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O PLANETA MERCURIO

Mercúrio teve o seu nome atribuído pelos romanos baseado no mensageiro dos deuses, de
asas nos pés, porque parecia mover-se mais depressa do que qualquer outro planeta. É o planeta
mais próximo do Sol, e o segundo mais pequeno do sistema solar. O seu diâmetro é 40% menor do
que o da Terra e 40% maior do que o da Lua.

A superfície de Mercúrio é semelhante ao solo lunar. Os montes ondulados e cobertos de


poeira foram erodidos pelo constante bombardeamento de meteoritos. Existem escarpas com vários
quilômetros de altura e centenas de quilômetros de comprimento. A superfície está ponteada de
crateras. Mercúrio praticamente não tem atmosfera, portanto seu céu é sempre negro.

Antes da Mariner 10, pouco era conhecido sobre Mercúrio por causa da dificuldade de o
observar com os telescópios, da Terra. Na máxima distância, visto da Terra, está apenas a 28 graus
do Sol. Por isso, só pode ser visto durante o dia ou imediatamente antes do nascer-do-Sol ou logo
depois do pôr-do-Sol. Quando observado ao amanhecer ou ao anoitecer, Mercúrio está tão baixo no
horizonte, que a luz tem que passar através do equivalente a 10 vezes a camada da atmosfera
terrestre que passaria se Mercúrio estivesse diretamente por cima de nós.

Durante a década de 1880, Giovanni Schiaparelli criou um esquema onde mostrava algumas
estruturas de Mercúrio. Ele concluiu que Mercúrio deveria estar "preso" ao Sol de modo a
acompanhar o seu movimento, tal como a Lua está "presa" à Terra. Em 1962, radio-astrônomos
estudaram as emissões rádio de Mercúrio e concluíram que o lado escuro é quente demais para
estar preso, acompanhando o movimento. Era de esperar que fosse muito mais frio se estivesse
sempre virado para o lado oposto ao Sol. Em 1965, Pettengill e Dyce calcularam o período de
rotação de Mercúrio como sendo de 59  5 dias baseado em observações de radar. Mais tarde, em
1971, Goldstein melhorou o cálculo do período de rotação para 58,65  0,25 dias por meio de
observações do radar. Após observações mais próximas obtidas pela Mariner 10, o período foi
definido como sendo de 58,646  0,005 dias.

Apesar de Mercúrio não estar preso ao Sol, o seu período de rotação está relacionado com o
período orbital. Mercúrio roda uma vez e meia por cada órbita. Por causa desta relação de 3:2, um
dia em Mercúrio (desde o nascer do Sol até ao nascer do Sol do dia seguinte) dura 176 dias
terrestres.

No passado distante de Mercúrio, o seu período de rotação deve ter sido menor. Os cientistas
especularam que a rotação deve ter sido de cerca de 8 horas, mas ao longo de milhões de anos foi
gradualmente retardando por influência do Sol. Um modelo deste processo mostra que este
retardamento levaria 109 anos e deveria ter elevado a temperatura interior de 100 graus Kelvin.

Muitas das descobertas científicas sobre Mercúrio vêm da sonda espacial Mariner 10 que foi
lançada em 3 de Novembro de 1973. Ela passou em 29 de Março de 1974 a uma distância de 705
quilômetros da superfície do planeta. Em 21 de Setembro de 1974 passou Mercúrio pela segunda
vez e em 16 de Março de 1975 pela terceira vez. Durante estas visitas, foram obtidas mais de 2.700
fotografias, cobrindo 45% da superfície de Mercúrio. Até esta altura, os cientistas não suspeitavam
que Mercúrio tinha um campo magnético. Eles pensavam que, por Mercúrio ser pequeno, o seu
núcleo teria solidificado há muito tempo. A presença de um campo magnético indica que o planeta
tem um núcleo de ferro que está pelo menos parcialmente fundido. Os campos magnéticos são
gerados pela rotação de um núcleo condutivo fundido e este efeito é conhecido por efeito de
dínamo.

A Mariner 10 mostrou que Mercúrio tem um campo magnético que é 1% mais forte que o da
Terra. Este campo magnético está inclinado 7 graus em relação ao eixo de rotação de Mercúrio e
produz uma magnetosfera à volta do planeta. A origem do campo magnético é desconhecida. Pode
ser produzido pelo núcleo de ferro parcialmente líquido no interior do planeta. Outra origem do
campo pode ser a magnetização remanescente das rochas férreas que foram magnetizadas quando
o planeta tinha um campo magnético forte, durante a sua juventude. Quando o planeta esfriou e
solidificou, a magnetização remanescente permaneceu.

Já antes da Mariner 10, sabia-se que Mercúrio tinha uma alta densidade. A sua densidade é
de 5,44 g/cm3 que é comparável à densidade da Terra, de 5,52g/cm3. Num estado não comprimido
a densidade de Mercúrio é 5,5 g/cm3 enquanto a da Terra é apenas 4,0 g/cm3. Esta alta densidade
indica que o planeta é constituído por 60 a 70% em peso de metal e 30% em peso de silicatos. Isto
dá um núcleo com um raio de 75% do raio do planeta e um volume do núcleo de 42% do volume do
planeta.

Superfície de Mercúrio

As fotografias obtidas pela Mariner 10 mostram um mundo que parece a lua. Está crivado de
crateras, contém bacias de anéis e muitas correntes de lava. As crateras variam em tamanho desde
os 100 metros (a resolução de imagem mais pequena que se consegue obter pela Mariner 10) até
1.300 quilômetros e estão em vários estados de conservação. Algumas são recentes com arestas
vivas e raios brilhantes. Outras estão altamente degradadas, com arestas que foram suavizadas pelo
bombardeamento de meteoritos. A maior cratera em Mercúrio é a bacia Caloris Planitia. Uma bacia
foi definida por Hartmann e Kuiper (1962) como uma "depressão circular larga com anéis
concêntricos distintos e linhas radiais." Outros consideram cada cratera com mais de 200
quilômetros como uma bacia. A bacia Caloris tem 1.300 quilômetros de diâmetro, e provavelmente
foi causada por um projétil com uma dimensão de mais de 100 quilômetros. O impacto produziu
uma elevação com anéis concêntricos com 3 quilômetros de altura e expeliu matéria pelo planeta
até uma distância de 600 a 800 quilômetros. (Outro bom exemplo de uma bacia com anéis
concêntricos é a região Valhalla em Callisto, uma lua de Júpiter.) As ondas sísmicas produzidas pelo
impacto em Caloris concentraram-se no outro lado do planeta e provocaram uma zona de terreno
caótico. Após o impacto, a cratera foi parcialmente cheia com lava.

Mercúrio está cheio de grandes penhascos ou escarpas que aparentemente se formaram


quando Mercúrio esfriou e sofreu uma compressão de alguns quilômetros. Esta compressão produziu
uma crosta enrugada com escarpas de quilômetros de altura e centenas de quilômetros de
comprimento.

A maior parte da superfície de Mercúrio está coberta de planícies. Muitas delas são antigas e
crivadas de crateras, mas algumas das planícies têm menos crateras. Os cientistas classificaram
estas planícies como planícies intercrateras e planícies suaves. Planícies intercrateras estão menos
saturadas de crateras que têm menos de 15 quilômetros de diâmetro. Estas planícies provavelmente
foram formadas quando as correntes de lava cobriram os terrenos mais antigos. As planícies suaves
são recentes com poucas crateras. Existem planícies suaves à volta da bacia Caloris. Em algumas
áreas podem ser vistas pequenas porções de lava a preencher as crateras.
A história da formação de Mercúrio é semelhante à da Terra. Há cerca de 4,5 bilhões de anos
formaram-se os planetas. Esta foi uma época de bombardeamento intenso sobre os planetas, que
eram atingidos pela matéria e fragmentos da nebulosa de que foram formados. Logo no início desta
formação, Mercúrio provavelmente ficou com um núcleo metálico denso e uma crosta de silicatos.
Depois do intenso período de bombardeamento, correntes de lava percorreram o planeta e cobriram
a crosta mais antiga. Por esta altura, já muitos dos fragmentos tinham desaparecido e Mercúrio
entrou num período de bombardeamento mais ligeiro. Durante este período foram formadas as
planícies intercrateras. Então Mercúrio esfriou. O núcleo contraiu-se o que por sua vez quebrou a
crosta e produziu as escarpas. Durante o terceiro estágio, a lava correu pelas regiões mais baixas,
produzindo as áreas mais planas. Durante o quarto estágio, bombardeamentos de micrometeoritos
criaram uma superfície de poeira que é conhecida por regolito. Alguns meteoritos pouco maiores
atingiram a superfície e produziram as crateras de raios luminosos. Além de colisões ocasionais de
meteoritos, a superfície de Mercúrio já não é ativa e permanece no mesmo estado de há milhões de
anos.

Pode existir água em Mercúrio?

Podíamos supor que em Mercúrio não pode existir água em nenhuma forma. Tem
pouquíssima atmosfera e é extremamente quente durante o dia, mas em 1991 cientistas em Caltech
captaram ondas de rádio vindas de Mercúrio e descobriram algumas incomuns brilhantes vindas do
pólo norte. O brilho aparente do pólo norte poderia ser explicado por gelo na superfície ou logo
abaixo. Mas é possível haver gelo em Mercúrio? Devido à rotação de Mercúrio ser quase
perpendicular ao plano orbital, o pólo norte vê sempre o sol um pouco acima do horizonte. O interior
das crateras nunca está exposto ao Sol e os cientistas suspeitam que está a uma temperatura
inferior a -161 C. Esta temperatura congelante pode ter água provinda de evaporação do interior do
planeta, ou gelo trazido para o planeta resultante de impacto de cometas. Estes depósitos de gelo
podem ter sido cobertos com uma camada de pó e por isso mostram ainda os reflexos brilhantes no
radar.

Estatísticas de Mercúrio
Massa (kg) 3,303x1023
Diâmetro equatorial (km) 4.879,4
3
Densidade média (gm/cm ) 5,43
Distância média do Sol (km) 57.909.175
Período de rotação (dias) 58,646225
Período de revolução (dias) 87,969
Velocidade orbital média (km/s) 47,8725
Excentricidade orbital 0,20563069
Inclinação do eixo (graus) 0,00
Inclinação orbital (graus) 7,00487
2
Gravidade na superfície no equador (m/seg ) 2,78
Velocidade de escape no equador (km/seg) 4,25
Albedo geométrico visual 0,10
Magnitude (Vo) -1,9
Temperatura média na superfície 440 K
A Vista na Chegada a Mercúrio
Este mosaico de imagens de Mercúrio foi construído a partir de fotografias obtidas pela Mariner 10
seis horas antes da sonda passar pelo planeta em 29 de Março de 1974. Estas imagens foram
obtidas de uma distância de 5.380.000 quilômetros.

Vista na Partida de Mercúrio


Este mosaico de Mercúrio foi criado a partir de mais de 140 imagens obtidas pela sonda Mariner 10
enquanto passava pelo planeta mais interior em 29 de Março de 1974. A trajetória da Mariner 10
levou a sonda até ao hemisfério escuro de Mercúrio. As imagens foram obtidas depois da sonda sair
da sombra de Mercúrio.

Sudoeste de Mercúrio
Esta imagem mostra uma parte do quadrante sudoeste de Mercúrio obtida em 29 de Março de 1974,
pela sonda espacial Mariner 10. A fotografia foi obtida quatro horas antes da maior aproximação
quando a Mariner 10 estava a 198.000 quilômetros do planeta. As maiores crateras vistas nesta
figura têm cerca de 100 quilômetros de diâmetro.

Crateras Brilhantes Raiadas


Esta imagem mostra duas crateras proeminentes de Mercúrio (acima à direita) com auréolas
brilhantes. As crateras têm cerca de 40 quilômetros de diâmetro. As auréolas e raios cobrem outras
estruturas da superfície, indicando que são das estruturas mais recentes em Mercúrio.

Grandes Falhas em Mercúrio


Esta imagem obtida pela Mariner 10 mostra Rupes Santa Maria, uma estrutura escura sinuosa que
atravessa a cratera ao centro da imagem. Muitas destas estruturas foram descobertas nas imagens
de Mercúrio da Mariner 10 e foram interpretadas como sendo enormes falhas tectônicas. A
abundância e comprimento destas falhas indicam que o raio de Mercúrio diminuiu 1-2 quilômetros
após a solidificação e a formação das crateras de impacto.

Os Sulcos Antoniadi
Esta imagem representa um sulco com 450 quilômetros chamado Antoniadi. Está ao longo do lado
direito da imagem, e atravessa quase a meio uma grande cratera com 80 quilômetros.

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