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As comissões de conciliação prévia:


estímulo à autocomposição e redução dos dissídios individuais
trabalhistas

Texto extraído do Jus Navigandi


http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2352

 
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INTRODUÇÃO.

            No dia 13 de janeiro de 2000 foram publicadas no Diário Oficial da


União as Leis nºs. 9.957 e 9.958, ambas de 12 (doze) de janeiro de 2000 e
que têm como objetivo, a primeira, agilizar o julgamento dos dissídios
individuais trabalhistas e reduzir os recursos, e a segunda incentivar a
solução extrajudicial dos conflitos trabalhistas, diminuindo a litigiosidade, o
que acabará refletindo no Judiciário Trabalhista, porque ao longo dos anos
tem aumentado a população, a oferta de emprego, a rotatividade dos
trabalhadores, uma vez que não há uma política de manutenção do emprego
e vedação das dispensas imotivadas; por outro lado o número de Juízes e
servidores da Justiça do Trabalho não aumentou na mesma proporção,
apesar desse quadro essa Justiça Especializada, na maioria dos casos, vem
prestando a tutela jurisdicional com uma rapidez que não se observa na
Justiça Federal comum e na Justiça comum dos Estados, o que, de per si,
bastaria para calar as vozes que, talvez por negarem a história ou por
quererem importar a realidade de outros países, em algum momento
proclamaram a extinção da Justiça do Trabalho como se isso fosse
solucionar o problema da morosidade da Justiça.

            A reforma trabalhista da Justiça do Trabalho passa pela extinção da


representação classista, uma experiência que tem a sua inspiração na própria
estrutura da ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO,
nas experiências de outros países, e que faz parte da história da organização
da Justiça do Trabalho no Brasil, mas que há anos não demonstrava a mesma
eficiência, não se justificando a sua manutenção que encarecia os cofres
públicos impedindo que estes recursos fossem alocados na melhoria da
Justiça do Trabalho, tanto no aumento do número de Juízes e servidores,
quanto na própria estrutura de algumas Varas do Trabalho.

            Apesar disso, a maioria das conciliações entre empregados e


empregadores foi fruto do trabalho dos Juízes Classistas que atuaram
positivamente. Com a extinção da representação classista determinada pela
Emenda Constitucional nº 24, as Juntas de Conciliação e Julgamento
passaram a ser denominadas de Varas do Trabalho, sendo respeitado o
mandato dos Juízes Classistas titulares, inclusive nos Tribunais Regionais do
Trabalho, bem como dos Ministros Classistas Temporários no TST, desde
que respeitada a paridade entre representantes dos trabalhadores e dos
empregadores.

AS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA.

            O principal objetivo das Comissões de Conciliação Prévia é


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incentivar a solução extrajudicial dos conflitos trabalhistas.

            A conciliação é uma forma de autocomposição dos conflitos porque


as partes interessadas encontram meios para terminar o conflito através de
uma negociação, sem a presença de um terceiro que proponha a solução
(mediação) ou a imponha (arbitragem e jurisdição).

            Apesar de a Lei nº 9.958/00 estabelecer a existência de terceiros, os


conciliadores, a conciliação continua sendo forma de autocomposição,
porque, como escreve JOSÉ AUGUSTO RODRIGUES PINTO a
conciliação é "a atividade de alguém que tenta aproximar os
protagonistas de um conflito de interesses, estimulando-os a encontrar
solução negociada que lhe ponha fim" (1) - grifos nossos.

            A conciliação obtida na forma acima mencionada também representa


uma transação, que é um negócio jurídico bilateral no qual, através de
concessões mútuas, os interessados previnem ou extinguem obrigações
litigiosas ou que envolvem a res dubia e para que verdadeiras renúncias não
ocorram, a atuação dos conciliadores será fundamental não permitindo que
interesses outros venham a fraudar, impedir ou desvirtuar os preceitos
contidos nas normas de proteção do direito do trabalho, ressaltando-se que
os conciliadores não representam as entidades sindicais, portanto eles não
tem o poder de validar as renúncias que estes órgãos podem negociar (ex vi
do art. 7º, VI, XIII e XIV da Constituição da República).

            Se os conciliadores não impedirem as renúncias unilaterais dos


trabalhadores, muitas vezes tentados pelo desejo de tornarem efetivo, de
imediato, um crédito que o empregador não quer pagar em sua totalidade,
tenha ou não fundamento para assim agir, pensamos que havendo prova do
vício de consentimento o Poder Judiciário não poderá deixar de inquinar de
nula a suposta transação.

            Sinceramente esperamos que os trabalhadores não sejam levados à


renúncia, mas que ocorram verdadeiras transações, fruto da conciliação entre
os atores das relações trabalhistas, uma vez que a conciliação faz parte da
natureza do ser humano. Temos que exercitá-la e as Comissões de
Conciliação Prévia são um incentivo.

            A Lei nº 9.958/00 acrescentou à CLT os arts. 625-A a 625-H,


facultando às empresas e aos sindicatos a criação das Comissões de
Conciliação Prévia, com representantes dos empregados e dos
empregadores, sendo ainda permitida a sua constituição por grupo de
empresas ou intersindical (art. 625-A e parágrafo único, da CLT).

            É criticável a tendência do legislador brasileiro de elaborar leis


facultativas como esta, que não obriga a instituição das Comissões, mas as
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faculta, fugindo da imperatividade da norma jurídica que é sempre um


preceito obrigatório, sendo a imperatividade característica fundamental da
norma jurídica e justificativa de sua existência.

            Se a vontade do legislador não era obrigar, mas facultar a instituição


das Comissões, o mesmo espírito deveria existir quando da redação do art.
625-D, não tornando obrigatória, mas facultativa a tentativa de conciliação
antes da propositura da reclamação trabalhista.

            Sendo instituída na empresa, a Comissão terá de dois a dez


conciliadores, sendo metade indicada pelo empregador e a outra metade
eleita pelos empregados em escrutínio secreto, devendo haver fiscalização
do Sindicato da Categoria Profissional (art. 625-B, inciso I, da CLT).

            Ao mesmo número de titulares, corresponderá igual número de


suplentes, que terão um mandato de um ano, permitindo-se uma recondução
e sendo vedada a dispensa dos conciliadores eleitos titulares e suplentes, até
um ano após o final do mandato (art. 625-B, incisos II, III, e § 1º, da CLT),
salvo se cometerem falta grave (art. 493 da CLT).

            Esta estabilidade, necessária para o trabalho dos conciliadores eleitos


sem medo de represálias do empregador, pelo menos durante três anos, se
houver reeleição, talvez seja fator de desestímulo à instituição da Comissão
na empresa.

            Com relação a essa garantia de emprego pode-se questionar eventual


inconstitucionalidade porque não há esta proteção no Texto Constitucional.

            Em 1993, em monografia de conclusão do Curso de Especialização


em Direito do Trabalho da UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ sustentamos
que a lei infraconstitucional poderia criar estabilidade geral ou provisória
sem que isto fosse inconstitucional, porque é mais benéfico para o
empregado a estabilidade e porque o art. 7º, caput, da Constituição de 1988
não limitou a proteção do trabalhador urbano e rural, mas previu alguns
direitos "além de outros que visem a melhoria de sua condição social",
na época a doutrina estava dividida sobre o tema, posteriormente esta tese
veio a ser confirmada pelo STF ao julgar constitucional o art. 118 da Lei nº
8.213/91, o qual confere estabilidade provisória ao acidentado durante um
ano.

            O § 2º do art. 625-B, da CLT estabelece que o período de


afastamento do conciliador eleito para atuar junto à Comissão será
computado como tempo de trabalho efetivo, sendo assim, se a atuação
ocorrer durante a jornada normal de trabalho, nenhum prejuízo o empregado
poderá sofrer, como falta injustificada com desconto salarial e prejuízos ao
repouso semanal remunerado e férias, sendo que se a atuação ocorrer após a
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jornada normal de trabalho, o conciliador fará jus ao recebimento do


adicional de horas extras respectivo.

            Como o § 2º do art. 625-B da CLT só se refere ao representante dos


empregados, aparentemente o representante do empregador, nomeado por
este, não fará jus ao recebimento das horas suplementares, se for empregado
e se ativar além da jornada normal de trabalho, mas este raciocínio esbarra
na norma cogente do art. 7º, XVI, da Constituição de 1988, só podendo ser
flexibilizado mediante negociação coletiva.

            O afastamento dos conciliadores das atividades normais na empresa


representará hipótese de interrupção do contrato de trabalho, não haverá
prestação de trabalho ao empregador mas o obreiro terá direito à contagem
do tempo de serviço e ao pagamento de salário.

            Se a comissão for instituída no âmbito do Sindicato, a sua


composição e funcionamento será fruto da autonomia coletiva da vontade,
porque a convenção ou o acordo coletivo é que estabelecerão o número de
conciliadores, a possibilidade ou não de garantia de emprego, o afastamento
ou não do conciliador das atividades normais na empresa e o percentual do
adicional de horas extras que será pago, quando devido, além de outras
regras não previstas para as Comissões instituídas no âmbito da empresa
(art. 625-C, da CLT).

            Apesar de a instituição das Comissões de Conciliação Prévia ser


facultativa, uma vez instituídas, seja na empresa, no Sindicato da Categoria
ou Intersindical, desde que no local da prestação de serviços, antes de propor
uma reclamação trabalhista o obreiro terá de tentar conciliar; obrigatória não
é a conciliação (esta só ocorre de forma negociada, sem imposição),
obrigatória é a tentativa de conciliação (art. 625-D, CLT), tanto é que se não
houver conciliação, o reclamante deverá instruir a inicial com a declaração
da tentativa de conciliação frustrada (§ 2º do art. 625-D, da CLT).

            Questiona-se sobre a constitucionalidade do art. 625-D. O argumento


dos que entendem que este artigo é inconstitucional é de que o art. 5º,
incisos XXXIV, "a" e XXXV da Constituição de 1988 não condiciona o
direito de ação a pedido prévio na esfera administrativa, sendo que o direito
de petição aos órgãos públicos (art. 5º, XXXIV, "a", da CR) inclui o direito
de ação, uma vez que o Poder Judiciário é espécie do gênero órgão público,
e o direito de recorrer a este Poder contra lesão ao ameaça a direito (art. 5º,
XXXV, da CR) estaria sendo restringido por lei ordinária obrigando a
tentativa de conciliação.

            Ressalta-se que a Constituição da República atual, a contrario sensu


da anterior, não prevê a criação de um contencioso administrativo.
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Ilustrativo deste posicionamento é o acórdão que segue:

            "EMENTA:
Sindicato. Dirigente Sindical. Eleição.
Anulação. Ausência de impugnação da candidatura.
Irrelevância. Violação de condição de elegibilidade prevista
no estatuto social da entidade. Ação procedente. Recurso não
provido.

            Eleito dirigente sindical candidato inelegível ao tempo


da eleição, independe a sua anulação da prévia impugnação da
candidatura, em face do art. 5º, XXXV, da Constituição da
República, consagrador do princípio da inafastabilidade do
controle jurisdicional" (TJSP – AC 208.256-2/Salto. Rel. :
Des. Nelson Schiesari. 16ª Câmara Civil. Decisão:
24/08/93.JTJ/SP – LEX – 148, p. 146).

            Assim poderia ser argumentado que o empregado pode exercer o


direito constitucional de ação sem tentar conciliar perante a Comissão criada
na empresa ou no Sindicato de sua categoria na localidade em que se
ativava.

            O Provimento CR nº 55/200(2) do Egrégio Tribunal Regional do


Trabalho da 2ª Região estabelece que:

            "Art.
1º. Submetida a reclamação trabalhista ao
Judiciário, deverá o magistrado instruí-la e julgá-la
independentemente de manifestação de Comissão de Conciliação
Prévia."

            O entendimento do Tribunal é de que a exigência de conciliação


prévia é inconstitucional.

            Argumento contrário é no sentido de que este direito de ação


incondicionado não é absoluto, tanto é que o § 2º do art. 114 da Norma
Ápice condiciona a propositura do dissídio coletivo à prévia negociação ou
arbitragem; o próprio SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL já estabeleceu
que "o exaurimento das tratativas negociais é requisito indispensável à
propositura da ação coletiva. CF, art. 114, § 2º" (STF. Ag. 166962-4 –
Rel.: Min. Carlos Velloso, 2ª Turma. Decisão: 30/04/96. DJ 1 de
30/08/96, p. 30.607).

            Argumentam ainda que o § 1º do art. 217 da Constituição de 1988 só


admite a propositura de ação perante o Poder Judiciário questionando a
disciplina e as competições desportivas "após esgotarem as instâncias da
justiça desportiva", que "terá o prazo máximo de sessenta dias,
contados da instauração do processo, para proferir decisão final" (§2º
do mesmo dispositivo constitucional).
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            O prazo de 60 (sessenta) dias para a justiça desportiva proferir


decisão final, se não for cumprido, permitirá a propositura de ação perante a
Justiça Comum. Regra semelhante encontramos no art. 625-F, da CLT; o
prazo para a tentativa de conciliação é de 10 (dez) dias, caso o prazo se
esgote sem que haja sessão de tentativa de conciliação entre o trabalhador e
o empregador ou o preposto deste, o primeiro receberá declaração
comprovando o pedido de tentativa de conciliação, devendo instruir a
exordial trabalhista com a cópia da referida declaração.

            Na lição do jurista LUÍS ROBERTO BARROSO "a ordem


jurídica constitui uma unidade (...). A idéia de unidade da ordem
jurídica se irradia a partir da Constituição e sobre ela também se
projeta" (3), sendo assim, os arts. 5º, incisos XXXIV, "a" e XXXV, 114, § 2º
e 217, § 1º, da CR tem que ser interpretados de forma unitária, caso
contrário chegaremos à conclusão absurda de que na própria Constituição há
norma inconstitucional. Na verdade o direito de ação deve ser visto de duas
formas: na esfera constitucional e na esfera infraconstitucional.

            O art. 5º, XXXIV, "a" e XXXV da Carta Magna garantem o direito
de ação, mas não de forma absoluta, porque as condições da ação são
estabelecidas pela lei ordinária, portanto, não há inconstitucionalidade no
art. 625-D, da CLT, o qual criou mais uma condição da ação: a tentativa de
conciliação.

            SÉRGIO PINTO MARTINS escreve que:

            "O procedimento criado pelo art. 625-D da CLT não é


inconstitucional, pois as condições da ação devem ser
estabelecidas em lei e não se está privando o empregado de
ajuizar a ação, desde que tente a conciliação. O que o inciso
XXXV do art. 5º da Constituição proíbe é que a lei exclua da
apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão ou ameaça a
direito, o que não ocorre com as comissões prévias de
conciliação".(4)

            Ao analisar a constitucionalidade do art. 118 da Lei nº 8.213/91,o


Ministro MILTON DE MOURA FRANÇA proferiu voto que serve para
embasar tanto a tese da constitucionalidade do art. 625-B, § 1º, quanto do
art. 625-D, ambos da CLT, in verbis:

            "ART. 118 DA LEI 8.213/91. CONSTITUCIONALIDADE.

            O excelso Supremo Tribunal Federal, nos autos da Ação


Direta de Inconstitucionalidade 639-8, indeferiu a medida
cautelar de suspensão do art. 118, caput, da Lei 8.213/91 (DJ
22.5.92). Trata-se de decisão cujo conteúdo sinaliza no
sentido da constitucionalidade do dispositivo legal em exame,
sobretudo por haver contado com a unanimidade dos membros
17

daquela augusta Corte. Por outro lado, consoante postulado do


Direito americano incorporado à doutrina constitucional
brasileira, deve o juiz, na dúvida, reconhecer a
constitucionalidade da lei (Mendes, Gilmar Ferreira –
Jurisdição Constitucional: o controle abstrato de normas no
Brasil e na Alemanha – São Paulo: Saraiva, 1996, p. 268).
Vale dizer, deve o magistrado sempre partir da premissa
segundo a qual o legislador, ao inovar o universo jurídico,
prestigiou a ordem constitucional em vigor. Isso porque a
declaração de inconstitucionalidade de uma lei é ato sempre
traumático, na medida em que interfere na estabilidade e
segurança das relações sociais, cuja preservação constitui
objeto primordial do Direito. A presunção de
constitucionalidade acima mencionada, aliada à decisão
proferida pela Suprema Corte, conduz à conclusão de que o
art. 118 da Lei 8.213/91 compatibiliza-se com a Constituição
da República em todos os seus aspectos. Nesse sentido, aliás,
encontra-se jurisprudência desta Corte. Recurso não
conhecido" (TST – 4ª T. – RR – 357062/97.4 – Rel. Min. Milton
de Moura França – DJU 24.03.00 – p. 173) – grifamos. (5)

            Diante da constitucionalidade do art. 625-D do Texto Consolidado,


antes de propor a reclamação trabalhista o Reclamante deverá submeter a
sua pretensão à Comissão de Conciliação Prévia, por escrito (sem requisitos
especificados na lei) ou oralmente, sendo neste caso reduzida a termo por
um dos membros da Comissão, que deverá fornecer cópia ao Reclamante
(art. 625-D, § 1º, da CLT).

            Conforme se observa, não há a necessidade de se formular os


pedidos perante a Comissão através de advogado, e não poderia ser diferente
diante do art. 791 da CLT que consagra o jus postulandi; se em juízo a CLT
não reconhece a indispensabilidade do advogado, perante a Comissão esta
exigência também não pode ser feita. Mesmo após o julgamento do mérito
da ADIn nº 1.127-8, que suspendeu a eficácia do inciso I, do art. 1º da Lei nº
8.906/94, a postulação perante a Comissão poderá ser feita sem advogado,
porque a exigência da norma inquinada de inconstitucional diz ser atividade
privativa de advocacia "a postulação a qualquer órgão do Poder
Judiciário e aos juizados especiais", sendo que as Comissões de
Conciliação Prévia, instituídas na empresa ou nos Sindicatos, não compõem
os órgãos do Poder Judiciário e os juizados especiais.

            Isso não deve ser motivo de preocupação para os advogados,


retirando, mais uma vez, a indispensabilidade destes, como fez o art. 9º da
Lei nº 9.099/95, nas causas até 20 (vinte) salários mínimos.

            Mesmo diante do art. 791 da CLT, são raros os empregados e


empregadores que preferem dispensar o advogado e exercer o jus postulandi
e não será diferente perante as Comissões, até porque se não houver
conciliação o que foi objeto de pedido constará da declaração que deverá
18

instruir a reclamação trabalhista (art. 625-D, §2º, da CLT). Frustrada a


conciliação é bem provável que o trabalhador contrate um advogado e este
perceba que o seu cliente não tenha direito, v.g., aos cinco pedidos que
formulou por escrito, ou que constam do termo (cuja redação é de autoria de
um conciliador, que não precisa ter conhecimentos jurídicos), mas, além dos
cinco pedidos, outros cinco podem ser feitos, totalizando dez; ocorre que
antes de propor reclamação trabalhista a tentativa de conciliação é
obrigatória, logo, se na reclamação trabalhista forem feitos dez pedidos, os
cinco que não constam da declaração com a descrição do objeto dos pedidos
formulados perante a Comissão, serão ineptos, só poderão ser formulados se
a tentativa de conciliação perante a Comissão for frustrada, para que isto não
ocorra, o tempo demonstrará que o advogado não deverá ser dispensado da
atuação perante as Comissões.

            A propositura da reclamação trabalhista sem prévia tentativa de


conciliação só poderá ocorrer na hipótese do § 3º do art. 625-D, da CLT, ou
seja, "em caso de motivo relevante que impossibilite a observância do
procedimento previsto no caput deste artigo", devendo tal circunstância
ser declarada na exordial.

            Quais são os motivos relevantes?

            A lei não dispõe e só a análise de cada caso, com observância dos
princípios da razoabilidade e da boa-fé, poderá definí-los, tarefa reservada
aos Tribunais.

            Se for proposta reclamação trabalhista sem prévia tentativa de


conciliação perante a Comissão, pensamos que antes de determinar a
extinção do processo sem julgamento de mérito o Juiz deverá tentar a
conciliação das partes, sendo esta obtida, o objetivo do Direito que é a
pacificação social será atingido e o objetivo maior da Justiça do Trabalho,
que é conciliar, antes de julgar, também será alcançado, não havendo que se
falar em nulidade porque neste caso não haverá prejuízo para as partes, uma
vez que houve autocomposição perante um órgão estatal investido de poder
jurisdicional.

            Caso exista, na mesma localidade em que o empregado se ativou,


mais de uma comissão (na empresa e no Sindicato ou Intersindical) o obreiro
poderá optar por qualquer uma delas; caso haja duplicidade de demandas
(usando a expressão da lei), envolvendo as mesmas partes e sendo estas
formuladas perante Comissões diferentes, a competência para tentar
conciliar será daquela que foi provocada em primeiro lugar (§ 4º do art. 625-
D da CLT).

            Se houver autocomposição, objetivo da Comissão de Conciliação


Prévia, cujos conciliadores (como os Juízes Classistas sempre fizeram)
19

deverão incentivar, será lavrado termo de conciliação, assinado pelo


empregado, pelo empregador ou seu preposto e pelos membros da
Comissão, sendo fornecida cópia às partes (art. 625-E da CLT).

            Do termo de conciliação deverão constar os nomes corretos do


empregado e do empregador (ou empregadores nas hipóteses dos
Enunciados 205 e 331, IV do TST), o valor a ser pago e o prazo para o
pagamento, para que o termo possa ser passível de execução extrajudicial
caso a obrigação não seja cumprida.

            Para permitir a execução do termo de conciliação a Lei nº 9.958/00


alterou a redação do art. 876 da CLT permitindo a execução na Justiça do
Trabalho de título extrajudicial, como os termos de ajuste de conduta
firmados perante o Ministério Público do Trabalho e os termos de
conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia.

            Acrescentou-se também o art. 897-A para dar competência para a


execução do termo de conciliação ao Juízo que seria competente para o
processo de conhecimento relativo à matéria (art. 651, da CLT).

            Grande discussão deverá provocar o parágrafo único do art. 625-E da


CLT, quando dispõe que o termo de conciliação "terá eficácia liberatória
geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas".

            Quais os efeitos da eficácia liberatória geral, se não houver


ressalvas?

            Nada mais poderá ser reclamado?

            Ou apenas as parcelas consignadas no termo de conciliação não


poderão ser rediscutidas?

            Entender que nenhum outro pedido relacionado com o contrato de


trabalho possa ser formulado dentro do prazo prescricional do art. 7º, XXIX,
da CR, é dar à Comissão de Conciliação Prévia o poder de atribuir coisa
julgada ao que não foi submetido ao Poder Judiciário, ferindo o princípio
constitucional da indeclinabilidade da jurisdição.

            Pensamos que a eficácia liberatória geral opera efeitos apenas em


relação às parcelas expressamente consignadas no termo de conciliação e
não à totalidade dos títulos salariais ou indenizatórios relacionados com o
contrato de trabalho.

            A ressalva está relacionada apenas às parcelas que constam do termo


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de conciliação e não ao contrato de trabalho.

            Este entendimento vem sendo feito quando se interpreta o Enunciado


330 do C. TST, e, s.m.j., o mesmo raciocínio se aplica ao parágrafo único do
art. 625-E da CLT.

            Confirmando este entendimento o C. TST, através da Resolução


Administrativa nº 108/01, de 5.4.01, DJ 19.4.01, alterou a redação do
Enunciado 330 nos seguintes termos:

            "330 – QUITAÇÃO – VALIDADE – REVISÃO DO ENUNCIADO 41.

            A quitação passada pelo empregado, com assistência de


entidade sindical de sua categoria, ao empregador, com
observância dos requisitos exigidos nos parágrafos do art.
477 da CLT, tem eficácia liberatória em relação às parcelas
expressamente consignadas no recibo, salvo se oposta ressalva
expressa e especificada ao valor dado à parcela ou parcelas
impugnadas.

            I – A quitação não abrange parcelas não consignadas no


recibo de quitação e, consequentemente, seus reflexos em
outras parcelas, ainda que essas constem desse recibo.

            II
– Quanto a direitos que deveriam ter sido
satisfeitos durante a vigência do contrato de trabalho, a
quitação é válida em relação ao período expressamente
consignado no recibo de quitação" – grifos nossos.

            O art. 625-G, da CLT, dispõe sobre a suspensão do prazo


prescricional previsto no art. 7º, XXIX, da CR, que agora, com a Emenda
Constitucional nº 28, é de "cinco anos para os trabalhadores urbanos e
rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de
trabalho". Com a provocação da Comissão, o prazo prescricional fica
suspenso; após a tentativa de conciliação frustrada ou após o prazo de dez
dias previsto no art. 625-F, da CLT, sem que haja a tentativa de conciliação,
o prazo prescricional recomeçará a fluir pelo que lhe resta.

            Por fim o art. 625-H, da CLT determina que aos Núcleos


Intersindicais de Conciliação Trabalhistas, sejam aplicadas as disposições do
Título VI, da CLT onde foram inseridos os arts. 625-A a 625-H. É uma
forma de prestígio às experiências dos Núcleos Intersindicais de Conciliação
Trabalhistas que surgiram em Patrocínio- MG, Maringá – PR e Contagem –
MG, como precursores da experiência no Brasil, conforme expõe
ANTÔNIO GOMES DE VASCONCELOS no artigo "OS NÚCLEOS
INTERSINDICAIS DE CONCILIAÇÃO TRABALHISTA NA LEI Nº
21

9.958/2000".(6)

            "Tudo tem o seu tempo determinado"(7) e só o tempo dirá se as


Comissões de Conciliação Prévia permitirão o aumento da autocomposição
sem renúncias unilaterais e diminuição dos dissídios individuais, se isso
ocorrer, a Justiça do Trabalho será muito melhor.

            É o que esperamos!

Notas

            1.PINTO, José Augusto Rodrigues, Direito Sindical e Coletivo do


Trabalho, São Paulo: Editora LTr, 1998, p. 258.

            2.DOE Just., TRT – 2ª região, 28/11/2000, Caderno 1, Parte I, p.


132.

            3.BARROSO, Luís Roberto, Interpretação e Aplicação da


Constituição, São Paulo: Editora Saraiva, 1996, p. 181.

            4.MARTINS, Sérgio Pinto, Comissões de Conciliação Prévia e


Procedimento Sumaríssimo, São Paulo: Editora Atlas, 2000, p. 37.

            5.REVISTA NACIONAL DE DIREITO DO TRABALHO, Volume


25, pp. 129 e 130.

            6.VASCONCELOS, Antônio Gomes de, Revista LTr,Vol. 64, nº 02,


fevereiro de 2000, pp. 201 a 205.

            7.Eclesiastes, capítulo 3, versículo 1.

 
 

Sobre o autor

Luiz Arthur de Moura


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Sobre o texto:
Texto inserido no Jus Navigandi nº52 (11.2001)
Elaborado em 09.2001.
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Informações bibliográficas:
Conforme a NBR 6023:2000 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em
periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:
MOURA, Luiz Arthur de. As comissões de conciliação prévia: estímulo à
autocomposição e redução dos dissídios individuais trabalhistas. Jus Navigandi,
Teresina, ano 6, n. 52, nov. 2001. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2352>. Acesso em: 15 jul. 2008.
 

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