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JOHN M. ZERIO
MARCO A. CONEJERO

Resíduos no Brasil: Um Grande Mercado Emergente


Introdução
Até o final de 2005, o Brasil tinha começado a consolidar sua transformação econômica histórica. De um passado de
inflação descontrolada e desgoverno econômico a um futuro de moeda estável, crescimento econômico sólido, e balanças
comerciais positivas, o progresso econômico tinha trazido expectativas mais altas e menores contrastes entre classes,
regiões e comunidades. Um dos problemas mais difíceis enfrentados por países emergentes rápidos como o Brasil foi a
criação e a gestão de infraestruturas de serviços básicos. Uma infraestrutura deficiente tinha impacto negativo na
capacidade econômica de um país e efetividade na produção e distribuição de mercadorias e serviços; contudo, a área de
serviços humanos básicos tinha os efeitos mais degradantes.
As classes desamparadas do Brasil eram mal atendidas cronicamente e suas necessidades ignoradas por sucessivas
administrações. A elite política do país reconheceu que tinha chegado a hora de tratar das necessidades humanas mais
básicas com novas políticas, elevados investimentos de capital, e uma nova mentalidade. A gestão de resíduos sólidos
tornou-se uma prioridade maior na administração do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (conhecido popularmente
como Lula). Crescimento demográfico, afluência econômica, maior consumo, e urbanização continuaram a aumentar a
taxa de geração de resíduos sólidos. O problema foi criado pelo fato de que a capacidade de processamento de resíduos
atual estava sob grave pressão em grandes áreas demográficas urbanas brasileiras, e praticamente ruía em grandes áreas
do país. Além disso, as práticas atuais contribuíram para a liberação de grandes quantidades de gás metano, um gás estufa
(GHG), na atmosfera, e poluíram o solo e a água em uma grande porcentagem de municípios pequenos e de tamanho
médio.
Não obstante seu sucesso econômico entre os países emergentes, o Brasil enfrentou grandes dificuldades no
financiamento de investimentos em projetos de infraestrutura. As necessidades da sociedade agora, em 2010, eram
muitas vezes maiores que a capacidade do governo de financiar, executar e gerenciar tais empreendimento de larga
escala. O pensamento inovador, a abertura ao compartilhamento de riscos, a resolução política foram necessárias para
instalar soluções que acelerariam o fornecimento de serviços de gestão de resíduos em ampla escala e com a qualidade
que a sociedade brasileira exigia.

Gestão de Resíduos Sólidos - Um Problema Global


O crescimento econômico, a expansão de atividades industriais, a crescente urbanização, e um número maciço de novos
consumidores de países emergentes entrando na economia de mercado contribuíram para um aumento rápido no volume
de resíduos sólidos no mundo inteiro. Isso representa um crescente desafio de gestão para comunidades e governos.
Prevê-se que quase 1,8 bilhões de toneladas de resíduos sólidos tenham sido geradas apenas em 2003.1
A situação é mais grave em países emergentes onde a infraestrutura é normalmente insuficiente, as comunidades
são mal atendidas, e os governos são dominados pela falta de recursos. O Banco Mundial previu que em países em
desenvolvimento, era característico que municípios gastassem entre 20%-50% de seu orçamento disponível na gestão de
resíduos sólidos (depósito em campo aberto com queima a céu aberto é o padrão), embora 30%-60% de todos os

___________________
1
Global Waste Management Market Report, 2004a.

Copyright © 2010 Thunderbird School of Global Management. Todos os direitos reservados. Este caso esteve preparado pelo
Professor John M. Zerio e Marco A. Conejero, doutorando da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, para fins de discussão
em sala de aula apenas, e não para indicar gestão eficaz ou ineficaz

Este documento é autorizado apenas para uso para revisão do educador por Oscar Javier Celis Ariza, Universidade Estacio de Sá até Março de 2016. Cópia ou postagem é uma infração de copyright.
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resíduos sólidos urbanos tenham permanecido não recolhidos, e menos de 50% da população tenha sido atendida. Em
contraste, o custo da gestão de resíduos sólidos adequada no mundo desenvolvido foi menos de 10% do orçamento
nacional.2

As Diferentes Realidades do Brasil


O Brasil é o quinto maior país no mundo, e tem um terço das florestas do mundo. Em 2004, ele tinha uma população de
180 milhões, e seu produto interno bruto era o décimo do mundo. Além disso, o Brasil é o país mais industrializado da
América Latina, e São Paulo é a terceira maior cidade no mundo. Sua base industrial inclui aço, automóveis, aeronaves,
energia hidrelétrica, energia nuclear e eletrônicos. Contudo, em 2004, aproximadamente 25% da população ainda vivia
abaixo da linha da pobreza. Os grupos de baixa renda tinham acesso limitado a cuidados de saúde, educação, contratação,
água limpa e serviços de saneamento. O Brasil tinha uma das mais elevadas taxas de desigualdade de renda, com a renda
dos 20% mais ricos igual a 33 vezes a renda dos 20% mais pobres. O coeficiente Gini do Brasil, comumente usado como
indicador da qualidade da distribuição de renda, era 0,55 em 2002, colocando-o em igualdade com África do Sul, Bolívia
e Haiti. O desenvolvimento humano desigual permaneceu o maior desafio para o governo brasileiro.
Embora saudado como salvador pelas classes de renda baixo e como um bom administrador pelas classes
industriais, Lula e sua administração foram incapazes de mudar a falta de eficiência que infeccionou todos os níveis da
máquina do por de décadas. O Brasil figurou como 125º dentre 134 países no número de procedimentos exigidos para
abrir um negócio. Além da falta de eficiência, o governo é conhecido por corrupção e padrões éticos inferiores.
Contudo, os sucessos da corrente administração de Lula, especialmente seu maior compromisso a retirar da
pobreza as pessoas do espectro econômico mais baixo, oferecem muita esperança. Isso é confirmado pelo apoia a novas
políticas consideradas no Congresso, maior alocação de fundos para serviços básicos, e renovado interesse em criar um
ambiente positivo para parcerias com o setor privado.

O Efeito Estufa

Embora a simples menção do efeito Figura 1 O Efeito Estufa


estufa traga preocupação, ele na verdade
é benéfico, e a vida na terra não pode O Efeito Estufa
existir sem ele. O nome foi cunhado para Radiação solar
Parte da radiação infravermelha
passa pela atmosfera, mas a
invocar uma estufa com teto e paredes alimenta o sistema SOL maior parte dela é absorvida e
climático. reenviada em todas as direções
transparente que permitem que os raios por moléculas de gás estufa e
do sol adentrem e aqueçam o interior. nuvens. O efeito disso é o
aquecimento da superfície da
Quando a estufa está fechada, o calor Terra
Parte da radiação solar e do interior da atmosfera.
permanece dentro das paredes, fazendo é refletida pela Terra e
com que a temperatura interna seja mais pela atmosfera.

alta que a externa. A atmosfera da terra


funciona de forma similar. A energia da
radiação eletromagnética emitida pelo
sol chega à atmosfera, em sua maior
parte na forma de radiação solar. Uma
parte menor desta radiação é composta
de radiação infravermelha (calor) e raios
ultravioletas. Uma parte da radiação é TERRA
refletida de volta ao espaço, outra parte é Cerca de metade da radiação
solar é absorvida pela
superfície da Terra e a aquece. A radiação infravermelha
é emitida pela superfície
da Terra.

Fonte: http://www.global-greenhouse-warming.com.

________________
2
Developing Integrated Solid Waste Management Plan, 2006, United Nations Environmental Programme, p. 4.

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absorvida pela atmosfera, e uma outra parte passa por ela e atinge a superfície da Terra. A superfície reflete de volta uma
parte da radiação eletromagnética e absorve o restante. A radiação absorvida passa por um processo físico, sua energia é
transformada; o resultado é que o planeta emite calor na forma de radiação térmica (ondas longas).3
O calor irradia ao espaço, embora um pouco permaneça retido na atmosfera devido à presença de gases,
produzindo assim o efeito estufa. Se o efeito estufa natural não existisse, a temperatura média na superfície da terra seria
aproximadamente 15-20º C abaixo de zero. Com o efeito estufa, a temperatura global média na superfície da terra é
15°C.4
Noventa e nove por cento da atmosfera da terra é composta por três gases que não estão relacionados ao efeito
estufa: nitrogênio (N2), oxigênio (O2), e argônio (ar). Se a atmosfera fosse completamente composta por estes gases, não
haveria nenhum efeito estufa. O efeito estufa ocorre por causa da presença de outros gases, embora em concentrações
inferiores (aproximadamente um por cento). Estes gases inibem a transmissão de um pouco do calor atmosférico ao
espaço, e isso faz com que a temperatura da Terra aumente.
Os gases que causam o efeito estufa (chamado gases estufas - GHG) são normalmente compostos de moléculas
que ocorrem naturalmente na atmosfera. Os mais relevantes são o gás carbônico (CO2), vapor d'água (H2O), metano
(CH4), ozônio (O3), e óxido nitroso (N2O). Estes gases são chamados GHGs por causa de sua capacidade de reter calor,
da mesma forma que o vidro em um carro fechado ou a cobertura de uma estufa sob o sol.5
Embora o efeito estufa seja necessário para a vida na terra, sua intensificação pode causar dano ambiental e
econômico enorme. Esta intensificação é o resultado de emissões adicionais de GHG que a atividade humana gera na
produção agrícola e industrial, gado, gestão de resíduos, assim como hábitos de consumo do consumidor. Desde a
Revolução Industrial, as atividades humanas geraram um aumento contínuo em concentrações de GHG na atmosfera. Os
cientistas chamam isso de interferência antropogênica no clima; em outras palavras, uma alteração causada por atividades
humanas.
O efeito estufa começou a alarmar a comunidade científica nas últimas décadas do século XX por causa de um
rápido aumento nas concentrações de GHG na atmosfera devido a emissões antropogênicas. A principal preocupação foi
o gás carbônico porque os níveis de CO2 tinham aumentado de um volume de 280 partes por milhão no período que
precedeu a Revolução Industrial a quase 360 partes por milhão hoje. além disso, novos gases com as mesmas
propriedades, mas advindos apenas de atividades antropogênicas, especialmente industriais, começaram a acentuar o
efeito estufa; os principais são os hidrofluorocarbonetos (HFCs), perfluorcarbonetos (PFCs), hexafluoreto de enxofre
(SF6), clorofluorcarbonetos (CFCs), e hidroclorocarbonetos (HCFCs).6
O gás carbônico é responsável por mais de 60% do efeito estufa antropogênico intensificado. O CO2 permanece
na atmosfera por pelo menos 100 anos. Este gás está presente naturalmente na atmosfera, mas a queima de carvão,
petróleo e gás natural — em plantas termelétricas, indústrias, automóveis e sistemas de domésticos aquecimento libera o
carbono armazenado nestes combustíveis fósseis a níveis sem precedente. Ao mesmo tempo, o desflorestamento — como
a queima e a desertificação — libera o carbono de árvores. As emissões de CO2 anuais desde a Revolução Industrial
aumentaram em mais de 23 bilhões de toneladas, ou quase um por cento da massa total do gás carbônico na atmosfera.7
O gás metano contribui com 20% do aumento no efeito estufa. As fontes principais antropogênicas de GHG são a
agricultura - principalmente plantações de arroz inundadas para e criação de gado -, aterros e drenagem de resíduos
relacionada à mineração de carvão e à produção de gás natural. O aumento das emissões de metano (que aumentaram

_____________
3
J. Goldemberg, and Walter Reid, Eds., Promoting Development While Limiting Greenhouse Gas Emissions: Trends and Baselines, UNDP and WRI,
New York, 1998.
4
Ibid.
5
IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) (1990). Climate Change: The IPCC Scientific Assessment. Report Prepared for IPCC by Working
Group I, edited by J. T. Houghton et al. Cambridge: Cambridge University Press.
6
UNFCC—United Nationals Framework Convention on Climate Change, The Kyoto Accord, 1997.
7
UNFCC—United Nationals Framework Convention on Climate Change, The Marrakech Accord, 2001.

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100% nos últimos 150 anos) começaram mais recentemente que o aumento do gás carbônico. Contudo, atingirá o nível
do CO2 mais rapidamente, embora o metano tenha um ciclo de vida de apenas 12 anos na atmosfera.8
Efeitos do Aquecimento global
Abaixo estão algumas consequências que os cientistas do IPCC preveem como resultado do aquecimento global:9
 Crescente aumento do nível do mar
 Derretimento de geleiras e das placas polares
 Perda de biodiversidade
 Aumento na incidência de doenças transmitidas por mosquitos e outros vetores (malária, febre amarela, dengue,
por exemplo)
 Alterações nos níveis de precipitações
 Intensificação de fenômenos meteorológicos extremos (como secas, inundação, ciclones e tempestades
tropicais)
 Desertificação e perda de áreas agrícolas
 Piora de problemas relacionados ao abastecimento de água doce
 Aumento nos fluxos migratórios
As consequências sociais e econômicas são, pelo menos potencialmente, catastróficas. Sempre que houver
degradação ambiental, há também uma possível perda significativa da capacidade produtiva. Os seguintes resultados
negativos também podem ocorrer:
 Escassez de alimentos e outras mercadorias
 Preços mais altos
 Perda de renda
 Níveis mais altos de desemprego
 Aumento da pobreza
 Aumento da desigualdade na distribuição de renda e bem-estar social
 Aumento dos conflitos e violência em geral
 Perda de direitos de gerações futuras (ambiente menos saudável)
Em alguns casos, o impacto pode ser irrevogável. Nações insulares e cidades localizadas em zonas costeiras estão
mais vulneráveis a alterações climáticas; elas vivem com a possibilidade de inundação a médio e longo prazo. Estima-se
que um bilhão de pessoas vivem em áreas que podem ser diretamente afetadas (Bangladesh, Holanda, Boston e Nova
Iorque, por exemplo). De acordo com o IPCC, a expectativa é que os níveis oceânicos aumentarão entre 90 e 880 mm.
O Modelo de Gestão Integrada de Resíduos
No passado, gestão de resíduos sólidos significava principalmente a coleta, depósito em terra, e incineração de
resíduos caseiros. A eliminação de resíduos industrial não recebia muita atenção. Em um livro seminal mas controverso
de 1972, Limits to Growth, Dennis Meadows10 argumentou que o material da terra e os recursos energéticos são finitos.
Ficou aparente que aterros e incineradores não eram suficientes para tratar os enormes volumes de resíduos sólidos
gerados por comunidades e indústrias.
Em 1997, a Comissão Mundial para Meio-Ambiente e Desenvolvimento promoveu o conceito de
desenvolvimento sustentável e, com ele, a ideia da reciclagem como forma de reduzir resíduos. Subsequentemente, o
conceito de gestão integrada de resíduos sólidos emergiu. O alvo da gestão sustentável de resíduos é recuperar produtos
valiosos de resíduos com menos energia e um impacto ambiental mais positivo.11 Os vários fluxos de resíduos
(residenciais, comerciais, agrícolas e industriais) são, consequentemente, abordados com portfólios de opções
complementares. Estas incluem redução da fonte, reciclagem, reutilização, incineradores e aterros.
_______________
8
Ibid.
9
IPCC, 2001b.
10
D. Meadows et al., Limits to Growth. New York: Universe Books, 1972.
11
F. McDougall et al., Integrated Solid Waste Management. Wiley, 2009, p. 10.

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Há duas escolas de pensamento sobre gestão Figura 2. Princípio de Hierarquia
integrada de resíduos sólidos. Uma escola propõe que os
resíduos devem ser tratados dentro de uma cadeia estrita
de impactos, conhecidos como o Princípio de Hierarquia, Mais
que declara que a prevenção e a minimização de resíduos Desejável Prevenção de Resíduos
(Inclusive reciclagem interna de
devem ter prioridade sobre reciclagem e tratamento, com a resíduos )

alienação ambientalmente segura terminando a cadeia.


Reciclagem Externa de
Os resíduos são segregados na fonte tanto quanto Resíduos e refugo
possível para aprimorar a qualidade dos materiais de
reutilização e reciclagem, e também para reduzir a energia Tratamento de Resíduos
usada na coleta e transporte.12 Ao invés de considerar lixo
como um agregado homogêneo que deve ser enterrado,
devemos tratá-lo de acordo com o valor energético de seus Eliminação controlada
principais componentes. Assim, alguns devem ser Menos
reutilizados, alguns reciclados ou compostados, alguns desejável Eliminação não controlada
incinerados, e o lixo restante deve ser enterrado.

A outra escola defende uma interpretação mais livre. Ela sugere que a gestão integrada de resíduos consista de um
menu de opções, e que tecnologias específicas devem ser empregadas conforme as dadas situações econômicas, sociais e
ambientais. Além disso, a abordagem deve ser holística. Esta escola não tenta prever o melhor processo para um
determinado tipo de resíduo. Por exemplo, o papel pode ser reciclado, compostado, ou incinerado com recuperação de
energia.
As oportunidades ambientais e econômicas na gestão de resíduos sólidos são significativas. Os resíduos após o
consumidor contribuíram aproximadamente com 1.300 milhões de toneladas de gás carbônico a emissões globais de gás
estufa, ou aproximadamente 5% do total, em 2005.13 Enquanto outros setores e países fazem progresso limitado na
redução de CO2, a indústria de gestão de resíduos contempla uma situação muito melhor. Entre 1996 e 2003, as emissões
do setor recuaram 16% a 23% em economias desenvolvidas.14 Novas tecnologias mostram potencial para o futuro;
contudo, o problema no nível global permanece complexo. O aumento da atividade econômica e da industrialização,
especialmente em países emergentes, está intensificando a geração de resíduos sólidos.
Conforme o mundo fica mais consciente do impacto ambiental de resíduos sólidos e de sua contribuição para os
níveis de GHG, uma nova perspectiva começa a emergir: resíduos sólidos como recursos. Com o uso da tecnologia
adequada, podemos pensar em resíduos como um provedor de materiais e de energia. Consequentemente, os resíduos
devem ser tratados como um componente regular do fluxo de materiais em uma economia, uma perspectiva ilustrada na
Figura 5.
Tecnologias de Gestão de Resíduos e GHG
Nas últimas décadas, as tecnologias de processamento de resíduos fizeram grandes avanços. Novas tecnologias afetaram
quase todas as atividades da corrente de resíduos, da coleta até o transporte dos resíduos, e de processos térmicos
avançados a aterros.
Aterro com Recuperação de Gás
Aterros estão comumente usados para desfazer-se do lixo residencial e também de certos tipos de resíduos comerciais e
industriais. Vários gases são produzidos pela decomposição da matéria orgânica, inclusive alguns que são prejudiciais à
vida humana e ao meio-ambiente. Um aterro pode ser considerado um reator biológico. Os resíduos sólidos são o
insumo; o biogás e o chorume são o produto. O chorume é um líquido escuro de biodegradabilidade limitada com

________________
12
P. Dorvil, Private Sector Participation in Solid Waste Management: Empirical Evidence from Morocco. Working paper, CWG-WASH Workshop,
2006, Kolkata, India.
13
J. Bogner et al., Waste Management, in Climate Change: Mitigation. Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change.
14
Waste and Climate Change. White Paper published by the International Solid Waste Association, Vienna. www.iswa. org.

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alta concentração de matéria orgânica, metais pesados e outras substâncias que podem ser ambientalmente prejudiciais,
especialmente para fontes de água.
A Figura 6 ilustra o processo realizado em um aterro. O biogás que resulta da decomposição da matéria orgânica
na ausência de oxigênio é inflamável e tem alto valor calorífico. A composição típica de gás de aterro é metano (45%-
60%), gás carbônico (40%-60%), nitrogênio (2%-5%), e pequenas concentrações de oxigênio, enxofre, amônia e
monóxido de carbono.
O metano tem o impacto ambiental mais elevado. Seu potencial para contribuir para o aquecimento global é 20%
a 25% maior que o gás carbônico porque é mais eficaz em reter radiação infravermelha e tende a persistir por mais tempo
na atmosfera. Portanto, os projetos ambientais que visam a redução de metano têm impacto positivo imediato.
Aterros estão na quinta posição entre as principais fontes de emissões, atrás de combustíveis fósseis, pecuária,
cultivo de arroz, e queima de biomassa. Estima-se que o metano é responsável por 18% dos gases que causam
aquecimento global. Esta contribuição representa aproximadamente 500 milhões de toneladas por ano, das quais 40 a 75
milhões são atribuídos a emissões por aterros.15
O gás do aterro é produzido pela decomposição dos resíduos despejados. Os resíduos coletados são acumulados,
cobertos com plástico, e compactados pelo material depositado no topo, formando várias camadas de materiais. A
decomposição anaeróbica (sem oxigênio) ocorre e o biogás é produzido. O gás é liberado lentamente durante um longo
período de tempo e, se não for capturado, é liberado à atmosfera. A implementação de um sistema de extração de gás
usando poços verticais ou coletores horizontais é a abordagem mais eficaz para reduzir emissões de gás metano.
Incineração
A incineração tem sido amplamente usada em países desenvolvidos, especialmente em países com espaço de terra
limitado para aterros. A maior parte dos incineradores queimam lixo misturado, isto é, refugo não classificado. Eles
atendem normas para emissões muito estritas e fora são há mais de 50 anos. O lixo é queimado sob condições
controladas a temperaturas acima de 900ºC. Os gases da queima são usados para gerar eletricidade ou calor. Este
processo gera dois tipos de resíduos: as cinzas inferiores, e os resíduos do tratamento de gás de combustão. A quantidade
de cinzas produzida é aproximadamente 10% por volume da quantidade de lixo processada. Isso representa uma redução
significativa da quantidade de material de aterro. Além disso, as emissões de GHG são eliminadas no processo, e a
energia é vendida a clientes industriais e torna-se uma fonte de receita do operador da unidade.
Os investimentos de capital tendem a ser altos, e a maior parte dele é voltado ao controle de sistemas, gestão de
emissões, e processos de limpeza. Há uma necessidade de manter uma operação contínua em altos níveis de utilização de
capacidade por causa de custos fixos elevados. A incineração tem uma imagem pública ruim, contudo, e tem sido alvo de
oposição vocal por grupos ambientais. A indústria reduziu suas emissões a níveis mais elevados que o satisfatório, e
representa um dos meios mais eficientes de tratar termicamente resíduos e recuperar a energia de resíduos municipais.
Tratamento Biológico
Compostagem, digestão anaeróbica e tratamento mecânico-biológico (MBT) estão inclusos no tratamento biológico.
Compostagem e digestão anaeróbica exige a separação dos resíduos. Compostagem é a divisão aeróbica (com oxigênio)
da matéria orgânica executada por bactérias, fungos e insetos encontrados no solo. Compostagem municipal envolve a
coleta e o processamento de vários resíduos orgânicos, inclusive resíduos de jardim e cozinha, resíduos agrícolas e
resíduos de processamento de alimentos industriais. Compostagem reduz os resíduos orgânicos em 30%-50% do volume.
Dependendo de sua qualidade, o composto pode ser diretamente utilizado na agricultura como estrume de qualidade
inferior ou condicionador de solo, ou enriquecido com nitrogênio para recuperação do solo.
Digestão anaeróbica é um processo bioquímico que se realiza em tanques vedados, sem oxigênio, em que tipos
particulares de bactérias digerem a biomassa. Os diferentes tipos de bactérias trabalham conjuntamente para dividir os
resíduos orgânicos, resultando na produção de biogás e do material restante, conhecido como digestato. O biogás

15
Abu Qdais et al., “Solid Waste Landfills as a Source of Green Energy: Case Study of Al Akeeder Landfill,” ICEGES—Jordan, 2009, p. 2.

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produzido é uma mistura de gases; metano e gás carbônico compõem mais de 90% do total. A separação é essencial em
sistemas de digestão anaeróbicos, e o material não biodegradável deve ser removido. O biogás resultante pode ser usado
para aquecimento e geração de eletricidade local. O digestato, dependendo de sua qualidade, pode ser usado como
fertilizante ou recuperador de solo. A vantagem principal da digestão anaeróbica em comparação ao aterro é o volume
reduzido de resíduos. Esta tecnologia está bem estabelecida e comprovada, e começou a ganhar presença em países da
Europa Ocidental.
Tratamento Biológico Mecânico (MBT)
O tratamento biológico mecânico consiste de várias tecnologias que podem ser combinadas para otimizar o tratamento de
resíduos sólidos municipais variados reunidos em sacos pretos ou caixas de lixo. A operação mecânica (classificação,
trituração e esmagamento) separa os resíduos em fluxos diferentes. A operação envolve correias transportadoras, ímãs
industriais, tambores e trituradores. Materiais que podem ser reciclados, como vidro, plástico, alumínio e papel, são
separados e transferidos para uma unidade de reciclagem. O material biológico é levado a uma unidade de compostagem
ou a um digestor anaeróbico. Consequentemente, o MBT basicamente reduz o volume de resíduos sólidos. Quando o
material reciclável é removido e refugo sólido é separado, apenas 0,6 por tonelada permanece como resíduo dos
processos biológicos. Em comparação com o aterro, o MBT pode reduzir teoricamente a geração de CH4 em até 90%.16
A Figura 3 ilustra o sistema do MBT.

Figura 3. MBT - Tratamento Biológico Mecânico


Digestão Anaeróbica

Instalação de
Recuperação de
Resíduos Variados Material de MRF -
(ex: sacos domésticos) seleção mecânica
Biogás e
Eletricidade

Digestato/Humus
© Renewable Energy Assioiantion 2007-2009

Compostage
m

Melhor
Recuperação de
Solo

Recicláveis para Reciclagem Refugo Sólido


Resíduos para Energia Elétrica

Gestão de Resíduos Sólidos no Brasil


De acordo com os dados do censo publicados pelo Instituto Brasileiro da Geografia e Estatística (IBGE) em 2000,
228.413 toneladas métricas foram coletadas diariamente no Brasil, ou aproximadamente 99% do total produzido.
Adicionalmente, o censo mostrou que dentre os 5.507 municípios, 63,6% descartaram os resíduos sólidos coletados em
campo aberto, 18,4% aterros controlados utilizados, e apenas 13,8% levaram os resíduos a aterros sanitários. As
estimativas mais recentes publicadas pela Agência Ambiental do estado de São Paulo (CETESB) destacaram o fato que
84% das emissões de metano geradas por resíduos sólidos ocorreram em campo aberto.
Os municípios são responsáveis por todas as atividades de saneamento, inclusive a coleta e a eliminação pública
de resíduos sólidos. As partes industriais e comerciais são responsáveis pelo manuseio de todos os resíduos de suas
atividades. Embora legalmente definido pela lei federal (Lei 6938/1981), a execução disso tem sido impedida por

______________

16
J. M. Bogner et al., Waste Management, in Climate Change, 2007, IPCC, p. 602.

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orçamentos apertados e baixas receitas municipais, e a execução tem se mostrado limitada devido à falta de
colaboradores treinados e de compromisso administrativo.
Tipos de Aterros
Os aterros são o destino primário de resíduos sólidos municipais no Brasil. Os aterros variam no nível de tecnologia,
abordagens a seleção e reciclagem, e gestão geral. Estes são os três tipos mais importantes:
Campo Aberto (lixão)
Também conhecido como aterro aberto, eles representam uma solução inadequada para a eliminação de resíduos sólidos.
Os caminhões de coleta municipal, as contratadas de coleta de resíduos, e o grande público despejam resíduos sólidos
nestas áreas segregadas. Há poucos ou nenhum controle ambiental e nenhuma atenção é dada a liberação de gás de
metano, captura de chorume, ou seu impacto no solo, água e ar. A alta porcentagem de materiais orgânicos combinado
com muito plástico contribui para o aumento de gases, e incêndios frequentes. As estradas que levam a estes campos são
muitas vezes estradas de terra e ficam quase intransitáveis durante longas chuvas. Catadores e funcionários municipais
estão muitas vezes presentes em grandes números para selecionar materiais de reciclagem. Este trabalho é feito
manualmente, muitas vezes sem equipamento de segurança básico, e o risco de acidentes, contaminação e doenças são
altos. Os locais abertos são um perigo à saúde e uma fonte de problemas ambientais para as comunidades.

Aterro Controlado
No contexto brasileiro, os aterros controlados são antigos campos abertos que sofreram um processo de recuperação
parcial e limitado esforço de engenharia. O chorume é capturado e impedido de atingir rios e correntes d'água, o metano e
outros gases são liberados e às vezes queimados, as células de coleta são compactadas e cobertas adequadamente com
plástico. Assim, novos resíduos são mais adequadamente orientados e processados. Este tipo de aterro não atende normas
ambientais, posto que ele não tem revestimento sintético e camada de barro no fundo para evitar contato com o solo
local. Portanto, o risco de poluição do solo e da água persiste, embora o risco de poluição do ar, odores, e liberação de
biogás seja consideravelmente reduzido. Sua existência é tolerada por agências ambientais como uma segunda opção; no
entanto, quando eventos desastrosos ocorrem, eles podem ser embargados por autoridades estatais locais.
Aterro Sanitário
Como os aterros sanitários são construídos seguindo normas sólidas de engenharia ambiental, eles diferenciam-se em
muitos aspectos de aterros abertos e aterros controlados. Para evitar a contaminação de lençóis freáticos, o fundo do
aterro é coberto com camadas de barro e plástico grosso. Os resíduos são juntados e empilhados em células contíguas que
são cobertas e vedadas diariamente com revestimento plástico. Um sistema de tubos perfurados corre horizontalmente
entre e acima dos revestimentos, coleta o chorume (água gerada durante a decomposição de resíduos e água de chuva que
entrou em contato com os resíduos) que é filtrado pelo lixo. Estes tubos levam o chorume a uma central de tratamento.
Além disso, os tubos verticais que corem pelas camadas compactas de resíduos capturam o gás metano produzido durante
a decomposição de resíduos. O gás pode ser queimado, ou convertido em energia térmica ou eletricidade. Um aterro

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sanitário é um biorreator projetado para produzir decomposição anaeróbica de resíduos. Os resíduos não são expostos ao
tempo, e não são uma fonte de contaminação, odores, moscas, ou incêndios. Ver Figura 4 para uma ilustração da
estrutura de um aterro sanitário.

Figura 4. Desenho de um Aterro

Instalação de
Lavagem de Ponte de
Veículos pesagem
Curral Fosso de Drenagem
Cerca Portão
Solo de Cobertura Estrada de Chegada
Quadro de Avisos
Tubo de
Ventilação
de Gás Local Office

Tubo de
Ventilação Instalação de
de Gás Represa de Tratamento de
Inclinado Face de Retenção de Chorume
Faixa Seccional Trabalho Resíduos do Tanque de
Tubo de Coleta Aterro Retenção
Tubo Vertical
de Chorume

Areia Protetora

Tanque de Retenção de
Chorume
Tubo de Drenagem de
Água Subterrânea Revestimento

Fonte: Osaka Prefectural Government, Solid Waste Management, 20/07/10


http://www.menlh.go.id/apec_vc/osaka/eastjava/wst_mng_en/page1.html

Aterros sanitários podem prover uma melhor relação custo/benefício para municípios brasileiros. De acordo com
um Estudo do Banco Mundial de 2004, um aterro sanitário é o sistema com melhor custo-eficiência para alienação de
resíduos sólidos na maior parte das áreas urbanas em países em desenvolvimento. A compostagem de resíduos sólidos
custa duas a três vezes (por tonelada) mais que aterros sanitários, e os custos de incineração cinco a dez vezes mais.17
Catadores: Parceiros na Reciclagem
A alienação adequada de resíduos sólidos é um desafio ambiental enfrentado por quase toda cidade do mundo em
desenvolvimento, poucas das quais operam aterros sanitários ou integram programas de gestão de resíduos sólidos. Onde
quer que os municípios eliminem seus resíduos em aterros abertos, há um pequeno exército de pessoas pobres que tentam
ganhar a vida a partir dos resíduos. Os catadores, como são chamados, tornaram-se participantes importantes da gestão de
resíduos urbanos. A expansão das atividades e recompensas de reciclagem que os mecanismos econômicos trazem para a
reutilização de vidro, papel e metais criou exércitos de catadores que coletam e separam o lixo mais visível em locais
abertos em todo o mundo. O desemprego e a falta de moradia agravaram estas condições.
Um estudo de 2003 patrocinado pelo governo brasileiro (Forum Lixo e Cidadania, 2003) previu que 500.000
pessoas, inclusive adultos e crianças, trabalham em locais abertos. A isso, devemos acrescentar o grande número de
compradores itinerantes que compram a sucata de casas e locais comerciais para vender a ferro velhos. Esta é a única
fonte de renda da maioria destes trabalhadores; eles ganham menos de US$ 250 por mês e muitas vezes vivem perto de
aterros. No Brasil, eles são responsáveis pela reciclagem de uma grande parte do vidro, do papel e do alumínio
reciclados. Não há nenhuma lei para regular seu trabalho, nem benefícios sociais ou de contratação, e a ocupação é
também muito perigosa. É bastante comum encontrar famílias inteiras, inclusive várias crianças menores, trabalhando
ombro a ombro em um aterro. Eles estão continuamente expostos aos contaminantes no solo e ao chorume. Por isso, eles
tornaram-se um problema social e médico para as autoridades.
________________
17
S.Cointreau, Sanitary Landfill Design and Siting Criteria. Guidance Published by the World Bank as an Infrastructure Note, 2004.
http://www.eawag.ch/organisation/abteilungen/sandec/publikationen/publications_swm/downloads_swm/ land_fill_design.pdf.

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Quando operadores públicos e privados avaliam seus sistemas de gestão de resíduos sólidos, eles também devem
considerar como essas atividades estão organizadas. De um lado, eles representam um problema social difícil para
governos locais; do outro lado, contudo, eles são um link produtivo no sistema de reciclagem de resíduos. E, enquanto o
sistema econômico não for capaz de integrá-los e gerar trabalho para eles, eles continuarão a receber sua magra renda
com a procura de resíduos negociáveis.
Como regra geral, quanto menos organizados são os catadores, menos provavelmente é que eles agreguem valor
aos materiais secundários que eles coletam, e mais vulnerável estão à exploração de negociantes intermediários. A cadeia
de reciclagem, isto é, a rota que os recicláveis tomam, não é necessariamente curta. A cadeia inclui intermediários, que
compram dos catadores e então transportam o material recicladores em atacado ou a pequenos recicladores. Os
atacadistas consolidam, compactam/esmagam e embalam o material, e enviam cargas completas a indústrias de
fabricação, como moinhos de papel, processadores de vidro quebrado e produtores de alumínio. A evolução natural para
aterros sanitários causará um deslocamento social grave destas populações de trabalho, algo que as políticas federais
devem considerar cuidadosamente.
Não deve passar despercebido que o sistema atual, embora falho e socialmente injusto, considerando a
sustentabilidade, tornou o Brasil o líder mundial em recuperação de alumínio, com 89%.
Financiamento de Aterros Sanitários: A Oportunidade de Comercializar Carbono
O Protocolo de Quioto,18 assinado em 1997, é um acordo feito por 184 nações que prometem reduzir as emissões de
GHG em uma média de 5% em comparação aos níveis de 1990 anteriores a 2012. De acordo com o Protocolo de Quioto,
as nações desenvolvidas podem emitir certa quantidade de gás carbônico ou seu equivalente anualmente. Os governos
emitem subsídios de emissão a poluidores dentro de suas fronteiras, que podem então ser comprados e vendidos por
empresas no mundo inteiro. Essa é a base de um sistema comercial de crédito de carbono.
O Protocolo criou dois mecanismos com base em projetos para reduzir emissões: Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (CDM), e Implementação Conjunta (JI). Estes mecanismos permitem que os governos
conduzam projetos de redução da emissão no exterior e medir os resultados alcançados em comparação com as suas
metas de Quioto. Projetos de JI ocorreram em países desenvolvidos que tinham metas de redução de emissões
quantitativas de acordo com o Protocolo de Quioto e os projetos CDM ocorreram em países em desenvolvimento que não
tinham nenhuma meta de redução quantitativa. Em 1998, o Banco Mundial lançou o mercado global de finanças de
carbono, um desdobramento dos mecanismos de JI e CDM. O mercado financeiro permitiu que países em
desenvolvimento vendessem reduções de emissão certificadas (CERs) a nações desenvolvidas para que eles possam
então depositar para atender seus próprios requisitos de redução.
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (CDM)
O fundamento usado para CDM é que as emissões de GHG são um problema global, e que os lugares onde as reduções
ocorrem são menos importantes que a realização das próprias reduções. As reduções podem ser feitas onde os custos
forem mais baixos. Por exemplo, posto que muitas fábricas em países em desenvolvimento usam processos sujos e
ineficientes, é muitas vezes menos caro reduzir emissões nestas fábricas do que substituir o equipamento mais moderno
usado em nações desenvolvidas. Conquanto a maior parte das reduções de emissão deve ser feita domesticamente, o
CDM permite que poluidores em países desenvolvidos complementem suas reduções investindo também em projetos em
países em desenvolvimento. Em troca do investimento, as empresas ganham CERs que nações desenvolvidas podem usar
para cumprir seus compromissos de Quioto.
No Brasil, um aumento constante da consciência ambiental em quase cada nível da sociedade sugere que há uma
vontade crescente por parte de municípios, de estados e do governo federal para aumentar investimentos em aterros
sanitários. Aterros projetados já são uma solução atual em mega cidades e representam a maior parte dos resíduos sólidos
tratados.
De acordo com a Primeira Avaliação de Emissões Antropogênicas de GHG publicada pelo CETESB
(Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) em 1994, aproximadamente 805.000 toneladas de gás metano foram
geradas no país, com 84% originadas de resíduos municipais. Um estudo semelhante pelo Centro de Economia Aplicada
18
Esta seção é adaptada do caso da Universidade de Stanford, Waste Concern, escrito por David Hanley e Davina Drabkin, Case SI-71, junho de 2007.

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- CEPEA (2004) previu que o gás metano produzido em aterros brasileiros tinha o potencial de gerar as seguintes
quantidades da energia elétrica e créditos de carbono:

Tabela 1. Produção Potencial de Biogás em Aterros Municipais de Resíduos Sólidos


Potência Elétrica (MW) Créditos de Carbono (tCO2e) a
Ano Cenário Conservador Cenário Otimista Cenário Conservador Cenário Otimista
2005 278,3 344,3 10.840.898 13.411.862
2010 314,9 389,5 12.265.481 15.174.291
2015 356,2 440,7 13.877.266 17.168.317
a
Preços de Crédito de Carbono previstos a aproximadamente US$ 5 por tonelada em 2005.
Fonte: CEPEA (2004).

Em 2005, houve aproximadamente 5.400 projetos de CDM no mundo inteiro em várias etapas de avaliação,
aprovação e operação. A China estava na primeira posição com 2.024 projetos (37%), seguidos pela Índia com 1.446
projetos (27%), e pelo Brasil com 417 projetos (8%) do total.
Os projetos sob desenvolvimento na China tinham um potencial de redução de emissões de 2,97 bilhões de
toneladas de CO2, correspondente a 48% do total mundial. Os projetos da Índia tinham um potencial de 1,38 bilhões de
tons de CO2, e o Brasil tinha um potencial de 367 milhões de tons de CO2 (6%).
Parceira Público-Privada (PPP)
O déficit de infraestrutura no Brasil é um teste reconhecido para que o país aumente sua competitividade na economia
global, e representa um desafio ainda maior para atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio. As estimativas
indicam a necessidade de um investimento de R$ 41 bilhões (US$ 24 bilhões) para atender as demandas básicas do país
para serviços de gestão de resíduos de água e sólidos. As necessidades em outros setores, como portos, estradas de ferro,
escolas e hospitais, são também relativamente grandes e exigem um compromisso sério de longo prazo pelo governo. Os
bancos de desenvolvimento desempenham um pequeno papel no financiamento de projetos municipais, mas é o governo
federal que tem a função crítica de estabelecer políticas e prover fundos de programas locais. Estes foram
tradicionalmente financiados via taxação ou empréstimo interno, acrescentando à dívida pública (53% do PNB em 2004).
Em muitos casos, os grandes projetos de infraestrutura ganharam acesso ao financiamento privado internacional via
obrigações de longo prazo, ou GDRs (Recibos de Depósito Globais). Enquanto estas obrigações são instrumentos
eficientes para economias internacionais, seu escopo é limitado a projetos muito grandes, como usinas e transporte
público. Para tratar suas necessidades de capital, o Brasil exige outros instrumentos que permitiriam que seus estados e
municípios acessem mercados de crédito domésticos e explorem fluxos de capital estrangeiros buscando rendimentos
atraentes.
Uma proposta de lei federal decretar a execução de Parcerias Público-Privadas. O governo brasileiro espera que
esta lei, quando aprovada, abra o caminho para que o setor privado torne-se um importante participante na prestação de
serviços essenciais. Esta função é historicamente um monopólio do estado. Conquanto as estruturas jurídicas e
institucionais são essenciais, as condições que tornam esta relação atraente para o capital privada ainda são pouco
entendidas. Os riscos financeiros e as recompensas que podem ser aceitáveis para este tipo do investimento em um
ambiente político que é por vezes “demasiado fluido” precisarão ser cuidadosamente avaliados.
Uma PPP pode ser considerada um “empreendimento cooperativo entre os setores públicos e privados, criado na
especialização de cada parceiro que melhor atenda as necessidades públicas claramente definidas pela alocação
apropriada de recursos, riscos e recompensas.”19 Diferentes modelos foram tentados em países emergentes usando como
modelo a experiência de PPP em países como Reino Unido, Canadá e Estados Unidos. A sedução dos projetos de
infraestrutura brasileiros são as economias de escala que suas grandes populações urbanas oferecem. No Brasil, o
interesse de investidores do setor privados provavelmente se concentrará em mega cidades. Contudo, a motivação central
do governo é estender serviços de infraestrutura às cidades pequenas e médias, as quais apresentam o maior déficit de
serviços. O equilíbrio destes dois interesses será essencial para a implementação bem sucedida de PPPs no Brasil.
A inclusão de PPPs na lista de opções para atrair capital e especialização do setor privado tem vários benefícios
para o governo brasileiro; o seguinte é o principal:
_____________
19
Canadian Council for Public Private Partnerships

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 Grandes despesas adiantadas exigidas em muitos contratos de concessão podem ser evitadas
 As contratadas privadas são capazes de prover serviços mais eficientemente e com custo inferior devido a
maiores economias de escala e especialização de competências
 As parceiras podem gerar novos postos de trabalho e apoiar o desenvolvimento econômico local
 PPPs podem reduzir os problemas de orçamento dos municípios e reduzir a necessidade de emitir dívidas ou
aumentar impostos
 PPPs permitem uma gestão mais equilibrada dos riscos do projeto (comercial, financeiro e técnico)
 PPPs são monitoradas por mercados financeiros que, em grande extensão, garantem que os projetos
permanecerão dentro do orçamento e do prazo
Tabela 2. Tipos de Parcerias Público-Privadas
Operação-Manutenção (OM) O setor privado é responsável por todos os aspectos da operação e manutenção.
Embora o setor privado possa não assumir a responsabilidade de financiar, ele pode gerenciar
um fundo de investimento de capital e determinar como o fundo deve ser usado junto com o
setor público.
Projetar-Construir-Operar (DBO) O setor privado é responsável pelo design, construção, operação e manutenção de um projeto
durante um período especificado antes da entrega dele ao setor público.
Projetar-Construir-Financiar- O setor privado é responsável pelo financiamento, design, construção, operação e manutenção
Operar (DBFO) de um projeto.
Em quase todos os casos, o setor público manterá a propriedade completa do projeto.
Construir-Operar-Transferir" O setor privado é responsável pelo financiamento, design, construção, operação e manutenção
(BOT) de um projeto por um período de concessão.
O ativo é transferido de volta ao governo no fim do período de concessão, muitas vezes sem
qualquer custo.
Construir-Controlar-Operar (BOO) Semelhante a um projeto BOT, mas o setor privado mantém a propriedade do ativo
eternamente. O governo só aceita comprar os serviços produzidos por uma duração fixa.
Fonte: H. K. Young et al., Towards a Comprehensive Understanding of Public Private Partnerships for Infrastructure Development, California
Management Review, Winter 2009.

A estrutura de compromisso e cooperação típica a uma PPP é, por definição, estruturada em um modelo
adequado e justo de alocação de riscos. Espera-se que os projetos visionados para o Brasil exijam investimentos de
US$ 100 milhões em média e se estendam por períodos de 15 anos ou mais. Os investidores e operadores desejarão ter
garantia de receitas estáveis e ambientes operacionais sem problemas. Os governos e os órgãos políticos, por outro lado,
buscarão formas de maximizar os benefícios do serviço às comunidades e de garantir que os operadores privados não
extraiam benefícios injustos da sociedade. O risco nas PPPs deve ser, em princípio, alocado para quem for mais capaz de
gerenciá-lo com custos menores, considerando que o interesse público.20 Regas para procurement, negociação e
audiências públicas na maioria dos casos definirão os termos dos contratos. Quando os interesses de várias partes
interessadas forem considerados, os riscos associados aos projetos de PPP pode ser catalogados como se segue:
Categoria Fator de Risco
Riscos Políticos Expropriação, solvência do governo, corrupção, mudanças políticas
Condições Econômicas, falta de garantias, inflação, taxas de câmbio, taxas de juros,
condições de crédito
Riscos de Construção Custo maior que o esperado, atrasos, disponibilidade de mão de obra, condições locais,
aquisição de terras
Riscos de Operação e Manutenção Custo de manutenção e operação maior que o esperado, competência do operador, nível de
produtividade, disponibilidade de equipamentos/materiais
Riscos de Mercado e de Receita Demanda insuficiente, concorrência, preço inflexível, tetos em outras receitas
Riscos Jurídicos Interferência do governo na escolha de subcontratadas, mudanças de políticas fiscais, ações
ou omissões de autoridades públicas evitando a conclusão do projeto, legislação ineficiente,
não cumprimento da legislação, revisão de cláusulas de contrato, falta de confidencialidade.
Fonte: Adaptado de H. K. Young et al., Towards a Comprehensive Understanding of Public Private Partnerships for Infrastructure Development,
California Management Review, Winter 2009.
20
J. Quiggin, Public Private Partnerships: Options for Improved Risk Allocation, UNSW Law Journal, 2005, Vol. 29 (3), p. 290.

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Participantes Globais Apostando no Campo
A esperada aprovação de uma nova estrutura reguladora de Parcerias Público-Privadas dividirá o passado e o presente na
expansão de serviços de infraestrutura a grandes segmentos da população brasileira. Espera-se que o novo ambiente
jurídico estabeleça um ambiente governado por normas justas, transparentes e éticas. Os investidores institucionais, os
operadores e as empresas de serviços de tecnologia têm esperado por este momento. Grandes empresas domésticas e
globais têm conduzido estudos de viabilidade para decidir como estruturar a parceria para serviços municipais que
entrarão em uma fase de procurement em breve. O déficit da gestão de resíduos sólidos no Brasil representa uma
oportunidade comercial forte para empresas mais inovadoras e mais eficientes. Os competidores estão em seus postos. A
corrida vai começar.
Veolia Environmnet, a gigante francesa com receita superior a US$ 40 bilhões e especialização global na gestão
de resíduos sólidos e tratamento de água, esteve no Brasil por várias décadas. Através de suas próprias subsidiárias e
vários empreendimentos conjuntos, Veolia tem uma grande marca, com resistência significativa em todas as áreas de
serviços de tratamento de água. Sua divisão de gestão de resíduos sólidos tem vendas globais de US$ 9 bilhão e figura
como a empresa número dois no mundo.
GDF Suez S.A. é uma gigante de serviços de infraestrutura com vendas de US$ 85 bilhões e forte presença em
distribuição de gás natural, geração e distribuição de energia elétrica e energia renovável. Suez controla a Vega S/A.
Serviços de Engenharia, um grande provedor de serviços de gestão de resíduos sólidos em São Paulo, Rio de Janeiro e
Salvador, com vendas acima de US$ 300 milhões.
Elecnor do Brasil é uma subsidiária do maior conglomerado de infraestrutura espanhol, o Grupo Elecnor, com
vendas de US$ 2 bilhões e uma presença em telecomunicações, distribuição de gás, geração de força e tratamento de
água. Elecnor é um parceiro de empreendimento conjunto no Consorcio Recipar, que recebeu o contrato de gestão de
resíduos de Curitiba, sétima maior cidade do Brasil.
Essencis Soluções Ambientais S.A. é um braço ambiental do Grupo Camargo Correa, a maior e mais global
empresa de construção no Brasil. As principais divisões da Camargo Correa é produção de cimento, concessões de
energia, concessões de estradas e construção. O grupo tem participações minoritárias em empresas de aço, construção
naval, aeroportos e calçados. As receitas do grupo se aproximam de US$ 9 bilhões.
Vital Engenharia é uma subsidiária de Grupo Queiroz Galvão, uma empresa de construção e infraestrutura com
atividades na área de produção de aço, desenvolvimento residencial e urbano, gestão de água, construção de estradas e
gestão de resíduos. Com vendas de US$ 3,2 bilhões e ampla presença no nordeste do Brasil, a empresa é um grande
provedor de serviços a municípios de tamanho médio.
Nova Gerar é uma subsidiária da Haztec, um conglomerado privado com sede no Rio de Janeiro e divisões
operacionais em biorreparo de locais perigosos, tratamento de água, equipamento de controle de poluição, distribuição de
água e manuseio integrado de resíduos. Dois terços de seu capital estão nas mãos de dois fundos de investimento
administrados pelo Bradesco e pelo Banco Real. Nova Gerar construiu uma imagem distintiva como pioneira na
obtenção da aprovação de seu aterro de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, sob a estrutura CDM e comercializando os créditos
de carbono gerados pela captura e conversão de gás metano. Dados sobre receitas não estão disponíveis.

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Figura 6. Aterros Sanitários

Aterro Sanitário Aterro Sanitário com Coleta


de Gás Metano e Tratamento
de Chorume.

Coleta de Resíduos
Após Consumo

Biogá/Chorume

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