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Influência sonora da Sonata para Dois pianos em Ré Maior K.

448 de Mozart no
desempenho na realização de atividades cognitivas quantitativas e motoras

Bento, C. A.¹; Thomaz, C.¹; Thomaz, F.¹; Hsia, G. S. P.¹; Allain, G.A.C.¹
¹ Graduandas do curso de Ciências Biológicas, Instituto de Biociências,
Universidade de São Paulo, Rua do Matão, travessa 14, Cidade Universitária, São
Paulo - SP CEP: 055080-090 – Brasil

Autor para correspondência: Fernanda Thomaz, e-mail: fernanda.thomaz@usp.br

Resumo
Considerando que diferentes estímulos sonoros/musicais podem ter efeitos na
concentração/desempenho pessoal de cada indivíduo em atividades cognitivas e
considerando que trabalhos anteriores buscaram mostrar que o desempenho pessoal
tem melhora significativa (ou não) quando tarefas que empregam raciocínio espacial
são realizadas ao som de sonatas compostas por Mozart, especialmente a Sonata
K.448 do autor (chamado “Efeito Mozart”), este presente trabalho tem como objetivo
central verificar a possível existência desse efeito com base em teste cognitivos
quantitativos (contas) e motores (teste da estrela) realizados em 61 voluntários do
Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Para tanto, as controvérsias de
tal efeito foram consideradas para a formação dos 3 grupos experimentais e 2 controle
(grupo que ouviu Mozart, música clássica, música preferida de cada voluntário, som
branco e silêncio, respectivamente): incluem o fato de que tal efeito pode ser causado
por música clássica em geral e/ou por um fenômeno denominado “excitação musical”.
Cada grupo realizou as atividades acima citadas ao som correspondente ao seu grupo
(com período curto de ambientação) e seu seus erros/acertos foram contabilizados em
ambos os testes e apenas no teste quantitativo o tempo de cada voluntário para a
realização do mesmo foi contabilizado. Por fim, cada voluntário respondeu um
questionário com uma série de perguntas relacionadas ao tema para possível auxílio
na análise de dados posteriores. Conseguinte a isto, estes dados foram analisados por
um pré-teste (Kolmogorov-Smirnov) que determinou que os dados não possuíam uma
distribuição normal e portanto, a análise estatística carecia de um teste não
paramétrico. Assim, cada conjunto de dados foi analisado pelo teste de Kruskal
Wallis. Como as diferenças encontradas não foram significativas foi realizado um

1
teste de correlação (Pearson), que buscou em quais grupos as variáveis tempo e
número de acertos do teste quantitativo estavam correlacionadas. Estes demonstraram
que essa correlação era positiva em alguns grupos (Mozart, Música Clássica e
Silêncio) e negativa em outras (Música Preferida e Som Branco). A conclusão a que
se chega ao fim da análise dos dados e após a aplicação dos testes estatísticos acima
citados é a de que o efeito da Sonata K.448 sobre a melhora no desempenho nas
tarefas testadas não pode ser verificada (a H0 não pode ser rejeitada) apesar das
diferenças encontradas entre os grupos. Os resultados também indicam que não há um
efeito específico da música clássica no desempenho cognitivo. Por fim, indicam que o
efeito de excitação musical pode ou não existir, mas que para verificar tal hipótese
alternativa se faz necessária a replicação dos experimentos realizados com importante
verificação metodológica.

Palavras-chave: Desempenho, Efeito Mozart, Excitação Musical e Música Clássica.

Introdução
Em 1993, Frances H. Rauscher e colaboradores publicaram um trabalho onde
se concluiu que, depois de ouvir a sonata de Mozart para Dois Pianos em Ré Maior
K.448, por 10 minutos, indivíduos normais mostraram habilidades de raciocínio
espacial significativamente melhores (de 8 a 9 pontos no QI) do que indivíduos que
receberam instruções para relaxar, ou os que ficaram em silêncio; porém, também
concluíram que o efeito da melhora não duraria mais que 10 a 15 minutos. Essa
relativa melhora de 10 a 15 minutos entre os testes foi chamada de Efeito Mozart. No
entanto, Rauscher em seu artigo sublinhou que o efeito Mozart é limitado ao
raciocínio espacial e que não existe um aumento da inteligência geral.
Pesquisas posteriores demonstraram que escutar a Sonata K.448 produziu um
pequeno aumento no rendimento do raciocínio espacial, tal como medido por vários
testes derivados a partir da Escala de Stanford-Binet.[1] Porém, outras foram
incapazes de reproduzir os resultados de Rauscher e algumas concluíram que o Efeito

1
A escala de inteligência Stanford-Binet é um teste de inteligência administrado individualmente que
foi revisto a partir da Escala de Binet-Simon original por Lewis Terman, um psicólogo da Universidade
Stanford. A Escala de Inteligência Stanford-Binet está agora em sua quinta edição. É um teste de
habilidade e inteligência cognitiva que é usado para usadas para medir a inteligência (QI). O teste mede
cinco fatores de capacidade cognitivas e é composto por dois subtestes verbais e não verbais. Os cinco
fatores testados são conhecimento, raciocínio quantitativo, processamento visual-espacial, memória de
trabalho, e raciocínio fluido.

2
Mozart poderia ser resultado de uma excitação musical (Chabris, 1999), enquanto a
pesquisa de Steele (1999) detectou variações de humor e supôs que estas
influenciavam no desempenho de tarefas espaciais e não especificamente a música.
Outras pesquisas também sugeriram que o Efeito Mozart independia da Sonata para
Dois pianos em Ré Maior K.448 (Rideout, 1998) e concluiam que músicas com
estrutura, ritmo, melodia, consonância harmônica e previsibilidade similares a Sonata
K.448 produziam o mesmo efeito.
Rauscher,et al. (1993) sugeriu investigações do Efeito Mozart sobre o
raciocínio quantitativo. [2] Um estudo conduzido por Wilson e Brown (1997) citou
trabalhos em que ouvir Mozart traz aumento imediato no desempenho em matemática,
bem como em tarefas espaciais, porém uma revisão dessa literatura, empreendida por
autores atuais, não confirmou esses resultados. Desde então poucos estudos têm sido
conduzidos no efeito de músicas clássicas, inclusive a Sonata K.448, em tarefas
cognitivas mais complexas.
Dada então a sugestão de Rauscher, et al. (1993) e a falta de pesquisas
envolvendo tanto o efeito da sonata de Mozart em tarefas cognitivas quantitativas,
como o efeito de músicas clássicas, em geral, e o efeito de ambas no desempenho de
tarefas motoras o presente trabalho tem como objetivo (i) investigar o efeito da Sonata
K.448 de Mozart no desempenho de tarefas cognitivas quantitativas e também em
tarefas motoras, assim como investigar também, se (ii) há ou não efeitos no
desempenho de ambas com relação à outras músicas clássicas e (iii) há ou não de
efeitos de excitação musical sobre as mesmas tarefas.

Material e Métodos

Para testar as hipóteses do presente trabalho, dois tipos de testes foram


aplicados em voluntários do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo
nos dias 15 e 22 de maio de 2015 das 12 às 20 horas e 30 minutos no primeiro dia de
testes e das 12 às 21 horas e 30 minutos no segundo dia. No total, 61 pessoas
participaram dos testes (sendo que cada voluntário forneceu dados para análise dos
dois tipos de testes aplicados). O primeiro teste foi cognitivo quantitativo e consistia
na resolução de contas das 4 operações matemáticas básicas: multiplicação, soma,

2
Raciocínio lógico matemático ou quantitativo é o raciocínio usado para a resolução de alguns
problemas e exercícios matemáticos.

3
divisão e subtração e nessa ordem (Apêndice 1). O segundo foi um teste de avaliação
motora que consistia na realização, pelo voluntário, de um desenho de uma nova
estrela entre o desenho de duas estrelas pré-existentes (Apêndice 2), porém, a tarefa
deveria ser realizada à mão e com a visão direta da folha de papel interrompida por
um anteparo de papelão, assim cada voluntário realizou a tarefa com visão indireta da
folha de papel através de um espelho localizado à sua frente.
Primeiramente e para atingir os objetivos do presente trabalho, 5 grupos de
voluntários foram formados (sendo 2 grupos controle e 3 experimentais). Os grupos
eram: Silêncio e Som Branco (ambos grupos controle) e Mozart, Música Clássica e
Música Preferida (todos experimentais). Cada grupo contou com 12 voluntários cada,
exceto o Música Clássica que contou com 13 voluntários. A proposta de 2 grupos
controle tinha como objetivo avaliar a possível ausência de influência ou até mesmo
uma possível influência negativa nos resultados (som branco), servindo como base de
comparação para os grupos experimentais. Portanto (Silêncio) tinha como objetivo
verificar a influência do som em geral nos resultados dos experimentos e o segundo
(Som Branco) funcionava como controle com som (ou seja, avaliava a influência de
sons/músicas específicas nos resultados dos experimentos).
Cada grupo realizou as mesmas atividades e todos realizaram primeiramente o
teste cognitivo quantitativo e, em seguida, o motor. Ambos foram feitos em uma
mesma sala do Centro Didático do Instituto de Biociências, em uma mesa grande e
com lugar pré-estabelecido para cada teste. Todos os voluntários os fizeram voltados
para a parede a fim de minimizar as influências do ambiente externo. Inicialmente o
voluntário sentava-se em uma cadeira já no local de testes e lhe era explicado que este
ouviria (no fone de ouvido) um determinado som por um determinado tempo de olhos
fechados. Esse som era diferente para cada grupo: Silêncio = nenhum som
reproduzido no fone + som externo que chegava à sala de testes; Som Branco = Ruído
branco no fone (disponível no “Youtube”); Mozart = Sonata para Dois Pianos em D
Maior, K. 448 (obra composta por Wolfgang Amadeus Mozart a qual é atribuída a
responsabilidade - entre outras sonatas do mesmo autor - pelo chamado Efeito Mozart,
objeto de estudo do presente trabalho - disponível no “Youtube”); Música Clássica =
listagem diversa de músicas clássicas de diferentes autores (Apêndice 3) (cada
voluntário desse grupo ouviu uma única composição da listagem, sendo que a mesma
foi reiniciada para o teste seguinte e foi determinada por ordem na lista, ou seja,
voluntários diferentes ouviram músicas diferentes entre si. O objetivo desse método

4
era conseguir testar nesse grupo a influência do gênero musical “Clássica” no
experimento, visto que uma das controvérsias do chamado Efeito Mozart é a de que o
mesmo não seria causado especificamente por sonatas compostas por Mozart, mas
sim por música clássica em geral. Além disso, diferentes autores foram selecionados
para que o grupo representasse apenas música clássica e não a música de um
determinado autor, modificando o objetivo do grupo experimental) e Música Preferida
= a música preferida de cada voluntário, assim a música era específica para cada
pessoa. Esse grupo tinha como objetivo testar a influência de excitação musical no
experimento, visto que outra controvérsia do chamado Efeito Mozart indica que o
mesmo não seria causado por sonatas compostas por Mozart, mas que o efeito
ocorreria porque as pessoas podem gostar de Mozart/Música clássica e dessa maneira,
ao ouvir estas músicas apresentariam um fenômeno chamado de “excitação musical”
pelo qual apresentariam melhoras no desempenho em algumas tarefas simplesmente
por serem ativadas determinadas áreas cerebrais e/ou por ocorrer liberação de
neurotransmissores; e um fator determinante do fenômeno é o fato do ouvinte gostar
do som ou este lhe ser agradável ao ouvido. O tempo em que o voluntário deveria
ouvir o som de seu grupo experimental (para ambientação) era de 1 minuto
(controlado por cronômetro).
Antes do início do teste também lhe era explicado que decorrido o tempo de
escuta o aplicador do teste tocaria em seus ombros como sinalização de que o teste
poderia ser iniciado pelo voluntário. O mesmo deveria realizar as contas do teste
cognitivo quantitativo numa folha de papel com espaço livre. As contas eram
diversas, estavam escritas em tiras de papel e foram divididas em sacos diferentes de
acordo com a operação matemática que representavam e estes sacos estavam em
ordem pré-estabelecida na mesa, elas deveriam ser feitas da seguinte maneira: ao abrir
os olhos o voluntário deveria pegar um conta (aleatoriamente) do primeiro saco
(multiplicação) e resolvê-la no papel, ao terminar esta deveria pegar uma do segundo
(soma) e resolvê-la, ao terminar esta deveria seguir com a tarefa até a última conta
(divisão e subtração respectivamente) e após terminar estas deveria levantar seu braço
e esperar novas instruções. Nesse teste, o tempo de cada voluntário para a realização
da tarefa foi cronometrado, mas só lhes foi informado de que teriam tempo livre para
a realização da mesma. Além disso, durante toda a atividade cada voluntário
permaneceu com os fones de ouvido reproduzindo o som (ou o silêncio) específico de
seu grupo. Porém, antes do início do teste descrito, além das informações necessárias

5
para a realização da atividade o voluntário era orientado a não conferir seus
resultados, a fim de não modificar os resultados obtidos por este (conferir resultados
pode alterar os dados de tal forma que as conclusões do experimento podem não ser
representativas da realidade), também era orientado a resolver a conta de divisão até a
segunda casa decimal (já que as mesmas tinham resultados com inúmeras casas
decimais).
Após o primeiro teste novas instruções eram passadas aos voluntários antes
que o segundo teste começasse. Nesse momento, lhes era explicado que assim como
no primeiro teste, fechariam os olhos e ouviriam um determinado som (que era
exatamente o mesmo som usado no primeiro teste e variava de acordo com o grupo
experimental de cada voluntário) por um determinado tempo (agora o período de
ambientação é mais curto e leva apenas 30 segundos, visto que cada voluntário já
entrou em contato com o som de seu respectivo grupo na tarefa anterior). Decorrido
esse tempo o aplicador do teste iria novamente tocar no ombro do voluntário como
sinalização para o início do teste. Sentado e ainda com os fones, este deveria realizar a
tarefa (uma nova estrela entre duas estrelas pré-existentes) sem que olhasse
diretamente para a folha de papel com as estrelas. Cada pessoa era posicionada
anteriormente ao início do teste de um jeito que não enxergasse essa folha a não ser
pelo reflexo da mesma no espelho previamente fixado na sua frente (porém o mesmo
tinha posição fixa - era apoiado na mesa e encostado na parede, a mesma para que o
voluntário ficaria voltado durante a realização dos testes). Além disso, cada voluntário
era orientado a realizar a tarefa sem que tirasse a ponta do lápis da folha de papel, ou
seja, o mesmo poderia mudar a direção do traço ou mesmo parar o traçado realizado
desde que nestas ações não afastasse a ponta do lápis do papel. Caso isto ocorresse,
cada voluntário foi orientado a levantar os braços e comunicar ao aplicador dos testes
que deveria perguntar-lhe o porquê daquela ação e dependendo da resposta do
voluntário o teste poderia continuar ou era invalidado (levantar o lápis do papel
porque o mesmo escorregou entre os dedos, ou então, porque a posição das mãos ou
dos dedos era desconfortável não eram motivos suficientes para a invalidação dos
testes. Ao contrário disto, tirar a ponta do lápis do papel como reação a um erro no
traçado era considerado motivo suficiente para a invalidação do mesmo). Assim como
no primeiro teste, o voluntário não tinha um tempo pré-determinado para finalizar sua
atividade (dessa vez o tempo de cada pessoa não foi cronometrado), mas deveria
indicar o final da atividade levantando o braço.

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Assim que acabasse, o voluntário deveria responder um questionário pré-
formulado (Apêndice 4) respondendo questões relacionadas ao tema do trabalho. Esse
questionário pode ser utilizado na análise dos resultados para verificar se há e como se
dá a influência dos gostos pessoais nos resultados obtidos nos experimentos. Isso
porque o fato de uma pessoa gostar/não gostar de Mozart ou gostar/não gostar de
música clássica pode influenciar de alguma maneira seu desempenho em atividades
cognitivas e motoras ao realizá-las ao som destas. Da mesma forma, resultados
diferentes podem ser provavelmente encontrados quando uma pessoa se incomoda ou
não com música/barulho. Ainda, importa saber o estilo ao qual pertence a música
preferida do voluntário porque caso coincida esta com o gênero música clássica ou
caso a pessoa tenha como música preferida sonatas compostas por Mozart, haveria
provável grande influência nos resultados obtidos.
Por fim, cada voluntário assinou um termo de consentimento (Apêndice 5) que
também continha espaço para informações pessoais, que se mostram importantes para
a análise dos resultados.
Os dados obtidos de cada voluntário foram primariamente analisados levando-
se em conta no primeiro teste (cognitivo quantitativo) quantos erros/acertos cada
voluntário teve dentre as 4 contas realizadas com base num gabarito pré-formulado (
acertos significam que o voluntário resolveu a conta e forneceu um resultado certo,
erros significam que o voluntário forneceu um resultado considerado errado ou que
não se estabelecia dentro dos padrões impostos no experimento, como divisões com
menos de duas casas decimais), bem como o tempo utilizado para a realização das
mesmas. No segundo teste (motor), foram contabilizados quantos erros cada
voluntário produziu com a realização da tarefa proposta (toda vez que o traço
produzido tocava a linha de qualquer uma das estrelas era contabilizado um erro).
Todos os dados obtidos dos dois testes como as respostas dos questionários aplicados
foram compilados em tabelas e gráficos para facilitar a análise dos mesmos.
Após a contagem de acertos e a determinação do tempo de cada voluntário no
teste cognitivo quantitativo e do número de erros de cada um no teste motor, foi
realizado um pré-teste (Kolmogorov-Smirnov) que determinou que os dados não
possuíam uma distribuição normal e portanto a análise estatística carecia de um teste
não paramétrico. Assim, cada conjunto de dados foi analisado pelo teste de Kruskal
Wallis, um método não paramétrico em estatística, que testa a Hipótese Nula de que
todas as amostras possuem a mesma função de distribuição contra Hipótese

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Alternativa de que ao menos dois dos grupos de amostras possuem funções de
distribuição diferentes. O teste não coloca restrições sobre comparações. Quando o
teste indica resultados significativos pelo menos uma das amostras é diferente das
restantes. O teste, por sua vez, não identifica onde ocorrem e nem quantas são as
diferenças. Como as diferenças encontradas não foram significativas foi realizado um
teste de correlação (Pearson), que buscou em quais grupos as variáveis tempo e
número de acertos do teste quantitativo estavam correlacionadas.

Resultados e Discussão
Realizamos duas análises estatísticas não paramétricas, através do teste
Kruskal - Wallis, uma analisando o teste motor o qual só possui uma variável (o
número de erros), e outra para o teste cognitivo, que possuía duas variáveis (o número
de acertos e o tempo de duração do teste). (Figura I)

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Figura I: Bloxpots gerados através do teste Kruskal - Wallis (análise estatística não
paramétrica) para atividades cognitivas quantitativas (um bloxpot para tempo em
minutos e outro para número de acertos) e motoras ( bloxpot para número de erros).

No teste motor, os grupos Mozart, Música Clássica, Música Preferida, Som


Branco e Silêncio obtiveram um número médio de erros respectivamente: 36; 28,36;
26,73; 43,44 e 22,9. No teste quantitativo, no quesito número de acertos, as médias
foram respectivamente: 3; 2,58; 2,25; 2,42 e 2,75. No quesito tempo, as médias foram
respectivamente: 4,09 min; 3,84 min; 4,99 min; 3,77min e 5,24 min. Apesar das
diferenças nas médias, elas não foram significativas.
O valor aproximado de P para a tarefa motora foi de 0.7703, enquanto, no teste
quantitativo, o valor aproximado de P foi de 0.523 para a quantidade de acertos, e de
0.054 para o tempo (em minutos).
O valor de P para o teste motor verifica que a hipótese nula, H0 = não tem
efeito Mozart, não pode ser rejeitada, mas não é possível falar se é verdadeira ou
falsa. No teste quantitativo em relação a variável número de acertos, se observa um
valor de P próximo ao 1, apoiando a hipótese nula. No entanto, a variável tempo teve
um valor de P muito próximo do 0.05, ou seja, um valor quase significativo,
indicando que algum grupo está se destacando (negativamente ou positivamente) de
forma quase significativa. É por isso que foi feita, através do mesmo teste, a
comparação entre os diferentes grupos, optou-se por testar as duas variáveis. (Tabela
I)
Tabela I: Comparação entre os grupos através do teste de Kruskal - Wallis,
utilizando-se como parâmetro o valor P, para o teste quantitativo, variável tempo e
variável número de acertos.

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Considerando que nenhum valor P da relação entre os grupos foi significativo,
após o teste de Kruskal - Wallis, medimos o grau de relação linear entre tempo e
número de acertos através do coeficiente de correlação de Pearson. (Figura II)

Figura II: Relação linear entre tempo e número de acertos no teste quantitativo por
meio do Coeficiente de Correlação de Pearson de cada um dos cinco grupos
estudados.

Observamos, nos grupos Mozart, Música Clássica e Silêncio, uma tendência


de valores de r próximos ao 1. No grupo Mozart, r = 0,539; no grupo Música Clássica,
r = 0,677; e no grupo Silêncio, r = 0,725. Um valor de r perto ao 1 significa que o
número de acertos está relacionado com o tempo, havendo uma correlação positiva
entre as duas variáveis, ou seja, quanto maior o número de acertos maior o tempo.
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Nos grupos Música Preferida e Som Branco, a tendência é do valor de r ser
próximo ao - 1, sendo que no grupo Música Preferida r = - 0,026 e no grupo Som
Branco r = - 0,327. O valor de r perto do -1 indica que há uma relação negativa entre
o tempo e o número de acertos, ou que a correlação entre as variáveis é muito fraca,
ao contrário do resultado dos outros grupos. A correlação fraca no grupo Música
Preferida pode indicar a não ocorrência de excitação musical, assim não é observada
uma correlação positiva entre tempo de contato com a música e número de acertos.
Isso pode ser devido ao fato de que todos os voluntários do grupo Música Preferida
escolheram para a realização do teste música verbais, que não provocam excitação
musical já que, somente músicas não verbais estimulam a produção, no cerebelo, de
neurotransmissores do tipo dopamina e neuroadrenalina (Braga de Miranda, 2013),
constituindo assim uma verdadeira excitação musical.
Levitin (2011) diz também que há uma relação entre música preferida do tipo
“sofisticada” (por exemplo música clássica) e a resposta associada, sendo esse tipo de
resposta melhor do que música de outros tipos. Com essa mesma informação,
podemos explicar o porque dos grupos Mozart e Música Clássica terem uma
correlação positiva, de acordo com o coeficiente de Correlação de Pearson, sendo que
ambos os grupos possuem estímulos musicais não verbais, causando um possível
efeito de excitação musical, já que quanto mais tempo o voluntário passou ouvindo a
música, mais áreas cerebrais serão ativadas e melhor será seu desempenho,outra
possível explicação que também pode incluir o grupo Silêncio é que quanto mais o o
voluntário demorou para realizar as contas, menos erros cometeu somente pelo fato de
realizar as operações matemáticas com mais cuidado.
Com relação à correlação negativa do grupo Ruído Branco, Levitin (2011), diz
que um efeito de excitação musical só pode ser obtido a partir de estímulos musicais e
não de ruídos, portanto o ruído branco não causará nenhum efeito de excitação no
indivíduo. Além disso, podemos supor que quando submetidos a sons considerados
desagradáveis, os voluntários tendem a errar mais com o passar do tempo. Os dados
obtidos com o questionário corroboram essa proposta já que, 75,41% dos voluntários
afirmam que barulho ou ruídos atrapalham atividades cognitivas. (Figura III)

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Figura III: Gráfico a respeito da opinião dos voluntários em relação a influência do
barulho ou ruído em atividades cognitivas, obtido por meio do questionário.

Conclusão
A maioria dos trabalhos que corroboraram com a existência do efeito Mozart
são do tipo espacial e de memória. Como o teste implementado foi do tipo cognitivo
quantitativo e motor, há uma possibilidade de que seja um dos poucos trabalhos sobre
efeito Mozart nas respectivas tarefas descritas anteriormente. Sendo assim, é possível
que, como citado em diversos trabalhos como o de Steele (1999, 1999) e McCutcheon
(2000), haja diversas variáveis que interferiram no nosso trabalho, como a excitação
musical, que foi considerada na interpretação dos resultados e outras que não foram
levadas em conta: eficácia do tempo de ambientação e humor (variações do “ambiente
interno” de cada pessoa). Além disso, é importante ressaltar que não foi considerado,
no desenvolvimento do nosso experimento, se o indivíduo tinha um treinamento
musical prévio, podendo ser o indíviduo já ambientado a determinados tipos de som,
interferindo nos resultados.
Com isso pode-se concluir que: (i) O efeito da Sonata K.448 (Efeito Mozart)
na melhora do desempenho em tarefas cognitivas quantitativas e motoras não foi
encontrado nesse trabalho, ou seja, a hipótese nula não foi rejeitada. Porém cabe
ressaltar que houve sim diferenças, mas estas não foram significativas a ponto de
rejeitar a hipótese nula. (ii) Não houve diferença significativa de desempenho nos
testes entre os grupos que ouviram música clássica e os que ouviram outros tipos de
sons, portanto de acordo com este trabalho não há um efeito específico da música

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clássica no desempenho em atividades cognitivas. (iii) Pode haver ou não o efeito de
excitação musical, neste trabalho não foi observado a excitação musical
especificamente, mas para corroborar tal hipótese seriam necessários testes mais
específicos.
Ressalta-se que uma análise acurada ao máximo dos dados exige um espaço
amostral muito maior do que os 61 voluntários. Com um número maior de indivíduos,
e utilizando-se de um questionário que deveria ser aplicado antes de se iniciarem os
testes poderia-se dividir cada grupo em sub-grupos, considerando-se agora
características individuais como gosto musical, treino e humor e poderia-se criar
hipóteses para cada grupo ou sub-grupo, realizando-se testes estatístiscos para cada
uma das categorias criadas. Neste trabalho, o pequeno (n) amostral e a aplicação dos
questionários posteriormente aos testes (podendo enviesar as respostas), não permitiu
a análise dos dados e interpretação dos resultados da forma proposta acima.

Referências Bibliográficas

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13
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Apêndice 1

Gabaritos:

 Multiplicação  Soma
1. 378 X 96 = 36288 1. 8572 + 6984 = 15556
2. 935 X 78 = 72930 2. 3968 + 4299 = 8267
3. 658 X 79 = 51982 3. 2973 + 1959 = 4932
4. 679 X 82 = 55678 4. 1894 + 2883 = 4777
5. 719 X 86 = 61834 5. 7732 + 3771 = 11503
6. 959 X 76 = 72884 6. 6398 + 4697 = 11095
7. 597 X 83 = 49551 7. 5479 + 5589 =11068
8. 739 X 48 = 35472 8. 4598 + 6477 = 11075
9. 375 X 98 = 36750 9. 9672 + 7392 = 17064
10. 978 X 64 = 62592 10. 8194 + 8293 = 16487
11. 768 X 69 = 52992 11. 3278 + 9137 = 12415
12. 796 X 47 = 37412 12. 5397 + 9684 = 15081
13. 873 X 68 = 59364 13. 6499 + 2849 = 9348
14. 937 X 76 = 71212 14. 9538 + 3791 = 13329
15. 857 X 93 = 79701 15. 3688 + 4618 = 8306

 Divisão  Subtração
1. 378 ÷ 96 = 3,93 1. 8572 - 6984 = 1588
2. 935 ÷ 78 =11,98 2. 6968 - 4299 = 2669
3. 658 ÷ 79 = 8,32 3. 2973 - 1879 = 1094
4. 679 ÷ 82 = 8,28 4. 8194 - 2883 = 5311
5. 719 ÷ 86 = 8,36 5. 7732 - 3771 = 3961
6. 959 ÷ 76 = 12,61 6. 6398 - 4697 = 1701
7. 597 ÷ 83 = 7,19 7. 5479 - 4589 = 890
8. 739 ÷ 48 = 15,39 8. 6598 - 4477 = 2121
9. 375 ÷ 98 = 3,82 9. 9672 - 7392 = 2280
10. 978 ÷ 64 = 15,28 10. 8914 - 8293 = 621
11. 768 ÷ 69 = 11,13 11. 3278 - 1937 = 1341
12. 796 ÷ 47 = 16,93 12. 8397 - 6984 = 1413
13. 873 ÷ 68 = 12,83 13. 6499 - 2849 = 3650
14. 937 ÷ 76 = 12,32 14. 9538 - 3791 = 5747
15. 857 ÷ 93 = 9,21 15. 6388 - 4618 = 1770

15
Apêndice 2

16
Apêndice 3

Toccara and Fugue in D Minor - Johann Sebastian Bach’s

Gilels Piano Sonata No.2 - Beethoven

Childrens Corner - Claude Debussy

Transcendental Étude S.139 No.4 - Franz Liszt

Waltz No.12 in F minor Op.70 No.2 for Piano - Frederic Chopin

The Arrival of the Queen of Sheba - George Frideric Handel

Schumann Carnaval Op. 9 - Robert Schumann

Piano Concerto No.1 Op.23 in B Flat Minor 13 - Tchaikovsky

Polonaise From Eugene Onegin - Tchaikovsky

Violin Concerto in G Major RV310 - Vivaldi

Ballet Music Les petits riens KV 299b - Wolfgang Amadeus Mozart

17
Apêndice 4

QUESTIONÁRIO
BIF217 – Fisiologia Animal: Mecanismos e Adaptação da Comunicação e Integração

1. Qual(ais) estilo(s) musical(ais) você escuta?


_________________________________________________________

2. Com que frequência você escuta esse(s) estilo(s) musical(ais)?


( ) Todos os dias
( ) Pelo menos três vezes por semana
( ) Até uma vez por semana
( ) Outra: _________________________________________________

3. Você gosta de música clássica? ( )Sim ( )Não

4. Especificamente, você gosta de ouvir músicas compostas por Mozart?


( )Sim ( )Não

5. Quando você está realizando alguma atividade cognitiva (ex: estudar), a música:
( ) Ajuda
( ) Atrapalha
( ) Indiferente
( ) Não escuto música nesses tipos de atividades

6. Quando você está realizando alguma atividade cognitiva (ex: sala de aula), o
barulho:
( ) Ajuda
( ) Atrapalha
( ) Indiferente

7. Escreva aqui o nome da sua música preferida (e seu respectivo


autor/banda/conjunto/estilo musical)
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

8. Você já ouviu falar ou sabe o que é o chamado “Efeito Mozart”?


( )Sim ( )Não

18
Apêndice 5

“Termo de Consentimento de Participação”

Data: ___ / 05 / 15

Gênero ou
Nome Idade Sexo biológico Assinatura
(XX/XY)

19

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