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GUIA

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DE BOAS
PRÁTICAS
Nota das autoras: O género utilizado ao longo deste guia refere-se de forma indistinta a pais
e mães, filhos e filhas, psicólogos e psicólogas. Pretende-se facilitar a leitura do texto e de
modo algum estabelecer diferenças em razão do género.

ELABORAÇÃO DE RELATÓRIOS
PSICOLÓGICOS FORENSES/PERICIAIS EM
PROCESSOS DE REGULAÇÃO DO EXERCÍCIO
DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS
E DEFINIÇÃO DE REGIME DE CONVÍVIOS
ENTRE PAIS E FILHOS
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FICHA TÉCNICA

Guia de boas práticas sobre a avaliação forense
pericial em processos de Regulação do Exercício
das Responsabilidades Parentais, publicado pela
Ordem dos Psicólogos Portugueses.

A informação que consta deste documento,


elaborado em Novembro de 2021, e na qual ele
se baseia foi obtida a partir de fontes que os
autores consideram fiáveis. Esta publicação ou
partes dela podem ser reproduzidas, copiadas ou
transmitidas com fins não comerciais, desde que
o trabalho seja adequadamente citado, conforme
indicado abaixo.

Sugestão de citação
Guia de boas práticas sobre a avaliação forense
pericial em processos de Regulação do Exercício
das Responsabilidades Parentais. Lisboa.

Ordem dos Psicólogos Portugueses


Av. Fontes Pereira de Melo 19D, 1050-116 Lisboa
+351 213 400 250

ISBN: 978-989-53170-3-5

www.ordemdospsicologos.pt
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PREÂMBULO
Este GUIA DE BOAS PRÁTICAS resulta da tradução e adaptação do guia publicado pelo
Colegio Oficial de Psicólogos de Madrid – “Guía de buenas prácticas para la elaboración de
informes psicológicos periciales sobre custodia y régimen de visitas de menores” (2009), com-
plementada com a consulta de outras referências bibliográficas sobre o tema e, ainda, a
experiência das autoras e dos consultores na área da Psicologia Forense e do Direito.

Esta revisão de literatura permitiu a elaboração de um documento que sistematiza um con-


junto de boas práticas sobre a avaliação forense/pericial em processos de Regulação do
1,2
Exercício das Responsabilidades Parentais [RERP] e que pode ter diversos fins.

Durante um processo de RERP podem surgir alegações de maus-tratos (físicos, psicológi-


cos, sexuais), negligência ou exposição da criança à violência na relação de intimidade, que
estão na origem de incumprimentos e pedidos de alteração do regime fixado. Também as
alegações de violência doméstica são frequentes neste contexto, cruzando-se com os pro-
cessos de RERP.

Os processos de RERP que decorrem em paralelo com Processos de Promoção e Protecção


(PPP) e/ou processos crime apresentam algumas especificidades que serão oportunamente
sistematizadas num novo GUIA DE BOAS PRÁTICAS.

O presente GUIA é disponibilizado em duas versões:

Versão 1 para o público em geral.

Versão 2 para os psicólogos, na medida em que contém anexos cujo conteúdo é exclu-
sivo para a prática psicológica.

1. Embora no texto apenas façamos referência à regulação do exercício das responsabilidades parentais, este Guia de Boas Práticas é
extensível aos processos de alteração, incumprimento e inibição do exercício das responsabilidades parentais que exigem, naturalmente,
outros procedimentos de avaliação complementares.
2. Também designados com a abreviatura de ERP (Exercício das Responsabilidades Parentais).
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SOBRE AS AUTORAS E
CONSULTORES
Psicóloga especialista em Psicologia Clínica e da Saúde, Psicoterapia e Psico-
logia da Justiça. Terapeuta Familiar. Pós-graduada em Análise de Dados para
as Ciências Sociais.

Perita forense na Delegação Sul do INMLCF-IP. Professora assistente convida-


da no ISCTE-IUL. Formadora Sénior do ISPA-IU. Psicóloga clínica e forense a
nível privado.

Tem trabalhado na área clínica e forense com investigação e numerosas publi-


cações (em autoria e co-autoria) na área da Psicologia Forense, divórcio, direitos
das crianças e prevenção do abuso sexual de crianças. Coordenadora da coleção
“Vamos Prevenir”, da Ordem dos Psicólogos Portugueses, sobre a prevenção

RUTE AGULHAS
primária de diversas problemáticas em crianças e adolescentes.

Psicóloga especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia da


Justiça. Perita Forense entre 2000-2019 na Delegação do Sul do INMLCF,
IP. Pós-graduada em Medicina Legal e em Comportamentos Desviantes e
Ciências Criminais. Formação pós-graduada em Psicoterapias Cognitivo-
Comportamentais e Integrativas.

Psicóloga clínica e forense a nível privado. Autora e formadora de cursos na


Ordem dos Psicólogos Portugueses. Formadora Sénior do ISPA-IU. Membro
da Comissão Técnica de Análise às Especialidades da Ordem dos Psicólogos
Portugueses.

É autora de diversos artigos e livros na área da Psicologia forense e divórcio.

ALEXANDRA
ANCIÃES

Juiz de Direito (Juiz Presidente do Tribunal Judicial da Comarca de Setúbal).


Exerceu funções no Juízo de Família e Menores do Barreiro. Mestre em
Ciências Jurídico-Forenses pela Faculdade de Direito da Universidade Nova
de Lisboa.

É o Ponto de Contacto Nacional na Rede Internacional de Juízes da Conferência


da Haia de Direito Internacional Privado. Membro da Associação Internacional
de Juízes de Família e da Comissão de Redacção da Revista Julgar.

Foi juiz formador e participou em diversas conferências internacionais e


nacionais, tendo trabalhos publicados na área do processo civil, processo
eleitoral e família e crianças.
ANTÓNIO JOSÉ
FIALHO
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Doutorado em Avaliação Psicológica e professor catedrático da Faculdade de
Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCE-UC).
Coordenador do grupo de investigação Neuropsychological Assessment and
Ageing Processes (NAAP) do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Inter-
venção Cognitivo Comportamental (CINEICC) da FPCE-UC. Director do Labora-
tório de Avaliação Psicológica e Psicometria (PsyAssessmentLab) da FPCE-UC.

Investigador responsável por projectos de investigação com financiamento ex-


terno (FCT, FCG, Bial) envolvendo a adaptação, desenvolvimento e validação de
testes (neuro)psicológicos para a população portuguesa.

É autor/co-autor de publicações nacionais e internacionais nos domínios da

MÁRIO R.
adaptação/validação de instrumentos de avaliação (neuro)psicológica e dos re-
latórios psicológicos.
SIMÕES

Doutorado em Psicologia Clínica pela Faculdade de Psicologia e de Ciências


da Educação da Universidade de Coimbra, Mestre em Bioética pela Faculdade
de Medicina da Universidade do Porto e Licenciado em Psicologia Clínica pelo
ISCN–N. É Presidente do Conselho de Especialidade de Psicologia Clínica e da
Saúde da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

É o representante Português no Board of Ethics da EFPA. Foi presidente da


Comissão de Ética da Ordem dos Psicólogos Portugueses entre 2015 e 2020.
Foi coordenador do Grupo de Supervisão da Linha de Aconselhamento Psi-
cológico da Linha SNS24. É Professor Auxiliar na Faculdade de Medicina da
Universidade do Porto e na Universidade Portucalense Infante D. Henrique.
É membro integrado do CINTESIS - Centro de Investigação em Tecnologias e

MIGUEL RICOU
Serviços de Saúde.

Já apresentou mais de quatro centenas de comunicações em congressos, pu-


blicou mais de quatro dezenas de artigos científicos e capítulos de livros, bem
como dois livros na área da Ética Profissional.
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Colegio Oficial de Psicólogos de Madrid a autorização para a tradução e
adaptação do guia à realidade portuguesa, tendo em conta aspectos legais, éticos e pro-
cessuais.

Um especial agradecimento aos consultores deste guia, António José Fialho, Mário R.
Simões e Miguel Ricou, cujas revisões e sugestões muito contribuíram para o enrique-
cimento do documento.

Este trabalho não teria sido possível sem a colaboração da Ordem dos Psicólogos Portu-
gueses [OPP], a quem agradecemos a disponibilidade para se associar a este projecto, com
a edição e divulgação gratuita deste GUIA DE BOAS PRÁTICAS junto dos psicólogos e de
toda a comunidade.

GRUPO DE TRABALHO
Fernando Chacón Fuertes
José Francisco García Gumiel
Antonio García Moreno
Rocío Gómez Hermoso
Blanca Vázquez Mezquita

CONSULTORES
Deborah Calvo Rodríguez
María José Catalán Frías
Marta Ramírez González
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ÍNDICE
08 Clarificação prévia de conceitos e terminologia

14 Introdução

1.Missão do psicólogo na avaliação da idoneidade de pais

17 separados/divorciados para o exercício das responsabilidades


parentais e definição do regime de convívios com os filhos

19 2. Princípios que orientam o relatório forense/pericial

21 3. Princípios éticos que devem orientar a conduta do profissional

4.Metodologia para a elaboração de um relatório psicológico

25 forense/pericial no âmbito de processos de regulação do exercício


das responsabilidades parentais e regime de convívios da criança

32 5.O relatório psicológico forense/pericial

36 6.Aspectos a ter em conta durante o


processo de avaliação e elaboração do relatório

38 Bibliografia

ANEXOS
1. Guião de entrevista aos pais/cuidadores.
2. Guião de entrevista à criança.
3. Instrumentos não estandardizados, questionários e escalas.
4. Boas e más práticas para a avaliação psicológica forense/pericial.
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CLARIFICAÇÃO PRÉVIA DE
CONCEITOS E TERMINOLOGIA
Ao longo deste GUIA DE BOAS PRÁTICAS são utilizados Embora o legislador não as identifique de forma con-
diversos conceitos e terminologia que importa desde já creta, seguem-se alguns exemplos comummente con-
clarificar e diferenciar, por forma a permitir uma melhor sensuais: 7
compreensão dos diversos âmbitos de utilização deste
documento, por um lado, e também dos variados fins a A) A escolha e inscrição da criança em estabelecimento
que este tipo de avaliação pode destinar-se, por outro. de ensino privado ou público;

B) As intervenções cirúrgicas que impliquem risco para


PROCESSOS DE REGULAÇÃO DO EXERCÍCIO a vida ou integridade física da criança (incluindo as es-
DAS RESPONSABILIDADES PARENTAIS téticas);

A RERP e o conhecimento das questões a esta respei- C) O exercício de uma actividade laboral por parte da
tantes, como a entrega judicial da criança, a inibição, to- criança ou adolescente (incluindo as passagens de mo-
tal ou parcial, o estabelecimento de limitações ao ERP, delos, participação em espectáculos e actividades artís-
bem como a regulação dos convívios da criança com os ticas ou de publicidade);
irmãos e ascendentes está previsto no Regime Geral
do Processo Tutelar Cível [RGPTC], nos termos da Lei D) A escolha da orientação religiosa até aos 16 anos;
4
n.º 141/2015, de 8 de Setembro. Para além do RGPTC,
o psicólogo deve conhecer os artigos 1877.º a 1972.º E) As saídas (de férias ou participando em actividades)
do Código Civil [CC] (sobre o exercício e conteúdo das para o estrangeiro;
responsabilidades parentais), nomeadamente, as alte-
rações introduzidas nos últimos anos aos artigos 1906.º F) A localização ou determinação do centro de vida (al-
5,6
a 1912.º do CC. teração da residência que implique uma mudança geo-
gráfica para local distante dentro do próprio país ou para
Em relação às situações de incumprimento e altera- o estrangeiro);
ção do exercício das responsabilidades parentais, estas
constam dos artigos 41.º e 42.º do RGPTC. Quando à G) A prática de actividades desportivas que impliquem
inibição ou limitação do exercício das responsabilidades risco para a vida, saúde ou integridade física;
parentais, estas podem verificar-se, nos termos dos ar-
tigos 1915.º, n.º 1 do CC e 52.º do RGPTC, quando qual- H) A celebração de casamento aos 16 anos;
quer dos progenitores:
I) A interrupção da gravidez até aos 16 anos;
Infrinja culposamente os seus deveres para com os
seus filhos, com grave prejuízo destes; J) A obtenção de licença de condução de ciclomotores
e de carta de condução de motociclos de cilindrada não
Por inexperiência, enfermidade, ausência ou outras superior a 125 cm3;
razões, se não mostre em condições de cumprir os
seus deveres. K) O exercício do direito de queixa;

Com base em um ou em ambos os fundamentos, o Mi- L) As decisões de administração que envolvam onera-
nistério Público, qualquer familiar da criança ou pessoa ções ou alienações de bens ou direitos da criança;
sob cuja guarda se encontre, ainda que de facto, têm
legitimidade para requerer a inibição total ou parcial do M) A escolha do nome a atribuir à criança;
exercício das responsabilidades parentais.
N) As decisões que envolvam questões de disciplina gra-
ve relativas à criança ou adolescente, nomeadamente,
QUESTÕES DE PARTICULAR IMPORTÂNCIA aquelas que possam implicar a aplicação de medida
As questões de particular importância dizem respeito a educativa disciplinar sancionatória;
questões existenciais graves e raras na vida da criança.
O) A escolha da naturalidade.

4. Consultar página 12 5,6. Consultar página 12 7. Ver Fialho, A. (2013).


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A regra geral é de que as responsabilidades parentais F) As decisões quanto à higiene diária, ao vestuário e
relativas às questões de particular importância para a calçado;
vida do filho sejam exercidas em comum por ambos os
progenitores nos termos que vigoravam na constância G) A imposição de regras de convivência;
do matrimónio, salvo nos casos de urgência manifesta,
em que qualquer dos progenitores pode agir sozinho, H) O uso e utilização de telemóvel e do computador;
devendo prestar informações ao outro logo que possí-
vel.8 Contudo, o tribunal pode, por decisão fundamen- I) As decisões sobre as idas ao cinema e saídas à noite,
tada, determinar que essas responsabilidades possam consultas médicas de rotina.
ser exercidas apenas por um dos progenitores,9 quando
o exercício em comum for julgado contrário aos interes-
ses da criança (e.g., nas situações de desinteresse por
parte de um dos pais ou grave conflituosidade entre am-
bos), ponha em causa uma parentalidade funcional e um
adequado ajustamento da criança, quando for decretada
medida de coação ou aplicada pena acessória de proi-
bição de contactos entre os progenitores (a não ser que
haja prova em contrário, conforme disposto no n.º 9 do
artigo 40.º do RGPTC), ou estiverem em grave risco os
direitos e a segurança de vítimas de violência doméstica
e outras formas de violência em contexto familiar, como
maus-tratos ou abuso sexual de crianças.10 No mesmo
sentido, o n.º 8 do artigo 40.º do RGPTC (concretizando
o n.º 2 do artigo 1906.º, n.º 2 do CC) refere que pode ser
determinado por sentença que o ERP relativo às ques-
tões de particular importância pode ser exercido apenas
por um dos progenitores.

ACTOS DA VIDA CORRENTE


O exercício das responsabilidades parentais relativas
aos actos da vida corrente do filho cabe ao progenitor
com quem a criança reside habitualmente ou ao pro-
genitor com quem ela se encontra temporariamente, o
qual não deve contrariar as orientações educativas mais
relevantes, tal como elas são definidas pelo progenitor
11
com quem o filho reside habitualmente. O progenitor
a quem cabe o ERP relativo aos actos da vida corrente
pode exercê-las por si ou delegar o seu exercício. 12

Sobre os actos de vida corrente, devem considerar-se


todos aqueles que se relacionem com o quotidiano da
criança e que não impliquem consequências muito si- Neste contexto específico, e na ausência de um
gnificativas na sua vida futura como, por exemplo: 13 consenso por parte da área do Direito, e quando
o processo de avaliação não é solicitado judicial-
A) As decisões usuais relativas à disciplina da criança; mente, é entendimento das autoras e da OPP que
uma intervenção de natureza psicológica (processo
B) As decisões relativas ao tipo de alimentação; de avaliação e/ou acompanhamento clínico/psico-
terapêutico), em contextos de potencial litigância
C) As decisões sobre actividades e ocupação de tempos parental, deve ser entendida como uma questão de
livres, os contactos sociais; particular importância. Trata-se de uma situação
extraordinária na vida de uma criança, pelo que é
D) As tarefas de ir levar e buscar o filho regularmente necessário o consentimento informado de ambos
à escola; os progenitores, representantes legais ou quem te-
nha a sua guarda de facto.
E) O acompanhar nos trabalhos escolares e efectuar a
respectiva matrícula (no ensino público obrigatório);

8. N.º 1 do artigo 1906.º do CC. 9. N.º 2 do artigo 1906.º do CC. 10. Artigo 1906.º-A do CC, aditado pela Lei n.º 24/2017, de 24 de Maio.
11. N.º 3 do artigo 1906.º do CC. 12. N.º 4 do artigo 1906.º do CC. 13. Ver Fialho, A. (2013).
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RESIDÊNCIA DA CRIANÇA Em situações de dissociação familiar e estabelecida a


residência dos filhos comuns, assiste ao outro proge-
A residência é o lugar onde a criança reside habitual-
nitor o direito de participar no crescimento e educação
mente, ou seja, o local onde tem organizada a sua vida
daqueles, bem como o direito de tê-los na sua compa-
com maior estabilidade, frequência, permanência e con-
nhia, concretizando aquilo que é normalmente designa-
tinuidade. Local onde desenvolve habitualmente a sua
do por «regime de visitas» mas que será mais adequado
vida e se encontra radicada.
denominar por «organização dos tempos da criança» ou
por «relações pessoais entre o filho e o progenitor não
A residência pode ser fixada com o progenitor A, o pro-
residente».
genitor B ou alternada entre ambos de forma tenden-
cialmente equitativa.
Este conceito de relações pessoais abrange, designada-
mente, o denominado direito de visita (permanência ou
simples encontro) mas também toda e qualquer forma
RESIDÊNCIA ALTERNADA de contacto entre a criança e os familiares (incluindo
nesta definição toda e qualquer relação estreita de tipo
Por residência alternada, entende-se o exercício conjun-
familiar como a existente entre os netos e os avós ou
to das responsabilidades parentais por ambos os pais,
entre irmãos, emergentes da lei ou de uma relação fa-
quanto aos actos de particular importância para a vida
miliar de facto) e abrangendo o direito dos familiares à
da criança, e o envolvimento parental simétrico de cada
obtenção de informações sobre a criança.
um deles, quer nas actividades e responsabilidades pa-
rentais do quotidiano, quer no tempo de residência com
O direito de convivência ou de visita significa, assim, o
os filhos (este tempo de residência com os filhos deverá
direito do progenitor não residente se relacionar e con-
ser equitativo, o que não significa que tenha de obedecer
viver com a criança de acordo com uma determinada
a uma divisão de 50%-50%).
definição dos tempos em que convive consigo, que pode
incluir ou não a pernoita.
Em síntese, a residência alternada consiste numa divi-
são rotativa e tendencialmente simétrica dos tempos da
criança com os pais, por forma a possibilitar a produção
ALEGAÇÕES DE MAUS-TRATOS OU NEGLIGÊNCIA NO
de um quotidiano familiar e social da criança durante
ÂMBITO DA RERP
os períodos em que se encontra com cada um dos pais.
Durante um processo de RERP podem surgir alegações
de maus-tratos (físicos, psicológicos, sexuais), negli-

50 50
gência ou exposição da criança à violência na relação de
intimidade (violência interparental), que estão na origem
de incumprimentos e pedidos de alteração do regime fi-
xado.

Nestes casos, considerando que a criança está em peri-


go, o Ministério Público abre um PPP, nos termos da Lei
14
n.º 147/99, de 1 de Setembro. Este tem lugar quando os
pais, o representante legal ou quem tenha a guarda de
facto ponham em perigo a segurança, saúde, formação,
educação ou desenvolvimento da criança, ou quando
esse perigo resulte da acção ou omissão de terceiros
ou da própria criança e que aqueles não se oponham de
modo adequado a removê-lo. 15

Para além do PPP, as situações de violência contra a


REGIME DE CONVÍVIOS
criança estão tipificadas no Código Penal como crime
A criança tem o direito de estabelecer, manter ou rea- (destacam-se os artigos 152.º - violência doméstica,
tar uma relação directa e contínua com o progenitor a 152.º-A - maus tratos e os artigos 163.º, 164.º, 171.º a
quem não foi confiada, devendo este direito ser exercido 178.º relativos à violência sexual), pelo que será instau-
no seu interesse. O progenitor residente tem a obriga- rado ao alegado agressor um processo crime. Assim,
ção de não interferir nas relações do filho com o proge- concomitante ao processo de RERP, podem coexistir o
nitor não residente e de facilitar activamente o direito de PPP e o processo crime. Nestes casos, é importante que
contacto e de relacionamento prolongado. Ao progenitor o psicólogo deles tenha conhecimento,16 na medida em
não residente incumbe o dever de se relacionar pessoal que essa informação é relevante para a avaliação soli-
e presencialmente com o filho. citada.

14. Actualizada pela Lei n.º 26/2018, de 05 de Julho e conhecida como a Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo.
15. N.º 1 do artigo 3.º da Lei nº 147/99, de 1 de Setembro.
16. O psicólogo pode solicitar ao processo de RERP ao abrigo do qual se encontra a realizar a avaliação, informação sobre estes processos e, inclusive, solicitar que sejam
extraídas certidões para que essa informação lhe seja remetida.
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Todas as alegações que surjam no contexto destes pro-


cessos devem ser rigorosamente avaliadas, uma vez 2) Quais são as possibilidades de modificar
que podem ter por base uma situação real negativa vi- essas competências (avaliação do potencial de
venciada pela criança ou, pelo contrário, serem falsas mudança)?
alegações, com motivações diversas.
3) O que fazer quando essas competências e o
potencial de mudança é baixo (recomendações)?
SISTEMA FAMILIAR
4) Qual é o possível impacto da capacidade
O sistema familiar abrange ambos os progenitores e to- parental no bem-estar da criança?
das as crianças envolvidas. Caso a caso, o psicólogo de-
verá identificar outros elementos do sistema (por exem-
plo, avós, tios) que se justifiquem envolver no processo
de avaliação.

COMPETÊNCIA PARENTAL
Diz respeito aos recursos dos pais (comportamentais,
cognitivos e emocionais) no momento da avaliação, ou
seja, a identificação das suas forças e potencialidade
(factores de protecção) e, também, das suas vulnerabili-
dades e aspectos a melhorar (factores de risco). Implica
também a identificação do potencial impacto (positivo
ou negativo) de cada um destes factores no exercício
da parentalidade. Na avaliação dos factores de risco e
de protecção deve ainda ser tida em conta a dimensão
temporal, pelo que os mesmos podem ser considerados
como «estáveis» ou «flutuantes».

Remete para uma avaliação sincrónica.

CAPACIDADE PARENTAL
A capacidade parental alude ao potencial de mudança
dos pais (avaliar em que medida poderão ser potencia-
dos os factores de protecção e minimizados os factores
de risco) para identificarem e satisfazerem adequada-
mente todas as necessidades da criança.
Para a avaliação psicológica forense/pericial no
A avaliação do potencial de mudança relaciona-se com: âmbito dos RERP, o psicólogo deve avaliar não ape-
nas a COMPETÊNCIA PARENTAL, mas também a
A) O reconhecimento das suas áreas problemáticas; CAPACIDADE PARENTAL.

B) A motivação para a mudança;

C) A cooperação com os serviços (três variáveis relacio-


nadas entre si).
ENVOLVIMENTO PARENTAL
A avaliação da capacidade parental implica considerar a
Entende-se por envolvimento parental, os vários ele-
complexidade ecológica da parentalidade e não deve ser
mentos compreendidos no desempenho quotidiano da
encarada como a avaliação de um traço individual.
maternidade e da paternidade: o tempo vivido com os
filhos; as actividades parentais (cuidar; ensinar e edu-
Remete para uma avaliação diacrónica.
car; acompanhar, dar apoio e afecto; brincar e partilhar
lazeres; estar junto; levar/buscar à escola; fazer tare-
Desta forma, a avaliação psicológica deve fas domésticas; gerir a vida quotidiana da criança, entre
tentar responder a QUATRO QUESTÕES: outras); a articulação trabalho-família; as responsabili-
dades sobre as necessidades da criança (físicas, psico-
1) Quais são as competências parentais actu- lógicas, emocionais, sociais e materiais), e o relaciona-
ais? mento com a criança e entre os pais.
PÁG. 12

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA FORENSE QUESITOS


Consiste num processo de avaliação psicológica (com Os quesitos são perguntas específicas que visam escla-
recurso aos métodos e técnicas próprios da Psicolo- recer o tribunal, e podem dizer respeito a questões de
gia) enquadrado judicialmente, ou seja, relativo a uma natureza diversa. Se forem acompanhadas do objecto de
situação sobre a qual decorre um processo, que pode perícia, permitem ampliá-lo e levar o psicólogo a res-
ser solicitado directamente pelo tribunal ou pelas par- ponder em concreto a cada uma das questões. Caso os
tes (por ambas ou só por uma). Não tendo sido deferido quesitos digam respeito a questões que não são suscep-
directamente pelo tribunal, não é considerada um meio tíveis de serem respondidas de forma técnico-científica,
de prova. essa informação deve ser dada como resposta.

Podem ainda incluir-se aqui as avaliações que, apesar Para além da autoridade judiciária, as partes também
de serem solicitadas pelo tribunal, não são de âmbito podem propor a efectivação da perícia, devendo nesse
pericial. Referimo-nos em concreto às avaliações reali- caso indicar o objecto de perícia e os quesitos que que-
zadas no âmbito da assessoria técnica aos tribunais por rem ver esclarecidos. A perícia pode incidir não só sobre
parte de equipas multidisciplinares. os quesitos formulados pelo requerente, mas também
nos alegados pela parte contrária, sendo da responsa-
bilidade do juiz a fixação do objecto de perícia, podendo
para tal indeferir desde logo questões que entenda se-
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PERICIAL
rem inadmissíveis ou irrelevantes, bem como ele pró-
Consiste num processo de avaliação psicológica (com prio colocar outras questões que entenda serem essen-
recurso aos métodos e técnicas próprios da Psicologia) ciais ao apuramento da verdade.18Quando a perícia for
enquadrado judicialmente, ou seja, relativo a uma situa- determinada oficiosamente, as partes podem sugerir o
ção sobre a qual decorre um processo, sendo solicitada alargamento do objecto de perícia. 19
directamente pelo tribunal.

As perícias têm lugar quando a percepção ou apreciação


dos factos exigirem especiais conhecimentos técnicos,
científicos ou artísticos. São um meio de prova. Em pro-
cesso civil, a perícia é requisitada pelo tribunal a esta-
belecimento, laboratório ou serviço oficial. A iniciativa
pode pertencer a qualquer uma das partes, que deverá
solicitá-la ao juiz. A perícia pode igualmente ser realiza-
da por um único perito, que deve ser nomeado pelo juiz,
ainda que este possa ouvir as partes sobre essa nomea-
ção e estas possam sugerir a pessoa para a realizar. Em
qualquer dos casos, a nomeação só é realizada quando
o juiz estiver convicto de que a pessoa possui idoneidade
e competência para essa avaliação. A perícia pode ain-
da ser realizada por entidades terceiras, desde que não
haja qualquer conflito de interesses. 17

OBJECTO DE PERÍCIA
O objecto de perícia é definido no despacho da autorida-
de judiciária, conforme estipula o artigo 476.º do Códi-
go Processo Civil [CPC], e pode corresponder, de forma
simples, ao texto da lei ou ser acompanhado de quesitos
específicos (perguntas), aos quais o perito tem de res-
ponder. Diz respeito, em concreto, àquilo que o tribunal
quer ver esclarecido (e.g., as competências parentais).
Sempre que o objecto de perícia suscitar dúvidas, deve
o perito esclarecer essas dúvidas junto da entidade que
solicita a perícia, não devendo, em caso algum, iniciar
a avaliação sem que esses esclarecimentos lhe sejam
prestados.

17. Artigo 467.º do CPC. 18. Artigo 476.º do CPC. 19. Artigo 477.º do CPC.
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4. Alterada pela Lei n.º 24/2017, de 24 de Maio que, provendo a regulamentação urgente das responsabilidades paren-
tais em situações de violência doméstica, veio aditar os artigos 24.º-A (Inadmissibilidade do recurso à audição técnica
especializada e à mediação): “o recurso à audição técnica especializada e à mediação, previstas nos artigos anteriores,
não é admitido entre as partes quando: a) For decretada medida de coação ou aplicada pena acessória de proibição de
contactos entre os progenitores, ou b) Estiverem em grave risco os direitos e a segurança de vítimas de violência domés-
tica e de outras formas de violência em contexto familiar, como maus tratos ou abuso sexual de crianças” e 44.º-A (regu-
lação urgente): “1) Quando seja decretada medida de coação ou aplicada pena acessória de proibição de contacto entre
os progenitores ou se estiver em grave risco os direitos e a segurança das vítimas de violência doméstica e de outras
formas de violência em contexto familiar, como maus tratos ou abuso sexual de crianças, o Ministério Público requer, no
prazo máximo de 48 horas após ter conhecimento da situação, a regulação ou alteração da regulação do exercício das
responsabilidades parentais. 2) Autuando o requerimento, os progenitores são citados para conferência, a realizar nos 5
dias imediatos. 3) Sempre que os progenitores não cheguem a acordo ou qualquer deles faltar, é fixado regime provisório
nos termos do artigo 38.º, seguindo-se-lhe os termos posteriores previstos nos artigos 39.º e seguintes da presente lei”.

5. Destacamos o artigo 1906.º do CC (Exercício das responsabilidades parentais em casos de divórcio, separação judicial
de pessoas e bens, declaração de nulidade ou anulação do casamento), por ser aquele que se nos afigura mais revelante
para a prática do psicólogo: “1) As responsabilidades parentais relativas às questões de particular importância para a
vida do filho são exercidas em comum por ambos os progenitores nos termos que vigoravam na constância do matri-
mónio, salvo nos casos de urgência manifesta, em que qualquer dos progenitores pode agir sozinho, devendo prestar
informações ao outro logo que possível. 2) Quando o exercício em comum das responsabilidades parentais relativas às
questões de particular importância para a vida do filho for julgado contrário aos interesses deste, deve o tribunal, atra-
vés de decisão fundamentada, determinar que essas responsabilidades sejam exercidas por um dos progenitores. 3)
O exercício das responsabilidades parentais relativas aos actos da vida corrente do filho cabe ao progenitor com quem
ele reside habitualmente, ou ao progenitor com quem ele se encontra temporariamente; porém, este último, ao exercer
as suas responsabilidades, não deve contrariar as orientações educativas mais relevantes, tal como elas são definidas
pelo progenitor com quem o filho reside habitualmente. 4) O progenitor a quem cabe o exercício das responsabilidades
parentais relativas aos actos da vida corrente pode exercê-las por si ou delegar o seu exercício. 5) O tribunal determinará
a residência do filho e os direitos de visita de acordo com o interesse deste, tendo em atenção todas as circunstâncias re-
levantes, designadamente o eventual acordo dos pais e a disponibilidade manifestada por cada um deles para promover
relações habituais do filho com o outro. 6) Quando corresponder ao superior interesse da criança e ponderadas todas as
circunstâncias relevantes, o tribunal pode determinar a residência alternada do filho com cada um dos progenitores, in-
dependentemente de mútuo acordo nesse sentido e sem prejuízo da fixação da prestação de alimentos. 7) Ao progenitor
que não exerça, no todo ou em parte, as responsabilidades parentais, assiste o direito de ser informado sobre o modo do
seu exercício, designadamente sobre a educação e as condições de vida do filho. 8) O tribunal decidirá sempre de harmo-
nia com o interesse do menor, incluindo o de manter uma relação de grande proximidade com os dois progenitores, pro-
movendo e aceitando acordos ou tomando decisões que favoreçam amplas oportunidades de contacto com ambos e de
partilha de responsabilidades entre eles. 9) O tribunal procede à audição da criança, nos termos previstos nos artigos 4.º
e 5.º do Regime Geral do Processo Tutelar Cível” (com as alterações constantes da Lei n.º 65/2020, de 4 de Novembro).

6. A Lei n.º 24/2017, de 24 de Maio, prevendo a regulamentação urgente das responsabilidades parentais em situações
de violência doméstica, veio a aditar o artigo 1906.º-A do CC (regulação das responsabilidades parentais no âmbito de
crimes de violência doméstica e de outras formas de violência em contexto familiar), com a seguinte redacção: “Para
efeitos do n.º 2 do artigo anterior, considera-se que o exercício em comum das responsabilidades parentais pode ser
julgado contrário aos interesses do filho se: a) For decretada medida de coação ou aplicada pena acessória de proibição
de contactos entre os progenitores, ou b) Estiverem em grave risco os direitos e a segurança de vítimas de violência do-
méstica e de outras formas de violência em contexto familiar, como maus tratos ou abuso sexual de crianças”.
PÁG. 14

INTRODUÇÃO
As alterações sociais a que temos assistido em di- regime de convívios da criança com cada um dos pais.
versos âmbitos obriga todos os psicólogos forenses/
peritos a argumentar de forma fundamentada as Segundo os dados da PORDATA, o número de separa-
conclusões e propostas que formulam em qualquer ções e divórcios em Portugal aumentou de uma for-
das suas múltiplas actividades profissionais. A legiti- ma muito significativa nos últimos anos. Estes pro-
midade da autoridade de um psicólogo forense/perito cessos, muitas vezes conflituosos, podem resultar
baseia-se na medida em que aquilo que afirma esteja especialmente adversos para a estabilidade emocio-
sustentado em critérios imparciais, teorias funda- nal das crianças que, para além de viverem a sepa-
mentadas, investigações revistas por pares, instru- ração dos seus pais, acabam também por prescindir
mentos validados e intervenções eficazes baseadas da presença quotidiana de um deles. A esta realidade
nas evidências. acrescem as situações em que existem alegações ou
indicadores de maus tratos, negligência, abuso sexu-
Na sua história recente, os profissionais da Psicolo- al ou violência doméstica, com as especificidades que
gia têm vindo a desempenhar um papel importante estes processos exigem.
de divulgação social do conhecimento que, em geral,
se caracteriza por um elevado grau de complexidade Tendo em conta o elevado número de crianças afecta-
teórica e aplicada. Graças a este esforço e, parale- das mas, sobretudo, as consequências para a sua es-
lamente, ao incremento da presença de psicólogos, tabilidade e desenvolvimento emocional, bem como
têm vindo a ser popularizados muitos conceitos, téc- as repercussões pessoais e sociais que têm as avalia-
nicas e instrumentos próprios da disciplina que, em ções no âmbito do Direito de Família e das Crianças,
alguma medida, têm contribuído também para uma as autoras e os consultores, em colaboração com a
melhor compreensão social da própria condição hu- OPP, assumem o desafio de elaborar o presente GUIA
mana. DE BOAS PRÁTICAS. Por outro lado, este é também
um dos assuntos que mais frequentemente chega
Devido ao grau de complexidade acima referido, em aos conselhos disciplinares das ordens profissionais
muitos âmbitos profissionais da Psicologia, é neces- de Psicologia.
sário compilar os diversos procedimentos, instru-
mentos e técnicas eficazes existentes, a fim de se Finalmente, a diversidade existente no âmbito profis-
poder oferecer à sociedade uma informação válida e sional da Psicologia, e em particular no que diz res-
de utilidade. Este GUIA DE BOAS PRÁTICAS é, assim, peito às diferentes formas de elaborar um relatório
uma síntese dos conhecimentos existentes a partir da psicológico forense/pericial em matéria de RERP e
investigação científica sobre a forma idónea de reali- de regime de convívios da criança com os pais, re-
zar uma determinada prática forense/pericial e que quer um marco de referência que, respeitando essa
se pretende que sirva para orientar os profissionais, diversidade, contribua para estabelecer as garantias
os clientes, as diversas entidades e a sociedade em necessárias para todas as partes afectadas por este
geral. tipo de relatórios, sejam realizados no âmbito privado
ou em serviços públicos.
Um dos âmbitos da actividade profissional em que se
revela inadiável a elaboração de um GUIA DE BOAS O presente GUIA DE BOAS PRÁTICAS parte de três
PRÁTICAS é a elaboração de relatórios forenses/pe- princípios amplamente consensuais que têm sido
riciais sobre processos de RERP e pareceres sobre o muito debatidos.
PÁG. 15

(1) O primeiro é o critério do superior interesse da criança, eixo vertebral em redor do qual são arti-
culados os conteúdos deste GUIA DE BOAS PRÁTICAS. Não apenas porque assim o define o nosso ordenamento
jurídico, mas também porque as recomendações dos relatórios forenses/periciais neste âmbito afectam de forma
muito significativa o desenvolvimento global da criança.

(2) O segundo princípio, que advém do anterior, considera que qualquer avaliação sobre a idoneidade
dos progenitores para exercer as responsabilidades parentais e para conviver com a criança deve partir do
pressuposto de que ambos são igualmente competentes para o seu exercício. Uma das finalidades da avaliação
consiste, portanto, em confirmar a idoneidade de cada uma das partes para cuidar da criança ou, pelo contrário,
em comprovar e justificar adequadamente a prevalência de um progenitor sobre o outro.

(3) Finalmente, e considerando o princípio anterior, é inevitável estabelecer que a avaliação realizada
tem de incluir o sistema familiar no seu conjunto e na sua totalidade, se se pretende que o relatório resultante
permita concluir sobre o exercício das responsabilidades parentais e o regime de convívios da criança com os pais.

Desta forma, ao longo deste documento estabelece- Relatório psicológico forense/pericial sobre o
-se uma clara diferença entre o que pode ser consi- exercício das responsabilidades parentais (com um
derado um relatório psicológico forense/pericial so- parecer sobre o regime de convívios da criança com
bre a RERP e o regime de convívios da criança com os pais);
os pais e outros tipos de relatórios psicológicos (p.
ex., relatório de avaliação da personalidade e possível Outros títulos como: relatório psicológico de ava-
impacto desta no exercício da parentalidade, relatório liação da personalidade, relatório da relação paterno/
sobre a relação da criança com um dos pais, relatório materno-filial e outros similares.
sobre a relação entre irmãos). Estes últimos, ainda
que podendo ser úteis por reportarem informação so- Assim, deve ficar explícito quando não se avaliou todo
bre a relação de uma criança com uma das partes, ao o sistema familiar e, portanto, não estamos peran-
não terem em conta todos os membros do sistema te um relatório psicológico forense/pericial sobre o
familiar e as suas relações, não podem formular re- exercício das responsabilidades parentais e o regime
comendações sobre a RERP ou o regime de convívios de convívios da criança com os pais.
da criança com os pais.
Este GUIA DE BOAS PRÁTICAS é aplicável tanto aos
O psicólogo deve evitar confundir os relatórios psico- relatórios periciais, como aos forenses, considera-
lógicos forenses/periciais sobre a RERP e o regime dos «prova documental» a nível jurídico processual;
de convívios da criança com os pais com outros tipos por este motivo, quando ao longo do documento se
de relatórios, inclusive no título, pelo que deve distin- fizer referência a «relatórios forenses/periciais» deve
guir-se entre: entender-se que inclui ambos os tipos de relatórios,
PÁG. 16

excepto se se especificar o contrário.

EM CONCLUSÃO, O PRESENTE GUIA DE BOAS PRÁ-


TICAS PROPÕE-SE A:

1. Servir de guia, estabelecendo critérios de qualida-


de para os profissionais da Psicologia.

2. Orientar os tribunais sobre os critérios de qualida-


de dos relatórios forenses/periciais, de forma a que
o seu pedido de assessoria possa ser feito de forma
mais adequada.

3. Servir de fonte de informação para os diversos ac-


tores implicados num processo de separação ou di-
vórcio, apontando elementos que clarifiquem o que
pode esperar-se deste e o que pode ser pedido.

4. Constituir um instrumento útil para a formação de


profissionais no âmbito forense/pericial.

Este GUIA DE BOAS PRÁTICAS não deve ser entendi-


do como um desenvolvimento do Código Deontológico
da profissão.
PÁG. 17

01
MISSÃO DO PSICÓLOGO NA AVALIAÇÃO DA
IDONEIDADE DE PAIS SEPARADOS/DIVORCIADOS
PARA O EXERCÍCIO DAS RESPONSABILIDADES
PARENTAIS E DEFINIÇÃO DO REGIME DE
CONVÍVIOS COM OS FILHOS
PÁG. 18

A separação parental resulta muitas vezes de um


processo progressivo de deterioração da relação inter-
Assim, o ponto de partida da avaliação profissional deve
ser considerar que ambos os pais são idóneos para
pessoal que conduz a um afastamento entre os elemen- exercer as responsabilidades parentais e conviver com
tos do casal. No entanto, este afastamento não deverá os filhos. A partir deste pressuposto, a missão do pro-
afectar a qualidade da relação da criança com cada um fissional deverá consistir em demonstrar, mediante a
dos pais. Se até esse momento tem sido possível manter avaliação psicológica, em que medida se cumpre esta
esta relação apesar da fratura do casal, deve presumir- condição.
-se que possa manter-se uma relação adequada após a
separação. A avaliação do sistema familiar deve reconhecer a sua
complexidade e, por essa razão, ser orientada por cri-
térios objectivos e validados, que incluam a avaliação de
todas as pessoas implicadas. O profissional deve estu-
dar com rigor as características de funcionamento dos
pais, as suas competências de comunicação e resolu-
ção de conflitos, tal como os traços de personalidade e
comportamentos relacionados com o cuidado, basean-
do-se em informação relevante reportada por todos os
elementos da família, com os conhecimentos e actuali-
zações que permitem o avanço da Psicologia.

O resultado da avaliação, resumido e estruturado no re-


latório forense/pericial, deve constituir um instrumento
que ajude o processo de tomada de decisão judicial, es-
tabelecendo para isso a capacidade e, eventualmente,
as diferentes competências dos pais para exercer as
responsabilidades parentais e conviver com os filhos.

Deste modo, a missão do psicólogo nos relatórios de


avaliação da idoneidade dos pais separados ou divor-
ciados para o exercício das responsabilidades paren-
tais e convívio com os filhos é: avaliar mediante pro-


cedimentos, técnicas e instrumentos válidos e fiáveis
próprios da Psicologia, a capacidade dos pais para exer-
cer adequadamente as responsabilidades parentais dos
filhos menores de idade, considerando tanto as variáveis
individuais relevantes, como outras relacionadas com a

ESTE AFASTAMENTO própria dinâmica familiar e com os contextos em que se


desenvolve a parentalidade.

NÃO DEVERÁ AFECTAR


A QUALIDADE DA
RELAÇÃO DA
CRIANÇA COM CADA


UM DOS PAIS.
PÁG. 19

02
PRINCÍPIOS QUE ORIENTAM O
RELATÓRIO FORENSE/PERICIAL
PÁG. 20

P ara cumprir esta missão, considera-se que o re-


latório incide sobre a família entendida como um todo
um relatório forense/pericial válido num tema como o
do exercício das responsabilidades parentais e regime
de convívios.
funcional e indivisível. A família é uma estrutura que se
transforma com o tempo, pelo que a avaliação deverá Se não for possível aceder a todos os membros do siste-
deixar claro que o parecer se refere à situação e ao mo- ma familiar, o psicólogo deve recusar a realização de um
mento em que se realiza. relatório forense/pericial (de avaliação de alternativas)
de convívios. Obviamente, é possível elaborar relatórios
O relatório psicológico forense/pericial sobre temas forenses/periciais sobre outros aspectos da dinâmica
relacionados com o exercício das responsabilidades familiar, como a personalidade e o impacto desta na
parentais e o convívio da criança com os pais deve in- parentalidade, a competência parental (ainda que com
20
cluir todo o sistema familiar e avaliar todos os seus alguns constrangimentos), as relações entre os irmãos
elementos e as relações que se estabelecem entre eles. ou entre uma criança e um dos pais.

Nesta perspectiva, um relatório que não apresente uma No entanto, estes relatórios não abrangem todos os ob-
informação válida e de confiança sobre cada um dos ele- jectivos do relatório psicológico forense/pericial sobre
mentos da família, bem como sobre a relação de cada o tema das responsabilidades parentais e convívios da
elemento com os demais, não poderá ser considerado criança com os pais.

DEVE INFORMAR-SE A ENTIDADE SOLICITANTE E ESTA INFORMAÇÃO DEVE CONSTAR DE FORMA CLARA NO RE-
LATÓRIO (VER QUADRO 1).

QUADRO 1 OBJECTIVOS DO RELATÓRIO PSICOLÓGICO FORENSE/PERICIAL SOBRE O ERP E O


REGIME DE CONVÍVIOS DA CRIANÇA COM OS PAIS.

Responder claramente aos quesitos formula- Contribuir para o bem-estar dos filhos meno-
dos, fazendo constar que as conclusões se refe- res de idade envolvidos em processos de separa-
rem ao momento em que a avaliação se realiza. ção ou divórcio, assessorando o tribunal no que
respeita ao regime de convívios mais adequado.
Proporcionar ao tribunal informação relevan-
te, fundamentada e compreensível, que o possa Fazer prevalecer durante todo o processo de
ajudar no processo de tomada de decisões em avaliação o princípio do superior interesse da
relação ao exercício das responsabilidades pa- criança, regendo-se por princípios éticos e fun-
rentais e ao regime de convívios da criança com damentos científicos actualizados da profissão.
os pais, em processos de RERP.

Identificar as orientações e os cenários que


facilitem mais e obstaculizem menos o desen-
volvimento psicossocial da criança. Para a realização do processo de avaliação deve recor-
rer-se a metodologias da Psicologia, como sejam a en-
trevista, a observação do comportamento e instrumen-
tos de avaliação psicológica, todas elas adaptadas ao
O objectivo é sempre determinado pelo objecto de perí- objectivo concreto.
cia e quesitos formulados pelo tribunal ou por uma ou
ambas as partes do processo, pelo que devem sempre As metodologias a utilizar devem ser similares para am-
ser referidos de forma clara no início do relatório peri- bos os progenitores, por uma questão de equidade. Se
cial. houver necessidade de utilizar metodologias diferentes,
esta situação deve ser devidamente fundamentada no
As conclusões, como parte imprescindível do relatório, relatório.
devem fazer referência explícita ao objecto de perícia
e quesitos que foram definidos no início do relatório. É fundamental possuir e actualizar um corpus de conhe-
Quando não for susceptível de dar uma resposta técni- cimentos e competências teórico-práticos, necessário
co-científica ao objecto de perícia ou quesitos, deve o para desenvolver esta avaliação com a máxima adequa-
psicólogo explicar isso mesmo. ção, tendo em conta a investigação em Psicologia.

20. Quando o psicólogo não avalia todo o sistema familiar, não pode aplicar o protocolo de avaliação tal como é definido adiante (ver figura 1), o que se assume como um
constrangimento muito significativo neste tipo de processos, devendo essa situação ficar explícita no relatório. Existem alguns factores específicos da competência parental
sobre os quais o psicólogo não pode pronunciar-se quando avalia apenas um progenitor, nomeadamente, os padrões parentais e alguns aspectos da dimensão emocional
da parentalidade. Salienta-se que o conceito de competência parental remete para a avaliação de uma relação interpessoal, necessariamente limitada quando se avalia
apenas parte do sistema familiar.
PÁG. 21

03
PRINCÍPIOS ÉTICOS QUE DEVEM ORIENTAR
A CONDUTA DO PROFISSIONAL
PÁG. 22

O s psicólogos que realizam avaliações forenses/pe-


riciais em processos de separação ou divórcio sobre a
1) Necessidades físicas, emocionais, cognitivas e sociais
das crianças;

idoneidade dos pais para o exercício das responsabilida- 2) Dinâmicas familiares incluindo, mas não limitando a,
des parentais e para a definição de um regime de con- relações entre pais e filhos, famílias recompostas e re-
vívios da criança com os pais têm, naturalmente, de se lações com as famílias de origem;
orientar pelos princípios gerais e específicos definidos
pelo Código Deontológico da OPP. 21 3) Efeitos da separação/divórcio, da violência doméstica,
do consumo de substâncias, das alterações nos vínculos
O contexto específico a que reporta este GUIA DE BOAS afectivos parentais, dos maus tratos, negligência e abu-
PRÁTICAS exige especial atenção a: so sexual e do conflito interparental nas necessidades
das crianças e dos adultos;

4) O significado e impacto da cultura e da religião na vida


NATUREZA DO CLIENTE
familiar;
Enquanto que num contexto terapêutico o cliente é o in-
divíduo que é avaliado ou com quem é desenvolvido um 5) Como entrevistar e avaliar crianças, adolescentes e
programa de intervenção, num contexto forense, pelo adultos;
contrário, o cliente é (em regra) o sistema de justiça.
Este aspecto deve ser devidamente clarificado por parte 6) Como obter informação de fontes colaterais;
do psicólogo junto das pessoas que vai avaliar, no início
da avaliação e sempre que se justificar. O psicólogo deve 7) Como recolher dados relevantes e reconhecer as li-
ainda informar os examinandos dos quesitos, a metodo- mitações da sua validade;
logia a ser utilizada, as limitações da confidencialidade e
quem poderá ter acesso à informação e ao relatório, por 8) Como abordar temas específicos como saúde mental,
forma a obter o seu consentimento informado. consumo de medicação ou outras substâncias, dificul-
dades de aprendizagem ou outras;

9) Como utilizar procedimentos de entrevista e avaliação


PRINCÍPIOS GERAIS
psicológica de acordo com as boas práticas definidas
Princípio B - Competência para processos de avaliação psicológica forense;
Este princípio diz respeito à obrigação de os psicólogos
10) Quando consultar ou envolver outros peritos no pro-
exercerem a sua actividade de acordo com os pressu-
cesso;
postos técnicos e científicos da profissão, a partir de
uma formação pessoal adequada e de uma constante
11) Como informar os pais, as crianças, outros parti-
actualização profissional. Neste contexto em particu-
cipantes e fontes de informação colateral sobre os ob-
lar, isto significa que o psicólogo deve orientar a sua
jectivos, a natureza, a metodologia e as limitações da
intervenção em função da sua formação de base, trei-
confidencialidade do processo de avaliação;
no, supervisão e experiência profissional, com especial
enfoque para a necessidade de conhecer o enquadra-
12) Como avaliar a capacidade parental e a capacidade
mento legal dos vários tipos de situações e o modo de
de co-parentalidade para a elaboração de planos paren-
funcionamento do sistema de justiça. Por outro lado, o
tais adequados;
psicólogo deve identificar de forma clara quais são as
suas áreas de competência e especialização, estabele-
13) O contexto legal em que decorrem os processos de
cendo limites claros em relação a áreas distintas sobre
RERP e os aspectos éticos a ter em consideração;
as quais não tenha conhecimentos aprofundados.
14) Distinguir os diferentes papéis, nomeadamente, o
No que concerne ao uso de testes de avaliação psicoló-
papel de avaliador, mediador e terapeuta;
gica, o psicólogo tem uma responsabilidade ética no que
concerne à selecção, administração, cotação e inter-
15) Como elaborar relatórios psicológicos forenses/pe-
pretação dos resultados. Deve ainda ter conhecimento
riciais;
sobre as propriedades psicométricas, variabilidade cul-
tural e outras especificidades de cada teste.
16) Como preparar o testemunho em tribunal;
Tendo em conta este contexto específico de avaliação,
17) Como manter a neutralidade e a objectividade pro-
considera-se que as áreas em que o psicólogo deve ter
fissional ao longo de todo o processo de avaliação.
formação e treino são as seguintes:

21. Ordem dos Psicólogos Portugueses (2016). Código Deontológico. Publicado em Diário da República [2.ª série – n.º 78, 20 de abril de 2011), com a 1.ª revisão publicada
em Diário da República [2.ª série – n.º 246/2, 26 de Dezembro de 2016].
PÁG. 23

Consideram-se, ainda, áreas de formação adicional Com as crianças, jovens ou indivíduos com limitações
especializada: cognitivas, a natureza específica desta relação deve ser
explicada com especial cuidado, usando uma linguagem
1) Avaliação de alegações de abuso sexual; clara, concreta e acessível.

2) Avaliação de alegações de dinâmicas familiares que Embora o consentimento informado possa ser oral, ten-
envolvem o sugestionamento da criança e o impedimen- do em conta a natureza destes processos, deve ser do-
to não fundamentado desta conviver com um dos pais; cumentado de uma forma escrita.

3) Avaliação de alegadas situações de maus tratos e/ou Quando o examinando recusa prestar o seu consenti-
violência doméstica e elaboração de planos de seguran- mento, a entidade que solicita a avaliação deve ser in-
ça para os pais e para a criança. formada.

Princípio E – Beneficência e Não-Maleficência 2. Privacidade e Confidencialidade

O psicólogo deve procurar fazer o bem e evitar a todo o O ponto 2.14 do Código Deontológico da OPP, relativo a
custo prejudicar as pessoas avaliadas, que devem estar situações legais, refere que sempre que exista solicita-
sempre no centro das suas decisões (maximizar os be- ção legal para a divulgação de informação confidencial
nefícios e minimizar os possíveis danos, seja por acção sobre o cliente, é fornecida a um destinatário específico
ou omissão). apenas a informação relevante para a situação em cau-
sa, tendo em conta os objectivos da mesma e aquilo que
Ao actuar de acordo com este princípio, o psicólogo ao psicólogo for dado a conhecer.
deve minimizar o impacto de uma eventual vitimização
secundária e recusar intervir sempre que percepcionar A intervenção do psicólogo deve pautar-se pelo prin-
que a sua intervenção pode causar um dano significa- cípio da intervenção mínima, recolhendo a informação
tivo, informando o tribunal e fundamentando a sua re- estritamente necessária, tendo em conta os quesitos
cusa. formulados e os objectivos definidos pelo cliente (tribu-
nal). Deve manter-se confidencialidade em relação aos
factos que não tenham relação directa com o objecto da
avaliação - não apenas a informação obtida directamen-
PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS te, mas também indirectamente, em relação ao próprio
1. Consentimento Informado ou terceiros, incluindo a existência da própria relação.

Entende-se por consentimento informado a escolha de


participação voluntária de um cliente num acto psicoló-
gico, após receber informação sobre a natureza e curso 5. Prática e Intervenção Psicológicas
previsível desse mesmo acto. (5.8 - Relações Múltiplas)
O psicólogo não dever estabelecer uma relação profis-
Num processo de avaliação forense/pericial relativo ao sional com quem mantenha ou tenha mantido uma rela-
exercício das responsabilidades parentais e regime de ção prévia de outra natureza. Da mesma forma, não deve
convívios da criança com os pais, na fase inicial do pro- desenvolver outro tipo de relação com os seus clientes
cesso e sempre que se justificar no decurso do mesmo, ou pessoas próximas destes, procurando, assim, evitar
o psicólogo deve informar as várias pessoas avaliadas qualquer tipo de dano, parcialidade ou ineficácia.
sobre qual é a entidade que requer a avaliação, o que é
pedido e clarificar desde logo a natureza não terapêutica Destaca-se em particular a incompatibilidade entre o
da relação. Também as limitações da confidencialidade papel de terapeuta e o de avaliador/perito forense, com
devem ser explicadas, assim como o grau de participa- diferenças a vários níveis. São áreas distintas que re-
ção voluntária dos indivíduos. Sobre este último aspecto, querem competências diferentes, e onde a confidencia-
devem ainda ser clarificadas as potenciais implicações lidade apresenta limitações igualmente diferenciadas.
do não consentimento para a avaliação. A relação terapêutica pretende fornecer algum tipo de
ajuda e suporte, enquanto uma avaliação forense/peri-
O psicólogo deve também informar sobre as metodolo- cial tem maior enfoque numa recolha de dados objectiva
gias que irá utilizar, a necessidade de recolha de infor- e sistemática.
mação colateral (as fontes colaterais também têm de
dar o seu consentimento informado) e que a avaliação Também as metodologias de avaliação podem ser dife-
irá terminar com a elaboração de um relatório, aces- renciadas na medida em que, num processo de avalia-
sível a diversos intervenientes no processo. Caso seja ção forense/pericial é desejável a recolha de informação
uma avaliação efectuada num serviço privado, os custos colateral como forma de avaliar a consistência ou incon-
da intervenção do psicólogo devem desde logo ser apre- sistência dos dados.
sentados.
PÁG. 24

Sobre este princípio em particular, sugerimos a leitura


do parecer elaborado pela Comissão de Ética da OPP. 22

EM SUMA:
A) Em todos os momentos da actuação profissional de-
verá prevalecer o superior interesse da criança, sobre
qualquer outro interesse legítimo que possa co-existir.

B) A avaliação psicológica deve envolver todo o sistema


familiar e realizar-se de forma imparcial, por forma a
evitar prejudicar a idoneidade de um dos pais sobre o
outro para exercer as responsabilidades parentais e
conviver com a criança.

C) Os elementos do sistema familiar devem conhecer


previamente a finalidade da avaliação e os procedimen-
tos que serão utilizados, assim como prestar o seu con-
sentimento informado para a mesma.

D) O profissional deverá obter o consentimento informa-


do de todas as partes que sejam necessárias para a ava-
liação pedida. No caso das crianças, o psicólogo deverá
informar os seus pais, responsáveis legais ou quem te-
nha a sua guarda de facto. Perante uma situação de não
consentimento de um dos pais, a avaliação psicológica
forense (não pericial) da criança não deve ser iniciada,
podendo apenas decorrer após decisão judicial. Sobre
este aspecto em particular, sugerimos a leitura do pa-
23
recer n.º 39 elaborado pela Comissão de Ética da OPP.

E) Não podendo avaliar todo o sistema familiar, o profis-


sional deve informar a entidade solicitante disso mesmo
e fazê-lo constar no relatório, advertindo para as limita-
ções inerentes a esta situação.

F) As afirmações constantes no relatório de avaliação


em relação aos comportamentos e atitudes das pessoas
avaliadas têm de estar suficientemente fundamentadas.

G) Os profissionais devem ter a qualificação necessária


para realizar de forma eficaz a avaliação de todo o sis-
tema familiar, devendo para tal manter actualizados os
seus conhecimentos e competências profissionais.

H) Devem evitar-se detalhes supérfluos ou que não se-


jam relevantes para dar resposta ao objecto de perícia/
avaliação.

I) Os dados pessoais partilhados devem ser apenas


aqueles que se revelem imprescindíveis e relevantes
para poder responder ao pedido de avaliação, tendo em
conta o princípio da intervenção mínima.

22. Disponível em: https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/parecer_35_sobre_relaa_aoes_multiplas.pdf


23. https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/parecer_39b_sobre_a_intervena_aao_psicolaogica_com_criana_as_e_adolescentes_sem_autorizaa_aao_
de_ambos_os_pais_representantes_legais_ou_quem_tenha_a_sua_guarda_de_facto.pdf
PÁG. 25

04
METODOLOGIA PARA A ELABORAÇÃO DE UM
RELATÓRIO PSICOLÓGICO FORENSE/PERICIAL
NO ÂMBITO DE PROCESSOS DE RERP E REGIME
DE CONVÍVIOS DA CRIANÇA
PÁG. 26

A elaboração de um relatório desta natureza exige


o recurso a uma metodologia que traduza os conheci-
Os componentes básicos do método científico são:
A) Observar e registar rigorosamente o maior número
mentos científicos à data da sua realização. O relatório de actos e circunstâncias relevantes para a determina-
deve ser elaborado com requisitos metodológicos que ção da competência parental dos pais e da capacidade
impeçam quaisquer mitos, falácias ou prejuízos base- parental (potencial de mudança);
ados na subjectividade e parcialidade dos profissionais
envolvidos no processo de avaliação.
B) Deduzir, sem preconceitos, relações causais e multi-
causais entre esses actos;
A validade de um constructo científico, de uma teoria,
de uma hipótese ou de um relatório psicológico forense/
pericial que se pronuncia sobre o exercício das respon- C) Verificar, com recurso a múltiplas fontes de informa-
sabilidades parentais e o regime de convívios da criança ção, as relações deduzidas (neste contexto, as relações
com os pais, depende da correcta aplicação de procedi- mais determinantes são as que se referem ao desenvol-
mentos verificáveis de acordo com o actual estado do co- vimento e bem-estar da criança);
nhecimento psicológico. Um relatório não pode ser uma
compilação de dados obtidos a partir de técnicas mais
D) Emitir um diagnóstico (pontos fortes e fracos dos
ou menos válidas, usados para defender uma hipótese
pais, à data da avaliação) e um prognóstico (potencial de
mal colocada, com base em preconceitos do avaliador.
mudança dos pais e, a médio prazo, a sua relação com
Da mesma forma, a avaliação não pode ser enviesada
o bem-estar da criança);
por diferentes tipos de pressões, seja por parte de quem
solicita a avaliação, quer seja por parte de terceiros.
E) Emitir recomendações de actuações para melhorar
A metodologia proposta para a elaboração destes rela- o prognóstico.
tórios de avaliação enquadra-se no método empírico-a-
nalítico e no método hipotético-dedutivo.
QUAL A FINALIDADE DO MÉTODO USADO PARA A RE-
ALIZAÇÃO DO RELATÓRIO PSICOLÓGICO FORENSE/
PERICIAL?
A avaliação deve estruturar-se em redor
A finalidade de um relatório psicológico forense/pericial
das seguintes perguntas: consiste em cumprir os objectivos definidos anterior-
mente.
1) O que é um método?

2) Qual a finalidade do método usado para a re-


alização do relatório forense/pericial? QUAL É O OBJECTO DE ESTUDO?
O objecto de estudo é constituído pelas circunstâncias e
3) Qual é o objecto de estudo? ambiente psicossocial da criança, devendo ser recolhi-
da informação sobre o micro, o meso e o exossistema
4) Que etapas envolve? (sempre com base nos quesitos definidos judicialmen-
24
te).
5) Que passos implica?

6) Que ferramentas ou instrumentos são ade-


quados para alcançar o objectivo? QUE ETAPAS ENVOLVE?
As etapas do método utilizado para a realização do rela-
tório psicológico forense/pericial são três:

1) Recepção do pedido de um relatório de avaliação psi-


O QUE É UM MÉTODO? cológica forense/pericial e, caso esse pedido seja num
serviço privado, acordo com a entidade solicitante sobre
Um método é um caminho ou uma rota para chegar a
a indeterminação prévia do resultado e a especificação
um destino e envolve diversos passos, mais ou menos
do método a seguir, de acordo com as boas práticas
definidos ou estruturados.
para a elaboração deste tipo de relatórios;

Na realização de um relatório psicológico forense/peri- 2) Desenho e desenvolvimento do estudo sobre as va-


cial, como em toda a actuação profissional, deve utili- riáveis relevantes que influenciam a parentalidade e o
zar-se o método científico. desenvolvimento e bem-estar da criança;

24. Consultar página 30


PÁG. 27

3) Redacção e entrega do relatório psicológico forense/pericial sobre o exercício das responsabilidades parentais e o
regime de convívios da criança com os pais que minimize possíveis prejuízos. Pode incluir, dependendo do objecto de
perícia e quesitos solicitados e se a avaliação efectuada o permitir, entre outras, algumas das opções seguintes:

QUADRO 2

1 2 3 Recomendação de
4 Recomendação
Recomendação de Recomendação de uma distribuição de residência da
fixação de residên- fixação de residên- tendencialmente criança com outros
cia da criança com cia da criança com o equitativa do tempo familiares, terceiros
o progenitor A. de residência com ou acolhimento fa-
progenitor B.
cada um dos pais. miliar/residencial.

QUE PASSOS IMPLICA? ASPECTOS A IDENTIFICAR, MEDIR E AVALIAR NA


AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA FORENSE/PERICIAL:
O número e tipo de sessões que se consideram neces-
sárias para alcançar os objectivos do relatório psicoló- Para a elaboração do relatório psicológico forense/pe-
gico forense/pericial dependem das circunstâncias con- ricial devem avaliar-se os seguintes aspectos, relativa-
cretas e da situação da criança: mente aos pais (ver Anexo 1 – Guião de entrevista aos
pais/cuidadores):
1) Número de figuras relevantes no meio ambiente da
criança: pais, irmãos, padrasto/madrasta, outros fami- 25
Dimensão comportamental da parentalidade:
liares e outras pessoas significativas;
Estratégias parentais (natureza e frequência).
2) Acesso à informação disponibilizada por outros psi-
cólogos, médicos, assistentes sociais, professores, etc.
Sensibilidade face às necessidades da criança.
3) Complexidade do meio ambiente em que vive actual-
Estratégias de controlo (definição de regras e limi-
mente a criança e daquele/s para onde poderia mudar,
tes, supervisão).
magnitude e pertinência dessa mudança.
Padrões educativos dos pais.

QUE FERRAMENTAS OU INSTRUMENTOS SÃO ADE- Padrões de interacção com a criança (sensibilidade
QUADOS PARA ALCANÇAR O OBJECTIVO? parental, comportamentos aversivos, comportamentos
positivos, envolvimento parental).
As ferramentas ou instrumentos a que o psicólogo deve
recorrer de modo a permitir-lhe alcançar o objectivo e
Qualidade da relação com a criança.
elaborar o correspondente relatório são as técnicas de
avaliação e diagnóstico psicológico. Estas ferramen-
tas devem aplicar-se de acordo com os critérios éticos
Dimensão cognitiva da parentalidade: 26
enunciados e deve evitar-se o uso abusivo e desneces-
sário de provas de avaliação.
Crenças sobre a criança e o seu desenvolvimento.
Recomenda-se a aplicação de:
Crenças sobre a educação e a punição física.
Técnicas de entrevista.
Valores.
Testes psicométricos (descritivos, quantitativos e sis-
Atribuições para os comportamentos da criança (lo-
tematizados - escalas, questionários, inventários).
cus de controlo, estabilidade, generalização e dimensão
de intencionalidade).
Testes projectivos ou semi-projectivos.

25. A dimensão comportamental da parentalidade diz respeito ao que os pais «fazem» e envolve o estudo de três áreas de funcionamento distintas: as interacções entre pais
e filhos, as práticas parentais (de afirmação de poder, retirada de afecto positivo e indutivas) e os padrões parentais (relacionados com a sensibilidade parental e a forma
como os pais exercem controlo).

26. A dimensão cognitiva da parentalidade relaciona-se com o que os pais «pensam». Os principais conceitos associados a esta dimensão são as crenças, os valores, as
atribuições e os calendários de desenvolvimento.
PÁG. 28

Motivação face à parentalidade. Disponibilidade de tempo e de recursos pessoais para


o desempenho parental.
Congruência dos projectos e expectativas de vida dos
pais face ao desenvolvimento da criança. Outras características como saúde física, autonomia,
local de residência, expectativas e projectos de vida.
Valorização dos aspectos positivos do outro progeni-
tor.
Relativamente à criança, é importante avaliar (ver
Disponibilidade para facilitar os contactos e convívios Anexo 2 – Guião de entrevista à criança):
da criança com o outro progenitor.
Dinâmicas familiares (prévias e posteriores ao pro-
Valorização da adaptação da criança aos diferentes cesso de separação parental).
contextos.
Adaptação familiar, escolar e social com cada um dos
Valorização da adaptação da criança e das possíveis pais.
dificuldades que possa ter sentido perante uma nova
situação familiar, e o modo como interveio para a sua Receptividade da criança face a cada um dos pais.
superação.
Percepção dos pais, do conflito e dos projectos de
organização da vida familiar.
Dimensão emocional da parentalidade:27

Emoções que os pais experienciam (natureza, valên- Técnicas de avaliação para recolher informação relati-
cia e intensidade). va aos aspectos supracitados:

Estratégias de regulação emocional. Entrevistas semi-estruturadas.

Forma como as emoções activadas se relacionam Instrumentos não estandardizados.


com as dimensões cognitiva e comportamental.
Instrumentos estandardizados.

Para além destas três dimensões, devem ainda ava- Observações das interacções familiares (em contexto
28
liar-se os pais no que respeita a: domiciliário ou em gabinete).

História de desenvolvimento. Relatórios e/ou entrevista com educadores de Infân-


cia/professores.
Percurso escolar e profissional.
Relatórios médicos.
Antecedentes criminais, médicos/psiquiátricos e de
consumo de substâncias. Relatórios de intervenções ou acompanhamentos psi-
cológicos/psiquiátricos.
Antecedentes familiares.
No que respeita à avaliação da personalidade, é impor-
Recursos pessoais (auto-estima, resiliência, desen- tante deixar claro que nenhum traço de personalidade
volvimento moral, etc.). ou sintoma clínico pode, por si mesmo, ser suficiente
para excluir um progenitor do exercício das responsa-
Dimensões da personalidade que possam influen- bilidades parentais ou para impedir convívios com a
ciar a prestação de cuidados à criança (p. ex., estabili- criança. Esta avaliação tem de ser devidamente con-
dade emocional, flexibilidade, assertividade, tolerância textualizada (e nunca interpretada de forma isolada) e o
à frustração, regulação dos impulsos, capacidade para possível impacto na competência e capacidade parental
estabelecer vínculos afectivos). deve ser fundamentado.

Dinâmicas conjugais. Para evitar possíveis enviesamentos, devem aplicar-


-se os mesmos instrumentos a ambos os pais, excepto
Rede de apoio social. quando existam fundamentos que devem ser justifica-
dos e explicitados.

27. A dimensão emocional da parentalidade remete para o estudo das emoções parentais – o que «sentem» os pais. Que emoções são activadas, qual a sua valência e
intensidade? Importa ainda avaliar os processos de regulação emocional dos pais.
28. A observação das interacções entre pais e filhos é uma técnica de avaliação complementar que deve ser parte integrante do protocolo de avaliação. O psicólogo deve
orientar-se por um sistema de codificação das interacções validado. Importa avaliar áreas como a comunicação verbal e não verbal, a expressão emocional, a sensibilidade
parental, a reciprocidade, a aceitação, a coerção e a responsividade. Nas crianças, importa avaliar as vocalizações ou verbalizações, eventual inibição, tom emocional, capa-
cidade de auto-regulação e submissão aos pais. Nas sessões em fratria devem avaliar-se os vínculos afectivos entre os irmãos, bem como eventuais conflitos de lealdade
e alianças face aos outros elementos do sistema familiar.
PÁG. 29

PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO

(1) Entrevistas (2) Entrevistas (3) Entrevistas


individuais juntos dos conjuntas com os individuais com a
pais/cuidadores pais/cuidadores criança
(se possível)

(6) Avaliação instru-


mental junto dos pais,
da criança ou de tercei- (5) Recolha (4) Observação
ros (p. ex., professores), de informação das interacções
consoante o objecto de colateral (rede familiares (fratria,
29

perícia e os quesitos informal e formal) pais/filhos)


formulados
A avaliação termina com a elaboração do relatório.

PROCEDIMENTO IMPARCIALIDADE
A qualidade de um relatório depende da sua capacida- Implica proporcionalidade e não exclusão na escuta, ob-
de em alcançar os objectivos de uma forma equilibrada servação e experimentação dos diversos estímulos re-
para todos os implicados no processo. levantes na interacção da criança com o seu ambiente
parental e social.
Os relatórios devem cumprir as 3 dimensões de qua-
lidade «CIR»:
RIGOR

C
Rigor no desenho e desenvolvimento do processo para
COOPERAÇÃO uma correcta avaliação das competências parentais e
da capacidade parental, necessidades da criança e me-
dida em que os pais as conseguem identificar e satisfa-
zer adequadamente. Rigor na aplicação, cotação e inter-

I
pretação dos instrumentos de avaliação psicológica. Em

IMPARCIALIDADE
caso de um diagnóstico clínico, importa também avaliar
as possíveis alterações da criança e/ou dos pais.

Em suma, a qualidade de um relatório psicológico fo-


rense/pericial reflecte-se na sua capacidade de ajudar a

R
tomar boas decisões sobre o exercício das responsabili-

RIGOR
dades parentais e o regime de convívios da criança com
os pais, de modo a que tenham um impacto positivo no
desenvolvimento e bem-estar da criança.

COOPERAÇÃO QUAL É O PROCEDIMENTO GERAL?


O relatório deve ser efectuado com uma estratégia de Na elaboração de um relatório psicológico forense/peri-
cooperação, avaliando todo o sistema familiar e o am- cial sobre o exercício das responsabilidades parentais e
biente envolvente da criança. O consentimento infor- o regime de convívios da criança com os pais, deve pre-
mado de ambos os pais e da criança é imprescindível valecer o superior interesse da criança, sobre qualquer
para garantir a colaboração e o envolvimento ao longo outro interesse legítimo dos pais.
de todo o processo.

29. Esta recolha de informação decorre ao longo de todo o processo de avaliação.


PÁG. 30

O parecer deve facilitar o bem-estar da criança, minimi- e em que medida pode estar relacionada com a compe-
zando potenciais efeitos adversos. tência de um ou ambos os pais ou, ainda, com o ambien-
te social associado a cada um deles.
Quando o pedido é feito num serviço privado, é impres-
cindível a colaboração e o consentimento informado de
ambas as partes para efectuar um diagnóstico rigoroso,
DESENVOLVIMENTO DO PROCEDIMENTO
assegurando ainda a imparcialidade e a neutralidade do
relatório. Se, por qualquer motivo, não for possível obter Ainda que as entrevistas devam seguir uma sequência
esse consentimento, o mesmo deve ser comunicado às que facilite a obtenção de informação necessária para
partes envolvidas no processo para que avaliem a perti- uma avaliação psicológica idónea do sistema familiar
nência de activar os recursos previstos legalmente para (ver Figura 1.), o psicólogo deve ter presente que esta
a designação de psicólogos/peritos institucionais. ordem pode ser alterada em determinados casos.

Na segunda fase deve ser desenhado um método de


investigação rigoroso, de modo a avaliar se a criança
apresenta algum tipo de dificuldade ou desajustamento

FIGURA 1. Processo de elaboração do relatório psicológico forense/pericial


sobre o ERP e o regime de convívios da criança com os pais.
Este procedimento deverá ser adaptado à situação concreta.
A sequência das várias fases também pode ser alterada, se se justificar.

1 Análise da informação disponível


(processo judicial e outros relatórios prévios).
2 Entrevistas com progenitor A (PA)
(avaliação instrumental complementar).

3 Entrevistas com progenitor B (PB)


(avaliação instrumental complementar).
4 Entrevistas com a(s) criança(s),
individuais e/ou grupais.

5 Observação da interacção PA e criança(s).


6 Observação da interacção PB e criança(s).

7 Entrevista conjunta com os pais,


se possível e se não estiver contraindicado.
8 Entrevista com outras
pessoas de referência da criança.

9 Observação da interacção PA + PB + criança(s)


se for possível e não estiver contraindicado.
10 Informação por parte de outras pessoas
do microssistema não familiar da criança.

11 Informação suficiente
para colocar hipóteses.
12 Elaboração de relatório.
PÁG. 31

24. A compreensão do funcionamento do sistema familiar deve ser feita com base na perspectiva ecológica desenvolvida
por Bronfenbrenner (1979). Em síntese, esta perspectiva afirma que os processos de desenvolvimento psicológico estão
intimamente ligados ao meio ambiente ou ambiente ecológico em que ocorre esse mesmo desenvolvimento, e que este
ambiente está definido por um conjunto complexo de influências que afectam o desenvolvimento, tanto de forma directa
como indirecta. Estas influências situam-se a diferentes níveis que se organizam numa série de estruturas seriadas em
função da sua maior ou menor proximidade à pessoa:

O nível mais imediato é o microssistema e inclui todos os papéis, relações e fenómenos presentes nos cenários em
que a criança se desenvolve diariamente: a família, a turma, o grupo de pares, etc. As relações que aqui se estabelecem
são de natureza bidireccional e estão habitualmente mediadas pela influência de terceiros, por exemplo, as interacções
entre irmãos podem mudar em função da simples presença/ausência de um dos pais, ainda que esse adulto não parti-
cipe nessas interacções.

Os diferentes microssistemas em que a criança se desenvolve não só têm a sua própria dinâmica interna, como tam-
bém evidenciam importantes conexões entre si, conexões essas que podem ser tão decisivas como o que sucede dentro
de um determinado microssistema. Para Bronfenbrenner, este nível de análise é o mesossistema. Encontramos um
bom exemplo nas relações que existem entre a família e a escola, relações essas que influenciam o ajustamento e o
desenvolvimento da criança no ambiente escolar.

O terceiro nível que se propõe neste modelo é o exossistema, permitindo-nos sair do sujeito em desenvolvimento para
incluir as relações, os papéis e a dinâmica de funcionamento de contextos em que a criança não está directamente pre-
sente. As condições profissionais e o tipo de trabalho de um dos pais, por exemplo, podem influenciar a frequência e a
qualidade das interacções estabelecidas com os filhos.
PÁG. 32

05
O RELATÓRIO PSICOLÓGICO
FORENSE/PERICIAL
PÁG. 33

O conteúdo do relatório psicológico forense/pericial deve obedecer a uma estrutura bem definida, tal como se exem-
plifica na figura seguinte:

FIGURA 2. Estrutura do relatório psicológico forense/pericial.

(1) Objecto de (2) Metodologia: (3) Resultados dos


perícia/avaliação Entrevistas, avaliação elementos recolhidos
forense instrumental, obser- nas entrevistas, das
vação de interacções, provas de avaliação
informação colateral instrumental e outras
técnicas utilizadas

(6) Recomendações (5) Conclusões


(4) Discussão
com resposta aos
forense
quesitos

O relatório, sem perder rigor, deve ser redigido numa da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Recomenda-se
linguagem clara evitando, sempre que possível, o recur- ainda a utilização de vinhetas – ver o parecer n.º 41 ela-
30
so a termos técnicos. Quando não for possível evitar a borado pela Comissão de Ética da OPP.
utilização de termos técnicos, estes devem ser explica-
dos numa linguagem compreensível, ainda que precisa. 3) Identificação de quem fez o pedido: qual o tribunal/
O relatório deve ser sucinto, com uma extensão não ex- entidade que solicitou a avaliação (p. ex., Tribunal Ju-
cessiva, embora suficientemente detalhado para conter dicial da Comarca de Lisboa, Juízo de Família e Meno-
a informação necessária. res de Lisboa, Juiz X), o número do ofício e data (p. ex.,
ofício n.º XXXXX, datado de dia/mês/ano), o número do
Deve ter-se sempre presente a quem se dirige o rela- processo (e.g., Processo de Regulação do Exercício das
tório psicológico forense/pericial – juiz, procurador, às Responsabilidades Parentais n.º XXXX/XX.XTXLSB).
partes e aos respectivos advogados.
4) Identificação das pessoas avaliadas: nome completo,
filiação, data de nascimento, idade, naturalidade, nacio-
Estrutura do relatório nalidade, endereço, habilitações literárias e profissão.

1) Tipo de avaliação: se é uma RERP e avaliação do re- 5) Identificação do pedido em concreto: especificar se
gime de convívios da criança com os pais ou outro tipo foi pedida a avaliação da família (p. ex., foi solicitada a
de relatório psicológico (p. ex., relatório de avaliação da avaliação de ambos os progenitores e da criança), ou
personalidade e possível impacto desta no exercício da apenas de algum dos seus elementos (p. ex., foi solicita-
parentalidade). da a avaliação do progenitor A; foi solicitada a avaliação
da criança X).
2) Autor do relatório: se houver a intervenção de mais
do que um profissional, aconselha-se a que cada um Qual é o objecto da avaliação psicológica forense/peri-
elabore um relatório independente (p. ex., quando um cial, conforme consta do despacho judicial/pedido, e que
psicólogo pede uma avaliação complementar a um psi- pode conter não só os quesitos (perguntas) formulados
quiatra para apurar da existência de uma doença men- pelo tribunal/entidade, mas também os requeridos pe-
tal). Neste caso, o psiquiatra elaborará o seu relatório las partes. O objecto deve ser transcrito de forma textu-
que depois será remetido ao psicólogo. Este, na posse al, entre aspas, e deve ser clarificado quando há dúvidas
de todos os elementos, irá pronunciar-se sobre o solici- sobre o que se pretende em concreto ou quando o soli-
tado. Para além do nome do psicólogo, também deve ser citado não é susceptível de ser avaliado. Se o psicólogo
referido o seu número de cédula como membro efectivo entender que deve ampliá-lo, pode remeter esse pedido

30. Disponível em: https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/parecer_41_sobre_utilizaa_ao_de_vinhetas_por_parte_dos_psicaologos.pdf


PÁG. 34

ao tribunal para que se pronuncie sobre o mesmo. trevistas, não só relativamente à pessoa avaliada, mas
também em relação à interação mantida como o outro
Um psicólogo não pode, em circunstância alguma, ini- progenitor, quer durante a vigência da relação (sobre-
ciar uma avaliação sem que o objecto de avaliação psi- tudo questões relacionadas com a parentalidade, uma
cológica forense/pericial esteja clarificado, na medida vez que é essencial perceber-se o envolvimento parental
em que é ele que vai definir qual o escopo da avaliação, existente), quer após esta ter cessado (áreas de acordo
os procedimentos e as metodologias. Só após este estar e desacordo em relação aos filhos) (ver guiões de entre-
definido podem iniciar-se as averiguações necessárias à vista - Anexos 1 e 2).
31
elaboração do relatório.
c) Descrição dos resultados das diversas provas de ava-
liação instrumental aplicadas – descrição sistematizada
6) Metodologia utilizada para a avaliação: prova a prova com os principais valores obtidos e inter-
pretação dos mesmos em cada uma delas.
a) Pesquisa documental (com informação de todos os
elementos, quer processuais, quer extra-processuais d) Descrição das interações realizadas com a respectiva
consultados como, por exemplo, relatórios clínicos que análise.
não constem do processo judicial. Se a informação não
constar do processo, o psicólogo deve informar como e e) Descrição da informação colateral obtida de forma
quando a obteve. Os documentos devem estar datados e sistematizada, para que se perceba claramente quem a
fazer referência às folhas do processo, caso se aplique). forneceu e de que forma.

b) Entrevistas clínico-forenses (preferencialmente, com As descrições, diagnósticos e predições que são expres-
as datas em que foram realizadas). sas no relatório devem limitar-se à situação em que os
dados foram obtidos.
c) Observação clínica dos avaliados.

d) Avaliação psicológica instrumental, com informação 8) Conclusões com resposta aos quesitos solicitados.
das provas/testes que foram aplicados e uma breve des- É importante que o psicólogo responda tendo sempre
crição das mesmas, se possível. em conta o melhor interesse da criança envolvida. A dis-
cussão forense dará origem às conclusões, que terão
e) Informação colateral recolhida junto da rede formal de ser fundamentadas nos vários elementos obtidos du-
e informal (p. ex., entrevistas realizadas com familiares, rante o processo de avaliação. Quando não for possível
pessoas significativas ou outros técnicos, contactos es- concluir (avaliação inconclusiva) ou o psicólogo enten-
tabelecidos, visitas domiciliárias. Todas as fontes cola- der que tem algumas reservas quanto à conclusão, deve
terais devem ser documentadas). expressá-lo claramente.

f ) Observação das interações (p. ex., entre a criança e Se a avaliação incidir sobre todo o sistema familiar,
cada um dos progenitores, entre a fratria e entre os pro- como desejável, e dependendo daquilo que foi possível
genitores, caso seja possível). avaliar, o psicólogo poderá fazer recomendações não
só quanto à residência da criança, mas também quanto
Devem explorar-se as preferências da criança a respeito ao regime de convívios que entende ser o mais indicado
das alternativas de convivência com ambos os progeni- para aquela criança e que cumpra os requisitos do seu
tores, sempre tendo em atenção a possibilidade de esta superior interesse. Quando não for possível avaliar todo
estar a ser sujeita a pressões externas ou a processos o sistema familiar, essas conclusões não podem ser re-
de sugestionamento. Assim, a fim de se evitarem con- alizadas e o psicólogo deve deixar isso claro no relatório
flitos de lealdade e ainda que a criança possa pensar de avaliação forense/pericial.
que tem o poder de decidir, o psicólogo deve abster-se
de formular questões directas sobre esta temática. O As conclusões devem ser explícitas, permitindo que
psicólogo deve explicar de que forma avaliou essas pre- quem recebe o relatório perceba o raciocínio do psicólo-
ferências, ainda que estas não devam ser, de forma al- go e localize os elementos em que este se apoiou para
guma, vinculativas do seu parecer. as fundamentar. Por exemplo, porque é que o psicólogo
menciona que a criança beneficiaria de um regime de
contactos alargado ou, ainda, que factores fundamen-
7) Resultados do processo de avaliação realizado. Nes- tam a conclusão de que existem condições para que seja
te ponto podemos ter vários campos, entre eles: estabelecida uma residência alternada.

a) Descrição da observação efectuada. Devem ser explanadas as eventuais contradições e in-


consistências detectadas ao longo das entrevistas, mas
b) Descrição dos elementos obtidos através das en- também resultantes do confronto com a informação ob-

31. Conforme decorre dos termos do n.º 1 do artigo 480.º do CPC. O objecto de perícia não pode ser fixado livremente pelos peritos, cabendo apenas ao Tribunal fazê-lo,
conforme decorre do n.º 2 do artigo 476.º do CPC.
PÁG. 35

tida, quer através das fontes colaterais, quer dos ele- que o psicólogo perito complete ou fundamente devida-
mentos processuais ou outros a que o psicólogo teve mente a sua perícia, situação que terá de ser realizada
acesso durante a avaliação. Deve ainda ser salientadas por escrito. Poderão ainda ser solicitados esclareci-
34
as possíveis discrepâncias entre a observação do exa- mentos ou apresentadas reclamações (p. ex., em caso
minando e os resultados da avaliação psicológica ins- de contradições, falta de fundamentação, omissões
trumental, bem como eventuais distorções resultantes relevantes, erros). Os esclarecimentos podem ser soli-
das situações de desejabilidade social, dissimulação ou citados por escrito ou através da audição do perito em
simulação de psicopatologia ou de incapacidades ou dé- tribunal.
fices.
No caso do relatório psicológico forense, este não é
O psicólogo deve ainda relacionar os resultados da ava- considerado um meio de prova. Contudo, atendendo a
liação com a questão legal subjacente. A fundamenta- que estamos no âmbito do Direito da Família, ambos
ção é sempre realizada à luz dos conhecimentos técni- os relatórios – pericial e forense - estão sujeitos à livre
co-científicos. apreciação do tribunal.

Após concluído, o relatório de avaliação psicológica fo-


9) Recomendações. Aqui poderão ser dadas diversas rense/pericial deve ser enviado à entidade requisitante.
recomendações que o psicólogo entenda pertinentes, Assim, no caso de ser o tribunal, o psicólogo deve enviar
tendo em conta a avaliação que realizou. Podem ser o mesmo ao processo, sendo as partes notificadas pos-
recomendações sobre acompanhamento psicológico/ teriormente do mesmo através do tribunal. São dadas
psiquiátrico ou outro por parte dos envolvidos, necessi- às partes 10 dias para se pronunciarem sobre o relatório
dade de avaliação adicional, necessidade de contactos pericial.
supervisionados, necessidade de os progenitores fre-
quentarem programas de promoção das competências O CPC fixa um prazo máximo de 30 dias para o rela-
parentais, etc. tório psicológico pericial ser apresentado. Este prazo
pode ser prorrogado uma única vez, se houver motivo
O relatório deve incluir informação sobre os anteceden- que o justifique.35 ,36 O psicólogo deve ter especial aten-
tes de violência doméstica, maus tratos, medidas judi- ção ao facto de o tempo, neste tipo de processos, poder
ciais de afastamento ou de outra natureza, sempre que prolongar o conflito parental existente e, nessa medida,
o psicólogo deles tenha conhecimento. agilizar pela conclusão da avaliação psicológica forense/
pericial.
A avaliação diz respeito a um determinado momento e
a um contexto específico, não podendo ser extrapolada No caso de a avaliação ser no âmbito forense, a pedido
para outros contextos ou momentos equidistantes no de uma ou de ambas as partes, o psicólogo entrega o
tempo. relatório a quem o solicitou e/ou respectivo advogado.37
Neste caso, se foi apenas a pedido de uma das partes, a
outra parte poderá, caso seja admitida a sua junção, ter
O relatório psicológico pericial é um meio de prova que acesso ao mesmo.
vai ser submetido ao escrutínio não só pela entidade ju-
diciária ou judicial que o requereu, mas também pelos Não obstante a avaliação ter sido pedida apenas por
intervenientes processuais a quem a lei confere esse di- uma das partes, a outra deverá ser sempre contactada
32
reito, à luz do princípio do contraditório. O tribunal pode (de preferência por escrito) e envolvida no processo, a
33
socorrer-se de assessores técnicos para o auxiliarem menos que não dê o seu consentimento (é importante
nesta tarefa e as partes de consultores técnicos. Estes que o psicólogo tenha um registo escrito dessa decisão).
últimos, apesar de serem contratados por uma das par- Nesse caso, o psicólogo apenas poderá avaliar o pro-
tes, devem estar inscritos na OPP (situação que deve ser genitor que solicitou a avaliação e não a criança. A in-
confirmada aquando da sua constituição). Devem orien- formação de não consentimento de um progenitor deve
tar a sua intervenção em função do respectivo Código constar no relatório emitido e o psicólogo nunca poderá
Deontológico e o superior interesse da criança. Devem pronunciar-se sobre a RERP e regime de convívios da
ainda salvaguardar a credibilidade da ciência que repre- criança com os pais (uma vez que apenas avaliou parte
sentam. do sistema familiar). Os resultados da avaliação devem
ainda ser interpretados com especial cautela.
O juiz pode ordenar, oficiosamente ou a requerimento,

32. Esta assessoria está referida no artigo 22.º da Lei n.º 141/2015, de 8 de Setembro, com as devidas alterações introduzidas pelas Lei n.º 24/2017, de 24 de Maio, que
regula o RGPTC.
33. De acordo com o artigo 480.º do CPC.

34. De acordo com o artigo 485.º do CPC; Ver também o parecer elaborado pela Comissão de Ética da OPP, disponível em:
https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/parecer_10_avaliaa_aao_psicolaogica_forense.pdf
35. De acordo com o artigo 483.º do CPC.
36. A não apresentação do relatório psicológico pericial nos prazos fixados, ou um desempenho negligente, pode levar a que o juiz destitua o perito e o substitua por outro.
Caso a substituição venha a acontecer, é notificado para comparecer perante a autoridade judiciária competente a fim de expor as razões por que não cumpriu o encargo. Se
for considerada violação grosseira dos deveres, o juiz pode, oficiosamente ou a requerimento, condená-lo ao pagamento de uma multa (n.º 1 e n.º 2 do artigo 469.º do CPC).
37. Tendo em conta que a avaliação é imparcial, os resultados obtidos podem não ir de encontro às expectativas de quem o solicitou, pelo que é da sua responsabilidade a
decisão de utilizar o relatório, ou não, para a finalidade inicialmente pretendida
PÁG. 36

06
ASPECTOS A TER EM CONTA DURANTE O
PROCESSO DE AVALIAÇÃO E ELABORAÇÃO
DO RELATÓRIO
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D urante a realização da avaliação e no relatório psi-


cológico forense/pericial emitido, é importante ser rigo-
Afirmações não fundamentadas.

Afirmações difamatórias, injuriosas ou desqualifica-


roso com aquilo que é dito do ponto de vista profissional.
doras sobre qualquer uma das pessoas avaliadas.
As conclusões devem ser sempre fundamentadas e res-
peitar todas as pessoas envolvidas.
Conclusões sobre uma das partes baseada apenas na
informação recolhida junto da outra, sem validação por
outros meios.
Não é admissível, em qualquer circunstância:
Fazer constar como facto, conclusão ou argumenta-
Invadir o direito à reserva da vida privada, através
ção a informação recebida apenas por uma das partes.
de questões supérfluas e desnecessárias. O psicólogo
deve, neste contexto, reger-se pelo princípio da inter-
Uma postura de parcialidade
venção mínima, fazendo uma triagem da informação a
enviar a tribunal, até porque os limites da confidenciali-
Juízos de valor.
dade só devem aplicar-se ao que diz respeito ao objecto
de perícia (devendo a informação sensível que não es-
teja directamente relacionada de alguma forma com a
Não obstante o psicólogo possuir autonomia técnico-
avaliação ficar ao abrigo do segredo profissional).
-científica para conduzir a avaliação e elaborar o relató-
rio pericial/forense, é importante que procure adequar o
Violar a intimidade das pessoas, permitindo a presen-
número de entrevistas realizadas, assim como o núme-
ça de terceiros durante a avaliação (incluindo situações
ro de provas aplicadas, de forma a que não se tornem
de formação académica), a menos que haja autorização
excessivas ou insuficientes, salvo se houver uma justifi-
expressa da pessoa avaliada. Em relação à presença das
cação adequada para tal.
partes ou de consultores técnicos/assessores da parte
38
contrária na perícia (por exemplo, consultor do pai na
As entrevistas devem ser realizadas tendo em conta não
perícia da mãe ou vice-versa, ou de algum deles na pe-
só a complexidade do caso, mas também as metodolo-
rícia da criança), esta situação está prevista nos termos
gias e informações pertinentes a serem recolhidas. Os
do n.º 3 do artigo 480.º do CPC. Ainda que o cliente seja
relatórios devem obedecer não só aos princípios éticos,
o sistema de justiça, o psicólogo (que pode estar no pa-
mas também legais.
pel de perito ou de consultor técnico/assessor) é apenas
obrigado a não guardar confidencialidade das questões
Ver Anexo 4 - exemplos de boas e más práticas em re-
que sejam essenciais e que se relacionem com o ob-
lação aos relatórios forenses/periciais neste âmbito.
jecto da perícia e quesitos solicitados. Contudo, tendo
em conta os papeis que representam, podem ter enten-
dimentos diferentes quanto à informação que deve ser
mantida confidencial.39 Assim, e caso a questão se colo-
que, e tendo em conta que o n.º 3 do artigo 480.º do CPC
até faz referência a “salvo se a perícia for susceptível de
ofender o pudor ou implicar quebra de qualquer sigilo
que o tribunal entenda merecer protecção”, o psicólogo
deve suscitar a questão junto do juiz do processo, para
que este possa efectuar a ponderação dos interesses
em causa e decidir.

Deixar dúvidas sobre as afirmações proferidas por


uma das partes (que devem ser transcritas e ser refe-
rido o contexto em que foram verbalizadas) e os actos e
comportamentos observados ou constatados, a sua ava-
liação, valoração e conclusões. É essencial diferenciar
sempre e evitar qualquer confusão entre as situações (o
que é verbalizado, observado, inferido ou constatado por
outros meios).

38. O artigo 480.º do CPC refere que: “1. Definido o objecto da perícia, procedem os peritos à inspecção e averiguações necessárias à elaboração do relatório pericial. 2. O juiz
assiste à inspecção sempre que o considere necessário. 3. As partes podem assistir à diligência e fazer-se assistir por assessor técnico, nos termos previsto do artigo 50.º, salvo
se a perícia for susceptível de ofender o pudor ou implicar quebra de qualquer sigilo que o tribunal entenda merecer protecção. 4. As partes podem fazer ao perito as observações
que entendam e devem prestar os esclarecimentos que o perito julgue necessários; se o juiz estiver presente, podem também requer o que entendam conveniente em relação ao
objecto da diligência”.

39. A este propósito, Carmo (2011) refere que “o perito está obrigado a transmitir, com verdade, ao tribunal, todos os factos de que tomou conhecimento e que respeitam ao objecto
da perícia, não podendo, quanto a eles, invocar legitimamente o segredo profissional (…) mas deve garantir a confidencialidade no que respeita a outros factos de que, no exercício
de tais funções, tenha tido conhecimento e que não constituam objecto de perícia (…) relativamente aos factos não integráveis no objecto de perícia, o dever de guardar segredo
profissional (…) mantém-se intocado” (pp. 48-49). Também Silva (1998) refere a importância de se seleccionar a informação que deve constar do relatório pericial, tendo em
conta o objecto do pedido, de forma a minimizar a exposição do sujeito e da sua intimidade.
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A seguir listam-se as referências bibliográficas que foram consultadas para a elaboração deste GUIA DE BOAS
PRÁCTICAS e que são importantes para aprofundar algumas das temáticas referidas.

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culado.php?nid=1028&tabela=leis&ficha=1&pagina=

Lei n.º 141/2015, de 8 de Setembro, actualizada pela


Lei 24/2017, de 24 de Maio (Regime Geral do Processo
Tutelar Cível). http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_
articulado.php?nid=2428&tabela=leis
PÁG. 45

ANEXO 1
GUIÃO DE ENTREVISTA AOS PAIS/CUIDADORES
40

Nota prévia: Este é um guião semi-estruturado que deve ser adequado à natureza da situação concreta. A informa-
ção a recolher depende do objecto da avaliação psicológica e das questões específicas a que se pretende dar resposta.

1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

2.

EXAME CLÍNICO E PSICOPATOLÓGICO
Aparência, postura, comportamento e actividade motora, atitude face ao avaliador, humor, perturbações ao nível da
percepção, processos e conteúdo de pensamento, ideação suicida ou homicida, linguagem, orientação no espaço e no
tempo, memória, atenção e concentração, pensamento concreto ou abstracto, conhecimento e inteligência, insight e
capacidade de julgamento/análise crítica.

3. ANTECEDENTES FAMILIARES
Padrões relacionais passados e actuais, crises normativas e não normativas, acontecimentos traumáticos e situações
de stresse, experiência de qualquer forma de maus-tratos, crenças e práticas religiosas, antecedentes médicos, psiqui-
átricos e criminais, consumo de substâncias, (tentativas de) suicídio.

4. ANTECEDENTES MÉDICOS/PSIQUIÁTRICOS DO EXAMINANDO


Perturbações psíquicas prévias e/ou correntes, avaliação de sinais e sintomas, grau de incapacidade associada, tipo e
duração do tratamento, eficácia do tratamento, medicação actual e adesão à mesma, possíveis efeitos secundários.

5. ANTECEDENTES CRIMINAIS DO EXAMINANDO


Acusações, condenações, pena de prisão ou pena alternativa. Explorar outro tipo de situações (e.g., suspensão provisória
de processo).

6. CONSUMO DE ÁLCOOL E DROGAS


O examinando consome ou consumiu álcool?
Sim
Não

Se sim, indicar: tipo, quantidade, idade de início, idade de paragem, tentativas de desintoxicação, complicações médicas,
repercussões sociais e no exercício da parentalidade.

O examinando consome ou consumiu droga?


Sim
Não

Se sim, indicar: tipo, quantidade, idade de início, idade de paragem, tentativas de desintoxicação, complicações médicas,
repercussões sociais e no exercício da parentalidade.

40. Adaptado a partir de Agulhas, R. (2017). Perícias em sede de Direito de família e das crianças e jovens no adulto e na criança: Proposta de um protocolo de avaliação. In
F. Vieira, A. Sobral, & C. Saraiva (Coord.). Manual de psiquiatria forense (pp. 253-275). Lisboa: Pactor.
PÁG. 46

7. HISTÓRIA ESCOLAR
Idade de início da escolaridade, rendimento escolar, escolaridade concluída, dificuldades específicas, problemas de dis-
ciplina ou comportamento, aptidões, idade e razão de abandono da escola, relações interpessoais com pares e profes-
sores.

8. HISTÓRIA PROFISSIONAL
Idade de início da actividade profissional, percurso profissional do indivíduo até à data, assiduidade, satisfação, proble-
mas particulares no trabalho, dificuldades com autoridade, demissões, ordenado actual, padrão relacional com colegas
e/ou chefias.

9. HISTÓRIA SOCIAL E DE LAZER


Competências de relacionamento interpessoal, ajustamento social, suporte/isolamento social, envolvimento em activi-
dades delinquentes, actividades de lazer estruturantes (efeito socializante) ou não estruturantes.

10. DINÂMICA FAMILIAR


Composição da família, condições de vida (habitação, vizinhança, etc.), recursos financeiros/gestão económica e defini-
ção de prioridades, suporte social (família alargada, vizinhos, amigos, recursos comunitários ou serviços); actividades e
rotinas da família (dia típico durante a semana e aos fins de semana, actividades realizadas em conjunto e separadamen-
te); estrutura e organização da família (papéis, tarefas, limites), padrões de comunicação, afectos, resolução de conflitos
(áreas de conflito, resolução típica).

11. RELACIONAMENTO CONJUGAL


A) História de relacionamentos anteriores
Relacionamentos anteriores, dinâmicas relacionais, filhos de anteriores relações, contactos e qualidade da relação com
os filhos.

B) História da relação com o outro progenitor


Como se conheceram, descrição da fase de namoro, decisão de união de facto/casar, diversas fases do ciclo de vida,
aspectos positivos no outro e na conjugalidade, fontes de stresse, funcionamento e satisfação (ao nível social, emocional,
sexual, económico e profissional), ajuda e suporte mútuo, impacto da parentalidade na conjugalidade, início dos proble-
mas de relacionamento, eventuais reconciliações.

Se houver referência a violência na relação de intimidade, importa avaliar: comportamentos específicos; duração,
frequência e intensidade dos comportamentos; se os comportamentos ocorrem/ocorreram na presença ou ausência da
criança, ou se esta veio a tomar conhecimento posteriormente; reacção da criança; eventual envolvimento da criança na
situação; eventual impacto desta vivência na criança. 41

C) Processo de separação ou divórcio


Iniciador/não iniciador; alterações ao nível emocional, social, económico, relacional; se alguém comunicou à criança,
quem, como e quando; reacções da criança/reações do(s) adulto(s).

Orientação futura: o que gostaria de estar a fazer/como se imagina daqui a 5 anos? 10 anos? 25 anos?

12. PARENTALIDADE
Gravidez e parto da criança: planeamento, vivência emocional, acompanhamento médico, saúde materna, consumo de
substâncias; peso e saúde do bebé; alimentação e contacto com os pais.

Período neo-natal e 1.ª infância: marcos de desenvolvimento, problemas precoces, sono, alimentação, comportamento,
autonomia, linguagem, temperamento.

41. Neste caso, avaliar a existência de situações de violência doméstica nas relações prévias.
PÁG. 47

Qualidade do relacionamento precoce e história da vinculação: prestação dos cuidados, expressão de afecto, responsi-
vidade parental; ansiedade de separação por parte da criança e formas de se conseguir acalmar.

História escolar: adaptação e reacção face à escola, desempenho escolar, relação com pares e adultos, necessidades
especiais.

História social: dinâmicas relacionais com os pares; com adolescentes explorar também as questões relativas à sexu-
alidade.

Relação progenitor/criança: que conhecimento tem do filho (percepção da criança e das suas especificidades, forma
como a descreve, qualidades e aspectos a melhorar; expectativas em relação à criança; em que difere ou é parecida com
os irmãos); prestação de cuidados (quais as necessidades da criança, como as satisfaz, projecção das necessidades no
futuro); interacções típicas (tempo passado em conjunto, actividades realizadas); expressão emocional (forma de mostrar
à criança que gosta dela); regras familiares e estratégias face ao seu cumprimento/incumprimento (regras existentes
em relação à criança; como lhe são ensinadas coisas novas e como é corrigida; tipo de problemas que tem sentido com
a criança e o que faz nessas situações; como reage quando a criança se porta mal). Pedir exemplos de situações em que
a criança tenha tido um comportamento positivo e um comportamento negativo (pouco grave e muito grave) - para am-
bos as situações, avaliar crenças e atribuições; o que pensa/sente/faz em relação às diversas situações exemplificadas.

Percepção de si enquanto progenitor: como se sente no papel de pai/mãe; o que considera mais fácil/difícil; o que lhe
gera gratificação, mau estar, raiva/irritação, ou frustração; competências e fragilidades/aspectos a melhorar.

Percepção do outro progenitor enquanto progenitor: caracterização do outro enquanto progenitor, competências e
fragilidades/aspectos a melhorar.

Áreas de acordo e desacordo no casal relativas à educação da criança: como é gerida a situação e como a criança lida
com isso.

13. REGIME DE CONVÍVIOS DA CRIANÇA


O que está definido; vantagens e constrangimentos sentidos; situação que considera ideal para o próprio e para a criança
e porquê; operacionalização da situação ideal; quais as necessidades da criança que identifica e qual a melhor forma de
as satisfazer.
PÁG. 48

ANEXO 2
GUIÃO DE ENTREVISTA À CRIANÇA
42

Nota prévia: Este é um guião semi-estruturado que deve ser adequado à natureza da situação concreta. A informa-
ção a recolher depende do objecto da avaliação psicológica e das questões específicas a que se pretende dar resposta.

QUESTÕES PRÉVIAS
A entrevista deve decorrer num setting adequado à idade da criança, em termos de decoração e materiais lúdicos dis-
43
poníveis.

A entrevista deve iniciar-se com a apresentação do(s) interveniente(s) e das suas funções. Informar sobre os métodos de
registo da entrevista.

Clarificar que a criança tem o direito a ser ouvida e a dizer o que pensa e o que sente.
Explicar as regras da entrevista (não existem respostas certas ou erradas, pode responder que não sabe ou não se lem-
bra, pode dizer que não percebeu algo, pode fazer perguntas).

Avaliar as expectativas da criança face ao processo de avaliação e, se necessário, clarificá-las.

Explicar os limites da confidencialidade (podendo recorrer-se à metáfora do “bom segredo” e “mau segredo”, deixando
claro que os pais poderão vir a ter acesso à informação dada).

Iniciar a entrevista com a exploração de temas neutros (e.g., escola, amigos, brincadeiras preferidas).

1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

2. EXAME CLÍNICO E PSICOPATOLÓGICO


Aparência, postura, comportamento e actividade motora, atitude face ao avaliador, humor, perturbações ao nível da
percepção, processos e conteúdo de pensamento, tipo de vocabulário, capacidade para narrar eventos, orientação no
espaço e no tempo, memória, atenção e concentração, pensamento concreto ou abstracto, conhecimento e inteligência,
distinção entre verdade/não verdade, conhecimento sobre as possíveis implicações da mentira, distinção entre realidade/
fantasia.

3. ENQUADRAMENTO ESCOLAR E SOCIAL


Percurso escolar, o que gosta mais e menos na escola, se já mudou ou gostaria de mudar de escola (se sim, porquê),
rendimento escolar, sucessos e dificuldades, o que pensa e sente acerca dos sucessos/dificuldades, padrão relacional
com pares, professores e pessoal não docente, percepção da escola e expectativas face ao futuro, actividades extra-cur-
riculares e sociais.

4. RELAÇÃO COM OS PARES


Identificação dos colegas/amigos, contextos, natureza da relação, actividades que fazem em conjunto, estratégias de
resolução de conflitos, sentimentos de integração/isolamento social, tipo de apoio recebido.

42. Adaptado a partir de Agulhas, R. (2017). Perícias em sede de direito de família e das crianças e jovens no adulto e na criança: Proposta de um protocolo de avaliação. In
F. Vieira, A. Sobral, & C. Saraiva (Coord.). Manual de psiquiatria forense (pp. 253-275). Lisboa: Pactor.
43. Ver https://crlisboa.org/2017/imagens/Audicao-Crianca-Guia-Boas-Praticas.pdf
PÁG. 49

5. AUTO-CONCEITO
Como é se vê a si mesma (aspectos que gosta mais e outros que gostaria de alterar, de que forma e porquê), situações
associadas a diferentes emoções (o que a faz sentir… alegria/tristeza/medo/raiva/culpa/vergonha… como reage?... como
reagem as outras pessoas?).

6. DINÂMICAS FAMILIARES
6.1 Dinâmica familiar prévia ao processo de separação/divórcio
Percepção da relação entre os pais: o que faziam em conjunto, rotinas, áreas de acordo e desacordo, estratégias de re-
solução dos conflitos, emoções, explorar eventual consumo de substâncias e eventuais situações de violência na relação
de intimidade.

Relação da criança com os pais: o que faziam juntos, quem assegurava as diversas rotinas e de que forma, emoções
associadas a cada um dos pais, práticas parentais.

Relação com as famílias de origem ou outros significativos.

6.2 Processo de separação/divórcio


Conhecimento que tem do processo de separação, o que lhe foi dito, por quem, como e quando, o que pensou e sentiu,
atribuições (porque acha que os pais se separaram), mudanças na sua vida associadas à separação/divórcio.

Avaliar se existe fantasia de reconciliação ou crenças disfuncionais sobre o processo de separação parental.

6.3 Dinâmica familiar após o processo de separação/divórcio


O que aconteceu depois dos pais se separarem, regime de contactos com ambos os pais, emoções experienciadas pela
criança, eventuais aspectos que gostaria de alterar, como e porquê, mudanças de escola/amigos/rede social (explorar
sentimentos associados às diversas mudanças).

Para cada agregado familiar, explorar: rotinas diárias (semana/fim de semana/férias; tarefas ou actividades que faz com
cada um dos elementos da família), momentos agradáveis ou desagradáveis (o que gosta mais e menos e porquê), per-
cepção de cada elemento da família e padrões relacionais (e.g., papel de cada um, regras e métodos de disciplina, per-
cepção da relação e conflitos parentais), aspectos mais positivos e eventuais aspectos a melhorar em cada elemento da
família, emoções associadas a cada elemento da família, natureza dos contactos e da relação com a família de origem.

Avaliar a existência de alianças/conflitos de lealdade/sugestionabilidade, se os pais costumam falar um do outro e, se


sim, o que dizem em relação ao outro e a quem.

Se a criança referir algum destes aspectos…


(comportar-se mal) Clarificar (pedir exemplos e contexto), o que dizem ou fazem os pais/outras pessoas, emoções as-
sociadas.

(castigos) Natureza e frequência dos castigos, contexto, quem os aplica, consequências do seu incumprimento, descri-
ção dos piores castigos.

(bater) Clarificar como é que os pais batem, com o quê (mão, objecto, etc.), em que parte do corpo, frequência (acon-
teceu uma vez ou mais do que uma vez) e contexto. Avaliar a eventual existência de marcas ou feridas, se alguém as
viu ou se contou a alguém (se sim, avaliar a reacção dessa pessoa). Pedir para descrever detalhadamente uma ou mais
situações de que se recorde melhor.

(nomes feios, asneiras ou ameaças) Clarificar (pedir exemplos e contexto), frequência e emoções associadas. Pedir para
descrever detalhadamente uma ou mais situações de que se recorde melhor.

(violência entre os pais) Clarificar (pedir exemplos e contexto), o que acontece quando os pais não estão de acordo, se
já viu/ouviu (ou tomou conhecimento) de gritos, violência verbal e/ou física, emoções associadas. Avaliar se alguma vez
alguém ficou magoado (se sim, quem e como). Pedir para descrever detalhadamente uma ou mais situações de que se
recorde melhor.
PÁG. 50

Identificar pessoas de confiança: se alguma vez pediu ajuda ou contou a alguém, a quem, como e qual a reacção dessa
pessoa.

Avaliar o grau de segredo da situação: se alguma vez os pais lhe pediram segredo e como acha que os pais poderão
reagir se souberem que outras pessoas têm conhecimento da situação.

7. EXPECTATIVAS
Perspectivas face ao futuro, o que gostaria ou receia que aconteça e porquê, três desejos que gostaria que acontecessem
na sua vida.
PÁG. 51

ANEXO 3
INSTRUMENTOS ESTANDARDIZA- Matrizes Progressivas Coloridas de Raven – Forma
DOS (TESTES, QUESTIONÁRIOS E Paralela (CPM-P; Raven, Raven, & Court, 2009).
ESCALAS) E OUTRAS PROVAS Matrizes Progressivas Estandardizadas de Raven
NÃO ESTANDARDIZADAS (SPM; 1938).

Matrizes Progressivas de Raven - Forma Avançada


O psicólogo deve recorrer a instrumentos adaptados, (APM; 1962).
validados e aferidos para a população que será objecto
da avaliação. Os instrumentos devem possuir adequada Montreal Cognitive Assessment (MoCA; Nasreddine et
validade e fiabilidade para serem utilizados no contexto al., 2005; Simões et al., 2008; Freitas et al., 2011; Freitas
forense. Tendo em conta a especificidade da avaliação, et al., 2013; Freitas et al., 2014).
não existem muitos instrumentos que estejam adapta-
dos e aferidos para a população portuguesa, pelo que
o psicólogo deve recorrer àqueles que tenham sido
previamente alvo de investigação científica adequada, AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE
referidos na literatura pelas suas qualidades métricas
44
(e.g., validade, fiabilidade e sensibilidade). Deve ainda Escala do Autoconceito de Piers-Harris – 2 (PHCSCS-2;
socorrer-se de instrumentos de avaliação diversificados Piers & Herzberg, 2002; Veiga, 2006).
(«multimethod-multisource approach»).
Inventário Multifásico de Personalidade de Minneso-
A aplicação deve ocorrer num setting adequado, por for- ta - 2 (MMPI-2; Butcher, Dahlstrom, Graham, Tellegen,
ma a garantir a qualidade e o rigor dos resultados ob- & Kaemmer, 1989, 2001; Weiner & Greene, 2008; Silva,
tidos. Novo, Prazeres, & Pires, 2006).

A seguir, e na impossibilidade de listar todos os ins- Inventário Multifásico de Personalidade de Minnesota


trumentos existentes (até pela constante evolução do - Adolescentes (MMPI-A; Butcher et al., 1992; Weiner &
conhecimento), identificamos alguns dos que são reco- Greene, 2008; Silva, Novo, Prazeres, & Pires, 2006).
mendados na literatura consultada e/ou cuja utilização
pode ser útil para avaliações nesta área com crianças e Inventário de Avaliação da Personalidade (PAI; Morey,
progenitores. Estes instrumentos, com valor de utilida- 1991, 2007; em fase de adaptação e validação para a
de diferenciada, têm estudos na população portuguesa população portuguesa: Paulino, Simões, Rijo, & Moura,
(autores e datas das publicações assinalados a seguir 2018).
a cada instrumento) e são usados neste contexto em
Portugal. É necessária mais investigação publicada com Questionário para a Avaliação de Candidatos à Adoção,
estes instrumentos no âmbito específico da Regulação Tutores e Cuidadores (CUIDA; Bermejo et al., 2008).
do Exercício das Responsabilidades Parentais e Regime
de Convívios. Inventário Clínico Multiaxial de Millon – versão III (MC-
MI-III; Millon, Davis, & Millon, 1997).

AVALIAÇÃO INTELECTUAL/COGNITIVA Inventário Clínico de Millon - versão para adolescen-


tes (MACI; Millon, 1993; Cavaco, 2004).
Escala de Inteligência de Wechsler para Adultos – Ver-
são III (WAIS-III; Wechsler, 1997, adaptação portuguesa Inventário de Personalidade NEO Revisto (NEO-PI-R;
de CEGOC, 2008). Costa & MacCrae; adaptação portuguesa de Lima & Si-
mões, 2000).
Escala de Inteligência de Wechsler para Crianças –
Versão III (WISC-III; Wechsler, 1991, adaptação portu- Inventário Clínico de Auto-Conceito (ICAC; Vaz Serra,
guesa de Simões et al., 2003). 1985, 1986).

Figura Complexa de Rey (FCR; Rey, 1964; Rocha & Co- Inventário de Personalidade NEO-FFI (versão reduzida;
elho, 1998; Bonifácio et al., 2003; Simões et al., 2016). Pedroso-Lima, Magalhães, Salgueira, Gonzalez, Costa,
Costa, & Costa, 2014).
Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (CPM;
1947/1958)

44. Ver Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses (2016). Princípio Específico n.º 4: Avaliação Psicológica.
PÁG. 52

Questionário de Personalidade de Eysenck – Forma Questionário de Capacidades e de Dificuldades (SDQ-


Revista (EPQ-R; Eysenck & Eysenck, 1975, 1993; Eysen- -Por; Goodman, 1997; adaptação portuguesa de Fonse-
ck, Eysenck, & Barrett, 1985; Almiro & Simões, 2012, ca, Loureiro, & Gaspar, 2003).
2014).
Questionário de Vulnerabilidade ao Stress (23-QVS;
Questionário de Personalidade de Eysenck – Forma Vaz Serra, 2000).
para Jovens (EPQ-J; Eysenck & Eysenck, 1975, 1993;
Fonseca, 1989, 1992). Escala de Impulsividade de Barratt – 11.ª Versão (BIS-
11; Patton, Stanford & Barratt, 1995; Stanford et al.,
Técnica Projectiva de Rorschach (Roschach, 1921; 1948; 2009; versão portuguesa para investigação de Cruz &
1994; 2009; Pires, 2014). Barbosa, 2012).

Teste de Apercepção Infantil - versão animal e humana Escala de Baixo Autocontrolo (EBA; Grasmick, Tittle,
(CAT-A e CAT-H; Bellak, 1949 e 1965; versão portuguesa Bursik, & Arneklev, 1993; Fonseca, 2002).
de Silva, 1980).

Teste Apercetivo de Roberts para Crianças (RATC;


McArthur & Roberts,1994; estudos portugueses de Gon- AVALIAÇÃO DE ESTILOS DE RESPOSTA: DESEJABI-
çalves, Morais, Pinto, & Machado, 1999). LIDADE SOCIAL

Family Apperception Test (FAT; Sotile, Julian, Henry, & Escala de Desejabilidade Social de 20 Itens (EDS-20;
Sotile, 1988). Simões, Almiro, & Sousa, 2014; Almiro et al., 2017).

Escala de Desejabilidade Social de Coimbra (DESCA;


Alberto, Oliveira, & Fonseca, 2012).
AVALIAÇÃO CLÍNICA DE SINTOMAS
PSICOPATOLÓGICOS

Symptom Checklist 90 – Revised (SCL-90-R; Derogatis, AVALIAÇÃO DE DIMENSÕES DA PARENTALIDADE


1977, 1983, 1994).
Inventário de Práticas Educativas Parentais (IPE; Gon-
Inventário de Sintomas Psicopatológicos (BSI; Deroga- çalves, Machado, & Matos, 2008).
tis, 1982; Canavarro, 1999, 2007).
Escala de Crenças sobre a Punição Física (ECPF; Ma-
Inventário de Depressão de Beck, 2.ª Edição (BDI-II; chado, Gonçalves, & Matos, 2008).
Beck, Steer, & Brown, 1996; Martins & Coelho, 2000;
Campos & Gonçalves, 2011; Oliveira-Brochado, Simões Escala de Lembranças sobre Práticas Parentais (EMBU
& Paúl, 2014). - Memórias de Infância; Perris, Jacobson, Lindstorm,
von Knorring, & Perris, 1980; adaptação portuguesa de
Inventário de Depressão para crianças (CDI; Kovacs, Canavarro, 1996, 1999).
1983, 1992; Dias & Gonçalves, 1999).
Escala de Avaliação dos Estilos Educativos Parentais
Inventário de Estado-Traço de Ansiedade (STAI; Spiel- - versão pais (EMBU-P; Castro, 1993; Castro, Pablo, Gó-
berg et al., 1970, 1983; adaptação portuguesa de Santos mez, Arrindel, & Toro, 1997; adaptação portuguesa de
& Silva, 1997; Silva & Campos, 1998; Silva, 2003). Canavarro & Pereira, 2007).

Inventário de Estado-Traço de Ansiedade para Crian- Escala de Avaliação dos Estilos Educativos Parentais
ças (STAIC; Spielberger et al., 1973; Dias & Gonçalves, - versão filhos 6-12 (EMBU-C; Castro, Toro, Van Der
1999). Ende, & Arrindell, 1993; adaptação portuguesa de Ca-
navarro & Pereira, 2007).
Escala de Ansiedade Manifesta para Crianças – Revis-
ta (CMAS-R; Reynolds & Richmond, 1978; Reynolds & Escala de Avaliação dos Estilos Educativos Parentais
Paget, 1981; Castro Fonseca, 1992; Dias & Gonçalves, - versão filhos 12-16 (EMBU-A; Gerlsma, et al., 1991;
1999). adaptação portuguesa de Lacerda, 2005).

Inventário de Medos para Crianças - Revisto (FSSC-R; Questionário de Estilos e Dimensões Parentais – Ver-
Ollendick, 1983; Gonçalves & Dias, 1999). são Reduzida (PSDQ; Robinson, Mandleco, Olsen, &
Hart, 2001; adaptação portuguesa de Miguel, Valentim,
Inventários de Comportamento de Achenbach - CBCL, & Carugati, 2009).
YSR e TRF (Achenbach, 1991; Achenbach & McConauh-
gy, 1997; Achenbach & Rescorla, 2000, 2001; Achenbach Escala de Investimento Parental na Criança (PIC; Bra-
et al., 2014). dley, Whiteside-Mansell, & Brisby, 1997; adaptação por-
PÁG. 53

tuguesa de Gameiro, Ramos, & Canavarro, 2007).

Escala de Avaliação da Comunicação na Parentalidade


– versões para pais (COMPA-P), para filhos 7-11 anos
(COMPA-C) e filhos 12-16 anos (COMPA-A) (Portugal &
Alberto, 2010).

Questionário de ajustamento interparental – versão


pais (QAI-P), versão filhos 10-17 anos (QAI-F) (Simões,
Ferreira, & Alberto, 2020).

Escala de Vinculação do Adulto (EVA; Collins & Read,


1990; Canavarro, 1995).

Inventário sobre a Vinculação na Infância e Adolescên-


cia – Versão de Auto e Hetero-Avaliação (IVIA; Carva-
lho, Soares, & Baptista, 2006).

Índice de Stress Parental (PSI; Abidin, 1976, 1983, 1990,


1995; adaptação portuguesa de Santos, 2003).

Sinalização do Ambiente Natural Infantil (SANI; Sani,


2003).

Escala de Crenças da Criança sobre a Violência (ECCV;


Sani, 2003)

Escala de Percepções da Criança sobre os Conflitos In-


terparentais (Sani, 2003)

Desenho da Família (Corman, L., 1982).

AVALIAÇÃO DAS DINÂMICAS ASSOCIADAS AO ABU-


SO SEXUAL E VIOLÊNCIA NA RELAÇÃO ÍNTIMA

Escala de Crenças sobre a Violência Conjugal (ECVC.;


Machado, Matos, & Gonçalves, 2008).

Inventário de Violência Conjugal (IVC; Machado, Matos,


& Gonçalves, 2008).

Escala de Crenças sobre Abuso Sexual (ECAS; Macha-


do, Gonçalves, & Matos, 2000).

Questionário de Representações sobre Abuso Sexual


de Crianças - Histórias (QRASC-HIS; Alberto, Alarcão,
Fazenda, & Querido, 2008).

Questionário sobre Abuso Sexual de Crianças – Facto-


res Desencadeadores, Manutenção e Resolução (QAS-
CFMR; Alberto, Alarcão, Querido, & Fazenda, 2008).

Escala de Crenças associadas com o Abuso Sexual In-


fantil (Jehu, Klassen, & Gazan, 1986; versão para inves-
tigação de Machado, 2000)

Escala de avaliação de Medos associados ao Abuso Se-


xual (Wolfe & Wolfe, 1988; versão para investigação de
Machado, s/d)
PÁG. 54

ANEXO 4
BOAS E MÁS PRÁTICAS PARA
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA FORENSE/PERICIAL
(FASE INICIAL - Recepção do pedido de avaliação pericial/forense)

BOAS PRÁTICAS MÁS PRÁTICAS

› Averiguar e clarificar o pedido de avaliação › Redigir um relatório sobre o diagnóstico e


pericial/forense: o quê, para quê, porquê, intervenção que se está a realizar com uma
para quem. criança, sem informar previamente ambos os
progenitores.
› Informar sobre as características da ava-
liação pericial/forense: pronunciar-se › Aceitar realizar para um advogado (ou uma
sobre a melhor opção para a criança de das partes) uma avaliação clínica da criança,
forma imparcial, tendo por base uma in- em vez de uma avaliação sobre a criança e o
formação completa e rigorosa de todos os seu contexto, com o consentimento prévio de
elementos, que permita concluir e respo- ambos os pais.
der aos quesitos.
› Aconselhar ou dar instruções a ambas as fi-
› Informar quem solicita a avaliação (se não guras parentais como se fosse um processo
for o tribunal), que a avaliação se realizará de aconselhamento ou terapêutico.
tendo por princípio o superior interesse da
criança. Por esse motivo, as conclusões › Dar por verdadeira toda a informação que
podem ser contrárias aos interesses de aparece na denúncia inicial por maus tratos
quem solicita a avaliação. e/ou violência doméstica.

› Procurar verificar se existe denúncia e em › Ignorar a existência de registo criminal exis-


que fase está o processo, nos casos em tente por parte de qualquer um dos envol-
que existem alegações de maus tratos vidos, relacionado com esse ou com outro
e/ou violência doméstica. processo.

(A verde estão as situações a ter em conta no caso de alegações de maus tratos e/ou
violência doméstica)
PÁG. 55

ANEXO 4
BOAS E MÁS PRÁTICAS PARA
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA FORENSE/PERICIAL
(FASE DE DESENVOLVIMENTO)

BOAS PRÁTICAS MÁS PRÁTICAS

› Avaliar o contexto familiar, escolar e so- › Avaliar o estado emocional, cognitivo, social e
cial. psicomotor da criança no momento da avalia-
ção e não se pronunciar sobre o prognóstico.
› Avaliar o desenvolvimento psicológico e o
bem-estar da criança, o grau e a etiolo- › Avaliar a idoneidade apenas de um dos pro-
gia da perturbação (se for caso disso) e a genitores.
influência de cada membro do meio am-
biente sobre eles. › Aceitar como sendo uma informação objectiva
ou colocar em causa a idoneidade de um dos
› Diversificar os instrumentos de observa- progenitores, apenas com base na informação
ção e registo, priorizando a descrição em dada pelo outro ou por terceiros, sem a validar
vez da categorização diagnóstica. por outros meios.

› Avaliar a existência de maus-tratos à › Estabelecer relações lineares, unidimensio-


criança. nais de causa-efeito entre um progenitor e a
perturbação da criança.
› Explorar indicadores específicos e/ou
áreas relacionadas com a violência do- › Considerar que não é necessário avaliar am-
méstica. bos os progenitores por existirem alegações
de maus tratos e/ou violência doméstica.
› Quando existem alegações de violência
doméstica, avaliar ambos os progenito- › Não ter em conta a possível incidência de as-
res, sem partir do pressuposto de que pectos penais de um processo sobre os aspec-
um é a vítima e o outro o agressor. tos civis (e.g., proibição de contactos entre os
progenitores).

› Não considerar todas as opções possíveis pela


mera existência de uma denúncia prévia de
maus tratos e/ou violência doméstica.

(A verde estão as situações a ter em conta no caso de alegações de maus tratos e/ou
violência doméstica)
PÁG. 56

ANEXO 4
BOAS E MÁS PRÁTICAS PARA
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA FORENSE/PERICIAL
(FASE FINAL - Elementos específicos do relatório pericial/forense)

BOAS PRÁTICAS MÁS PRÁTICAS

› Descrever as vantagens e desvantagens das › Não enquadrar e contextualizar devidamente


diferentes possibilidade de RERP e regime de eventuais alterações normativas que a criança
convívios da criança com cada um dos pais. possa apresentar e que traduzem um ajustamen-
to ao divórcio.
› Pronunciar-se sobre uma determinada opção
com base na avaliação realizada, devidamen- › Ir para além do que é razoável afirmar com base
te fundamentada. na informação recolhida e não recolhida.

› Fazer recomendações com base nas caracte- › Confundir o relatório com excesso de dados irre-
rísticas do sistema familiar e indicar eventu- levantes ou vários dados psicométricos, sem es-
ais acompanhamentos necessários. tabelecer um sistema coerente que os relacione.

› Recomendar a suspensão de convívios e contac-


tos com o progenitor não avaliado.

› Considerar como verdadeiras todas as afirma-


ções proferidas pela criança, a partir da premissa
de que as crianças «dizem sempre a verdade».

› Propor medidas inviáveis ou incoerentes.

› Considerar a opção materna de residência


como a única possível para uma criança ou
considerar que esta é sempre adequada,
porque se demonstrou a existência de vio-
lência doméstica face à mãe por parte do pai
(e o inverso quando existe violência por par-
te da mãe face ao pai).

(A verde estão as situações a ter em conta no caso de alegações de maus tratos e/ou
violência doméstica)
PÁG. 57

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