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DIDÁTICA

Prof.ª Jane Líma


coordenacao@sepcursos.com.br

Taboão da Serra
2017
Didática – Introdução

 A palavra didática deriva da expressão grega, que se traduz por arte ou


técnica de ensinar. O estudo lingüístico da palavra mostra um outro
aspecto, que esse processo de ensinar é lento e ocorre através do tempo.
Uma característica própria do processo de instruir.
 É com Comênio, através de sua obra “Didáctica Magna”, escrita no século
XVII que há o início da sistematização da Didática, embora outras obras
tenham sido publicadas anteriormente. A partir de então, a Didática se
popularizou como leitura pedagógica.
 Grosso modo, podemos dizer que Didática é uma ciência cujo objetivo
fundamental é ocupar-se das estratégias de ensino, das questões práticas
relativas à metodologia e das estratégias de aprendizagem.
 Podemos resumir a função da Didática da seguinte maneira: ela funciona
como elemento transformador da teoria na prática.

Um pouco de Didática através da história mais recente

 Entre os anos 20 e 50, a Didática segue os postulados da escola Nova, que


busca superar os da Escola Tradicional, com a intenção de reformar
inteiramente a escola.
 Com isso, afirma que o ensino deve partir dos interesses espontâneos da
criança, ou seja, os princípios de atividade, individualização e liberdade
estão na base de toda proposta didática.
 Passa-se da visão de que a criança é um adulto em miniatura, para
centrar-se nela como um ser perfeitamente capaz de adaptar-se a cada
uma das fases de seu desenvolvimento.
 Com isso, a visão de um aluno passivo ante os conhecimentos do mestre,
dá lugar para uma visão de um aluno que se auto-educa, pois ele
aprende fazendo, mediante seus interesses concretos.
 Assim, a atenção às diferenças individuais e a utilização de jogos
educativos passam a ter um papel importante na formação do aluno.
 Entre os anos 60 e 80, passa-se de uma visão humanista, centrada no
processo interpessoal, para uma visão onde o processo educacional é
algo intencional e sistêmico, onde o que se procura é organizar as
condições que melhor facilitem o processo de aprendizagem.
 Centra-se nos em objetivos instrucionais, na seleção de conteúdos, nas
estratégias de ensino, destacando-se palavras como: produtividade,
eficiência, racionalização, operatividade e controle.
 A perspectiva industrial adentra na escola e a Didática é vista como uma
estratégia para alcançar os produtos previstos para o processo de ensino-
aprendizagem. A maior ênfase é dada para a objetividade e a
racionalidade. Nessa época, a fábrica passa a ser o referencial central da
educação e, portanto, sobre ela constroem-se as ações da escola.
 Essa Didática não proporciona elementos significativos para a análise da
prática pedagógica real, com isso, produziu uma separação entre teoria e
prática.
 Nos anos 70, acentuam-se as críticas e essas perspectivas didáticas
tecnicistas e seu caráter político-social e econômico foi revelado.
 Na atualidade, a perspectiva fundamental da Didática é assumir a
multifuncionalidade do processo ensino-aprendizagem e articular suas
três dimensões: técnica, humana e política.

A multifuncionalidade da Didática – A Didática hoje

A Didática, hoje em dia, tem de estar integrada com o currículo escolar,


favorecendo o trabalho de sala de aula.
Nesse contexto, a Didática deve perseguir os seguintes objetivos e
características:
 Ensaiar, analisar, experimentar;
 Romper com as práticas profissionais individualistas;
 Favorecer o trabalho comum de professores e especialistas;
 Discutir o tema currículo e sua interação com a população;
 Buscar formas de manter a criança na escola;
 Analisar a prática pedagógica concreta e seus determinantes;
 Contextualizar a prática pedagógica e procurar repensar as dimensões
técnicas e humanas;
 Analisar as diferentes metodologias, explicitando seus pressupostos, o
contexto em que surgiram e a visão de homem, de sociedade, de
conhecimento e de educação nas quais estão inseridas;
 Buscar experiências concretas, procurando trabalhar continuamente a
relação entre teoria e prática,
 Assumir o compromisso com a transformação social, com a busca de
práticas pedagógicas que tornem o ensino eficiente para a maior parte da
população.

Ensinar e Aprender
O Ensino e a aprendizagem na vida humana

No decorrer da história da humanidade, o ensino e a aprendizagem


foram adquirindo cada vez maior importância.
Para ter uma idéia dessa importância basta considerar os seguintes fatos:
 Nos últimos dez anos, o conhecimento humano desenvolveu-se muito
mais do que em todo o restante da história da humanidade;
 Antes de 1500 a Europa estava editando livros a um ritmo de 1000 títulos
por ano. Por volta de 1950, 12 0000 ao ano e, por volta de 1965, o mundo
editava 1000 títulos por dia;
 Noventa e três por cento (93%) dos cientistas que já existiram sobre a face
da Terra vivem nos dias atuais;
 Houve uma explosão das comunicações que pode ser constatada através
do seguinte quadro:

Ano Meio de transporte mais Velocidade


rápido (Km / h)
600 a. C. Caravana de camelos 12
1784 Diligência 15
1825 Locomotiva 18
1938 Avião 640
1971 Avião 2200
1981 Naves Espaciais 40 000

Diante desses fatos concluímos que hoje, mais do que nunca, é necessário
refletir sobre o ensino e a aprendizagem.
Apesar do progresso tecnológico, as pessoas não melhoraram muito,
talvez isso se deva, em parte, à falta de questionamento no campo da educação,
principalmente no que se refere aos valores. “A questão de valores talvez seja a
que mais coloca em causa a educação de nossos dias. Vencida a fase da luta pela
sobre vivência diante de uma natureza, às vezes, inóspita e rude, o homem
contemporâneo encontra-se às voltas com formas de destruição nunca antes
imaginadas. A luta atual não se reveste de um otimismo encorajador e
romântico, mas sim de apreensões e inquietações diante do futuro. Neste
quadro, o saber distinguir o que é valioso ou não dentro dos propósitos de
formação humano exige uma atitude corajosa de ir além das aparências na
busca das verdadeiras causas que regem nossos comportamentos (...) Vincular a
discussão de valores de educação a setores mais amplos, que envolvem a
própria estrutura social como um todo, é um caminho que esperamos venha o
estudante de educação a percorrer para o seu aprofundamento nesta questão”.

O que é aprendizagem?

Segundo alguns estudiosos, a aprendizagem é o processo de alteração de


conduta de um indivíduo, seja por Condicionamento operante, experiência ou
ambos,de uma forma razoavelmente permanente. As informações podem ser
absorvidas através de técnicas de ensino ou até pela simples aquisição de
hábitos. O ato ou vontade de aprender é uma característica essencial do
psiquismo humano, pois somente este possui o caráter intencional, ou a
intenção de aprender; dinâmico, por estar sempre em mutação e procurar
informações para o aprendizagem; criador, por buscar novos métodos visando
a melhora da própria aprendizagem, por exemplo, pela tentativa e erro. Um
outro conceito de aprendizagem é uma mudança relativamente durável do
comportamento, de uma forma mais ou menos sistemática, ou não,adquirida
pela experiência, pela observação e pela prática motivada. Na verdade a
motivação tem um papel fundamental na aprendizagem. Ninguém aprende se
não estiver motivado, se não desejar aprender.
Na verdade o ser humano nasce potencialmente inclinado a aprender,
necessitando de estímulos externos e internos (motivação, necessidade) para o
aprendizado. Há aprendizados que podem ser considerados natos, como o ato
de aprender a falar, a andar, necessitando que ele passe pelo processo de
maturação física, psicológica e social. Mas a maioria da aprendizagem se dá no
meio social e temporal em que o indivíduo convive; sua conduta muda,
normalmente, por esses fatores, e naturalmente, pela herança genética dos seus
antepassados.

Tipos de Aprendizagem

Aprendizagem Motora ou Motriz: Consiste na aprendizagem de hábitos que


incluem desde simples habilidades motoras – aprender a andar e aprender a
dirigir um automóvel, até habilidades verbais e gráficas – aprender a falar e a
escrever.
Aprendizagem Cognitiva: Abrange a aquisição de informações e
conhecimentos. Pode ser uma simples informação sobre os fatos ou sua
interpretações, com base em conceitos, princípios e teorias. A aprendizagem
das regras gramaticais, por exemplo, é uma aprendizagem cognitiva. Aprender
os princípios e teorias educacionais também é aprendizagem cognitiva.
Aprendizagem afetiva ou emocional: Diz respeito aos sentimentos e emoções.
Aprender a apreciar o belo através das obras de arte é uma aprendizagem
afetiva.
A aprendizagem afetiva tem uma série de implicações pedagógicas. Ela é
decorrência do “clima” da sala de aula, da maneira de tratar o aluno, do
respeito e da valorização da pessoa do aluno e assim por diante.
É importante observar, com relação aos tipos de aprendizagem, que não
se aprende uma só coisa de cada vez, mas várias. Quando uma criança aprende
a escrever, por exemplo, aprende também o significado das palavras e
desenvolve o gosto pela apresentação estética da escrita.

Aprendizagem e Motivação
Para que alguém aprenda é necessário que ele queira aprender.
Ninguém consegue ensinar nada a uma pessoa que não quer aprender. Por isso
é muito importante que o professor propicie estímulos para motivar os seus
alunos.
Através de uma variedade de recursos, métodos e procedimentos, o
professor pode criar uma situação favorável à aprendizagem.
Para criar essa situação o professor deve:
 Conhecer os interesses atuais dos alunos para mantê-los ou orienta-los.
 Buscar uma motivação suficientemente vital, forte e duradoura para
conseguir do aluno uma atividade interessante e alcançar o objetivos da
aprendizagem.
Entre motivação e aprendizagem existe uma mútua relação. Ambas se
reforçam.
A motivação da aprendizagem se traduz nas seguintes leis:
a) Sem motivação não há aprendizagem;
b) Os motivos geram novos motivos;
c) O êxito na aprendizagem reforça a motivação;
d) A motivação é condição necessária, porém, não suficiente.
Papel do professor

Quando encaramos a aprendizagem como saber pensar e aprender a aprender, o


propósito ético-político se constitui na razão de ser desse processo.

O manejo do conhecimento e a referência ao mercado permanecem,


indubitavelmente, como meios.

Conhecemos muito pouco do que há ainda por conhecer. Essa percepção


nos recomenda a modéstia, pois...
...não inventamos do nada...
...não criamos o que bem entendemos...
...não podemos desligar o mundo do mundo...

Logo, quando falamos em construção/reconstrução do conhecimento,


estamos falando em gestar sujeitos capazes de observar, de descobrir caminhos
próprios.
Entretanto, muitas vezes, nossas observações se dirigem para aquilo que
queremos ver... aquilo que assumimos ser importante...
Na observação de um fenômeno, é fundamental o papel da imaginação –
que busca uma ordem alternativa das coisas.
Nas salas de aula, a atividade mais freqüente é a do professor.
O professor tem liberdade de se movimentar...
O professor tem liberdade de determinar ações...
O professor tem liberdade de controlar o tempo...
O professor tem liberdade de fazer perguntas...
O professor tem liberdade de apresentar novos materiais...
O professor tem liberdade de relatar fatos.
Nossos alunos em grande parte são ouvintes passivos... cuidadosamente
coreografados.
Enquanto profissionais que lidam com o conhecimento, temos de querer
alunos inquietos, curiosos, questionadores...
Enquanto profissionais que lidam com o conhecimento, temos de refletir
em nossa prática docente essas mesmas inquietudes e curiosidades, temos de
ser questionadores.
Não queremos, em nós, centrar nossas aulas.
Não queremos ocupar palcos para manter o foco da atenção do aluno.
Caso contrário, torna-se visível nossa contradição. Queremos que nossos
alunos inovem e sejam criativos sem que nós o sejamos.
Para desenvolver sujeitos capazes de fazer sua própria história –
individual e coletiva – temos de tomar o conhecimento como nosso instrumento
de trabalho.
Como o conhecimento é o fundamento ético-político de nossa prática, são
premissas de nosso trabalho...

É no espaço da sala de aula que mostramos o que queremos... quem


somos... a que viemos...
É no espaço da sala de aula que deixamos transparecer nosso
comprometimento ideológico com a educação.
Ao concebermos o aluno como parte integrante do espaço da sala de
aula, acentua-se nossa função de facilitadores... de orientadores do processo de
construção/reconstrução do conhecimento...
Ao abdicarmos do papel de condutores soberanos do saber, criamos
condições para que nosso aluno estabeleça questões... proponha hipóteses...
colete e analise informações...
Ao utilizarmos o desafio como instrumento de trabalho, colocaremos à
prova os argumentos de nosso aluno para que ele construa suas próprias
propostas... descubra novos horizontes...

Ao concebermos a aprendizagem como um processo de


construção/reconstrução do conhecimento – centrada em sujeitos que têm
como objetivo principal o desafio de aprender – altera-se nosso papel de
professores.
De professores, transformamo-nos em orientadores... em facilitadores da
aprendizagem.
Nossa função passa a ser criar condições para a formação da competência
humana, política e instrumentalizada tecnicamente.
Entretanto, essa tarefa deve se pautar em um único objetivo – formar
sujeitos capazes de criar sua história própria, individual e coletiva.
Entretanto, essa tarefa – estimular o saber pensar e o aprender a aprender
– constitui a razão de ser de nosso trabalho.
Bibliografia

CANDAU, V. M. A didática em questão. Petrópolis: Vozes, 1993.

FAZENDA, Ivani. Didática e Interdisciplinaridade. 10 ed. Campinas:


Papirus, 1998.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo, Cortez Editora, 1994.

PILETTI, C. Didática Geral. São Paulo: Ática, 1993.

WRAGG, E. C. Didática e formação de professores: percursos e perspectivas no


Brasil e Portugal. 3ed. São Paulo: Cortez, 2001.255 p.

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