Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PSICOLOGIA
HOSPITALAR
Coordenadores
Paola Bruno de Araujo Andreoli
Andrea Vannini Santesso Caiuby
Shirley Silva Lacerda
Editoras da série
Renata Dejtiar Waksman
Olga Guilhermina Dias Farah
EDITORAS
DA SÉRIE
Hudson W. de Carvalho
Psicólogo e Mestre em Psicologia do Desenvolvimento Humano pela Uni
versidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutor em Ciências da Saú
de pelo Departamento de Psiquiatria da Unifesp.
Selma Bordin
Especialista em Psicologia Clínica pelo Conselho Regional de Psicologia,
em Dependência Química pela Unifesp e em Terapia Cognitiva pelo Insti
tuto de Terapia Cognitiva Dra. Ana Maria Serra. Psicóloga Sênior do Cen
tro de Medicina Preventiva do HIAE. Membro da Associação Brasileira
XIV MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
Carta do presidente.................................................................................................................XVII
Palavra do Vice-presidente..................................................................................................... XIX
Prefácio..................................................................................................................................... XXI
Apresentação...........................................................................................................................XXV
Cláudio Schvartsman
Vice-presidente da Sociedade Beneficente
Israelita Brasileira Albert Einstein
PREFÁCIO
Atualmente, mesmo ainda não tendo consolidado muitos dos seus de
safios, os profissionais são chamados a conhecer e responder às grandes e
urgentes demandas da saúde reconhecidamente caracterizadas pela tran
sição epidemiológica, como a maior expectativa de vida e todas as suas
consequências, e pela forte concentração das doenças crônicas, que é uma
das principais preocupações dos sistemas de saúde, além dos desafios da
promoção de comportamentos saudáveis como forma de prevenção das
doenças e agravos.
Depreende-se dessa nova realidade a necessidade de formação espe
cializada com competências diferenciadas e conhecimentos mais amplos
sobre a situação em que se pretende atuar. O psicólogo que hoje entra
no hospital é um profissional diferente em sua visão, suas abordagens,
seus referenciais teórico-práticos em sua postura diante das demandas
assistenciais, adquirindo um alargamento de suas funções.
A despeito do tipo de instituição, se pública ou privada, o primeiro e
grande desafio do psicólogo tem sido desenvolver a capacidade de geren
ciar sua própria tarefa e, acima de tudo, a limitação de sua atuação. Não
é raro a demanda para a qual o profissional é contratado não correspon
der à verdadeira expressão de valor do seu trabalho. Redimensionar as
demandas e, principalmente, delimitar sua atuação, ou seja, gerenciar o
próprio trabalho, podem ser considerados seu primeiro e grande desafio.
Embora tenhamos habilidades para gerenciar a demanda clínica, o
percurso terapêutico e as tarefas rotineiras na prática hospitalar, poucos
são os profissionais que possuem clareza e estratégias constituídas para
lidar com as situações adversas que a dinâmica das instituições impõe.
Somente o maior e o melhor conhecimento sobre as forças que atuam na
composição da oferta de serviços em saúde é que poderão capacitá-lo a
negociar e ajustar sua atuação de maneira a ser reconhecido, valorizado
e necessário.
Pertencer ao conjunto das atividades da saúde, contudo, não se dá sem
tuna interlocução constante e objetiva com a equipe de trabalho. A transia-
PSICOLOGIA HOSPITALAR XXIII
INTRODUÇÃO
A internação hospitalar provoca diferentes reações no indivíduo, trazen
do alterações na vida cotidiana e redefinição de papéis. A intensidade do
impacto emocional da hospitalização depende, entre outros fatores, da
condição psíquica prévia de cada pessoa, do momento de vida em que
a internação ocorre, do suporte social existente e da gravidade da con
dição de saúde. É nesse contexto que o psicólogo hospitalar atua. Sua
inserção na área hospitalar busca a significação da doença para o pa
ciente e seus familiares, redefinindo seus limites profissionais no espaço
institucional.1
As possibilidades de atuação no hospital são determinadas e limitadas
pela instituição, que é caracterizada por regras, rotinas e dinâmicas de
funcionamento.2
Dentre os vários objetivos do psicólogo no hospital-geral, destacam-se
a minimização do sofrimento causado pela hospitalização, a busca pela
humanização das relações travadas nesse contexto e a promoção coorde-
MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
1. Reação a uma doença física: observa-se que 9 a 21% dos pacientes in
ternados em hospital-geral apresentam reações de ajustamento diante
da internação. Essa reação está correlacionada com a personalidade,
a história pessoal e familiar de doenças anteriores e o tratamento ne
cessário a ser submetido.
2. Provocando a doença física: sintomas de depressão, cansaço, perda da
libido e ansiedade fóbica podem estar correlacionados com doenças
(p.ex., infarto).
3. Manifestado pela doença física de base: em aproximadamente 14%
dos casos que apresentam algum transtorno psiquiátrico, a patologia
física encontra-se na etiologia dos sintomas, por exemplo, a ansieda
de e os ataques de pânico como consequência de hipertireoidismo ou
hipoglicemia.
4. Manifestado por meio de queixas corporais: estima-se que 60 a 80%
das pessoas possuam algum sintoma corporal ao longo de 1 semana,
cuja etiologia os médicos não são capazes de determinar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Romano BW. Princípios para a prática da psicologia clínica em hospitais. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 1999.
2. Angerami-Camon VA. Elementos institucionais básicos para a implantação do serviço
de psicologia no hospital. In: Angerami-Camon VA (ed.). A psicologia no hospital. São
Paulo: Traço, 1987. p. 11-39.
3. Angerami-Camon VA. Psicologia hospitalar: teoria e prática. São Paulo: Pioneira, 2001.
4. Botega NJ, Smaia SI. Morbidade psiquiátrica no hospital geral. In: Botega NJ (ed.).
Prática psiquiátrica no hospital geral: interconsulta e emergência. Porto Alegre: Art-
med, 2002. p. 31-42.
PSICOLOGIA HOSPITALAR 9
Hudson W. de Carvalho
Andrea Vannini Santesso Caiuby
INTRODUÇÃO
A avaliação psicológica se caracteriza por um conjunto amplo de procedi
mentos investigativos que envolvem um corpo organizado de princípios
teóricos, metodológicos e técnicos de descrição e medida de dimensões
psicológicas e comportamentais. Assim, as estratégias e os instrumentos
empregados para fins de avaliação devem estar circunscritos por um re
ferencial teórico próprio da psicologia e pelos objetivos que justificam
seu emprego.
A avaliação da personalidade é tanto uma aplicação clínica quanto
uma área de investigação específica da avaliação psicológica. Seu obje
tivo é descrever a estrutura e o funcionamento dos traços psicológicos e
revelar diferenças individuais relevantes para quem está sendo avaliado,
levando em consideração o temperamento, o funcionamento socioafeti-
vo e os mecanismos intrapsíquicos de defesa do ego e do self.
Em sua tangente clínica, a avaliação da personalidade está frequente
mente associada à avaliação compreensiva, característica de um proce
dimento psicodiagnóstico.1 Este pode ser definido como uma descrição
12 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
Fundamentos da testagem psicológica
O termo “teste” é popularmente empregado para se referir a um exame
no qual um indivíduo é avaliado de acordo com o grau de correção com
PSICOLOGIA HOSPITALAR 13
*
Considera-se que o conteúdo da pulsão é constituído por dois elementos distintos:
o afeto (carga afetiva emanada da pulsão e não recalcável no inconsciente) e a re
presentação (conteúdo concreto de um ato de pensamento).35
26 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
Devolutiva
A devolutiva é uma técnica de devolução das informações psicodiag-
nósticas e prognosticas discriminada e dosifícada, que deve impera
tivamente ser realizada. Diante das capacidades psíquicas do paciente na
PSICOLOGIA HOSPITALAR 33
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este capítulo objetiva apresentar subsídios conceituais e técnicos a psi
cólogos que trabalham ou pretendem trabalhar no contexto da psicolo
gia hospitalar. Alguns pontos merecem ser ressaltados, visando ao de
senvolvimento de prática consistente e à crítica no âmbito da avaliação
psicológica.
É importante ressaltar que, para alcançar o referido objetivo, o psi
cólogo deve ter como condição indispensável um repertório conceituai
bem estabelecido. O conhecimento teórico permite a escolha adequada
do instrumento de avaliação, a interpretação consistente dos resultados
e, principalmente, sua correta aplicação, visando ao benefício do pacien
te no contexto hospitalar. Mais ainda, a assimilação de marcos teóricos
propicia ao profissional a percepção de critérios pertinentes que demar
cam com clareza os motivos da aplicação do instrumental.
Finalmente, todo procedimento de avaliação e de psicodiagnóstico
deve ser norteado pelos princípios éticos da profissão, dentre os quais o
benefício ao paciente deve ser colocado em destaque.
34 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Cunha JA (org.). Psicodiagnóstico-V. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
2. Anastasi A, Urbina S. Testagem psicológica. Porto Alegre: ArtMed, 2000.
3. Pasquali L. Psicometria: teoria dos testes na psicologia e na educação. Petrópolis: Rio
de Janeiro: Vozes, 2003.
4. Urbina S. Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre: ArtMed, 2007.
5. Araujo MF. Estratégias de diagnóstico e avaliação psicológica. Psicologia: teoria e prá
18. Eysenck HJ. Personality and experimental psychology: the unification of psychology
and the possibility of a paradigm. Journal of Personality and Social Psychology 1997;
173:1224-37.
19. Clark LA, Watson D. Temperament: a new paradigm for trait psychology. In: Pervin LA,
John OP. Handbook of personality. 2.ed. New York: Guilford Press, 1999. p. 399-423.
20. Tellegen A. Structures of mood and personality and their relevance to assess anxiety,
with an enphasis on self-report. In: Tuma AH, Maser JD. Anxiety and anxiety disorder.
Hillsdale: Erlbaum, 1985. p. 681-706.
21. Watson D, Clark LA. Bahavioral disinhibition versus constraint: a dispositional pers
pective. In: Wegner DM, Pennebacker JW. Handbook of mental control. New York:
Prantice Hall, 1993. p. 506-27.
22. Gough HG. California Psychological Inventory (administrator’s guide). Palo Alto: Con
sulting Psychological Press, 1987.
23. Hutz CS, Silveira AD, Serra JG et al. O desenvolvimento de marcadores para a ava
liação da personalidade no modelo dos cinco grandes fatores. Psicologia. Reflexão e
Crítica 1998; 11:395-415.
24. Goldberg LR. An alternative description of personality: the big-five-factor structure.
Journal of Personality and Social Psychology 1990; 59:1216-29.
25. Goldberg LR. The structure of phenotypic personality traits. American Psychologist
1993; 48:26-34.
26. McCrae RR et al. Universal features of personality traits from the observer’s pers
pective: date from 50 cultures. Journal of Personality and Social Psychology 2005;
88(3):547-61.
27. Digman JM. Higher-order factors of the Big Five. Journal of Personality and Social
Psychology 1997; 73:1246-56.
28. Markon KE, Kurueger RF, Watson D. Delineating the structure of normal and abnormal
personality: an integrative hierarchical approach. Journal of Personality and Social
Psychology 2005; 88 139-57.
29. Nunes CHSS, Hutz CS, Nunes MFO. Batería Fatorial de Personalidade (BFP): manual
técnico. Itatiba: Casa do Psicólogo, 2010.
36 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
30. Boulanger JJ. Aspecto metapsicológico. In: Bergeret J. Psicopatologia teórica e clínica.
Porto Alegre: Artes Médicas, 2007. p. 52-88.
31. Freud S. Projeto de uma psicologia científica (1895). In: Obras completas de Sigmund
Freud. Vol. 1. Rio de Janeiro: Imago, 1980a. p. 403-62.
32. Freud S. Além do princípio do prazer (1920). In: Obras completas de Sigmund Freud.
Vol. 18. Rio de Janeiro: Imago, 1980b. p. 13-85.
33. Freud S. O Ego e o ID (1923). In: Obras completas de Sigmund Freud. Vol. 19. Rio de
Janeiro: Imago, 1980b. p. 13-76.
34. Freud S. Novas conferências introdutórias sobre a psicanálise (1932). In: Obras com
pletas de Sigmund Freud. Vol. 22. Rio de Janeiro: Imago, 1980b. p. 13-220.
35. Laplanche J. Vocabulário da psicanálise. 9.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
36. Segal H. Introdução à obra de Melanie Klein. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
37. Ocampo MLS, Arzeno MEG, Piccolo EG. O processo psicodiagnóstico e as técnicas pro
jetivas. São Paulo: Martins Fontes 1990.
38. Caiuby AVS, Andreoli PBA. Intervenções psicológicas em situações de crise na unidade
de terapia intensiva: relato de casos. Rev Bras Terap Intensiva 2005; 17(l):63-7.
USO DE TESTES E ESCALAS NA AVALIAÇÃO
PSICOLÓGICA ESTRUTURADA DO ADULTO
NO CONTEXTO HOSPITALAR
INTRODUÇÃO
No campo da saúde, a psicologia tem se constituído como uma das for
mas de se compreender o adoecimento e as maneiras pelas quais o ser
humano pode permanecer saudável. A psicologia na saúde, situada em
um campo não uniforme de teorias e técnicas, vem ganhando espaço e
importância em âmbitos multi e interdisciplinares, visando à compreen
são dos vários fenômenos relacionados à saúde e ao adoecimento, assim
como à manutenção do bem-estar humano.1
Para o psicólogo hospitalar, a avaliação psicológica é uma das mais
importantes ferramentas, cujo objetivo é identificar as repercussões
psicológicas provocadas pelo processo de adoecimento. Ela tem caráter
investigativo e deve se basear em referenciais teóricos e metodológicos,
que norteiem a compreensão de um determinado fenômeno.
Toda intervenção psicológica pressupõe ser realizada a partir de uma
avaliação psicológica; assim, em ambientes hospitalares, ela pode ser
considerada uma ferramenta adequada ao se tomar decisões importan-
38 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
tudo que o paciente sente em seu corpo, como dores, limitações de mo
vimentos, perdas de funções de órgãos ou parte deles, e no campo emo
cional, suas idealizações e fantasias relacionadas à doença e ao trata
mento, deve ser minuciosamente observado, compreendido e registrado.
Também se deve observar e constatar qual é a problemática emocional
mais emergente e quais são os mecanismos de enfrentamento utilizados
pelo paciente, seus recursos cognitivos e psicológicos, e por fim, verificar
a rede de apoio existente. Obviamente, esses são os principais aspectos a
serem verificados e, a partir deles, o profissional pode eleger outros que
sejam pertinentes ou necessários, de acordo com cada situação.
A avaliação psicológica em unidades de internação sofre algumas li
mitações ligadas à falta de privacidade, à condição clínica do paciente
e, ainda, a situações de emergência, por exemplo, a necessidade de ava
liação para uma cirurgia de urgência.3 Muitas vezes, o profissional pode
confundir e acreditar que a urgência é da avaliação, quando, na verdade,
é da cirurgia. Assim, entende-se que a avaliação deve ser pautada nos
aspectos mais importantes para o conhecimento do paciente, que pode
rão ser mais bem compreendidos e atendidos após o evento cirúrgico. A
avaliação, nesses casos, geralmente é solicitada com a finalidade de veri
ficar os riscos emocionais e a necessidade de atenção psicológica após a
cirurgia, além de nortear a relação médico-paciente.
É necessário lembrar que o método para a avaliação psicológica em
unidades de internação deve ser adaptado às condições até aqui discuti
das. Deve existir um planejamento da avaliação, considerando, além dos
aspectos já citados, o perfil do paciente, o ciclo vital e o tipo de doença.
Por exemplo, ao avaliar um adolescente, é importante considerar que
as entrevistas abertas talvez não sejam suficientes para obtenção das
informações necessárias, pois eles apresentam maiores bloqueios em
dialogar sobre suas dificuldades. Nesses casos, podem-se utilizar ativida
des projetivas ou lúdicas que favoreçam a comunicação. Outro exemplo
relaciona-se ao tipo de doença, uma vez que a gravidade inerente de al-
PSICOLOGIA HOSPITALAR 41
dados de identificação;
clínica que encaminhou o paciente e o motivo;
quadro clínico;
queixa;
histórico de doenças e tratamentos;
repercussões emocionais;
grau de informações a respeito da doença e do tratamento;
antecedentes psiquiátricos;
história pessoal;
história familiar;
PSICOLOGIA HOSPITALAR 43
ENTREVISTA
A entrevista é um instrumento utilizado para se obter informações que
pressupõem a interação face a face entre duas pessoas, na qual a troca
verbal se caracteriza pelo fato de que uma delas (o entrevistador) busca
obter informações, opiniões e crenças da outra (o entrevistado). A en
trevista é fundamental no método clínico e é, portanto, uma técnica de
investigação científica em psicologia.8
44 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
TESTES
Os testes psicológicos podem ser projetivos gráficos ou não e têm como
objetivo avaliar os aspectos dinâmicos da personalidade de modo amplo
e global.
O uso de testes, quando bem indicados, pode servir como meio auxi
liar nas investigações de aspetos específicos do universo psicológico do
indivíduo, contribuindo para um caráter mais técnico, objetivo e cientí
fico ao exame realizado.9-10 Quando se chega a conclusões por meio de
resultados de um teste, os referenciais que deram origem a elas são co
nhecidos e podem ser facilmente discutidos. As conclusões podem ser
reavaliadas e as hipóteses diagnosticas, mantidas com mais argumentos.
Além disso, uma comparação cuidadosa de um indivíduo com as normas
permite maior segurança ao psicólogo.11
A utilização de testes no contexto hospitalar tem importância, pois fa
cilita a elaboração do parecer por meio de informações valiosas quanto à
dinâmica e à estrutura de personalidade em um curto período.
Cabe ressaltar que, como forma de qualificar os instrumentos de ava
liação, o Conselho Federal de Psicologia criou o Sistema de Avaliação
de Testes Psicológicos (SATEPSI)12, seguindo critérios objetivos e con
sistentes, a fim de padronizar as técnicas e validar o seu uso. Por isso, a
escolha dos instrumentos deve estar baseada nesses critérios, além das
necessidades e dos objetivos de cada caso.
Vários domínios da personalidade podem ser avaliados pelos testes.
Além do funcionamento psicodinâmico, avaliado pelas técnicas projeti-
PSICOLOGIA HOSPITALAR 45
ESCALAS
Além das entrevistas e dos testes, outro instrumento que pode auxiliar
o psicólogo são as escalas, que são utilizadas por qualquer profissional
46 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando-se a saúde e a enfermidade como determinadas por múl
tiplos fatores etiológicos (genéticos, bioquímicos, comportamentais, psi-
48 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Capitão CG, Scortegagna SA, Baptista MN. A importância da avaliação psicológica na
saúde. Avaliação Psicológica 2005; 4(1):75-82.
2. Lopes SRA, Amorim SF. Avaliação psicológica no hospital geral. In: Bruscato WL, Bene-
detti C, Lopes SRA (orgs.). A prática da psicologia hospitalar na Santa Casa de São Pau
lo: novas páginas em uma antiga história. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. p.53-68.
3. Botega NJ, Dalgalarrondo P. Avaliação do paciente. In: Botega, NJ (org.). Prática
psiquiátrica no hospital geral: interconsulta e emergência. São Paulo: Artmed, 2002.
p.145-66.
4. Nasralla HR, Goffi V, Rigamonti C, Peralta CO, Tsuji RK, Brito Neto RV et al. Condições
de personalidade preditivas de resultados com implante coclear em pacientes pós-lin-
guais com longo tempo de privação auditiva/Conditions of personality predicting re
sults with cochlear implant in post-lingual patients with long-time hearing deprivation.
Arq Int Otorrinolaring 2009; 13-4.
5. Vianna AMSA. Avaliação psicológica de pacientes em reconstrução de mama: um estu
do piloto. Estud Psicol 2004; 21-3.
6. Oliveira JHA, Yoshida EMP. Avaliação psicológica de obesos grau III antes e depois de
cirurgia bariátrica. Psicol Refle Crit 2009; 22(1): 12-19.
7. Azevedo AVS. Construção do protocolo de avaliação psicológica hospitalar para a
criança queimada. Aval Psicol 2010; 9(1):99-109.
8. Bleger J. Temas de psicologia: entrevistas e grupos. São Paulo: Martins Fontes, 1980.
PSICOLOGIA HOSPITALAR 49
9. Menezes M, More CLO, Ocampo M, Cruz RM. O desenho como instrumento de medida
de processos psicológicos em crianças hospitalizadas. Aval Psicol 2008; 7(2): 189-98.
10. Abrunheiro LMM, Perdigoto R, Sendas S. Avaliação e acompanhamento psicológico
pré e pós-transplante hepático. Psic Saúde & Doenças 2005; 16(2): 139-43.
11. Sugarman A. Is psychodiagnostic assessment humanistic? J Personal Assessm 1978;
42(1): 11-21.
12. SATEPSI. Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (CFP, 2004). Disponível em:
www2.pol.org.br/satepsi/sistema/admin.cfm.
13. Wechsler SM. Guia de procedimentos éticos para a avaliação psicológica. In: Wechsler
SM, Guzzo RSL (org.). Avaliação psicológica: perspectiva internacional. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 1999. p.133-41.
14. Noronha APP. Os problemas mais graves e mais freqüentes no uso dos testes psicológi
cos. Psicol Reflex Crit 2002; 15(1): 135-42.
15. Almeida ÂC, Loureiro SR. Instrumentos de avaliação de qualidade de vida após trans
plante de medula óssea (TMO): uma revisão da literatura. Paidéia 1999; 9 (17): 14-24.
16. Cataneo C, Carvalho AMP, Galindo EMC. Obesidade e aspectos psicológicos: maturi
dade emocional, auto-conceito, locus de controle e ansiedade. Psicol Reflex Crit 2005;
18(l):39-46.
17. Pereira MG. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001.
p.269-336.
18. Azevedo AVS. Construção do protocolo de avaliação psicológica hospitalar para a
criança queimada. Aval Psicol 2010; 9(1):99-109.
PREVENÇÃO EM SAÚDE MENTAL
Selma Bordin
INTRODUÇÃO
A saúde mental de uma determinada população está intrinsecamente as
sociada à preservação de seus direitos humanos. Abusos, conflitos, vio
lência, drogas, guerras, discriminação, isolamento, pobreza ou falta de
acesso à educação têm significativo impacto sobre o estabelecimento e o
desenvolvimento das doenças mentais. Portanto, criar e garantir o cum
primento de políticas de proteção dos direitos humanos é a maneira mais
poderosa de se evitar o adoecimento mental.1
De acordo com o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS)
de 20012, cerca de 450 milhões de pessoas sofrem de transtornos men
tais ou comportamentais. De cada quatro indivíduos, um desenvolve al
gum transtorno ao longo da vida. Entre as dez maiores causas de incapa-
citação e morte prematura, cinco referem-se a condições psiquiátricas.3
Em 1989, os Estados Unidos divulgaram que os custos com transtornos
mentais foram de 147 bilhões de dólares, mais que câncer ou Aids.4
54 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
RESILIÊNCIA
O conceito de resiliência para a psicologia encontra-se em construção
e tem, de certa maneira, inspirado-se no conceito utilizado pela Física
nos estudos de resistência dos materiais, que define resiliência como a
“propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado
é devolvida quando cessa a tensão causadora da deformação elástica”.39
Isto é, seria a capacidade de um material recuperar sua forma original
após ter sido submetido à determinada pressão.
Inicialmente compreendido como invulnerabilidade ou invencibili
dade40, esse conceito passou por diversas e cabíveis críticas. Apesar disso,
essa noção ainda segue orientando a produção de muitos pesquisadores
da área.41 Atualmente, a resiliência tem sido estudada em contextos em
que se busca compreender os processos e as condições que possibilitam a
62 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
1. EU SOU amada pelas pessoas: a criança sente que gostam dela e que
sua personalidade é atraente. Reconhece os humores das pessoas e
sabe o que esperar delas.
PSICOLOGIA HOSPITALAR 65
2. EU SOU amável, empática e altruísta: ela gosta das pessoas e pode de
monstrar esse amor de várias maneiras. Preocupa-se com os outros e
mostra esse cuidado por meio de ações e palavras. Sente-se desconfor
tável com o sofrimento do outro e deseja fazer algo para dar-lhe alívio.
3. EU SOU orgulhosa de mim mesma: a criança sabe que tem sua impor
tância e orgulha-se de quem é e do que pode conseguir. Não permite
que a desprezem ou degradem. Quando enfrenta problemas, sua con
fiança e autoestima a ajudam a se sustentar.
4. EU SOU autônoma e responsável: a criança pode fazer coisas por si
e aceita as consequências de seu comportamento. Reconhece, dife
rencia e aceita a responsabilidade. Entende os limites de seu controle
sobre os eventos e reconhece quando a responsabilidade é dos demais
indivíduos.
5. EU SOU cheia de esperança, fé e confiança: acredita que há pessoas ou
instituições confiáveis. Crê que o correto e o bem triunfarão e deseja
contribuir para isso. Tem fé na moralidade e na bondade e pode ex
pressar isso na crença em Deus ou em um ser espiritual superior.
TABAGISMO
Toda exposição ou uso de tabaco deve ser investigada e orientada. O
fumo passivo é sabidamente prejudicial e causador de doenças e morte.
Indivíduos expostos à fumaça do cigarro devem receber informação so
bre os riscos dessa exposição e ser orientados a evitá-la.
Usuários de qualquer forma de tabaco (e de qualquer quantidade) de
vem ser avaliados quanto à prontidão para parar de fumar e abordados
segundo essa prontidão. Os que estiverem decididos a parar devem re
ceber reforço, medicação, estímulo para marcar uma data e encaminha
mento para tratamento de suporte ou acompanhamento em follow up.
Os que não pensam em parar de fumar (não estão prontos) requerem in
vestigação das resistências para parar e advertência quanto aos riscos de
maneira individualizada. Aqueles que pensam em parar, mas ainda não
tomaram a decisão (baixa prontidão), devem ser estimulados a refletir
sobre os benefícios da mudança a curto e longo prazo.
Para maiores informações sobre prontidão para mudança, podem-
-se consultar os estudos e as publicações de James Prochaska e Cario
DiClemente61'67 e, para as formas de abordagem, os trabalhos de William
Miller e Stephen Rollnick sobre entrevista motivational.68
DEPRESSÃO
Se a comunidade oferecer a possibilidade de investigação diagnóstica e
tratamento efetivo, todos os adultos devem ser rotineiramente triados e
devidamente encaminhados.
O Beck Depression Inventory (BDI)69 está entre as medidas de auto-
avaliação mais utilizadas na pesquisa e na prática clínica ao redor do
72 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos pontos mais discutidos em prevenção de saúde é sobre quem
deve pagar a conta. Programas preventivos são caros e os resultados sur
gem a longo prazo, o que os torna pouco competitivos para abocanhar os
poucos recursos financeiros de um mundo politicamente voltado para
retornos imediatos. Fazer com que os programas preventivos se tornem
uma realidade requer uma complexa colaboração entre pesquisadores,
profissionais de saúde, autoridades públicas e outros setores, como ope
radoras de saúde, empresas públicas e privadas, escolas, agentes comu
nitários e a população. Outra questão é a aplicabilidade dos programas
PSICOLOGIA HOSPITALAR 73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. World Health Organization. Prevention of mental disorders: effective interventions
and policy options: summary report/a report of the World Health Organization Dept,
of Mental Health and Substance Abuse; in collaboration with the Prevention Research
Centre of the Universities of Nijmegen and Maastricht. Geneva: WHO, 2004.
2. The World Health Report 2001. Mental health: new understanding, new hope. Gene
va: WHO, 2001.
3. Murray CJL, Lopez AD. The global burden of disease: a comprehensive assessment
of mortality and disability from diseases, injury and risk factors in 1990 projected to
2020. Geneva: World Bank, World Health Organization and Harvard School of Public
Health,1996.
4. Institute of Medicine. Utilization management by third parties: controlling costs and
changing patient care? The role of utilization management. Washington: OM, 1989.
5. Hosman C, Jane-Llopis E. Political challenges 2: mental health. In: International Union
for Health Promotion and Education. The evidence of health promotion effectiveness:
shaping public health in a new Europe: 29-41. Bruxelas: ECSC-EC-EAEC, 1999.
6. Mrazek PJ, Haggerty RJ. Reducing risks for mental disorders: Frontiers for preventive
intervention research. Washington: National Academy Press, 1994.
7. Hoefnagels C. Preventing child abuse and neglect. In: Hosman C, Jané-Llopis E, Saxe-
na S (eds.). Prevention of mental disorders: effective interventions and policy options.
Oxford: Oxford University Press, 2005.
74 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
8. Beardslee W, Solantaus T, van Doesum K. Coping with parental illness. In: Hosman C,
Jané-LLopis E, Saxena S (eds.). Prevention of mental disorders: effective interventions
and policy options. Oxford: Oxford University Press, 2005.
9. Sandler I, Ayers T, Dawson-McClure S. Dealing with family disruption: divorce and be
reavement. In: Hosman C, Jané-LLopis E, Saxena S (eds.). Prevention of mental disor
ders: effective interventions and policy options. Oxford: Oxford University Press, 2005.
10. Dyer C, Halford WK. Prevention of relationship problems: retrospect and prospect. Be
havior Change 1998; 15(2):107-25.
11. Patel V, Jané-Llopis E. Poverty, social exclusion and disadvantages groups. In: Hosman
C, Jané-LLopis E, Saxena S (eds.). Prevention of mental disorders: effective interven
tions and policy options. Oxford: Oxford University Pres., 2005.
12. Musisi S, Mollica R, Weiss M. Supporting refugees and victim of war. In: Hosman C,
Jané-LLopis E, Saxena S (eds.). Prevention of mental disorders: effective interventions
and policy options. Oxford: Oxford University Press, 2005.
13. Anderson P, Biglan A, Holder H. Preventing the harm done by substances. In: Hosman
C, Jané-LLopis E, Saxena S (eds.). Prevention of mental disorders: effective interven
tions and policy options. Oxford: Oxford University Press, 2005.
14. Brown H, Sturgeon S. Promoting a healthy start of life and reducing early risks. In:
Hosman C, Jané-LLopis E, Saxena S (eds.). Prevention of mental disorders: effecti
ve interventions and policy options. Oxford: Oxford University Press, 2005.
15. Olds DL. The prenatal/early infancy project: fifteen years later. In: Albee GW, Gullotta
TP (eds.). Primary prevention works. Thousand Oaks: Sage Publications, 1997. p.41-67.
16. Olds DL. Prenatal and infancy home visiting by nurses: from randomized trials to com
munity replication. Preventive Science 2002; 3(3):1153-72.
17. Olds DL, Henderson CH, Cole R, Eckenrode J, Kitzman H, Powers J et al. Long-
-term effects of home visitation on maternal life course and child abuse and
neglect: fifteen-year follow-up of a randomized trial. J Am Med Assoc 1997;
278(8) :637-43.
18. Olds DL, Henderson CH, Cole R, Eckenrode J, Kitzman H, Luckey D et al. Long-term
effects of nurse home visitation on children’s criminal and antisocial behavior: a 15
follow-up of a randomized trial. Journal of the American Medical Association 1998;
280(8) :1238-44.
PSICOLOGIA HOSPITALAR 75
19. Schweinhart U, Barnes HV, Weikart DP. Significant benefits: The high/scope perry
preschool study through age 27. Monographs of the High/Scope Educational Research
Foundation, 10. Ypisilanti: High/Scope Press, 1993.
20. Schweinhart U, Weikart DP. The high/scope preschool curriculum comparison study
through age 23. Early Childhood Research Quarterly 1997; 12(2): 117-43.
21. Blair C, Ramey CT, Hardin JM. Early intervention for low-birth-weight, premature in
fants: participation and intellectual development. American Journal of Mental Retar
dation 1995; 99(5):542-54.
22. Blair C, Ramey CT. Early intervention for low-birth-weight infants and the path to se
cond generation research. In: Guralnick UM (ed.). The effectiveness of early interven
tion. Paul Brookes: Baltimore, 1997. p.77-97.
23. Webster-Stratton C, Reid MJ. The incredible years parents, teachers and children trai
ning series: a multifaceted treatment approach for young children with conduct pro
blems. In: Kazdin AE, Weisz JR (eds.). Evidence-based psychotherapies for children
and adolescents. New York: Guilford Press, 2010. p.224-40.
24. Webster-Stratton C, Reid MJ, Hammond M. Preventing conduct problems, promoting
social competence: a parent and teacher training partnership in Head Start. Journal of
Community Psychology 2001; 30(3):283-302.
25. Hoefhagels C. Preventing child abuse and neglect. In: Hosman C, Jane-Llopis E, Saxe-
na S (eds.). Prevention of mental disorders: effective interventions and policy options.
Oxford: Oxford University Press, 2005.
26. Rispens J, Aleman A, Goudena PP. Prevention of child abuse victimization: a meta-
-analysis of school programs. Child Abuse & Neglect 1997; 21:975-87.
27. Beardslee W, Keller MB, Lavori PW, Klerman GK, Dorer DJ, Samuelson H. Psychiatric
disorder in adolescent offspring of parents with affective disorder in a non-referred
sample. Journal of Affective Disorders 1988; 15(3):313-22.
28. Domitrovitch CEA. Enhancing resilience and reducing risk behavior in schools. In:
Hosman CMH, Jane-Llopis E, Saxena S (eds.). Prevention of mental disorders: effecti
ve interventions and policy options. Oxford: Oxford University Press, 2005.
29. Shure MB. Interpersonal cognitive problem solving: Primary prevention of early high-
-risk behaviors in the preschool and primary years. In: Albee GW, Gullotta TP (eds.)
76 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
Primary prevention works. Issues in children’s and families’ lives. Vol.6. Thousand
Oaks: Sage Publications, 1997. p.239-67.
30. Bruener-Butler L, Hampson J, Elias MJ, Clabby JF, Schuyler T. The Improving Social
Awareness-Social Problem Solving Project. In: Albee GW, Gullotta TP (eds.). Primary
prevention works. Issues in children’s and families’ lives. Vol.6. Sage Publications: 239-
267. USA: Thousand Oaks, 1997.
31. Conduct Problems Prevention Research Group. Inicial impact of the Fast Track preven
tion trial for conduct problems: II. Classroom effects. Journal of Consulting Clinical
Psychology 1999; 67(5):648-57.
32. Greenberg MT, Kusché CA. Preventive interventions for school-age deaf children: the
PATHS curriculum. Journal of Deaf Studies and Deaf Education 1998; 3(l):49-63.
33. Felner RD, Brand S, Adan AM, Mulhall PF, Flowers N, Sartain B et al. Restructuring
the ecology of the school as an approach to prevention during school transitions: Lon
gitudinal follow-ups and extensions of the School Transitional Environment Project
(STEP). Prevention in Human Services 1993; 10:103-36.
34. Olweus D. Bully/victim problems among schoolchildren: basic facts and effects of a
school-based intervention program. In: Rubin K, Heppler D (eds.). The development
and treatment of childhood aggression. Hillsdale: Erlbaum, 1989. p.411-48.
35. Kellan SG, Rebok GW, Ialongo N, Mayer LS. The course and malleability of aggressive
behavior from early first grade into middle school: results of a developmental epide-
miologically-based preventive trial. Journal of Child Psychology and Psychiatry and
Allied Disciplines 1994; 35:259-81.
36. Van Lier PAC. Preventing disruptive behavior in early elementary school children. [Dis
sertação de Mestrado]. Rotterdam: Erasmus University, 2002.
37. Wolchik SA, West SG, Westover S, Sandler IN, Martin A, Lustig J et al. The children of
divorce parenting intervention: outcome evaluation of an empirically based program.
American Journal of Community Psychology 1993; 21(3):293-331.
38. Wolchik SA, West SG, Sandler IN, Tein JY, Coatsworth D, Lengua L et al. An experi
mental evaluation of theory-based mother and mother-child programs for children of
divorce. Journal of Consulting and Clinical Psychology 2000; 68(5): 1874-81.
39. Ferreira ABH. Novo Aurélio: o dicionário do Século XXI. São Paulo: Nova Fronteira, 1999.
PSICOLOGIA HOSPITALAR 77
40. Werner EE, Smith RS. Overcoming the odds: high-risk children from birth to adult
hood. Ithaca/London: Cornel University Press, 1992.
41. Yunes MAM. Psicologia positiva e resiliência: o foco no indivíduo e na família. Psicolo
gia em Estudo 2003; 8:75-84.
42. Martineau S. Rewriting resilience: a critical discourse analysis of childhood resilience
and the politics and teaching resilience to Mkids at risk”. [Tese de Doutorado]. Canadá:
The University of British Columbia, 1999.
43. Rutter M. Resilience concepts and findings: implications for family therapy. Journal of
Family Therapy 1999; (21): 119-44.
44. Hawley DR, DeHann L. Toward a definition of family resilience: integrating life span
and family perspectives. Family Process 1996;(35):283-98.
45. Grotberg EH. A guide to promoting resilience in children: strengthening the human
spirit. The International Resilience Project. From the early childhood development:
practice and reflections series. Bernard Van Leer Foundation, 1995. Disponível em:
www.leedsinitiative.org/uploadedFiles/Children_Leeds/Content/Standard_Pages/
Levels_of_Need/Resiliance_new.pdf.
46. World Health Organization. Mental disorders affect one in four people. The world
health report 2001. Disponível em: www.who.int/whr/2001/media_centre/press_re-
lease//en/index.html.
47. World Health Organization. The global burden of disease, 2004. Disponível em: www.
who.int.
48. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. II Levantamento domi
ciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 108 maiores
cidades do país: 2005/E. A. Carlini (supervisão) et al. São Paulo: CEBRID/ Unifesp,
2006.
49. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. I Levantamento domici
liar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 107 maiores
cidades do país: 2001/E.A. Carlini et al. São Paulo: CEBRID - Centro Brasileiro de In
formações Sobre Drogas Psicotrópicas: Unifesp, 2002.
50. I Levantamento nacional sobre os padrões de consumo de álcool na população bra
sileira. Elaboração, redação e organização: Ronaldo Laranjeira et al. Revisão técnica
78 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
científica: Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte. Brasília: Secretaria Nacional An-
tidrogas, 2007.
51. Reinaldo AMS. Saúde mental na atenção básica como processo histórico de evolução
da psiquiatria comunitária. Esc Anna Nery Rev Enferm 2008; 12(1)173-8.
52. Institute for Clinicai Systems Improvement. Health care guideline: preventive services
for adults. 15.ed. Disponível em: http://www.icsi.org.
53. Foxcroft DR, Ireland D, Lister-Sharp DJ, Lowe G, Breen R. Longe-term primary prevention
for alcohol misuse in young people: a systematic review. Addiction 2003; 98:397-411.
54. Babor T, Higgins-Biddle JC. Brief intervention for hazardous and harmful drinking.
Geneva: WHO, 2001.
55. Ronzani TM, Ribeiro MS, Amaral MB, Formigoni MLOS. Implantação de rotinas de ras-
treamento do uso de risco de álcool e de uma intervenção breve na atenção primária à
saúde: dificuldades a serem superadas. Cad Saúde Pública 2005; 21(3):852-61.
56. Babor T, Higgins-Biddle JC, Saunders JB, Monteiro MG. AUDIT- The Alcohol Use Di
sorders Identification Test: guidelines for use in primary care. Geneva: WHO, 2001.
57. National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism. Pocket guide for alcohol scree
ning and brief intervention, 2005 Edition: from helping patients who drink too much:
a clinician’s guide. Disponível em: http://www.niaaa.nih.gov.
58. O’Connell H, Chin AV, Cunningham C, Lawlor B. Alcohol use disorders in elderly-peo
ple - redefining an age old problem in old age. BMJ 2003; 327:664-7.
59. Philpot M, Pearson N, Petratov V, Dayanandan R, Silverman M, Marshall J. Screening
for problem drinking in older people referred to a mental health service: a comparison
of CAGE and AUDIT. Aging Ment Health 2003; 7(3): 171-5.
60. Roberts AM, Marshal EJ, Macdonald AJD. Whick screening test for alcohol consump
tion is best associated with ‘at risk’ drinking in older primary care attenders? Primary
Care Health 2005; 3(2):131-8.
61. Prochaska JO. Systems of psychotherapy: a transtheoretical analysis. Homewood (IL):
Dorsey, 1979.
62. Prochaska JO, Diclemente CC. Transactional therapy: toward a more integrative mo
del of change. Psychotherapy: theory, research and practice 1982; 19:276-88.
PSICOLOGIA HOSPITALAR 79
63. Prochaska JO, Didemente CC. Stages and process of self - change of smoking: toward
an integrative model of change. Journal of Consult Clinical Psychology 1983; 5:390-5.
64. Prochaska JO, Didemente CC. The transtheoretical approach: crossing traditional
boundaries of therapy. New York: Dow-Jones Irwin, 1984.
65. Prochaska JO, Velicer WF, Rossi JS, Goldstein MG, Marcus BH, Rakowski W et al. Sta
ges of change and decisional balance for 12 problem behaviors. Health Psychology
1994; 13(l):39-46.
66. Prochaska JO, Marcus B. The transtheoretical model: applications to exercise. Chapter
6. In: Dishman R. Advances in exercise adherence. Champaign: Human Kinetics, 1994.
p.161-80.
67. Prochaska JO, Velicer WF. The transtheoretical model of health behavior change. Ame
rican Journal Health Promotion 1997; 12:38-47.
68. Miller, WR, Rollnick, S. Entrevista Motivational: preparando as pessoas para a mu
dança de comportamentos adictivos. trad. Caleffi A, Cornelles C. Porto Alegre: Artmed,
2001.
69. Beck, AT, Steer RA, Garbin, MG. Psychometric properties of the Beck depression in
ventory: twenty-five years of evaluation. Clinical Psychology Review 1988; 8:77-100.
70. Gorestein C, Andrade L. Inventário de depressão de Beck: propriedades psicométricas
da versão em português. Rev Psiq Clin 1998. Disponível em: http://www.hcnet.usp.br.
A PSICOPATOLOGIA NA ASSISTÊNCIA
PSICOLÓGICA NO HOSPITAL-GERAL
INTRODUÇÃO
Segundo Karl Jaspers1 descreveu em 1913,
Atenção
Atenção é a direção da consciência, ou seja, o estado de concentração da
atividade mental. Divide-se em dois tipos: a atenção voluntária, que se
caracteriza pela direção intencional da consciência para um determina
do foco, e a espontânea, que é instintiva e, por isso, ligada à vigilância
em relação ao ambiente. Pode se manifestar por alteração quantitativa,
estando diminuídas ou aumentadas a atenção voluntária e/ou espontâ
nea. As atividades de atenção podem ser alteradas independentemente,
de uma para outra.
Orientação
A orientação é a amplitude e a claridade dos processos da consciência,
expressando, de forma objetiva, a lucidez psíquica. Pode ser entendida
como alopsíquica, na qual o sujeito percebe os processos da consciência
externos a ele, como o tempo e o espaço, e autopsíquica, na qual o sujeito
percebe a si mesmo, identificando-se (atividade do eu, unidade do eu,
identidade do eu, oposição do eu).
Memória
Memória é a capacidade de registrar, manter e evocar os fatos já ocorri
dos, e essa capacidade se relaciona intimamente com o nível de consciên
cia, de atenção e de interesse afetivo. O processo de memorização ocorre
em três fases:
84 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
Pensamento
O pensamento é constituído a partir dos elementos sensoriais, embora
estes não sejam propriamente intelectivos, e podem fornecer substrato
para o processo de pensar, isto é, imagens perceptivas e suas representa
ções. Os elementos constitutivos do pensamento são o conceito, o juízo e
o raciocínio, enquanto o processo de pensar caracteriza-se por uma des
crição da forma, do curso e do conteúdo:
Sensopercepção
Sensação é um fenômeno elementar gerado por estímulos físicos, quími
cos ou biológicos, originados dentro ou fora do organismo, produzindo
estímulos nos órgãos receptores visuais, olfativos, gustativos, auditivos,
táteis, cenestésicos (sensações somáticas) e cinestésicos (sensações mo-
PSICOLOGIA HOSPITALAR 85
Humor
O humor é o estado emocional basal no qual se encontra a pessoa em um
dado momento, determinado pela intensidade, duração e excitabilida
de. As alterações do humor são registradas de acordo com seus fatores
determinantes:
Afetividade
A afetividade compreende o tônus emocional que acompanha uma ideia
ou vivência, ou seja, é o componente emocional de uma ideia. Apresenta
intrínseca relação com a sensopercepção, a memória, o pensamento e a
vontade.
86 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
Vontade
A vontade é a capacidade de se exercitar livremente, deliberar, escolher
e realizar atos voluntários, o que possibilita a interação entre aspectos
intelectivos e afetivos. A atividade volitiva normal compreende as fases
do desejo (etapa afetiva), de intenção (etapa afetivo-cognitiva), de deli
beração (etapa cognitiva) e de execução (etapa psicomotora). As altera
ções quantitativas da vontade (alteração não controlável da energia vo
litiva), por sua vez, são descritas como prejuízo do desejo e da intenção:
EXAME PSÍQUICO
A Tabela 1 apresenta um roteiro prático para a realização da avaliação
psicopatológica no hospital-geral.
PSICOLOGIA HOSPITALAR 87
Transtornos somatoformes
A denominação de transtornos somatoformes perpetua a dualidade cor-
po-mente, desenvolvendo uma nosologia que tem sido extensivamente
rediscutida.6 Têm sido feitas propostas de extinção dessa categoria, com
substituição por uma descrição mais integrada de sintomas físicos nas
doenças psiquiátricas7. No entanto, aqui serão apresentados os critérios
vigentes definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
É um grupo de transtornos que inclui sintomas físicos (p.ex., náusea,
dor e tontura) e que não possui explicação médica adequada. As queixas
e os sintomas somáticos são suficientemente graves para limitar os pa
cientes do ponto de vista emocional, funcional ou social. O diagnóstico
somente é percebido se a avaliação clínica incluir a percepção de aspec
tos psicológicos no adoecer, que muito contribuíram para a instalação,
a gravidade e a manutenção do quadro. Esses quadros não resultam de
simulação, de ganho primário consciente ou transtorno factício.
Existe uma sobreposição frequente de quadros somatoformes, pois
os critérios de classificação são superficiais. Os diagnósticos são sem
pre baseados na exclusão de patologia física suficiente, mas não valori
zam características clínicas importantes, como a presença de angústia e
preocupação intensa do paciente, nem o caráter inconsistente, difuso e
polissintomático das queixas. Os principais diagnósticos seguem os cri
térios (Tabela 2) definidos pela Classificação Internacional de Doenças
(CID-10).8
90 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
Transtornos ansiosos
A ansiedade pode ser uma reação normal do indivíduo ou um sintoma.
Ansiedade normal é o estado de medo ou sentimento subjetivo de
apreensão e angústia, manifestado por várias alterações autonômicas. É
um sentimento humano diante de situações novas e funciona como um
sinal de alerta, desencadeando reações defensivas (palpitação, diarréia,
etc.), mas sempre suportável e passageira. Pode ser um sentimento pro
dutivo e defensivo contra o estresse.
Já a ansiedade patológica pode ser sintoma de doença física (p.ex., na
crise asmática e na angina pectoris), de doença mental (p.ex., em qua
dros depressivos com agitação psicomotora e em pacientes com delírio
paranoide) ou a própria doença mental (ansiedade generalizada, síndro-
me do pânico, etc.). Como doença, a ansiedade é definida como estado
emocional repetitivo ou persistente no qual a ansiedade patológica de
sempenha um papel fundamental.
A ansiedade caracteriza-se pela presença de sintomas psíquicos (cons
tante estado de alerta, hipervigilância e medo exagerado) e de sintomas
físicos (anorexia, dispnéia, hiperventilação, parestesia, náusea, vômitos,
diarréia, vazio estomacal, boca seca, palidez, rubor facial, polaciúria,
palpitação, tremores, tontura, desmaios, tensão muscular e disfunção
sexual). Alguns pacientes manifestam mais os sintomas físicos, outros
mais os psíquicos e alguns manifestam ambos os sintomas.
PSICOLOGIA HOSPITALAR 91
Transtornos depressivos
Existem vários tipos de depressões, os quais podem ser influenciados
pela patologia clínica de base do paciente ou de seu tratamento, reativos
ao processo de adoecer ou, ainda, mimetizados pelos sintomas da doen
ça de base. O diagnóstico é difícil, por causa da sobreposição de sintomas
depressivos com os sintomas presentes na doença de base, como dimi
nuição do apetite, alteração do sono, cansaço, falta de energia, lentidão
psicomotora e emagrecimento. Assim, o reconhecimento dos sintomas
subjetivos facilita o diagnóstico: culpa excessiva, vivência punitiva mar
cante da doença, incapacidade de melhorar o humor diante da melhora
92 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
Transtornos confusionais
Confusão mental ou delirium é uma síndrome mental de causa orgâni
ca, conhecida ou não, que pode ser uma condição médica geral e/ou
induzida por substâncias, com prejuízo da consciência. A principal ca
racterística clínica é que os sintomas têm surgimento agudo, com curso
flutuante durante o dia, às vezes, com pródromo (inquietação diurna,
ansiedade, medo ou hipersensibilidade a sons ou à luz, alteração do ci
clo sono-vigüia).
O diagnóstico de confusão mental (categoria F05, descrita na CID-
-10)8 deve ser pensado na presença de alteração da consciência, com di
minuição da habilidade de focar, sustentar ou manter a atenção; alte
ração na cognição ou desenvolvimento de sintoma sensoperceptivo não
94 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Jaspers KT. General psychophatology. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1997.
2. Nobre de Melo AL. Psiquiatria, v.l. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1986.
3. Dalgalarrondo P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre:
Artmed, 2000.
4. Mari JJ. Psychiatric morbidity in primary care centers. Boi Oficina Sanit Panam 1988;
104(2):171-81.
5. Almeida-Filho N, Mari JJ, Coutinho E, Franca JF, Fernandes J, Andreoli SB et al. Bra
zilian multicentric study of psychiatric morbidity. Methodological features and preva
lence estimates. Br J Psychiatry 1997; 171:524-9.
6. Mayou R, Kirmayer U, Simon G, Kroenke K, Sharpe M. Somatoform disorders: time for
a new approach in DSM-V. Am J Psychiatry 2005; 162(5):847-55.
7. Sharpe M, Mayou R, Walker J. Bodily symptoms: new approaches to classification. J
Psychosom Res 2006; 60(4):353-6.
8. Organização Mundial da Saúde. Classificação de transtornos mentais e de comporta
mento da CID-10. Porto Alegre: Artmed, 1993.
9. Parro-Pires DB, Macedo PCM, Lerman TG, Citero VA. Saúde mental. In: Guia de clínica
médica. Barueri: Manole, 2007. p.1109-22.
INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS EM
SITUAÇÃO DE CRISE
INTRODUÇÃO
Um dos principais desafios da psicologia hospitalar tem sido fundamen
tar e desenvolver técnicas de intervenção psicológica que atendam às
demandas específicas de ambientes hospitalares diferenciados. A teoria
que muito tem auxiliado na consecução dessa tarefa é a teoria de crise,
originada da teoria psicanalítica e de suas derivações em psicoterapia
breve*. As diferentes respostas emocionais e a gravidade das repercus
sões durante e após a crise revelam a necessidade de aplicação de in
tervenções psicológicas capazes de restaurar a estabilidade afetiva e de
estabelecer medidas de tratamento e de prevenção em saúde mental do
paciente internado em hospital-geral.
MANEJO ASSISTENCIAL
O manejo da situação de crise deve abranger, muitas vezes, o trabalho di
reto com a equipe, a despeito da possibilidade de intervenção psicológica
diretamente com o paciente ou com seus familiares. Assim, a análise da
dinâmica hospitalar passa pelo reconhecimento de que a equipe de saú
de compõe o setting no qual o psicólogo irá atuar, permitindo o manejo
assistencial com a equipe multiprofissional.
Considera-se que o paciente estabelece um vínculo transferenciai com
a equipe, cujo teor será condicionado por sua constituição de personali
dade, de sua história de vida, de seu adoecimento e do seu momento de
vida atual.14 Assim, a equipe de saúde é alvo de transferência de conteú
dos internos do paciente e dos familiares; esse movimento deve ser cui
dado pelo psicólogo, procurando-se viabilizar um ambiente terapêutico
propício ao restabelecimento do paciente.15
Caso clínico 1
Paciente de 32 anos de idade, vítima de acidente automobilístico, com
politrauma e em estado comatoso.
No segundo dia de internação na unidade de terapia intensiva (UTI),
a enfermeira solicitou o auxílio da psicóloga para avaliar a possibilida
de da permanência do familiar e para oferecer suporte a ele. Segundo a
enfermeira, apesar de o médico plantonista ter informado o prognóstico
(possível morte encefálica), o marido parecia não compreender a gravi
dade do quadro. Apresentava-se ansioso, desejando permanecer ao lado
da esposa e solicitando constantes cuidados a ela. A enfermeira concor
dava com a solicitação do marido em permanecer ao lado da esposa, pois
a paciente estava vivendo suas últimas horas, mas não acreditava que
ele tivesse condições emocionais para permanecer na UTI. O marido foi
entrevistado pela psicóloga, demonstrando um estado de ansiedade exa
cerbada, por ter entrado em contato com a realidade, mas mantendo-se
ambivalente, esforçava-se para negá-la.
104 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
O conhecimento da interface físico-psíquica envolvida no processo de
adoecimento do paciente é de vital importância para que a intervenção
psicológica seja efetiva. Dessa forma, a tarefa do psicólogo é compreen
der e conciliar as diferentes opiniões entre diversos sistemas conceituais
de interpretação, sejam eles psicodinâmicos ou biológicos.16 A compreen
são de diferentes saberes e a discussão em equipe multiprofissional, no
contexto hospitalar, tornam-se fundamentais tanto para análise da situ
ação quanto para seleção da técnica, do tipo de assistência e do acompa
nhamento na evolução do caso.17
PSICOLOGIA HOSPITALAR 105
Caso clínico 2
Paciente de 64 anos de idade estava internada na unidade semi-inten-
siva em decorrência de um acidente automobilístico, com fraturas de
membros superiores e costelas. Segundo informações da equipe, estava
há mais de 1 semana com dores insuportáveis. A enfermagem demandou
uma avaliação psicológica, pois a paciente se queixava demais (solicita
va a administração de analgésicos o tempo todo), recusando-se a coope
rar com os procedimentos e com os cuidados de enfermagem, mesmo em
vigência de analgesia.
Na entrevista com a psicóloga, a paciente referiu-se às intensas do
res que a impossibilitavam de suprir necessidades básicas, como comer
e dormir, além de dificultarem sua cooperação com os procedimentos
de fisioterapia e de enfermagem (p.ex., tomar banho), e declarou tam
bém que se sentia pouco compreendida em suas queixas em relação à
intensidade da dor. Em entrevista com familiares, foi mencionado que a
paciente tinha histórico de baixo limiar para dores, mas não viam suas
queixas atuais como desproporcionais ao que estava sentindo. Referiram-
-se também ao fato de a paciente não ter qualquer histórico de sintomas
depressivos nem de ansiedade.
Em revisão de prontuário, pôde-se constatar que a sedação estava
prescrita para ser administrada por demanda, ou seja, mediante a so
licitação da paciente. A queixa da paciente centralizava-se na dor e nos
cuidados necessários, sendo a solicitação para avaliação psicológica nor
teada por duas questões: a paciente estava sentindo as dores que referia
ou as queixas eram de ordem emocional, como sugeria a própria equipe?
Esses comportamentos eram derivados ou não de um quadro de estresse
agudo?
À psicóloga coube a tarefa de desfocar a questão da etiologia da dor
- se física ou emocional - e direcioná-la à escuta da queixa da paciente,
podendo contribuir para a compreensão de que a vivência da dor tinha
caráter desadaptativo e havia sido desenvolvida, provavelmente, pela
106 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
Caso clínico 3
Paciente de 68 anos de idade apresentava metástase ganglionar e reali
zava tratamento de radioterapia, internado em unidade semi-intensiva
para tratamento de infecção respiratória. A enfermagem solicitou a ava
liação psicológica, referindo que o paciente estava chorando o tempo
todo durante todos os procedimentos (o que impunha certa dificuldade
nos cuidados), além de não se alimentar e apresentar dificuldade para
dormir.
Na entrevista, o paciente mencionou necessidade de ajuda, por estar
perdendo o controle da situação e sofrendo diante da ameaça da per
da da condição física, da independência, de suas atividades, da autono
mia para se locomover, da troca de papéis familiares e da diminuição da
condição econômica e social. As sessões de atendimento psicológico de
apoio foram realizadas diariamente durante a primeira semana e, poste
riormente, em dias alternados.
A avaliação psicológica foca o problema atual, a análise das condições
emocionais do paciente em se restabelecer da crise e a investigação do
suporte familiar e social. Detectou-se que sua demanda inicial era de au
xílio para restabelecer o controle sobre os seus sentimentos, que estava
dificultado pela extrema angústia gerada por perdas sucessivas diante
do adoecimento. Foi indicada psicoterapia de apoio para o momento de
crise, com o objetivo de promover o desenvolvimento de estados emocio
nais mais adaptativos.
Outras ações do psicólogo foram direcionadas ao ambiente e à equipe,
para que o setting pudesse favorecer o vínculo e o trabalho terapêutico
da equipe. Assim, a família foi orientada a restringir as visitas e a mini
mizar as situações de exposição do paciente a problemas econômicos e
sociais. Solicitou-se que a equipe de enfermagem auxiliasse o paciente a
participar ativamente de sua rotina, promovendo maior independência
e maior autocontrole, evitando infantilizá-lo, e a minimizar os fatores de
estresse por ele mencionados, como constantes interrupções do sono no
período noturno e organização da rotina de medicação, banho e exames.
110 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
TÉCNICAS COMPLEMENTARES
Uso do relaxamento
As técnicas de relaxamento favorecem o bem-estar e a melhoria do es
tado emocional do paciente que se encontra em situação de estresse
prolongado ou de crise. Propiciam, ainda, o desenvolvimento de estados
emocionais que capacitem o paciente a tolerar níveis elevados de angús
tia e de ansiedade, podendo ser indicadas no momento de um procedi
mento terapêutico invasivo ou a pacientes que se encontram por tempo
demasiado em ambientes desagregadores. A utilização de técnicas com
plementares na assistência psicológica a pacientes em crise cumpre o ob
jetivo de promover suporte e de propiciar condições para uma adaptação
mais rápida, por meio de um vínculo de confiança e de conforto.12
Um dos exercícios de relaxamento utilizado em pacientes graves con
siste na adaptação da técnica autógena de J. H. Schultz, em que, com
a imaginação, criam-se condições de relaxamento para todos os grupos
musculares do corpo pela indução da sensação de calor e do estado pe
sado e relaxado de músculos, tendões e órgãos, seguida de uma transpo
sição a um lugar seguro e confortável.20,12 Esse exercício é extremamen
te propício, pois é realizado por meio da imaginação do paciente, não
envolvendo o toque e podendo ser aplicado em ambientes hospitalares
compartilhados (mais de um paciente). O exercício é direcionado pelo
terapeuta e pode ser acompanhado também por uma música de esco
lha do paciente, se ele utilizar fone de ouvido ou estiver em ambiente
propício.
Caso clínico 4
Paciente de 56 anos de idade, casada, mãe de três filhos, encontrava-se
há 5 dias na UTI, após diagnóstico de hepatite fulminante (adoecimen-
to agudo) e uma cirurgia para transplante de fígado. A equipe médica
solicitou a presença da psicóloga, pois a paciente apresentava-se ansio
sa, queixosa em relação a dores e sem perspectiva de sair da UTI nas 24
horas seguintes.
PSICOLOGIA HOSPITALAR 111
* A amígdala é uma zona do cérebro (uma em cada lobo temporal) com cerca de
2 cm de diâmetro. É importante por ser o centro identificador de perigo, o qual
conduz o sujeito ao estado de alerta. O corpo amigdaloide medeia a ansiedade,
o medo e a memória emocional.
114 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
Caso clínico 5
Paciente de 38 anos de idade, casada e com uma filha de 3 anos, estava
internada na UTI por causa de recente diagnóstico de câncer hepático e
dificuldades respiratórias. A equipe médica solicitou a presença da psi
cóloga porque a paciente se recusava a se submeter ao procedimento de
colocação do tubo endotraqueal (intubação). Em prontuário, verificou-
-se que ela havia passado por uma cirurgia no dia anterior, na qual se
constatou um estado geral grave e terminal. A paciente demonstrava
grande agitação e ansiedade, falava de falta de ar, da sensação cada vez
mais intensa de se sentir sufocada e acrescentou que não sabia o resulta
do da cirurgia à qual se submeteu, mas tinha medo do resultado e certeza
de não estar bem. Estava vivendo uma crise respiratória e expressava
medo de perder o total controle sobre a vida.
PSICOLOGIA HOSPITALAR 115
INTERVENÇÃO FAMILIAR
Em situações de adoecimento e de crise, o suporte familiar é de funda
mental importância no auxílio ao paciente enfermo. A inclusão dos fami
liares no tratamento e o reconhecimento de suas necessidades viabilizam
intervenções psicoterápicas efetivas, sejam elas informativas, de suporte
ou psicodinâmicas. As intervenções familiares que promovem o encora
jamento da expressão dos afetos demonstram benefício na minimização
da ansiedade e na qualidade de relação com a equipe.29
Em ambiente hospitalar, a informação, a falta de segurança e a ansie
dade são apontadas como fatores que interferem na organização familiar
e no enfrentamento da situação.30’31 Esses fatores tendem a prejudicar a
comunicação entre a família e a equipe de saúde e, consequentemente,
o restabelecimento do paciente, que deve ser acompanhado cuidadosa
mente pelo psicólogo.
Caso clínico 6
A família da paciente de 79 anos de idade solicitou uma consulta.
Discutiu-se o motivo do pedido com a enfermagem, que atribuiu o fato
à piora do estado geral da paciente, que era portadora de doença pul
monar obstrutiva crônica, estando agitada e em uso de ventilação me
cânica não invasiva. A família era constituída por seis filhos, presentes e
participativos no tratamento da mãe. Durante o atendimento, relataram
o histórico da doença, a vida e a dinâmica de personalidade da mãe, dis
cutiram sobre a analgesia e sobre o final da vida. Explicitaram um pedido
de ajuda para que a psicóloga auxiliasse na comunicação com a equipe
médica, da qual eles se sentiam distantes e manifestavam discordância
em relação à condução do tratamento da paciente. Realizaram-se duas
intervenções com o grupo familiar e uma reunião para avaliação do re
sultado da intervenção.
118 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As intervenções em situação de crise exigem muita habilidade dos psi-
coterapeutas em utilizar diferentes elementos advindos de diferentes
escolas teóricas. Assim, a flexibilidade e a criatividade nas soluções da
situação de crise são condições fundamentais para a percepção das ne
cessidades que cada caso apresenta.17’32
O estudo da teoria de crise e de sua prática parece ser um dos cami
nhos legítimos na construção de psicoterapias em psicologia hospitalar.
Hanns33 debate sobre os caminhos da formação do psicoterapeuta:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Freeman A, Dattilio FM. Introdução. In: Dattilio FM, Freeman A (eds.). Estratégias
cognitivo-comportamentais de intervenção em situações de crise. 2.ed. Porto Alegre:
Artes Médicas, 2004. p.19-36.
2. Freeman A, Fusco G. Tratando pacientes altamente reativos: diferenciando o paciente
em crise do paciente propenso a crises. In: Dattilio FM, Freeman A (eds.). Estratégias
cognitivo-comportamentais de intervenção em situações de crise. 2.ed. Porto Alegre:
Artes Médicas, 2004. p.38-62.
3. Aguiar RW. Intervenções em crise. In: Cordioli AV (ed.). Psicoterapias: abordagens
atuais. 2.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. p.153-8.
4. Harbert KR. Elaboração do estresse de incidente crítico. In: Dattilio FM, Freeman A
(eds.). Estratégias cognitivo-comportamentais de intervenção em situações de crise.
2.ed. Porto Alegre: Artes Médicas. 2004. p.317-34.
5. Laplanche J. Vocabulário da psicanálise. 9.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
6. Gilüéron E. Introdução às psicoterapias breves. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
120 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
INTRODUÇÃO
As doenças crônicas degenerativas vêm apresentando crescimento im
portante comparado à prevalência de doenças infectocontagiosas. Trata-
-se de uma condição clínica que não considera a cura como meta, mas
que se beneficia da identificação de fatores que determinam o apareci
mento da doença, a melhora da adesão ao tratamento e as estratégias
que desenvolvem gradativamente as condições psicológicas, cognitivas
e sociais. Permite ao paciente se responsabilizar pelo tratamento clínico,
apropriando-se de maiores autonomia, estabilidade e qualidade de vida
possíveis.
De acordo com o U.S. National Medical Expenditure Panel Survey, 171
milhões de pessoas desenvolverão doenças crônicas até 2030. Destas,
aproximadamente a metade desenvolverá condições crônicas múltiplas,
que necessitarão de sistemas de saúde com condições de intervir em ne
cessidades específicas e em limitações funcionais relacionadas advindas
dessas situações.1
124 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
PREVENÇÃO
A prevenção de situações críticas, como o abandono do tratamento clí
nico ou a prevenção de transtornos psíquicos, é uma diretriz importante
no cuidado da doença crônica, pois complicações sempre podem ser evi
tadas ou amenizadas.
A comunicação é uma estratégia utilizada no cuidado da saúde global.
Alguns comportamentos verbais e não verbais acompanham essa estraté
gia e estão correlacionados a resultados positivos: empatia, não resistên
cia ao que lhe é relatado, promoção do alívio da tensão, escuta, discussão
dos acontecimentos de modo que o paciente compreenda, encorajamen
to de perguntas, explanações consistentes, clareza do paciente e de seus
familiares sobre as conclusões da consulta, reforço das habilidades iden
tificadas no paciente e discussão dos possíveis efeitos trazidos pela doen
ça e do tratamento na vida diária e psicossocial.
ADESÃO AO TRATAMENTO
A adesão ao tratamento parece estar ligada a alguns fatores importantes,
como: •
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, procurou-se levantar algumas estratégias direcionadas
ao cuidador do paciente com doença crônica, considerando as caracte
rísticas do desenvolvimento do paciente e o tipo de assistência. É impor
tante ressaltar que algumas estratégias sugeridas para a fase adulta tam
bém podem ser consideradas nas fases anteriores.
PSICOLOGIA HOSPITALAR 131
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Sevick MA, Trauth JM, Ling BS, Anderson RT, Piatt GA, Kilbourne AM et al. Manage
ment of complex chronic disease. J Gen Intern Med 2007; 22(3):438-44.
2. Bell LE, Bartosh SM, Davis CL, Dobbels F, Al-Uzri A, Lotstein D et al. Adolescent transi
tion to adult care in solid organ transplantation: a consensus conference report. Ame
rican Journal of Transplantation 2008; 8:2230-42.
3. Pimentel CAM. Dor crônica, terapia cognitiva comportamental e o enfermeiro. Rev
Psiq Clin 2001; 28(6):288-94.
4. Bradley LAA. Cognitive behavioral therapy for chronic pain. In: Gatchel RJ, Turk DC
(eds.). Psychological approaches to pain management: a practitioner’s handbook. New
York: Guilford, 1996. p. 131-47.
ABORDAGEM PSICOLÓGICA EM
PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO
INTRODUÇÃO
A psicoterapia, independentemente de sua orientação teórica, tem como
principais objetivos facilitar ao paciente o autoconhecimento, o auto-
crescimento e a cura de determinados sintomas. Tem ainda como carac
terística o fato de ser um processo no qual a procura e a determinação de
seu início acontecem por meio da mobilização do paciente, que será, en
tão, enquadrado no chamado setting terapêutico (normas e diretrizes do
processo). Mesmo que surjam dificuldades e resistências iniciais, estas
serão transpostas pelo simples fato de o paciente ter buscado a psicote
rapia por vontade própria. Além disso, o psicoterapeuta tem no paciente
alguém que caminha apenas sob sua responsabilidade, não precisando
prestar contas dele a nenhuma entidade.2
No entanto, quando se pensa na atividade do psicólogo dentro de uma
instituição de saúde, uma das principais dificuldades que surge é a inser-
134 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO
A reabilitação, como uma ação com objetivos específicos na área da
saúde, envolve diversos desafios. Para Araújo3, é um processo de apren
dizagem e crescimento, com ênfase no aprimoramento de habilidades
preexistentes, visando a propiciar a melhor capacidade física-mental-
-social possível, apesar das limitações impostas por uma deficiência ou
um dano. De caráter essencialmente multiprofissional e interdisciplinar,
suas intervenções buscam a autonomia da pessoa com deficiência e sua
(re) inserção social.
Gottardo4 cita Sir Ludwig Guttmann, neurologista e neurocirurgião
alemão, nascido em 1899, como o pioneiro no uso da prática do esporte
para a reabilitação de pessoas com deficiência física. Segundo esse médi
co, a essência da reabilitação corresponde a desenvolver talentos conhe
cidos e a despertar e fazer crescer aqueles até então adormecidos.
A reabilitação estimula o desenvolvimento das capacidades do pa
ciente acometido por uma doença ou um acidente, situações que, muitas
vezes, refletem a necessidade de uma readaptação. Para Casalis5, a rea
bilitação facilita o alcance da maior independência possível nas esferas
motora, psíquico-afetiva e educacional/profissional como um processo
complexo e que requer a participação ativa e integrada de uma equipe
PSICOLOGIA HOSPITALAR 135
NORTEADORES DA EFICIÊNCIA
Atualmente, uma das formas mais utilizadas para nortear a eficiência das
práticas de reabilitação tem sido o uso de instrumentos padronizados de
avaliação dos ganhos funcionais por meio da Classificação Internacional
de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), que foi publicada em
2001 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A CIF é um importan
te instrumento que abrange os resultados em relação à funcionalidade, à
incapacidade e à saúde. Traz uma visão multidimensional de reabilita
ção, que considera fatores interativos, como função e estrutura corporal,
atividade e participação social, além de contexto pessoal e ambiental.
136 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
Cabe ressaltar que nem todas as pessoas passam por todas as fases e
que elas podem não ser vivenciadas exatamente na sequência em que
Kubler-Ross as descreveu. O processo de elaboração do luto é dinâmico
e, assim, após conquistar uma aceitação, qualquer alteração na configu
ração pessoal, social ou no contexto pode levar o indivíduo a regredir a
uma fase anterior.
Pessoas com deficiência passam por vivências emocionais semelhan
tes às descritas nas fases do luto e é importante conhecê-las para que
os profissionais de saúde atuem na reabilitação respeitando os limites
psicológicos de cada paciente nas diferentes fases de elaboração do luto
decorrente da instalação da deficiência. Segundo Novaes9, enfermida
des favorecem o aparecimento de conflitos intrapsíquicos, que devem ser
contornados a fim de atenuar sua interferência na reabilitação.
A deficiência, sob o aspecto psicológico, ameaça, desorganiza e mobi
liza os recursos intrapsíquicos.10 Dessa forma, a abordagem da psicologia
aplicada à reabilitação é muito importante, pois, apesar das perdas, os
pacientes sempre possuem um potencial a ser trabalhado para que pos
sam se perceber e se inserir novamente como pessoas participantes na
sociedade.
INTERVENÇÃO DO PSICÓLOGO
O plano de intervenção psicológica é passível de reorganização, revisão
ou reajustamento e as informações obtidas a partir dele podem ser úteis
também à equipe multidisciplinar.7 Portanto, deve ser elaborado a partir
do estabelecimento de metas decorrentes de entrevista inicial, da apli
cação de questionários para avaliar ansiedade, depressão, autoimagem,
habilidades sociais e qualidade de vida e do uso de avaliações breves das
funções cognitivas. O psicólogo também precisa estar atento à comuni
cação não verbal do paciente e às suas atitudes perante a equipe que o
atende.
PSICOLOGIA HOSPITALAR 139
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante lembrar que, muitas vezes, a vivência da deficiência é tão
angustiante que reflete no aparecimento de quadros psicopatológicos
reacionais. Além disso, alguns transtornos neuropsiquiátricos também
podem surgir como uma condição pós-lesão cerebral. Nesses casos, faz-
-se necessário o uso das terapias combinadas, nas quais a intervenção
psicológica se une à intervenção psiquiátrica para que o paciente se be
neficie do uso de medicamentos.
O critério ideal para se pensar em alta da instituição reabilitadora é a
constatação de que os objetivos propostos no processo foram atingidos.
É importante que o paciente encontre uma nova forma de encarar a vida,
ressignificando-a diariamente, que elabore os diversos lutos vivenciados,
que consiga rever antigas crenças e valores, passando a dar conta da pró
pria vida de maneira autônoma, pois os desafios de adaptação não se
encerram com a alta da reabilitação.
PSICOLOGIA HOSPITALAR 143
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Stevenson RL. A dádiva de desfrutar de tudo. In: Pageis D. Presentes para você: um
livro que é fonte de alegria e encorajamento. São Paulo: Market Books, 2000. p.65.
2. Camon VAA. O psicólogo no hospital. In: Psicologia hospitalar: teoria e prática. 2.ed.
São Paulo: Pioneira, 1995.
3. Araújo TCCF. Psicologia de reabilitação: pesquisa aplicada à intervenção hospitalar.
Revista SBPH 2007; 10(2).
4. Gottardo KR. Estudo de caso: protocolo para fortalecimento de musculatura de tronco
com método Bad Ragaz em trauma raquimedular nível neurológico T3. Cascavel: Fa
culdade Assis Gurgacz, 2005.
5. Casalis MEP. Aspectos clínicos da reabilitação. In: Equipe do setor de psicologia para
adultos AACD. A atuação do psicólogo na reabilitação do adulto portador de deficiên
cia física. São Paulo, 1998.
6. Frank RG, Elliott TR. Rehabilitation psychology: hope for a psychology of chronic
conditions. In: Frank RG, Elliott TR. Handbook of rehabilitation psychology. 2.ed. Wa
shington: British Library Cataloguing-in-Publication Data, 2002. p.3-8.
7. Figueira E. Atuação do psicólogo em centros ou programas de reabilitação. Disponí
vel em: www.planetaeducacao.com.br/portal/impressao.asp7artigo=1765. Acessado
em: 30/10/2012.
8. Kubler-Ross E. Elisabeth Kubler-Ross - five stages of grief. Disponível em: www.busines-
sballs.com/ehsabeth_kubler_ross_five_stages_of_grief.htm. Acessado em: 18/7/2010.
9. Novaes MH. Aspectos psicológicos das enfermidades orgânicas. In: Novaes MH. Psico
logia aplicada à reabilitação. Rio de Janeiro: Imago, 1975. p.9-15.
10. Amaral LA. Mecanismos psicológicos de defesa frente à deficiência: atitude, preconcei
to, esteriótipo, estigma. In: Amaral LA. Conhecendo a deficiência (em companhia de
Hércules). São Paulo: Robe Editorial, 1995. p.111-23.
11. Junqué C, Bruna O, Mataró M. Experiência do dano cerebral traumático. In: Junqué C,
Bruna O, Mataró M. Traumatismos cranioencefálicos: uma abordagem da neuropsico-
logia e fonoaudiologia. São Paulo: Santos, 2001. p.49-62.
INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA EM
SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA
INTRODUÇÃO
A assistência aos casos de violência é parte importante do cotidiano dos
profissionais que atuam na área da saúde, especialmente em hospitais,
os quais acabam sendo a “porta de entrada” para muitos casos.
É fundamental que a equipe multiprofissional, em qualquer área de
atuação do hospital, entenda as questões que permeiam o fenômeno da
violência, a fim de identificar, assistir e encaminhar adequadamente os
casos e, dessa forma, ajudar a interromper a dinâmica violenta. O psicó
logo hospitalar tem um papel importante em muitas dessas situações e
pode contribuir para a intervenção nos casos que seguirão, muitas vezes,
em outros serviços de proteção ou assistência.
Para auxiliar os profissionais da área da saúde, este capítulo apresenta
reflexões sobre o conceito de violência, a legislação correlata, as dire
trizes e os fluxos de atendimento, bem como o funcionamento das Varas
da Infância e da Juventude (VIJ) e a relação que elas mantêm com os
hospitais.
146 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
VIOLÊNCIA
O fenômeno da violência intrafamiliar provoca consequências, incluindo
sérios problemas de saúde, que são grandes obstáculos para o desenvol
vimento social e econômico, além de violar os direitos humanos.1
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência pode
ser definida como o
Intervenção
Cada região possui serviços de proteção e assistência, mantidos com
recursos públicos ou privados, ligados a universidades ou instituições
religiosas, entre os quais se cita o Centro de Referência às Vítimas de
Violência ligado ao Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, que, por
ser considerado um dos pioneiros na realização de atendimento a essa
demanda, é um dos serviços de referência. É formado por uma equipe
que visa ao ensino e à pesquisa na área e trabalha com a perspectiva de
sensibilização do agressor, para recuperar a dinâmica familiar saudá
vel. Agressor, vítima e familiares passam por atendimento psicossocial,
que é familiar e realizado por equipe multiprofissional. A intervenção é
interdisciplinar.
É realizada a avaliação do caso e da rede de recursos, preferencialmen
te na região de moradia da família. A família deve ser retirada de uma
condição de isolamento, em que muitas vezes se encontra, por meio da
inserção em atividades socioeducativas. Um plano de conduta é estabe
lecido pela equipe para cada caso.
O psicólogo contribui também para a avaliação dos riscos. A inter
venção é realizada de forma individual, grupai e familiar, mas os objeti
vos são alcançados à medida que o processo e o ambiente terapêutico são
apoiados e favorecidos por medidas legais e protetivas. Já o atendimento
social consiste em consultas interinstitucionais e visitas domiciliares.
O diagnóstico é interdisciplinar e os casos podem ser qualificados
como: casos que exigem medidas de proteção, que envolvem situações
de risco, que requerem medidas de investigação ou casos em que a situa
ção de violência não está clara.
A violência deve ser revelada e analisada dentro da família para que
o “pacto de silêncio”, comum em famílias vítimas de violência, seja des
feito.10 O foco deve estar no desenvolvimento da autonomia e da indi
vidualidade de cada membro da família. A intervenção é feita com a
PSICOLOGIA HOSPITALAR 153
pessoa que foi vitimizada, com quem vitímizou, com a família e com a
comunidade. É importante que ocorra o acompanhamento posterior à
intervenção.10
No Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis (PECP), manti
do pela Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, desen
volvem-se ações de prevenção e assistência aos casos de violência, com
vistas a interromper essa dinâmica por meio dos atendimentos realiza
dos nas áreas de saúde e dos programas socioeducativos.
Um levantamento realizado pelo Setor de Psicologia do PECP, no ano
de 2009, indicou que 60% dos casos atendidos nessa área eram referen
tes a situações de violência. O atendimento psicológico visa à reconstru
ção dos laços familiares sobre novas bases, mais saudáveis. É importante
considerar que se trata de um longo e árduo processo que depende da
adesão das partes envolvidas e de redes de apoio.
Os casos que possuem suspeita ou indício de violência são acom
panhados por equipe multiprofissional. A avaliação e as intervenções
realizadas são em conjunto, especialmente com a equipe de serviço so
cial. As ações têm como foco a promoção de espaços de discussão jun
to aos pais/responsáveis, a responsabilização no processo de desenvol
vimento das crianças/adolescentes, a avaliação da situação de risco, a
orientação para a denúncia e sobre os serviços de proteção (principal
mente nos casos de violência de gênero), a identificação de rede de apoio
na comunidade e encaminhamentos para serviços especializados (ava
liação psiquiátrica, Centros de Referência, entre outros) e a realização
de campanhas.
É fundamental a oferta de atendimento psicológico aos pais. No PECP,
há diferentes modalidades, como grupos de acolhimento, grupos de
orientação aos pais, mediação de conflitos e psicoterapia (individual, em
grupo, de casal ou família).
154 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
Violência de gênero
Em 1928, Margaret Mead teve uma considerável influência sobre as teo
rias do gênero e da sexualidade, afirmando que o gênero é uma constru
ção social, e não resultante de uma base biológica, sendo a cultura a causa
decisiva das variações das identidades de gênero. A violência de gênero,
mais precisamente a violência contra a mulher, é uma das formas mais
aceitas socialmente. É considerada “normal”, está intensamente presente
no cotidiano de muitas famílias e diretamente relacionada às desigualda
des existentes entre homens e mulheres e às ideologias de gênero.
A partir de 2006, com a Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/06)13, essa
questão passou a receber atenção e tratamento diferenciado. A referida
Lei surgiu a partir de uma condenação do Estado Brasileiro por negli
gência, omissão e tolerância à violência doméstica contra as mulheres e
prevê que haja integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério
Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança, assistência
social, saúde, educação, trabalho e habitação. Prevê a implantação de
atendimento policial especializado e admite como meios de prova os lau
dos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde.
Passou a ser vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e fa
miliar contra a mulher, das penas de cesta básica ou outras de prestação
pecuniária, bem como a substituição de pena que implique pagamento
isolado de multa.
A Lei prevê que a União, o Distrito Federal, os estados e os municípios
podem criar e promover, no limite das respectivas competências:
Intervenção
Estudos indicam que as principais vítimas são as mulheres em todas as
faixas etárias, podendo se estender também aos filhos. Nas relações vio
lentas, estabelece-se um clima que confunde amor e violência, o que fa
vorece a instalação de sentimentos ambíguos e dificulta as possibilidades
de intervenção.
A violência doméstica ainda permanece invisível e, muitas vezes, tole
rada, sob a justificativa de se manter a estrutura familiar em detrimento
dos interesses protetivos de seus membros. A dependência financeira em
relação ao marido também se mostra um aspecto importante, compli
cando a ruptura da relação violenta.
O abuso de álcool ou outras drogas, apesar de associado à situação de
violência, não deve aparecer como justificativa para tal ação. Em geral,
a violência doméstica apresenta um caráter cristalizado e cronificado e
tende à reprodução contínua pelos membros da família. Além da dispo
nibilidade interna de cada indivíduo para a adesão ao tratamento, o grau
de êxito de uma intervenção varia em função da disponibilidade e quali
dade dos serviços, das atitudes dos atendentes, do grau de integração e
coordenação dos serviços e do respeito com que são tratadas as mulhe
res, por exemplo, no atendimento a qualquer situação de violência.
A chave para a compreensão dos processos das mulheres e, portanto,
para a oferta de um acolhimento adequado, está em admitir o “protago-
nismo” delas e apoiá-las nos momentos de tomada de decisões.
Também aqui, em virtude da complexidade da violência contra a
mulher, o enfrentamento do problema deve ser realizado de forma in-
156 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
Intervenção
Assim como nos demais casos, a avaliação é realizada por uma equipe
multiprofissional, que procede com o estudo da dinâmica familiar e veri
fica uma possível situação de risco, sendo realizado o encaminhamento
das famílias que necessitam de apoio psicológico ou social. Nos casos em
que se constata risco, inicia-se a tentativa de acolhimento do idoso por
outro membro da família ou acolhimento institucional.
A avaliação do psicólogo em casos de maus-tratos contra o idoso deve
levar em conta a história de vida do paciente, a dinâmica familiar ao lon
go de sua vida, a relação com seus filhos e parentes, desde quando a si
tuação de violência vem ocorrendo, por quem está sendo praticada, etc.
Observa-se grande incidência de maus-tratos contra idosos praticados
por cuidadores que acabam se valendo da confiança e do afastamento da
família para agir. No entanto, também é comum que um parente sobre
carregado com os cuidados, muitas vezes pesados, do cotidiano acabe
transformando o que deveria ser cuidado em agressão, aspecto que re
quer intervenção.
Como em todos os casos de violência, a situação do idoso é muito com
plexa. É importante considerar também que o idoso, apesar da vulnera
bilidade que a idade e algumas limitações o colocam, tem uma história
de vida e que a fase atual representa, muitas vezes, as consequências
das relações mantidas ao longo dela. Esse fato ocorre, por exemplo, em
PSICOLOGIA HOSPITALAR 159
Tribunal de Justiça
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo tem jurisdição sobre todo
o Estado. É gerido por um presidente, um vice-presidente e um correge-
dor-geral da justiça, eleitos por todos os desembargadores para um man
dato de 2 anos.
É composto por 360 desembargadores. O presidente, o vice-presiden
te e o corregedor-geral da justiça constituem o Conselho Superior da
Magistratura (CSM). O CSM é o órgão responsável por apreciar matérias
e definir questões de importância geral para todo o Poder Judiciário e
suas decisões interferem diretamente na prática profissional.
Os juizes de primeiro grau são os responsáveis por processar e julgar
ações em primeira instância. Após a sentença, caso uma das partes não
concorde com a decisão do julgamento, ela tem o direito de ingressar
com recurso em segunda instância. Nesse caso, o processo será julgado
novamente, só que, dessa vez, por desembargadores, que se dividem em
Câmaras.
As Câmaras são formadas por um colegiado de desembargadores que
emitem seus votos, mantendo ou não decisão prolatada em primeira ins-
160 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
entre pai e mãe, entre outros aspectos. Assim, a equipe do hospital cole
ta um material mais completo e detalhado sobre a dinâmica familiar, o
que oferece maior consistência e subsídio para a avaliação posterior que
ocorrerá no Fórum.
Na VIJ, as famílias geralmente comparecem com um discurso prepa
rado. Ao receberem a intimação em suas casas, dirigem-se ao Fórum de
fendidas, amedrontadas e, muitas vezes, agressivas por estarem sendo
questionadas. É comum as famílias amedrontarem as crianças colocando
nelas a responsabilidade por destruir a família com a prisão do agressor
ou, ainda, assustá-las sobre a possibilidade de acolhimento institucional,
caso revelem as situações de violência familiar. Assim, é habitual a retra
tação da criança nas avaliações técnicas realizadas no Fórum, diferen
temente do que acontece no hospital, situação em que as famílias estão
“desarmadas”, menos “defendidas” e, portanto, há maior possibilidade
de avaliar a situação. Por isso, a importância do envio de um relatório
detalhado ao Fórum.
O hospital pode identificar a violência em várias situações de atua
ção clínica e o psicólogo hospitalar tem muito a contribuir com a equipe
nesse sentido. No acompanhamento pré-natal, por exemplo, é possível
avaliar se a gestante está cuidando adequadamente do feto, evitando a
ingestão de álcool e drogas, prevenindo o risco de doenças sexualmen
te transmissíveis e mantendo alimentação saudável. Muitas mudanças
ocorrem com a mulher e o impacto é ainda maior quando a gravidez é
indesejada ou decorrente de abuso sexual. Assim, ao longo do pré-natal,
é importante que a gestante seja devidamente orientada, especialmente
nos casos em que há intenção de entrega da criança para adoção.
Muitas mulheres sentem-se culpadas por desejarem entregar um filho
e receiam o julgamento da sociedade. Com isso, é comum que, nesses ca
sos, essas mães escolham casais que consideram ser adequados para criar
os bebês por conta própria, podendo ocorrer até casos em que a entrega
do filho se torna um comércio arriscado e ilegal.
164 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos profissionais da área da saúde ainda temem se expor ao notificar
situações de violência. É importante ter em mente que o envio de relató
rio e notificação representa um pedido de cuidado, proteção e atenção à
família, e não apenas uma denúncia.
As possibilidades de alcance das intervenções realizadas estão asso
ciadas a uma articulação dos serviços de proteção e assistência. É funda
mental o cuidadoso registro dos casos, para que seja possível a implanta
ção de ações legais e o desenvolvimento de políticas públicas.
A violência é um modo de se relacionar que, em muitos casos, faz par
te de uma cultura transgeracional. Na atuação psicológica, devem ser
levados em conta aspectos de ordem pessoal, familiar, social e cultural.
Da mesma maneira, são fundamentais as ações que trabalhem com a pre
venção, como grupos de pais e trabalhos de orientação, que mostram ser
eficazes ferramentas preventivas.
168 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
PSICOLOGIA HOSPITALAR 169
170 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar: orienta
ções para a prática em serviço/Secretaria de Políticas de Saúde. Brasília: Ministério da
Saúde. Série Cadernos de Atenção Básica, 2001. p. 8.
2. Relatório da Assembléia Geral das Nações Unidas, 2006. Disponível em: www.unicef.
org/brazil/pt/Estudo_PSP_Portugues.pdf.
3. Moura ACM, Scodelario AS, Camargo CNMF, Ferrari DCA, Mattos GO, Miyahara RP.
Reconstrução de vidas: como prevenir e enfrentar a violência doméstica, abuso e a ex
ploração sexual de criança e adolescentes. São Paulo: SMADS. Sedes Sapientiae, 2008.
4. Ariés P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.
5. Cordeiro SS, Coelho MGP. Descortinando o conceito de infância na história: do
passado à contemporaneidade. In: VI Congresso Luso-Brasileiro de História da
Educação, 2006, Uberlândia/MG. Percursos e desafios da pesquisa e do ensino de
história da educação. 2006. Disponível em: www.faced.ufu.br/colubhe06/anais/
arquivos/76SandroSilvaCordeiro_MariaPintoCoelho.pdf.
6. Roller SH, De Antoni C. Violência intrafamiliar: uma visão ecológica. In: Roller SH
(org.). Ecologia do desenvolvimento humano: pesquisa e intervenção no Brasil. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. p. 293-310.
7. Almeida SFC, Santos MCAB, Rossi TMF. Representações sociais de professores do ensi
no fundamental sobre violência familiar. São Paulo: Psicologia: teoria e pesquisa, 2006.
p. 22-3.
8. Constituição da República Federativa do Brasil. Texto constitucional de 5 de outubro
de 1988 com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais de n° 1, de 1992, a
52, de 2006, e pelas Emendas Constitucionais de Revisão de n° 1 a 6, de 1994. 26. ed.
Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2006 (Série de textos
básicos, n° 38).
9. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n. 8.069/90. Disponível em: www.planalto.
gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm.
10. Ferrari DCA, Vecina, TCC (orgs.). O fim do silêncio na violência familiar: teoria e prá
tica. São Paulo: Ágora, 2002.
PSICOLOGIA HOSPITALAR 171
11. Azevedo MA, Guerra VNA. Infância e violência fatal em família. São Paulo: Iglu, 1998.
12. Souza ASA. Código de Menores x ECA: mudanças de paradigmas. Disponível em:
http://www.promenino.org.br/TabId/77/ConteudoId/deed5f8a-32al-48cb-b52f-
-816adc45e7eO/Default.aspx. Publicado em: 20/04/2004.
13. Lei Maria da Penha. Lei n. 11.340/06. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil/_
ato2004-2006/2006/lei/111340.htm.
14. Estatuto do Idoso. Lei n. 10.741/03. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil/
leis/2003/L10.741.htm.
15. Manual de procedimentos técnicos do núcleo de apoio do TJ. Disponível em: www.
tj.sp.gov.br/Download/Corregedoria/pdf/manual_de_procedimentos.pdf.
16. Lei Nacional de Adoção. Lei n. 12.010/09. Disponível em: www.planalto.gov.br/cci-
vil/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12010.htm.
17. Modelo de ficha de notificação compulsória da Prefeitura de São Paulo. Disponível em:
www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/08_09_10_manual_siwa_125
4424639.pdf.
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
DO PACIENTE INTERNADO
INTRODUÇÃO
A neuropsicologia, como especialidade da psicologia clínica, é uma área
que apresentou rápido e grande crescimento nos últimos anos. Embora
muitos conceitos e conhecimentos sobre a correlação entre cérebro-com-
portamento tenham se iniciado nos séculos XVII, XVIII e XIX, foi somente
a partir da segunda metade do século XX que o escopo de conhecimento
atual e as técnicas modernas de investigação das funções neuropsicológi-
cas começaram a se basear nos avanços em pesquisas das neurociências,
no desenvolvimento de instrumentos psicométricos e no surgimento de
novas tecnologias de neuroimagem. Pode-se considerar que a neurop
sicologia como especialidade é uma área recente de conhecimento e de
prática para os psicólogos clínicos.
A identidade dos profissionais especializados na pesquisa e na prática
clínica da neuropsicologia consagrou-se na década de 1970, na América
do Norte, com a realização dos primeiros congressos da área, as publi-
176 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
EXAME NEUROPSICOLÓGICO
Do ponto de vista pragmático, o exame neuropsicológico está baseado
na conceituação e na classificação das funções cognitivas e comporta-
mentais correlacionadas ao funcionamento cerebral. O processo de in
vestigação do funcionamento neuropsicológico geralmente segue a taxo-
nomia das funções atencionais e executivas, da memória, da linguagem,
de praxias e de gnosias.
Funções atencionais
A complexidade conceituai, neuroanatômica e neurofuncional, faz com
que a atenção não possa ser reduzida a uma simples definição nem estar
ligada a uma única estrutura anatômica ou explorada por um único tes
te.7’8 Assim, pode-se dividi-la em cinco formas básicas9:
Funções executivas
As funções executivas fazem parte de um conjunto de habilidades cogni
tivas necessárias para a realização de ações complexas e dirigidas a um
PSICOLOGIA HOSPITALAR 179
Memória
A memória é basicamente um sistema de aquisição, retenção e evocação
de informações. Desde a divisão feita por William James11, a memória
tem sido vista como uma entidade heterogênea, composta de muitos
sistemas e subsistemas distintos que interagem entre si. Atualmente, é
consenso a divisão da memória em dois grandes grupos chamados de
memória de curto prazo e memória de longo prazo.
Os mecanismos de memória de curto prazo permitem que informa
ções sejam retidas por um curto período e, logo em seguida, substituídas
por outras informações mais relevantes. O principal modelo de memória
de curto prazo, mais influente e conhecido, é o modelo de memória de
trabalho proposto por Baddeley12, no qual a memória de curto prazo se
ria um sistema tripartite composto por dois armazenadores de curto pra
zo (alça fonológica e alça visoespacial) e um sistema executivo central.
Ambas as alças seriam sistemas “escravos” passivos e limitados quanto à
quantidade de informações e ao tempo de retenção, enquanto o sistema
executivo central seria responsável pela seleção, iniciativa e manipula
ção dessas informações.
180 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
Linguagem
De acordo com Loring10, a linguagem é um sistema de comunicação de
expressão simbólica com uma organização gramatical e sintática, com
o objetivo de transmitir uma informação semântica. Genericamente, o
termo linguagem geralmente é relacionado ao uso de símbolos verbais,
mas inclui também a expressão e a compreensão verbais que podem ser
expressos por meio de gestos (sinais da linguagem) ou de outras moda
lidades (modalidade tátil no caso da escrita em Braille). O comprome
timento da linguagem por uma lesão cerebral pode refletir um quadro
PSICOLOGIA HOSPITALAR 181
Praxia
A praxia se refere à capacidade de executar voluntariamente movimen
tos especiahzados e destinados a um objetivo. Assim, as alterações da
praxia motora, denominadas apraxias (a = sem; práxis = ação), refe
rem-se à incapacidade de realizar movimentos intencionais aprendidos
por outras razões que não sejam justificáveis pela perda de força motora,
sensibilidade, coordenação ou compreensão.10 A apraxia tem sido des
crita como uma desconexão entre a ideia do movimento e sua execução
motora e pode ser subdividida em apraxia construtiva (inabilidade para
copiar ou montar no espaço bi ou tridimensional), ideomotora (inabili
dade para realizar gestos transitivos e intransitivos sob comando) e idea-
tória (inabilidade para realizar uma sequência de gestos por causa de
uma perda do planejamento da ação do movimento).
Gnosia
A agnosia é um prejuízo no reconhecimento perceptivo de estímulos pre
viamente conhecidos que não pode ser atribuído a déficits sensoriais pri
mários, alterações atencionais ou desordens de nomeação.10 As agnosias
podem estar presentes em cada uma das modalidades sensoriais, embo
ra, clinicamente, as mais comuns sejam as agnosias visuais e auditivas.
182 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
• pacientes com dano cerebral adquirido: tumores, TCE leve, AVC isquê-
mico ou hemorrágico, encefalites, encefalopatias, anoxias, etc.;
• pacientes com risco conhecido para disfunção cognitiva: doenças ou
intervenções cardíacas, doenças metabólicas e/ou sistêmicas, abuso
de substâncias, síndromes genéticas, etc.;
• pacientes com queixas cognitivas e/ou comportamentais sem etiolo-
gia conhecida: suspeita de transtornos neuropsiquiátricos, doenças
neurodegenerativas e/ou distúrbios do desenvolvimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na avaliação neuropsicológica do paciente internado, diversos fatores
devem ser considerados. A compreensão dos objetivos/motivos do enca
minhamento é o ponto de partida, sendo recomendável a comunicação
PSICOLOGIA HOSPITALAR 191
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Hebben N, Milberg W. Essentials of neuropsychological assessment. New York: Wiley
& Sons, 2002.
2. Conselho Federal de Psicologia. Resolução CFP N° 002/2004. Brasília: CFP, 2004. p. 3.
3. Conselho Federal de Psicologia. Resolução CFP N° 013/2007. Brasilia: CFP, 2007. p. 32.
4. Johnstone B, Stonnington HH. Introduction. In: Johnstone B, Stonnington HH (eds.).
Rehabilitation of neuropsychological disorders: a praticai guide for rehabilitation pro
fessionals. New York: Psychology Press, 2001. p.1-26.
5. Lezak MD. Neuropsychological assessment. New York: Oxford University Press, 1995.
6. Strauss E, Sherman EMS, Spreen O. A compendium of neuropsychological tests: ad
ministration, norms, and commentary. 3.ed. Oxford: Oxford University Press, 2006.
xvii, p. 1216.
192 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
7. Coull JT. Neural correlates of attention and arousal: insights from electrophysiology, func
tional neuroimaging and psychopharmacology. Prog Neurobiol 1998; 55(4):343-61.
8. Phaf RH, Van der Heijden AH, Hudson PT. SLAM: a connectionist model for attention
in visual selection tasks. Cogn Psychol 1990; 22(3):273-341.
9. Estevez-Gonzalez A, Garcia-Sanchez C, Junque C. Attention: a complex cerebral func
tion. Rev Neurol 1997; 25 (148): 1989-97.
10. Loring DW. INS dictionary of neuropsychology. New York: Oxford University Press,
1999.
11. James W. The principles of psychology. New York: H. Holt,1890.
12. Baddeley A. Working memory. Oxford: Clarendon Press, 1986.
13. Squire LR. Mechanisms of memory. Science 1986; 232 (4758): 1612-9.
14. Budson AE, Price BH. Memory dysfunction. N Engl J Med 2005; 352(7):692-9. Epub
18/02/2005.
15. Zillmer EA, Spiers MV, Culbertson WC. Principles of neuropsychology. New York:
Thomson, 2008.
16. Turner SM, DeMers ST, Fox HR, Reed GM. APA’S guidelines for test users qualifica
tions: an executive summary. Am Psycol 2001; 56(12):1099-113.
17. Bishop CL, Temple RO, Tremont G, Westervelt HJ, Stem RA. Utility of the neuropsycho
logical evaluation in an acute medical hospital. Clin Neuropsychol 2003; 17(4) :468-73.
18. Souder E, O’Sullivan PS. Nursing documentation versus standardized assessment of
cognitive status in hospitalized medical patients. Appl Nurs Res 2000; 13(l):29-36.
19. Aasheim ET. Wernicke encephalopathy after bariatric surgery: a systematic review.
Ann Surg 2008; 248(5):714-20.
20. Fiirbringer e Silva SC, de Sousa RMC. Galveston Orientation Amnesia Test (GOAT).
Rev Esc Enferm USP 2009; 43:1027-33.
REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
DURANTE A INTERNAÇÃO
INTRODUÇÃO
No âmbito hospitalar, a atuação do neuropsicólogo é mais frequente em
ambulatórios, por meio da prática da avaliação e reabilitação neuropsi-
cológica. Já no contexto de internação hospitalar, no qual a assistência
abrange as fases iniciais de recuperação, bem como o acompanhamento
de pacientes considerados crônicos, a neuropsicologia tem se mostrado
um campo com potencial de crescimento, mas ainda pouco explorado e
sistematizado quanto às suas possibilidades.
REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
A reabilitação neuropsicológica pode ser definida como um processo no
qual os indivíduos com alterações cognitivas e/ou comportamentais tra
balham junto a profissionais de saúde, com o objetivo de remediar ou
minimizar défícits cognitivos, emocionais, psicossociais e comportamen
tais.1 Quando se pensa na assistência durante o período de internação,
é importante ter em mente que fatores como o tempo de lesão, tipo de
194 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
INTERVENÇÕES
Em relação às intervenções neuropsicológicas na fase aguda de evolução,
da mesma forma que a avaliação precoce do nível dos déficits pode quan
tificar o grau de dificuldade que o paciente está sustentando no momen
to e monitorar as mudanças no padrão neuropsicológico observado, as
intervenções do neuropsicólogo visam principalmente a alertar a família
e a equipe sobre as limitações que podem interferir na reabilitação atual
do indivíduo. A partir das especificidades das alterações neuropsicológi
cas nas fases aguda e crônica de recuperação neurológica apresentadas,
serão destacados, a seguir, os diferentes tipos de intervenção neuropsi-
cológica e seus objetivos na assistência do paciente adulto e pediátrico.
A intervenção com o paciente internado varia muito, de acordo com
sua condição clínica geral, pois vários fatores relacionados à sua saúde
podem afetar funções primárias, necessárias para se trabalhar aspectos
cognitivos. Infecções e alterações metabólicas, por exemplo, podem di
minuir significativamente o nível de alerta do paciente, gerando sonolên-
PSICOLOGIA HOSPITALAR 197
apenas uma pessoa por vez fale com ele, que não haja outros estímu
los concorrendo por sua atenção quando ele estiver tentando processar
uma determinada informação. O excesso de estimulação, nesses casos,
acarreta, frequentemente, uma exacerbação do cansaço e de sintomas,
como desorientação, agitação e agressividade. Além disso, é necessário
fornecer constantemente dados de orientação temporoespacial (contan
do com o auxílio de calendários e relógios) e informá-lo, sempre que pos
sível, sobre o que está ocorrendo com ele.
Há várias escalas para se avaliar o nível de respostas do paciente em
estado vegetativo. A Coma/Near-coma Scale3 é uma escala breve que
fornece subsídios para estabelecer a gravidade do coma e o nível de res
postas que o paciente está apresentando por meio da apresentação de
estímulos de diversas modalidades sensoriais (auditivos, visuais, táteis,
obtenção de resposta a comando, etc). No entanto, existem outras op
ções de instrumentos mais detalhados com a mesma finalidade, como a
Wessex Head Injury Matrix4, a Coma Recovery Scale Revised5, entre ou
tros. Instrumentos, como o teste de amnésia e orientação de Galveston
(GOAT)6 podem ser utilizados em pacientes em período recente de re
cuperação após TCE, para avaliar regularmente a presença e a evolução
do período de APT. Trata-se do período de recuperação do TCE, quando
o paciente recobra a consciência, que se caracteriza por alterações sig
nificativas da memória anterógrada, por desorientação e por confusão
mental.7 O tempo de duração da APT, assim como o valor inicial obtido
na escala de coma (escala de coma de Glasgow8), é considerado um dado
preditivo da recuperação cognitiva de pacientes com TCE.
Orientação familiar
Para os familiares de pacientes em período agudo de recuperação, é
importante ter em mente uma proposta psicoeducativa, pois o caráter
recente da lesão configura situações em que a família se sente perdida
diante de diferentes informações fornecidas pela equipe interdiscipli-
PSICOLOGIA HOSPITALAR 199
nar e angustiada por não entender o que está acontecendo com seu ente
querido, o que pode levar ao surgimento de reações de ajustamento dos
familiares à situação, com sintomas depressivos e de ansiedade.
As alterações cognitivas e de comportamento podem ser bastante pro
nunciadas nessa fase e, consequentemente, deixar os familiares confu
sos, pois é natural que interpretem reações de impulsividade ou raiva por
parte do paciente como algo inteiramente intencional e com relação cau
sai, por não saberem que alterações cerebrais podem interferir no con
trole emocional e na expressão do comportamento. Assim, orientações
sobre o manejo dessas alterações, noções sobre o acometimento cerebral
em si e etapas da recuperação e preparação para um período longo de
recuperação são pontos importantes a serem trabalhados com a família.
Quanto mais informada esta estiver e com suporte emocional adequado,
mais preparada ela estará para enfrentar os percalços da recuperação.
No caso de pacientes crônicos, com longo período de internação, os
dados de exame neuropsicológico e mesmo os atendimentos regulares
serão vistos como reavaliações constantes, pois outros fatores clínicos
podem influenciar o desempenho cognitivo do paciente, especialmente
no caso de idosos. À medida que há evolução clínica, tem-se a expectati
va de que o paciente obtenha melhor perfil de desempenho.
Durante a internação, ainda não se configura a demanda plena de
estratégias funcionais para a realização de tarefas diárias; no entanto,
algumas estratégias específicas podem ser inseridas junto aos familia
res para resgatar dados de orientação temporal, espacial e pessoal, tanto
do paciente em fase aguda quanto em fase crônica. O resgate de infor
mações autobiográficas por meio de fotos e relatos pode ser muito im
portante, assim como o uso de um calendário de fácil visualização no
quarto do paciente. Informações aos familiares e dados de orientação
diminuem a confusão do paciente neurológico e facilitam a retomada de
interesses prévios e do estabelecimento de metas, além da preocupação
com sua própria condição.
200 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim como nos casos de pacientes adultos, as especificidades da inter
venção em reabilitação neuropsicológica em pacientes pediátricos (com
os pacientes internados) são: orientar a família com proposta psicoedu-
cativa; avaliar e monitorar a evolução cognitiva diante de uma condi
ção de instabilidade e de mudança constante do quadro clínico (espe
cialmente nos casos agudos); considerar fatores preditivos de evolução
cognitiva; e ter em mente que não será possível, naquele momento, esta
belecer um perfil de funcionamento neuropsicológico duradouro. Além
disso, a intervenção com o paciente também irá priorizar a promoção
da orientação para dados de referência (temporal, espacial e pessoal) e
modificações ambientais para controle da estimulação.
O emprego de técnicas de reabilitação convencionais, elaboradas com
base no atendimento de pacientes crônicos e fora da condição de interna
ção, como treino cognitivo, estratégias funcionais e retomada de conteú
dos escolares, também poderá ser realizado com as devidas adaptações,
variando de acordo com a condição clínica e os recursos do paciente.
204 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Wilson BA. Neuropsychological rehabilitation. Annu Rev Clin Psychol 2008; 141-62.
2. Hannay HJ, Howieson DB, Loring DW, Fischer JS, Lezak MD. Neuropathology for neu
ropsychologists. In: Lezak MD, Howieson DB, Loring DW (eds.). Neuropsychological
assessment. New York: Oxford University Press, 2004. p.157-285.
3. Rappaport M, Doughtery AM, Kelting DL. Evaluation of coma and vegetative states.
Arch Phys Med Rehabil 1992; 73:628-34.
4. Shiel A, Wilson BA, McLellan L, Horn S, Watson M. The Wessex Head Injury Matrix
(WHIM). Bury St Edmunds: Thames Valley Test Company, 2000.
5. Giacino JT, Kalmar K, Whyte J. The JFK coma recovery scale-revised: measurement
characteristics and diagnostic utility. Arch Phys Med Rehabil 2004; 85(12):2020-9.
6. Silva SCF, Sousa RMC. Galveston orientation and amnesia test: tradução e validação.
Acta Paul Enferm 2007; 20(l):24-9.
7. Gronwall D. Behavioral assessment during the acute stages of traumatic brain injury.
In: Lezak MD (ed.). Assessment of the behavioral consequences of head trauma. New
York: Alan R. Liss Inc., 1989. p.19-36.
8. Jennet B, Teasdale G. Assessment of coma and impaired consciousness. A practical sca
le. Lancet 1974; 11:81-4.
9. Suskauer S, Slomine BS, Inscore AB, Lewelt AJ, Kirk JW, Salorio CF. Injury severity
variables as predictors of WeeFIM scores in pediatric TBI: time to follow commands is
best. J Pediatric Rehabilitation Medicine 2009; 2(4):297-307.
10. Ewing-Cobbs L, Levin HS, Fletcher JM, Miner ME, Eisenberg HM. The Children’s
Orientation and Amnesia Test: relationship to severity of acute head injury and to re
covery of memory. Neurosurgery 1990; 27:683-91.
PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO
EM PSICOLOGIA NO CONTEXTO HOSPITALAR
INTRODUÇÃO
Produzir conhecimento, contribuir para o crescimento da profissão ou
simplesmente fazer pesquisa são ações ainda pouco estimuladas e de
senvolvidas na formação profissional do psicólogo e que frequentemente
são direcionadas para a compreensão do sujeito e do trabalho clínico.
Essa habilidade, no entanto, é parte fundamental e integrante do pensa
mento clínico, já que os psicólogos são, essencialmente, pesquisadores
da mente e da individualidade humana.
Trazer o treinamento em metodologia científica para a formação es
pecializada do psicólogo, mais especificamente a possibilidade de fazer
pesquisa, pode cumprir dois grandes objetivos: devolver à prática clínica
seu papel investigativo e curioso das nuances individuais e, por outro
lado, habilitar o profissional a manter postura e pensamento críticos so
bre sua atuação e sua contribuição para o desenvolvimento da ciência
psicológica.
208 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
PENSAMENTO CIENTÍFICO
Ciência, pensamento científico e pesquisa
Ciência é comumente definida como um conjunto organizado de conhe
cimento a respeito de um objeto que pretende ser analisado.1 Também
pode ser compreendida como um empreendimento complexo, enfatizan
do não somente o conceito (o que é ciência), mas também o fato de “o
fazer ciência” traduzir os diferentes modelos de ciência, ou seja, os diver
sos caminhos da produção científica.2
A ciência é assim definida por um processo de conhecimento, um pro
cesso de pensamento científico:
Assim, a ciência, por ser uma atividade acima de tudo humana, inscrita
na história, está em constante evolução, refletindo a pluralidade entre
aqueles que a pensam e aqueles que a realizam. Entretanto, apesar da va
riedade de definições, a ciência é vista como um corpo de conhecimento
científico, o qual pode ser desenvolvido ou pensado por uma nova teoria
e testado por meio de uma pesquisa científica.
Muitas vezes, a pesquisa é vista como sinônimo de ciência; contudo,
é considerada uma parte do produzir ciência: “Vista como uma ‘classe
geral de investigações controladas’, a pesquisa é o meio que os cientistas
têm para verificar suas hipóteses, testar suas idéias, suas teorias e obser
var os fatos empiricamente”.2 Dessa maneira, a finalidade da pesquisa
é contribuir de forma sistematizada e empírica para a testagem de uma
teoria, sendo que a discussão e a aplicabilidade dos resultados estão inti
mamente relacionadas à teoria inicial.
PSICOLOGIA HOSPITALAR 209
Métodos de investigação
Pesquisa quantitativa
A pesquisa quantitativa caracteriza-se pela quantificação ou mensuração
dos dados coletados, visando à generalização e à reprodutibilidade para
contextos semelhantes aos encontrados na pesquisa. A partir da quantifi
cação dos dados, é possível corroborar ou refutar as hipóteses do pesqui
sador, utilizando-se métodos estatísticos para o cálculo da probabilidade
de um resultado, caso este tenha sido obtido ao acaso.
O método de coleta dos dados em pesquisas quantitativas pode variar,
dependendo do que se quer estudar. Os tipos de desenho de estudo mais
comumente utilizados são classificados em dois grupos: os estudos expe
rimentais (ou de intervenção) e os estudos observacionais.
Os estudos experimentais são frequentemente utilizados para avaliar
tratamentos ou diagnósticos por meio da comparação de dois grupos.
Por essa razão, seu desenho é, em grande parte, prospectivo, ou seja,
com coleta acontecendo a partir do início da pesquisa. Dentro desse tipo
de estudo, existem aqueles considerados como de maior qualidade. O
exemplo paradigmático desse tipo de estudo é o ensaio clínico, aleatori-
zado, no qual se avalia a eficácia de uma determinada intervenção (tra
tamento). Nesse caso, um conjunto de pessoas/pacientes (denominado
amostra a ser estudada) é dividido aleatoriamente em grupos, dando-se
212 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
Pesquisa qualitativa
As abordagens qualitativas de estudo aplicadas às ciências humanas e às
ciências da saúde procuram explorar, descrever, compreender, interpre
tar e até desenvolver teorias pertinentes a um fenômeno em um contex
to específico.6 Essas abordagens também permitem a compreensão dos
campos sociais e dos sentidos neles presentes, à medida que remetem
a uma teia de significados inerentes às construções humanas referentes
aos comportamentos, às relações humanas e às estruturas sociais.7,8
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Fazer ciência” não é uma tarefa simples e que possa ser feita sem muita
formação, dedicação e método. O grande desafio na educação e na for
mação do novo profissional é colocá-lo em contato com todo o conheci
mento científico em sua área de concentração de maneira fácil e viável,
sem, ao mesmo tempo, torná-lo tão banal que impossibilite a construção
de um conhecimento em bases sólidas.
A introdução de temas, como os abordados neste capítulo, na forma
ção especializada do psicólogo hospitalar deve aproximá-lo de uma visão
crítica da realidade, instruí-lo como questionador de sua prática e, por
outro lado, devolver à sua prática diária o caráter investigativo e inquieto
que caracterizou todo o desenvolvimento na ciência psicológica.
218 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Ferreira H. Minidicionário Aurélio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.
2. D’Oliveira MMH. Ciência e pesquisa em psicologia: uma introdução. Temas básicos em
psicologia. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1984.
3. Muller FL. História da psicologia. Atualidades pedagógicas. São Paulo: Editora da Uni
versidade de São Paulo, 1968.
4. Lakatos EM, Marconi MA. Projeto e relatório de pesquisa. In: Lakatos EM, Marconi
MA (eds.). Metodologia do trabalho científico. 4.ed. São Paulo: Atlas, 1992. p.99-135.
5. Fletcher RH, Fletcher SW, Wagner EH. Epidemiologia clínica: elementos essenciais.
3.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
6. Tlirato ER. Qualitative and quantitative methods in health: definitions, differences and
research subjects. Rev Saúde Pública 2005; 39(3): 1-8.
7. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo:
Hucitec-Abrasco, 1992.
8. Lefèvre F, Lefévre AMC, Teixeira JJV. O discurso do sujeito coletivo: uma abordagem
metodológica em pesquisa qualitativa. Caixias do Sul: EDUCS, 2000.
9. Spink MJ. Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano. São Paulo: Cortez,
1999.
10. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70,1979.
ÍNDICE REMISSIVO
A D
adesão ao tratamento 124 defesas psíquicas 29
ambulatório 41 deficiência 136
aspecto emocional 7 depressão 71
avaliação doenças crônicas 123
da personalidade 11
neuropsicológica 176,182 E
psicológica 4, 37 entrevista 43
escalas 45
C exame
Classificação Internacional de neuropsicológico 178
Funcionalidade, Incapacidade e psicológico 5
Saúde 135 psíquico 86
conhecimento científico 215
220 MANUAIS DE ESPECIALIZAÇÃO
F P
fatores personalidade 16
de risco 55 pesquisa
protetores 55 qualitativa 213
fenômeno psíquico 82 quantitativa 211
funcionamento prevenir transtornos mentais 54
cognitivo 196 promover saúde mental 54
psicológico 5 psicodiagnóstico 12
psicologia 209
H reabilitação 134
humanização 3 psicopatologia 81
psicoterapia cognitiva 129
1
intervenção familiar 117 R
reabilitação
L do paciente pediátrico 201
luto 137 neuropsicológica 193
reações emocionais da família 141
M relação hospital e fórum 162
manejo assistencial 103 resiliência 61
metodologia científica 207
S
N saúde mental 53
neuropsicologia 175 serviços de atenção à saúde 66
notificação de situações de violência síndromes psiquiátricas 82
166
PSICOLOGIA HOSPITALAR 221
T U
tabagismo 71 unidades de internação 39
técnicas uso e abuso de álcool 69
complementares 110
supressoras de ansiedade 101 V
teoria de crise 99 violência 145
testes 44 criança e o adolescente 147
desempenho 15 de gênero 154
rastreamento 15 idoso 157
psicológicos 13
traços psicológicos 11
trauma físico 141