ENEM REDAÇÕES: COMPETÊNCIA III

REDAÇÕES
MÓDULO 5
COMPETÊNCIA III
Material de Leitura do Curso de
Capacitação a Distância
ATENÇÃO!
O conteúdo presente neste material é
SIGILOSO e não pode ser divulgado, distribuído,
impresso ou utilizado para qualquer outra
finalidade que não faça parte do objetivo
específico do curso de capacitação. No caso
de quebra de sigilo, a Fundação Getulio Vargas
aplicará todas as medidas legais cabíveis
e desligará do processo a pessoa envolvida.
Alertamos também que o conteúdo pedagógico

foi ATUALIZADO e APRIMORADO. O cursista
deve estudar o material de forma cuidadosa,
mesmo que tenha participado do curso de capacitação
de 2021 do Enem, para que possa assimilar
as mudanças e ampliar seus conhecimentos.
ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 1

S UMÁ R I O
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................4
1.1. Expectativas na avaliação da Competência III ......................................................................... 4
1.1. As habilidades cognitivas mobilizadas na construção do texto .............................................. 5
2. MATRIZ DE REFERÊNCIA PARA REDAÇÃO DO ENEM – COMPETÊNCIA III................................... 7

2.1. A relação entre a Competência III e as competências II, IV e V .............................................. 9
3. GRADE ESPECÍFICA DA COMPETÊNCIA III............................................................................... 12
4. TERMOS IMPORTANTES PARA A APLICAÇÃO DA GRADE ESPECÍFICA DA COMPETÊNCIA III ... 15

4.1. Aglomerado caótico de palavras .............................................................................................15
4.2. Projeto de texto .......................................................................................................................16
4.2.1. Projeto de texto sem foco temático ............................................................................... 17
4.2.2. Projeto de texto com foco temático distorcido ............................................................ 17
4.2.3. Projeto de texto estratégico ..........................................................................................18
4.3. Desenvolvimento .....................................................................................................................19
4.4. Contradição grave ..................................................................................................................20
5. COMO AVALIAR AS REDAÇÕES NA COMPETÊNCIA III .............................................................. 21

5.1. Avaliação do projeto de texto ................................................................................................. 22
5.2. Avaliação do desenvolvimento............................................................................................... 23
6. DESCRIÇÃO DOS NÍVEIS ......................................................................................................... 27

6.1. Nível 0....................................................................................................................................... 27
6.2. Nível 1 ....................................................................................................................................... 28
6.2.1. Tangente ao tema ........................................................................................................... 28
6.2.2. Projeto de texto sem foco temático .............................................................................30
6.2.3. Projeto de texto com foco temático distorcido ........................................................... 32
6.3. Nível 2 ...................................................................................................................................... 35
6.3.1. Projeto de texto com muitas falhas e sem desenvolvimento ou com desenvolvimento
de apenas uma informação, fato ou opinião .......................................................................... 37

6.4. Nível 3 ...................................................................................................................................... 41
6.5. Nível 4 ...................................................................................................................................... 47
6.6. Nível 5 ...................................................................................................................................... 56
7. COMPARAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS 4 E 5 ................................................................................... 62
8. A AVALIAÇÃO NAS COMPETÊNCIAS II E III ............................................................................. 66
9. CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 70
10. REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 73

MÓDULO 5
COMPETÊNCIA III
Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações,
fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista
1. INTRODUÇÃO
1.1. Expectativas na avaliação da Competência III
Neste Módulo, estudaremos a Competência III da Matriz de Referência para Redação do

Enem, que avalia a capacidade do participante de “selecionar, relacionar, organizar e
interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de
vista”.
Esse descritor estabelece que a Competência avalia a construção de sentido do texto,

reconstruindo o caminho percorrido e os recursos mobilizados pelo participante na
argumentação.
Espera-se, portanto, que, nessa etapa de escolaridade, o participante seja capaz de

selecionar os argumentos mais adequados e organizá-los de forma clara e estratégica a
partir de um projeto que subjaz ao texto, ao mesmo tempo em que relaciona e interpreta

as informações para o desenvolvimento de uma efetiva defesa do ponto de vista. Esses
são os aspectos avaliados na Competência III.
1.1. As habilidades cognitivas mobilizadas na

construção do texto
De acordo com Gonzaga (2016), para a construção de um bom texto argumentativo, é

necessário que, antes mesmo de iniciar a escrita efetiva, seja mobilizada uma série de
habilidades cognitivas, de modo a garantir que a finalidade comunicativa do texto
dissertativo-argumentativo – convencer o leitor sobre seu ponto de vista a respeito de
determinado tema/assunto – seja atingida.
O descritor da Competência III na Matriz de Referência para Redação do Enem enumera

essas habilidades:
SELECIONAR , RELACIONAR , ORGANIZAR E INTERPRETAR INFORMAÇÕES,

FATOS, OPINIÕES E ARGUMENTOS EM DEFESA DE UM PONTO DE VISTA.
Como esse é um processo mental, essas habilidades podem ser mobilizadas

simultaneamente pelo participante durante o planejamento de seu texto. Assim, não há
uma ordem de mobilização, todas as habilidades possuem a mesma importância e podem
incidir tanto na construção do projeto de texto quanto no desenvolvimento dos
argumentos.
A habilidade de SELECIONAR tem como finalidade, segundo Serafini (1995), deixar à mão
todo material que possa ser trabalhado no texto pelo participante, tanto a partir do

repertório disponível nos textos motivadores, quanto de seu repertório particular,
constituído de informações, fatos, opiniões e argumentos. Diante desse material, o
participante deve ser hábil para eleger o que melhor atende ao tema e ao ponto de vista
que irá defender e o que é dispensável, uma vez que há um número de linhas limitado para
a escrita do texto. Além de selecionar, é importante o uso da habilidade de ORGANIZAR
esse material na redação, ou seja, o participante precisa estabelecer uma hierarquização
das informações, levando em consideração, por exemplo, quais são mais relevantes para
a construção de seu raciocínio e quais são complementares, isto é, torna-se fundamental
que ele determine em qual ordem as informações devem ser apresentadas ao leitor.
Por sua vez, a habilidade de RELACIONAR as informações no texto indica que o

participante sabe elaborar vínculos entre as diferentes partes do texto, de modo que haja
relações estabelecidas tanto entre as partes – no interior de um parágrafo ou no
desenvolvimento de um argumento, por exemplo –, quanto no texto como um todo, de
forma a contribuir para o caminho argumentativo traçado e para a execução de seu
projeto de texto.
Temos, por fim, a habilidade de INTERPRETAR, a partir da qual se espera que o

participante, além de realizar uma boa seleção, organização e relação entre as
informações, saiba interpretá-las em função do tema. Essa habilidade é fundamental para
a redação, já que o participante deve, necessariamente, interpretar o comando da prova
para atender ao que é pedido no Exame e, assim, construir seu ponto de vista relacionado
ao tema. Do mesmo modo, para a construção dos argumentos, espera-se que ele mobilize
tal habilidade para que as informações ganhem autossuficiência dentro do texto. Ou seja,
a interpretação deixa transparecer ao leitor que o participante não apenas transcreveu
uma informação, mas a compreendeu, trabalhando-a a partir do ponto de vista defendido
sobre o tema. Por isso mesmo, argumentos mal interpretados confundem o leitor quanto

ao ponto de vista defendido no texto, e podem, inclusive, invalidá-lo, uma vez que não
contribuem efetivamente para a discussão proposta pelo participante.
É importante observar que, como resultado, ao mobilizar tais habilidades, o participante

elabora seu projeto de texto, tarefa muito importante para a construção de sentido em
sua redação, ao mesmo tempo em que desenvolve argumentos de forma autossuficiente
e plena de sentido. A elaboração desse projeto e o modo como ele é executado são objetos
centrais de avaliação da Competência III, como veremos adiante.
2. MATRIZ DE REFERÊNCIA PARA REDAÇÃO DO

ENEM – COMPETÊNCIA III
Na Competência III, o participante pode ser avaliado em seis níveis diferentes: do 0 ao 5.
Avaliamos como é feita a defesa de um ponto de vista sobre o tema a partir das
habilidades apresentadas anteriormente – seleção, organização, relação e interpretação
–, isto é, analisamos de qual modo essas habilidades são mobilizadas por meio do projeto
de texto e do desenvolvimento dos argumentos.
A seguir, apresentamos cada um dos níveis de avaliação dessa Competência, de acordo

com a Matriz de Referência para Redação do Enem:

COMPETÊNCIA Iii – MATRIZ DE REFERÊNCIA
Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos,
opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista
Apresenta informações, fatos e opiniões não relacionados ao tema e sem defesa de um

0 ponto de vista.
Apresenta informações, fatos e opiniões pouco relacionados ao tema ou incoerentes e sem

1 defesa de um ponto de vista.
Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, mas desorganizados ou

2 contraditórios e limitados aos argumentos dos textos motivadores, em defesa de um ponto
de vista.
Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, limitados aos argumentos

3 dos textos motivadores e pouco organizados, em defesa de um ponto de vista.
Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, de forma organizada, com

4 indícios de autoria, em defesa de um ponto de vista.
Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema proposto, de forma

5 consistente e organizada, configurando autoria,1 em defesa de um ponto de vista.
Essa Matriz de Referência, que menciona aspectos importantes a serem considerados na

avaliação da Competência III, serve de ponto de partida para a elaboração da Grade
Específica, de modo que muitos termos aqui apresentados foram traduzidos para facilitar
o trabalho de avaliação em larga escala.
Esse trabalho de tradução da Matriz em uma Grade Específica levou em consideração a

ideia de que o que importa na Competência III é a forma como o texto é trabalhado – se é
1
Para nós, no processo de correção, o conceito de autoria não é considerado um critério de avaliação. Entendemos
que, na Grade de Correção, a autoria prevista na Matriz de Referência está relacionada ao projeto de texto
elaborado e ao desenvolvimento de informações, fatos e opiniões trazidos pelo participante em sua produção
textual. Isso significa que uma redação com autoria é aquela em que o participante apresenta um projeto de texto
estratégico e em que consegue cumprir com êxito, de maneira consistente, o que foi programado, ou seja,
apresenta ao leitor, de forma organizada e gradativa, a linha de raciocínio que mobilizou em defesa de um ponto
de vista.

escrito de modo organizado, consistente e estratégico, sem deixar lacunas de
informação para que o leitor preencha. Em suma, interessa se o texto é autossuficiente,
se não depende de conhecimentos externos por parte do leitor, ou mesmo dos textos
motivadores, para que faça sentido.
Levando isso em conta, podemos afirmar que, para atingir o nível máximo na Competência
III, o importante não é apenas o que o participante mobiliza para a escrita de seu texto,
mas como mobiliza (seleciona, relaciona, organiza e interpreta) aquilo que apresenta. Por
essa razão, como veremos adiante, na Grade Específica, o texto estratégico é aquele que
é resultado de uma boa apresentação do projeto de texto e de um bom
desenvolvimento das ideias.
Considerando esse entendimento, antes de apresentarmos a Grade Específica da

Competência III, vamos conversar sobre a relação entre o que se avalia nela e em outras
competências avaliadas no Enem.
2.1. A relação entre a Competência III e as competências II, IV e V
Ao analisarmos a Matriz de Referência para Redação do Enem, percebemos que há um

diálogo entre a Competência III e as competências II, IV e V. Assim, para que a avaliação
não penalize o participante pelo mesmo motivo em mais de uma Competência,
esclareceremos os pontos de contato entre essas competências e o que cada uma delas
avalia.
Em primeiro lugar, vamos abordar a relação entre a Competência III e a Competência II,
estudada no Módulo 4, que, por ser responsável pela avaliação do tema, do tipo textual e

do uso de repertório, tem pontos de contato com outras competências. No que diz
respeito à Competência III, especificamente, é preciso que estejamos atentos para que,
apesar do contato com a Competência II, a avaliação seja feita de maneira independente
e justa, sem que o nível atribuído à redação em uma delas induza à atribuição do mesmo
nível na outra, ou seja, sem que se “arrastem” avaliações entre as competências.
Com relação ao tema, observa-se que, embora esse seja um aspecto avaliado na
Competência II, será importante considerar, para a avaliação na Competência III, se o texto
apresenta uma abordagem completa do tema (no caso do Enem 2021, “Invisibilidade e
Registro Civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”) ou uma abordagem apenas
parcial, ou seja, se aborda o tema ou apenas o assunto mais geral, pois textos que
apresentem uma abordagem parcial do tema (textos tangentes) não poderão
ultrapassar o nível 1 da Competência III, como veremos detalhadamente no item 3 – Grade
Específica – e no item 4 – Termos importantes para a aplicação da Grade.
Sobre o tipo de texto, a proposta de redação do Enem já o define de antemão, e isso

também é avaliado pela Competência II. Deve-se partir, portanto, do tipo dissertativo-
argumentativo para avaliar a qualidade da construção do texto do participante, tarefa que
será avaliada na Competência III. Uma vez que o texto foi avaliado pela Competência II e
considerado predominantemente dissertativo-argumentativo (o que inclui os textos
avaliados como “traços constantes de outros tipos textuais”), ele deverá ser avaliado
normalmente na Competência III. Ainda em relação a esse aspecto, há um ponto de
contato importante entre as duas competências, como veremos mais adiante no item 4 -
Termos importantes para a aplicação da Grade: os textos avaliados como aglomerado
caótico de palavras. Isso porque textos identificados como aglomerado caótico de
palavras pela Competência II também serão avaliados dessa maneira na Competência III,
pois neles não é possível reconhecer características do tipo textual solicitado (aspecto

avaliado pela CII), muito menos identificar um fio de sentido mínimo que estruture o
projeto de texto do participante (aspecto avaliado pela CIII).
Outro importante ponto de contato entre essas duas competências diz respeito ao uso e
aos tipos de repertório avaliados na Competência II. É preciso que fique claro que o uso
de repertório não deve ser avaliado novamente na Competência III, sendo tarefa
exclusiva da Competência II. Desse modo, apesar de a Matriz de Referência para Redação
do Enem apresentar, como parte dos descritores dos níveis 2 e 3 da Competência III, a
característica “limitados aos argumentos dos textos motivadores”, entendemos que
isso já é cobrado na Competência II, quando analisamos se o repertório é baseado nos
textos motivadores ou se é legitimado, pertinente ao tema e com uso produtivo; portanto,
não será cobrado novamente na Competência III.
Na relação entre as Competências III e IV, parte-se do ponto de que, enquanto a

Competência III avalia o projeto de texto e o desenvolvimento das ideias trazidas pelo
participante, a Competência IV se ocupa da superfície textual, ou seja, das marcas
linguísticas necessárias para a construção do texto. Em outras palavras, na Competência
III, a avaliação extrapola a verificação dos elementos linguísticos e considera a
mobilização de outros recursos, como interpretação e inter-relação entre os
argumentos, o que significa que uma redação pode ter coerência ainda que não apresente
recursos coesivos em sua superfície, os quais serão verificados na avaliação da
Competência IV – como estudaremos adiante, no Módulo 6.
Por fim, observa-se uma relação entre as Competências III e V. Na Competência V, a Matriz
de Referência aponta a importância de a proposta de intervenção estar relacionada ao
tema. Veremos, no Módulo 7, ao estudarmos a Competência V, que, uma vez que a proposta
está relacionada ao tema, e não apenas ao assunto, ela pode ser avaliada em qualquer um
dos níveis entre o 1 e o 5. Isso significa apenas que a proposta se refere ao tema, e não

necessariamente que a relação entre a proposta e o restante da redação está clara em seu
projeto de texto. Por sua vez, a Competência III avaliará a articulação entre
informações, fatos e opiniões, ou seja, o projeto de texto do participante, e essa
articulação considera o texto como um todo, o que inclui, necessariamente, o modo
como a proposta de intervenção é apresentada. Portanto, enquanto na Competência V
é avaliado se a proposta de intervenção se encontra em um texto que aborda o tema de
forma completa, bem como quais e quantos são os elementos que a compõem, a
Competência III avalia o desenvolvimento da proposta de intervenção,
independentemente de quantos elementos ela apresenta, e sua articulação com as
demais informações, fatos e opiniões mobilizados ao longo da redação, verificando como
sua organização funciona, de modo a garantir unidade ao projeto de texto apresentado
pelo participante.
3. GRADE ESPECÍFICA DA COMPETÊNCIA III

Por mais que alguns avaliadores acreditem que a Competência III possua uma margem
maior de subjetividade no processo de correção, percebemos que, quando todos seguem
adequadamente as orientações estabelecidas, tal espaço para subjetividade fica bastante
reduzido. Por essa razão, e a fim de tornar o processo o mais objetivo possível, os níveis
da Matriz de Referência são interpretados em uma Grade Específica com a finalidade de
contemplar a avaliação da grande maioria dos textos que surgem ao longo da correção.
A versão da Grade Específica da Competência III, reformulada em 2021, foi mantida no

Material de Leitura de 2022 e será um recurso de uso contínuo ao longo dos estudos e no
momento da correção efetiva, pois é ela que garante que haja isonomia ao se avaliar o

projeto de texto e o desenvolvimento das ideias apresentadas pelos participantes, e é ela
que torna mais prático e rápido o trabalho desenvolvido por nossos avaliadores e
supervisores nessa Competência.
COMPETÊNCIA III – GRADE ESPECÍFICA DE CORREÇÃO

Aglomerado caótico de palavras, independentemente da abordagem do tema (tangenciamento ou
0 abordagem completa)
Textos tangentes não devem

1 Projeto de texto sem foco temático ou com foco temático distorcido
ultrapassar este nível
Sem desenvolvimento ou com Textos que apresentam

Projeto de texto com
2 muitas falhas
E desenvolvimento de apenas uma contradição grave não devem
informação, fato ou opinião ultrapassar este nível
Projeto de texto com Desenvolvimento de informações, fatos e opiniões com

3 algumas falhas
E
algumas lacunas
Projeto de texto com Desenvolvimento de informações, fatos e opiniões com

4 poucas falhas
E
poucas lacunas
Desenvolvimento de Aqui se admitem deslizes

Projeto de texto
5 estratégico
E informações, fatos e opiniões em pontuais, sejam de projeto
todo o texto e/ou de desenvolvimento
Como é possível observar na Grade Específica, textos que sejam aglomerados caóticos
de palavras, independentemente de apresentarem abordagem completa do tema ou não,
serão avaliados no nível 0 da Competência III. Isso se deve ao fato de que, em redações
com este perfil, o participante não demonstrou ser capaz sequer de apresentar um fio
mínimo de raciocínio, já que a própria construção de uma ideia está comprometida.
Por sua vez, redações que já possuem projeto de texto, mas ele ainda é precário, pois o
participante não consegue apresentar informações em torno de um foco temático

mínimo ou apresenta um foco temático distorcido em relação ao que é solicitado na
proposta de redação, serão avaliadas no nível 1. O conceito de foco temático será
apresentado com mais detalhes no próximo item – Termos importantes para a aplicação
da Grade. Também serão barradas nesse nível as redações tangentes, justamente porque
não foram capazes de cumprir uma tarefa elementar: apresentar e desenvolver ideias,
informações fatos e argumentos relacionados ao tema solicitado na proposta.
Como é possível observar, separamos esses dois níveis dos demais com um traço mais
escuro. Esse recurso visual na Grade tem o objetivo de indicar que, a partir do nível 2,
avaliaremos apenas textos que apresentam abordagem completa do tema. A partir desse
nível, será feita uma análise da qualidade do trabalho com o projeto de texto e com o
desenvolvimento das informações, fatos e opiniões mobilizados para a defesa do ponto
de vista. Atribuiremos o nível da redação, então, em função da identificação de falhas no
projeto de texto e/ou de lacunas no desenvolvimento da redação.
Antes de apresentarmos as características esperadas para cada nível de acordo com a

Grade Específica da Competência III, no item 6 deste Material, gostaríamos de ressaltar a
importância da leitura atenta dos Termos mais relevantes da Grade, em que explicamos a
função desses elementos na Grade e o porquê de eles serem avaliados na Competência III.
Logo a seguir, apresentamos no Material de Leitura do Enem 2022 o item Como avaliar as
redações na Competência III, com o objetivo de facilitar o trabalho de aplicação da Grade e
objetivar o olhar para os textos no que diz respeito a esta Competência.

4. TERMOS IMPORTANTES PARA A APLICAÇÃO
DA GRADE ESPECÍFICA DA COMPETÊNCIA III
A seguir, apresentamos os termos mais importantes presentes na Grade Específica e que
são fundamentais no momento da correção e da aplicação da Grade, a fim de que seja
atribuído o nível adequado a cada redação.
4.1. Aglomerado caótico de palavras
Conforme estudamos no Módulo 4, Competência II, consideramos que a redação é um

aglomerado caótico de palavras quando o texto é praticamente um amontoado de
palavras umas ao lado das outras, o que compromete o entendimento total ou na maior
parte do texto. Nesses casos, não é possível recuperar sequer um fio de sentido no
texto, de modo que também não é possível reconhecer características de quaisquer tipos
textuais, ainda que se identifique, ao longo da redação, termos ou expressões que façam
menção ao assunto/tema solicitado. Isso significa que o participante tem um domínio
muito precário da escrita e, tendo em vista que na Competência III avaliamos justamente
a capacidade de produção de sentido em um texto coerente, ele não poderá sequer ser
pontuado, ficando limitado ao nível 0 nessa Competência. De todo modo, é importante
frisar que textos com essa característica são raros.

4.2. Projeto de texto
O conceito de projeto de texto é definido por Abaurre (2012) como um esquema geral da
estrutura de um texto, no qual se estabelecem os principais pontos pelos quais deve
passar a argumentação a ser desenvolvida. Nele também devem ser determinados os
momentos de introduzir argumentos e a melhor ordem para apresentá-los, de modo a
garantir que o texto final seja articulado, claro e coerente. Trata-se de um planejamento
prévio à escrita da redação e que se mostra subjacente no texto final. Como se vê,
diferentemente de um texto que se configura como um aglomerado caótico de palavras,
um texto com projeto já possui um fio de sentido.
Muitas vezes, a dificuldade que se tem em identificar e analisar a qualidade de um projeto

de texto está relacionada ao fato de que ele é implícito no texto final. Por esse motivo,
nem sempre fica tão evidente se um projeto é bom ou ruim, pois a análise depende daquilo
que o participante apresentou concretamente em seu texto. Dessa maneira, há casos em
que o projeto de texto fica bastante visível, mas há também outros em que os participantes
não apresentam esquemas de redação típicos ou esperados. Isso exige do avaliador mais
atenção, já que o projeto seguiu um caminho que não é óbvio, mas, ainda assim, pode
funcionar bem para os objetivos do participante.
Assim, na Competência III, espera-se que seja possível reconhecer um projeto de texto na
redação, isto é, que seja identificável o caminho escolhido por quem está escrevendo para
defender seu ponto de vista. Dessa forma, a percepção do projeto de texto, a clareza com
que é possível identificar que esse texto foi pensado e organizado antes mesmo de ser
escrito, é essencial para a avaliação nesta Competência.

4.2.1. Projeto de texto sem foco temático
Para entender o que é um projeto de texto sem foco temático, é preciso, antes, entender
o que significa FOCO TEMÁTICO. Para além da abordagem dos elementos do tema, na
construção do projeto e no desenvolvimento argumentativo, espera-se que o participante
interprete corretamente o tema sobre o qual deve escrever e demonstre que é capaz de
trabalhar com ele ao longo de todo o texto – tendo sempre como eixo central a temática
delimitada pela proposta. Desse modo, o foco temático se apresenta como um fio de
sentido mínimo que embasa o projeto de texto e o desenvolvimento das informações,
fatos e opiniões ao longo de todo o texto.
A partir daí, pode-se dizer que o projeto de texto sem foco temático é aquele em que o
participante, ainda que esbarre em elementos do tema, não é capaz de sustentá-los
ao longo de toda a redação, porque em cada trecho trabalha assuntos diferentes. Em
outras palavras, ele já é composto (integral ou predominantemente) por frases com
informações completas e não mais por um aglomerado caótico de palavras; no entanto,
ainda que se identifique sentido em partes pontuais, o projeto de texto como um todo é
composto por frases sem combinação ou sem ordenação mínima, o que dá a impressão
de que o participante apresenta o assunto/tema solicitado pela Prova de Redação em
algum momento quase que por acidente. Como se vê, aqui temos o tipo de projeto de
texto mais elementar e precário.
4.2.2. Projeto de texto com foco temático distorcido
Diferentemente dos textos sem foco temático, os projetos de texto com foco temático
distorcido já constroem um foco temático claro, porém, focam em um assunto/tema
que não é aquele solicitado na proposta de redação. Ao longo da leitura, é possível

perceber que, em um momento pontual, o participante esbarra no assunto/tema
solicitado, mas o conjunto do texto está predominantemente baseado em outro
assunto/tema. Como se vê, nesse caso, o participante também falha no cumprimento de
uma tarefa elementar: elaborar um projeto de texto a partir da proposta de abordagem
temática apresentada. Desse modo, mesmo que haja uma linha de raciocínio construída
em torno de outro assunto/tema, não há um projeto de texto sobre o assunto/tema
solicitado pela prova para ser avaliado.
4.2.3. Projeto de texto estratégico
Diferentemente dos projetos de texto discutidos anteriormente, temos, no outro extremo,

os projetos de texto estratégicos. Nesse tipo de texto – esperado para o nível 5 da
Competência III –, a defesa de um ponto de vista relacionado ao tema proposto é feita de
forma gradual e organizada, já que o participante faz boa seleção de fatos, informações
e opiniões, considerando sua contribuição para o conjunto do texto, ao mesmo tempo que
relaciona e interpreta esses elementos para a defesa desse ponto de vista. Dessa maneira,
é possível notar que essa construção não ocorre de modo mecânico, nem sequer forçado,
dado que o caminho argumentativo deixa claro o raciocínio defendido pelo participante.
Isso significa que não há modelos ou redações prototípicas esperadas para que uma
redação seja considerada estratégica. Além disso, para o nível 5 da Competência III ainda
são permitidos deslizes pontuais que não prejudiquem a boa qualidade da estratégia
desenhada pelo participante.

4.3. Desenvolvimento
Considera-se desenvolvimento a fundamentação dos argumentos, de modo a explicitar

e explicar as relações existentes entre informações, fatos e opiniões, e o ponto de
vista defendido no texto. Quando os argumentos que defendem o ponto de vista são
apresentados, precisamos avaliar se o participante os desenvolve.
O desenvolvimento é, então, um desdobramento da(s) informação(ões) apresentada(s)

pelo participante. Para que esse desdobramento aconteça, segundo Cavalcante (2016), o
participante pode lançar mão de alguns recursos, como o uso de definições, comparações,
informações estatísticas, exemplos, ilustrações, analogias, argumentos de autoridade,
entre outros meios, a fim de que ele convença o leitor de que seu ponto de vista é
pertinente.
Observaremos aqui se as ideias apresentadas são desenvolvidas ao longo do texto, ou

seja, se fundamentam o raciocínio que o participante constrói a partir dos dados que ele
apresenta. Isso significa que não basta que o participante mobilize uma série de
informações em seu texto e as deixe para que o leitor faça as relações ou as
interpretações possíveis, ele precisa desdobrá-las de maneira a construir um raciocínio
autossuficiente.
No entanto, nem todas as informações são fundamentais no conjunto do texto, sendo

necessário que a avaliação desse critério leve em consideração a importância daquele
desdobramento para a defesa do ponto de vista defendido pelo participante. Informações,
fatos e opiniões secundárias, isto é, que não estejam diretamente ligadas ao ponto de
vista, podem contribuir para o desenvolvimento e relação entre as partes do texto, porém,
a falta de desenvolvimento delas poderá ser avaliada como mero deslize e não como uma

lacuna, conforme veremos adiante. Por outro lado, vale ressaltar que a mobilização de
informações secundárias também pode prejudicar o desenvolvimento em geral – como
nos casos em que o participante deixa de desenvolver o que é principal e passa a tratar de
outros assuntos periféricos, por exemplo –, razão pela qual a avaliação do projeto de texto
deve sempre ocorrer concomitantemente à do desenvolvimento, pois nos permite avaliar
que, ainda que outras informações tenham sido desenvolvidas, o texto possui lacunas por
falta de desenvolvimento das informações principais que o participante apresentou, mas
não construiu, prejudicando a defesa de seu ponto de vista.
Por isso, no nível 5 da Competência III, não deve haver nenhuma lacuna no
desenvolvimento dos argumentos selecionados, pois elas prejudicam o andamento e
a autonomia do texto, já que obrigam o leitor a fazer preenchimentos de sentido. Por
outro lado, para o nível 5, podemos encontrar deslizes pontuais no desenvolvimento,
quando esses deslizes não prejudicam a progressão dos argumentos por serem
secundários em relação ao conjunto de ideias trazidas pelo participante.
4.4. Contradição grave
A contradição grave, cuja presença limita a avaliação da redação ao nível 2 da

Competência III, refere-se às ideias com contradições que invalidam o ponto de vista
defendido no texto, ou seja, que prejudicam o projeto de texto como um todo.
Por outro lado, há casos em que as contradições são pontuais, isto é, provocam falhas
que não contradizem o conjunto das ideias defendidas no texto do participante. Essas
falhas comprometem o projeto de texto apenas pontualmente, mas não invalidam o ponto
de vista defendido, por isso não limitam a avaliação da redação ao nível 2.

ATENÇÃO!
Redações com contradição grave são bastante raras. Portanto, se o avaliador se
deparar com textos assim, deve encaminhá-los para seu supervisor como
ocorrência pedagógica.
5. COMO AVALIAR AS REDAÇÕES NA

COMPETÊNCIA III
Como tratamos ao longo do Material, devemos considerar que a Competência III analisa a
construção de sentido no texto e, com exceção dos níveis mais baixos (níveis 0 e 1),
avaliamos dois aspectos principais da redação: o projeto de texto e o desenvolvimento
dos argumentos. Para isso, devemos verificar se o participante tem um ponto de vista a
defender sobre o tema e, a partir disso, buscar identificar as falhas de projeto e as
lacunas de desenvolvimento ao longo do texto, as quais determinarão o nível atribuído a
um texto.
Com o objetivo de facilitar o processo de avaliação das redações entre os níveis 2 e 5 e

garantir que ele seja mais prático e menos subjetivo, esquematizamos o passo a passo a
seguir para o uso da Grade de Correção Específica.

5.1. Avaliação do projeto de texto
Após a leitura do texto, identificamos o ponto de vista do participante, as informações por

ele selecionadas para a defesa do ponto de vista, bem como a forma como ele organiza
ideias e argumentos ao longo da redação. Para avaliar se esse trabalho é feito de forma
produtiva e estratégica, devemos
RECUPERAR O PERCURSO APRESENTADO PARA A DEFESA DO PONTO DE VISTA:
→ QUAIS IDEIAS O PARTICIPANTE SELECIONA?

→ COMO AS IDEIAS SÃO APRESENTADAS?
→ COMO ELAS SÃO ARTICULADAS?
ANALISAR SE HÁ FALHAS NA ORGANIZAÇÃO E NA RELAÇÃO ENTRE AS IDEIAS,

TANTO ENTRE OS PARÁGRAFOS, QUANTO NO INTERIOR DE CADA PARÁGRAFO.
AVALIAR O QUANTO A PROGRESSÃO TEXTUAL FICA COMPROMETIDA PELA

PRESENÇA DESSAS FALHAS.
Uma FALHA no projeto de texto ocorre quando, entre uma passagem e outra, há quebras
de progressão que indicam que uma informação, fato ou opinião não decorre do que foi
exposto anteriormente. Em outras palavras, percebe-se que há “saltos” entre uma
informação e outra, já que há falta de relação entre as ideias apresentadas, oriundas, por
exemplo, de uma seleção ou de uma hierarquização ruins. Quando isso acontece, o leitor
tem a impressão imediata de que há um problema no projeto de texto, uma vez que se

espera que as ideias selecionadas sejam interdependentes e estejam correlacionadas
textualmente. Outro fator determinante para uma falha é a repetição das mesmas ideias
ao longo do texto, sem que haja progressão. Mais adiante, ao analisarmos cada nível da
Grade separadamente, discutiremos a importância do conjunto textual para definir o que
são “muitas”, “algumas”, “poucas” ou nenhuma falha no projeto de texto.
5.2. Avaliação do desenvolvimento
Paralelamente à avaliação do projeto de texto, é preciso fazer uma análise do

desenvolvimento dos argumentos selecionados pelo participante. Para avaliar se o
desenvolvimento foi feito de forma produtiva, devemos
MAPEAR QUAIS AS IDEIAS SELECIONADAS.
NOTAR SE O PARTICIPANTE FUNDAMENTA/DESENVOLVE AS IDEIAS AO LONGO DO

TEXTO, EXPLICANDO AO LEITOR SEU RACIOCÍNIO.
ANALISAR SE HÁ LACUNAS DE DESENVOLVIMENTO EM ALGUM PONTO E SE ELAS

COMPROMETEM O ENTENDIMENTO DO TEXTO.
AVALIAR O QUANTO A FLUIDEZ TEXTUAL FICA COMPROMETIDA PELA PRESENÇA

DESSAS LACUNAS.

Consideramos LACUNAS os momentos em que há falta de desenvolvimento no texto do
participante; elas podem ser identificadas quando o participante deixa um espaço ou um
vazio em seu texto para o leitor preencher. Quando esse tipo de lacuna ocorre, temos um
problema, porque uma das qualidades de um texto dissertativo-argumentativo é a sua
autossuficiência. Isso significa que o participante deve explicitar todos os
desdobramentos necessários para a compreensão integral de seu texto, sem que fique a
cargo do leitor fazer exercícios de lógica ou recuperar ideias e informações de seu próprio
repertório para acessar o sentido completo daquilo que o participante pretendeu expor.
Em outros casos, o problema não é a falta de um desdobramento necessário para a

compreensão do texto, mas sim a presença de um desdobramento que, ao invés de ajudar
no entendimento do texto, gera uma dúvida para o leitor. Isso ocorre, por exemplo, quando
o participante sugere desenvolver uma afirmação feita, mas, na verdade, repete a mesma
afirmação sem acréscimos de sentido ao argumento ou quando o participante sugere
textualmente desdobrar uma afirmação, mas, na verdade, trata de outro ponto que não
aquele que anunciou inicialmente. Esse tipo de ocorrência também será entendido como
uma lacuna, já que é um problema de desenvolvimento, porém não pela falta de um
desdobramento propriamente dito, e sim pela falta de sentido que esse desdobramento
trouxe para o trecho. Casos assim serão denominados falso desenvolvimento.
Vale reforçar que a falta de desenvolvimento ou o falso desenvolvimento dizem respeito

às ideias que o participante apresenta no texto e não àquilo que o avaliador espera
(projeta) para aquela redação. A avaliação em larga escala trabalha com os elementos
apresentados de forma textual pelo participante, ou seja, avaliamos o que foi
concretamente produzido por ele e não o que esperamos que ele produza.
Além disso, é importante frisar, como afirmamos anteriormente, que redações de nível 5
na Competência III admitem a presença de pequenos deslizes, relacionados ao projeto ou

ao desenvolvimento das ideias, pois, de maneira geral, eles não comprometem uma ideia
ou uma estrutura que sejam fundamentais para a redação. Eles têm caráter bastante
pontual e, muitas vezes, são mesmo passíveis de discussão entre diferentes avaliadores.
Em suma: apesar desses deslizes, ainda estamos diante de uma redação com projeto de
texto estratégico e desenvolvimento em todo o texto, sem que qualquer falha de projeto
ou lacuna de sentido comprometa sua progressão.
Por fim, o nível final da CIII será atribuído a partir dos descritores da Grade Específica de
avaliação, considerando que, na presença de descritores de níveis distintos, será atribuído
aquele que o participante já cumpriu totalmente, ou seja, o nível mais baixo. Dessa
maneira, em um caso hipotético no qual haja um projeto de texto construído de forma
estratégica e com progressão, referente ao nível 5 da Competência III, cujas ideias sejam
parcialmente desenvolvidas, ou seja, com algumas lacunas (nível 3), essa redação deverá
ser avaliada no nível 3 da Competência III.
Para resumir esses critérios de avaliação, apresentamos o roteiro de forma

esquematizada a seguir:

ROTEIRO DE AVALIAÇÃO DA COMPETÊNCIA CIII
QUAIS IDEIAS O PARTICIPANTE SELECIONA?
RECUPERE O PERCURSO APRESENTADO

1 PARA A DEFESA DO PONTO DE VISTA:
COMO AS IDEIAS SÃO APRESENTADAS/ORGANIZADAS?
ELAS ESTÃO ARTICULADAS?
ANALISE SE HÁ FALHAS NA ORGANIZAÇÃO E NA RELAÇÃO ENTRE AS IDEIAS,

TANTO ENTRE OS PARÁGRAFOS QUANTO NO INTERIOR DE CADA PARÁGRAFO. 2
3 AVALIE O QUANTO A PROGRESSÃO TEXTUAL FICA COMPROMETIDA PELA

PRESENÇA DESSAS FALHAS.
MAPEIE AS IDEIAS SELECIONADAS
MAPEIE AS IDEIAS SELECIONADAS. 4
5 NOTE SE O PARTICIPANTE FUNDAMENTA/DESENVOLVE ESSAS IDEIAS AO

LONGO DO TEXTO, EXPLICANDO AO LEITOR SEU RACIOCÍNIO.
ANALISE SE HÁ LACUNAS DE DESENVOLVIMENTO EM ALGUM PONTO DO TEXTO

E SE ELAS COMPROMETEM O ENTENDIMENTO DO TEXTO. 6
7 AVALIE O QUANTO A FLUIDEZ TEXTUAL FICA COMPROMETIDA PELA

PRESENÇA DESSAS LACUNAS.
CONSIDERE A QUANTIDADE DE FALHAS E DE LACUNAS DIANTE DO

CONJUNTO TEXTUAL APRESENTADO. 8
9 AVALIE QUAL NÍVEL DEVE SER ATRIBUÍDO À REDAÇÃO, CONSIDERANDO QUE, NA PRESENÇA
DE DESCRITORES DE NÍVEIS DISTINTOS, SERÁ ATRIBUÍDO O NÍVEL MAIS BAIXO.

6. DESCRIÇÃO DOS NÍVEIS
6.1. Nível 0
0 Aglomerado caótico de palavras, independentemente da abordagem do tema (tangenciamento ou

abordagem completa)
Exemplo 1
O Exemplo 1 apresenta abordagem completa do tema, porém, é avaliado no nível 0 porque

é composto por um aglomerado caótico de palavras. Nessa redação, embora o
participante faça menção a registro civil na linha 2 e ao acesso à cidadania entre as linhas
6 e 7 (“reconhecimento oficialmente”), não é possível depreender uma relação de sentido
no texto, já que as palavras e as expressões usadas estão soltas ao longo da maior parte
da redação: o participante começa mencionando registro civil e utiliza palavras e
expressões como “registrador”, “funcionamento civil”, “apresentação civil”, “cidadão”,

“registro civil” etc., as quais, de nenhuma maneira, nos permitem depreender um fio
mínimo de raciocínio. O Exemplo 1 caracteriza o que classificamos como um aglomerado
caótico de palavras, pois não se identifica a mobilização de quaisquer habilidades
esperadas para a Competência III (seleção, relação, organização ou interpretação em
defesa de um ponto de vista).
6.2. Nível 1
1 Projeto de texto sem foco temático ou com

foco temático distorcido !
Textos tangentes não devem
ultrapassar este nível
A diferença entre esse descritor e o descritor do nível anterior diz respeito à presença de
um fio mínimo de compreensão do texto, ou seja, nas redações de nível 1 já é possível
recuperar, ainda que de forma precária, o sentido da redação, mesmo nos casos em que
o participante aborda o tema de forma incompleta. A seguir, veremos três exemplos de
redação que correspondem ao nível 1 na Competência III: textos tangentes, textos sem
foco temático e textos com foco temático distorcido.
6.2.1. Tangente ao tema
Como já estudamos ao longo do Curso, a proposta de redação do Enem 2021 solicitava que
os participantes produzissem uma redação a partir do tema “Invisibilidade e registro civil:
garantia de acesso à cidadania no Brasil”. Os participantes que não abordaram
completamente o tema deixaram de apresentar e desenvolver ideias, informações fatos e
argumentos relacionados ao tema. Por essa razão, esses textos também são penalizados
na Competência III, não podendo ultrapassar o nível 1 desta Competência.

Exemplo 2
A redação do Exemplo 2 é avaliada no nível 1 porque é tangente ao tema. O tema é

abordado de maneira incompleta, pois, apesar de mencionar o termo “cidadania” na linha
14, o participante não apresenta registro civil, elemento essencial para uma abordagem
completa do tema.
Vale notar que, caso não fosse tangente, o Exemplo 2 poderia ser avaliado normalmente
entre os níveis 2 e 5 na Competência III, pois apresenta projeto de texto e mobiliza
informações, fatos e opiniões sobre a falta de acesso a direitos sociais básicos do
cidadão, discutindo desde o caso das crianças desabrigadas que passam fome até a
injustiça contra pessoas negras e pobres, que sofrem muito mais com a desigualdade e a
injustiça no Brasil. Porém, por se tratar de uma redação tangente ao tema, não
avaliamos a qualidade do projeto de texto e do desenvolvimento dos argumentos. Para

nós, nessa situação, basta saber que se trata de um texto que não se configura como um
aglomerado caótico de palavras, mas que, por não abordar o tema completo, não pode
ultrapassar o nível 1 na Competência III.
6.2.2. Projeto de texto sem foco temático
Esse descritor, que também diz respeito a redações que devem ser avaliadas no nível 1,
refere-se ao texto que não apresenta foco temático definido, como podemos ver no
exemplo a seguir.
Exemplo 3
A redação do Exemplo 3 é avaliada no nível 1 porque apresenta projeto de texto sem foco
temático. Ainda que, nesse caso, seja possível identificar a abordagem completa do tema,
a redação será avaliada nesse nível, pois o participante apresenta um texto sem foco
temático. Ele menciona registro civil (“documentos”) e acesso à cidadania (“invisibilidade
da pessoa”) logo na linha 1; contudo, como se pode verificar após a leitura do conjunto, não

há uma ordenação ou hierarquização mínima das ideias, posto que há vários assuntos
sendo debatidos de forma confusa ao mesmo tempo.
Entre as linhas 1 e 2, por exemplo, o participante discute a questão dos documentos contra
a invisibilidade e depois passa a tratar dos dados sobre a saúde no país; logo após, entre
as linhas 2 e 5, ele salta para a discussão sobre cinema e filmes de super-herói; em
seguida, começa a tratar da falta de escola e de condições de vida que preocupam a todos
para, a partir da linha 8, apresentar o tema da pandemia e do isolamento social no Brasil.
Por fim, ele termina a redação trazendo uma informação sobre o auxílio Brasil como uma
forma de ajudar as pessoas que não têm trabalho. Logo abaixo, apresentamos um
esquema por meio do qual fica visualmente evidente a ausência de foco temático no texto
do participante:
# LINHA ASSUNTO/TEMA
1 LINHA 1 Documentos contra a invisibilidade da pessoa
2 LINHA 2 Dados preocupantes sobre a saúde no Brasil
3 LINHAS DE 2 a 5 História do cinema e ingressos caros para filmes
4 LINHA 5 Falta de escolas no país
5 LINHAS DE 6 a 8 Condições de vida/ Pandemia e isolamento social
6 LINHAS DE 9 a 10 Auxílio Brasil e desemprego.
Como dissemos, esse texto não possui um foco temático definido e, dentre os vários
assuntos debatidos, ele apenas esbarra, como que acidentalmente, nos elementos do
tema do Enem 2021. Desse modo, por não apresentar uma ordenação mínima orientada
pelo projeto de texto a partir da proposta de redação delimitada, a redação deve ser
avaliada no nível 1 da Competência III.

6.2.3. Projeto de texto com foco temático distorcido
Diferentemente do que vimos no exemplo anterior, textos com foco temático distorcido
já apresentam um foco temático claro e objetivo. No entanto, esse foco temático não tem
como ponto principal o tema/assunto solicitado pela Prova de Redação. Vejamos o
exemplo a seguir.
Exemplo 4

O Exemplo 4 traz uma redação avaliada no nível 1 porque, apesar de apresentar abordagem
completa do tema, mencionando acesso à cidadania na linha 2 (“invisibilidade”) e registro
civil também na linha 2 (“registro civil”), apresenta projeto de texto com foco temático
distorcido.
O foco temático é distorcido, no Exemplo 4, porque, como podemos identificar, o assunto

solicitado pela proposta é apresentado, mas de forma muito pontual e quase acidental.
Pode-se dizer que, ao longo do texto, o objetivo do participante é defender um ponto de
vista a respeito de outro assunto que não o solicitado. O problema da invisibilidade de
algumas minorias, que acarreta a dificuldade no acesso ao registro civil, é mencionado de
passagem nas primeiras linhas do texto; no entanto, logo em seguida, o participante deixa
claro que seu foco é a discussão sobre a exclusão e sobre o preconceito contra pessoas
negras na sociedade brasileira. Isso é observado ao longo de toda redação: o primeiro
argumento foca a discussão sobre a reação de pessoas negras em situações
discriminatórias, e os parágrafos seguintes focam a discussão sobre o papel que as
famílias têm na educação racial dos filhos. Por fim, todas as propostas de intervenção
apresentadas no último parágrafo, como a realização de simpósios e palestras, tratam do
combate ao preconceito. Assim, nesse exemplo, nota-se que o participante distorce o que
a prova solicita, pois desvia do assunto principal, tratando quase exclusivamente de uma
outra questão que lhe parece mais relevante.
Vale ressaltar, no entanto, que nem sempre o uso de assuntos ou temas secundários
prejudica a discussão principal do participante, já que eles podem servir como
argumentos na defesa do ponto de vista.

ATENÇÃO!
Como já visto no Material de Leitura de Situações, textos que apresentem trecho
completamente desconectado do tema/assunto e da argumentação do participante
que, ao mesmo tempo, atente contra a seriedade do exame (é o caso, por exemplo, de
trechos aleatórios de poemas, músicas ou receitas) devem ser avaliados como “Parte
Desconectada” por zombaria. No entanto, há casos em que os textos apresentam
trechos desarticulados do assunto/tema da Proposta de Redação, mas que não
atentam contra a seriedade do exame e, por essa razão, não devem ser avaliados como
“Parte Desconectada”. Casos assim devem ser avaliados normalmente em todas as
competências, e a presença de trechos desarticulados deve ser considerada na
Competência III, que, como já vimos, avalia a construção da defesa do ponto de vista.
Assim, nessas redações, podemos identificar:
1) um projeto de texto sem foco temático (nível 1). Nesses casos, o participante trata
de vários assuntos aleatórios no texto – dentre eles o assunto/tema proposto pela
prova –, entre os quais não é possível identificar uma ordenação mínima. Observa-se
que essa desorganização não é causada por uma tentativa de zombar do exame, mas
é reflexo de um domínio muito precário da escrita e/ou do tipo textual dissertativo-
argumentativo. É o que ocorre no Exemplo 3: o participante trata de vários assuntos
– alguns deles podem inclusive despertar a suspeita de zombaria –, mas o que se nota
de fato é uma inabilidade para compreender o tema exigido para a prova e selecionar
ideias para a defesa de um ponto vista.
2) um projeto de texto com foco temático distorcido (nível 1). São casos em que a
redação apresenta um projeto de texto inteiramente construído em torno da
discussão de um outro assunto/tema e esbarra quase que por acidente no
assunto/tema solicitado pela Proposta de Redação. Novamente, não se trata de uma
tentativa de zombar do exame, mas do resultado de uma interpretação inadequada
da prova de redação. No Exemplo 4, vemos essa dificuldade em compreender e se
manter no tema proposto pela prova, pois o participante abandona a questão da
invisibilidade relacionada à dificuldade de acesso ao registro civil para tratar
especificamente de preconceito racial.
3) falhas que afetam a avaliação do projeto de texto do participante. Em casos em que

já é possível determinar que a redação tem um projeto de texto todo construído em
torno da discussão do tema solicitado pela Proposta de Redação, a presença de
algum trecho desarticulado, tratando de outro assunto, deve ser vista como uma
falha de projeto. São casos em que o participante, por exemplo, seleciona mal seus
argumentos e, pontualmente, passa a tratar de um assunto diferente do solicitado
pela prova. É preciso avaliar como essa presença prejudica o conjunto textual e de
que modo ela se articula com possíveis outras falhas para determinar a avaliação do
projeto de texto (muitas falhas, algumas falhas ou poucas falhas).

6.3. Nível 2
2
Sem desenvolvimento ou com Textos que apresentam
Projeto de texto com
muitas falhas
E desenvolvimento de apenas uma ! contradição grave não devem
informação, fato ou opinião ultrapassar este nível
Considerando o barramento existente no nível 1, segundo o qual textos tangentes não devem
ultrapassar aquele nível, as redações avaliadas a partir do nível 2 precisam, necessariamente,
abordar de maneira completa o tema solicitado na proposta. Eles precisam também
apresentar um foco temático definido e voltado inteiramente para o tema proposto.
Assim, dos níveis 2 a 5, a avaliação passa a ser feita com base em dois aspectos: projeto
de texto e desenvolvimento de informações, fatos, opiniões e argumentos. A partir deste
subitem, apresentaremos a análise desses dois critérios, buscando levantar pontos
principais para direcionar o olhar no momento da correção efetiva.
No nível 2, são avaliadas as redações em que o projeto de texto, embora já seja

identificado, ainda apresenta muitas falhas e em que há informações, fatos e opiniões sem
desenvolvimento ou com desenvolvimento de apenas uma informação, fato ou opinião.
Nas redações em que há a presença de um projeto de texto com muitas falhas, o

participante já consegue nos mostrar o caminho que pretende percorrer na defesa de seu
ponto de vista sobre o tema; no entanto, apresenta muitas falhas na mobilização das
habilidades de selecionar, organizar, relacionar e interpretar, o que faz com que ele não
consiga convencer o leitor em relação ao ponto de vista defendido.
Vale destacar que um projeto de texto com muitas falhas pode vir também na forma de um
projeto de texto circular, ou seja, sem progressão argumentativa. Nesse tipo de texto, o
esquema geral exposto pelo participante se baseia apenas na repetição do mesmo

argumento, sem que seja possível visualizar pontos novos ou algum avanço em relação ao
que já foi apresentado. Isso não significa que a mera repetição de ideias seja considerada
circularidade, pois, muitas vezes, o uso de tais ideias pode vir acompanhado de algum
acréscimo de discussão, ainda que pontual. Por isso, a análise da circularidade deve ser
sempre atrelada à progressão textual. Como já verificado ao longo dos anos, esse tipo de
problema é bastante raro e deve ser sempre enviado para o supervisor caso apareça.
Outro aspecto que leva a redação a ser avaliada no nível 2 é o uso de informações, fatos
e opiniões sem desenvolvimento ou com desenvolvimento de apenas uma informação,
fato ou opinião. Avalia-se como sem desenvolvimento a ausência de explicações ou
desdobramentos para as ideias apresentadas, o que pouco contribui para a defesa do
ponto de vista e deixa para o leitor a tarefa de interpretar e relacionar as ideias.
Para facilitar a leitura e a avaliação desses exemplos, a partir daqui utilizaremos o

esquema apresentado no roteiro de avaliação do item 5 deste Material de Leitura. Na
imagem, destacaremos falhas de projeto, bem como trechos desenvolvidos e trechos com
lacunas de desenvolvimento; no entanto, na explicação de cada redação, priorizaremos
apenas os problemas mais decisivos para a definição de nível, posto que nem todos os
problemas presentes em um texto podem ser discutidos à exaustão. Ao longo das imagens
de cada texto discutido, trabalharemos com a seguinte legenda de marcação:
MARCA FALHAS NO PROJETO DE TEXTO
MARCA O INÍCIO DO TRECHO COM DESENVOLVIMENTO DOS ARGUMENTOS
MARCA LACUNAS DE DESENVOLVIMENTO. SEMPRE APARECE NO

FINAL DA IDEIA/CONCEITO NÃO DESENVOLVIDO
MARCA O TRECHO COM FALSO DESENVOLVIMENTO DOS ARGUMENTOS

6.3.1. Projeto de texto com muitas falhas e sem desenvolvimento
ou com desenvolvimento de apenas uma informação, fato ou
opinião
O exemplo a seguir traz uma redação cujo projeto de texto apresenta muitas falhas:
Exemplo 5
O Exemplo 5 apresenta uma redação avaliada no nível 2 porque aborda o tema de forma
completa, mencionando registro civil na linha 1 (“certidão de nascimento”) e acesso à cidadania
na linha 5 (“diretos a outros documentos”), e possui projeto de texto com muitas falhas, embora
apresente desenvolvimento de informações, fatos e opiniões com algumas lacunas.
Quanto ao projeto de texto, o participante o estrutura em torno da ideia de que possuir

uma certidão de nascimento é não só um dever, mas um direito de todo cidadão, de modo
que possui-la dá acesso a outros direitos e benefícios. Logo no primeiro argumento

apresentado no segundo parágrafo, ele discute a importância da certidão e menciona os
outros documentos que podem ser adquiridos a partir dela. Em seguida, afirma que o
número de pessoas sem registro no Brasil ainda é muito grande. Por fim, conclui o texto
dizendo que é nosso direito exigir tal documento, a fim de que não sejamos
desconsiderados como cidadãos e possamos ter acesso a benefícios sociais.
No entanto, ainda que seja possível identificar uma linha de raciocínio do participante,
observa-se que o projeto de texto apresenta muitas falhas, evidentes na frágil hierarquia
entre as ideias, na repetição das informações e na pouca relação entre muitas delas. No
primeiro parágrafo, por exemplo, ele fala sobre a importância da certidão de nascimento
como um direito e um dever, continuando tal raciocínio no segundo parágrafo, no qual,
após repetir a ideia apresentada no parágrafo anterior, exemplifica os documentos a que
a certidão dá acesso; contudo, nesse mesmo parágrafo, ele salta de tal discussão para
uma outra sobre a gratuidade do documento e o fato de que, mesmo assim, muitas
pessoas não o possuem, sem deixar claro textualmente como a primeira questão leva à
seguinte. Por fim, o participante finaliza a redação trazendo uma nova informação,
referente aos benefícios sociais trazidos por tal documentação, o que acaba por abrir um
novo tópico que não foi trabalhado ao longo do texto.
Quanto ao desenvolvimento, nota-se que algumas informações, fatos e opiniões são

desenvolvidos, como no segundo parágrafo, em que ele afirma que a certidão de
nascimento dá acesso a outros documentos e, logo em seguida, exemplifica tal afirmação,
demonstrando alguns documentos que ela viabiliza (título de eleitor, carteira de trabalho
etc.); do mesmo modo, no último parágrafo, o participante afirma que, sem esse
documento, praticamente não somos vistos como cidadãos e, logo após, exemplifica essa
invisibilidade social mencionando o caso das pessoas enterradas como indigentes por não
terem registro. Por outro lado, ainda há informações, fatos e opiniões com algumas
lacunas de desenvolvimento, como no segundo parágrafo, em que o participante afirma

que a certidão é necessária para praticamente tudo, mas não desdobra tal afirmação no
sentido de explicar o porquê de tal exigência ou detalhar os variados benefícios a que ela
dá acesso e que lhe permitem fazer tal generalização. Do mesmo modo, o participante
afirma, logo em seguida, que ainda há um número muito grande de pessoas sem a certidão
de nascimento no Brasil, mas não desenvolve tal informação a fim de explicar as razões
ou os desdobramentos imediatos disso – o que deixa para o leitor a tarefa de preencher
essas lacunas de sentido e prejudica a autossuficiência das informações no texto.
Desse modo, como a redação apresenta características de níveis diferentes, ou seja,

ainda que tenha algumas lacunas de desenvolvimento (característica de nível 3), seu
projeto de texto possui muitas falhas (característica do nível 2) e, por isso, ela será
avaliada no nível mais baixo entre eles: o nível 2.
A seguir, temos um exemplo de texto nível 2 que, além de apresentar um projeto de texto
com muitas falhas, também apresenta desenvolvimento de apenas uma informação.
Exemplo 6

A redação do Exemplo 6 é avaliada no nível 2 desta Competência porque aborda o tema de
forma completa, mencionando registro civil na linha 4 (“indentificação”) e acesso à
cidadania na linha 9 (“sem ela e como [se] não existimos”), além de apresentar projeto de
texto com muitas falhas e apenas uma informação desenvolvida.
Ao recuperarmos o projeto de texto, é possível verificar que o participante inicia a

discussão com a afirmação de que a modernização tecnológica trouxe avanços para a
identificação. Logo a seguir, ele afirma que a identificação é simples e rápida desde que
nascemos. Em seguida, ele salta para uma nova discussão e revela que a internet é uma
grande aliada para, depois, afirmar que não se pode esquecer dos aplicativos. No quinto
parágrafo, ele volta a falar sobre identificação e sobre o fato de que a sua ausência implica
em nossa não existência. Por fim, afirma que essa é a causa da tecnologia e da internet
serem essenciais para a identificação e que a ficção se torna cada vez mais realidade.
Com relação à qualidade do projeto, observa-se que a dificuldade na seleção, organização

e hierarquização das informações prejudica a fluidez do texto, de modo que a própria
recuperação de seu projeto central – a linha de raciocínio que guia seu texto – fica
prejudicada; ou seja, há muitas falhas no conjunto textual apresentado, que transparecem
nos saltos que ele dá entre um assunto e outro: de modernização e tecnologia para a
questão da identificação; dos aplicativos para questão da ficção/realidade. Desse modo,
ainda que seja possível inferir possíveis relações que o participante possa ter buscado
estabelecer entre essas informações (o que afasta a possibilidade de a redação ser
avaliada como um texto sem foco temático), ele não as apresenta textualmente, o que
compromete a qualidade do seu projeto. Em um conjunto textual tão curto (com a
produção de 13 linhas), a quantidade de falhas apresentadas já pode ser avaliada como
muitas falhas, ou seja, elas predominam na execução de seu projeto.

Quanto ao desenvolvimento, a redação apresenta apenas uma informação desenvolvida,
evidente no trecho entre as linhas 8 e 9, em que ele explica que a identificação faz parte
[de nossa vida?] e sem ela é como se não existíssemos. A maior parte das informações é
apresentada de forma lacunar, sem nenhuma fundamentação ou desdobramento, o que
impede que o leitor compreenda o raciocínio por trás de cada uma e compromete a
qualidade do texto. Assim, por cumprir integralmente os descritores do nível 2, a redação
deve ser avaliada nesse nível na Competência III.
6.4. Nível 3
3 Projeto de texto com algumas falhas E Desenvolvimento de informações, fatos e opiniões

com algumas lacunas
Para ser avaliada no nível 3, a redação deve ter um projeto de texto perceptível, embora
apresente algumas falhas. Consideramos que o participante já consegue organizar
informações, fatos e opiniões em defesa de um ponto de vista, mas ainda há algumas
falhas, e não poucas.
Quanto ao desenvolvimento, o nível 3 é atribuído às redações com desenvolvimento de

informações, fatos e opiniões com algumas lacunas. Em outras palavras, para esse nível,
esperamos que alguns argumentos estejam desenvolvidos, ainda que outros não. Nesse
caso, além de verificar a quantidade de argumentos desenvolvidos, precisamos avaliar o
quanto essa falta de desenvolvimento afeta a progressão do texto, sempre considerando
o conjunto textual para determinar se são “algumas” ou “poucas” lacunas, por exemplo.
No exemplo a seguir, vamos observar uma redação que deve ser avaliada no nível 3.

Exemplo 7
A redação do Exemplo 7 é avaliada no nível 3 porque, além de possuir abordagem completa

do tema, mencionando registro civil na linha 1 (“documento”) e acesso à cidadania nas
linhas 3 e 4 (“reconhecida pela entidade governamental”), apresenta projeto de texto com
algumas falhas e desenvolvimento de algumas informações, fatos e opiniões.
É possível observar que, quanto ao projeto de texto, o participante foca na discussão

sobre a certidão de nascimento ser o documento mais importante para o ser humano e,
por meio dela, sermos reconhecidos pelo Governo. A partir daí, ele organiza o texto
discutindo, primeiramente, as garantias que o documento prevê, tais como ensino, voto

e atendimento médico. Na sequência, afirma que, ainda que haja isenção na taxa de
registro, muitos brasileiros não possuem tal documentação, o que faz com que haja um
aumento no número de casos de analfabetismo e de desemprego entre a população, além
da exclusão que provoca a desigualdade social. Por fim, como propostas de intervenção,
o participante sugere que a certidão seja feita ao nascer, assim como a coleta da digital,
a fim de que os sujeitos tenham acesso a direitos básicos e se diminua a desigualdade
que assola o país.
A retomada do projeto permite observar que, embora exista uma linha argumentativa
mais clara do que nos exemplos de textos com muitas falhas de projeto, essa redação
ainda demonstra fragilidade para selecionar, relacionar e organizar as informações
apresentadas. No terceiro parágrafo, por exemplo, o participante afirma que, embora a
primeira via da certidão seja isenta de taxas, muitos não possuem tal documento e esse
fato provoca a alta nos casos de analfabetismo e desemprego; porém, o participante não
cria uma relação direta entre a possível causa (isenção) e a sua consequência
(analfabetismo/desemprego). Nesse trecho, cabe ao leitor fazer a relação da falta do
documento com a falta de acesso a direitos (citados no segundo parágrafo) para, então,
compreender com maior clareza o raciocínio do participante. Do mesmo modo, nota-se
outra falha de projeto na execução da proposta de intervenção. Ainda que a possibilidade
de registro ao nascer, de fato, auxilie na diminuição da taxa de pessoas não registradas
no país, a segunda proposta, que prevê a coleta de digitais em um banco de dados seguro,
traz uma informação nova ao texto. Por não ter sido discutida ao longo da redação, ela
demonstra uma falha na seleção dos argumentos. Tanto a falha na organização e relação
quanto a falha na seleção das informações prejudicam a progressão textual do projeto
que o participante constrói.

desenvolvidos, como se pode verificar, por exemplo, no segundo parágrafo, em que o

participante exemplifica quais são os direitos garantidos pela certidão de nascimento; do
mesmo modo, entre as linhas 13 e 14 o participante explica que a razão das taxas altas de
analfabetismo e desemprego reside na exclusão social.
No entanto, ainda há lacunas no desenvolvimento de algumas informações, fatos e

opiniões, como no terceiro parágrafo, em que afirma que a primeira via do documento é
isenta de taxa e, ainda assim, muitos não o possuem. Nesse caso, espera-se que o
participante desdobre essa informação, explicando-a ou fundamentando-a ao leitor, de
modo a tornar compreensível o porquê de as pessoas ainda não possuírem tal documento
apesar de sua gratuidade. Do mesmo modo, no mesmo parágrafo, ele afirma que a
exclusão social provocou outro problema, a desigualdade social, porém não fundamenta
como esse fato ocorre, também deixando ao leitor a função de interpretar a relação entre
uma informação e outra, o que compromete diretamente a ideia de autossuficiência
esperada neste tipo de texto.
Analisemos, a seguir, mais uma redação que deve ser avaliada no nível 3.

Exemplo 8
Nesse caso do Exemplo 8, a redação também é avaliada no nível 3 porque aborda o tema
de forma completa, mencionando o elemento registro civil na linha 5 (“documento legal
que certifica o seu nascimento”) e acesso à cidadania na linha 7 (“invisibilisados”) e
apresenta projeto de texto com algumas falhas e desenvolvimento de informações, fatos
e opiniões com algumas lacunas.
Podemos observar que, quanto ao projeto de texto, o participante o inicia a partir da

informação de que a Constituição Federal de 1988 garante os direitos básicos de todo

cidadão, mas que o direito fundamental a uma certidão de nascimento não é efetivo para
todos. A partir daí, apresenta o ponto de vista que os moradores das zonas rurais e os de
baixa renda são os principais prejudicados. Logo no primeiro argumento, discute que
pessoas distantes das áreas urbanas e sem ajuda financeira têm dificuldade para adquirir
tais documentos. No parágrafo seguinte, discute que a falta de medidas governamentais
voltadas às pessoas pobres contribui para que elas fiquem sem seus documentos. Por fim,
propõe que o Estado invista em empresas públicas para o oferecimento de documentação
– o que, de modo geral, respeitará o que é dito na Constituição Federal.
No entanto, o projeto apresenta algumas falhas devido, principalmente, à forma como o

participante seleciona e organiza as informações ao longo da redação. Essas falhas ficam
evidentes, por exemplo, no terceiro parágrafo, em que o participante aponta que faltam
medidas governamentais, mas, ao mesmo tempo, afirma que é o próprio governo que
garante a gratuidade do documento para as pessoas – o que demonstra uma dificuldade
em selecionar e organizar as informações, de modo que não sabemos se o que faltam
realmente são medidas de auxílio ou melhor abrangência do atendimento, ou ainda
articulação dos recursos governamentais com outras políticas; do mesmo modo, no último
parágrafo, o participante apresenta uma proposta de intervenção voltada à criação e à
ampliação de empresas públicas fornecedoras de documentação, o que não contempla
diretamente um dos principais problemas discutidos no texto: o das pessoas que, devido
à pobreza e à falta de ajuda financeira, precisam de algum tipo de auxílio para ter acesso
ao documento. Desse modo, a seleção confusa de informações e a falta de organização
das ideias comprometem a progressão textual e deixam o texto com algumas falhas de
projeto.

desenvolvidos, como se observa, por exemplo, no primeiro parágrafo, em que o
participante afirma que o direito básico ao registro civil não é respeitado e, logo em

seguida, especifica que moradores de zonas rurais e pessoas de baixa renda são as
principais prejudicadas nesse caso. Do mesmo modo, no último parágrafo, ele afirma ser
necessário um investimento governamental na criação e ampliação de empresas
públicas, explicando que isso permitirá à população um melhor acesso a tais documentos.
Porém, ainda há lacunas em algumas informações, fatos e opiniões apresentados, como
se nota entre as linhas 9 e 11, nas quais o participante afirma que pessoas que moram em
cidades distanciadas dos centros urbanos são prejudicadas, pois necessitam de ajuda
financeira para se mover, mas não explica o que falta ali em termos de estrutura pública
de atendimento; do mesmo modo, entre as linhas 14 e 16, ele afirma que, embora haja
gratuidade da documentação, pessoas ainda têm dificuldade em adquirir a
documentação e são “deixadas de lado” pelo governo, mas não explica textualmente quais
dificuldades são essas e o que o governo deixa de fazer especificamente que poderia
tornar o acesso à documentação facilitado. Em ambos os casos, a falta de detalhamento
ou de desdobramento das afirmações feitas deixa o texto com algumas lacunas que
prejudicam a autossuficiência do texto.
6.5. Nível 4
4 Projeto de texto com poucas falhas E

Desenvolvimento de informações, fatos e opiniões
com poucas lacunas
Para avaliar uma redação no nível 4, espera-se ser possível recuperar um projeto de texto
que possua acréscimos em relação àqueles que verificamos nas redações de nível 3. Isso
significa que o participante constrói um texto com melhor seleção de informações,
articulando-as de modo mais produtivo para a defesa de seu ponto de vista. Ou seja, em
textos desse nível, verifica-se que o participante possui boa perspectiva de como
pretende defender seu ponto de vista a respeito do tema; no entanto, ao longo desse

percurso, ainda é possível verificar poucas falhas que impedem que sua redação seja
avaliada no nível mais alto da Competência III.
Além disso, o desenvolvimento das informações, fatos e opiniões pode apresentar poucas
lacunas na fundamentação das principais ideias. Com relação a essas poucas falhas e
poucas lacunas esperadas, mais importante do que pensarmos em quantidade de
problemas, é analisarmos o quanto eles afetam a progressão e a estratégia do texto.
A seguir, temos um exemplo de redação avaliada no nível 4 da Competência III.

Exemplo 9
A redação do Exemplo 9 é avaliada no nível 4 porque, além de abordar o tema de forma

completa, mencionando registro civil na linha 4 (“documentos”) e acesso à cidadania na
linha 2 (“invisibilidade”) apresenta projeto de texto com poucas falhas e desenvolvimento
de informações, fatos e opiniões com poucas lacunas.

Quanto ao projeto de texto, o objetivo do participante é discutir a condição de
invisibilidade social vivenciada por muitos brasileiros, como se ilustra na obra “Vidas
Secas” de Graciliano Ramos. Segundo ele, esse problema decorre da falta de acesso a
documentos pessoais, o que demanda maior empenho do poder público e da sociedade
civil para que a cidadania seja garantida. Para defender esse posicionamento,
inicialmente o participante desenvolve o argumento a partir do que dita a Constituição
Federal de 1988, voltada aos direitos do cidadão que, segundo ele, são negligenciados, já
que muitos brasileiros não são sequer registrados. O problema da negligência política –
com relação à falta de acesso aos registros – demonstra que as políticas públicas são
ineficazes, porque o Estado, sem ciência da quantidade exata de cidadãos, não consegue
oferecer melhor atendimento às pessoas. No terceiro parágrafo, o participante discute
que, embora exista essa preponderância do documento para o acesso a determinados
direitos, poucas são as mobilizações sociais com a finalidade de inclusão e de ascensão
social que os documentos podem promover. Para ele, essa falta de ação faz com que
muitos se conformem com sua condição, como os protagonistas de “Vidas Secas”, e nunca
se sintam cidadãos. Por fim, ele propõe como medidas interventivas campanhas de
cadastro e replanejamento orçamentário, com o fito de realizar mutirões de registro,
associando a essa proposição informes elucidativos sobre a importância do ato para a
garantia de políticas públicas; além disso, propõe o debate em escolas, que também
ajudaria no amplo exercício da cidadania.
No entanto, observa-se que o projeto apresenta poucas falhas em sua execução, como no
segundo parágrafo, por exemplo, em que o participante apresenta uma relação truncada
e repetitiva quando discute sobre a ineficácia do Estado em relação à disponibilidade de
documentação e à invisibilização dos sujeitos. O participante afirma que a Constituição
garante a cidadania aos brasileiros, mas a negligência do Estado os impede de usufruir
desse bem devido à falta de documento; na sequência, afirma que a inexpressividade do
Governo em relação aos sujeitos excluídos demonstra a inefetividade de políticas públicas,

ou seja, retoma a mesma ideia de forma que pouco contribui para a progressão esperada
no interior do parágrafo. A má seleção e organização dos elementos no parágrafo faz com
que a construção fique textualmente confusa e compromete a progressão do texto, o que
demonstra uma falha de projeto.
Quanto ao desenvolvimento, nota-se que a maior parte das informações, fatos e opiniões
é desenvolvida, como no segundo parágrafo, entre as linhas 12 e 16, em que o participante
explica que a inefetividade de políticas públicas decorre do fato de o Estado não saber ao
certo a quantidade aproximada da população do país, o que lhe permitiria um melhor
atendimento às especificidades das pessoas; logo após, também podemos analisar como
as propostas de intervenção são bem desenvolvidas, porque o participante explica bem
ao leitor como seriam as ações de cadastro e replanejamento a serem realizadas pelo
Governo. No entanto, ainda há poucas lacunas, como se observa, por exemplo, no segundo
parágrafo, em que o participante discute o papel da Constituição de assegurar ao cidadão
os direitos fundamentais que lhe são negados devido à falta de documentação. É possível
notar que a relação entre a falta de documentação (negligência estatal) e a falta de acesso
aos direitos (consequência aos cidadãos) é reiterada, porém não é fundamentada ao longo
do parágrafo. O leitor não sabe o porquê de o Governo ser inexpressivo ou por qual motivo
suas políticas não são efetivadas. Esse movimento, chamado falso desenvolvimento, faz
com que o participante reitere uma mesma informação sem acréscimos de sentido. É
importante notar que, em meio a esse falso desenvolvimento, há trechos já desenvolvidos,
como se observa entre as linhas 13 e 15, em que o participante explica que o Estado deve
conhecer o perfil socioeconômico das pessoas para melhor atendê-las. Ainda que essa
informação seja explicada, a anterior, que trata de tópico essencial ao tema (a ineficácia
no fornecimento de documentação ao cidadão) não é desenvolvida do mesmo modo. Outra
afirmação lacunar aparece ao final do terceiro parágrafo, quando o participante afirma
que as pessoas invisibilizadas se conformam com essa condição; aqui, espera-se que ele

fundamente esse dado e não deixe para o leitor o papel de preencher essa lacuna de
sentido.
Por essas razões, vemos que, no Exemplo 9, a redação não é avaliada no nível 3 porque não
tem projeto de texto com algumas falhas e não apresenta desenvolvimento de
informações, fatos e opiniões com algumas lacunas. Porém, como ainda há problemas
identificados ao longo do texto, ela não é avaliada no nível 5 porque seu projeto de texto
não é estratégico e o desenvolvimento de informações, fatos e opiniões não ocorre em
todo o texto.
A seguir temos mais um exemplo de redação avaliada no nível 4.

Exemplo 10
A redação é avaliada no nível 4 porque aborda o tema de forma completa, mencionando

acesso a cidadania na linha 3 (“cidadania”) e registro civil na linha 7 (“registro civil”), mas,
apesar de apresentar projeto de texto estratégico, o desenvolvimento de informações,
fatos e opiniões ainda possui poucas lacunas.

Ao recuperarmos o projeto de texto do participante, observamos que ele inicia a redação
mencionando a obra “Brasil: uma biografia”, das historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa
Starling, na qual discutem a “difícil e tortuosa construção da cidadania” no Brasil. A partir
daí, ele apresenta seu ponto de vista de que, a despeito dos muitos avanços sociais, a
cidadania brasileira ainda tem falhas, já que há muitas pessoas socialmente invisíveis
devido à desigualdade de acesso à informação – o que, consequentemente, revela um
Estado Democrático ineficiente. Com base nisso, o participante apresenta um primeiro
argumento, no qual discute que a falta de informações sobre a importância do registro
civil invisibiliza sobretudo as pessoas pobres, que ficam sem acesso à documentação.
Como complementação, ele mobiliza as ideias de Sérgio Buarque de Holanda, autor
segundo o qual esse tipo de desigualdade de acesso tem relação direta com um tipo de
segregação social que é característica do Brasil. Em seguida, o participante apresenta o
argumento de que, como consequência dessa desigualdade de acesso a direitos básicos,
explicita-se uma ineficiência do Estado democrático. Nesse parágrafo, ele se apoia nas
ideias de Milton Santos, autor segundo o qual a democracia só é plena quando a totalidade
do corpo social usufrui igualmente de direitos – algo que, devido à desigualdade de acesso
a documentos básicos, não se efetiva no Brasil. Por fim, o participante apresenta uma
proposta de intervenção que visa a incidir sobre o principal problema levantado: a
desigualdade de acesso à informação. Para isso, propõe a criação de Centros de
Referência de Assistência Social, com a finalidade de informar e amparar os cidadãos e
diminuir o quadro de invisibilidade. Como se vê, o participante organiza e relaciona de
modo claro as informações relevantes para a defesa do ponto de vista, sem falhas que
prejudiquem a progressão das ideias que são centrais para o seu texto - o que revela visão
estratégica do projeto de texto.
Quanto à avaliação do desenvolvimento, nota-se que a maior parte das informações, fatos
e opiniões é desenvolvida, como se observa, por exemplo, no terceiro parágrafo, em que o
participante afirma, a partir de Milton Santos, que uma democracia só é efetiva quando

atinge a totalidade do corpo social e, logo em seguida, desdobra tal informação em um
paralelo com a sociedade brasileira, a qual, por ser uma democracia recente que não
garante pleno acesso a direitos básicos, não leva a cabo o modelo defendido pelo
geógrafo; do mesmo modo, no último parágrafo, o participante afirma que, para levar
adiante políticas de democratização de conhecimento sobre os próprios direitos, poderão
ser criados Centros de Referência de Assistência Social em locais de vulnerabilidade e,
logo em seguida, desdobra tal informação explicando o alcance que tais políticas poderão
ter, já que sua criação permitirá a adesão de pessoas que até então desconheciam seus
direitos e permitirá que muitas delas deixem de ser invisibilizadas.
No entanto, ainda há poucas lacunas de desenvolvimento, como se pode verificar, por

exemplo, no primeiro parágrafo, em que o participante apresenta de modo muito vago a
condição das pessoas “invisíveis”, sem especificar quem são elas ou qual sua condição; do
mesmo modo, no segundo parágrafo, o participante afirma que os indivíduos da periferia
ficam privados de informações úteis sobre o registro civil, mas em nenhum momento
fundamenta tal informação, no sentido de explicitar por que isso ocorre ou como se dá
esse processo de segregação, cabendo ao leitor tomar como dada uma afirmação central
para o texto, mas que não é devidamente desenvolvida.
Desse modo, mesmo que o participante apresente um projeto de texto sem falhas, ainda
há poucas lacunas quando analisamos o conjunto textual, as quais prejudicam sua
autossuficiência. Nesse caso, quando há características de dois níveis diferentes na
avaliação da Competência III, projeto de texto estratégico (nível 5) e desenvolvimento com
poucas lacunas (nível 4), o texto deve ser sempre avaliado no nível mais baixo.

6.6. Nível 5
5
Aqui se admitem deslizes
Projeto de texto Desenvolvimento de informações,
estratégico
E
fatos e opiniões em todo o texto ! pontuais, sejam de projeto
e/ou de desenvolvimento
Para ser avaliada no nível 5, a redação não pode mais apresentar os problemas dos níveis
anteriores. Esse nível deve ser atribuído àqueles textos que conseguiram cumprir com
êxito o que a Grade da Competência III exige. Portanto, a redação deve evidenciar um
projeto de texto estratégico, além de apresentar informações, fatos e opiniões
desenvolvidos em todo o texto, podendo conter deslizes pontuais, desde que não
prejudiquem a progressão e a estratégia da redação. Tais características configuram um
texto autônomo (que se sustenta por si só) ao evidenciarem o pleno domínio dele pelo
participante. É importante observar que as duas condições precisam ser satisfeitas
para que a redação seja avaliada nesse nível.
Vejamos, a seguir, um exemplo de redação avaliada no nível 5:

Exemplo 11
A redação do Exemplo 11 é avaliada no nível 5 porque, além de abordar o tema de forma

completa, mencionando registro civil na linha 3 (“documentação pessoal”) e acesso à
cidadania nas linhas 4 e 5, apresenta projeto de texto estratégico e desenvolvimento das
informações, fatos e opiniões em todo o texto.

Nessa redação, o participante inicia seu projeto a partir do texto “As cidades mutiladas”,
de Milton Santos, discutindo como a democracia só é efetiva quando atinge o todo social,
diferentemente do quadro atual do Brasil, em que muitos são invisíveis devido à falta de
documentação e, por isso, não têm seus direitos garantidos. Para tratar desse contexto
hodierno, o participante organiza a redação a partir de dois eixos: a burocratização na
retirada de documentos e a indiferença social frente a esse problema.
Logo no primeiro parágrafo da argumentação, ele retoma a Carta Magna para apresentar
como, apesar de existir a garantia de gratuidade ao registro de nascimento, outras
burocracias causam problemas para a solicitação de documentos, o que torna o processo
muito lento. Esse argumento é ampliado pela noção de “violência simbólica”, criada por
Pierre Bourdieu, a qual se expressa, segundo o participante, em situações como aquelas
em que, devido à falta de documentação, parcela da sociedade fica sem acesso à
cidadania. Em seguida, ele apresenta a ausência do engajamento social como fator
colaborativo para a invisibilidade. Para o participante, a indiferença silencia a discussão
sobre o problema e compromete ainda mais o acesso à cidadania de determinados
sujeitos. O argumento é relacionado ao pensamento de Yuval Harari, segundo o qual
muitos indivíduos não percebem os reais problemas do mundo e seguem agindo de forma
passiva e apática.
Da mesma forma, ao avaliarmos os argumentos apresentados pelo participante,

consideramos que o desenvolvimento das ideias ocorre em todo o texto. No segundo
parágrafo, por exemplo, ele se preocupa em explicar ao leitor por que o problema vai além
da questão financeira (fato que por si só poderia já ter sido resolvido pela gratuidade do
documento), ao afirmar que a incompatibilidade entre a demanda e o que os órgãos
públicos oferecem torna o processo lento e burocrático. Da mesma forma, no terceiro
parágrafo, o participante desenvolve suas ideias, explicando como a falta de
documentação compromete a cidadania dos brasileiros que, sem esses dados, não

conseguem acessar certos benefícios sociais ofertados pelo Estado. Também as
proposições interventivas são bem detalhadas, já que o participante se preocupa em
fundamentar cada ação em relação ao projeto de texto apresentado ao longo do texto,
retomando os argumentos e desenvolvendo ações que atuem em cada uma das
problemáticas destacadas por ele. A preocupação em fundamentar todas as informações
apresentadas revela a qualidade do desenvolvimento nesse texto e garante que essa
redação não seja avaliada no nível 4, já que não apresenta lacunas no desenvolvimento das
informações, fatos e opiniões, nem sequer falhas em qualquer momento do texto.
Ainda assim, nota-se que, embora apresente projeto de texto estratégico e

desenvolvimento de informações ao longo de toda redação, esse texto apresenta um
deslize na linha 11, quando o participante faz menção à disponibilidade de vagas ofertadas
pelos órgãos responsáveis; porém, não deixa claro se essas vagas são relacionadas aos
funcionários que atenderiam ao público (para retirar os documentos) ou vagas para
atendimento ao público (quantas pessoas são atendidas por dia). Essa ambiguidade é
considerada um deslize, e não uma falha, já que a informação não é primordial no interior
do parágrafo. A ideia central, de acordo com o projeto apresentado pelo participante, é
defendida com clareza ao longo do texto – e a autonomia do texto não é comprometida.
Desse modo, por se tratar de uma informação secundária e que não impede que a
compreensão das ideias centrais seja feita de forma clara e consistente, esse problema é
considerado um deslize, e não impede o texto de ser avaliado no nível 5 da Competência
III.
No exemplo a seguir, apresentamos outra redação avaliada no nível 5:

Exemplo 12
No Exemplo 12, a redação é avaliada no nível 5 porque aborda o tema de forma completa,
mencionando registro civil na linha 2 (“documentação pessoal”) e acesso à cidadania entre
as linhas 1 e 2 (“invisibilidade de alguns indivíduos”), além de apresentar projeto de texto
estratégico e desenvolvimento das informações, fatos e opiniões em todo o texto.

No que se refere ao projeto de texto, o participante inicia a redação mencionando a série
“Caminhos da Reportagem”, a qual tratou, em um de seus episódios, da invisibilidade social
de indivíduos sem registro civil. Isso serve de ponto de partida para a discussão sobre o
quanto a falta do documento prejudica o acesso à cidadania e para a apresentação do
ponto de vista que será defendido ao longo de todo o texto: o de que tal problema ocorre
devido à negligência governamental e à falta de informações junto à população. Ambas as
causas do problema são tratadas, respectivamente, no segundo e no terceiro parágrafos.
No segundo parágrafo, o participante enfoca a escassez de políticas públicas direcionadas
à garantia da cidadania e faz boa seleção de informações ao mobilizar o dado da Pró-
Reitoria de Pesquisa da USP sobre a verba governamental utilizada para suprir o déficit de
registro civil. Do mesmo modo, no terceiro parágrafo, ele enfoca o problema da falta de
informações sobre a importância dessa documentação e mobiliza a informação de que o
podcast “O Assunto”, de Renata Lo Prete, entrevistou uma senhora que teve o filho em casa
e não viabilizou a certidão de nascimento da criança por desconhecer sua relevância. Por
fim, no último parágrafo, são apresentadas propostas de intervenção que incidem
exatamente sobre os problemas discutidos ao longo do desenvolvimento, o que também
revela visão estratégica do participante quanto ao projeto de texto. A primeira se refere à
importância de o Ministério da Cidadania fiscalizar e monitorar as solicitações de registro;
a segunda se refere à criação de campanhas informativas com o intuito de ampliar o
conhecimento sobre a necessidade do registro. Como se pode observar, o Exemplo 12
apresenta um projeto de texto estratégico, porque a defesa do ponto de vista é feita de
forma gradual e organizada ao longo de todo o texto, trazendo uma boa seleção,
hierarquização e progressão das ideias – o que ressalta a qualidade do projeto.
O mesmo é possível afirmar sobre o desenvolvimento das ideias, que se dá em todo o

texto, como se nota no segundo parágrafo, por exemplo, em que o participante afirma que
a negligência governamental, visível na falta de políticas públicas direcionadas, contribui
para a invisibilidade de muitos indivíduos e, para exemplificar, traz o dado apresentado

no USP Talks de que menos de 10% da verba destinada à promoção da cidadania é
utilizada para a resolução do problema; do mesmo modo, no terceiro parágrafo, ele
destaca que, pela falta de informações, muitas pessoas não sabem da importância da
documentação. Para comprovar tal afirmação, traz o exemplo apresentado no podcast de
Renata Lo Prete, de uma mãe que teve o parto do filho em sua própria casa, mas que, por
desconhecer a importância do registro, não solicitou a certidão de nascimento da
criança. Como se vê, o desenvolvimento das informações, fatos e opiniões desdobra de
modo autossuficiente as informações que são centrais para o ponto de vista. Como o
Exemplo 12 não apresenta lacunas e nem falhas ao longo de todo texto, não pode ser
avaliado no nível 4 da Competência III.
7. COMPARAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS 4 E 5

Diante do conjunto de redações que encontramos na correção efetiva do Enem, muitas
vezes notamos como é difícil diferenciar um texto entre o nível 5 e o nível 4 na
Competência III. Essa dificuldade se torna ainda maior quando consideramos a leitura e a
avaliação de dezenas de redações por dia. Por esse motivo, o Material de Leitura é
elaborado e pensado para facilitar e objetivar esse trabalho e tornar mais dinâmico o
processo de avaliação das redações.
No caso de textos que se encontram na passagem do nível 4 para o nível 5, a diferença é

bastante sensível, porque já são redações com características similares, bem projetadas
e bem desenvolvidas, apresentando uma seleção cuidadosa das informações, organizadas
de modo a tornar a leitura mais fluida e a progressão textual mais evidente. Porém, nos
textos nível 4, percebemos que a presença de poucas falhas pode comprometer sua

qualidade em algum desses critérios (ou em ambos) de modo a não manter o nível 5 na
Competência III. Esse é o caso do Exemplo 13 que leremos na sequência.
REDAÇÃO AVALIADA NO NÍVEL 4 DA COMPETÊNCIA III:
Exemplo 13

No Exemplo 13, a redação é avaliada no nível 4 porque aborda o tema de forma completa,
mencionando registro civil na linha 2 (“registra seus filhos”) e acesso à cidadania na linha
4 (“muitas pessoas não são reconhecidas como cidadãos”), e apresenta projeto de texto
com poucas falhas e desenvolvimento de informações, fatos e opiniões com poucas
lacunas.
Quando analisamos o projeto de texto, nota-se que o participante o inicia comparando a

obra “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, com a realidade brasileira devido à falta de
registro. Na sequência, ele divide seu posicionamento entre a causa da problemática – a
falta de universalização dos registros – e as consequências – a falta de acesso à cidadania.
No primeiro argumento, o participante discute as causas dessa problemática que,
segundo ele, é a marginalização social, dado o distanciamento de cartórios e a falta de
comunicação e/ou de informação oferecida aos sujeitos. Logo em seguida, no terceiro
parágrafo, ele apresenta as consequências de tal problemática, afirmando que a falta de
cadastro provoca a invisibilidade perante o Estado. Esse argumento é primeiramente
associado à ideia de Èmile Durkheim, segundo o qual a sociedade é um corpo social que
precisa de seus órgãos interligados para funcionar. Depois, ele passa a tratar do
adoecimento do Brasil, já que os indivíduos invisíveis não atuam na sociedade e não podem
exercer sua cidadania ou realizar determinadas funções como trabalho, estudo ou voto.
Por fim, o participante propõe que sejam criadas medidas pela prefeitura, com o fito de
promover campanhas massivas de registro do cidadão, além de aumentar o acesso à
informação – o que alteraria o cenário descrito na obra de Graciliano Ramos e apresentado
no início do texto.
Notam-se, no entanto, falhas na seleção e na relação entre os argumentos no terceiro

parágrafo do texto. Ao propor que se discutam as consequências da falta de registro, entre
as linhas 15 e 16, o participante mobiliza a ideia de “corpo social”, do sociólogo Èmile
Durkheim; contudo, essa informação é pouco relacionada com os dados que são

apresentados por ele sobre a questão central de seu segundo argumento: para ele, a
principal consequência da falta de registro é a invisibilidade, que resulta, adiante, na perda
de direitos como o acesso ao trabalho, estudo etc. Desse modo, o trecho fica truncado e
com a progressão de ideias prejudicada, o que demonstra que, além de não conseguir
relacionar, o participante também não soube selecionar com cuidado as ideias que
apresenta em seu projeto.
Quanto ao desenvolvimento de informações, fatos e opiniões, observa-se que ele ocorre

na maior parte do texto, como é possível notar entre as linhas 9 e 11, por exemplo, quando
o participante se preocupa em explicar ao leitor com maior clareza o que ele denomina
como marginalização social. Também as propostas de intervenção, apresentadas no
último parágrafo, são bem fundamentadas, pois o participante desdobra as ideias com a
intenção de fundamentar cada uma das proposições que faz, relacionando-as com as
problemáticas tratadas ao longo da redação. No terceiro, ao tentar criar uma metáfora a
partir do conceito de corpo social, o participante apresenta a ideia de adoecimento do
Brasil, que não é desenvolvida ao longo do parágrafo, ele trata de consequências
individuais do problema da invisibilidade, mas não explica como o país como um todo é
prejudicado. Ainda no final deste parágrafo, o participante traz uma nova afirmação para
o texto, quando diz que a falta de registro civil atinge tanto a cidadania do indivíduo quanto
sua própria individualidade; essa segunda característica, porém, não é discutida ou
sequer fundamentada, o que também compromete o caráter de autossuficiência esperado
em redações de nível mais alto.
Portanto, ainda que essa redação sugira uma boa organização inicial e deixe claro ao leitor
o percurso que pretende percorrer para a defesa de seu ponto de vista, ao avaliarmos a
qualidade do trabalho realizado pelo participante, notamos que há falhas de projeto, assim
como ainda há lacunas em poucas informações, fatos e opiniões importantes para a

defesa de seu ponto de vista. Portanto, tais falhas e lacunas impedem que o texto seja
avaliado no nível máximo na Competência III.
Em suma, para que possa alcançar o nível 5 na Competência III, a redação não pode
apresentar mais que deslizes pontuais, que não prejudicam a progressão e a autonomia
do texto, visto que não se trata de questões essenciais para a redação, mas que poderiam
torná-la ainda melhor, caso não tivessem ocorrido.
8. A AVALIAÇÃO NAS COMPETÊNCIAS II E III

ATENÇÃO!
A redação a seguir foi avaliada nas Competências II e III para evidenciar a
independência entre elas.

Exemplo 14
Na Competência II, a redação do Exemplo 14 foi avaliada no nível 5, pois há abordagem

completa do tema, mencionando o elemento acesso à cidadania nas linhas 2 e 3
(“invisibilidade”) e registro civil na linha 3, além de apresentar as três partes do texto
dissertativo-argumentativo (nenhuma delas embrionária) e repertório legitimado pelas
áreas do conhecimento e pertinente ao tema, com uso produtivo. O repertório avaliado é
observado no terceiro parágrafo, em que o participante recorre ao livro “Capitães da
Areia”. Trata-se de repertório legitimado, pois é um livro reconhecido como produto
cultural; há pertinência ao tema, ou seja, o referido repertório está associado a, pelo
menos, um dos elementos da proposta (“registro civil"), pela menção ao fato de as

personagens do livro não possuírem identificação pessoal; e o uso dessa informação é
produtivo, porque há vínculo de ideias entre o enredo do livro (no qual as personagens,
devido a uma série de problemas socioeconômicos, ficam sem registro) e a discussão
proposta pelo participante, segundo a qual no contexto brasileiro as pessoas passam por
situação análoga, já que a falta de renda faz com que muitos tenham que escolher entre
comer ou viabilizar a documentação de seus familiares.
A boa avaliação na Competência II não impede que essa mesma redação seja avaliada, na
Competência III, no nível 3, pois, o projeto de texto apresenta algumas falhas e o
desenvolvimento das informações, fatos e opiniões possui algumas lacunas.
Quanto ao projeto de texto, o participante o inicia com a menção à Constituição Federal, a

qual estipula que o registro civil é gratuito no Brasil, para, a partir daí, afirmar que muitos
brasileiros não se beneficiam de tal direito; defendendo o ponto de vista de que isso ocorre
devido à ineficiência estatal e às condições financeiras precárias. Em seguida, no seu
primeiro argumento, o participante defende que nesse sentido a população negra foi
historicamente prejudicada, primeiro devido à invisibilização social no período colonial e,
depois, devido ao desamparo governamental. Já no segundo argumento, o participante
mobiliza a referência ao livro “Capitães da Areia”, no qual as personagens se encontram
em situação similar à de muitos brasileiros que, devido às pressões financeiras e à
necessidade de alimentação, deixam de adquirir seu registro civil. Por fim, propõe que o
Estado garanta o acesso ao registro pessoal por meio de maior fiscalização e que a
sociedade civil organizada exija leis e maior fiscalização para pessoas com baixa renda.
No entanto, é possível avaliar que esse projeto de texto ainda possui algumas falhas, em
especial de seleção e de organização das informações no texto. Isso fica evidente, por
exemplo, na passagem do segundo para o terceiro parágrafo, em que o participante salta
de uma discussão sobre o preconceito e a falta de acesso à documentação para o exemplo

literário do livro “Capitães da Areia” sem, no entanto, garantir uma progressão textualmente
clara entre uma discussão e outra; do mesmo modo, no último parágrafo, o participante lista
uma série de propostas de modo desorganizado, sem deixar claro, por exemplo, se a
fiscalização para pessoas com baixa renda se refere à falta de documentação ou aos casos
de preconceito. Além disso, ele afirma serem necessários novos projetos e leis, sendo que
a própria redação começa com a menção à lei constitucional que já existe e garante o direito
à documentação gratuita – o que revela, na verdade, menos um problema de criação e mais
um problema de aplicação e fiscalização dessa mesma lei.
Quanto ao desenvolvimento, ele já ocorre em algumas partes do texto, como se verifica no

segundo parágrafo, em que o participante afirma que, desde a colonização brasileira,
pessoas negras são consideradas inferiores e são invisibilizadas, explicando que isso
justifica o fato de que muitas até hoje não tenham documentação pessoal; do mesmo
modo, no terceiro parágrafo, o participante afirma que boa parte da invisibilidade de
muitos sujeitos também se dá devido à falta de renda, explicando em seguida que, nesses
casos, eles ficam divididos entre se alimentar ou garantir a documentação de seus
familiares. Contudo, há trechos em que o texto do participante apresenta lacunas de
desenvolvimento, como entre as linhas 8 e 9, em que ele afirma que há uma ausência de
suporte maior para a população negra, mas não explica exatamente a que tipo de suporte
se refere e qual relação tal informação possui com a falta de documentação; do mesmo
modo, no terceiro parágrafo, entre as linhas 13 e 15, ele afirma que a ausência de
documentos pessoais causa muitos prejuízos, já que sem eles não é possível concluir
algumas atividades, mas não detalha a que tipos de prejuízo ou a que atividades se refere,
deixando para o leitor a tarefa de preencher essas lacunas de sentido.
Desse modo, devido ao fato de que o texto possui algumas falhas de projeto e algumas
lacunas no desenvolvimento das informações, fatos e opiniões, ele deve ser avaliado no
nível 3 nesta Competência.

Portanto, conseguimos perceber aqui que a presença de repertório legitimado e
pertinente ao tema, com uso produtivo, avaliada na Competência II, independe da
qualidade do projeto de texto e do desenvolvimento, aspectos avaliados na
Competência III. Enquanto, na Competência II, avaliamos a presença de repertório
legitimado e pertinente ao tema, com uso produtivo – isto é, se o participante de fato faz
uso desse repertório para desenvolver seu próprio texto –, precisamos, na Competência
III, avaliar a qualidade das relações e a forma como esse repertório e as demais
informações, fatos e opiniões funcionam para viabilizar o projeto e o desenvolvimento
no conjunto textual. Entendemos, por fim, que, embora um texto tenha muitos problemas
na construção de seu projeto ou no desenvolvimento de seus argumentos – o que
prejudica a unidade textual – se ele já possui, ao menos, um repertório legitimado e
pertinente ao tema, e se esse repertório está sendo produtivamente usado em
determinado momento da redação, mesmo que pontualmente, isso já será suficiente para
a avaliação no nível 5 da Competência II (desde que a redação também cumpra os outros
descritores previstos para esse nível, é claro), evidenciando, assim, a independência entre
essas duas avaliações.
9. CONCLUSÃO
Neste Módulo, estudamos a avaliação das redações do Enem com relação à Competência
III. Vimos que, nesta Competência, devemos avaliar a qualidade com que o participante
seleciona, relaciona, organiza e interpreta informações, fatos, opiniões e argumentos em
defesa de um ponto de vista relacionado ao tema proposto. Assim, redações em que não
é possível avaliar sequer o sentido mínimo do texto serão consideradas como um
aglomerado caótico de palavras e não devem ultrapassar o nível 0 na Competência III.
Já redações que apresentam problemas relacionados ao foco temático, ou porque

abordam vários assuntos sem focar em nenhum tema específico ou porque discutem
outro assunto/tema no lugar daquele solicitado, apenas esbarrando na questão
apresentada pelo comando da prova, deverão ser avaliadas no nível 1 da Competência III,
independentemente de o texto apresentar abordagem completa do tema ou não. Do
mesmo modo, os textos tangentes devem ser barrados no nível 1 da Competência III, pois
também não atendem corretamente a uma tarefa elementar solicitada na prova de
redação. Nesses casos, não nos importaremos com a qualidade do projeto de texto ou do
desenvolvimento das ideias, já que há o barramento de nível.
Por fim, os textos que apresentam abordagem completa do tema, e já apresentam foco
temático voltado ao tema solicitado pela prova, devem ser avaliados entre os níveis 2 e 5
na Competência III. A diferenciação dos níveis, como vimos, é feita pela análise do projeto
de texto e do desenvolvimento dos argumentos. Avaliamos o projeto de texto subjacente
à redação, ou seja, o planejamento da escrita quanto à seleção, à organização, à relação e
à interpretação dos argumentos entre si e com relação ao ponto de vista defendido.
Quanto mais evidente e estratégico esse projeto de texto se mostra, mais alto é o nível em
que a redação pode ser avaliada na Competência III.
Paralelamente ao projeto de texto, devemos avaliar o desenvolvimento dos argumentos,

isto é, se o participante explicita as relações entre os argumentos e o ponto de vista
defendido, contextualizando e fundamentando as afirmações feitas, sem deixar essa
tarefa para o leitor. Vale lembrar que sempre avaliamos esses dois aspectos nas redações
com o mesmo rigor. Assim, um texto que apresente um projeto de texto estratégico só
poderá ser avaliado no nível 5 se também apresentar um desenvolvimento consistente
dos argumentos em todo o texto.
A seguir, como encerramento deste Módulo, apresentamos um organograma que resume

os procedimentos para atribuição de nível na Competência III:

ORGANOGRAMA DE AVALIAÇÃO NA COMPETÊNCIA III
A REDAÇÃO É UM NÃO SE ESQUEÇA: NOS CASOS EM QUE

AGLOMERADO A REDAÇÃO TENHA CARACTERÍSTICAS
CAÓTICO DE SIM NÍVEL 0 DE NÍVEIS DIFERENTES, DEVE SER
PALAVRAS?
AVALIADA NO NÍVEL INFERIOR.
NÃO
PODE SER CORRIGIDA
NORMALMENTE
(ENTRE NÍVEIS 2 E 5),
A PARTIR DA ANÁLISE
É TANGENTE AO DAS FALHAS E DAS
TEMA? SIM NÍVEL 1 LACUNAS PRESENTES
AO LONGO DO TEXTO.
NÃO NÃO
TEM PROJETO DE O PROJETO TEM POSSUI

TEXTO COM FOCO
TEMÁTICO SIM FOCO TEMÁTICO
DISTORCIDO? NÃO CONTRADIÇÃO
GRAVE?
DEFINIDO?
NÃO SIM SIM
NÍVEL 1 NÍVEL 1 NÃO PODE

ULTRAPASSAR O
NÍVEL 2.
Casos desse tipo
devem ser enviados
como dúvida
pedagógica
!

FINALIZANDO…
AGORA QUE VOCÊ TERMINOU DE LER O MATERIAL DE LEITURA DO MÓDULO 5,

É O MOMENTO DE TIRAR SUAS DÚVIDAS COM SEU(SUA) TUTOR(A), NO FÓRUM
DO MÓDULO, E REALIZAR OS EXERCÍCIOS OBRIGATÓRIOS.
ÓTIMOS ESTUDOS!
10. REFERÊNCIAS
ABAURRE, Maria Luiza M.; ABAURRE, Maria Bernadete. Um olhar objetivo para produções
escritas: analisar, avaliar, comentar. 1. Ed. São Paulo: Moderna, 2012.
CAVALCANTE, Mônica Magalhães. “A Argumentação Persuasiva” in: Textos dissertativo-

argumentativos: subsídios para qualificação de avaliadores / Lucília Helena do Carmo
Garcez, Vilma Reche Corrêa, organizadoras. – Brasília: Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2017.
GONZAGA, Elen de Sousa. “Seleção e Avaliação de Argumentos” in: Textos dissertativo-

argumentativos: subsídios para qualificação de avaliadores / Lucília Helena do Carmo
Garcez, Vilma Reche Corrêa, organizadoras. – Brasília: Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2017.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça.; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A Coerência Textual. 18. Ed. São
Paulo: Contexto, 2013.
MATA, Anderson Luís Nunes da. “Originalidade e Consciência da Escrita: Indícios de Autoria
na Argumentação em Textos Escolares” in: Textos dissertativo-argumentativos:
subsídios para qualificação de avaliadores / Lucília Helena do Carmo Garcez, Vilma Reche
Corrêa, organizadoras. – Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira, 2017.
POSSENTI, Sírio. Indícios de autoria. Perspectiva, Florianópolis, v. 20, n. 1, jan./ jun. 2002.
SERAFINI, Maria Teresa. Como escrever textos. 7. Ed. São Paulo: Globo, 1995.

EQUIPE ACADÊMICA
Ana Laura Gonçalves Nakazoni
Carolina Barbosa Hebling
Cristiane Borges de Oliveira
Deni Yuzo Kasama
Giovana Dragone Rosseto Antonio
Hélio de Oliveira
Isabel Cristina Domingues Aguiar
Jully Liebl
Larissa Satico Ribeiro Higa
Mahara Hebling
Mariana Masotti Cesari
Natália Alexandrino Rocha
Rafael José Masotti
Rodrigo Alves do Nascimento
Sidnei Francisco Soprano
Coordenação
ACADÊMICA
Tânia Cristina Arantes Macedo de Azevedo

ENEM REDAÇÕES: COMPETÊNCIA III

Enviado por

Dados do documento

Título original

Direitos autorais

Formatos disponíveis

Compartilhar este documento

Compartilhar ou incorporar documento

Opções de compartilhamento

Você considera este documento útil?

Este conteúdo é inapropriado?

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

ENEM REDAÇÕES: COMPETÊNCIA III

Enviado por

Direitos autorais:

Formatos disponíveis

REDAÇÕES

Alertamos também que o conteúdo pedagógico

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 1

2. MATRIZ DE REFERÊNCIA PARA REDAÇÃO DO ENEM – COMPETÊNCIA III................................... 7

3. GRADE ESPECÍFICA DA COMPETÊNCIA III............................................................................... 12

4. TERMOS IMPORTANTES PARA A APLICAÇÃO DA GRADE ESPECÍFICA DA COMPETÊNCIA III ... 15

5. COMO AVALIAR AS REDAÇÕES NA COMPETÊNCIA III .............................................................. 21

6. DESCRIÇÃO DOS NÍVEIS ......................................................................................................... 27

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 2

7. COMPARAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS 4 E 5 ................................................................................... 62

8. A AVALIAÇÃO NAS COMPETÊNCIAS II E III ............................................................................. 66

10. REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 73

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 3

1.1. Expectativas na avaliação da Competência III

Neste Módulo, estudaremos a Competência III da Matriz de Referência para Redação do

Esse descritor estabelece que a Competência avalia a construção de sentido do texto,

Espera-se, portanto, que, nessa etapa de escolaridade, o participante seja capaz de

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 4

1.1. As habilidades cognitivas mobilizadas na

De acordo com Gonzaga (2016), para a construção de um bom texto argumentativo, é

O descritor da Competência III na Matriz de Referência para Redação do Enem enumera

SELECIONAR , RELACIONAR , ORGANIZAR E INTERPRETAR INFORMAÇÕES,

Como esse é um processo mental, essas habilidades podem ser mobilizadas

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 5

Por sua vez, a habilidade de RELACIONAR as informações no texto indica que o

Temos, por fim, a habilidade de INTERPRETAR, a partir da qual se espera que o

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 6

É importante observar que, como resultado, ao mobilizar tais habilidades, o participante

2. MATRIZ DE REFERÊNCIA PARA REDAÇÃO DO

A seguir, apresentamos cada um dos níveis de avaliação dessa Competência, de acordo

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 7

Apresenta informações, fatos e opiniões não relacionados ao tema e sem defesa de um

Apresenta informações, fatos e opiniões pouco relacionados ao tema ou incoerentes e sem

Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, mas desorganizados ou

Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, limitados aos argumentos

Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, de forma organizada, com

Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema proposto, de forma

Essa Matriz de Referência, que menciona aspectos importantes a serem considerados na

Esse trabalho de tradução da Matriz em uma Grade Específica levou em consideração a

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 8

Considerando esse entendimento, antes de apresentarmos a Grade Específica da

2.1. A relação entre a Competência III e as competências II, IV e V

Ao analisarmos a Matriz de Referência para Redação do Enem, percebemos que há um

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 9

Sobre o tipo de texto, a proposta de redação do Enem já o define de antemão, e isso

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 10

Na relação entre as Competências III e IV, parte-se do ponto de que, enquanto a

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 11

3. GRADE ESPECÍFICA DA COMPETÊNCIA III

A versão da Grade Específica da Competência III, reformulada em 2021, foi mantida no

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 12

COMPETÊNCIA III – GRADE ESPECÍFICA DE CORREÇÃO

Textos tangentes não devem

Sem desenvolvimento ou com Textos que apresentam

Projeto de texto com Desenvolvimento de informações, fatos e opiniões com

Projeto de texto com Desenvolvimento de informações, fatos e opiniões com

Desenvolvimento de Aqui se admitem deslizes

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 13

Antes de apresentarmos as características esperadas para cada nível de acordo com a

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 14

4.1. Aglomerado caótico de palavras

Conforme estudamos no Módulo 4, Competência II, consideramos que a redação é um

ENEM REDAÇÕES 2022  MÓDULO 5 | COMPETÊNCIA III 15