam melhor, para que deixem de ser vistas apenas para realizarem serviços
relacionados com o lar, como ser dona de casa sustentada pelo marido, haja vista que as mulheres
têm sido subordinadas aos homens durante muito tempo e seu papel na sociedade era apenas como
um enfeite ao lado deles (Silva; Souza Júnior, 2019)
Ao longo dos anos, as mulheres começaram a despertar para situações que as colocavam de
maneira desigual em vários pontos, principalmente no mercado de trabalho e em determinadas
profissões que antes eram ocupadas somente por homens, juntamente com os abusos físicos e
psicológicos em meio a opressões e humilhações, porém o que se fazia silêncio se tornou voz e
consciência por seus direitos, dignidade e respeito por suas escolhas e por isso a expressão
empoderamento é atualmente umas das mais utilizadas para propagar essas lutas.
Dada importância do tema, a ONU Mulheres (Organização das Nações Unidas voltada para as
mulheres) criou sete princípios do Empoderamento Feminino, a saber: Liderança; Igualdade de
oportunidade, inclusão e não discriminação; Saúde, segurança e fim da violência; Educação e
formação; Desenvolvimento empresarial e práticas da cadeia de fornecedores; Liderança comunitária
Com a homologação da Lei Maria da Penha, Lei nº. 11.340 (Brasil, 2006), em nosso país,
percebeu-se um grande avanço nas questões que cercam os direitos das mulheres, outrora ignorado,
muitas vezes, por quem deveria combater situações de violência, nas suas diversas formas, e não o
fazem; nesse caso, o poder público.
As mulheres começaram a ter voz para lutar por suas dignidades, passando a ter mais apoio,
como por exemplo a criação de Delegacias especializadas em atendê-las nos momentos em que se
sentem fragilizadas, oprimidas e não saberem o que fazer, inclusive com atendimento psicológico,
pois chegam desestruturadas emocionalmente, quando agredidas fisicamente.
Empoderando-se!
Esses momentos foram disponibilizados concomitante às aulas de Língua Inglesa, por meio de
atividades que associassem a ministração do idioma e a temática proposta pelo Centro de Formação
dos Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará (CEFOR/SEDUC) sobre o Empoderamento
Feminino.
Nas aulas de Língua Inglesa, analisamos duas frases e uma canção de personalidades e
ativistas que representam atualmente a voz das mulheres, que vão desde abordagens sociais e
políticas aos relacionamentos abusivos. Abaixo algumas das inserções realizadas em sala:
● You have to act as if it were possible to radically transform the world. And you have to do it all
the time. – Tradução: Você deve agir como se fosse possível transformar radicalmente o
mundo. E você deve fazer isso o tempo todo.
A assertiva em questão foi proferida por Angela Davis (2016 [1981]), uma ativista norte-
americana de enorme representação no combate à segregação racial nos Estados Unidos na década
de 1960. Ela se tornou professora na Universidade da Califórnia, nos departamentos de História da
Consciência e Estudos Feministas.
● Let us remember: one book, one pen, one child and one teacher can change the
world. – Tradução: Vamos lembrar: um livro, uma caneta, uma criança e um professor podem
mudar o mundo.
A segunda frase foi proferida pela adolescente paquistanesa Malala Yousafzai (Yousafzai;
Lamb, 2013), que se tornou em 2014 a pessoa mais nova do mundo a receber o Prêmio Nobel da
Paz, com apenas 17 anos, é conhecida pelos seus esforços na luta pela educação de meninas em
seu país, tendo sofrido diversas perseguições do grupo extremista que o controlava no período.
A canção utilizada para fomentar a reflexão sobre a temática que estava sendo tratada intitula-
se Flowers2, interpretada pela cantora, compositora e atriz estadunidense Miley Cyrus e aborda a
história de uma pessoa que se libertou das amarras emocionais que lhe faziam mal, de um antigo
relacionamento, e pode ser feliz consigo mesma, sem depender do outro para sua caminhada.
Tanto as falas dessas mulheres empoderadas quanto a letra da canção escolhida serviram de
pano de fundo para suscitar o debate acerca da posição da mulher no mundo e sua luta por uma
sociedade mais justa e igualitária. A próxima etapa seria o convite das alunas para a realização do
ensaio fotográfico.
Ao longo das ministrações das aulas de Inglês e da apresentação do percurso teórico por meio
de discussões e de debates, percebi um interesse dos discentes pelo campo das artes. Foi quando
esta experiência didático-pedagógica passou da teoria para a prática. Em um momento de lazer,
ocorreu-me um pensamento/ideia: ao apreciar uma exposição de fotografias, cogitei a possibilidade
de reunir algumas alunas para fazermos um ensaio envolvendo as situações recorrentes aos abusos
sofridos por mulheres e suas redenções.
No dia marcado para fazermos as fotos, as alunas se produziram conforme o que havíamos
pensado: em um primeiro momento, a fim de evidenciar as situações de abuso, elas usariam roupas
rasgadas e fariam poses que expressassem dor; em um segundo momento, elas se vestiriam e se
maquiariam de modo a expressar sua redenção, demonstrando sentimentos de alegria, bem como
atitudes de encorajamento e empatia.
A produção foi realizada em uma sala de aula da própria escola, de maneira proposital, pois
evidencia o processo de relação entre aprendizado e situações do cotidiano. A primeira parte do
ensaio, em preto e branco, mostra os momentos de sofrimento e tristeza que envolvem a fragilidade
e o silêncio das mulheres, vítimas de violência. A outra parte, em cores, simboliza a luta, a
reconstrução e a união em prol do resgate da autoestima e de seus verdadeiros valores, ou seja, a
busca por seu amor-próprio, desatrelamento e coragem para se libertarem das amarras opressoras e
repressoras.
Na primeira parte do ensaio fotográfico, fizemos uma sequência de fotos em preto e branco
para evidenciar as situações de abuso físico e psicológico sofridas por mulheres (Imagem 1).
Na segunda foto (Imagem 2), temos uma discente em uma cena com trajes rasgados em
consequência de uma possível violência física.
A terceira foto (Imagem 3) mostra uma aluna encenando a vergonha por ter passado por
humilhações e abusos psicológicos.
Imagem - 4: Quanta dor... Por favor, pare! Minha alma está ferida!
Fonte: Arquivo pessoal (2023)
A segunda parte do ensaio foi composta de fotos coloridas (Imagem 6). Essas fotos revelam
a mudança ocorrida na vida das mulheres, com as perspectivas de dias melhores, vindos com o poder
da voz e da reflexão. A intenção é perceber que por muitas vezes é necessário buscar ajuda daqueles
que estão ao nosso lado e que se importam com a nossa dor.
O alívio e sentimento de que a liberdade e a chance de recomeçar estão mais perto do que
nunca, por vezes um caminho difícil, porém a vitória é garantida (Imagem 7).
A imagem 7 mostra as mulheres de mãos dadas, indicando que são fortes e capazes de mudar
o cenário das suas vidas. São, portanto, mulheres empoderadas que podem protagonizar suas
histórias.
Com esse ensaio, em que apresentamos as fotos das alunas na Semana do Empoderamento
na escola, fomentamos discussões para combater a violência doméstica, situações de abusos físicos,
psicológicos e o feminicídio. Desse modo, almejamos tratar a fotografia como forma de ativismo visual,
tendo como foco o empoderamento feminino (Müller; Dias, 2019) e assim trazer reflexões sobre o
lugar da mulher na sociedade e o respeito que devemos ter a todas as mulheres.
Considerações Finais
Ao realizar uma análise qualitativa do material produzido por meio do ensaio fotográfico, foi
possível observar que as alunas envolvidas captaram os conceitos e as leis que foram trabalhadas
durante as aulas e que culminaram nesta produção artística, bem como, compreenderam como agir e
proceder em eventuais situações de violência que porventura atinjam suas vidas, pois o papel da
escola também tem seu caráter social e isto precisa ser levando em consideração, já que pode
influenciar na vida estudantil destas discentes.
BERTH. Joice. Empoderamento – Feminismos plurais. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
BRASIL. Casa Civil. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006 – Lei Maria da Penha. Brasília: Casa Civil,
2006. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil _03/ _Ato2004-2006/ 2006/Lei/L11340.htm>.
Acesso em: 5 dez. 2023.
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo, Boitempo, 2016 [1981].
MÜLLER, Luana Anita; DIAS, Ricardo Henrique Almeida. A Fotografia como Ativismo: de Mulheres e
por Mulheres. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XX
Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul, Porto Alegre – RS, 20 a 22/6/2019. Disponível
em: R65-0653-1.pdf (portalintercom.org.br). Acesso em: 5 dez. 2023.
PARÁ. ALEPA. Lei 8775, de 16 de outubro de 2018. Institui no âmbito das escolas públicas e privadas
do estado do Pará a Semana do Empoderamento Feminino. Belém: ALEPA, 2018.
SILVA, Jaqueline Santos; SOUZA JÚNIOR, Martinho Lutero de. Empoderamento feminino: um
estudo de campo com mulheres em diversos espaços da sociedade local. Caratinga-MG: Doctum,
2019. Disponível em: https://dspace. doctum.edu.br/ handle/ 123456789 /2354. Acesso em: 25 nov.
2023.
YOUSAFZAI, Malala; LAMB, Christina. Eu sou Malala: a história da garota que defendeu o direito à
educação e foi baleada pelo talibã. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. ISBN 978-85-359-
2343-8.
Resumo
O objetivo deste relato é partilhar o resultado de ações (aulas, exibição de filmes, roda de conversa e etc.) que culminaram
na Semana do Empoderamento Feminino, bem como o efeito produzido por essa ação na comunidade da Escola Estadual
de Ensino Fundamental e Médio Benjamin Constant. A Semana do Empoderamento Feminino tem como base a Lei
ordinária 8.775 (Pará, 2018), de 16 de outubro de 2018, e aconteceu no período de 6 a 10 de março de 2023. Entre as
atividades ocorridas, tivemos a visita do deputado estadual Carlos Bordalo, autor da lei citada. O trabalho foi desenvolvido
por meio de aulas, exibição de filmes e roda de conversa relacionados ao tema, com as alunas e os alunos das turmas do
7º, 8º e 9º ano, com foco na discussão sobre os tipos de violência descritas na lei Maria da Penha (Brasil, 2006). Este
trabalho visou a informar e a esclarecer as/os estudantes para que elas/eles consigam identificar um momento de violência
que venham presenciar e, assim, denunciar, combatendo, dessa forma, a prática da violência doméstica e familiar contra
a mulher.
Introdução
Seu nome atual foi dado por um de seus diretores, o professor Raymundo Trindade, que
solicitou ao Exmo. Sr. Governador, que fosse o mesmo chamado de Grupo Escolar Benjamin
Constant, em homenagem ao fundador da República. Até hoje funciona no prédio que pertencia aos
herdeiros do Visconde de Santo Elias, na travessa Benjamin Constant, nº 497, no bairro do Reduto.
O primeiro diretor da escola foi o prof. Bertoldo Nunes. Atualmente a escola está sob a direção da
professora Márcia Cristina Miranda Lopes. A escola atende alunas e alunos do Ensino Fundamental
e do Médio de Tempo Integral e do Ensino Médio Regular.
1 Edival Rodrigues Prazeres (Geógrafo e Professor de Geografia e Estudos Amazônicos, Mestrado pela Universidade
Estadual do Pará - UEPA), Professor da E.E.E.F. Benjamin Constant.
2 Josiane Tenório Souza (Historiadora e professora de História, especialista pela Universidade da Amazônia - Unama),
Pressupostos Teóricos
A educação democrática está mais presente, mas quando nos aprofundamos em tal
pensamento vemos que, na maioria das vezes, ela não passa de anseios que permeiam o espaço
escolar e são bloqueados por medo de adentrar em novos terrenos, continuando na “segurança” do
senso comum.
De acordo com Libâneo (1999, p. 104), a escola deve ser espaço de construção para um novo
pensamento popular, voltado a criar uma ideologia que trabalhe ao seu favor, para seu
desenvolvimento, para ele, a nova escola “precisa deixar de ser meramente uma agência
transmissora de informações, e transformar-se num lugar de análises críticas, produção e propagação
da informação”.
Logo, as/os alunas/os aprendem a analisar as informações que a escola traz, e não apenas
visualizá-las e internalizá-las. Esse tipo de atitude permanece com o aluno pela sua vida quando ele
entende que no momento que pensa sobre algo, ele tem poder de internalizar aquilo que se mostra
mais relevante conforme sua realidade, e toma para si principalmente o que pode trazer contribuições
para agir no seu contexto.
Portanto o estudante deve ser o ponto de partida para qualquer didática, método ou
planejamento adotado na escola. O ato de reuni-los para produzir, direta e intencionalmente,
conhecimento é de suma importância para a formação de cidadãos críticos e reflexivos capazes de
trabalhar os mais diversos tipos de assuntos, até mesmo os mais delicados como a violência contra a
mulher. Mas que atualmente pós-período pandêmico necessita ser debatido, principalmente no âmbito
escolar.
A pandemia fez com que as mulheres ficassem mais tempo em casa, na companhia de
parceiros, tutores e familiares, muitas vezes na companhia de seus agressores, o número de casos e
denúncias sobre violências aumentou significativamente: registros de feminicídio cresceram 22,2% e
os chamados para o 180, Central Nacional de Atendimento à Mulher, aumentaram em 34% se
comparado com o mesmo período dos anos anteriores, de acordo com o Fórum Brasileiro de
Segurança Pública4.
Uma vez que essas agressões transcendem ao ato físico, os impactos emocionais chegam
também às instituições de ensino, trazendo consigo situações de violência doméstica que se tornam
visíveis no dia a dia da escola. Assim, é preciso trabalhar na base do problema e discutir no sentido
de esclarecer para combater a violência doméstica contra a mulher, planejar ações que proporcionem
o desafio ao modelo patriarcal de sociedade, onde o poder dominante pertence ao homem que
também detém os privilégios de gênero.
O espaço escolar deve oportunizar e garantir aos estudantes a possibilidade de pensar suas
condições e suas vivências, para que assim comece o processo de
4O fórum é uma organização não-governamental, apartidária, sem fins lucrativos, que se dedica a construir um ambiente
de referência e cooperação técnica na área de segurança pública (site: https://forumseguranca.org.br/).
Berth (2019) vem sintetizar a ressignificação do empoderamento pelo olhar das teorias do
feminismo negro e interseccional. Onde a compreensão e concepção de poder presente no
empoderamento é apreender que a nova lógica não é inverter as relações de poder, mas subvertê-la.
Portanto, empoderar não é somente mudar a dominação, mas sim garantir que as mulheres tenham
autonomia sobre suas escolhas, seus corpos, sua sexualidade, bem como ter o direito de desprezar
o abuso físico, abandonar as decisões unilaterais dos homens, ou seja, ter direitos de serem tratadas
com igualdade entre os gêneros no trabalho, em casa, na mídia, na família e na sociedade como um
todo.
Desse modo, com base no curso e atendendo ao que está previsto na Lei 8775/2018 (Pará,
2018) que institui no âmbito do Estado do Pará, a primeira semana do mês de março como a semana
dedicada a discutir a igualdade de gênero, com foco em ações que promovam o empoderamento
feminino nas escolas públicas e privadas do Estado. A escola Benjamin Constant promoveu uma série
de ações que incluíram oficinas, palestras, estímulo a pesquisas realizadas pelos próprios alunos,
apresentações de filmes, produção de material educativo, entre outros. Tais ações foram trabalhadas
ao longo dos meses de fevereiro e março de 2023, e envolveu de maneira geral toda a comunidade
escolar.
Nesse contexto, a Lei 8.775/2018 (Pará, 2018) institui a Semana Estadual do Empoderamento
Feminino que visa promover a igualdade de gênero nas escolas públicas e privadas do Estado do
Pará com atividades socioeducativas com a participação de alunos, professores, pais e comunidade.
Percurso Metodológico
Para que toda a comunidade escolar estivesse envolvida na execução do projeto, a escola
Benjamin Constant assegurou que as ações desenvolvidas no período da Semana do
Empoderamento Feminino acontecessem durante o horário das aulas. Dessa forma, foi traçado um
plano de trabalho que envolvesse todas as aulas e docentes durante aquela semana.
Durante a Semana o tema foi abordado sob vários aspectos e olhares em diversos
componentes e diversas áreas do conhecimento. O evento aconteceu no período de 6 a 10 de março
e envolveu várias ações como: palestras, confecção de um panfleto contendo as informações sobre
os tipos de violências descritas na lei Maria da Penha (Brasil, 2006), paródia da música 7 cores,
exibição de filmes e aulas priorizando os objetos de conhecimento do componente em diálogo com o
eixo temático do Empoderamento Feminino.
Houve a visita do Deputado Carlos Bordalo, autor da Lei 8775/2018 (Pará, 2018), que embasou
o curso ofertado pelo CEFOR. Ele participou de uma das rodas de conversa mediada pelos grupos
de alunos do 8º e 9º ano, que debateram as violências contra a mulher previstas na Lei Maria da
Penha, sob a supervisão da professora Mirian das Neves.
As palestras foram mediadas pelo professor Edival Prazeres e promovidas pela Dra. Alyne
Souza e pela Dra. Juliana Machado, advogadas que representam a Comissão da Mulher da OAB-Pa,
para falarem a respeito dos direitos da mulher e da lei Maria da Penha. E a Dra. Dandara Pinho que
ressaltou a importância de falar sobre a dificuldade de acesso da mulher negra ao ensino superior, a
palestra se tornou uma agradável roda de conversa com as turmas de 8° e 9° ano.
Um ponto alto do evento foi a roda de conversa com a Psicóloga Doutoranda pela UFPA, Críssia
Cruz, mediada também pelo professor Edival. A Psicóloga utilizou-se de uma dinâmica que consistia
em as/os alunas/os escolhessem aleatoriamente pequenos cartões coloridos com frases referentes a
questões de gênero e sobre os quais os mesmos deveriam comentar e ao mesmo tempo relacionar a
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 52
situações do cotidiano. A dinâmica fez com que as alunas e os alunos se sentissem tão à vontade que
chegassem a relatar as suas experiências familiares, situações vividas na escola ou de grupos de
amizade.
O componente Inglês ministrado pela professora Adhara Cunha Collyer trabalhou com a
exibição do curta “Vida Maria”, vídeos (em português e em inglês) sobre a história do dia internacional
da mulher, com perguntas para interpretar o vídeo e fixar os principais fatos. As/os estudantes
analisaram alguns cartoons com imagens de machismo e misoginia para identificar o que havia de
inadequado em cada um deles.
A escolha de traçar um plano de trabalho que assegurasse o andamento das aulas no período
da Semana do Empoderamento Feminino mostra que podemos dar a tais temas o tratamento de
objetos de conhecimento, desse modo, consideramos que nós educadores somos atores de
contribuição para a desconstrução de uma sociedade patriarcal e machista que tem gerado
desrespeito, desigualdade e violência contra a mulher.
Empoderando-se
Com relação às informações sobre o tema, deu para perceber o quanto ainda se faz
necessária, na verdade, pode-se dizer que o empoderamento começa por aí, se as mulheres
conhecerem os seus direitos serão menos vulneráveis a situações de desigualdade de gênero e de
violência.
As habilidades de alunos e alunas com artes foram praticadas quando a professora Miriam
propôs a construção de uma cartilha e panfletos (Imagem 1) abordando os tipos de violência contra a
mulher previstos na Lei Maria da Penha.
Outro ponto importante, foi a participação dos professores das diversas disciplinas,
coordenação, direção, apoio etc. Tal participação mostrou o quanto é importante o trabalho
interdisciplinar em volta da questão da igualdade de gêneros e do Empoderamento Feminino. Vídeos
trabalhados por diversos professores e aulas voltadas para a temática foram muito significativos e
repercutiram na comunidade escolar como um todo, mostrando que o trabalho em equipe só contribui
para o sucesso das ações promovidas pela escola.
Considerações Finais
Com isso, o empoderamento feminino é um caminho para que a mulher consiga ter seu espaço
na sociedade, ter poder de voz e liberdade de expressão, para que as mulheres se enxerguem e se
aceitem do jeito que são e amem seus corpos. Esse empoderamento passa também por uma questão
econômica, de colocar as mulheres em cargos de liderança e poder, isso ajuda para que as mulheres
comecem a escrever suas próprias histórias, pois a mulher sempre foi vista de forma secundária.
Por muito tempo, apenas os homens eram reconhecidos no mundo e apenas eles estavam no
poder, criavam conteúdos e eram os grandes nomes da sociedade e da cultura. Então se hoje
persistimos em reconhecer as mulheres como produtoras, relatando suas conquistas e colocando a
sua versão dos fatos, é uma maneira de empoderar outras mulheres para que elas não se sintam
reprimidas e busquem por mudanças necessárias para sua evolução, para se fortalecer e fazer suas
próprias escolhas.
Referências
Resumo
A partir de trabalhos pedagógicos desenvolvidos por professores e professoras do Ensino Médio Integral da Escola Dr.
Antônio Teixeira Gueiros, realizados entre 2022 e 2023, e com base no curso Educação de Gênero e Diversidade
formando para o Empoderamento Feminino, organizado pelo Centro de Formação dos Profissionais da Educação Básica
do Estado do Pará (CEFOR), desenvolvemos o Projeto “Empoderamento Feminino em Quadrinhos”, esse também
alinhado com a lei estadual 8.775 (Pará, 2018) que orienta o trabalho de empoderamento feminino nas escolas estaduais
e que institui a Semana do Empoderamento. Deste processo resultaram várias atividades interessantes na escola, como
a “Semana do Empoderamento Feminino” e a produção de uma HQ intitulada “Para que ninguém a quisesse, mas ela se
quer” de Marina Colasanti (1999). Como resultado, notamos maior engajamento das/dos alunas/os referentes às tarefas,
além do desenvolvimento de suas habilidades artísticas em textos que agregam várias matrizes de linguagem, como as
HQs.
Introdução
Em maio de 2022, na EEEFM Dr. Antônio Teixeira Gueiros, um grupo de docentes realizou
uma roda de conversa com representantes das turmas dos Ensinos Fundamental e Médio com base
na ação referente ao Plano Estadual de enfrentamento ao abuso e à exploração sexual de crianças
e adolescentes promovida pela Coordenação das Ações Complementares (CAEC) da Seduc-PA, em
alusão ao Dia Nacional do Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes para
esclarecimentos acerca dessa temática.
Essa roda de conversa encorajou e gerou a denúncia de um caso de abuso sexual por parte
de uma adolescente e expôs dilemas vivenciados pelas estudantes por conta de julgamentos em
relação ao modo de se vestirem e se portarem em público, além de relatarem episódios de
importunação e assédio seja em casa, na rua ou na própria escola.
1 Professora da rede estadual de ensino. Licenciada em Letras e Artes pela UFPA e Mestrado em Ciências da Religião
pela UEPA.
2 Professor da rede estadual de ensino. Licenciado e Bacharel em Ciências Sociais com ênfase em Antropologia – UFPA,
Aliás, a utilização dos quadrinhos como ferramenta pedagógica pressupõe também a própria
problematização da sua produção e mensagem em relação à pauta identitária sobre o feminino.
Nas muitas narrativas que constituem a história das HQs, de seus artistas e de seus
personagens, é recorrente a afirmação de que as mulheres tiveram pouco espaço num meio
dominado essencialmente por homens. Os cânones associados aos vários formatos de
publicação - da tira cômica às graphic novels - são de artistas homens dedicados a produzir
narrativas voltadas para leitores do sexo masculino. O caso das revistas de super-herói seria a
expressão mais representativa do silenciamento da presença feminina nas HQs (Gomes, 2020,
p. 7).
[...] é importante que a escola ao criar oportunidades para a construção e sistematização dos
conhecimentos ofereça também amplo acesso a informações na sala de aula sobre temáticas
emergentes que traz no seu interior processos sociais de discriminação e preconceitos
presentes na sociedade, como as relacionadas a questões de gênero e diversidade, por vezes
consideradas complexas e, por consequência, silenciadas no ambiente escolar (Pará, 2022, p.
47).
Muitas alunas presenciam ou são vítimas de episódios de abuso físico e/ou psicológico,
sentem-se rotuladas por sua forma de se vestir ou cobradas para assumir, de forma excessiva,
responsabilidades como as tarefas domésticas e o cuidado com irmãos menores.
Percebemos que a tirinha, produzida por uma aluna da segunda série durante o módulo Gênero
e Cotidiano da oficina de quadrinhos, expressa um entendimento crítico acerca da reprodução do
estereótipo da mulher como “rainha do lar”, em que as tarefas domésticas seriam sua exclusividade.
O que chama a atenção na sequência narrativa é que a reprodução de tal lugar-comum do “papel
feminino” é reforçada por outra mulher, no caso a mãe da personagem. Demarca-se assim a
compreensão, por parte da estudante, de como a educação familiar perpetua um ciclo marcado pela
cultura do patriarcalismo.
Essa é a realidade vivenciada em inúmeros lares por mulheres que em sua tripla jornada
(mãe, carreira profissional e donas de casa) experimentam uma forma de exploração que tende a ser
romantizada e condiciona a definição do ser ou não um modelo de “mulher completa”, e que em
determinados contextos é cobrado não só por homens, mas por outras mulheres.
“Trago um relato pessoal para ilustrar como a minha educação na infância e adolescência
também compactuou com essa noção que ao homem cabem outras funções que não as
atividades rotineiras da casa, onde cozinhar, varrer, lavar louça, sempre foram atividades
reservadas para as minhas irmãs e eu só cuidava de sair para fazer compras na mercearia,
pagar contas, essas coisas. Depois, seja pela necessidade de lidar com outros contextos e,
também, por uma tomada de consciência, entendi que não é demérito algum para o homem
assumir essas responsabilidades em casa, na verdade é até respeito e apreço pela
companheira” (Relato de professor).
De fato, em famílias que são compostas por casais de filhos homens e mulheres a tendência
é de que os primeiros, por se habituarem a não realizar tarefas domésticas, reproduzam esse
comportamento na vida adulta e assim continuam a naturalizar como uma conduta padrão. Até
mesmo a postura, o modo de se vestir, o falar e os espaços ocupados refletem esse efeito
condicionante da cultura em relação a como as identidades com base no gênero devem funcionar.
É a chamada pedagogia de gênero que tende a cristalizar atitudes adequadas ao ser homem
e ao ser mulher. Inicia-se já na infância com definição de cores conforme o sexo ou uso de
determinados tipos de brinquedos para menino ou menina. Para muitos, por exemplo, é estranho que
uma menina peça um carrinho de controle remoto para brincar em vez de um kit de cozinha, que
seria o “mais natural”.
Para desconstruir tais práticas e representações, é inescusável uma efetiva inflexão em relação
à crença de que a mulher dá conta de tudo ao mesmo tempo. Isso implica que quando o homem
participa e divide responsabilidades que foram estabelecidas como próprias do feminino, não significa
que está perdendo sua “essência de macho” e nem que precise ser valorizado de forma diferenciada
superestimando suas ações, mas que compreende a corresponsabilidade como uma forma de
desconstrução de visões essencialistas e socialmente injustas em relação a desigualdades de gênero
perpetradas por dogmas patriarcais.
Foi exposto, nesse momento oportuno, o conjunto de leis que tem como objetivo assegurar a
dignidade e o respeito à integridade plena feminina. Propostas que foram criadas em consonância
com os apelos e episódios, lamentáveis, das variadas manifestações da violência contra as mulheres.
Na vigente legislação temos como marco referencial a difundida Lei Maria da Penha – Lei
11.340/2006 (Brasil, 2006), que foi criada para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher,
estabelecendo medidas de assistência e proteção. Em seguida, entrou em debate a Lei Carolina
Dieckmann – Lei 12.737/2012 (Brasil, 2012), que tornou crime a invasão de aparelhos eletrônicos para
obtenção de dados particulares e íntimos, assim como a divulgação e compartilhamento de material.
Outro tema importante tratado foi sobre a Lei 13.718/2018 tornou crime a importunação sexual, que é
caracterizada como o ato libidinoso praticado contra alguém, sem a autorização da vítima, com o
objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro.
Em correlação a lei anterior, temos a caracterização do assédio sexual como crime no Brasil,
definido no artigo 216-A do Código Penal como “constranger alguém com o intuito de obter vantagem
ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou
ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”.
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 60
É preciso observar que existem outras iniciativas e dispositivos na legislação que estão
seguindo a obtenção de guarda-chuva de proteção à dignidade e qualidade de vida das mulheres em
sociedade. O caminho é árduo e longo, pois os movimentos e marés da sociedade seguem o ritmo da
democracia com riscos a retrocessos e pressões políticas opostas. Porém, há um evento em pujante
processo de construção do conhecimento e das oportunidades de direitos equânimes entre homens e
mulheres.
Essa dinâmica teve como escopo a proposta de composição de roteiro e arte para uma HQ a
partir das leituras e considerações decorrentes dos módulos 4; a fim de dispor de um dos objetivos
inerentes ao projeto, qual seja, a promoção da educação literária, o exercício da interpretação textual,
o incentivo à produção gráfica utilizando como ferramenta pedagógica as histórias em quadrinhos.
Cabe pontuar aqui a seguinte admoestação sobre o uso do quadrinho como instrumental
desencadeador para a fala dos estudantes na prática educativa.
4Clique aqui para acessar a HQ produzida pelas/pelos alunas/os e professoras/es do MI da escola Dr. Antônio Teixeira
Gueiros.
A oficina, projetada inicialmente para abranger seis módulos, teve que ser readaptada (por
questão de cronograma e adequação do material) para apenas três módulos assim definidos: módulo
I – Empoderamento feminino, módulo II – Cultura do assédio e módulo III – Gênero e cotidiano. É
conveniente destacar que complementar a essa sequência didática dos módulos a estrutura
metodológica do projeto comportava também, em paralelo, um curso de linguagem e ilustração dos
quadrinhos, ministrado por profissionais da área.
Mediante ao que foi delineado acerca da estrutura metodológica do projeto, iremos pontuar
algumas mediações a partir das falas e produções dos estudantes a fim de evidenciar como estes
ainda assimilam determinados conceitos e posturas de forma convencional em relação ao proposto
acerca das questões de gênero. Vejamos, no módulo “Cultura do assédio” apresentamos aos
participantes da oficina a crônica do jornalista Guilherme Goulart intitulada "A Estagiária” (2017).
Essa crônica foi publicada em setembro de 2017 no jornal Correio Braziliense 5 e expunha
como uma estagiária chamada Melissinha era descrita de forma objetificada no ambiente da redação
de um jornal. O início da crônica exprime a tônica do conteúdo.
Primeiro dia de trabalho. Melissa, estudante de comunicação social de uma faculdade particular
de Brasília, logo mostrou a que veio. Decotinho perverso, coxas de fora, pezinhos docemente
acomodados em sandalinhas rasteiras. Como se estivesse em uma passarela, a mocinha de
19 anos – recém feitos – desfilou a balançar os quadris para lá e para cá, para cá e para lá.
Escondia o nervosismo com o andar tão leve e brilhante quanto pluma e paetê. Melissa se
apresentou à coordenação de pauta da editoria de Cidades no início tarde, horário de repórter
na rua. Mas os poucos representantes da fauna masculina não decepcionaram o restante da
matilha (Goulart, 2017).
O fato é que a crônica recebeu uma série de críticas por exaltar o assédio no ambiente de
trabalho, o que a fez ser retirada do site do jornal e o autor em seguida publicar uma retratação, em
que afirmava que o objetivo do texto era justamente o contrário, ou seja, chamar a atenção para a
continuidade de tais condutas. Esse contexto foi posteriormente explicado aos discentes; entretanto,
a observação de um aluno a respeito do texto indicou a persistência de uma estigmatização que
culpabiliza a mulher por “provocar” o assédio, o que tivemos de refutar com reflexões que mostraram
que não é assim e que esse estigma não leva a nada.
Obviamente, entendemos que o aluno tem clareza que a mulher precisa se posicionar diante
de certas circunstâncias; todavia, não deixou de ser um desafio no processo da oficina esclarecer para
os estudantes que empoderamento feminino não significa algo semelhante a “masculinizar a mulher”,
mas trazer para o debate de sala de aula o combate às desigualdades e violências contra o gênero
feminino e mostrar que a mulher pode e deve ser protagonista da sua história. Tal é a divisa do
feminismo.
Outro aspecto observado na criação do roteiro da HQ foi a compreensão por parte dos
estudantes que o empoderamento feminino ocorre a partir da dinâmica da sororidade, isto é, da
confiança, solidariedade e acolhimento entre mulheres. Na HQ, tal intuição é retratada quando a
personagem Rosa, a partir de uma reportagem, acessa um site com relatos de mulheres que
passaram por relações abusivas e se sente encorajada a virar aquela página de sua vida.
Mulheres na literatura
Embora cientes de que a abordagem desse relato de experiência se pauta pelo projeto
Empoderamento Feminino em quadrinhos é necessário destacar que muitas outras ações educativas
relacionadas à temática foram desenvolvidas no âmbito escolar, tanto em sala de aula como na
culminância da Semana da Mulher em março de 2023 com o tema Empoderamento Feminino:
autoestima e engajamento. Apresentamos, dessa forma, uma dessas intervenções pedagógicas, que
esteve em consonância com o projeto e foi essencial na estruturação do mesmo, a partir das nossas
considerações em sala.
Ao ministrar aulas de Literatura Brasileira desde 2008 nas escolas públicas do estado do Pará,
nunca notamos em nossa escola uma aluna ou um aluno questionarem o lugar das autoras brasileiras
e o porquê de elas aparecerem a partir do Modernismo. Este questionamento rendeu debates acerca
do feminismo, questão de gênero, questão de pseudônimos e anonimatos na Literatura.
A falta de recursos financeiros foi um dos empecilhos, mas com a ajuda coletiva, tudo se
realizou e isto, para ela, foi um dos grandes aprendizados ao final deste processo. A nossa principal
desenhista da HQ é uma mocinha muito tímida e introspectiva e, com o processo de construção da
revista, também começou a participar mais, inclusive de eventos e passeios da escola e, pela primeira
vez, a vimos sorrir com gosto e parecer feliz por todo o processo ocorrido nos últimos meses de
construção e produção de nossa obra coletiva.
Então, nota-se que ler literatura produzida por mulheres já nos mostra os caminhos para o
empoderamento; já o fato de produzir literatura nos coloca no lugar do empoderamento feminino,
pois agora nós expressamos nossas dores e desilusões, anseios e decepções, damos vozes à
menina periférica com suas experiências de fuga de abusos ou assédios, sua sobrevivência e
resistência num mundo ainda muito machista em que escutam que não são capazes e que nunca
serão nada na vida, apenas por serem mulheres. E na literatura o movimento de dar voz às mulheres
começou apenas no século XX.
Nesse novo cenário, a literatura foi fundamental para pôr em discussão o papel implantado em
torno da mulher. Com isso, nesse movimento, de maior efervescência no século XX, começam
a manifestarem-se escritoras que passaram a produzir obras que põe em debate a posição
secundária e subalterna da mulher na sociedade, buscando suscitar no leitor novos pontos de
vistas a respeito da identidade feminina fundada pelo discurso patriarcal (Sousa et al., 2019, p.
32)
Dessa forma, começamos com o livro de contos “Olhos d’água” de Conceição Evaristo (2016),
em que as/os estudantes se depararam com contos curtos e nevrálgicos que geraram incômodo de
tal modo que algumas/alguns diziam preferir não ter lido, outras/outros choraram e outras/outros
queriam reescrever os contos para o final não ser tão triste, disseram. Falou-se nesse período da
estrutura do conto, da concepção dos personagens, da construção do olhar feminino, negro e
periférico a partir da obra desta autora.
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 65
Também trabalhamos com autoras do modernismo que romperam barreiras antes tão visíveis
para as nossas escritoras, pois nos movimentos literários anteriores as mulheres não tinham nem
voz nem vez, algumas precisaram de pseudônimos para escrever algo e publicar. Mas as coisas só
começaram a melhorar no modernismo.
Nesse período, a experiência feminina no campo literário levou as mulheres, até então
segregadas e emudecidas, a libertar-se na ficção e a emitir indagações sobre os discursos
absolutos, evidenciando as condições “de funcionamento, desmascarando os processos de
naturalização das diferenças hierarquizadas de gênero e, consequentemente, problematizando
o cânone literário estabelecido” (Rossini, 2016, p. 2).
Dessa forma, trabalhamos em sala de aula autoras como Cecília Meireles e Clarice Lispector,
fundamentais para as/os alunas/os entenderem o processo de construção da escrita feminina no
panorama literário brasileiro a partir do século XX. Suas lutas e sua escrita repercutem até hoje,
formando as novas gerações que vieram, inclusive, Marina Colasanti, a escritora base de nossa HQ.
Escolhemos uma crônica de Marina Colasanti intitulada “Para que ninguém a quisesse” (1999)
e primeiro focamos na estrutura da crônica, na distinção entre conto e crônica ou crônica e notícia de
jornal. Falamos da relação da crônica com o tempo, origem do nome vem de Khronos (Deus grego
relacionado ao tempo).
Então a crônica sendo uma narrativa mais curta e direcionada para acontecimentos daquele
período em que foi escrita poderia perder o encanto ou o sentido depois de alguns anos, mas
analisamos com as/os alunas/os que a crônica de Marina era muito atual, já que ainda hoje muitos
homens tentam silenciar suas mulheres e deixá-las tão sem graça e sem vida que mais parecem um
móvel da casa. Daí para chegar em graus mais severos como crimes de feminicídio temos uma linha
tênue.
Assim, também utilizamos como base de nossa HQ um poema de Cecília Meireles “Retrato”
(2001), além da crônica de Colasanti (1999), criando assim uma intertextualidade com produções
destas autoras. Desta forma, as/os discentes puderam continuar seu processo criativo, falando do
que escolheram em nossas rodas de criação: relacionamentos abusivos e tóxicos, silenciamento da
mulher, conscientização do processo abusivo, procura de ajuda, empoderamento, superação. Desta
forma, a partir de uma HQ, nossas/nossos estudantes quiseram conscientizar outras mulheres sobre
o que é um relacionamento abusivo e como se empoderar e superá-lo. Mas para isso tiveram a base
de reflexão e inspiração grandes autoras da Literatura Brasileira e seu trabalho de empoderar o
público feminino a partir de sua existência literária num país extremamente machista e a partir da sua
resistência por meio de sua escrita.
Percebemos que entre as metas traçadas e o caminho percorrido foi preciso rever, com a
prática do chão da escola, outras abordagens frente a diferentes variáveis: transferências de
estudantes durante o ano, falta de recursos financeiros para o aporte humano e material, calendário
letivo atribulado com prazos apertados, falta de empenho de algumas/alguns discentes nas
atividades solicitadas, etc.
Produzo meus quadrinhos pelo celular com o aplicativo ibis paint x (...) Bárbara é uma
personagem forte e curiosa pelo fato de seu pai mudar constantemente. Ela é uma super-heroína
e uma de suas paixões é seu gato de estimação. Ela também gosta de fazer bolos e ama seu
amigo Frenk. Essa personagem surgiu como criação do meu irmão que gostava de me ajudar a
fazer os roteiros. A Bárbara representa a força feminina (...) Ela, junto com sua mãe e irmão
cuidam de uma cafeteria e ela é a super-heroína da cidade (...) A oficina foi uma oportunidade
de aprender cada vez mais sobre narrativa e arte participando de algo que eu gosto. A
mensagem é que toda mulher pode ser o que ela quiser (Relato de aluna).
Por fim, avaliamos que o projeto favoreceu a troca de experiências e visões da realidade
acerca do espaço escolar e da vida social em torno da equidade de gênero, isso nos levou a perceber
o nível de complexidade do assunto e a tarefa hercúlea em semear o debate e implementar ações
de esclarecimentos na tentativa de educar o pensamento e as atitudes em relação ao tratamento e a
condição das mulheres na sociedade.
Resumo
Este relato pretende apresentar de forma reflexiva uma experiência vivenciada na escola Dilma Catete a partir do Projeto
“Escola: Tecendo Diálogos sobre o Empoderamento Feminino para o Enfrentamento das violências contra a mulher”.
Fundamentado na Lei Nº 8.775/2018 (Pará, 2018) que institui no âmbito das escolas públicas e privadas do Estado do
Pará a Semana do empoderamento Feminino, de autoria do Deputado Bordalo. A presente experiência deu-se por meio
de rodas de conversa, pesquisas, apresentações de seminários, aplicação de questionários, análise de dados
estatísticos, oficinas e apresentações artísticas, envolvendo diferentes áreas do conhecimento e realização de parcerias
com outras entidades para abordagem dos temas. As discussões teóricas fundamentam-se em textos, periódicos,
diversos recursos e referenciais sugeridos e trabalhados durante o Curso Educação de Gênero de Diversidade para o
Empoderamento feminino, dados estatísticos disponibilizados no Site do Governo e Ministério dos diretos Humanos e da
Cidadania entre pesquisas realizadas pelos estudantes e professores envolvidos no projeto. Apresentou como resultado
a cooperação, engajamento e protagonismo discentes.
Introdução
O presente trabalho Tecendo diálogos para o empoderamento feminino foi uma experiência
vivenciada com as/os alunas/os de 1ª, 2ª e 3ª séries do Ensino Médio da Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Dilma Catette onde atuo como professora de Arte e de Projeto de vida.
A escola enquanto espaço de formação para a vida, deve orientar os estudantes munindo-os
de informações, para que possam compreender criticamente o mundo e transformar a sociedade.
Esta orientação no mundo só pode realmente ser compreendida, na unidade dialética entre
subjetividade e objetividade. Assim entendida, a orientação no mundo põe a questão das
finalidades da ação ao nível da percepção crítica da realidade (Freire, 2021, p.67)
1Graduada em Licenciatura Plena em Teatro Pela Universidade Federal do Pará-UFPA; Professora efetiva, classe I-
Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC), lotada na Escola Dilma de Souza Catette; Atriz-palhaça do Grupo
Palhaços Trovadores- Militante dos direitos da criança e do adolescente.
Fundamentação Teórica
Para abordagem dos temas a respeito das violências de gênero e feminicídio, foram usadas
notícias de jornais locais e nacionais, além de dados estatísticos do disponibilizados pelo Site do
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos atualmente, Ministério dos diretos Humanos
e da Cidadania, com informações complementadas pelos estudantes com a realização de pesquisas
sobre as tipificações e características das violências sofridas por mulheres.
O texto “Para que ninguém a quisesse”, de Mariana Colasanti (1999). Sempre iniciava a roda
de conversa, como uma espécie de introdução reflexiva, a temática, para que os participantes
Percurso Metodológico
Em seguida, refletimos juntos, e pudemos perceber a nossa imersão numa sociedade patriarcal
em que a escola reproduz isso, quando não reconhece as violências de gênero em suas relações
cotidianas. A atuação dos estudantes nesse processo todo foi participativa, democrática, colaborativa,
protagonista.
Após ouvir a música e a leitura dos textos, iniciamos o debate a respeito dos textos e da letra
da música considerando a condição das mulheres na sociedade atual.
[...] fazer com que os alunos transformem a realidade em que as mulheres são vistas como as
encarregadas das coisas menos importantes. Ou também mudar a visão de que as mesmas são
encarregadas de cuidarem dos seus lares e se envolverem com as atividades de salários
inferiores aos dos homens, ou mesmo, tendo os mesmos cargos que eles, devem ter um salário
menor. Infelizmente essa visão tem início, muitas vezes, no ambiente escolar, pois o mesmo
acaba determinando o espaço das meninas dentro e fora dele (SILVA; MUHL, 2021).
Houve um momento marcante com a participação dos docentes (Figura 2); esse encontro
contou com a participação de onze profissionais da escola, a saber: professores de Língua
Portuguesa, Língua Estrangeira, Matemática, Física, Filosofia, Geografia, Biologia, Arte e Química, a
diretora e vice-diretora. Para esse momento, fizemos uso dos mesmos recursos utilizados com os
discentes. Porém, a dinâmica da roda de conversa foi diferente, o tempo de fala e troca de
experiências foi mais estendido.
2 https://www.youtube.com/watch?v=lKmYTHgBNoE.
Nessa etapa, as ações do projeto foram pautadas nas descobertas das/dos próprias/os
alunas/os, a partir da formação de grupos de estudo e pesquisa acerca dos temas: A Lei Maria da
Penha; Gênero e diversidade; e Mulheres na política, nas Ciências e na Literatura, que contou com a
orientação dos docentes das áreas do conhecimento de Humanas e Sociais Aplicadas, Linguagem e
Suas Tecnologias e Matemática e Suas Tecnologias.
Nessa fase do projeto, fomos cautelosos no tocante à abordagem dessas temáticas, a fim de
assegurar que os estudantes tomassem consciência de forma crítica a respeito da invisibilidade
feminina e as violências de gênero nas relações sociais.
Após a etapa anterior, coube a cada grupo discente apresentar seu tema (Relações de gênero
e Homofobia na escola; Abuso sexual; Relacionamentos abusivos; Violência doméstica e Invisibilidade
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 73
da mulher no mercado de trabalho) por meio das linguagens artísticas (Figura 4). Desse modo, foram
apresentadas cinco cenas teatrais.
Ainda tivemos muitas conversas com as/os alunas/os aplicando questionário sobre Equidade e
sobre a Lei Maria da Penha a Homens e Mulheres com idade a partir de 15 anos (Figura 5).
Figura – 8:Culminância
Fonte: Arquivo pessoal
A culminância contou com a participação de todas as turmas do Ensino Médio, além da equipe
de formadores do CEFOR e do Deputado Bordalo, mentor da lei a qual trabalhamos em sala de aula.
Resultados e Discussões
O projeto de empoderamento feminino espero que aconteça sempre em outras escolas e que
este projeto sirva de exemplo para a educação se tornar mais diversa e igualitária”. (V. T 2º ano
médio)
Esses depoimentos nos revelam que apesar de desafiador, o trabalho realizado junto com as/os
estudantes foi muito gratificante e significativo, pois os/as discentes começaram a perceber as
desigualdades de gênero, identificar as formas de violências e os órgãos públicos de denúncia, além
de refletirem sobre suas próprias posturas, a fim de criarem mecanismos de enfrentamento e
transformação social.
Considerações Finais
Essa experiência foi válida, porque por meio dela foi possível perceber o empenho, a
colaboratividade, o protagonismo dos discentes, levando em conta o papel da escola como um espaço
diverso, complexo e imprescindível à construção da cidadania de transformação da realidade.
Referências
COLASANTI. Marina. Para que ninguém a quisesse. In.: COLASANTI, M. Um espinho de marfim e
outras histórias. Porto Alegre: L&PM, 1999, p. 111-112.
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a Liberdade e outros escritos.16. ed. Rio de Janeiro/São Paulo:
Paz e Terra, 2021
PARÁ. ALEPA. Lei 8775, de 16 de outubro de 2018. Institui no âmbito das escolas públicas e privadas
do estado do Pará a Semana do Empoderamento Feminino. Belém: ALEPA, 2018.
SILVA, Larissa H. M.; MUHL, Eldon H. Feminismo e Educação: Desafios da Pedagogia na
Construção de uma Formação mais Equânime. Artigo para Conclusão de Curso (Graduação) –
Universidade de Passo Fundo. Passo Fundo, 2021. Disponível em:
file:///C:/Users/cleic/OneDrive/Documentos/forma %
C3%A7%C3%A3o%20sobre%20empoderamento%20feminino/ 20220405_ 1945968.pdf. Acesso em
novembro de 2023.
VICENTIN, Ana Carolina. Os Brinquedos e Estereótipos que ensinamos a nossos filhos e às nossas
filhas. In.: Nana Queiroz. (org.). Você já é feminista! Abra este livro e descubra o porquê.1. ed.
São Paulo: Pólen Livros, 2016, p. 164-169
Resumo
O trabalho de pesquisa Mulheres na Filosofia: o pensamento empoderado, desenvolvido com alunas/os da 2ª série do
Ensino Médio, da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Dilma de Sousa Cattete, teve como objetivo central
mostrar que as mulheres sempre foram empoderadas, pois nunca se calaram diante dos grandes desafios impostos por
uma sociedade machista em que as lutas por igualdade incomodam todos aqueles que não reconhecem seus direitos e
não respeitam as suas potencialidades. O ponto de partida para a realização do trabalho foi a pesquisa bibliográfica,
buscando trabalhos em meio digital sobre a temática. O trabalho foi de grande importância na medida em que levou as/os
alunas/os à reflexão acerca das condições das mulheres em espaços de grande domínio masculino, como é o caso da
Filosofia, assim como em alguns cargos e funções que, em outras épocas, jamais poderiam ser cogitadas para uma
mulher. Ademais, a pesquisa ratificou que pensar o empoderamento feminino é trazer contribuições para que a mulher
possa ter seu lugar como empresária, filósofa; e tudo aquilo que ela queira ser; além do de mãe, esposa, se também for o
que ela quiser ser.
Introdução
A temática abordada tem relevância na medida em que traz para o conhecimento das/dos
alunas/os as mulheres que ousaram pensar em um espaço extremamente masculino, que é a
Filosofia. A ousadia dessas mulheres que viveram em épocas de grandes transformações
sociopolíticas, mas também, de muita repressão e práticas abusivas de direitos, sobretudo em relação
à mulher, deixa uma contribuição para além do seu tempo, quebrando barreiras e destruindo tabus.
Para a execução deste trabalho foi selecionado, a partir da leitura da monografia de Líria Ângela
Andrioli (2004), o texto O corpo e a mulher na história da filosofia: uma leitura a partir de Merleau-
Ponty centrada na atual discussão sobre a corporeidade, em seis filósofas. Nessa monografia, há um
destaque para as filósofas que tiveram seu pensamento em evidência no século XX. Dentre tantas
pensadoras, foram eleitas para este trabalho: Rosa Luxemburgo (1871-1919); Edith Stein (1891-
1Professora de Filosofia da Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc/PA) Mestre em Estudos Literários.
Especialista em Educação especial e Psicologia e transtornos do espectro autista.Graduada em Filosofia.
Para a execução do trabalho foram formados seis grupos com uma turma da 2ª série do Ensino
Médio. Cada grupo ficou responsável pela pesquisa de uma filósofa e tiveram como orientação
metodológica a investigação dos seguintes pontos: vida e obra, principais ideias, contribuições para a
sociedade e a questão feminina. A partir das pesquisas, houve momentos de discussão com os grupos
para esclarecimento de algumas dúvidas e de orientação para o andamento da pesquisa e preparação
dos cartazes que seriam apresentados na culminância do Projeto em março de 2023.
De toda forma, isso não me surpreendeu, pois algumas filósofas citadas na monografia de
Andrioli (2004) me eram desconhecidas, eu não conhecia seus pensamentos e quase nenhuma delas
estudei na Universidade. Na verdade, estudei apenas Hannah Arendt, ela fez parte do meu curso, as
demais eram apenas citadas por alguns professores dentro dos conteúdos tradicionais da Filosofia.
Quanto à pesquisa, após realizarem esse trabalho, as/os alunas/os fizeram a produção dos
cartazes que serviriam como suporte de suas aprendizagens na culminância do Projeto. Inclusive,
abro uns parênteses para dizer que mais uma vez elas/eles me surpreenderam, pois todas/os estavam
muito empenhadas/os em dar as suas contribuições; eu diria até empolgadas/os em escrever, colar
as imagens e fazer o melhor cartaz.
Escolha do tema
No dia 7 de junho de 2022, foi-nos apresentado pela professora Cleice Maciel, em uma Roda
de Conversa, o Projeto sobre o Empoderamento Feminino, uma iniciativa da Secretaria de Estado de
Educação do Pará (SEDUC), por meio do CEFOR. Na ocasião, a professora nos explicou do que
tratava o Projeto e quais as suas finalidades e objetivos. A ideia naquele momento era termos
conhecimento sobre a temática abordada no Projeto e, a partir daí, nos engajarmos juntamente com
a professora em ações que mobilizassem as/os alunas/os em torno dessa questão, com o objetivo de
divulgação do Projeto e de conscientização sobre o tema. Comecei então a me questionar como
poderia contribuir com o Projeto.
A princípio pensei em uma pesquisa sobre como as mulheres eram vistas pelos filósofos, mas
logo abandonei essa ideia, afinal o Projeto era sobre o empoderamento feminino, ou seja, as mulheres
deveriam ser as protagonistas e, nesse primeiro pensamento que tive, o que se destacaria seria a
Uma mulher se sente pouco embaraçada por ser desprovida de grandes ideias, ou por se mostrar
receosa com ocupações importantes ou despreparada para elas etc. É bela e agrada – e basta.
(...) Em compensação, o homem já é bem mais delicado diante dos belos atrativos da mulher. A
figura refinada, a vivaz ingenuidade e a encantadora sensibilidade dela recompensam, para ele,
a ausência da erudição dos livros, ou outras carências que cabem a ele suprir com o seu próprio
talento (Kant, 1993, p. 61).
Surgiu então a ideia de pesquisar o pensamento de algumas mulheres que tiveram suas ideias
difundidas em um meio completamente hostil para elas; afinal, como bem se sabe, a História da
Filosofia é em certa medida a história do pensamento dos homens sobre todos os temas que
englobam o pensamento filosófico. Daí porque surgiu o título: Mulheres na Filosofia: o pensamento
empoderado (Figura 1).
Todos os trabalhos dessas autoras trazem como temática central o questionamento sobre a
presença da mulher na história da Filosofia. Com destaque para o fato dessas mulheres sempre terem
existido, e, portanto, poderem ter seus pensamentos registrados e reconhecidos para a posteridade.
E a ti eu te deixarei agora; mas o discurso que sobre o Amor eu ouvi um dia, de uma mulher de
Mantinéia, Diotima, que nesse assunto era entendida e em muitos outros — foi ela que uma vez,
porque os atenienses ofereceram sacrifícios para conjurar a peste, fez por dez anos recuar a
doença, e era ela que me instruía nas questões de amor — o discurso então que me fez aquela
mulher eu tentarei repetir-vos, a partir do que foi admitido por mim e por Agatão, com meus
próprios recursos e como eu puder (Platão, 2020, p. 46)
Ainda se têm registros de Hipátia de Alexandria (355 – 415/16?) e Christine de Pisan (1364-
1430), que teria sido uma poetisa medieval. A primeira era filha de Theon, um filósofo, astrônomo e
matemático egípcio. Conta-se que a filha se inspirou no pai, a ponto de dar aulas de Matemática,
Astronomia e Filosofia. Estudou na Academia de Alexandria, onde posteriormente veio a ser diretora;
e estudou também em uma escola neoplatônica de Atenas.
Tudo o que se sabe sobre Hipátia foi registrado por suas/seus alunas/os, pois grande parte
de seus escritos, inclusive em parceria com seu pai, se perdeu com a destruição da Biblioteca de
Alexandria. Não se sabe ao certo em que ano Hipátia morreu se em 415 ou 416, entretanto, a filósofa
teve uma morte violenta, segundo o que se diz, por conta da defesa do raciocínio lógico dos gregos,
sendo acusada, por esse fato, de anticristã, embora não se saiba se realmente se confirmava tal
direcionamento de Hipátia (Silva, 2016).
Christine de Pizan era italiana da cidade de Veneza, mas aos quatro anos de idade mudou-
se para Paris. Sua mudança de vida se deu quando ficou viúva com três filhos e precisou sobreviver
com sua família. Encontrou nas letras a forma de sobrevivência e se destacou por se tornar uma
escritora de profissão, algo muito incomum na época em que vivia; entretanto, sua viuvez acabou
facilitando tal fato, pois, no período medieval, a viuvez no meio aristocrático dava às mulheres certa
liberdade, pois não precisavam se casar novamente caso não quisessem.
Pizan é uma defensora da igualdade entre os sexos, e dentre tantas obras que escreveu A
Cidade das Damas (1405) expressa a ideia de que as mulheres devem receber a mesma educação
dos homens. Por ter expressado, através de suas obras, críticas ao tratamento dado às mulheres,
com argumentos consistentes do ponto vista teórico, Schmidt (2018, p. 23) afirma que ela “encontra
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 81
um modo de legitimar seu discurso filosófico. Suas motivações para engajar-se nos debates de seu
tempo emanam de uma visão transformadora e emancipadora do que significa ser uma filósofa”.
Hipátia e Pizan são alguns dos poucos exemplos que à história do pensamento humano
mereceram destaque como filósofas, se considerarmos que lutar contra uma sociedade adversa,
colocando em risco a própria vida, representa a força intelectual e racional de um sexo nada frágil.
Para a realização do trabalho, foram formados seis grupos e cada grupo ficou responsável
pela pesquisa bibliográfica de uma filósofa. O resultado dessa pesquisa foi exposto em cartazes os
quais serão apresentados em seguida por ordem de nascimento: Rosa Luxemburgo (1871-1919);
Edith Stein (1891-1942); Maria Zambrano (1904-1991); Hannah Arendt (1906-1975); Simone de
Beauvoir (1908-1986) e Simone Weil (1909-1943).
O grupo de alunas/os que ficou responsável pela pesquisa da filósofa Rosa Luxemburgo
informou que ela era de origem polaco-alemã, judia e posteriormente aderiu ao ateísmo. Em relação
a suas ideias destacaram o fato de a filósofa ser marxista ligada ativamente aos movimentos
revolucionários e à Social-Democracia da Polônia (SDKP). Quanto à questão feminina, não tratou
diretamente do tema, mas seus escritos sobre a opressão operária e sua vida emancipada legou aos
movimentos feministas suporte teórico de grande relevância.
Rosa Luxemburgo é, até hoje, a maior pensadora marxista desde a concepção da obra
marxiana. À sua altura, poucos pensadores podem ser mencionados, entre eles Lenin e Lukács. Essa
distinção por si só torna obrigatória a menção de seu pensamento em qualquer estudo sobre a
Filosofia produzida pelo gênero feminino. E ainda que Rosa tenha como formação e preocupação
inicial a Economia e as teses da teoria econômica, suas reflexões sobre a ação política, o colapso do
Já o grupo responsável em pesquisar a filósofa Edith Stein relatou que a pensadora era alemã
de origem judia. Converteu-se à Igreja Católica após a leitura da autobiografia de Teresa de Ávila que
foi canonizada como Santa Tereza Benedita da Cruz pelo Papa João Paulo II em 11 de outubro de
1998.
Ligada à escola fenomenológica, estudou com Edmund Husserl e defendeu sua tese com o
tema, Sobre o problema da empatia (1916). Inclusive, o tema da empatia permeou todo seu percurso
filosófico onde defendia que não há crescimento ou progresso humano sem adversidades e que tais
ocorrem sempre na relação do ser com o outro e com o mundo (Almeida, 2014).
A origem judia de Edith Stein e suas críticas ao Nazismo, levou à sua captura e morte por
envenenamento em uma câmara de gás no campo de concentração de Auschiwtz – Birkenau aos 50
anos de idade.
Maria Zambrano Alarcón era espanhola, nascida na cidade de Vélez-Málaga e foi a primeira
mulher a receber o Prêmio Miguel de Cervantes, o mais importante da Língua espanhola. Discípula
Maria Zambrano não teorizou sobre as questões femininas de forma ativa, mas seus escritos
políticos questionadores, principalmente quando começou a escrever no jornal El Liberal, uma coluna
que levava o nome “Mujeres”, repercutiam as condições precárias que as mulheres operárias
vivenciavam nas fábricas.
O grupo de pesquisa da filósofa Hannah Arendt trouxe como destaque o fato da teórica ser
judia nascida na Alemanha e ser uma das intelectuais mais influentes do século XX. Perseguida pelo
regime Nazista perdeu sua nacionalidade em 1937 e viveu como apátrida até conseguir a
nacionalidade norte-americana em 1951.
Suas influências filosóficas incluem filósofos da Antiguidade como Sócrates, Platão, Aristóteles;
e modernos como Kant, Heidegger, Jaspers, além de teóricos políticos como Maquiavel e
Montesquieu. Seu pensamento original, sobretudo ao tratar das questões políticas de seu tempo, a
colocaram dentro dos debates centrais contemporâneos. Também teorizou sobre os regimes de
exceção como aquele do qual foi vítima, o totalitarismo.
Arendt tem uma vasta produção, sendo em sua grande maioria textos que expõem os males
de governos autoritários e totalitários. Em um momento de guerras que assolam algumas sociedades,
podemos ver o quanto o pensamento de Hannah Arendt é atual.
A filósofa Simone de Beauvoir impressionou as/os alunas/os que fizeram a pesquisa sobre ela.
Em suas investigações souberam que Beauvoir era parisiense e uma voz ativa quando o tema é
feminismo. Como todas as mulheres que não se acomodaram antes se rebelaram contra a opressão
machista de uma sociedade patriarcal, Beauvoir viveu, pensou e se expressou de forma livre.
Adepta da corrente existencialista como Sartre, seu parceiro de vida, Beauvoir defendeu a
liberdade em sua última instância: “Nada, portanto, nos limitava, nada nos definia, nada nos sujeitava;
nossas ligações com o mundo, nós é que as criávamos; a liberdade era nossa própria substância”
(Beauvoir, 2009, p. 18).
Como feminista, a filósofa deixou grande contribuição às lutas por igualdade de gênero das
mulheres. Suas ideias, duramente criticadas em sua época e até hoje, colocam a mulher como dona
e senhora de si, na medida em que enquanto ser humano é livre e pode viver da forma que decidir.
Simone Weil era francesa e teve uma vida curta, mas muito intensa. Weil morreu aos 34 anos
de tuberculose, em 1943. A morte precoce pode ter sido provocada pelo modo como a filósofa decidiu
viver, ao radicalizar seu modo de vida, expôs o que acreditava que a filosofia era: algo vivenciado em
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 85
ato e prática (Puente, 2020). Dessa forma, se alimentando mal em solidariedade a seus compatriotas
submetidos ao racionamento e trabalhando como operária da empresa Renault para poder relatar o
cotidiano dentro das fábricas, o resultado para o seu corpo foram complicações que a levaram à morte.
As experiências de Simone Weil, obtidas de forma prática nas fábricas, tornaram suas teorias
relatos de vivências das condições precárias da população empobrecida que sobrevive com bem
pouco dentro de um sistema opressor e desigual. E embora não teorizasse diretamente, como fez sua
compatriota Beauvoir, sobre a questão feminista, seu trabalho de denúncia da opressão dos
marginalizados e oprimidos reverbera como contribuição a toda e qualquer luta por igualdade.
Por fim, ver o resultado do trabalho realizado pelas/pelos alunas/os nesses cartazes, mesmo
com todos os reveses que o dia a dia escolar nos impõe, reafirma a minha convicção de que a
educação é transformadora, que só através dela se constroem cidadãos que pensam o mundo pelo
olhar da empatia e do respeito às diferenças.
Considerações Finais
O trabalho realizado pelas alunas e pelos alunos nos cartazes foi como uma sementinha
plantada por mim através desse Projeto extremamente necessário em uma sociedade que carece de
reflexões sobre temas tão caros aos seres humanos, como as questões de gênero.
Destaco também, o interesse de cada estudante em dar a sua contribuição fazendo-o de forma
satisfatória dentro das possibilidades que a escola permite. Isso mostra que não é preciso muito para
realizarmos ações que tragam grandes resultados e aprendizados para toda a comunidade escolar.
O que logicamente não exclui as lutas por melhores condições de trabalho para os professores
e de estudo para o público-alvo da educação. Projetos como esse certamente hão de refletir no
desenvolvimento cognitivo, emocional e intelectual de nossas alunas e nossos alunos, os quais
atingirão de forma plena o objetivo da educação, ou seja, o aprendizado que vai para além dos
conteúdos formais.
Referências
ALMEIDA, Renaldo Elesbão de (2014). A Empatia em Edith Stein. Cadernos IHU Universidade do
Vale do Rio dos Sinos. Instituto Humanitas Unisinos, v. 12, n. 48, 2014. Disponível em:
https://ihu.unisinos.br/images/stories/ cadernos/ihu/048cadernosihu.pdf. Acesso em: out. 2023.
ANDRIOLI, Liria Ângela. O corpo e a mulher na história da filosofia: uma leitura a partir de Merleau-
Ponty centrada na atual discussão sobre a corporeidade. 2004, 89f. (Monografia em Filosofia) -
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul/ UNIJUI, 2004.
ARENDT, Hannah. Sobre a Violência. Tradução de André Duarte. Rio de Janeiro: Relume-Dumará,
1994.
Resumo
Este trabalho é um relato de experiência acerca de um Projeto de Matemática em desenvolvimento na Escola Estadual de
Ensino Médio Padre Eduardo, situada na Ilha de Mosqueiro, em Belém-PA. O projeto objetivou o ensino da geometria
plana, oportunizando aos alunos e às alunas, conhecimentos, debates e aprendizagem na área de Matemática,
destacando a produção feminina e seu protagonismo na construção de pipas, um brinquedo popularmente conhecido,
confeccionado e praticado majoritariamente por meninos nas praias e ruas paraenses. A atividade é realizada a partir do
desenvolvimento de várias aulas, tendo como eixo estruturante a investigação e o letramento científicos. Utilizamos a
metodologia de Gérard Fourez (1997) “Ilhas Interdisciplinares de Racionalidade” (IIR), partindo do clichê: “Por que a pipa
voa?”. A experiência de produzir pipas é um convite à construção do conhecimento que envolve o manuseio de pipas
como brincadeira famosa entre crianças e jovens de todo o Brasil. O trabalho propõe um festival de pipas envolvendo
alunos e alunas na produção e na prática de empiná-las, demonstrando para a comunidade escolar o conhecimento
matemático adquirido, bem como a reflexão sobre o empoderamento feminino na produção de pipas e na participação do
festival.
O ensino de matemática tem se tornado cada vez mais desafiador nas escolas públicas do
Brasil. Segundo dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB (Brasil, 2019), 95% dos
estudantes da rede pública de ensino do país terminam a escola sem conhecimento adequado em
Matemática. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular – BNCC (Brasil, 2018, p. 271), “a
Geometria envolve o estudo de um amplo conjunto de conceitos e procedimentos necessários para
resolver problemas do mundo físico e de diferentes áreas do conhecimento”.
Ainda, segundo a BNCC (Brasil, 2018), os alunos do ensino médio devem alcançar um leque
de competências específicas de Matemática para essa etapa, entre elas, “compreender e utilizar, com
Nesse voo, o projeto “Construindo Pipas” foi elaborado com objetivo de contribuir para a
aprendizagem de Geometria em práticas sociais cotidianas, por meio da vivência pedagógica na
construção das pipas. As/os discentes participantes do projeto, todas e todos moradoras/es da Ilha de
Mosqueiro, foram convidadas/os a desenvolver um olhar sensível para as formas geométricas que
podem ser encontradas nas simples brincadeiras do cotidiano e, por meio da investigação científica,
responder à pergunta: por que a pipa voa? Concluindo que aprender matemática pode ser divertido
como empinar pipas.
Pipas, papagaios e rabiolas são materiais de diversão muito antigos. Surgiram possivelmente
há 3 mil anos, na China, durante os conflitos civis, como forma de comunicação entre tropas,
padronizando sinais convencionados na reprodução de ações em batalhas.
O primeiro voo do homem está relacionado com a mitologia onde consta que Ícaro voou tão alto,
que o sol derreteu a cera que prendia as asas ao seu corpo, sendo assim Ícaro caiu e morreu.
Pipa, Papagaio ou Pandorga é um brinquedo que voa preso à extremidade de uma linha ou
barbante. Em geral, tem uma armação leve de bambu ou madeira, sobre a qual se estica uma
folha de papel ou plástico. Os historiadores acreditam que tenha sido inventada entre 400 e 300
(A.C.) por Arquitas, um grego da cidade de Tarena. No entanto, os Chineses afirmam que um de
seus generais Han Sin inventou em 206 (A.C.), para uso dos militares (ANI, 2012).
No estado do Pará, pipas de saco plástico ganham os céus nas férias escolares, em meados
de junho e julho, consagrando-as na temporada dos papagaios. Na linguagem dos “pipeiros”, há
diversas modalidades como “pipas”, “papagaios”, “rabiolas” e “cangulas”, produzidos de vários
Em matéria publicada no Jornal Diário do Pará, “O homem que marcou gerações fazendo
papagaios no Pará”, Wilson (2021) afirma que, há mais de 50 anos, o senhor Reginaldo da Costa
Mourão, mais conhecido como Cobra, é uma lenda viva fazendo papagaios e promovendo
competições de “laços”, deixando os céus de Belém repletos de um colorido especial.
Nota-se que nessa linha histórica, a utilização das pipas por homens em Guerras, na
descoberta científica da eletricidade e nas brincadeiras de rua. Todas essas utilizações das pipas
possuem um fator comum [ou a falta dele (a)], [a falta do] manuseio de pipas por mulheres. E essa
linha foi “encerada”, também, durante a inscrição dos alunos no projeto, na qual observamos que dos
35 estudantes inscritos, apenas 12 eram alunas, um percentual de aproximadamente 34%,
estimulando-nos a “descair” essa linha histórica e colocando no ar as pipas do empoderamento
feminino.
A partir dos contextos da utilização das pipas historicamente manuseada por homens,
idealizou-se o projeto “Construindo Pipas”, uma matemática para voar alto, desenvolvido na Escola
Estadual de Ensino Médio Padre Eduardo desde o ano de 2022. Na edição de 2023, o protagonismo
feminino ganha destaque na produção de pipas e na aprendizagem de matemática, e ao final do
projeto busca-se responder a questão: o protagonismo feminino na produção e no manuseio de pipas
pode influenciar no processo de ensino e aprendizagem de geometria? Na tentativa de respondermos
a este questionamento e o clichê de “por que a pipa voa?”, utilizamos a metodologia de Gérard Fourez
(1997), denominada Ilhas Interdisciplinares de Racionalidade (IIR).
Equipe Tema
1 História das Pipas e seus nomes
2 Pipas e Objetos da Matemática
3 Ângulo das talas e suas posições relativas
4 Perímetro e área das pipas
5 Pipa Tetraédrica
6 Construção de pipas
Quadro - 2: Organização das equipes por temas.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Nesses temas, foi solicitado aos alunos que demonstrassem em painéis e trouxessem para a
prática o produto de suas pesquisas. De acordo com o planejamento do projeto, as reuniões deram-
se nas semanas do mês de outubro, período de retirada de dúvidas, esclarecimentos e
direcionamentos na construção dos trabalhos. Das 3 aulas semanais, procuramos resolver problemas
da geometria plana (Figura 1), ligados aos objetos matemáticos e na preparação dos seminários,
dando destaque para as produções femininas.
Na 4ª etapa, fase da Prática, as/os alunas/os foram estimulados a sair do campo teórico para
a construção de suas pipas. Nessa fase, durante as aulas, percebemos o protagonismo na construção
do aprendizado das/dos estudantes. Destaque ao trabalho desenvolvido por uma equipe formada por
alunas na construção de painéis (parte teórica) e de pipas (parte prática), produzindo pipas em
diversos formatos para demonstrar perímetros e áreas das figuras planas, o mesmo formato da
confecção de pipas (Figura 2).
A partir de suas produções, a turma passou para a etapa 5, Abertura de caixas pretas, que
consistiu no esclarecimento dos conteúdos presentes em cada situação em que a pipa foi considerada
como objeto matemático. Nela, as equipes tiraram dúvidas e tiveram esclarecimento acerca de seus
temas, contribuindo para direcionar seus estudos para as próximas etapas.
As etapas 6 e 7 que ainda não foram executadas, consistem na esquematização sobre as IIR
e abertura das caixas pretas sem ajuda, respectivamente. Na 6ª etapa, espera-se das/dos alunas/os
a demonstração de um esquema geral teórico sobre as IIR, analisando a situação-problema sob o
ponto de vista teórico; já na 7ª, a expectativa é de que elas/eles, sem dispor de ajuda de livros, internet
e professor, elaborassem as IIR por meio do conhecimento em grupo adquirido no decorrer das
atividades do projeto.
Participou de forma
Participou de Participou de Participou de algumas
insuficiente das
todas as todas as atividades e poucas
atividades e permite
PARTICIPAÇÃO atividades, é atividades, mas pessoas podem contar
que outros façam
proativo não é proativo com sua ajuda
seu trabalho
Realizou a Realizou a
apresentação de apresentação de
Realizou a
forma forma pouco
apresentação de forma Não realizou a
aprofundada, sem aprofundada, sem
APRESENTAÇÃO fraca, com equívocos e apresentação
equívocos e com equívocos, porém
sem recurso visual
muito recurso com pouco
visual recurso visual
Participou das
Participou das
Participou de atividades, porém
Participou das atividades, porém
todas as com cerca de
atividades, porém com com cerca de 70%
atividades, ou 90% de
cerca de 80% de de frequência,
FREQUÊNCIA seja, 100% de frequência, obteve
frequência, mas obteve faltas e está
frequência e com faltas, mas
continua com abaixo do
o desempenho continua com
desempenho aceitável desempenho
esperado desempenho
esperado
aceitável
A 8ª etapa, que ainda será executada, tratará sobre a síntese da IIR, nela espera-se que os
estudantes construam um resumo de investigação, que será demonstrado na apresentação de um
trabalho único, no workshop, a ser exposto para toda a comunidade escolar, e respondendo ao
questionamento “por que a pipa voa?”.
Na atual etapa do projeto, denominada Abertura de caixas pretas, as/os estudantes estão
finalizando a abertura das caixas pretas para entrar na próxima fase, na expectativa que os discentes
realizem a apresentação do seminário e que as meninas, durante o festival de pipas de Mosqueiro
sejam protagonistas. Nesse festival a ser promovido pelo projeto, serão construídas pipas de todos os
tamanhos e formatos como oportunidade de demonstrar a todos que a brincadeira de empinar pipas
é uma brincadeira que deve ser praticada por alunas e alunos, estimulando a competição saudável e
o aprendizado em Matemática, desmistificando também a ideia de que só meninos empinam pipa.
A experiência do projeto está sendo de fácil execução e sem precisar de muitos meios que
prejudiquem o andamento das atividades ou o aprendizado dos alunos, pois as etapas da metodologia
de Fourez (1997) já estão estabelecidas e, apenas, devem ser seguidas partindo-se de uma ação do
cotidiano, que é um clichê (por que a pipa voa?), pode-se chegar no desenvolvimento de um
conhecimento fundamentado de ciências em um nível de formação mais elaborada. As etapas
seguintes (6ª, 7ª e 8ª) têm previsão de execução até novembro de 2023.
Ao final do projeto, todos os estudantes que concluírem as ações serão agraciados com
certificado de conclusão, validando sua finalização e aprendizado com aproveitamento, além de
certificar os objetos de conhecimento trabalhados e as competências socioemocionais alcançadas.
Por fim, na estima de que o aprendizado do aluno e sua formação como cidadão alcance voos
mais altos com pipas, apesar da falta do trabalho interdisciplinar nesta edição do projeto, podemos
estabelecer uma coincidência maravilhosa que pode direcionar as ações dos próximos projetos PIPAs:
Projeto Integrado por Áreas.
Referências
ANI. Associação Nacional dos Inventores. PIPA de pano. 2012. Disponível em:
https://inventores.com.br/pipa-de-pano/. Acesso em: 28/10/2023.
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Relatório
de Resultados do Saeb 1. v. 5º e 9º anos do Ensino Fundamental e séries finais do Ensino Médio
(v.2 com correção). Disponível em: ttps://download.inep. gov.br/educacao_basica/
Resumo
O relato de experiência ora apresentado tem por objetivo abordar a produção da literatura de cordel, intitulado Rosa de
Cetim, de autoria de duas alunas da Escola Estadual de Ensino Médio Padre Eduardo, situada no Distrito de Mosqueiro,
Belém, Pará. Tal produção literária é resultado de uma ação promovida pelo Centro de Formação de Profissionais da
Educação Básica do Estado do Pará (CEFOR), atendendo ao disposto na Lei 8775/2018, que institui a semana do
empoderamento feminino nas escolas públicas e privadas do Estado do Pará. Para a construção do referido cordel,
efetivou-se a leitura compartilhada do conto “Para que ninguém a quisesse”, de Marina Colasanti (1999) e utilizou-se o
método de produção escrita como atividade interativa proposta por Antunes (2003). Como resultado, o cordel revelou-se
um instrumento de reflexão sobre o empoderamento feminino e se expandiu para além da comunidade escolar.
Introdução
Para o propósito deste relato, dentre os seis módulos desenvolvidos (Direitos humanos e
Gênero; Educação, Gênero e diversidade; invisibilidade feminina e políticas públicas para educação
das relações de gênero; relações de gênero, interseccionalidade e sexualidade; Literatura e Gênero;
Pedagogia de Projetos na Educação), dois foram fundamentais para a elaboração da atividade a ser
relatada: Literatura e Gênero, sob a tutoria da professora Salier Castro e Pedagogia de Projetos na
Educação, o qual foi ministrado pelo professor Marcello Casanova do CEFOR.
Os módulos citados anteriormente são norteadores para a minha experiência, uma vez que em
Literatura e Gênero, a professora-formadora Salier promoveu uma leitura reflexiva do texto “Para que
ninguém a quisesse”, de Marina Colasanti. Após a leitura do conto, decidi que levaria este texto para
No entanto, para a minha felicidade, ao propor aquela atividade, na turma da 1ª série do Ensino
Médio, no ano de 2022, na Escola Padre Eduardo, duas alunas apresentaram um cordel intitulado
Rosa de cetim. Tal literatura, se configurava como um intertexto do conto de Colasanti trabalhado
com a turma.
Nesse momento, percebi na prática o que o professor Casanova abordara, identifiquei ali que
minhas alunas se apresentaram protagonistas e empoderadas. E então, escolhemos caminhar juntos
nesse percurso, cuja temática deve ser a valorização da produção intelectual e escrita da mulher por
meio da literatura de cordel. Para tanto, utilizou-se o método de produção escrita como atividade
interativa (Antunes, 2003) para que os educandos pudessem dialogar sobre o papel social da mulher
e, a partir disso, produzir o gênero estudado no ambiente escolar.
A escrita empodera
Historicamente, as narrativas orais sempre estiveram presentes nas práticas sociais e interativas
do ser humano, mesmo com o surgimento da escrita, ainda permanecem inseridas e vivas em nosso
cotidiano (Marcuschi, 2001). A literatura de cordel é um exemplo da afirmação dessa prática, afinal
apesar de ser estruturada de forma escrita, a linguagem empregada revela variações linguísticas
perceptíveis nas atividades da fala, fato que identifica as tradições culturais de um povo.
Trazidos pelos colonizadores, os cordéis chegaram ao Brasil bem no início da colonização, e por
aqui se foram incorporados à nossa cultura, sobretudo à cultura nordestina, e por lá desempenha
inúmeras funções, como políticas, sociais, sanitárias e educativas, incluindo o processo de
alfabetização.
Convém revelar ainda que apesar de muito forte na cultura nordestina, é possível perceber
também a literatura de cordel em nossa região Amazônica, cuja temática dos cordéis revela, dentre
aspectos culturais, as narrativas das lendas e mitos da região. No Estado do Pará, por exemplo, há
grandes nomes como o reconhecido Antônio Juraci Siqueira. No entanto, durante a realização da
pesquisa bibliográfica, minhas alunas e eu sentimos a ausência de nomes de mulheres no destaque
dos principais autores de cordel,
A ausência feminina na autoria dos folhetos impressos deve-se em parte às funções que
deveriam ser exercidas pela mulher numa sociedade patriarcal de passado colonial, em que se
evidencia o silêncio e a reclusão tanto no cenário público da vida cultural quanto no registro das
histórias da nossa literatura (Queiroz, 2006, p.13).
Ademais, refletir sobre a igualdade de gênero, sobre o direito das mulheres muitas vezes
negligenciado, sobre a conjuntura social alicerçada no patriarcado, e consequentemente, refletir sobre
as inúmeras formas de violências sofridas por aquelas mulheres, deve ser, sobretudo, um dos papéis
primordiais da escola, a fim de possibilitar a igualdade de gênero no espaço escolar.
Através dessas discussões é possível fazermos com que a mulher saia do espaço privado (seu
lar) e possa frequentar o espaço público. Para ser possível trabalhar o assunto, é importante
levar até a sala de aula diferentes atividades, como, por exemplo, dinâmicas, livros didáticos,
contos, histórias, teatros e oficinas para que os alunos possam desenvolver consciência sobre o
que está sendo trabalhado e assim, de forma lúdica e esclarecida, fazer com que todos tenham
conhecimento sobre o tema (Muhl; Silva, 2020, p. 9).
Uma visão interacionista da escrita supõe, desse modo, encontro, parceria, envolvimento entre
sujeitos, para que aconteça a comunhão de ideias, das informações e das intenções pretendidas.
Assim, por essa visão se supõe que alguém selecionou alguma coisa a ser dita a um outro
alguém, com quem pretendeu interagir, em vista de um objetivo (Antunes, 2003, p. 45)
No modelo proposto por Antunes (2003), a escrita se estrutura em três etapas distintas e
integradas de realização: planejamento, escrita e reescrita. Assim, a produção do cordel Rosa de
cetim, obedeceu a essas etapas descritas e representadas pelas imagens 1, 2 e 3.
Assim, as alunas pretendiam, por meio da adaptação do conto de Colasanti para a literatura de
cordel, compartilhar com o outro a busca pelo empoderamento feminino, em uma narrativa cuja
protagonista é vítima de inúmeras formas de violência por parte do marido
No dia do lançamento da obra das alunas Alice Neves e Ednelma Silva, apresentaram o cordel
Rosa de Cetim para a comunidade escolar da E. E. E. M., na Festa Literária de Mosqueiro 2023.
Resultados
O cordel produzido pelas discentes pode ser considerado como um dos muitos resultados do
Curso de Formação “Educação de gênero e diversidade: formando para o empoderamento feminino”.
Durante a trajetória de construção daquela produção literária, pude perceber que o objetivo principal
da formação era atingido todas as vezes que as meninas apresentavam uma parte do texto.
Ao ser apresentado no dia 8 de março, com a presença dos professores Salier Castro e
Marcello Casanova, o trabalho realizado pelas estudantes ganhou ainda mais representatividade.
Todas/os as/os estudantes da Escola Padre Eduardo realizaram atividades voltadas para a
valorização do empoderamento feminino. Efetivou-se um festival de música e dança no mês de março
e nos demais meses do ano letivo, nas atividades escolares, os discentes apresentaram a valorização
do trabalho da mulher, como forma de reflexão e de reconhecimento.
Foi perceptível, portanto, a evolução das discussões no ambiente escolar acerca da valorização
da mulher, no que tange os aspectos sociais, culturais e intelectuais. O trabalho das alunas trouxe aos
demais colegas a possibilidade de considerar, em todas as atividades escolares, a reflexão sobre a
importância feminina na construção de nossa sociedade.
No que diz respeito ao empoderamento feminino, pude observar que as alunas se sentiram
mais importantes e empoderadas, uma vez que estão inseridas em um pequeno grupo de mulheres
cordelistas na Amazônia.
“Escrever o cordel, para mim, foi uma das sensações mais incríveis que já senti, lembro que
tentei desistir várias vezes, mas minha amiga sempre estava lá, me dando apoio e me encorajando a
continuar”, revelou Ednelma Silva.
Já Alice Neves considera que “foi uma experiência incrível, a qual nunca tinha vivido, nunca
imaginei que a produção do cordel iria trazer tantas oportunidades como as que eu tive, apresentar às
pessoas algo que você ajudou a construir é muito gratificante.”
Eu, enquanto docente, também pude enriquecer minhas práticas pedagógicas, ao conhecer
mais sobre as histórias de luta das mulheres, consigo hoje promover reflexões mais assertivas a
respeito dessas histórias, seja na análise de textos, na condução de debates ou até mesmo na
proposta de produção de textos escritos.
Considerações Finais
Apesar desses promissores resultados, há, pois, muito ainda a ser feito para dar à mulher um
lugar de equidade de direitos, por isso surge o compromisso de continuar o desafio de buscar
empoderar mais meninas e de incutir nos meninos a responsabilidade de garantir que este
empoderamento feminino continue a acontecer naquela Escola.
Destarte, poderíamos perceber como a produção literária de um cordel pode empoderar toda
uma comunidade, ao garantir o empenho de todos os envolvidos na Pedagogia de Projetos,
ressaltando sempre o protagonismo juvenil, sobretudo feminino, a escola é capaz de estimular que
trabalhos como este aqui relatado ganhem voz e apoio.
ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro & interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.
COLASANTI. Marina. Para que ninguém a quisesse. In.: COLASANTI, M. Um espinho de marfim e
outras histórias. Porto Alegre: L&PM, 1999, p. 111-112.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez,
2001.F
MUHL, Eldon Henrique; SILVA, Larissa Hortência Moreira da. Feminismo e educação: desafios da
pedagogia na construção de uma formação mais equânime. 2020. 13 f. Artigo de conclusão de curso
(Licenciado em Pedagogia). Curso de Pedagogia. Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, RS,
2020. Disponível em: http://repositorio.upf.br/bitstream/riupf/1936/1/PF2021Larissa%20Hortencia
%20Moreira%20da%20Silva.pdf. Acesso em: 20 de outubro de 2023.
PARÁ. Lei n° 8775, de 16 de outubro de 2018. Institui no âmbito das escolas públicas e provadas do
Estado do Pará a semana do empoderamento feminino. Belém: Diário Oficial do Estado do Pará,
IOEPA, PA, n°33.720, 2018.
QUEIROZ, Doralice Alves de. Mulheres Cordelistas: percepções do universo feminino na literatura
de cordel. 2006, 121p. Dissertação (Mestrado em Letras - Estudos Literários) – Universidade Federal
de Minas Gerais, Minas Gerais, 2006.
SOUSA, Maria Ribeiro de. O cordel na sala de aula: a ressignificação do ensino de língua portuguesa.
2014, 50p. Monografia (Especialização em Educação: Práticas pedagógicas interdisciplinares) –
Universidade Estadual da Paraíba, Paraíba, 2014.
Resumo
Este relato tem como objetivo apresentar a experiência didático-pedagógica, vivida por meio de uma prática de ensino e
aprendizagem que privilegia a integração entre a Literatura e a Filosofia, a partir da análise do conto “Para que ninguém a
quisesse,” de Marina Colasanti (2010), com alunas/os da Escola Estadual de Ensino Médio de Tempo Integral Padre
Eduardo, na Ilha de Mosqueiro. Para fundamentar a reflexão, foram utilizados alguns teóricos, como Kleiman (1995), Rojo
(2009) e Cosson (2020). Este estudo parte de uma abordagem qualitativa, com um caráter intervencionista, na qual foram
trabalhadas estratégias de leitura como oficina, roda de conversa e tertúlia literária. Os resultados indicam que as
atividades de leitura possibilitam o entendimento do letramento como um fenômeno que abrange um vasto campo do
conhecimento no que se refere aos usos e funções da oralidade e da escrita. Contribui à construção da identidade da/do
aluna/o livre de qualquer forma de violência, principalmente a sofrida pelas mulheres e outras formas de discriminação,
além de contribuir para a formação de leitores críticos de sua realidade.
Introdução
Este trabalho apresenta um relato de uma experiência pedagógica vivenciada com alunas e
alunos do Ensino Médio, na Escola Estadual de Tempo Integral Padre Eduardo, localizada na Ilha de
Mosqueiro, região metropolitana de Belém/PA. A experiência ocorreu por meio de uma prática de
ensino e aprendizagem que privilegia a integração entre a Literatura e a Filosofia através do conto
“Para que ninguém a quisesse”, de Marina Colasanti (2010), com uma leitura acerca do
empoderamento feminino.
1 Mestra em Letras/Linguística (UFPA). Professora efetiva AD-4, Classe III - Secretaria de Estado de Educação PA. Lotada
na Escola Estadual de Ensino Médio Integral Padre Eduardo, DRE 17.
2 Professor especialista em Filosofia na Faculdade Unyleya. Professor efetivo, classe I. Secretária de Estado de Educação
PA. Lotado na Escola Estadual de Ensino Médio Integral Padre Eduardo, DRE 17.
De acordo com essa BNCC (Brasil, 2018), a literatura favorece priorizar as práticas de
formação do leitor literário crítico, tanto no que diz respeito às mudanças sociais quanto às diferenças
de gênero. Nesse caso, é necessário trazer para a discussão o tema do empoderamento feminino no
Ensino Médio, com o intuito de desconstruir os preconceitos predeterminados com relação à mulher
num corpo social completamente patriarcal.
Destarte, com uma abordagem qualitativa e caráter intervencionista, este trabalho tem o
objetivo de apresentar estratégias de leitura que propiciam a relação literatura e leitor com ênfase à
temática do empoderamento feminino na prática docente. É intenção, ainda, discutir sobre o
empoderamento feminino no que se relaciona ao espaço da mulher na sociedade e na literatura
moderna no campo de estudo da filosofia: ética. Com base nesses princípios, visamos debater que a
justiça, dentro da doutrina moral de Immanuel Kant (1980), filósofo alemão construtor do criticismo,
não se confunde com vingança, seu resgate é acima de tudo a proposta de vitalização das potências
críticas do espírito, a caminho de uma relativa humanização. Tal filósofo foi escolhido em função de
que seus conceitos éticos estavam sendo abordados, quando o texto foi trabalhado com as alunas e
os alunos.
Nessa perspectiva, optamos por fomentar, de forma interdisciplinar, a formação do leitor crítico
frente às diversidades de gênero. Dessa forma, o caráter social da literatura promove diversas leituras
de mundo com o poder de construir discussões que levam à criatividade do leitor, ao diálogo e
compartilhamento de sua vivência de leitor literário, assim como de reflexões filosóficas de sua própria
identidade. Isso é possível através da “leitura literária que conduz a indagações sobre o que somos e
o que queremos viver, de tal forma que o diálogo com a literatura traz sempre a possibilidade de
avaliação dos valores postos em uma sociedade” (Cosson, 2020, p. 50), desafiando os discursos
preestabelecidos nela, uma vez que é possível uma perfeita relação da literatura aos direitos humanos.
[...] o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o
exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento
das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção
da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor (Candido, 2004, p. 182).
Desse modo, este relato expõe uma prática docente organizada em três etapas, utilizando-se
do conto moderno, a partir da temática do empoderamento feminino à luz do letramento literário
(Cosson, 2020), como estratégia metodológica para a formação leitora e o ideal em romper com a
dominação patriarcal no âmbito artístico-literário e filosófico.
Interfaces teórico-metodológicas
Segundo Freire (2005), a leitura de mundo antecipa-se à leitura da palavra, logo, não deve ser
uma mera atividade de decodificar códigos linguísticos. Ela acontece também no interior das
atividades que priorizam os aspectos da vida social, histórica e cultural do sujeito. No entanto, na
maioria das vezes, o único contato que as/os estudantres têm com os livros, principalmente de
literatura, é nas escolas, e as aulas de leitura, lamentavelmente, acontecem de forma obrigatória e
não voluntária.
Dessa forma, eles têm atravessado os portões das escolas sem o gosto pela leitura e chegado
às universidades tendo lido apenas resumos dos livros solicitados para o vestibular, porém, é possível
Os PCN (Brasil, 1998, p. 69-70) também destacam que “A leitura é o processo no qual o leitor
realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu
conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc.” Essa
orientação, entretanto, elucida de forma relevante o papel do leitor nesse processo, ou seja, a
importância daquele que produz novos sentidos para o texto e, consequentemente, faz uso de
diversas estratégias de leitura, como ilustra Freire (1996 p. 27): “A leitura verdadeira me compromete
de imediato com o texto que a mim se dá e a que me dou e de cuja compreensão fundamental me
vou tornando também sujeito”.
Com tal característica, torna-se cada vez mais importante a busca por um ensino de práticas
de leitura e escrita cuja participação da/do discente aconteça de forma efetiva. Para isso, os PCN de
Língua Portuguesa alertam que: “[...] um projeto educativo comprometido com a democratização social
e cultural atribui à escola a função e a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso
aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos” (Brasil,
1997, p. 21).
É necessário destacar que essas práticas sociais de leitura e de escrita estão presentes no
cotidiano de toda a sociedade. São formas de utilização social da leitura e da escrita, sendo, portanto,
práticas de letramento. Segundo Soares (2008, p. 45), “as pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e
a escrever, mas não necessariamente incorporam a prática de leitura e da escrita, não
necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita”.
Nesses termos,
O fenômeno do letramento, então, extrapola o mundo da escrita tal qual ele é concebido pelas
instituições que se encarregam de introduzir formalmente os sujeitos no mundo da escrita. Pode-
se afirmar que a escola é a mais importante das agências de letramento, preocupa-se não como
letramento prática social, mas com apenas o tipo de prática de letramento, a alfabetização, o
processo de aquisição de códigos (alfabético, numérico) processo geralmente concebido em
termos de uma competência individual necessária para o sucesso e promoção na escola
(Kleiman, 1995, p. 20).
O letramento, portanto,
[...] varia através dos tempos e das culturas e dentro de uma mesma cultura. Por isso, práticas
tão diferentes, em contextos tão diferenciados, são vistas como letramento, embora
diferentemente valorizadas e designando a seus participantes poderes também diversos (Rojo,
2009, p. 99).
Daí vem a importância em agregar esses dois saberes: alfabetização e letramento, assim como
estudá-los nas práticas sociais.
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 107
À luz dessas considerações, a partir de um trabalho pautado no gênero conto, temos a tertúlia
literária dialógica, por exemplo, como uma estratégia de leitura caracterizada pela interação social
entre as pessoas mediadas pela linguagem. De acordo com Mello, Braga e Gabassa (2012, p. 44), “é
uma atividade cultural, educativa e social”. Essa atividade possui características importantes para que
seu desenvolvimento tenha bons resultados.
A tertúlia Literária se reúne em sessão semanal de duas horas, decide-se conjuntamente o livro
e a parte a comentar em cada próxima reunião. todas as pessoas leem, refletem e conversam
com familiares e amigos durante a semana. Cada uma traz um fragmento eleito para ler em voz
alta e explicar o significado atribuído àquele parágrafo. O diálogo vai sendo construído a partir
dessas contribuições. os debates entre diferentes opiniões se resolvem apenas através de
argumentos (Flecha; Mello, 2005, p. 17-18).
Dessa maneira, podemos dizer que essas ideias corroboram com Freire (2005) e Rojo (2009),
quando afirmam a importância de promover uma educação do diálogo em que as/os estudantes
possam trocar experiências, aprender conjuntamente e produzir conhecimento, ressignificando a
linguagem e o contexto das pessoas na sociedade. O empoderamento feminino surge, nesse ínterim,
como foro de discussão entre discentes, a fim de que alcancemos a utopia de uma sociedade
igualitária e tolerante quanto à questão de gênero.
Certamente que o trabalho de inclusão da literatura escrita por mulheres na sala de aula ainda
é de difícil aceitação. Uma das mulheres empoderadas e imersas nessa literatura é Marina Colasanti.
Seus contos “transitam entre o real e o fantástico alinhavando ações que conduzem as relações
humanas e seus dilemas” (Santos; Grácia-Rodrigues, 2015, p. 160) e discute sobre as estruturas já
concebidas, oferecendo principalmente à mulher, oportunidade para descaracterizar a ideia
historicamente estabelecida da opressão imposta pelo patriarcalismo.
Partindo do princípio de que Schopenhauer (2002) incide sua luz à questão, leva-se em
consideração que Kant (1980) retempera o assunto, levando à posteridade um compromisso moral
capaz de caracterizá-lo. O princípio substancial de um caráter reto está assentado na percepção de
uma boa vontade; mesmo o desejo humano por dignidade, fortuna e prazer devem fazer parte deste
mote, pois ao bem de um bom caráter, deve reinar a vontade estabelecida no assento da dignidade
para a ascensão e participação na felicidade.
Assim, ser feliz é ser moralmente bem constituído de tudo que a Razão Pura pode alcançar,
porém com diligência da Razão Prática. Todo caráter deve estar assentado na dignidade da boa
vontade, como força motriz que nos desviem da barbárie de confundir justiça com vingança, do instinto
e da imprecisa capacidade de julgamento.
A boa vontade não é boa por aquilo que promove ou realiza, pela aptidão para alcançar qualquer
finalidade proposta, mas tão-somente pelo querer, isto é, em si mesma, e, considerada em si
mesma, deve ser avaliada em grau muito mais alto do que tudo que por seu intermédio possa
ser alcançado (Kant, 1980, p. 110).
Do ponto de vista metodológico, este projeto foi realizado em sentido real de ensino e de
aprendizagem. Isso porque, como pesquisadores, observamos, interferimos e modificamos nossa
prática pedagógica, tentando entender as práticas sociais, culturais e históricas na comunidade. Para
fins metodológicos, dividimos as atividades em etapas, as quais se desenvolveram por meio de várias
ações, descritas parcialmente neste trabalho, organizadas por período bimestral, no decorrer dos anos
letivos de 2022 e primeiro semestre de 2023, com alunas e alunos do Ensino Médio da 1ª, 2ª e 3ª
séries, a saber:
Na primeira etapa, apresentamos às/aos discentes o conto “Para que ninguém a quisesse” de
Marina Colasanti (2010), utilizando a estratégia da tertúlia literária dialógica com o objetivo de encantá-
los para o universo maravilhoso das narrativas e em seguida focar na discussão da temática principal
do conto.
Na segunda etapa, aconteceram rodas de leitura nos espaços da escola com o conto
selecionado. As/os estudantes compartilharam a leitura, em círculo, destacando um trecho que leu e
mais chamou a atenção. Em seguida, construímos um mapa conceitual, na lousa, destacando
conceitos filosóficos a partir das interpretações extraídas da história envolvendo a personagem
feminina no conto. Essa prática discursiva, trouxe como propósito fecundar relatos de experiências já
vividas e que eclodem no ato de leitura do texto e representam uma profunda realidade na vida dos
discentes, haja vista que eles devem representar como se relacionariam com os conceitos da aula,
quando pensados e aplicados às suas vidas (Imagem 1).
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 109
Imagem - 1: Painel fotográfico com tertúlia literária e roda de leitura
Fonte: Registrado pelos autores (2022).
Em seguida, aconteceram as tertúlias literárias, na biblioteca, com a temática que versava sobre
a representação feminina no conto “Para que ninguém a quisesse”. Nessa atividade, foram
selecionadas/os alunas e alunos de todas as turmas de Ensino Médio para apresentar a tertúlia com
a referida temática em outra escola, para professores, como exemplo de estratégia de leitura.
Concomitante a essas atividades, houve uma criteriosa reescrita do texto com o propósito de
estabelecer um final diferente para o enredo levando em consideração as discussões realizadas
anteriormente (Imagem 2).
Imagem - 2: Painel fotográfico “palavra em movimento” com visita às escolas e reescrita do conto
Fonte: Registrado pelos autores (2022).
Na terceira etapa, seguiram-se as oficinas para orientação de reescrita das narrativas com base
no conto “Para que ninguém a quisesse”. Na praça da escola, debaixo de uma mangueira e no
auditório, em uma roda de conversa com os professores de Filosofia e Língua Portuguesa, as/os
estudantes apresentaram as narrativas para os colegas em uma ciranda de leitura já com as histórias
tecidas, numa sessão de histórias do empoderamento feminino (Imagem 3).
Imagem - 3: Painel fotográfico com as oficinas de reescrita das narrativas e os círculos de leitura e debate
Fonte: Registrado pelos autores (2022).
Foi elaborado, ainda, um livro com as narrativas reescritas, digitado pelas/pelos próprias/os
alunas/os da escola Padre Eduardo para que, mais uma vez, ficasse registrado na memória e na vida
de todas e de todos a importância de o letramento escolar ultrapassar os muros da escola e ir ao
encontro de práticas e eventos de letramento no contexto da comunidade.
Resultados alcançados
Este projeto vai muito além de uma prática de leitura. A experiência vivida revela que a partir
do contato expressivo com discussões, elas/eles enriqueceram sua linguagem e ampliaram seu
repertório sociocultural, facilitando novas possibilidades expressivas da palavra. Isso foi perceptível
na reação delas/deles, quando ocorreu uma massiva manifestação de revolta, numa proposta de
substituição da justiça pela vingança, ante ao tratamento recebido pela protagonista do texto, imputado
pelo seu companheiro, o que fez refletir e muito nossa prática.
É importante, portanto, destacar algumas falas que mostram a relevância da leitura partilhada
e as reflexões filosóficas no processo de letramento. Os relatos das/dos alunas/os trouxeram
profundos significados ao perceber que suas revoltas aludem, em certo grau, às revoltas de toda uma
sociedade, a qual nos encontramos inseridos e a qual serve como nosso laboratório experimental.
Esses entendimentos mostram a relação que as/os discentes estabeleceram com o conto,
elegendo-o como um excelente texto. Para além disso, a relação estabelecida entre leitor-mundo
como partilha, contribuiu à formação do leitor e do escritor. De modo análogo, ficou perceptível, nos
finais do conto reescrito o que tais práticas acarretaram tanto em relação à prática de leitura, à
ampliação vocabular, como do próprio funcionamento dos debates e reflexões filosóficas:
A tertúlia permitiu, desse modo, o aprendizado escolar e, ao mesmo tempo, compreender uma
dinâmica pautada no respeito e na valorização das diferenças. Isso é confirmado nos discursos orais
das/dos alunas/os e, principalmente, na reescrita do conto. Em “Para que ninguém a quisesse”, a
mulher é apagada aos poucos, ficando sem vida, tornando-a um objeto, uma rosa desbotada. Isso
ocorre devido aos ciúmes do marido: “porque os homens olhavam demais para sua mulher, mandou
que descesse a bainha dos vestidos e parasse de se pintar” (Colasanti, 2012, p. 80).
Assim, aos poucos o marido a vai silenciando, para que ninguém a queira, só que isso o inclui
também
Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum se interessava por ela. Esquiva como um gato,
não mais atravessava praças. E evitava sair. Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-
se dela, permitindo que fluísse em silêncio pelos cômodos, mimetizada com os móveis e as
sombras. Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade da
mulher. Mas do desejo inflamado que tivera por ela (Colasanti,, 2012, p.80-81).
Ao final, o que sobra é apenas um vulto, que andava pela casa totalmente apagado tal qual
uma rosa desbotada. Dessa forma, a narrativa expõe a mulher na relação com o homem, mostrando
Revista “Entre Saberes” - Vol. VI, Nº 11 (dez.2023) 112
um efeito de dominação masculina que silencia os dois de forma irreversível como apresenta a
releitura feita pela aluna Rebeca:
O efeito catártico da narrativa reescrita não guarda relação de reciprocidade com a ética, haja
vista que ela tende a valorar a ação do leitor como perfeitamente “compreensível”, “realizável” e
“perdoável”, canalizado pelas dores morais desses leitores, pois postula o resgate da justiça de forma
unilateral, entretanto com o desgaste da boa vontade e a valorização dos instintos. Os personagens
da trama conflitam em seus interesses, com o personagem masculino sabotando todas as
expectativas do feminino, o que causa revolta, porém, essa revolta não resgata a unidade formal
determinada pela boa vontade kantiana, o que significa uma carência de insumos morais.
Kant (1980) não será o último filósofo que alargaria a leitura do conto, mas descreve um bom
caminho na compreensão de um conceito de liberdade que sirva aos dois personagens, que estão
presos de alguma forma a uma vontade que não é boa em si mesma.
Em outra releitura, a personagem feminina também não consegue escapar de seu algoz, porém
dá uma outra versão para ele:
Porém, em grande parte das reescritas, os textos demonstraram um desejo significativo para
que essa realidade atual tivesse um rumo diferente, com a desigualdade de gênero sendo respeitada
e a mulher sem submissão e livre de qualquer tipo de violência, seja física, moral e psicológica:
Desse modo, irromper com o velho e abraçar o novo é um parto dolorido em que as agruras do
processo dinamizam por baixo suas ações. Falo em parto porque é uma dor que marca profundamente
e é alcançada pelo cinzel da moralidade, mas também da construção epistemológica, que cultiva o
saber fazer. O fato é: querer fazer não sacramenta que a ação terá êxito, mas o saber fazer nos move
para mais próximos dessa certeza.
Nessa perspectiva, a literatura e a filosofia tornam-se lugar de produzir reflexões e assim efeitos
sobre como a mulher é significada e de que modo a resistência pode ocorrer. Possibilita o
entendimento do letramento como um fenômeno que abrange um vasto campo do conhecimento no
que se refere aos usos e funções da escrita e da fala.
Em síntese, o interesse das/dos alunas/os pelos debates não é diferente; eles reivindicam a
atividade para acontecer periodicamente em suas turmas. Possuem limitações quanto ao repertório
temático, mas é perceptível o esforço para melhorar as interpretações buscando outros referenciais
e, algumas vezes, optando pela intertextualidade. Por fim, é importante afirmar que é possível realizar
práticas de letramento de maneira isolada e obter bons resultados, mas esses resultados serão mais
significativos se a proposta for tomada como a própria forma de organização da escola.
Resumo
Este relato de experiência reflete a prática educativa desenvolvida na Escola Estadual de Ensino Médio professor Manoel
Leite Carneiro. As atividades realizadas se inserem no contexto da lei estadual de nº 8775/2018 (Pará, 2018), que institui
no âmbito das escolas públicas e privadas do estado do Pará a Semana do Empoderamento Feminino. As atividades
desenvolvidas em sala de aula, culminaram nos seguintes resultados: três produções audiovisuais, uma mesa temática
“Mulheres e situação de violência: quem são essas mulheres da mulheridade?” e na semana do Dia Internacional da
Mulher, durante o intervalo, a realização de um momento no espaço em frente ao refeitório da escola de exposição e
apresentação das atividades realizadas pelas/pelos estudantes. Considera-se que a Arte e suas experiências estéticas
em conexão com a Sociologia, articuladas às experiências e vivências compartilhadas pelas/pelos jovens, podem contribuir
para o combate aos preconceitos e ideias estereotipadas a respeito das diversidades presentes em nossa sociedade, nas
relações de poder entre os gêneros.
Introdução
A prática educativa desenvolvida na Escola Estadual de Ensino Médio Professor Manoel Leite
Carneiro4, é uma reformulação de um projeto intitulado “As musas do nosso Brasil”, realizado sob a
orientação da professora Sarah Aviz do campo de saberes em Artes e tem como objetivo geral atender
ao disposto na lei nº 8775/2018, que institui no âmbito das escolas públicas e privadas do estado do
Pará a Semana do Empoderamento Feminino.
1 Mestra em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (PROFEPT- IFPA);
Professora de Sociologia e Artes da Escola Estadual de Ensino Médio Manoel Leite Carneiro.
2 Licenciada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Pará, Professora da Escola Estadual de Ensino Médio
Federal do Pará, Diretor da Escola Estadual de Ensino Médio Profº Manoel Leite Carneiro
4 A partir daqui, mencionaremos somente a escola MLC, quando nos referirmos à instituição escolar lócus da prática
educativa.
Nesse sentido, a prática educativa realizada na escola MLC, justifica-se pela importância das
discussões sobre violência de gênero e dar a conhecer a ação política organizada de mulheres para
a conquista de direitos, para o reconhecimento e o fortalecimento da cidadania.
Assim, conforme aponta Louro (1997, p.119), “a construção de uma prática educativa não-
sexista necessariamente terá de se fazer a partir de dentro desses jogos de poder. Feministas ou não,
somos parte dessa trama e precisamos levar isso em conta”.
O plano de ação elaborado para o desenvolvimento da prática educativa, propôs dar visibilidade
à construção social das desigualdades de gênero, e produzir um debate em sala de aula na
perspectiva da subversão do lugar social atribuído às mulheres na sociedade brasileira nas dimensões
do trabalho, da política, do patrimônio; informação quanto ao processo de luta para a conquista e
garantia de direitos políticos, civis e sociais para as mulheres; fortalecimento das/dos estudantes,
através do reconhecimento de instrumentos legais para o enfrentamento da violência contra a mulher.
A escola MLC localiza-se no Conjunto Maria Helena Coutinho, no bairro do Tenoné, periferia
do município de Belém. A escola se caracteriza pela proposta pedagógica de Educação de Tempo
Integral e de Educação Integral, desde o início do seu funcionamento, em 2015. Nesta modalidade de
educação, oferece, num tempo escolar ampliado de 9h, atividades escolares do currículo básico
intercaladas com oficinas curriculares nas áreas da linguagem, esportiva, artística, cultural e de
formação cidadã.
No entorno da escola estão presentes alguns equipamentos sociais como Unidade Integrada
de Polícia Pacificadora, posto de saúde, uma quadra poliesportiva do Sesc, além quatro igrejas
católicas e um grande número de igrejas evangélicas das mais diferentes denominações. Estão
presentes também, a influência de políticos locais que tem principalmente entre os moradores do
Conjunto Maria Helena Coutinho, aqueles que realizam serviço de cabos eleitorais, com forte
atuação em período de eleições.
O público atendido pela escola MLC é oriundo majoritariamente desse lugar, de modo que o
entorno influencia as relações que são estabelecidas dentro da escola, e na própria dinâmica de
5Durante o governo Bolsonaro (2018 - 2022), forte pressão foi exercida dentro dos espaços de poder e decisão tanto na
esfera municipal, quanto estadual, e federal, para que o estado interferisse nas publicações científicas e acadêmicas,
peças de teatro, exposições culturais, produção de filmes, apontando quais temas possuem, de acordo com a ideologia
defendida pelo governo, legitimidade para receber financiamento público - Censura de Bolsonaro à cultura afeta os
negros, as mulheres e os LGBTs. Disponível em: https://almapreta.com/editorias/realidade/ censura-de-bolsonaro-a-
cultura- afeta-os-negros-as- mulheres-e-os-lgbts. Acesso em: 8/11/2019.
A implementação da lei estadual de nº 8775/2018 (Pará, 2018), que institui no âmbito das
escolas públicas e privadas do estado do Pará a “Semana do Empoderamento Feminino”, e a valorosa
contribuição do Centro de Formação dos Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará
(CEFOR), veio fortalecer o Projeto Político Pedagógico da escola e respalda o trabalho que já é
desenvolvido por docentes sobre os temas, tendo em vista a ampliação do debate sobre o tema no
dia a dia da escola.
Cunha (2014), trata a violência contra a mulher, enquanto relações patriarcais de gênero e
a desproporcionalidade que elas estabelecem na relação de convívio, identidade e sexualidade
entre os sexos. A autora enfatiza que a violência de gênero integra a ordem patriarcal de gênero
como relação de poder de dominação e exploração do homem e de submissão da mulher.
A lei 11.340 (Brasil, 2006, n.p.), em seu art. 5º diz que se “configura violência doméstica e
familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial".
Saffioti (2015), compreende a violência de gênero, para além da esfera familiar e doméstica.
Uma vez que o patriarcado atravessa a sociedade como um todo, ela se manifesta em todas as
instituições e impregna todas as relações sociais. No continuum da violência de gênero, o feminicídio
de acordo com Campos (2015), é a forma mais extrema da violência contra a mulher.
O desafio está posto para todas e todos, no exercício da interdisciplinaridade, entende-se que
as escolas podem estimular o planejamento de atividades educativas tendo em vista a “superação
das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas
A partir dos pressupostos adotados, construímos um plano de ação para desenvolvermos com
duas turmas da 2ª série, durante o período de novembro de 2022 a janeiro de 2023, obedecendo as
seguintes etapas: (A) problematização inicial, (B) organização do conhecimento e (C) aplicação do
conhecimento - dinâmica didático – pedagógica conhecida como “Três Momentos Pedagógicos”
(Muenchen; Delizoicov, 2012).
(A) Problematização
O objetivo desta atividade, foi apresentar aos estudantes o feminicídio enquanto um fenômeno,
construído social e historicamente, como estágio final da violência contra a mulher e como resultado
do tratamento desigual entre homens e mulheres, fundamentada no machismo e no patriarcado.
6 Texto final aprovado para o Plano Nacional de Educação - 2014. Alguns segmentos sociais e políticos discordaram
veementemente que os temas da sexualidade e do gênero devam ser tratados na esfera pública, em espaços como a
escola.
7 No Pará, o crime de feminicídio aumentou 100% na pandemia - Amazônia Real (amazoniareal.com.br).
Após o primeiro momento de reflexão, as/os estudantes levaram como tarefa para casa, a
pesquisa de casos de feminicídio ocorridos na Região Metropolitana de Belém. O material pesquisado,
foi utilizado como recurso didático, para o aprofundamento da discussão sobre violência contra a
mulher e feminicídio, no segundo momento da problematização inicial.
O Aprofundamento do debate sobre violência contra a mulher ocorreu com a utilização de dois
recursos didáticos: um primeiro com a utilização da imagem de uma pintura produzida pela artista
plástica iraniana, Shansia Hassani intitulada: “Quadro Religioso”8 e o segundo, o texto “Para que
ninguém a quisesse” de Marina Colasanti” (2012). Em seguida, solicitamos que uma ou um estudante,
voluntariamente, realizasse a leitura do texto para a turma.
Com esses recursos, pedimos que as/os estudantes fixassem o olhar na obra da artista plástica
e descrevessem as sensações que a figura da mulher lhes despertava. Para tanto, formulamos a
seguinte questão: Qual leitura vocês fazem da arte produzida por Shamsia Hassani? Qual mensagem
a artista transmite através de seu trabalho? Estimulamos as/os estudantes a interpretar as expressões
faciais, corporais e os elementos presentes na obra da artista.
8 https://www.instagram.com/shamsiahassani/
Por meio da leitura do texto, complementamos a discussão sobre a submissão da mulher como
resultado de um processo de silenciamento e invisibilização construído social e historicamente, com
base no patriarcado, quer seja de maneira explícita quer seja de maneira velada, escamoteada.
“Com o distanciamento social, a vítima passou a ser obrigada a conviver muito mais tempo com
o agressor”, relatou um estudante. “Com a falta de trabalho, muitos casais dependiam da família ou
do marido, com isso a violência psicológica...”, respondeu outra estudante. “A pandemia contribuiu,
9Trabalho de sociologia. Escola Manoel Leite Carneiro. - YouTube; Violência contra a mulher. Escola Manoel Leite
Carneiro. - YouTube
Para os estudiosos, é fato que o isolamento social gerou impactos determinantes para o
agravamento dos casos de violência contra a mulher e a consequente para a crescente do feminicídio,
entretanto os fatores que motivam a prática do feminicídio, já se encontravam presentes por questões
estruturais.
Durante a socialização do resultado das pesquisas dos casos de feminicídio, foi possível
perceber a aproximação dos estudantes do fenômeno social estudado pois relataram situações de
pessoas próximas envolvidas com a questão da violência doméstica conforme podemos observar
nos discursos das e dos estudantes: “Professora, um conhecido meu, ele tem o hábito de beber
bebidas alcoólicas, e quando ele bebe demais, essa pessoa fica fora de si e ele leva isso pra dentro
de casa, especialmente a mulher dele que sofre com agressões verbalmente ou fisicamente”
(Atividade realizada em sala de aula – dez/2022).
Foi possível também apreender a percepção dos estudantes para outras formas de violência
na qual a mulher encontra-se inserida. Uma estudante contribuiu com a socialização,
complementando que “o fato de agredir a mulher, além de machucar o corpo delas, eles agridem,
humilham elas com palavras ofensivas, acabando com o psicológico delas.”
As reflexões realizadas com os estudantes por meio da obra de Shamsia Hassani (Imagem 2)
e do texto da autora Marina Colasanti (Imagem 3) jogaram luz sobre a forma perigosa que se constrói
o silenciamento e a invisibilização da mulher e produz a subalternização em qualquer que seja o
contexto social e cultural, mediada pela ideologia e uma moral religiosa de maneira explícita ou velada.
A expressão da mulher sem voz, sem força, obediente a regras e fundamentos religiosos que
a imobilizam, – a mulher que é retratada na obra da artista iraniana, não tem a boca, olha para baixo,
está ao pé do homem e presa a um símbolo religioso – conduziram a interpretação dos estudantes
para a opressão, tristeza, medo, expressas na obra artista.
As produções das autoras inserem o fenômeno social da violência contra a mulher, enquanto
categoria universal, e estende as formas de violência para outras dimensões além da física: a
psicológica, moral, sexual e patrimonial.
Considerações Finais
O plano de ação desenvolvido em parceria com o CEFOR, e com estudantes de duas turmas
da 2ª série da Escola MLC, amplia e fortalece o desenvolvimento de práticas educativas sobre
gênero e violência de gênero dentro da escola.
Paulo Freire (2004 apud Gadotti, 2007, p. 96), sublinha os limites da prática educativa, “a
melhor afirmação para definir o alcance da prática educativa em face dos limites a que se submete é
a seguinte: não podendo tudo, a prática educativa pode alguma coisa. Temos no legado de luta e
esperança, do patrono da Educação Brasileira, o caminho pedagógico para vencermos as dificuldades
impostas, no dia a dia em sala de aula. Esperança na luta ... esperança da vida.
Referências
Resumo
O texto tem como objetivo relatar as práticas vivenciadas na escola estadual Avertano Rocha no âmbito do
desenvolvimento do “Projeto Diversidade no A.R.: tempo de abraçar”, elaborado com a finalidade de oportunizar à
comunidade escolar formação acerca do tema educação de gênero e diversidade, em especial, no que tange à apropriação
acerca do Empoderamento Feminino. Por meio dos encaminhamentos metodológicos do projeto, as/os alunas/os puderam
vivenciar, na prática, uma perspectiva interdisciplinar, em ações que fomentaram a solidariedade e a sensibilidade. Como
resultado, notamos maior envolvimento dos docentes de Linguagens e Ciências Humanas no trabalho por projetos, além
de aquisição de repertório por parte de alunos e discentes; observamos também a quebra do silêncio e maior denúncias
de práticas de assédio e uma expansão das ações para além dos muros da escola.
Introdução
A Escola Estadual de Tempo Integral Avertano Rocha, situada no distrito de Icoaraci, região
periférica da cidade de Belém, há tempos é vista, pela comunidade, como uma escola de projetos
diferenciados para educação. Será mesmo? Tal indagação se dá porque é importante esclarecer que
qualquer projeto desenvolvido na escola - ainda mais sendo inovador - precisa ser construído de forma
democrática, com a participação coletiva dos sujeitos envolvidos no processo educacional, portanto,
todos precisam se convencer da pertinência e importância do desenvolvimento do projeto na escola
(Gandin, 2013).
Nesse contexto, buscar-se-á nesta produção dizer como, na escola pública Avertano Rocha,
deu-se a aceitação do projeto “Diversidade no A.R3: tempo de abraçar”, mas também comentar alguns
resultados. Foi no ano de 2022 que a proposta para se discutir a condição da mulher na sociedade
brasileira, no tocante ao Empoderamento Feminino4, foi apresentada às professoras e aos professores
da escola. Mas tratar de temas acerca da diversidade, no ambiente escolar, requer o entendimento
1 Doutora em Educação pela Universidade Federal do Pará - Belém /Brasil (2919). Professora de Sociologia do ensino
médio na escola de Tempo Integral Avertano Rocha - SEDUC/PA, Brasil. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em
Trabalho e Educação (GEPTE/UFPA). Lattes: http://lattes.cnpq.br/2574829928192680. e-mail:
ana.mrcosta.escola.seduc.pa.gov.br
2 Mestre em Linguística pela UFPA (2010). Especialista em Currículo da Educação Básica pelo NEB/UFPA (2021) e
Especialista em Língua Portuguesa: uma abordagem textual pela UFPA (2023). Professora na Educação básica na rede
pública de ensino médio. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1529550619196801.
3 A.R é a abreviação de Avertano Rocha, trata-se da forma como muitos integrantes da comunidade escolar se referem
à escola estadual de Ensino Médio de Tempo Integral Avertano Rocha. No entanto, intencionalmente, lançou-se mão
dessa abreviação – A.R, para também se aproximar do significado de algo que circunda a atmosfera.
4 A proposta para, na rede pública, se discutir o tema sobre Empoderamento Feminino surge a partir de uma ação do
Centro de Formação dos Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará (CEFOR), da Secretaria de Educação do
Estado do Pará.
Nesse sentido, a adesão ao projeto, por parte da equipe docente, não foi imediata, houve
resistência e, até mesmo, a perceptível insegurança e desconforto de algumas professoras e
professores. Diante das reações desfavoráveis à realização das atividades sobre diversidade na
escola; em consonância com a coordenação pedagógica, lançou-se mão de algumas estratégias para
minimizar essa resistência. Isso, claro, sem desconsiderar as razões justificáveis, dos docentes, para
tal conduta, das quais, ressalta-se aqui, pelo menos duas razões que serão explanadas abaixo:
1) distanciamento dos estudos e dos documentos que respaldam a ação docente para tratar o
tema sobre diversidade;
Inicialmente é relevante destacar que na escola, seja ela pública ou privada, pouco se estuda
acerca do currículo crítico; já no que tange ao currículo pós-crítico a discussão é quase inexistente.
Para Silva (1999), depois de conhecer as teorias críticas e pós-críticas, torna-se impossível conceber
o currículo de forma ingênua e desvinculado de relações sociais de poder.
Portanto, em contexto de escolas em que não se discute esses currículos, surgem barreiras
que dificultam a proposição de projetos para trabalhar questões contemporâneas, como: gênero, raça
e etnia. Outra barreira a ser mencionada, refere-se à desconsideração dos marcos normativo
existentes como, por exemplo, a Constituição Cidadã (Brasil, 1988) e a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação brasileira – LDB (Brasil, 1996) vigente que são essenciais no momento de elaboração de
projetos a serem desenvolvidos na escola como, por exemplo: o Projeto Político Pedagógico.
5 Waldina Ribeiro Braga. Professora Mestre em Currículo e Gestão da Educação Básica da Universidade Federal do Pará.
Portanto, na oportunidade de recordar os momentos mencionados é como olhar para trás, como
quem olha pelo retrovisor, e perceber que foi importante dar as mãos para viver um presente repleto
de possibilidades. Foi isso que se vivenciou na escola Avertano Rocha na “Semana do
Empoderamento Feminino”.
Com o projeto, assegurou-se ambiente favorável para desenvolvimento das ações de aplicação
da lei ordinária nº 8.775/2018 (Pará, 2018), do deputado estadual Carlos Bordalo, que institui a
6Para esse projeto foi criado uma logo pelo profissional da área de Comunicação Social e Publicidade especialista em
Mídia Social, Rodrigo Camargo da Silva que se voluntariou na criação e doação da arte.
A constatação de que o projeto é um PIE também concretiza mais uma virada de chave, porque
viabiliza, na prática, a todos os envolvidos a compreensão o que é um PIE, já que na realidade das
escolas tem sido muito difícil fazer essa integração do ensino de modo interdisciplinar e essa é a
orientação central para se instituir o Novo Ensino Médio.
Conforme o marco legal do Novo Ensino Médio, o PIE é uma unidade curricular do núcleo
Formação para o Mundo do Trabalho (FMT) que corresponde à parte flexível do currículo com a
finalidade de aprofundar e ampliar conhecimentos pautados na interdisciplinaridade e integração
curricular, por meio de ações de aprendizagem que vão para além das questões estritamente
pedagógicas. O PIE favorece a aprendizagem de
[...] competências que contribuam para a construção de uma sociedade mais ética, democrática,
responsável, inclusiva, com vistas à formação humana integral, fundamentada nos pressupostos
teóricos sócio-histórico referenciados em Freire e Gramsci (Pará, 2021, p. 269).
Tudo o que fora materializado nesse PIE (“Projeto Diversidade no A.R.: tempo de abraçar”),
iniciado no mês de março de 2023, fomentado pela temática do Empoderamento Feminino (campanha
para arrecadação de absorventes higiênicos, discussões, rodas de conversas, palestras, elaboração
de textos, criação de playlist e vídeos, leitura literária...) correspondeu ao que se objetivou quando a
proposta foi pensada.
7 A Orientação da lei nº 8775/2018 (Pará, 2018) é que se institua, na primeira semana de março a “Semana do
Empoderamento Feminino”. No entanto, na escola Avertano Rocha, a ação didática ocorreu em um período maior, foi de
1° a 16 de março/2023, realizando diferentes atividades produzidas pelos estudantes sob a orientação dos docentes
responsáveis pelas turmas.
É importante notar que os mosaicos acima apresentam momentos distintos ocorridos na escola.
Na figura 2, há o registro de ações desenvolvidas desde o dia 1º de março, por exemplo, em que
alunos e professores participaram de palestras (“Cuidado e saúde do corpo da mulher”, “Direitos da
mulher e a Lei Maria da Penha”, “Movimento Social de Mulheres”); alunas e alunos confeccionaram
painéis (análise de manchetes sobre a “mulher nas mídias”; “A figura feminina nas artes”); alunos,
professores e convidadas participaram da roda de conversa “A mulher militante profissional
professora”; alunas e alunos explanaram o texto literário “Torto Arado”, de Itamar Vieira Jr. Isso para
citar algumas ações realizadas, já que parece inviável descrever todas, uma vez que a escola possui
15 turmas e nenhuma ficou de fora.
Muitas turmas se organizaram para somente socializar as aprendizagens por meio do produto
final, no dia da culminância. É o que se visualiza na figura 4, em que no dia 16 de março, do ano
vigente, muitos espaços da escola foram tomados para ocorrer as diversas apresentações: playlist e
biografia de mulheres artistas da música; exposição de painéis; exibição de vídeos criados pelos
alunos, palestras. Foi uma manhã surpreendente porque superou as expectativas.
Todo esse movimento foi planejado e executado com muita responsabilidade por docentes e
discentes. Isso mesmo, após se conquistar o engajamento de grande parte dos docentes, esses
colegas também, usando de muita sensibilidade, envolveram os alunos. É importante citar aqui duas
ações que partiram dos professores que demonstram essa sensibilidade 8: a) o “Chá da tarde” pela
ocasião do lançamento da campanha de arrecadação (a seguir descrita) e b) a elaboração, distribuição
e leitura da Carta Aberta à comunidade escolar avertaniana, na qual anunciava a campanha de
arrecadação, alertando para: a existência da pobreza menstrual; a orientação para inscrição das
alunas beneficiadas e o pedido de doação e/ou divulgação da campanha.
Enfim, como se deu essa campanha de arrecadação, na escola Avertano Rocha, que garantiu
dignidade menstrual a tantas meninas/alunas/mulheres?
8Neste momento de realização do “Projeto Diversidade do A.R.: tempo de abraçar”, por ocasião da Semana do
Empoderamento Feminino, todas as ações foram financiadas pelos docentes da escola.
A possibilidade de desenvolver o projeto foi algo que aos poucos foi envolvendo muitas
pessoas. Esse compromisso social do indivíduo profissional professor foi se alargando de tal forma
que não foi suficiente ficar no plano da reflexão e do discurso. E no surgimento da primeira ideia para
se partir em direção a uma ação mais concreta, a adesão foi imediata. Houve a sugestão de auxiliar
algumas alunas que estivessem em situação de vulnerabilidade social, beneficiando-as com a
arrecadação e distribuição de absorventes higiênico.
Daí surge a Campanha Fluxo da Vida com o compromisso de combater a pobreza menstrual
do público feminino da escola durante todo o ano de 2023, visto que essa carência aflige uma parcela
das alunas em situação de vulnerabilidade social. Entendeu-se que, como minoria social, elas
precisavam ser empoderadas no sentido de mantê-las instruídas, oferecendo condições para
construírem seus projetos de vida e se ausentarem da escola por falta de absorvente higiênico era,
sobretudo, uma violação aos direitos humanos.
Assim sendo, o ponto de partida de adesão dessa campanha na escola, inicia coletivamente
com a participação docente, sugerindo e definindo o título da campanha, bem como a logomarca 9
adotada no banner de divulgação, cujo lançamento ocorreu mediante um “chá da tarde”, sob
organização voluntária dos docentes e ofertado às alunas e mães. Isso tudo representou o
compromisso e responsabilidade social da instituição escolar para combater a precariedade
menstrual, visando à garantia da dignidade das alunas.
Com a campanha lançada e alunas beneficiadas inscritas, foi dado início a arrecadação de
absorventes e o posto de coleta foi na própria escola (Figura 3).
9A arte da Campanha foi criada pela professora de química da escola, Mirancleide de Araujo Batista Carneiro, também
Produtora Multimídia.
Conforme pensado pelas professoras, foi exatamente o que ocorreu no primeiro semestre - ao
término da “Semana do Empoderamento Feminino” - as turmas dos 1º anos foram convidadas a
continuarem participando de palestras, apreciando depoimentos via documentários e/ou rodas de
conversas com profissionais da área da saúde (enfermeira, psicólogas), mas também profissionais do
Ministério Público e de Movimento social de mulheres. Esses encontros ocorreram de 15 em 15 dias,
no contraturno e chegou a atingir um público de quase 60 alunos11.
As Oficinas de produção oral tiveram início, tendo como leitura de base o texto literário. Elegeu-
se como textos bases duas obras: Torto Arado, de Itamar Vieira Junior (2019) e Quarto de Despejo,
de Carolina Maria de Jesus (1960). Em ambas leituras a figura feminina está em evidência. As/os
alunas/os em formação estão fazendo a discussão sobre essas literaturas para, no mês de
novembro/2023, participarem da “Jornada Avertaniana de Afro-brasilidade”, uma vez que nas oficinas
se integrou a temática do Empoderamento Feminino à da Educação Antirracista. Essas alunas e
alunos, participantes da oficina de produção Oral, apresentarão sessões de comunicação na jornada.
Diversas literaturas que tratam sobre a educação escolar e sua função social apontam que para
muitos estudantes, filhos da classe trabalhadora, a escola é o único espaço de acesso ao conjunto de
conhecimentos e técnicas produzidos historicamente pela humanidade. O ingresso na escola permite
conhecer e compreender a realidade por um processo científico que vise à humanização dos sujeitos
e, nesse processo, o docente tem papel fundamental na formação humana. Mas, não é qualquer
ensino que atinge essa finalidade.
Nesse aspecto, a prática docente chama para si o dever de ser responsável com o seu fazer
educativo na perspectiva da formação humana da/do estudante 12, sem a qual não haverá ensino para
o desenvolvimento humano (Saviani, 2010).
Cabe destacar que no âmbito da execução do “Projeto Diversidade no A.R.: tempo de abraçar”,
com a realização da Semana do Empoderamento Feminino a escola se movimentou e passou a
discutir temas que antes não eram discutidos. Nesse cenário, de despertar para essas oportunidades
enriquecedoras, foi possível perceber a repercussão do projeto. Seguem as que mais chamou a
atenção:
Considerações Finais
Este relato foi de fundamental importância, pois oportunizou não apenas relembrar o vivido no
âmbito do “Projeto Diversidade no A.R: tempo de abraçar”, como também permitiu identificar suas
potencialidades e os limites a serem enfrentados num futuro próximo, uma vez que se almeja que ele
tenha continuidade na escola Avertano Rocha.
No que se refere à potencialidade do projeto, ressalta-se que a adesão voluntária, ainda que
mediante formação e discussão de leis, revelou que na escola Avertano Rocha o corpo docente está
disponível ao diálogo.
Outro desafio, é lançado ao campo da gestão escolar que precisa apresentar, de acordo com
seu projeto de gestão, ações mais concretas de enfrentamento a situações graves de violência verbal
e assédio sexual contra as mulheres (servidoras e alunas). Situações essas frequentes que quando
apontadas, denunciadas são banalizadas, como se o perigo ao qual as mulheres estão expostas na
escola seja natural.
Por fim, entendemos que tratar a questão de gênero na escola não é tarefa fácil. No que se
refere ao projeto sobre diversidade, que visa o Empoderamento Feminino, claramente, vive-se o
contraditório. Isso porque o projeto propõe outra lógica de relação social mais justa e equitativa,
porém, a estrutura do sistema patriarcal estabelece um padrão hegemônico de relações desiguais e
Diante disso, não desesperançar deve ser a palavra de ordem. Para tanto, faz-se necessário a
“pedagogia do compromisso, como concretização da esperança transformadora que anima as práticas
[...] e afirmam a possibilidade de construção de sonhos possíveis de sociedades mais justas” (Freire,
2018, p. 17).
Referências
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Centro Gráfico, 1988.
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Brasília: MEC, 1996.
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GANDIN, D. A Prática do planejamento participativo: Na educação e em outras instituições, grupos
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JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma favelada. Rio de Janeiro: Livraria F. Alves, 1960.
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