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REDAÇÕES

MÓDULO 3

COMPETÊNCIA I
Material de Leitura do Curso de
Capacitação a Distância
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SIGILOSO e não pode ser divulgado, distribuído,
impresso ou utilizado para qualquer outra
finalidade que não faça parte do objetivo
específico do curso de capacitação. No caso
de quebra de sigilo, a Fundação Getulio Vargas
aplicará todas as medidas legais cabíveis
e desligará do processo a pessoa envolvida.

Alertamos também que o conteúdo pedagógico


foi ATUALIZADO e APRIMORADO. O cursista
deve estudar o material de forma cuidadosa,
mesmo que tenha participado do curso de capacitação
de 2021 do Enem, para que possa assimilar
as mudanças e ampliar seus conhecimentos.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 1


S UMÁ R I O
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................4
1.1. Matriz de Referência da Competência I .................................................................................... 7
1.2. Grade Específica da Competência I.......................................................................................... 9
1.3. Dinâmica de avaliação dos textos ........................................................................................... 11

2. A ESTRUTURA SINTÁTICA ..................................................................................................... 14


2.1. Problemas comuns de estrutura sintática .............................................................................. 17
2.1.1. Truncamento de períodos ................................................................................................ 17
2.1.2. Justaposição de orações e/ou períodos ........................................................................21
2.1.3. Excesso, ausência ou duplicação de elementos sintáticos ......................................... 23

3. OS DESVIOS ........................................................................................................................... 27
3.1. Desvios de convenções da escrita ......................................................................................... 28
3.1.1. Acentuação ...................................................................................................................... 29
3.1.2. Ortografia .........................................................................................................................31
3.1.3. Hífen ................................................................................................................................ 35
3.1.4. Separação silábica (translineação)................................................................................ 37
3.1.4. Maiúsculas/minúsculas .................................................................................................. 38
3.2. Desvios gramaticais ............................................................................................................... 41
3.2.1. Regência ......................................................................................................................... 41
3.2.2. Concordância ................................................................................................................. 43
3.2.3. Tempos e modos verbais............................................................................................... 46
3.2.4. Pontuação ...................................................................................................................... 47
3.2.5. Paralelismo sintático ..................................................................................................... 55
3.2.6. Emprego de pronomes .................................................................................................. 57
3.2.7. Crase ............................................................................................................................... 60
3.3. Desvios de escolha de registro ...............................................................................................61
3.3.1. Informalidade/marca de oralidade .................................................................................61
3.4. Desvios de escolha vocabular ................................................................................................ 62

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3.4.1. Escolhas lexicais imprecisas ......................................................................................... 63
3.5. Orientações gerais.................................................................................................................. 65
3.5.1. Indicações de desvio ...................................................................................................... 65
3.5.2. Mais de um desvio em um mesmo vocábulo ................................................................ 66
3.5.3. Mesmo desvio em palavras repetidas ou com mesmo radical .................................... 67
3.5.4. Algumas considerações sobre o nível 5 ........................................................................ 70
3.5.5. Falha de estrutura sintática ou desvio de pontuação? ................................................ 72

4. DESCRIÇÃO DOS NÍVEIS ......................................................................................................... 74


4.1. Nível 0....................................................................................................................................... 74
4.2. Nível 1 ....................................................................................................................................... 78
4.3. Nível 2 ...................................................................................................................................... 86
4.4. Nível 3 ...................................................................................................................................... 92
4.5. Nível 4 .................................................................................................................................... 100
4.6. Nível 5 .................................................................................................................................... 104

5. CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 109

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MÓDULO 3

COMPETÊNCIA I
Demonstrar domínio da modalidade escrita
formal da língua portuguesa

1. INTRODUÇÃO
A primeira Competência da Matriz de Referência do Enem avalia o domínio que os
participantes desse exame apresentam em seus textos quanto à modalidade escrita
formal da Língua Portuguesa. Essa avaliação é pautada pelo que dispõe a norma-padrão e
deve levar em consideração que o domínio dessa norma está estratificado em níveis que
contemplam aspectos de ordem léxico-gramatical e de construção adequada de períodos
e frases, garantindo a fluidez da leitura.

Assim, apresentaremos, neste módulo, como tais aspectos devem ser avaliados bem
como as estratégias que tornam essa avaliação eficaz, homogênea e objetiva, de modo a
garantir uma nota justa ao participante e uma segurança maior ao avaliador, que poderá
atribuir determinado nível nessa Competência com base em critérios devidamente
preestabelecidos e acordados entre todos os atores desse processo.

Uma das primeiras questões que devem ser consideradas na avaliação da Competência I
é que a escrita formal da Língua Portuguesa pressupõe um conjunto de regras e
convenções firmadas e trabalhadas já nos primeiros anos de formação escolar. É

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importante enfatizar que aqui estamos tratando da escrita formal, uma vez que é a
modalidade mais adequada a textos dissertativo-argumentativos, e cuja exigência fica
explícita para os participantes já na proposta de redação (grifo nosso):

PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos
construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em
modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Invisibilidade e
registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”, apresentando proposta de
intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de
forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Assim, em conformidade com o que foi solicitado ao participante e com o contexto mais
amplo deste trabalho (a saber, a correção de textos em larga escala), a avaliação da
modalidade escrita deve ser pautada por critérios previamente sistematizados e bem
acordados entre todos os avaliadores. Isso significa que a avaliação não deve se orientar
por aquilo que um avaliador considera mais problemático do ponto de vista gramatical ou
de incorreção quanto à norma ortográfica, por exemplo, ou pelo estabelecimento de uma
hierarquia, em que se penaliza mais um determinado tipo de desvio de norma-padrão do
que outro, segundo o que cada um julga mais ou menos aceitável. Ao buscarmos uma
equidade nessa avaliação, eliminaremos a subjetividade, que é indesejável em processos
como o de correção de redações do Enem.

Dessa forma, para que iniciemos a sistematização da avaliação da Competência I,


destacamos que, ao analisar as redações nessa Competência, deveremos atentar aos
seguintes aspectos: a estrutura sintática e a presença de desvios.

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Com relação à estrutura sintática, devemos observar de que forma o participante
constrói as orações e os períodos de seu texto, verificando se eles estão completos, se
contribuem para a fluidez da leitura, entre outras questões de ordem sintática.

Já no que diz respeito aos desvios, estes são determinados pelo que preconiza a
gramática normativa. É preciso termos em conta que, muitas vezes, as regras
gramaticais oriundas da produção linguística real dos falantes, como aquelas observadas
nas gramáticas descritivas, não correspondem ao que se espera da formalidade exigida
para um texto escrito, menos ainda para um texto dissertativo-argumentativo.

Por esse motivo, é fundamental que avaliemos os textos dos participantes do Enem a
partir do que se vem ensinando ao longo dos anos de formação escolar dos estudantes, de
acordo com as convenções estabelecidas pelos gramáticos normativistas em termos de
regras ortográficas e gramaticais e com a adequação de escolha de registro e de escolha
vocabular.

Por fim, é imprescindível ressaltarmos o caráter independente de avaliação das


competências. Em cada módulo deste curso, teremos a oportunidade de estudar a fundo
os aspectos nelas observados, de modo que a avaliação dos textos se dê de maneira justa,
sem que os participantes sejam penalizados duplamente. Tal observação é fundamental,
já que, por exemplo, a Competência I estabelece diálogo estreito com a Competência IV, a
qual avalia a coesão. A fim de evitar que essa aproximação faça com que questões
pertinentes a uma dessas competências sejam avaliadas em outra, iremos explanar a
diferença entre elas na seção 3.1.2, “Ortografia”.

Ao longo deste material de leitura, as seguintes indicações gráficas serão empregadas:

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O X INDICA UMA FALHA NA ESTRUTURA SINTÁTICA.

O RETÂNGULO INDICA UM DESVIO.

A BARRA INDICA UMA AUSÊNCIA (DE PREPOSIÇÃO NA REGÊNCIA, DE VÍRGULA, DE


HÍFEN, DE NÃO ABERTURA OU FECHAMENTO DE ASPAS OU PARÊNTESES ETC.).

A BARRA TRACEJADA INDICA UMA AUSÊNCIA DE UM SEGUNDO ELEMENTO JÁ


PENALIZADO ANTERIORMENTE E QUE NÃO DEVE SER CONTABILIZADO COMO MAIS
UM DESVIO (POR EXEMPLO, EM UMA ORAÇÃO INTERCALADA QUE DEVERIA TER SIDO
ISOLADA POR VÍRGULAS, A BARRA TRACEJADA SERVE PARA INDICAR A SEGUNDA
VÍRGULA QUE DEVERIA “FECHAR” A PRIMEIRA).

EM REDAÇÕES COMPOSTAS INTEGRAL OU PREDOMINANTEMENTE POR


PARÁGRAFOS FORMADOS POR PERÍODO ÚNICO, O COLCHETE INDICA OS
PARÁGRAFOS EM QUE ISSO OCORREU.

A FORMA (OU LINHA) TRACEJADA EM VERMELHO INDICA ALGO QUE SE QUER


DESTACAR, MAS QUE NÃO SE TRATA DE DESVIO.

1.1. Matriz de Referência da Competência I

Apresentamos a seguir a Matriz de Referência para Redação da Competência I.

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COMPETÊNCIA I – MATRIZ DE REFERÊNCIA
Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa

0 Demonstra desconhecimento da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa.

Demonstra domínio precário da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa, de forma


1 sistemática, com diversificados e frequentes desvios gramaticais, de escolha de registro e de
convenções da escrita.

Demonstra domínio insuficiente da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa, com muitos
2 desvios gramaticais, de escolha de registro e de convenções da escrita.

Demonstra domínio mediano da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa e de escolha de


3 registro, com alguns desvios gramaticais e de convenções da escrita.

Demonstra bom domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa e de escolha de


4 registro, com poucos desvios gramaticais e de convenções da escrita.

Demonstra excelente domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa e de escolha de


5 registro. Desvios gramaticais ou de convenções da escrita serão aceitos somente como
excepcionalidade e quando não caracterizarem reincidência.

Na avaliação da Competência I, é imperativo que compreendamos a que se referem os


níveis precário, insuficiente, mediano, bom e excelente de domínio da escrita formal da
Língua Portuguesa, previstos, respectivamente, nos níveis 1, 2, 3, 4 e 5 da Matriz de
Referência para Redação do Enem, bem como o que é o desconhecimento total da
expressão formal na modalidade escrita, que corresponde ao nível 0.

Detalharemos, a seguir, como os textos podem ser avaliados segundo tais critérios.

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1.2. Grade Específica da Competência I

Em uma correção em larga escala, com a multiplicidade de atores envolvidos, é essencial


compreender que os avaliadores devem ter critérios muito afinados de correção dos
textos, haja vista que as produções escritas diferem muito umas das outras, como era de
se esperar em um exame que é aplicado para milhões de estudantes em todo o Brasil.
Consideremos alguns cenários possíveis:

Um participante pode apresentar mais dificuldade com a grafia das palavras,


com as regras de concordância previstas pela norma-padrão e/ou com o uso do
A acento indicativo de crase. No entanto, ele consegue formar períodos completos
e corretamente estruturados, sem falhas na estrutura sintática, mesmo que esta
não apresente uma elaboração mais complexa.

Já outro participante pode não ter facilidade para formar períodos, truncando-
os com ponto final ou justapondo-os com vírgulas (quando, na verdade, ele
B deveria ter usado ponto final), o que poderá comprometer a fluidez da leitura de
seu texto, embora consiga grafar as palavras e acentuá-las segundo as regras de
convenção da escrita.

Há também aquele que comete desvios bem pontuais e que demonstra destreza
C no emprego de subordinações e de orações intercaladas.

Ainda pode haver um participante que apresenta um texto que revela quase total
D desconhecimento das regras de convenção da escrita e das regras gramaticais,
bem como da organização dos componentes oracionais, por exemplo.

Diante de tantas possibilidades, faz-se necessário que objetivemos a correção desses


textos, de modo a garantir que dois avaliadores, ao avaliarem uma mesma redação,
atribuam o mesmo nível a ela.

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Essa objetivação começa pela divisão da avaliação da Competência I em dois momentos:
num primeiro, observaremos a estrutura sintática e, num segundo, os desvios.

Na avaliação dos textos, podemos encontrar quatro possibilidades de estrutura sintática:


a deficitária, a regular, a boa e a excelente; quanto aos desvios, eles podem ser muitos,
alguns, poucos ou, no máximo, dois. Há também um tipo específico de texto, a saber,
aquele que apresenta estrutura sintática inexistente.

Vejamos como esses tipos de estrutura sintática e as quantidades de desvios se


combinam nos seis níveis que compõem a avaliação da Competência I.

COMPETÊNCIA I – GRADE ESPECÍFICA DE CORREÇÃO

0 Estrutura sintática inexistente (independentemente da quantidade de desvios).

1 Estrutura sintática deficitária COM muitos desvios.

2 Estrutura sintática deficitária OU muitos desvios.

3 Estrutura sintática regular E alguns desvios.

4 Estrutura sintática boa E poucos desvios.

5 Estrutura sintática excelente (no máximo, uma falha) E, no máximo, dois desvios.

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1.3. Dinâmica de avaliação dos textos

Para que um texto seja avaliado em determinado nível da grade específica da Competência
I, é preciso que ele cumpra integralmente o seu descritor – ou seja, um texto avaliado no
nível 4, por exemplo, deverá apresentar, simultaneamente, “estrutura sintática boa” e
“poucos desvios”. Todavia, dentro do universo de textos que serão avaliados, certamente
haverá aqueles que apresentarão características de dois níveis – por exemplo: um texto
pode apresentar “poucos desvios” (característica contemplada no descritor do nível 4),
mas “estrutura sintática regular” (que consta no descritor do nível 3).

Em casos assim, precisamos nos pautar por uma diretriz muito importante: textos que
tenham características de dois níveis diferentes da grade específica da Competência
I DEVEM SER AVALIADOS NO NÍVEL INFERIOR. Assim, na situação hipotética apresentada
no parágrafo anterior, o texto se enquadrará no nível 3, pois apresenta “estrutura sintática
regular”, ainda que ele tenha uma característica de um nível superior (“poucos desvios”).

A nossa atenção sempre deverá ser maior para casos em que ou a estrutura sintática é
deficitária ou há muitos desvios, pois essas características aparecem em dois níveis.
Observemos:

1 Estrutura sintática deficitária COM muitos desvios.

2 Estrutura sintática deficitária OU muitos desvios.

Assim, um texto que apresenta “estrutura sintática deficitária com muitos desvios” deverá
ser avaliado no nível 1 da Competência I, uma vez que atende perfeitamente ao descritor
desse nível. Entretanto, se um texto apresenta “estrutura sintática deficitária”, mas os

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desvios não são “muitos”, deveremos, então, avaliá-lo no nível 2, pois, ainda que os desvios
sejam “alguns”, “poucos” ou, “no máximo, dois”, já se verifica a característica do nível
inferior: a “estrutura sintática deficitária”, típica do nível 2. Da mesma forma, se um texto
apresenta “muitos” desvios, mas a estrutura sintática não é “deficitária”, deveremos
avaliá-lo no nível 2, pois, ainda que a estrutura sintática seja “regular”, “boa” ou “excelente”,
já se verifica a característica do nível inferior: “muitos desvios”, o que é típico do nível 2.

Esquematizamos a seguir todas as possibilidades para que um texto seja avaliado no nível 2.

ALGUNS DESVIOS

ESTRUTURA SINTÁTICA DEFICITÁRIA E POUCOS DESVIOS

NÍVEL OU
NO MÁXIMO 2 DESVIOS
SINTÁTICA EXCELENTE E
2 ESTRUTURA SINTÁTICA REGULAR E

ESTRUTURA SINTÁTICA BOA E MUITOS DESVIOS

ESTRUTURA SINTÁTICA EXCELENTE E

Notemos que a possibilidade “estrutura sintática deficitária com muitos desvios” não
ocorre, já que ela se refere ao nível 1.

Apresentaremos adiante como deve se dar a avaliação da estrutura sintática para que
saibamos avaliar corretamente um texto entre as quatro possibilidades que se
apresentam para esse aspecto. Em seguida, os desvios serão detalhados, de modo que
compreendamos o que se está avaliando nesse aspecto e como iremos determinar se
aquele conjunto de desvios deve ser caracterizado como “muitos”, “alguns” ou “poucos”.

Nesse sentido, sabemos que a diferença entre “alguns” e “poucos” desvios, por exemplo,
pode variar, a depender do olhar do avaliador, o que não é desejável em qualquer processo

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de correção, ainda mais em um que envolve tantos avaliadores e textos tão diferentes uns
dos outros. Por esse motivo, devemos considerar que há redações em que a produção
textual dos participantes é claramente mais extensa quando comparada a outras mais
inexpressivas em termos de material produzido. Vários são os fatores que podem
determinar uma produção textual mais ou menos extensa: quantidade de linhas escritas,
tamanho da letra e espaçamento entre as palavras são alguns deles. Notemos que o
único elemento objetivo entre esses três é a quantidade de linhas escritas, mas não é
possível comparar a extensão dos textos considerando apenas essa característica, o que
nos coloca diante do desafio de olharmos para o texto considerando também os demais
elementos, ainda que não tão objetivos. Assim, o que denominamos CONJUNTO TEXTUAL
é a junção de todos esses elementos, os quais não podem ser objetivamente metrificados,
mas devem ser observados pelo avaliador, a fim de determinar se um texto apresenta
“muitos”, “alguns” ou “poucos” desvios.

Portanto, é importante que, com atenção, analisemos as redações exemplificadas na


seção 4, “Descrição dos níveis”, de modo que depreendamos o que se consideram “muitos”,
“alguns” e “poucos” diante de um conjunto textual menos ou mais expressivo.

Antes de passarmos às próximas etapas, é crucial registrar que é impraticável quantificar


os desvios para definir a avaliação de uma redação em um dos níveis, já que os muitos
avaliadores se encontrarão, diariamente, diante de um número significativo de textos
muito heterogêneos entre si. No entanto, há uma exceção: o nível 5, o qual admite, no
máximo, uma falha de estrutura sintática e, no máximo, dois desvios.

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2. A ESTRUTURA SINTÁTICA
A estrutura sintática é objeto de avaliação da Competência I, juntamente com os desvios,
uma vez que esse aspecto também faz parte das regras da Língua Portuguesa – aquelas
que dizem respeito à sintaxe. Uma estrutura sintática convencional pressupõe a
existência de determinados elementos oracionais que se organizam na frase e garantem
a fluidez da leitura e a apresentação clara das ideias do participante, organizadas em
períodos bem estruturados e completos.

Os textos com falhas relacionadas à estrutura sintática geralmente apresentam períodos


truncados (por exemplo, quando há a presença de um ponto final separando duas orações
que deveriam constituir um mesmo período), justaposição de palavras ou orações (como
quando se coloca uma vírgula no lugar de um ponto final que deveria indicar o fim da frase)
e ausência de termos ou excesso de palavras (elementos sintáticos). O que ajudará a
definir o nível em que uma redação deve ser avaliada é a frequência com que essas falhas
ocorrem no texto e o quanto elas prejudicam sua compreensão como um todo.

A estrutura sintática deve ser observada para a avaliação correta do texto: se ele não
possui uma sintaxe estruturada, é avaliado no nível 0, por conter estrutura sintática
inexistente, apresentando ou não desvios – ressaltamos que, nesses textos, podemos
observar momentos de estrutura sintática mínima preservada, em que se pode
depreender algum sentido; contudo, a ausência de uma estrutura sintática minimamente
preservada na maior parte do texto caracteriza a estrutura sintática como inexistente;
se possui uma estrutura sintática deficitária com muitos desvios, o texto deverá ser
avaliado no nível 1.

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No que diz respeito aos níveis 2, 3, 4 e 5, não podemos esquecer que um texto avaliado
em um desses níveis pode não apresentar o descritor exato da Grade Específica. Nesse
caso, ao apresentar características de dois níveis diferentes, deve ser avaliado no inferior.

Dessa forma, não é suficiente apenas observar a estrutura sintática para atribuir os níveis
na Competência I. O fato de um texto apresentar uma “estrutura sintática excelente” não
garante que ele seja avaliado no nível 5, pois, se esse texto apresentar mais de dois
desvios, deverá ser avaliado no nível 4.

Nesse sentido, o que caracteriza uma estrutura sintática deficitária, regular, boa ou
excelente? Primeiramente, a estrutura sintática deficitária é claramente identificável
quando há diversas falhas de estrutura sintática (descritas na próxima seção) que podem
ou não interferir na fluidez da leitura do texto. Trata-se de textos ao longo dos quais
interrompemos a leitura em certa altura e retomamos de um ponto precedente, porque a
compreensão foi prejudicada por um ponto final indevido ou pela falta dele, por exemplo.
Atentemos para o fato de que não estamos falando de um texto de letra de difícil
compreensão, mas de questões que se referem à maneira de escrever do participante,
com muitas orações justapostas ou com muitos truncamentos, isto é, os períodos estão
incompletos porque uma oração não foi expressa ou está indevidamente isolada em outro
período ou parágrafo. Igualmente, não devemos avaliar um texto como “estrutura sintática
deficitária” quando há falhas de estrutura sintática em momentos pontuais, mas sim
quando isso ocorre com frequência ao longo do texto, levando-se sempre em
consideração o conjunto textual.

A estrutura sintática regular ou boa será determinada por um texto em que, embora haja
fluidez de leitura, verificam-se algumas falhas (descritas na próxima seção). A
diferenciação entre estrutura sintática “regular” ou “boa” vai se dar, assim, pela quantidade
dessas falhas segundo o conjunto textual apresentado pelo participante.

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Aqui, temos uma diretriz importante: textos compostos integral ou predominantemente
por parágrafos formados por período único deverão ser considerados, no máximo,
textos de estrutura sintática regular (característica do nível 3). Entretanto, se um texto é
composto de tal forma, não significa que ele será necessariamente avaliado no nível 3.
Antes de atribuir o nível à redação, precisaremos verificar se sua estrutura sintática não é
“deficitária” (ou seja, se o texto apresenta falhas de estrutura sintática que justifiquem a
avaliação desta como “deficitária”) e qual a avaliação dos desvios, pois, se eles forem
“muitos”, a avaliação do texto deverá recair sobre os níveis 1 ou 2, a depender da avaliação
da estrutura sintática.

ATENÇÃO!
Se um texto apresentar metade dos parágrafos constituídos por um único período
e a outra metade corresponder a parágrafos com mais de um período (ou seja, a
mesma quantidade de cada tipo de parágrafo), a estrutura sintática do texto pode
ser avaliada como “boa” ou até mesmo como “excelente”, a depender de outras
características da construção dessa estrutura.

Uma outra questão importante que precisa ser esclarecida é quanto à excelência da
estrutura sintática esperada no nível 5. Uma estrutura sintática excelente admite uma
única falha e, além disso, é caracterizada por um texto com certa complexidade na
construção dos períodos, com orações intercaladas e subordinações, que revelam bom
domínio da escrita no que tange à organização no interior dos períodos. Com isso, um texto
formado apenas por períodos construídos de maneira simplória não poderá ser avaliado
como “estrutura sintática excelente”, mas “boa” (característica do nível 4), ainda que não
apresente falhas de estrutura sintática, como as que apresentaremos adiante.

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Para um maior esclarecimento sobre os textos compostos integral ou predominantemente
por parágrafos com período único e sobre a complexidade necessária para que a estrutura
sintática seja avaliada como “excelente”, pedimos especial atenção no momento de se
estudar as redações apresentadas na seção 4, “Descrição dos níveis”.

2.1. Problemas comuns de estrutura sintática

Há uma variedade de problemas que podem levar à falha na estrutura sintática. Elencamos
a seguir os mais comuns. Recordamos que as falhas de estrutura sintática estão indicadas
por um X, em roxo, conforme legenda constante da Introdução.

2.1.1. Truncamento de períodos

Um tipo de falha de estrutura sintática refere-se ao truncamento de períodos em que

(i) se separam orações principais de subordinadas;


(ii) se separam duas orações coordenadas; ou
(iii) simplesmente se isolam, em períodos ou frases, partes de uma oração que
deveriam constituir um único período.

Como podemos observar no Exemplo 1, temos um caso em que o participante separa a


oração principal de sua subordinada.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 17


Exemplo 1

Notamos, no Exemplo 1, o truncamento do período “Ademais, segundo o IBGE, no Brasil,


2,141 milhoes de pessoas não possuem certidão de nascimento. Fazendo assim com que o
governo tenha uma enorme dificulade em ajudar […]”, já que a oração subordinada
“Fazendo assim com que o governo tenha uma enorme dificulade em ajudar […]” deveria
constituir um único período com a oração anterior (“Ademais, segundo o IBGE, no Brasil,
2,141 milhoes de pessoas não possuem certidão de nascimento, fazendo assim com que o
governo […]”).

Outro caso de truncamento pode ser visto no Exemplo 2.

Exemplo 2

Os períodos que foram construídos de maneira independente deveriam constituir período


único no Exemplo 2 (“Por meio da invisibilidade e a dificuldade em garantir a cidádania no
Brasil, ha uma omissão por parte do estado, e do meio politico”), e, por essa razão, verifica-
se uma falha de estrutura sintática por truncamento nesse trecho.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 18


Observemos também o Exemplo 3, que apresenta um caso em que houve o isolamento
indevido de uma parte da oração.

Exemplo 3

Nesse exemplo, ocorre uma separação indevida da oração “Que saem a procura para se
encaixar em um mundo novo para eles”, a qual deveria fazer parte do período anterior, “E
com isso transmitem para os mais velhos, por começarem a entender”. Essa separação
gera um truncamento.

Outro exemplo de isolamento indevido de partes da oração em períodos independentes


pode ser visto no Exemplo 4.

Exemplo 4

O participante separa indevidamente por ponto final os trechos “sem violência com mais”
e “respeito a todos e a melhoria na educação, saúde, com a diminuição na violência”, os
quais deveriam constituir um único período com o que vinha se afirmando: “Nós cidadão
não temos apoio dos governantes, para nada, com o acesso ia ser um país, Melhor sem
violência porque não temos a oportunidade de nada, pra procurar fazer, um Brasil sem
violência com mais respeito a todos […]”.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 19


Devem ser objeto de atenção também os casos em que o participante inicia períodos com
conjunções coordenativas ou subordinativas, uma vez que o participante pode ter separado
orações que deveriam constituir um período único, como nos mostra o Exemplo 5.

Exemplo 5

Nesse exemplo, o truncamento não se verificaria caso o participante tivesse escrito “[…]
mesmo assim a população acaba sofrendo com isso porque muitos locais solicidando a
segunda via a mesma só teria validade […]”. No entanto, como houve a separação das duas
orações pelo uso do ponto final, configura-se uma falha de estrutura sintática.

Outro caso de separação indevida de orações por ponto final que caracteriza truncamento
pode ser visto no Exemplo 6.

Exemplo 6

Assim como no Exemplo 5, temos aqui um caso em que o participante isola indevidamente
uma oração iniciada por conjunção coordenativa (“Pois para trabalhar de carteira assinada
tem que ter documentos”), a qual deveria compor período único com o que vinha se
afirmando anteriormente. A construção sem essa falha, portanto, deveria ter sido: “[…]

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são obrigados a viver sem sua certidadão de nascimento, não podendo estudar e muito
menos trabalhar, pois para trabalhar de carteira assinada […]”.

2.1.2. Justaposição de orações e/ou períodos

Outra falha relacionada à estrutura sintática diz respeito a construções que deveriam ser
independentes, mas foram justapostas, formando longos períodos. Esse tipo de falha está
ilustrado no Exemplo 7, em que há justaposição em diversos momentos ao longo do texto.

Exemplo 7

Nesse exemplo, temos justaposição de orações que deveriam constituir novos períodos
em mais de um momento. Os trechos com falhas de justaposição poderiam ter sido assim
escritos, de modo a eliminá-las: “Os cidadões tem que ter o direito de ter acesso a
cidadania brasileira. Temos que uma nação de igualdade fazendo que todas pessoas
possam ter esse direito, seja rico ou pobre, negro ou branco. Muitas das vezes a periferia
saí em desvantages mais o nosso dever como cidadão é lutar para nossa igualdade. Temos

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 21


que termais amor, empatia, com o proxímo. Então que sempre possamos lembrar que
todas pessoas tem o direito de ser um cidadão brasileiro. Menos agressividade e mais
amor por favor”.

Por não se verificar essa organização esperada de seus períodos, mas sim a justaposição
de orações em um único período, atribuem-se cinco falhas de estrutura sintática por
justaposição a esse trecho. Ainda que haja outras falhas de estrutura sintática, como
ausência de elemento sintático (em “todas [as] pessoas” na l. 4 e, posteriormente, na l. 11),
o Exemplo 7 propõe-se a ser ilustrativo apenas da falha de justaposição.

Essa mesma falta de organização dos períodos, marcada por momentos de justaposição,
é verificada no Exemplo 8.

Exemplo 8

No Exemplo 8, é possível verificar que o participante, assim como no Exemplo 7, encadeia


uma oração na outra, sem fazer uma organização de orações e períodos, gerando uma
justaposição que só é possível corrigir construindo períodos menores (“A certidão de
nascimento é muito importante para nós brasileiros. Muitos não tem pelo fato que esconde

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 22


o filho ou eles foram dados para adoção muito cedo. As vezes nem sempre é falta da
certidão. Tem muita gente que não tem a carteira de trabalho. O Brasil tem muita gente
desempregado. Maioria tira em cima da hora ou não tira poque não tem trabalho. O povo
que não tem muito certidão de nascimento é o povo indígenas. Eles não tem muita
estrutura para ir ao hospital. A maioria dos indígenas eles fazem muito como os avós deles
faziam antigamente”). Dessa forma, considera-se que, no trecho apresentado no Exemplo 8,
há 7 falhas de estrutura sintática por justaposição.

2.1.3. Excesso, ausência ou duplicação de elementos sintáticos

Quando se verifica excesso ou ausência de elementos sintáticos, não relacionados a


problemas de regência ou de paralelismo (que serão vistos como desvios), deve-se
considerar falha de estrutura sintática. O Exemplo 9 ilustra um caso em que há excesso
de elemento sintático.

Exemplo 9

A repetição do artigo “o” em “pelo o Estado” caracteriza uma falha de estrutura sintática
por excesso, pois já existe um artigo na contração “pelo” (preposição “por” mais artigo “o”).

Um outro exemplo de excesso de elemento sintático pode ser observado no Exemplo 10.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 23


Exemplo 10

Nesse exemplo, observamos que há excesso do elemento “Dado” (“Exposto os problemas


apresentados […]”) ou de “exposto” (“Dado os problemas apresentados […]”), o que, de todo
modo, caracteriza um excesso de algum elemento e faz com que haja aí uma falha de
estrutura sintática dessa natureza.

Há ainda casos como o do Exemplo 11, em que igualmente se verifica excesso de elemento
sintático, caracterizando falha de estrutura sintática.

Exemplo 11

O pronome “se” está em excesso, tendo em vista que o verbo “precisar” não é pronominal
e que não há por que se indeterminar o sujeito, já que este está expresso (“soluções”).

Reforçamos que é preciso cautela para não considerarmos falha de estrutura sintática a
presença ou a ausência indevida de preposição quando claramente se trata de um
problema de regência nominal ou verbal (que deve, portanto, ser considerado desvio, e não
falha de estrutura sintática). Vejamos o Exemplo 12.

Exemplo 12

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 24


Como se pode observar, a preposição “de” é excedente (o correto seria “[…] é de
responsabilidade do governo federal, utilizando da assistência social, levar esse direito
[…]”), mas não deve ser considerada falha de estrutura sintática e sim um desvio de
regência, conforme explicaremos na seção 3.2.1., “Regência”, deste material.

Também não devem ser consideradas falhas de estrutura sintática por excesso de
elemento sintático construções que repitam uma mesma ideia, como “pessoas com
problemas mentais da cabeça”. O que se observa nesse caso é uma redundância (não
penalizável na Competência I) e não um excesso de elemento sintático. Também não deve
ser considerada excesso de elemento sintático a construção “como por exemplo”,
ilustrada no Exemplo 13.

Exemplo 13

Quanto à ausência de elemento sintático, observemos o Exemplo 14.

Exemplo 14

Como podemos notar, a ausência de um elemento sintático na construção “Apesar [de] se


tratar de uma literatura […]” gerou uma falha de estrutura sintática no trecho em questão.

Da mesma forma, podemos observar um trecho de redação em que há falha de estrutura


sintática por ausência de elemento sintático no Exemplo 15.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 25


Exemplo 15

No exemplo em questão, há ausência de elemento sintático em “[…] para as pessoas que


não tem condição, é no local se registrar por [causa] da distância e do dinheiro”, assim
como ocorre no exemplo anterior, o Exemplo 14.

Exemplo 16

Não está expresso sintaticamente, no Exemplo 16, o que as pessoas em todo Brasil não
possuem, havendo, portanto, falha de estrutura sintática que poderia ser sanada da
seguinte maneira: “[…] inúmeras pessoas em todo Brasil não possuem [o registro civil]”.

A duplicação de elementos sintáticos também deve ser considerada falha de estrutura


sintática, como nos mostra o Exemplo 17.

Exemplo 17

A duplicação do elemento sintático “depois” caracteriza uma falha de estrutura sintática.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 26


3. OS DESVIOS
Uma vez apresentadas as falhas de estrutura sintática e como as avaliamos, trataremos,
nesta seção, do outro elemento que compõe a Grade Específica da Competência I, a saber,
os desvios, com base nos problemas mais recorrentes, e como eles devem ser avaliados.

Neste momento, é importante determinar, com mais detalhes, o que deve ser avaliado na
Competência I quanto aos desvios. Eles serão elencados a seguir, de acordo com a
categoria a que pertencem:

→ ACENTUAÇÃO
→ ORTOGRAFIA
DE CONVENÇÕES
→ HÍFEN
DA ESCRITA
→ SEPARAÇÃO SILÁBICA (TRANSLINEAÇÃO)
→ MAIÚSCULAS/MINÚSCULAS
DESVIOS

→ REGÊNCIA
→ CONCORDÂNCIA
→ TEMPOS E MODOS VERBAIS
GRAMATICAIS → PONTUAÇÃO
→ PARALELISMO SINTÁTICO
→ EMPREGO DE PRONOMES
→ CRASE

DE ESCOLHA DE REGISTRO → INFORMALIDADE/MARCA DE ORALIDADE

DE ESCOLHA VOCABULAR → ESCOLHAS LEXICAIS IMPRECISAS

Os desvios de convenções da escrita geralmente são os elementos mais evidentes no


texto – um problema de acentuação ou de grafia pode ser mais facilmente visualizado,
justamente pela natureza dessas questões.

Por outro lado, desvios gramaticais, como problemas de concordância, podem não ser tão
aparentes, exigindo uma análise mais aprofundada.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 27


Já a avaliação da escolha de registro deve sempre levar em consideração que o
participante precisa escrever um texto dissertativo-argumentativo, que requer a
utilização de um registro formal. Assim, cabe ao avaliador observar se o registro utilizado
é adequado ao tipo textual e ao contexto de produção.

Por sua vez, os desvios de escolha vocabular dependem, muitas vezes, de uma análise
semântica, pois é preciso observar se um determinado vocábulo está sendo empregado
em seu sentido correto e adequado ao texto e às ideias apresentadas.

Comentemos brevemente essas categorias de desvios, de modo a elucidar o que deve ser
avaliado.

3.1. Desvios de convenções da escrita

Os desvios de convenções da escrita estão relacionados ao modo como se escrevem as


palavras. Assim, a falta de um acento ou uma palavra grafada incorretamente são
questões avaliadas nesta categoria.

Nesse sentido, cumpre determinarmos que a correta grafia das palavras, a acentuação e
o uso do hífen devem ser avaliados segundo o Acordo Ortográfico vigente (doravante Novo
Acordo Ortográfico), assinado em 1990 e obrigatório no Brasil desde 2016.

Elencaremos, nas próximas seções, alguns desvios comuns que são verificados nas
redações. Os exemplos que foram incluídos nesta seção podem apresentar mais desvios
além daqueles indicados, mas, para facilitar a identificação do que se quer apontar, não
inserimos a marcação em todos os desvios.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 28


3.1.1. Acentuação

Desvios de acentuação devem ser penalizados na Competência I. O Exemplo 18 ilustra um


caso em que o participante comete desvio dessa natureza.

Exemplo 18

Nesse exemplo, observamos a palavra “idêntificação” acentuada incorretamente (já que o


correto seria “identificação”) e também “nascímento” indevidamente acentuada, uma vez
que essa palavra não possui acento.

Exemplo 19

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 29


No Exemplo 19, as palavras “esta”, “tambem”, “invisivel”, “fisica” e “tem” deveriam estar
acentuadas (respectivamente, “está”, “também”, “invisível”, “física” e “têm”), e, por isso,
correspondem a cinco desvios pelo mesmo motivo.

Em relação a esse trecho e à questão da acentuação, cabe uma observação importante:


como veremos na seção 3.5.3, “Mesmo desvio em palavras repetidas ou com mesmo
radical”, desvios de uma mesma subcategoria de convenções da escrita (nesse caso,
acentuação) em palavra repetida ao longo do texto (nesse exemplo, a palavra “esta”) devem
ser contabilizados apenas uma vez. Por essa razão, a segunda e a terceira ocorrências
de “esta” (que deveria ser “está”) não foram marcadas como desvio, mas estão apenas
indicadas com o tracejado oval vermelho para fins práticos.

Ainda nesse exemplo, a ausência de acento na palavra “tem”, mesmo relacionada a um


problema de concordância, deve ser considerada desvio de acentuação, bem como em
casos afins, como “vem”/“vêm”. Essa decisão tem duas justificativas: (i) a única diferença
entre o singular e o plural desses verbos é a presença do acento circunflexo marcando
plural, o que faz com que essa ausência não nos permita afirmar que o participante não
saiba concordar o verbo com o sujeito, necessariamente; (ii) como veremos adiante, no
caso de desvio de convenções da escrita, a penalização é feita uma única vez, ainda que o
mesmo desvio se repita na mesma palavra ou em palavra de mesmo radical; se a
penalização para esse caso fosse feita em desvios gramaticais (concordância), o
participante seria penalizado cada vez que escrevesse “têm” com um sujeito no singular
ou “tem” com um sujeito no plural.

Por fim, no Exemplo 20, apresentamos mais alguns casos em que se verificam desvios de
acentuação.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 30


Exemplo 20

As palavras “varias”, “existencia”, “desnecessario”, “e” e “Fisica” não foram acentuadas (deveriam
ser “várias”, “existência”, “desnecessário”, “é” e “Física”, respectivamente), enquanto
“ínrelevante” e “é” foram indevidamente acentuadas (o correto seria “irrelevante” e “e”,
respectivamente). Seja pela ausência do acento, seja pela presença indevida, esses são
exemplos de desvios de acentuação. Como apontamos anteriormente, quando há uma palavra
que não foi acentuada e essa mesma palavra ocorre com esse mesmo desvio, devemos
contabilizar apenas a primeira ocorrência (como é o caso de “é”, que deveria ser “e”); já no caso
de “desnecessario” e “nescessarío”, observamos também o mesmo desvio em palavras que não
são exatamente as mesmas, mas apresentam a mesma base (“necessário), caso para o qual
aplicaremos a mesma regra de se considerar desvio apenas a primeira ocorrência.

3.1.2. Ortografia

Pressupõe-se, na modalidade formal escrita da Língua Portuguesa, que as palavras


estejam corretamente grafadas. Casos em que isso não ocorre são passíveis de
penalização, como ilustra o Exemplo 21.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 31


Exemplo 21

Podemos verificar a existência de três desvios de grafia no Exemplo 21: “nacimento”


(nascimento), “indentidade” (identidade) e “leitor” (eleitor). Este último, ainda que não haja
qualquer problema com a palavra “leitor”, deveria ser claramente “eleitor”, o que faz com
que avaliemos essa situação como um desvio de grafia. Como veremos no item 3.4.1,
“Escolhas lexicais imprecisas”, por se tratar de uma diferença mínima de grafia, não
devemos considerar esse caso (“leitor” no lugar de “eleitor”) como um caso de desvio de
escolha vocabular.

De igual modo, a troca de “há” por “a” (ou vice-versa) deverá ser considerada desvio de
grafia, como observamos no Exemplo 22.

Exemplo 22

Nesse caso, a troca da forma verbal “há” por “a” deverá ser contabilizada como um único
desvio, e não como um desvio de grafia e outro de acentuação. Da mesma forma, se o
participante tivesse feito o contrário (utilizado “há” quando o correto seria “a”),
contabilizaríamos apenas um desvio.

Também deve ser considerado desvio de grafia o uso de “aonde” no lugar de “onde” (ou
vice-versa), como ocorre no Exemplo 23.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 32


Exemplo 23

Nesse caso, o “onde” não está relacionado a um verbo que requer a preposição “a”.
Portanto, o correto seria “onde”, e não “aonde”. Ainda que a natureza desse desvio esteja
ligada à regência pedida por verbos que estão relacionados à ideia de movimento,
optamos por considerar esse um problema de grafia, pois, como veremos adiante, desvios
de natureza gramatical (como a regência) numa mesma palavra devem ser penalizados em
todas as ocorrências ao longo do texto; já os desvios de convenções da escrita em uma
mesma palavra, como a grafia, serão penalizados apenas uma vez. Dessa maneira, ainda
que haja mais de uma ocorrência de “aonde” no lugar de “onde” (ou vice-versa) em um
mesmo texto, deve-se considerar apenas um desvio.

É importante que se faça aqui uma ressalva: o uso de “onde” sem função locativa, como
mostrado no Exemplo 24, deve ser penalizado na Competência IV, e não na Competência I.

Exemplo 24

Percebe-se que o “onde”, nesse exemplo, foi usado incorretamente como um elemento
coesivo, cuja alçada de avaliação é da Competência IV. Como o termo está grafado
corretamente, ele não será considerado desvio na Competência I.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 33


Por outro lado, cumpre ressaltar que elementos coesivos grafados incorretamente devem
ser penalizados na Competência I devido à grafia incorreta, conforme o Exemplo 25,
enquanto a adequação do elemento coesivo (isto é, se ele exerce, de fato, a função que
deveria exercer como coesivo) é avaliada na Competência IV, como já apontado.

Exemplo 25

Nesse exemplo, o termo “Toda via”, ainda que se trate de um coesivo, deve ser penalizado
na Competência I por apresentar um desvio de grafia (a escrita correta seria “Todavia”).

Exemplo 26

Finalmente, caso o participante grafe uma expressão fixa incorretamente, como “haja
visto” (em que o correto seria “haja vista”), tem-se um desvio de grafia. Caso houvesse um
emprego incorreto dessa expressão em uma frase como “A criança precisa de documento
para se matricular na escola, haja visto que muitas não têm documento algum”,
observaríamos – além da grafia incorreta, que deve ser penalizada na Competência I – o
emprego inadequado de “haja vista” como elemento coesivo, pois não se verifica relação
de causa e consequência entre as ideias por ele coordenadas, mas de oposição, gerando
também, portanto, penalização na Competência IV (essas questões serão tratadas com
mais profundidade no Módulo 6).

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 34


ATENÇÃO!
Palavras estrangeiras grafadas incorretamente não devem ser consideradas
desvios. Assim, se o participante grafar “bulling”, em vez de “bullying”, não devemos
considerar desvio.

Também não devem ser avaliados como desvio os nomes próprios grafados
incorretamente. Registros como “Augusto Pullmam” (August Pullman) e “R. J.
Palasio” (Palacio), ou casos como “Heiguel” (Hegel), “Roussea” (Rousseau),
“Sartré” (Sartre), “Nietszche” (Nietzsche) e similares não devem ser
penalizados. Entretanto, como veremos adiante, nomes próprios grafados
com letra inicial minúscula devem ser considerados desvios.

3.1.3. Hífen

O avaliador deve lembrar que a translineação pressupõe o uso do hífen ao final da linha.
Por essa razão, devem ser penalizados casos em que esse hífen não é usado para indicar
que uma palavra teve sua escrita interrompida ao final de uma linha e continuará na
próxima, como ocorre no Exemplo 27.

Exemplo 27

A palavra “verdade” foi separada em duas linhas, mas, como o participante não indica a
translineação com um hífen, temos um desvio.

Se o participante indicar a translineação inserindo uma sublinha no lugar do hífen, também


consideraremos que a translineação foi corretamente sinalizada, como nos mostra o
Exemplo 28.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 35


Exemplo 28

Notamos que as palavras “gargalo”, “bem-desenvolvida” e “Fazendo” foram escritas em


duas linhas diferentes e, para indicar essa translineação, o participante faz uso de
sublinhas, recurso válido para indicar translineação.

De igual modo, casos em que o participante marca duplamente a translineação com um


hífen iniciando a linha em que a palavra continua devem ser avaliados normalmente, como
mostrado no Exemplo 29.

Exemplo 29

No caso ilustrado pelo Exemplo 29, o participante marca duplamente a translineação nas
palavras “iniciativa” e “indigêmcia”, o que não deve ser penalizado, mas avaliado como uso
adequado do hífen para se indicar a translineação.

Por outro lado, são passíveis de penalização ocorrências em que o uso do hífen não foi
respeitado segundo o Novo Acordo Ortográfico. O Exemplo 30 ilustra um caso em que o
hífen deveria ter sido empregado, mas não foi, gerando um desvio.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 36


Exemplo 30

Por não ter empregado o hífen em “porta voz” (quando o correto seria “porta-
-voz”), o participante comete um desvio.

Por fim, a presença indevida de hífen em palavras ou composições que não apresentam
esse sinal deve ser penalizada, como no Exemplo 31.

Exemplo 31

A palavra “socioeducativas” deve ser grafada sem hífen; por isso, penalizam-se os casos
em que se grafa “socio-educativas”, como no Exemplo 31.

ATENÇÃO!
A avaliação da Competência I deve ser feita de modo que o participante
não seja prejudicado por sua caligrafia.

3.1.4. Separação silábica (translineação)

Como já antecipado, quando o participante faz uma translineação, ele deve marcá-la com
um hífen ao final da linha. Caso não o faça, um desvio deverá ser considerado.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 37


Ainda em relação à translineação, devemos considerar desvio a separação silábica
incorreta, como ilustrado no Exemplo 32.

Exemplo 32

A separação silábica em “ma-is” está incorreta, havendo, em casos como esse, portanto,
um desvio.

3.1.4. Maiúsculas/minúsculas

Dentre os desvios de convenções da escrita, encontram-se os usos indevidos de letra


maiúscula e minúscula. A fim de objetivar a avaliação desses usos, elencamos, a seguir,
as situações em que tal ocorrência será considerada desvio:

I Períodos iniciados com letra minúscula

Nomes de pessoas grafados com letra inicial minúscula – em casos de nome composto e/ou
II nome e sobrenome, considera-se um único desvio para o nome como um todo

III Nomes de países, continentes e outras áreas geográficas grafados com letra inicial minúscula

Nomes de eventos e acontecimentos históricos grafados com letras iniciais minúsculas


(“Segunda Guerra Mundial”, “Proclamação da República”, “Guerra de Canudos”, “Reforma
IV Protestante”, “Idade Média” etc.) – nesses casos, considera-se um único desvio para o nome
como um todo. Ex: “segunda guerra mundial” ou “Segunda guerra mundial” (apenas com inicial
maiúscula na primeira palavra) - 1 desvio

“Constituição” ou “Constituição da República Federativa do Brasil” grafados com letras iniciais


V minúsculas – nesses casos, considera-se um único desvio para o nome como um todo:
“constituição da república federativa” – 1 desvio

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 38


“Estado” como sinônimo de conjunto das instituições que controlam uma nação grafado com
letra inicial minúscula, como ilustrado no Exemplo 33

VI Exemplo 33

Uso indevido de inicial maiúscula em substantivos comuns, verbos, pronomes, conjunções


etc., como no Exemplo 34

Exemplo 34

VII

Note-se que a palavra “Brasileiros”, na linha 7, apresenta indevidamente letra inicial maiúscula.
É possível notar que o participante diferencia letra b maiúscula e minúscula, se observarmos
a mesma palavra na linha 4. Desse modo, entendemos que, na linha 7, não se trata da caligrafia
do participante que não diferencia maiúscula de minúscula (situação em que ele não seria
penalizado).

ATENÇÃO!
Assim como acontece no Exemplo 34, muitas vezes é necessário que o avaliador
observe a caligrafia de determinadas partes do texto do participante para decidir
se uma palavra está de fato grafada corretamente. No caso do Exemplo 34,
especificamente, foi a ocorrência de uma letra inicial b minúscula que permitiu
determinar que “Brasileiros” na linha 7 foi grafada indevidamente com inicial
maiúscula. Diferentemente, no Exemplo 35, observamos que o participante usa
sempre uma letra r maiúscula em início de palavra, caso em que não devemos
considerar desvio, pois essa é sua caligrafia para essa letra nessa posição
específica das palavras.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 39


Exemplo 35

Outros casos, além dos descritos, não devem ser considerados desvios no uso de
maiúscula e minúscula. Isso inclui nomes de ministérios e secretarias, que, mesmo se
forem grafados com inicial minúscula, não devem ser considerados desvios. Da mesma
forma, a palavra “país”, se grafada em maiúscula, ainda que não se refira explicitamente
ao Brasil, não deve ser considerada desvio, como é o caso do Exemplo 36.

Exemplo 36

Finalizando as considerações sobre maiúscula e minúscula, se um participante usa letra


maiúscula em todo o seu texto, entendemos que essa é sua caligrafia e não o
penalizamos.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 40


3.2. Desvios gramaticais

Os desvios gramaticais observados na avaliação da Competência I dizem respeito a


questões que estão menos relacionadas à observação das palavras isoladamente e mais
relacionadas a problemas gerados pela não observação de regras preestabelecidas pela
norma-padrão no que concerne à relação que há entre as palavras. A seguir, elencamos os
desvios gramaticais mais comuns.

3.2.1. Regência

Conforme adiantamos na seção 2.1.3, “Excesso, ausência ou duplicação de elementos


sintáticos”, ao apresentar o Exemplo 12, devemos considerar desvio de regência casos em
que se verifica a ausência de uma preposição que é regida por um nome ou um verbo, ou
quando uma preposição é empregada indevidamente, sendo regida por um nome ou um
verbo que não exige aquela preposição (ou qualquer outra preposição). O Exemplo 37
ilustra um caso em que a preposição foi usada indevidamente.

Exemplo 37

Nesse exemplo, o verbo “acarretar” está acompanhado da preposição “em”, o que


caracteriza um desvio, pois, segundo a norma-padrão, esse verbo, nesse contexto, é
transitivo direto, sendo o correto “[…] o que acareta uma serrie de problemas”.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 41


O desvio de regência também pode ser verificado na ausência da preposição, como
ilustrado no Exemplo 38.

Exemplo 38

Nesse contexto, há ausência de uma preposição que estabeleça a correta relação entre
os verbos “conscientizar” e “retirar” (conscientizar as pessoas DE retirar o registro de
nascimento). Tal falta de uma preposição (“de”) caracteriza um desvio de regência.

ATENÇÃO!
Uma observação importante a ser feita é quanto à contração de preposição e artigo
que acompanham um sujeito. Não penalizaremos os casos em que é feita essa
contração, como mostrado no Exemplo 39.

Exemplo 39

No trecho “Pelo simples fato dos cidadãos ficarem distantes […]”, não
consideraremos desvio a contração em “dos cidadãos”, em que ocorre a
contração da preposição “de” e do artigo “os”, que determina o sujeito do verbo
“ficarem”, no lugar de “Pelo simples fato de os cidadãos ficarem distantes [...]”.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 42


3.2.2. Concordância

A concordância verbal e nominal deve ser avaliada nos casos em que ela é obrigatória,
segundo a norma-padrão da língua. É preciso atenção para casos em que há sujeitos
longos ou compostos, para que, na ausência de concordância, eles não passem
despercebidos. Também merecem atenção ocorrências como a do Exemplo 40.

Exemplo 40

Podemos observar, no Exemplo 40, que há uma concordância incorreta, já que “claro”
refere-se à “gratuidade”, e, portanto, deveria ter sido flexionado no feminino (“[…] deixem
clara a gratuidade do documento […]”).

O Exemplo 41 apresenta um caso de concordância indevida em uma locução verbal.

Exemplo 41

O predicativo do sujeito, que está anteposto ao sujeito “as questões que assombram o
século XXI”, no Exemplo 41, estaria correto se fosse “São indiscutíveis as questões […]”,
havendo, portanto, um desvio de concordância no trecho.

A concordância de “ser necessário” e “fazer-se necessário” será cobrada quando o


elemento que vier na sequência for introduzido por um determinante (como artigo,
pronome indefinido, pronome demonstrativo). Assim, em “é necessário campanhas”, não

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 43


há desvio; entretanto, em “é necessário uma campanha”, há um desvio, pois o correto seria
“é necessária uma campanha”.

No Exemplo 42, podemos observar um desvio de concordância com “ser necessário”.

Exemplo 42

O correto, nesse caso, seria “Portanto, é necessária a difusão da invisibilidade […]”, de


modo que se verifique concordância adequada com “é necessário” seguido de
determinante.

É importante observar, no Exemplo 43, outra construção recorrente e similar ao Exemplo


42, em que o desvio de concordância se dá com “fazer-se necessário”.

Exemplo 43

Nesse caso, a concordância correta seria: “[...] faz-se necessária a apresentação do


documento pessoal”, uma vez que “apresentação do documento pessoal” é introduzido por
um determinante: o artigo definido “a”.

Ademais, caso o sujeito de “ser necessário” e “fazer-se necessário” seja uma oração
subordinada (introduzida por “que”) ou um verbo, deve-se usar a forma neutra “é
necessário” e “faz-se necessário”: “É necessário/Faz-se necessário que o governo faça
campanhas” e “É necessário/Faz-se necessário fazer campanhas”.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 44


O quadro a seguir resume os apontamentos apresentados acima:

NÃO É DESVIO

NÃO É DESVIO

NÃO É DESVIO

NÃO É DESVIO

“É necessária que haja campanha” É DESVIO

“É necessário fazer campanhas” NÃO É DESVIO

“São necessárias fazer campanhas” É DESVIO

Por fim, com a expressão “ser preciso” (em que o adjetivo “preciso” tem sentido de
“necessário”), não se deve seguir o mesmo raciocínio empregado para a expressão
“ser/fazer-se necessário”, tendo em vista que “ser preciso” pode manter-se invariável
mesmo quando houver um determinante, como ocorre no Exemplo 44.

Exemplo 44

Nesse exemplo, “ser preciso” é usado com o sentido de “ser necessário”, mas, ainda que
haja um determinante em “uma força tarefa”, não devemos considerar desvio a
manutenção no masculino de “é preciso”.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 45


3.2.3. Tempos e modos verbais

Os desvios referentes a tempos e modos verbais devem ser observados de modo que haja
penalização caso o participante empregue indevidamente um tempo ou um modo verbal
em um contexto em que claramente deveria ter feito uso de outro tempo ou modo verbal,
conforme o Exemplo 45.

Exemplo 45

O Exemplo 45 ilustra um caso em que o participante emprega o modo indicativo quando


deveria ter empregado o subjuntivo: “[…] embora haja ainda milhões de brasileiros sem
essa devida documentação […]”.

É preciso enfatizar que só devem ser considerados desvios casos em que claramente foi
empregado um tempo ou um modo verbal não adequado ao contexto. Se existe a
possibilidade de uma leitura correta com o tempo ou o modo verbal empregado pelo
participante, não deverá haver penalização.

Dessa forma, se o participante escreve “Com a crescente falta de registro, aumentarão os


casos de desemprego”, não devemos entender que o participante usou o tempo futuro no
lugar do tempo pretérito (“aumentaram”), pois é possível que ele de fato esteja se referindo
ao tempo futuro.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 46


Por fim, não devemos considerar como desvio gramatical de tempos e modos verbais
casos em que o participante grafa incorretamente a forma verbal e esta acaba coincidindo
com um outro tempo ou modo verbal, como ocorre no Exemplo 46.

Exemplo 46

No Exemplo 46, observamos um caso em que se deve considerar “tira” como um desvio de
grafia (“tirar”) e não uma troca da forma infinitiva do verbo pela forma flexionada no
presente do indicativo ou no imperativo. Esses casos que devem ser considerados como
desvio de grafia ocorrem normalmente quando o participante elide o -r final do infinitivo
ou o -u final das formas do pretérito. Todos esses casos devem ser considerados desvios
de convenções da escrita (grafia) e não desvios gramaticais (tempos e modos verbais).

3.2.4. Pontuação
O uso da vírgula deverá ser considerado desvio nos casos em que são separados:

→ sujeito e predicado;
→ verbo e objeto;
→ conjunção subordinativa e oração subordinada;
→ locução conjuntiva e a oração subordinada que introduz;
→ nome e complemento, adjetivo e substantivo, advérbio e adjetivo,
determinante e determinado e outras separações incomuns (como a
separação de um verbo ou um nome e a preposição por ele regida, a separação
de um advérbio e o elemento que este modifica ou a separação de elementos
que compõem uma locução).

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 47


Um caso recorrente e que exige maior atenção do avaliador é quando há um sujeito longo
e este é separado do predicado/predicativo por vírgula, como observamos no Exemplo 47.

Exemplo 47

O sujeito “As pessoas localizadas em zonas rurais” foi separado indevidamente do


predicativo “são exemplares do século passado […]” por vírgula, de modo que temos aí um
desvio.

Outro caso de separação indevida pode ser observado no Exemplo 48.

Exemplo 48

Nesse exemplo, pode-se observar um caso de separação indevida da locução


subordinativa “uma vez que” da oração subordinada por ela introduzida: “é um empecilho
para aqueles cidadãos no meio social”.

Exemplo 49

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 48


Nesse exemplo, o participante comete um desvio ao separar a conjunção “que” da oração
subordinada por ela introduzida: “a desiqualdade social é a maior interferência na
educação, qualidade de vida e empregabilidade”.

A ausência de vírgula, por sua vez, deverá ser considerada desvio quando o participante
não faz uso dela em:

→ isolamento de apostos, de orações intercaladas/deslocadas e de adjuntos


adverbiais longos deslocados;
→ enumerações.

ATENÇÃO!
Obrigatoriamente, exigiremos que adjuntos adverbiais com três ou mais
palavras (adjuntos adverbiais longos) estejam isolados por vírgulas quando
deslocados do final da oração, sua posição esperada.

Nas enumerações, devemos contabilizar um desvio a cada ausência de vírgula entre


termos listados. Já nos casos em que o participante deixa de isolar apostos, orações
intercaladas/deslocadas e adjuntos adverbiais longos deslocados, consideraremos um
único desvio, mesmo que haja ausência de duas vírgulas. Observemos o Exemplo 50.

Exemplo 50

Nesse exemplo, temos o adjunto adverbial longo (com três ou mais palavras) não isolado
por vírgulas: “para o fim da desigualdade na busca pela cidadania”. Em casos como esse,

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 49


devemos considerar um único desvio por ausência de vírgula em cada trecho, ainda que
haja ausência de mais de uma vírgula. Assim, nesse exemplo, há apenas um desvio
indicado pela barra de linha cheia; a barra tracejada indica a segunda vírgula que está
faltando, mas que não é considerada desvio.

Exemplo 51

No Exemplo 51, a ausência de vírgula para isolar o adjunto adverbial “hoje em dia” deve ser
considerada desvio (um único desvio, ainda que faltem duas vírgulas).

Devemos estar atentos, contudo, a casos como o do Exemplo 52, em que se verifica um
adjunto adverbial com menos de três palavras.

Exemplo 52

Nesse trecho, verificamos que o adjunto adverbial “Anos atrás” não está isolado por
vírgulas, o que não é considerado um desvio, uma vez que não se trata de um adjunto
adverbial longo (com três palavras ou mais). Da mesma forma, caso estivesse isolado,
também não deveríamos considerar um desvio tal presença de vírgula. É importante estar
claro que apenas será considerada desvio a ausência de vírgulas isolando adjuntos
adverbiais com três ou mais palavras.

Como apontado anteriormente, a vírgula faz-se necessária, também, quando se está


enumerando uma lista, e considera-se um desvio cada uma de suas ocorrências, como no
Exemplo 53.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 50


Exemplo 53

Como se pode observar, há falta de vírgula em dois momentos da enumeração feita pelo
participante: “Os negros sempre foram os mais descriminados[,] os mais invisiveis[,] os
mais zoados independente […]”. Portanto, considera-se que há dois desvios por ausência
de vírgula nesse trecho.

Igualmente, a ausência de vírgulas antes de conjunções ou locuções conjuntivas deve ser


penalizada nos casos em que a norma-padrão exige, como diante de conjunções
adversativas e explicativas (por outro lado, não é desvio, por exemplo, a ausência de
vírgula antes de conjunção que introduza uma relação causal). Observemos o Exemplo 54.

Exemplo 54

Nesse exemplo, observamos ausência de vírgula antes da conjunção adversativa “mas”,


configurando, portanto, um desvio de pontuação.

Já em casos como o do Exemplo 55, em que o participante emprega uma vírgula após uma
conjunção ou locução conjuntiva, não consideraremos desvio. O mesmo ocorreria se ele
não tivesse colocado uma vírgula nesse caso.

Exemplo 55

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 51


Também não devem ser avaliadas como desvio construções como a do Exemplo 56, em
que se verifica a ausência de vírgula antes da conjunção “e” quando ocorre troca de sujeito
nas orações.

Exemplo 56

Em “[…] visto que existe uma falta de informação por parte dos grupos desfavorecidos[,]
e a desigualdade reforça tal invisibilidade”, verifica-se que o participante não insere a
vírgula na troca de sujeito na oração, mas a ausência dessa vírgula não deve ser
considerada um desvio.

Um último caso a que o avaliador deve estar atento e não deve considerar desvio é o
emprego ou não de vírgulas para isolar orações adjetivas (isoladas por vírgulas no caso das
explicativas; sem vírgulas no caso das restritivas).

Além do uso das vírgulas, devemos atentar ao não emprego do ponto de interrogação
pelo participante, isto é, quando houver ausência do ponto de interrogação em uma frase
claramente interrogativa, devemos considerar um desvio de pontuação, como ocorre no
Exemplo 57.

Exemplo 57

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 52


A frase “Como podemos viver em um brasil assim que figem em espalha amor mais na
verdade espalham odio [?]” é claramente interrogativa, mas o participante não emprega o
ponto de interrogação, o que configura um desvio.

A seguir, trataremos do uso das aspas. Devemos considerar um desvio quando o


participante abre as aspas e não as fecha, assim como qualquer outro sinal de pontuação
que exija abertura e fechamento, como no Exemplo 58.

Exemplo 58

Nesse caso, o participante abre as aspas para apresentar o nome da obra, mas não as
fecha, o que deve ser considerado desvio.

Já o uso de aspas quando se quer, por exemplo, dar ênfase a uma palavra (ou a um trecho)
ou empregá-la fora de seu contexto habitual não é considerado desvio, como ocorre no
Exemplo 59.

Exemplo 59

O uso das aspas em “bancos, lotéricas, lojas e etc…” não se justifica, mas o fato de o
participante ter equivocadamente utilizado as aspas nesse caso não o beneficia nem o
prejudica. Para a avaliação da Competência I, é como se as aspas não estivessem
presentes.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 53


ATENÇÃO!
Palavras escritas incorretamente e que foram colocadas entre aspas continuarão sendo
consideradas desvios, como ocorre no Exemplo 60.

Exemplo 60

A palavra “obrigatorio” não foi acentuada e, mesmo estando entre aspas, deve ser
considerada desvio normalmente.

Imprecisões lexicais ou informalidades também serão consideradas desvios mesmo


quando destacadas com aspas. Ainda que o participante demonstre conhecimento de
que as aspas servem para indicar que se trata de uma palavra escrita incorretamente,
de uma imprecisão ou de uma informalidade, vale lembrar que o texto dissertativo-
-argumentativo pressupõe o emprego da norma-padrão, e não é esse o tipo textual mais
adequado para demonstrar esse tipo de conhecimento do uso das aspas. Além disso, em
muitas situações, não é possível se certificar de que o participante conhece ou
desconhece o emprego adequado da palavra, o que poderia levar a avaliações injustas.

O Exemplo 61 ilustra um caso em que o participante emprega uma informalidade entre


aspas.

Exemplo 61

Nesse caso, como explicamos anteriormente, o uso das aspas não faz com que a
informalidade se torne aceitável, configurando, portanto, um desvio de informalidade
pelo uso de “virar uma bola de neve”, expressão de cunho informal.

Encerrando as considerações sobre pontuação, não consideraremos desvio a presença


de pontuação em início de parágrafo ou linha, nem a ausência de ponto final ao se encerrar
um parágrafo.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 54


Exemplo 62

No Exemplo 62, temos parágrafo iniciado por um hífen, o que não é objeto de penalização
na Competência I, mas pode ser na Competência II, pois são considerados marcadores de
tópicos. No próximo módulo, estudaremos como avaliar esses casos.

Além disso, essa redação ilustra um caso que não é muito frequente, mas pode acontecer
durante a correção efetiva das redações: note-se que há pontos finais em alguns
momentos do texto, como na linha 1, antes de “concerne”; na linha 2, antes de “de
identificação”; na linha 3, antes de “trasendo”; na linha 4, antes de “não”; e assim por diante.
Tais pontos devem ser considerados truncamentos e penalizados.

3.2.5. Paralelismo sintático

O paralelismo sintático caracteriza-se pela repetição de uma mesma estrutura sintática


preenchida por diferentes elementos lexicais. Já a ausência de paralelismo pode causar
problemas de construção do período e decorre do não emprego, ou do emprego incorreto,
de elementos gramaticais pertencentes à estrutura paralelística.

Exemplo: “Nos dias atuais, os estrangeiros e população pobre sofrem com a dificuldade
para se tirar documentação”. Nesse período, percebemos que os elementos que atuam
como sujeito, “os estrangeiros” e “população pobre”, não possuem paralelismo já que um

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 55


recebeu o artigo definido e o outro não. A solução para o problema de paralelismo é de
ordem gramatical – nesse caso, seria a inserção do artigo em “a população pobre”.

Observemos o Exemplo 63, para entendermos melhor como deve ser cobrado o desvio de
paralelismo sintático.

Exemplo 63

Há, no Exemplo 63, a falta de paralelismo na construção “[…] a invisibilidade e ausência de


registro civil […]”, uma vez que o primeiro elemento da estrutura paralelística (“a
invisibilidade”) é acompanhado do artigo e o segundo elemento não (“ausência do registro
civil”). Desse modo, a estrutura paralelística não está preservada (o correto, portanto, seria
“[…] a invisibilidade e a ausência de registro civil […]”).

Dessa forma, devem-se considerar desvio de paralelismo sintático casos em que há


ausência de artigo na estrutura paralelística (acompanhado de preposição ou não), não
havendo desvio de paralelismo em estruturas como: “A emissão de identidade e carteira
de trabalho pode não ser assim tão simples” (por não haver artigo acompanhando a
preposição “de” diante de “identidade”, não é necessário que se repita essa preposição
junto a “carteira de trabalho”).

Além de preposição desacompanhada de artigo, também não é necessário que se repita


verbo em estruturas como “Andar com documentos e carteira de vacinação é o mínimo
nos dias de hoje”, em que não há razão para se repetir o verbo (“Andar com documentos e
andar com carteira de vacinação…”), já que “documentos e carteira de vacinação” são
objetos circunstanciais de “andar com”, dispensando-se sua repetição.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 56


Por fim, com relação ao paralelismo sintático, é importante que o avaliador penalize o
participante o mínimo possível. Assim, em construções como “Crianças, adultos e os
idosos só são reconhecidos como cidadãos quando têm documentos”, em vez de
considerarmos que há dois desvios pela ausência de artigo definido em “[As] Crianças,
[os] adultos […]”, devemos considerar que há um desvio pela presença do artigo no
terceiro elemento, “os idosos”, de modo que o participante seja penalizado apenas uma
vez. A frase corrigida, portanto, seria “Crianças, adultos e idosos só são reconhecidos
como cidadãos quando têm documentos”.

3.2.6. Emprego de pronomes

O emprego de pronome que funciona como objeto direto no lugar do objeto indireto
(ou vice-versa) é um problema que diz respeito ao uso de um pronome que não
corresponde à correta transitividade do verbo ao qual se refere.

Observemos, no Exemplo 64, o emprego inadequado de pronome que representa um objeto


direto no lugar de outro, que deveria representar um indireto.

Exemplo 64

Nesse exemplo, observamos que há uso incorreto do pronome correspondente a um


objeto direto no lugar de um indireto, já que o complemento direto de “negar” já está
expresso (“o direito de serem cidadãos”), faltando, portanto, o complemento indireto, “aos
indivíduos”, que corresponderia a “lhes” e não a “os”.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 57


O uso de pronome pessoal do caso reto no lugar do oblíquo utilizado como
complemento de verbos transitivos diretos também deve ser penalizado como desvio.

Exemplo 65

Vemos, no Exemplo 65, que o participante usa, para complementar o verbo transitivo direto
“registrar”, um pronome pessoal do caso reto (“ela”) no lugar de um oblíquo (“a”),
cometendo, em função disso, um desvio (o trecho reescrito corretamente seria “[…] não a
registrar” ou "[…] não registrá-la").

Consideraremos também desvios casos em que houver pronomes oblíquos átonos em


início de frase, como ocorre no Exemplo 66.

Exemplo 66

Nesse caso, o correto seria o emprego do pronome após o verbo (ênclise): “Canta-se na
musica ‘Olhos coloridos’ [...]”.

Além disso, as palavras que indicam negação (“não”, “nem”, “nunca”, “ninguém” etc.), os
pronomes relativos ou as conjunções subordinativas (“que”, “quando” etc.), assim como os
advérbios que atuam sobre verbos, atraem para perto de si o pronome oblíquo átono
(próclise). Quando não se observa essa regra, devemos considerar um desvio, como no
Exemplo 67.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 58


Exemplo 67

A presença do pronome relativo “que” gera a necessidade de próclise do pronome “se”, o


que não foi observado no Exemplo 67, em que o correto seria “[...] o primeiro que se possui
ao nascer”.

Não exigiremos que o participante observe o uso dos pronomes demonstrativos


“esse/a(s)”, “este/a(s)” e “isso”, “isto” em situações de anáfora e catáfora, respectivamente
– isto é, caso o participante escreva algo como “Os documentos pessoais hoje são mais
fáceis de serem retirados, mas estes [no lugar de “esses”] ainda precisam ser mais
popularizados”, não há o que se penalizar nessa frase, uma vez que o emprego desses
pronomes não chega a ser consensual nem mesmo entre gramáticos.

Também não consideraremos desvio se o participante empregar um pronome pessoal do


caso oblíquo (tônico) como complemento de verbos transitivos indiretos. Exemplo: “A
sociedade muda, mas o homem dá a ela um caráter imutável” (em vez de “A sociedade
muda, mas o homem dá-lhe um caráter imutável”).

Por fim, o emprego de verbos no infinitivo, ainda que na presença de elementos que
exigem a próclise, em locuções verbais ou com um só verbo, permite que se faça a ênclise,
como em “Na série, a mãe da garota não quis ajudá-la”. O avaliador deve, portanto, estar
atento para não penalizar o participante por não ter feito a próclise com o advérbio de
negação, já que há verbo no infinitivo.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 59


3.2.7. Crase

Deve-se penalizar como desvio o emprego indevido do acento indicativo de crase ou a


falta desse acento quando é evidente a sua necessidade para indicar contração de
preposição “a” e artigo feminino singular ou plural, “a”/“as”, ou pronome demonstrativo
“aquele/a(s)”.

Exemplo 68

No Exemplo 68, verificamos empregos inadequados do acento indicativo de crase, uma


vez que apenas a preposição “a” é necessária diante de palavras masculinas e de verbos
(“[...] uma forma abrangente, a todos os públicos. Assim incentivaria as pessoas a tirar o
seu documento [...]”).

Observa-se, no Exemplo 69, a ausência de acento indicativo de crase em uma construção


na qual seu emprego é obrigatório.

Exemplo 69

A ausência de acento indicativo de crase deve ser considerada desvio nesse exemplo, pois
a crase é necessária em “Cabe às autoridades competentes [...]”, já que se trata da
contração da preposição (realizar algo cabe a alguém) e do artigo definido feminino plural
(as autoridades).

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 60


3.3. Desvios de escolha de registro

O texto dissertativo-argumentativo escrito na modalidade escrita formal da Língua


Portuguesa pressupõe que a redação seja redigida sem marcas que apontem para uma
influência da oralidade na escrita ou coloquialidades que possam interferir no registro
esperado. Assim, desvios de escolha de registro também devem ser penalizados na
Competência I.

3.3.1. Informalidade/marca de oralidade

Informalidades/marcas de oralidade também são objeto de avaliação entre os desvios.


Dessa forma, diante de uma frase como “O catálogo da Netflix está cheio de filmes e séries
super interessantes para quem se interessa pelo assunto”, há desvio de
informalidade/marca de oralidade pelo uso de “super” não como um prefixo que forma uma
palavra na língua, mas como informalidade como sinônimo de “muito”.

Seguem exemplos de desvios a serem considerados na escolha de registro:

→ Expressões coloquiais como “um monte”, “um bocado”, “é isso aí”, “né”, “tá
beleza”, ou formas usadas na Internet, como “blz”, “vc”, “eh”, “super” como
sinônimo de “muito” (e não como prefixo formador de palavra na Língua
Portuguesa);
→ o uso de diminutivos e aumentativos (ex.: “basiquinho”; “muitão”);
→ reduções (como “pra”, “pro”, “tá”, “tô”) e abreviaturas, como “p/” (no lugar de
“para”) ou “c/” (no lugar de “com”).

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 61


A exemplo do que ocorre com os desvios de convenções da escrita, será considerada
desvio apenas a primeira ocorrência de desvio de escolha de registro em uma mesma
palavra ou em palavra com o mesmo radical.

No Exemplo 70, podemos observar a supressão de es- no início da forma verbal “estar”, o
que caracteriza informalidade/marca de oralidade e, portanto, um desvio:

Exemplo 70

Outro exemplo de emprego de informalidade pode ser observado no Exemplo 71.

Exemplo 71

Deve-se considerar marca de oralidade o emprego de “bem” ou “bom” para se iniciar a


exposição do assunto, como ocorre nesse exemplo.

3.4. Desvios de escolha vocabular

Os desvios de escolha vocabular dizem respeito à escolha lexical imprecisa de uma palavra
no contexto em que ela se encontra. Essa incorreção é gerada, muitas vezes, devido a

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 62


alguma semelhança entre a palavra adequada àquele contexto e a palavra de fato usada,
cujo sentido não se encaixa no contexto apresentado.

3.4.1. Escolhas lexicais imprecisas

Os desvios de escolha vocabular são evidenciados pelo uso de uma determinada palavra
cujo sentido o participante desconhece ao escolher outra em seu lugar, de sentido
claramente diferente.

Um exemplo de imprecisão ocorreria num contexto como o do Exemplo 72.

Exemplo 72

A palavra “acometido” foi empregada num contexto em que provavelmente o participante


quis dizer “sujeitado”, já que a própria construção parece ser mais adequada a “sujeitado”
(um grupo é acometido por algo, mas está sujeitado a algo). O participante, se
quisesse/soubesse usar de fato o verbo “acometer”, deveria ter escrito “a invisibilidade
midiática acomete esse grupo”.

Outros exemplos de imprecisão vocabular podem ser observados na lista a seguir:

→ abstinência x abstenção
→ afinidade x finalidade
→ burocracia x democracia
→ descriminalizar x discriminar

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 63


→ escultural x estrutural

A lista apresentada é um inventário ilustrativo, e não devemos limitar a avaliação dos


textos a ela. Devemos atentar, sim, ao fato de que usos imprecisos, gerados pela confusão
entre uma palavra e outra, devem ser considerados problemas de imprecisão vocabular,
desde que essa troca esteja clara, isto é, se é possível que o vocábulo funcione no contexto
em questão, não há desvio.

Palavras inexistentes na Língua Portuguesa ou que sofreram alguma alteração


morfológica indevida para que funcionassem no contexto em que foram inseridas
também devem ser consideradas problemas de imprecisão vocabular. Em geral, esses
casos correspondem, por exemplo, a substantivos criados a partir de um verbo existente
na língua, como “registramento” (do verbo “registrar”), ou a criações como “emboramente”
(em “muito emboramente a certidão de nascimento seja gratuita, muitas pessoas ainda
não a têm”). Constatamos que o vocábulo “emboramente”, derivado da conjunção
“embora”, não existe como advérbio e foi inadequadamente empregado, gerando um
desvio de imprecisão vocabular.

No Exemplo 73, temos um outro caso de escolha lexical imprecisa.

Exemplo 73

Nesse excerto, em que o participante escreve “Assim, para que ocorra a irradicalização do
problema, medidas precisam ser tomadas”, é possível determinar, pelo contexto, que o
participante, na verdade, quis dizer “erradicação” em vez de “irradicalização”.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 64


ATENÇÃO!
Um desvio de grafia é bem mais frequente do que casos que aparentam ser
desvios de escolha vocabular. Assim, variações mínimas na grafia da
palavra, ainda que gerem palavras que também existam na língua, não
devem ser consideradas desvios de escolha vocabular, mas de grafia. Por
exemplo, se o participante escreve “encima” (no lugar de “em cima”), ainda
que a forma verbal “encima” exista (do verbo de uso raro “encimar”), trata-se
de um problema de grafia, e não de escolha vocabular imprecisa.

3.5. Orientações gerais

Há algumas orientações, de ordem mais geral, para a correção da Competência I. Essas


diretrizes devem pautar o trabalho dos avaliadores, para que seja realizada uma avaliação
homogênea por parte de toda a equipe.

É importante ressaltar que, apesar de os desvios estarem separados em quatro


categorias, a avaliação da Competência I não leva em consideração essa classificação
para que um determinado nível seja atribuído a um texto, uma vez que consideraremos
tudo como desvio. Contudo, essa classificação é necessária para casos em que uma
mesma palavra apresenta desvios de categorias diferentes; em situações assim, ambos
devem ser contabilizados, como será explicado na seção 3.5.2, “Mais de um desvio em um
mesmo vocábulo”.

3.5.1. Indicações de desvio

Muitas vezes, o participante, ao cometer um desvio em seu texto, usa riscos ou inscrições,
como “sem efeito”, “nulo” ou mesmo “digo”, para indicar que uma determinada palavra ou

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 65


trecho não deve ser considerado pelo avaliador. Nesses casos, o avaliador deve, de fato,
desconsiderar o que está destacado, não avaliando a indicação de anulação como desvio
de qualquer ordem.

O participante também pode riscar um erro cometido e reforçar essa indicação com
parênteses. Indicações assim não devem ser penalizadas, como ilustrado no Exemplo 74.

Exemplo 74

3.5.2. Mais de um desvio em um mesmo vocábulo

Quando um participante comete desvios de categorias diferentes (por exemplo, um desvio


de convenções da escrita e outro gramatical) ou de subcategorias diferentes (por
exemplo, um desvio de grafia e outro de acentuação) em uma mesma palavra, devemos
considerar tantos quantos forem cometidos, conforme observamos no Exemplo 75.

Exemplo 75

Nesse exemplo, temos em “Brasileiro” a ocorrência de dois desvios de categorias


diferentes: um desvio de convenções da escrita, pelo uso indevido de inicial maiúscula, e

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 66


um desvio gramatical, devido à concordância incorreta (o correto seria “[…] futuros
brasileiros […]”).

Quanto aos desvios de subcategorias diferentes, observamos um caso assim no Exemplo 76.

Exemplo 76

No Exemplo 76, o participante escreve “inviseis”, gerando um problema de falta de


acentuação e outro de grafia (“invisíveis”). Sendo assim, contabilizam-se dois desvios, que,
embora pertençam à mesma categoria (desvios de convenções da escrita), são de
subcategorias diferentes (acentuação e grafia).

Por outro lado, com exceção dos desvios gramaticais, se uma única palavra (que aparece
uma única vez ou que se repete ao longo do texto) apresenta dois desvios de uma mesma
subcategoria, eles devem ser considerados apenas uma vez. Por exemplo: se um
participante escreve “essessão” em vez de “exceção”, ele comete desvio em duas sílabas
da palavra. No entanto, ambos são relacionados à grafia; por isso, considera-se apenas
um desvio, uma vez que o participante comete um desvio na grafia da palavra.

3.5.3. Mesmo desvio em palavras repetidas ou com mesmo radical

Como já comentado anteriormente, quando um mesmo desvio ocorrer em palavras que se


repetem ou em palavras de mesmo radical, deve-se considerá-lo apenas uma vez,
conforme o Exemplo 77 a seguir. Há exceção, contudo, no que diz respeito aos desvios

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 67


gramaticais, pois estes devem ser penalizados em todas as ocorrências, ainda que
ocorram em palavras repetidas ou com o mesmo radical.

Exemplo 77

Na redação reproduzida no Exemplo 77, o participante escreve “contra-tempos” duas


vezes. Por se tratar da mesma palavra (“contratempos”) e de um desvio de convenções da
escrita, referente à mesma subcategoria (hífen), deve-se considerar desvio apenas a
primeira ocorrência.

Entretanto, se há desvio em uma palavra e essa mesma palavra reaparece com problema
de outra subcategoria, consideram-se dois desvios, conforme o Exemplo 78.

Exemplo 78

O participante, no Exemplo 78, grafa incorretamente a palavra “concientização”, na linha 5,


e, em outro momento, na linha 6, notamos que acentua incorretamente a mesma palavra
(“conciêntização”). Assim, mesmo que se trate da mesma palavra, o primeiro desvio deve
ser contabilizado como um desvio de grafia e o segundo como um desvio de acentuação.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 68


No Exemplo 79, temos ainda um outro caso em que a mesma palavra gerou desvios por
razões diferentes em cada uma das ocorrências no texto.

Exemplo 79

Nesse exemplo, a palavra “inguais” (“iguais”) foi grafada incorretamente, na linha 3,


gerando um desvio. Em outro momento do texto, nas linhas 4 e 5, o participante separa
incorretamente essa mesma palavra, gerando um novo desvio (separação silábica) de
mesma categoria (desvios de convenções da escrita).

ATENÇÃO!
Desvios de convenções da escrita, de escolha vocabular e de escolha de
registro devem ser contabilizados uma única vez para cada vocábulo com
desvio que se repete. Assim, se o participante escreve “brasil” com letra
minúscula e repete o desvio em outro(s) momento(s) do texto, devemos
contar apenas um desvio. Entretanto, desvios gramaticais devem ser
considerados sempre que ocorrerem. Dessa forma, se o participante
escreve “questão à ser combatida” e, num outro momento, escreve
“problema à se discutir”, devem ser considerados dois desvios pelo
emprego inadequado do acento indicativo de crase.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 69


3.5.4. Algumas considerações sobre o nível 5

Não é demais frisarmos que cada competência de avaliação das redações do Enem se
ocupa de questões específicas e que a nota final de uma redação é a soma das notas
referentes aos níveis atribuídos em cada uma das competências.
Assim, não há um atrelamento de níveis entre as competências. Isso significa que, se
uma redação for avaliada no nível 3 da Competência I, ela não necessariamente deve
receber o nível 3 nas outras competências também. Será preciso avaliar cada
competência segundo os critérios estabelecidos em cada uma delas, independentemente
do nível em que a redação foi avaliada na Competência I.

Dito isso, é importante também deixar claro que, se uma redação não alcançou níveis altos
em algumas competências, não significa que ela não possa ser avaliada no nível 5 da
Competência I.

Como observado na Grade Específica da Competência I, o nível 5 é o único que apresenta,


objetivamente, a quantidade de falhas na estrutura sintática e de desvios aceitos para que
uma redação seja avaliada nesse nível (no máximo, uma falha de estrutura sintática e, no
máximo, dois desvios). Como é necessário muito cuidado para se atribuir esse nível, já que
os números estão muito bem preestabelecidos, algumas considerações devem ser feitas:

A UMA REDAÇÃO DE NÍVEL 5 NA COMPETÊNCIA I NÃO É NECESSARIAMENTE UMA REDAÇÃO


NOTA 1000 — é importante que frisemos isso, pois um texto pode apresentar um único
desvio e nenhuma falha de estrutura sintática, ou seja, ser nível 5 na Competência I, mas,
por não atender ao que exige o nível 5 em outras competências, o avaliador pode ficar com
a sensação de estar dando uma nota muito alta no que tange à escrita formal. Lembremo-
nos sempre de que as competências são avaliadas de maneira independente. Assim, ainda
que o participante alcance nota máxima na Competência I (200 pontos), ele precisará
também ter nota máxima nas demais competências para que alcance a nota 1000.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 70


B O FATO DE UMA REDAÇÃO SER “MELHOR QUE A ANTERIOR” NÃO É MOTIVO PARA SE
ATRIBUIR O NÍVEL 5 DA COMPETÊNCIA I — não podemos perder de vista o fato de que as
redações não são avaliadas comparativamente, mas segundo os critérios estabelecidos.
Certamente, durante o período de correção dos textos, em que avaliamos em torno de 100
redações por dia, ficamos com a sensação de que um texto que não era tão bom ficou no nível
5 da Competência I, e outro que parecia melhor ficou no nível 4 apenas por apresentar mais
de dois desvios. Contudo, é imperativo estar claro que os critérios de correção não são
pessoais, mas são acordados entre os milhares de avaliadores. Assim, se nos ativermos aos
critérios, injustiças não serão cometidas, pois afastamos os julgamentos pessoais. Dessa
forma, garantimos justiça para todo o universo de textos avaliados. Daí a importância de
observarmos atentamente o que é exposto no curso, analisando detidamente os exemplos
apresentados.

C UMA REDAÇÃO ESCRITA COM LETRA BEM PEQUENA E QUE PREENCHE TODA A FOLHA DE
REDAÇÃO NÃO DEVE SER NECESSARIAMENTE AVALIADA NO NÍVEL 5 DA COMPETÊNCIA I
— esses textos exigirão do avaliador um olhar mais minucioso, pois a extensão do texto, por
vezes, pode fazê-lo parecer muito bem escrito. Lembremo-nos de que o que se está
avaliando aqui são a ortografia, a acentuação, a concordância, a regência verbal e nominal,
o uso do acento indicativo de crase etc., bem como a excelente construção das orações e
períodos. Nesse sentido, pode ser que algo passe despercebido aos olhos do avaliador que
está diante de um texto com uma letra muito pequena, mas uma leitura atenta permitirá
determinar se se trata, de fato, de um texto ao qual se pode atribuir o nível 5 na
Competência I.

D UMA REDAÇÃO COM LETRA GRANDE E ESPAÇADA PODE SER AVALIADA NO NÍVEL 5 DA
COMPETÊNCIA I — também precisamos estar atentos para não nos deixarmos levar pela
aparência do texto (letras grandes, espaçadas ou “feias”, por exemplo) e acabarmos
prejulgando-o como um texto que não pode ser avaliado no nível 5 da Competência I. Se a
redação cumpre o que se exige para esse nível – isto é, não tem mais de dois desvios e
apresenta estrutura sintática excelente –, devemos atribuir-lhe o nível 5.

Por fim, para que um texto seja avaliado no nível 5, ele não pode se enquadrar em qualquer
uma das seguintes situações:

→ nenhuma falha de estrutura sintática e três (ou mais) desvios;


→ uma falha de estrutura sintática e três (ou mais) desvios;
→ duas (ou mais) falhas de estrutura sintática e nenhum desvio;
→ duas (ou mais) falhas de estrutura sintática e um (ou mais) desvios.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 71


Ilustrativamente, apresentamos abaixo uma situação em que um texto é avaliado no nível
5 e outras duas situações em que ele não pode ser avaliado nesse nível.

REDAÇÃO 1 REDAÇÃO 2 REDAÇÃO 3


1 DESVIO 1 DESVIO 1
2 2 2 FALHA DE ES

3 3 3
4 DESVIO 4 DESVIO 4 DESVIO

5 5 5
6 6 6
7 FALHA DE ES 7 DESVIO 7 FALHA DE ES

8 8 8
DESVIO(S) 2 DESVIO(S) 3 DESVIO(S) 1
FALHA(S) DE ES 1 FALHA(S) DE ES 0 FALHA(S) DE ES 2
NÍVEL 5 NÍVEL 4 NÍVEL 4

3.5.5. Falha de estrutura sintática ou desvio de pontuação?

A avaliação de algumas falhas de estrutura sintática, como a justaposição, e de alguns


desvios, como a separação indevida de sujeito e predicado por vírgula, pode, por vezes,
confundir o avaliador. Apresentamos abaixo um texto em que, propositadamente, foram
inseridas algumas falhas de estrutura sintática e alguns desvios, para que a diferença
entre uma questão e outra fique clara.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 72


(1)
A situação das pessoas sem documentação, tem gerado preocupação no
(2)
Brasil, sem um documento, o brasileiro não consegue estudar, trabalhar ou
(3)
ter acesso a qualquer programa do governo. O que não é nem um pouco
(4)
aceitável do ponto de vista social, sendo necessário que, medidas sejam
tomadas no sentido de mudar essa situação que marginaliza seres
(5)
humanos por meio de mutirões que tirem o documento dessas pessoas
conseguiremos zerar esse problema.

Em (1), temos um desvio, uma vez que houve separação indevida de sujeito (“A situação de pessoas
sem documentação”) e seu predicado (“tem gerado preocupação no Brasil”).

Em (2), temos uma falha de estrutura sintática, uma vez que a ausência de um ponto final
indicando o fim do período gerou uma justaposição, encadeando num único período duas ideias que
poderiam ser organizadas em períodos separados.

Em (3), temos outra falha de estrutura sintática por truncamento, pois a oração iniciada por “O
que” não poderia constituir período independente. Ao lermos a oração isoladamente, sem a
anterior, percebemos que ela acaba não fazendo sentido dessa forma, mas carece de uma outra
oração.

Em (4), temos um desvio, tendo em vista que a vírgula separou uma oração principal (“sendo
necessário que”) de sua subordinada (“medidas sejam tomadas”).

Em (5), temos mais uma justaposição, que ocorre, dessa vez, sem qualquer pontuação. Podemos
perceber que o adjunto “por meio de mutirões que tirem o documento dessas pessoas” pode
compor período com o que vem antes (“medidas sejam tomadas no sentido de mudar essa situação
que marginaliza seres humanos”) ou com o que vem depois (“conseguiremos zerar esse problema”),
havendo necessidade de um ponto final em algum momento. Essa dupla possibilidade de leitura
facilita a identificação do problema como falha de estrutura sintática.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 73


4. DESCRIÇÃO DOS NÍVEIS
Vistos os elementos que são avaliados na Competência I, tratemos agora dos níveis dessa
Competência e de como eles devem ser atribuídos, segundo o que pontuamos na seção
anterior.

A Matriz de Referência para Redação do Enem propõe a existência de seis níveis de


avaliação. Um texto que não foi anulado por qualquer uma das razões tratadas no módulo
sobre as situações que levam à nota zero será inicialmente avaliado quanto à modalidade
escrita formal da Língua Portuguesa, observando-se a estrutura sintática e os desvios.

Apresentamos, a seguir, cada um desses níveis, acompanhados do descritor da Grade


Específica da Competência I e de redações que o exemplificam.

4.1. Nível 0

0 Estrutura sintática inexistente (independentemente da quantidade de desvios)

Conforme abordado nas situações que levam à nota zero, participantes que não
conseguirem, minimamente, formar letras ou palavras terão seus textos anulados como
“texto ilegível”. Por outro lado, se já se identificam palavras e/ou frases isoladas, nas quais
podemos observar estruturas sintáticas mínimas preservadas, os textos deverão ser
corrigidos normalmente e avaliados no nível 0 da Competência I, desde que não
apresentem qualquer outro motivo para serem anulados.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 74


No Exemplo 80, reproduz-se texto que foi avaliado como nível 0 na Competência I.

Exemplo 80

Nessa redação, é possível identificar as palavras, as quais apresentam desvios que não
chegam a corresponder a um número expressivo, como a grafia em doumento/documento
(linha 2) e mascimento/nascimento (linha 11); a acentuação em onibus/ônibus (linha 1) e

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 75


mumero/número (linha 10); e a separação silábica incorreta em “importa-nte” (linha 26). No
entanto, as frases são ininteligíveis na maior parte do texto, caracterizando a estrutura
sintática inexistente, típica do nível 0.

Essa característica – estrutura sintática inexistente – já é motivo para que a redação seja
avaliada no nível 0, pois, de acordo com a Grade Específica, redações com estrutura
sintática inexistente devem ser avaliadas nesse nível, independentemente da
quantidade de desvios. Ainda que seja possível identificar raro momento com estrutura
sintática mínima preservada, em que se possa depreender algo (como na linha 15,
“Primeiro melhar importante documento [...]”), os períodos são incompletos e predominam
frases ininteligíveis ao longo de todo o texto.

Como nos mostra essa redação, a quantidade de desvios não é fator determinante para a
atribuição do nível 0, uma vez que é a ausência de estrutura sintática que determinará
tal avaliação.

Para efeito de comparação, apresentamos a seguir uma redação que exemplifica um caso
em que há comprometimento da estrutura sintática em alguns momentos, mas na qual
predomina uma estrutura sintática deficitária (fato comprovado pelas diversas falhas de
estrutura sintática indicadas com um X na redação), e não uma estrutura sintática
inexistente como ocorre no Exemplo 80.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 76


Exemplo 81

Notemos que, nessa redação, conseguimos identificar os elementos oracionais (sujeito,


verbo e objeto) em trechos como “Muitos brasileiros não tem neí um rejistro […]” (linha 4)
e “Muitas pessoas não tei- aceso a um luga para tira ceu documento [...]” (linhas 5 e 6).
Apesar das muitas justaposições ao longo de todo o texto e da ausência de elemento
sintático nas linhas 20 a 22, “Muitos pessoas pobres mulhere e homem cão descrimenados
por não tem documentos que [porque?] so tem rezistro [...]”, a redação é

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 77


predominantemente inteligível. Diferentemente do que ocorre no Exemplo 80, avaliado no
nível 0, há estrutura sintática preservada na maior parte do texto, pois, ainda que haja
diversas falhas, os momentos em que não se identificam os elementos oracionais não são
predominantes. Como o enfoque desse exemplo era mostrar a diferença de uma redação
sem estrutura sintática (Exemplo 80) e outra com estrutura sintática (Exemplo 81) – ainda
que com algumas falhas –, não destacamos os desvios, o que será feito a partir do nível 1.

4.2. Nível 1

1 Estrutura sintática deficitária COM muitos desvios

O texto reproduzido no Exemplo 82 corresponde a uma redação que deve ser avaliada no
nível 1 da Competência I. Apresentamos o Exemplo 82 sem as marcações (82a), para
facilitar a leitura, e, posteriormente, a mesma redação com as devidas marcações de
desvios e de falhas de estrutura sintática (82b).

Exemplo 82a

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 78


Exemplo 82b

Essa redação apresenta estrutura sintática deficitária, pois verificam-se diversas falhas,
as quais prejudicam a fluidez da leitura na maior parte do texto. Essas falhas são geradas
por ausência de elemento sintático (linhas 2 e 3, “[...] a populacão e esquecída porque
são probre é muítas [pessoas?] não tem regítro aguo [...]”; linhas 7 a 10, “[...] quem sofrem
com a inisíbílídada, [é] chamodo como, um zero á esquerdo as críaça não tem escola [e]
outras coísa maís essa pesossas [precisam de?] samíameto basíco casa [...]”); por
justaposição ao longo de todo o texto (linhas 2 a 11, “[...] a populacão e esquecída porque
são probre é muítas não tem regítro aguo elas passa por muita dífícudade fínasara é outras
coís maís não tem atedímeto medícor a maióría são anafabetos no estado do norte são 320
mil pesossa. esquecida quem sofrem com a inisíbílídada, chamodo como, um zero á
esquerdo as críaca não tem escola outras coísa maís essa pesossas samíameto basíco
casa portato essa famílha são esquecido pelos os govenates”); por truncamento (linhas 6
e 7, “[...] no estado do norte são 320 mil pesossa. esquecida quem sofrem com a
inisíbílídada [...]”); por excesso de elemento sintático (linhas 10 e 11, “[...] portato essa
famílha são esquecido pelos os [pelos] govenates”).

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 79


Os desvios são muitos e correspondem a problemas de grafia (linha 1, maío/maior,
popula/população, como/com, inísíbílídade/invisibilidade; linha 2, probre/pobre; linha 3,
regítro/registro, aguo/algum; l. 4, dífícudade/dificuldade, fínasara/financeira, coís/coisas;
l. 5, atedímeto/atendimento, medícor/médico, anafabetos/analfabetos; linha 6,
pesossa/pessoa; linha 7, chamodo/chamado; linha 8, esquerdo/esquerda, críaca/criança;
linha 9, samíameto/saneamento; linha 10, portato/portanto, famílha/família; linha 11,
govenates/governantes); de acentuação (linha 1, Brasíl/Brasil, maío/maior,
inísíbílídade/invisibilidade; linha 2, e/é, esquecída/esquecida; linha 3, muítas/muitas,
tem/têm, regítro/registro; l. 4, dífícudade/dificuldade, fínasara/financeira, coís/coisas,
maís/mais; l. 5, atedímeto/atendimento, medícor/médico; linha 8, á/à, críaca/criança;
linha 9, samíameto/saneamento; linha 10, basíco/básico; linha 10, famílha/família); de
concordância (linhas 1 a 11, “O Brasíl tem a maío popula como um[a] inísíbílídade onde a
populacão e esquecída porque são [é] probre é muítas não tem regítro aguo elas passa[m]
por muita dífícudade fínasara é outras coís[as] maís não tem atedímeto medícor a maíoría
são anafabetos [é analfabeta] no estado do norte são 320 mil pesossa[s] esquecida[s]
quem sofrem [sofre] com a inisíbílídada, chamado como, um zero á esquerdo as críaca[s]
não tem escola outras coísa[s] maís essa[s] pesossas saníameto basíco casa portato essa
famílha são esquecido [é esquecida] pelo os govenates [...]”); e de pontuação (ausência
de vírgula em enumeração nas linhas 9 e 10, “[...]essas pesossas samíameto basíco[,] casa
[...]”; ausência de vírgula em adjunto adverbial longo nas linhas 6 e 7, “[...] no estado do
norte[,] são 320 mil pesossa esquecida [...]”; emprego indevido de vírgula separando
sujeito de predicado e conjunção de termo por ela introduzido, respectivamente nas linhas
7 e 8, “[...] quem sofrem com a inisíbílídade, chamado como, um zero á esquerdo [...]”).

Assim, por cumprir integralmente o descritor do nível 1, estrutura sintática deficitária


com muitos desvios, esse texto deverá ser avaliado nesse nível.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 80


No Exemplo 83, também temos uma redação que deve ser avaliada no nível 1 da
Competência I. Da mesma forma como fizemos com a redação anterior, apresentaremos
o Exemplo 83 sem as marcações, para facilitar a leitura (83a), e, posteriormente, com as
devidas marcações de desvios e de falhas de estrutura sintática (83b).

Exemplo 83a

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 81


Exemplo 83b

A estrutura sintática desse texto deve ser avaliada como deficitária, pois verificam-se
diversas falhas, as quais prejudicam a fluidez da leitura na maior parte do texto. Essas
falhas são geradas por excesso de elemento sintático (linha 1, “Desde de nossa [Desde
nossa] existência [...]”; linhas 8 e 9, “em sequer, hipotise alguma [em hipótese alguma],
devemos ser desrespeitado [...]”; linhas 14 e 15, “[...] 90%, de pessoas em nosso pais
passam por o [pelo] cujo argumentativo [...]”; linhas 22 e 23, “[...] o poder é, comum em a
[na] sociedade, que vivemos [...]”); por justaposição ao longo de todo o texto (linhas 2 a 7,

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 82


“[...] por onde, andarmos devemos, respeitar a todos, o nosso primeiro documento, para
sermos cidadão é quando saímos, da maternidade e vamos ao cartório para, darmos inicio,
a primeira documentação, chegando lá, ganhamos nome [...]”; l. 8 a 15, “[...] em sequer,
hipotise alguma, devemos ser desrespeitado, não devemos se, passado, em branco. ou,
adiante. nosso documento Nunca passa despercebido em dias atuais ao sermos, cidadão
de bem tem que se cumprir com o papel respeitar, e ser respeitado 90%, de pessoas em
nosso pais passam por o cujo argumentativo [...]”; linhas 18 a 22, “[...] ao termos acesso, a
usar nossa documentação, é incluído em tudo, para trabalho, ou seja tudo em qualquer
situação, então quando somos, indentificados, seja em seu estado ou qualquer, situação
de trabalho [...]”; linhas 25 a 27, “[...] a humanidade que é, meio que compriendido, como
um nada, somos alertados em, exploração [...]”); por truncamento (linhas 9 e 10, “[...] não
devemos se, passado, em branco. ou, adiante. nosso documento [...]”); por ausência de
elemento sintático (linhas 3 a 5, “[...] o nosso primeiro documento, para sermos cidadão
é [adquirido?] quando saímos, da maternidade [...]”; linhas 10 e 11, “[...] não devemos se,
passado, em branco. ou, [passar] adiante. nosso documento [...]”; linhas 26 a 28, “[...]
somos alertados em, exploração [em relação à exploração?], e em [casos?] caoticos para
ser nunca julgado [...]”; e por duplicação de elemento sintático (linhas 29 e 30, “[...] em
seu acesso com indentificação com indentificação e condições”).

Os desvios são muitos e dizem respeito a problemas de separação silábica (linha 1, entr-
amos; linha 5, vam-os; linha 8, hip-otise; linha 9, dev-emos; linha 11, d-ias; linha 21, e-stado;
linha 22, p-oder; linha 26, s-omos); de pontuação (ausência de vírgula isolando oração
intercalada nas linhas 2 e 3, “[...] e que[,] por onde, andarmos[,] devemos, respeitar a
todos [...]”; linhas 3 a 5, “[...] o nosso primeiro documento, para sermos cidadão[,] é
quando saímos, da maternidade [...]”; linhas 15 a 17, “[...] de desrespeito e[,] dada a,
questão de desrespeito ao proximo[,] esse tal caso [...]”; ausência de vírgula isolando
oração deslocada nas linhas 12 e 13, “[...] atuais, ao sermos, cidadão de bem[,] tem que se
cumprir com o papel respeitar [...]”; linhas 20 a 23, “[...] então[,] quando somos,

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 83


indentificados, seja em seu estado ou qualquer, situação de trabalho[,] o poder é comum
[...]”; ausência de vírgula em enumeração nas linhas 12 e 13, “[...] ao sermos, cidadão de
bem tem que se cumprir com o papel[,] respeitar, [...]”; ausência de vírgula isolando
locução conjuntiva explicativa intercalada nas linhas 18 a 20, “[...] ao termos acesso, a usar
nossa documentação, é incluído em tudo, para trabalho, ou seja[,] tudo em qualquer
situação [...]”; vírgula separando artigo indefinido e substantivo, linha 2, “[...] em uma,
sociedade [...]”; vírgula separando advérbio e verbo nas linhas 2 e 3, “[...] e que por onde,
andarmos [...]”; vírgula separando verbo e complemento ou verbo de ligação e predicado,
linha 3, “[...] devemos, respeitar a todos [...]”; linhas 3 a 5, “[...] o nosso primeiro
documento, para sermos cidadão é quando saímos, da maternidade [...]”; linhas 6 e 7, “[...]
para, darmos inicio, a primeira documentação [...]”; linhas 9 e 10, “[...] não devemos se,
passado, em branco. ou, adiante [...]”; linha 12, “[...] ao sermos, cidadão de bem [...]”; linhas
15 a 17, “[...] de desrespeito e dada a, questão de desrespeito ao proximo esse tal caso [...]”;
linhas 18 e 19, “[...] ao termos acesso, a usar nossa documentação [...]”; linhas 20 e 21, “[...]
então quando somos, indentificados [...]”; linhas 25 e 26, “[...] a humanidade que é, meio
que compriendido [...]”; linhas 26 e 27, “[...] somos alertados em, exploração [...]”); vírgula
separando conjunção e termo por ela introduzido nas linhas 5 a 7, “[...] vamos ao cartório
para, darmos inicio [...]”; linhas 16 e 17, “[...] esse tal caso é dado como, crime [...]”; linhas
27 a 29, “[...] para ser nunca julgado, ou, sequer desenpendido por ninguém [...]”; vírgula
separando locução adverbial nas linhas 8 e 9, “[...] em sequer, hipotise alguma [...]”; vírgula
separando indicador de porcentagem e especificador na linha 14, “90%, de pessoas em
nosso pais [...]”; vírgula separando nome e complemento nas linhas 14 e 15, “90%, de
pessoas em nosso pais passam por o cujo argumentativo, de desrepeito [...]”; linha 17, “[...]
desrespeito, com a sociedade [...]”; linhas 25 e 26, “[...] a humanidade que é, meio que
compriendido, como um nada [...]”; e vírgula separando pronome e substantivo na linha 22,
“[....] qualquer, situação [...]”); de concordância (linhas 3 a 5, “[...] o nosso primeiro
documento, para sermos cidadão[s] é quando saímos, da maternidade [...]”; linhas 8 e 9,
“[...] em sequer, hipotise alguma, devemos ser desrespeitado[s] [...]”; linhas 9 a 13, “[...]

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 84


não devemos [deve] se, passado, em branco. ou, adiante. nosso documento Nunca passa
despercebido[s] em dias atuais ao sermos, cidadão[s] de bem tem que se cumprir com o
papel respeitar, e ser respeitado[s] [...]”; linhas 18 e 19, “[...] ao termos acesso, a usar nossa
documentação, é incluído [somos incluídos] em tudo [...]”; linhas 25 e 26, “[...] a
humanidade que é, meio que compreendido [compreendida], como um nada [...]”; linhas
27 a 30, “[...] para ser nunca julgado[s], ou, sequer desenpendido [empedidos] por
ninguém ou despresívél [desprezados], em seu [nosso] acesso com identificação [...]”);
de acentuação (linha 6, inicio/início; linha 8, hipotise/hipótese; linha 14, pais/país; linha
16, proximo/próximo; linha 19, incluido/incluído; linha 27, caoticos/caóticos; linha 29,
despresívél/desprezado); de crase (linhas 5 a 7, “[...] vamos ao cartório para, darmos
inicio, a [à] primeira documentação [...]”); de uso indevido de letra inicial minúscula
(linha 8, em/Em; linha 10, nosso/Nosso; linha 18, ao/Ao); de uso indevido de letra inicial
maiúscula (linha 11, Nunca/nunca); de grafia (linha 8, hipotise/hipótese; linha 10, se/ser;
linha 11, passa/passar; linha 21, indentificados/identificados; linha 24 e 25,
aproveito/proveito; linha 26, compriendido/compreendido; linha 28,
desenpedido/desempedido; linha 29, despresívél/desprezado); de imprecisão lexical
(linha 15, cujo/cunho – ao empregar a expressão “cujo argumentativo”, o participante
poderia estar se referindo a “cunho argumentativo”; linha 28, desenpedido/impedido –
nesse caso, conforme é possível depreender pelo contexto, o termo adequado é
“impedido” e não “desimpedido”); de regência (linhas 18 e 19, “[...] ao termos acesso, a usar
nossa documentação, é incluído em tudo, para [no] trabalho [...]”; linhas 22 a 25, “[...] o
poder é, comum em a sociedade, [em] que vivemos em dias atuais, em moral, ao [em]
desrespeito e aproveito, de pessoas [...]”); de informalidade/marca de oralidade (linha
26, uso da expressão informal/típica da oralidade “meio que”); e de hífen (linha 27, ausência
de hífen na translineação da palavra “para”).

Assim, por cumprir integralmente o descritor do nível 1, estrutura sintática deficitária


com muitos desvios, esse texto deverá ser avaliado nesse nível.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 85


4.3. Nível 2

2 Estrutura sintática deficitária OU muitos desvios

O Exemplo 84 corresponde a um texto que deve ser avaliado no nível 2 da Competência I.

Exemplo 84

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 86


Nesse exemplo, temos estrutura sintática deficitária devido às diversas falhas ao longo de
todo o texto, geradas por ausência de elemento sintático (linhas 3 e 4, “So que tinha um
problema, que [é o fato de que] nessa exclusão era apenas para [pessoas com problema?]
financeiro em pagar pelo registro [...]”; linhas 8 a 11, “[...] para matricular uma criança
mesmo [é] precisa e é obrigátorio a apresentação do documento delas a mesma coisa
parecida [ocorre?] com a invisibilidade só que nesse [caso?] os adultos [...]”; linhas 23 e
24, “[...] quando chegamos em algum lugar só [se?] pede ele porque é na onde tem a
identidade [...]”); por excesso de elemento sintático (linhas 3 e 4, “So que tinha um
problema, que nessa [essa] exclusão era apenas para financeiro em pagar pelo registro
[...]”; linhas 12 e 13, “[...] os adultos, crianças e velhos aqui no Brasil eles ficam [Brasil
ficam] oficialmente reconhecido [...]”; linhas 23 e 24, “[...] quando chegamos em algum
lugar só pede ele porque é na onde [porque é onde] tem a identidade [...]”); e por
justaposição (linhas 4 e 5, “[...] era apenas para financeiro em pagar pelo registro um
exemplo: na certidão é possivel [...]”; linhas 7 a 11, “[...] carteira de trabalho e entre outros
também para matricular uma criança mesmo precisa e é obrigatório a apresentação do
documento delas a mesma coisa parecida com a invisibilidade [...]”; linhas 18 a 22, “[...] os
velhos nunca iriam conseguir se aposentar por isso que as pessoas ficam oficialmente
conhecidas aqui no Brasil os título de eleitor e o CPF são muitos importantes CPF é o qual
todo mundo usa mais [...]”; linhas 26 e 27, “[...] nome de pai, mãe tem tudo mas é muito
bom ter sua propria identidade [...]”).

Dado o conjunto textual apresentado pelo participante, os desvios são alguns e


correspondem a problemas de paralelismo sintático (linhas 1 e 2, “A invisibilidade e [o]
registro civil tornou o registro de nascimento [...]”; linhas 11 a 13, “[...] só que nesse os
adultos, crianças e velhos [nesse adultos, crianças e velhos] aqui no Brasil eles ficam
oficialmente reconhecido [...]” – em construções desse tipo, há duas maneiras de resolver
o paralelismo: excluindo-se o artigo definido “os”, de modo que contabilizamos um desvio,
ou incluindo o artigo definido nos demais termos elencados (“os adultos, [as] crianças e

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 87


[os] velhos”), contabilizando-se dois desvios; ressaltamos que, nesses casos, devemos
considerar sempre a opção em que se penalize menos o participante); de acentuação
(linha 1, cívil/civil; linha 3, So/Só; linha 5, possivel/possível; l. 9, obrigátorio/obrigatório;
linha 27, propria/própria); de concordância (linhas 1 e 2, “A invisibilidade e registro cívil
tornou [tornaram] o registro de nascimento [...]”; linhas 8 a 10, “[...] para matricular uma
criança mesmo precisa e é obrigátorio [obrigatória] a apresentação do documento delas
[dela] [...]”; linhas 11 a 13, “[...] só que nesse os adultos, crianças e aqui no Brasil eles ficam
oficialmente reconhecido[s] [...]”; linhas 21 e 22, “[...] os [o] título de eleitor e o CPF são
muitos importantes [...]”) de regência (linhas 5 e 6, “[...] na [com a] certidão é possivel
retirar outros documentos [...]”; linhas 23 e 24, “[...] quando chegamos em [a] algum lugar
só pede ele [...]”); de pontuação (ausência de vírgula isolando oração deslocada nas linhas
8 a 10, “[...] para matricular uma criança mesmo[,] precisa e é obrigatório a apresentação
do documento delas [...]”; linhas 23 e 24, “[...] quando chegamos em algum lugar[,] só se
pede ele [...]”; ausência de vírgula isolando oração intercalada nas linhas 16 e 17, “[...]
eles[,] sem esses documentos[,] não iam poder trabalhar [...]”; e ausência de vírgula em
enumeração nas linhas 24 e 25, “[...] tem a identidade da pessoa toda[,] tipo foto, nome
completo, RG [...]”); de grafia (linha 14, como/com; linha 15, se não/senão; linha 21,
muitos/muito); de uso indevido de letra inicial minúscula (linha 23, quando/Quando); de
emprego de pronome (linhas 23 e 24, “[...] quando chegamos em algum lugar só pede ele
[só o pede] [...]”); e de informalidade/marca de oralidade (linha 25, uso da expressão
informal/típica da oralidade “tipo”).

Assim, por apresentar estrutura sintática deficitária, descritor que consta do nível 2, e
alguns desvios, descritor que consta do nível 3, o texto deve ser avaliado no nível inferior,
isto é, no nível 2.

Apresentamos, no Exemplo 85, outro texto que deve ser avaliado no nível 2 da Competência I.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 88


Exemplo 85

A estrutura sintática desse texto apresenta uma única falha, gerada por ausência de
elemento sintático (linhas 4 e 5, “Hoje em dia esses registros poderian ser feitos [tanto]
pela internet quanto por pessoas responsaveis [...]”). Contudo, há predominância de
parágrafos formados por período único (primeiro e segundo parágrafos), caracterizando
a estrutura sintática como regular.

Os desvios, por sua vez, são muitos e correspondem a problemas de acentuação (linha 1,
numeros/números; linha 2, miseria/miséria, alem/além; linha 3, facil/fácil; linha 5,
responsaveis/responsáveis; linha 6, dificio/difícil; linha 7, Bebes/Bebês; linha 10, Ja/Já;
linha 11, condiçoés/condições; linha 12, proprio/próprio); de concordância (linha 1, “Devido
ao grande numeros [número] de pessoas carentes [...]”; linha 8, “Assim aos poucos todos
terian o registros [registro] em maos [...]”; linhas 9 e 10, “[...] sem as brurocrasias que
divicultam a retirado [retirada] da certidão de nascimento [...]”; linhas 12 e 14, “[...]
diminuindo o numeros [número] de pessoas sem o registro” – reforçamos que, embora a
palavra “numeros” apresente desvio de acentuação e de concordância, devemos

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 89


contabilizar nessa ocorrência apenas o desvio de concordância – que diz respeito a desvio
gramatical, logo, penalizado em todas as ocorrências –, pois o desvio de acentuação nessa
palavra já foi contabilizado na primeira linha); de pontuação (ausência de vírgula isolando
oração deslocada nas linhas 2 e 3, “[...] alem dos registros serem gratuitos[,] deveriam ser
de facil acesso ao povo”; e ausência de vírgula isolando adjunto adverbial longo na linha 4,
“Hoje em dia[,] esses registros poderian ser feitos [...]”; linhas 10 a 12, “Ja nas cidades em
melhores condiçoés[,] os registros podem ser feitos dentro do proprio hospital [...]”); de
regência (linhas 4 a 6, “Hoje em dia esses registros poderiam ser feitos pela internet
quanto por pessoas responsaveis em [por] ir aos locais de dificio acesso [...]”); de grafia
(linha 4, poderian/poderiam; linha 6, dificio/difícil; linha 8, terian/teriam, maos/mãos;
linha 9, brurocrasias/burocracias, divicultam/dificultam; linha 11, condiçoés/condições); e
de uso indevido de letra inicial maiúscula (linha 7, Bebes/bebês).

Assim, por apresentar uma característica do nível 2, muitos desvios, e uma do nível 3,
estrutura sintática regular, o texto deve ser avaliado no nível inferior, isto é, no nível 2.

Outra redação que deve ser avaliada no nível 2 pode ser observada no Exemplo 86.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 90


Exemplo 86

Nessa redação, a estrutura sintática deve ser avaliada como regular, pois apresenta
algumas falhas que prejudicam a fluidez da leitura. Essas falhas são geradas por
justaposição (linhas 1 a 5, “A documentacão e a certidão de nascimento são essencial para
a vida de um ser humano, sem a documentação você não pode resolver nada”; linhas 10 a
16, “Muitos pais não liga muito se a crianças tem ou não identidade, CPF ou até certidão de
nascimento, ai quanto elas cresce quelas vão atrás para fazer a ifesponsabilidade de
alguns pais são muito grande”); e por ausência de elemento sintático (linhas 6 a 9, “Muitos
pessoas mais velhas não tem certidão de nascimento ou estar errado ou [a] fez depois de
grande”; linhas 13 a 15, “[...] ai quanto elas cresce [é] quelas vão atrás para fazer [esses
documentos?] [...]”). Além de algumas falhas, que, diante do conjunto textual apresentado
pelo participante, tornam a estrutura sintática regular, o texto apresenta todos os
parágrafos formados por período único, o que também caracteriza a regularidade da
estrutura sintática.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 91


Os desvios, também tendo em vista o conjunto textual produzido, são muitos e
correspondem a problemas de concordância (linhas 1 e 2, “A documentacão e a certidão
de nascimento são essencial [essenciais] para a vida de um ser humano [...]”; linhas 6 a 9,
“Muitos [Muitas] pessoas mais velhas não tem certidão de nascimento ou estar errado
[errada] ou fez depois de grande”; linhas 10 a 12, “Muitos pais não liga[m] muito se a
crianças [criança] tem ou não identidade [...]”; linhas 12 a 15, “[...] aí quanto elas cresce[m]
quelas vão atrás para fazer a ifesponsabilidade de alguns pais são [é] muito grande”); de
pontuação (ausência de vírgula em adjunto adverbial longo nas linhas 4 e 5, “[...] sem a
documentação[,] você não pode resolver nada”); de separação silábica (linha 4, n-ão; l. 11,
id-entidade; linha 13, cre-scer); de acentuação (linha 7, tem/têm; linha 13, ai/aí); de grafia
(linha 1, documentacão/documentação; linha 8, estar/está; linha 13, quanto/quando; linhas
14, quelas/que elas; linha 15, ifesponsabilidade/irresponsabilidade); e de
informalidade/marca de oralidade (emprego de marcador típico da oralidade na linha 13,
aí).

Assim, por apresentar estrutura sintática regular (nível 3) e muitos desvios (nível 2), a
redação deve ser avaliada no nível inferior: nível 2.

4.4. Nível 3

3 Estrutura sintática regular E alguns desvios

O Exemplo 87 apresenta características que determinam sua avaliação no nível 3 da


Competência I.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 92


Exemplo 87

Esse texto apresenta estrutura sintática regular, pois nele verificam-se algumas falhas,
geradas por ausência de elemento sintático (linhas 1 e 2, “Na Constituição de 1988, no
artigo 6º relata[-se] que todos têm o direito à segurança [...]”; linhas 5 a 7, “No entanto, na
prática não é tão simples, a falta de oportunidades e as diferenças sociais, influenciam
muito [algo]”; linhas 26 a 28, “Os jornais falarem [poderiam falar?] mais sobre a
importância da documentação. As cidades colocarem [poderiam colocar?] cartazes

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 93


informativos em murais e distríbuir [esses cartazes] [...]”); e por justaposição (linhas 5 a
7, “No entanto, na prática não é tão simples, a falta de oportunidades e as diferenças
sociais, influenciam muito”; linhas 10 a 13, “Pela falta de documentação, principalmente
pela certidão de nascimento, eles não frequentam escolas, não trabalham, sendo assim
tendem a ter mais dificuldades financeiras [...]”; linhas 27 a 29, “As cidades colocarem
cartazes informativos em murais e distríbuir, isso ajudaria muitos cidadãos”).

Os desvios são alguns e dizem respeito a problemas de pontuação (ausência de vírgula


isolando adjunto adverbial longo nas linhas 1 a 4, “Na Constituição de 1988, no artigo 6º[,]
relata que todos têm o direito à segurança, ao trabalho e a educação e[,] no artigo 5º[,]
que somos iguais perante a lei”; ausência de vírgula isolando oração intercalada nas linhas
24 e 25, “[...] e[,] para facilitar a locomoção, oferecer ônibus para ir e vir”; vírgula
separando sujeito e predicado nas linhas 5 a 7, “No entanto, na prática não é tão simples,
a falta de oportunidades e as diferenças sociais, influenciam muito”); de paralelismo
sintático (linhas 1 a 3, “Na Constituição de 1988, no artigo 6º relata que todos têm o direito
à segurança, ao trabalho e a [à] educação [...]”; linha 21, “O governo e [as] áreas
especificas em documentação [...]”); de concordância (linhas 7 a 12, “A quantidade de
pessoas que não possuem documentos são [é] muito grande e a maioría das pessoas são
pobres. Pela falta de documentação principalmente pela certidão de nascimento, eles
[elas] não frequentam escolas [...]”; linha 17, “Diante disso, eles [elas] não terão direito
[...]”); de acentuação (linha 9, maioría/maioria; linha 21, aréas/áreas,
especificas/específicas; linha 28, distríbuir/distribuir); de uso indevido de inicial
minúscula (l. 14, estado/Estado); e de grafia (linha 11, multirões/mutirões).

Dessa forma, essa redação é avaliada no nível 3 (estrutura sintática regular e alguns
desvios).

Outro texto que deve ser avaliado no nível 3 da Competência I é reproduzido no Exemplo 88.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 94


Exemplo 88

Nessa redação, a estrutura sintática deve ser avaliada como excelente, por apresentar
apenas uma falha e a complexidade esperada, com subordinações e orações intercaladas.
A falha verificada corresponde a uma justaposição (linhas 23 e 24, “É visível este problema
no país e a cada novo dia fica pior, o governo não pensa em como ajudar [...]”).

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 95


Os desvios, por sua vez, são alguns e correspondem a problemas de regência (linha 3, “De
acordo nos [com os] textos bases [...]”); de hífen (linha 3, textos bases/textos-bases); de
grafia (linha 3, textos bases/textos-base; linha 13, saen/saem; linha 17, de baixo/debaixo;
linha 25, torna/tornar); de pontuação (ausência de vírgula isolando adjunto adverbial longo
nas linhas 3 a 7, “Todos os dias[,] mílhares de brasileiros vão em busca do primeiro registro
de ‘existência’ cidadã e[,] muitas das vezes[,] voltam para suas casas sem muito sucesso
[...]”; linha 11, “Graças à lei n0 9534 de 1997[,] os brasileiros não pagam [...]”; linhas 15 e 16,
“[...] pagam um absurdo numa passagem que[,] muitas das vezes[,] faz falta no dia a dia
[...]”; linhas 19 e 20, “Ao longo desse trajeto[,] chegam à seus destinos [...]”; linhas 23 e 24,
“É visível este problema no país e[,] a cada novo dia[,] fica pior [...]”); de acentuação (linha
4, mílhares/milhares); de uso indevido de letra inicial maiúscula (linha 7,
Acredito/acredito; linha 29, Porque/porque); de crase (linhas 19 e 20, “Ao longo desse
trajeto chegam à [a] seus destinos [...]”); e de imprecisão vocabular (linha 25, mínimo –
no contexto em questão, “mínimo” talvez possa ser substituído por “menos frequente”).

Assim, por apresentar características de dois níveis diferentes, estrutura sintática


excelente (nível 5) e alguns desvios (nível 3), a avaliação deve se dar no nível inferior:
nível 3.

ATENÇÃO!
O que está escrito fora da área reservada para a redação não deve ser
avaliado. Por esse motivo, no Exemplo 88, devemos desconsiderar o que
extravasou para fora da margem direita da folha e penalizar a grafia “saen”, na
linha 13, por apresentar a letra n no lugar da letra m.

Com relação à margem esquerda, caso o participante extravase-a, escrevendo


sobre a numeração da folha de redação, ainda que o avaliador consiga ler o
que ali está, devemos desconsiderar o que foi escrito e proceder às
penalizações conforme o que se lê dentro do espaço reservado para o texto,
como se observa no Exemplo 89.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 96


Exemplo 89

Nesse exemplo, estão indicados os desvios gerados pela escrita que


extravasou para a margem esquerda, devendo também ser penalizados outros
problemas que se verifiquem no texto gerados por esse extravasamento.

Nos exemplos a seguir, apresentamos redações que devem ser avaliadas como estrutura
sintática regular porque os parágrafos são formados integral (Exemplo 90) ou
predominantemente (Exemplo 91) por período único.

Exemplo 90

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 97


Embora a estrutura sintática dessa redação não apresente falhas, todos os parágrafos
são compostos por período único, o que caracteriza a estrutura sintática como regular.

Os desvios são alguns e dizem respeito a problemas de pontuação (ausência de vírgula


isolando adjunto adverbial longo deslocado na linha 1, “Hoje em dia[,] muitas pessoas não
tem acesso a saúde [...]”; linhas 8 e 9, “Muitos ainda nao tem essa documentação ou[,] ao
longo da vida[,] perderam seus documentos”; linha 10, “Sem seus documentos[,] o cidadão
fica invísivel”; linhas 14 e 15, “Sem documentos[,] hoje em dia[,] está uma taxa muito alta
de pessoas [...]”; linhas 16 e 17, “Com o documento[,] é comprovado que a pessoa existe
naquele, estado, cidade e país”; ausência de vírgula em enumeração na linha 13, “[...] não
deve ser deixado[,] esquecido”; vírgula separando pronome demonstrativo e nome nas
linhas 16 e 17, “Com o documento é comprovado que a pessoa existe naquele, estado,
cidade e país”); de acentuação (linha 1, tem/têm; linha 3, finánceiro/financeiro; linha 7,
e/é; linha 10, invísivel/invisível); de grafia (linha 5, excencial/essencial); de uso indevido
de letra inicial maiúscula (linha 6, Brasileiro/brasileiro); e de concordância (linhas 12 e 13,
“São direitos de todo cidadão brasileiro e por isso não deve[m] ser deixado[s]
esquecido[s]”).

Dessa forma, essa redação deve ser avaliada no nível 3, pois cumpre integralmente o
descritor desse nível: estrutura sintática regular – por apresentar todos os parágrafos
compostos por períodos únicos – e alguns desvios.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 98


Exemplo 91

A redação presente no Exemplo 91, ainda que também não apresente falhas de estrutura
sintática, é predominantemente formada por parágrafos de período único (segundo,
terceiro, quarto e quinto parágrafos), o que caracteriza a estrutura sintática como regular.

Os desvios são poucos e dizem respeito a problemas de acentuação (linha 7, tem/têm); de


pontuação (vírgula separando conjunção coordenada aditiva e oração coordenada nas
linhas 7 a 9, “[...] não podendo ser configurados como pessoas existentes e
consequentemente, tendo seus direitos de cidadão negados [...]”; vírgula separando
conjunção e termo por ela introduzido nas linhas 9 e 10, “[...] como por exemplo, o direito

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 99


ao voto” – reforçamos que, embora a construção “como por exemplo” possa configurar
redundância, não devemos avaliar esses casos como falha de estrutura sintática
tampouco enquadrá-los em qualquer tipo de desvio, de modo que essas construções não
deverão ser penalizadas na Competência I; e ausência de vírgula isolando oração
intercalada nas linhas 15 a 17, “[...] pois[,] para ter acesso aos serviços públicos, como
saúde e educação, é necessário apresentar certos documentos”); e de concordância
(linhas 18 a 21, “Uma possível solução seria[m] [...] políticas públicas que viabilizassem o
acesso da população a essa documentação”).

Como se verificam características de dois níveis diferentes, poucos desvios (nível 4) e


estrutura sintática regular (nível 3) – por apresentar predominância de parágrafos
compostos por período único –, o texto deve ser avaliado no nível inferior; portanto, sua
avaliação recai sobre o nível 3.

Por fim, reiteramos que pode haver redações que apresentam apenas um parágrafo, e
esse parágrafo ser formado por período único, característica que também leva a
estrutura sintática a ser avaliada como regular.

4.5. Nível 4

4 Estrutura sintática boa E poucos desvios

O Exemplo 92 apresenta um caso de texto que deve ser avaliado no nível 4 da Competência I.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 100


Exemplo 92

Por apresentar apenas duas falhas, a estrutura sintática da redação presente no Exemplo
92 deve ser avaliada como boa. Essas falhas são geradas por justaposição (linhas 1 e 2,
“Observando o cenário nacional, é notório que há muitos problemas que envolvem os
direitos civis, entre eles, destaca-se o grande número de brasileiros [...]”) e por ausência
de elemento sintático (linhas 17 a 19, “Ter em posse estes documentos, confere a um

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 101


indivíduo o exercício pleno da cidadania brasileira, ademais, [confere-lhe a capacidade?]
de extinguir o sentimento de invisibilidade […]”).

Os desvios são poucos e dizem respeito a problemas de regência (linha 5, “[...] uma falha
na garantia ao [do] acesso à cidadania a todos no Brasil”; linhas 19 e 20, “[...] extinguir o
sentimento de invisibílidade perante a sociedade e ao [o] Governo"); de crase (linha 7, “[...]
não está estritamente ligada a [à] dificuldade financeira dos indivíduos [...]”); de
pontuação (vírgula separando conjunção subordinativa e oração subordinada nas linhas 8
e 9, “[...] visto que, os motivos que levam um brasileiro a não dar início na documentação
pessoal podem variar [...]”; vírgula separando verbo auxiliar e verbo principal nas linhas 13
e 14, “[...] e serem assim, reconhecidas pelo Estado”; vírgula separando sujeito e predicado
nas linhas 17 e 18, “Ter em posse estes documentos, confere a um indivíduo [...]”); de
paralelismo sintático (linhas 11 e 12, “[...] possam obter a educação e [as] informações
necessárias [...]”; linhas 26 e 27, “[...] independentemente da [de] idade, raça ou gênero”);
e de acentuação (linha 19, invisibílidade/invisibilidade).

Portanto, essa redação é avaliada no nível 4 (estrutura sintática boa e poucos desvios).

A seguir, com o Exemplo 93, ilustramos outro exemplo de redação que deve ser avaliada
no nível 4.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 102


Exemplo 93

No Exemplo 93, verifica-se estrutura sintática excelente, sem qualquer falha. Além da
ausência de falhas, os períodos são construídos com a complexidade esperada para que a
estrutura sintática seja avaliada como excelente, com subordinações e orações
intercaladas, o que revela o domínio do participante na elaboração dos períodos.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 103


Os desvios, por sua vez, são poucos e correspondem a problemas de crase (linhas 1 e 2, “A
emblemática obra ‘Eichmann em Jerusalém’, da socióloga Hannah Arendt, aborda a
passividade social mediante à [a] garantia de direitos cidadãos a todos [...]”); de uso
indevido de letra inicial minúscula (linha 8, federal/Federal); de acentuação (linha 16,
expôr/expor; linha 22, "importancia" com acento sobre a letra n quando deveria ser sobre
a letra a, "importância"); de emprego de pronome (linha 18, “[...] de modo que tornavam-
se [que se tornavam] indivíduos à parte dos projetos [...]”); de paralelismo sintático
(linhas 18 e 19, “[...] de modo que tornavam-se indivíduos à parte dos projetos e [dos]
direitos desenvolvidos no local”; e linha 22, “[...] como a população sem-teto e [os]
moradores hipossuficientes de municípios interioranos [...]”); e de hífen (linha 25,
indivíduos alvos/indivíduos-alvos).

Assim, por apresentar características de dois níveis diferentes, poucos desvios (nível 4)
e estrutura sintática excelente (nível 5), o texto deve ser avaliado no nível inferior, e,
portanto, sua avaliação recai sobre o nível 4.

4.6. Nível 5

5 Estrutura sintática excelente (no máximo, uma falha) E, no máximo, dois desvios

O Exemplo 94 deve ser avaliado no nível 5 da Competência I.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 104


Exemplo 94

Nessa redação, observamos a presença de uma única falha de estrutura sintática,


gerada por ausência de elemento sintático (linha 8, “Desde o início da colonização do
Brasil (século XVI), identificar [algo] nunca foi preocupação dos portugueses [...]”),
possibilitando-nos avaliar a estrutura sintática como excelente, a qual admite no máximo
uma falha. Além de apresentar uma única falha, também observamos que essa redação foi

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 105


elaborada com a complexidade esperada em uma estrutura sintática de excelência, com
subordinações e orações intercaladas, o que demonstra o domínio do participante no que
diz respeito à organização dos períodos.

Com relação aos desvios, constatamos a presença de um desvio de grafia na linha 21 (“con”
em vez de “com”) e um desvio de regência na linha 19 (“[...] pessoas com recursos limitados
não conseguem ter ciência sobre [de] seus direitos de cidadania [...]”) – característica que
também permite avaliar esse texto no nível 5, que admite, no máximo, dois desvios.

Portanto, por apresentar estrutura sintática excelente (no máximo, uma falha) e, no
máximo, dois desvios, esse texto também deve ser avaliado no nível máximo, isto é, no
nível 5.

ATENÇÃO!
Reforçamos que o fato de a estrutura sintática não revelar falhas ou
apresentar uma única falha não garante a sua excelência. Para que a
estrutura sintática seja avaliada como excelente, espera-se que o participante
demonstre certo domínio na elaboração dos períodos, com subordinações e
orações intercaladas. No Exemplo 95, a seguir, ilustramos um texto que,
embora apresente uma única falha (gerada por excesso de elemento sintático
nas linhas 3 a 6, “Um documento de fácil acesso para uns, e para outros [e
outros] nem imaginam da sua existéncia”), não apresenta a complexidade
esperada em uma estrutura sintática de excelência (com subordinações e
orações intercaladas), o que leva a estrutura sintática a ser avaliada como boa
por falta de complexidade.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 106


Exemplo 95

Por fim, o Exemplo 96 ilustra uma redação que deve ser avaliada no nível 5 por apresentar,
além de, no máximo, dois desvios, estrutura sintática sem falhas e a complexidade
esperada em uma estrutura sintática de excelência.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 107


Exemplo 96

Conforme destacamos, a estrutura sintática dessa redação não apresenta falhas e é


elaborada com a complexidade esperada em uma estrutura sintática de excelência, com
subordinações e orações intercaladas, o que demonstra domínio da escrita no que diz
respeito à organização dos períodos.

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 108


Com relação aos desvios, verificam-se apenas problemas de uso indevido de letra inicial
maiúscula em “Cidadania” (no lugar de “cidadania”), na linha 23, e de regência nas linhas 3
e 4: “[...] através da realização de um processo seletivo, no qual [do qual] somente os
habitantes que apresentam um ‘chip’ de identificação podem participar”.

Assim, por cumprir integralmente o descritor do nível 5 (estrutura sintática excelente


(no máximo, uma falha) e, no máximo, dois desvios), o Exemplo 96 deverá ser avaliado
nesse nível.

5. CONCLUSÃO
Apresentamos, neste capítulo, como é composta a Competência I e seus níveis, com o
intuito de facilitar a compreensão e a aplicação dos métodos de avaliação da modalidade
escrita formal da Língua Portuguesa.

Não podemos nos esquecer de que essa Competência é de suma importância, pois ela
avalia aquilo que está mais evidente na superfície textual. As ideias apresentadas em torno
de um tema, a maneira como essas ideias foram construídas, como o participante as
relacionou linguisticamente e como ele propõe resolver o problema abordado são objeto
de avaliação das outras competências.

Entretanto, tudo isso se constrói por meio do léxico – das escolhas lexicais pautadas pelo
registro e das regras de combinação desse repertório lexical, que devem observar aquilo
que foi ensinado ao longo de anos de escolarização e consolidado no término do Ensino
Médio. Os exemplos apresentados aqui não esgotam as possibilidades de tipos de textos

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 109


com os quais podemos nos deparar. De toda forma, os exemplos e os apontamentos que
os acompanham servem de norte para o olhar que devemos ter sobre o texto no momento
da avaliação da Competência I.

É importante que não nos deixemos impressionar por uma caligrafia mais bonita,
atribuindo-lhe um nível alto, e que nos esmeremos para corrigir um texto que apresente
uma caligrafia de difícil leitura, mas que quase não contenha desvios.

Esperamos que os exemplos apresentados e devidamente contextualizados em redações


reais de participantes do Enem 2021 tenham ajudado na compreensão dos pontos de
avaliação dessa Competência e criado uma familiaridade inicial com os textos.

FINALIZANDO…

AGORA QUE VOCÊ TERMINOU DE LER O MATERIAL DE LEITURA DO MÓDULO 3,


É O MOMENTO DE TIRAR SUAS DÚVIDAS COM SEU(SUA) TUTOR(A), NO FÓRUM
DO MÓDULO, E REALIZAR OS EXERCÍCIOS OBRIGATÓRIOS.

ÓTIMOS ESTUDOS!

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 110


EQUIPE ACADÊMICA
Ana Laura Gonçalves Nakazoni
Carolina Barbosa Hebling
Cristiane Borges de Oliveira
Deni Yuzo Kasama
Giovana Dragone Rosseto Antonio
Hélio de Oliveira
Isabel Cristina Domingues Aguiar
Jully Liebl
Larissa Satico Ribeiro Higa
Mahara Hebling
Mariana Masotti Cesari
Natália Alexandrino Rocha
Rafael José Masotti
Rodrigo Alves do Nascimento
Sidnei Francisco Soprano

Coordenação
ACADÊMICA
Tânia Cristina Arantes Macedo de Azevedo

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 3 | COMPETÊNCIA I 111

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