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SEDIMENTAÇÃO PLEISTOCENA ASSOCIADA ÀS DEPRESSÕES

TECTÔNICAS DA REGIÃO DE CONFLUÊNCIA DOS RIOS NEGRO E


SOLIMÕES, AMAZONAS
Emílio A. A. Soares1,2 (easoares@usp.br)
Claudio Riccomini2 (riccomin@usp.br)
Afonso C. R. Nogueira3 (anogueira@ufpa.br)
1
Universidade Federal do Amazonas - Programa de Pós-Graduação em Geologia Regional e Ambiental,
Departamento de Geociências.
2
Universidade de São Paulo, Programa de Pós-graduação em Geologia Sedimentar, Instituto de Geociências.
3
Universidade Federal do Pará – Centro de Geociências . Campus Universitário do Guamá.

INTRODUÇÃO Grande parte dos depósitos pleistocenos da região de confluência dos rios Negro e
Solimões, Amazonas, está confinado em 4 depressões tectônicas de direção geral NW-SE,
desenvolvidas sobre o substrato Cretáceo-Mioceno (Figura 1). A origem dessas depressões está
associada a movimentações extensionais de direção geral NE-SW, relacionadas a implantação do
Sistema Transcorrente Dextral ocorridas no Neo-Mioceno-Plioceno. Essas depressões representam as
maiores feições estruturais da área estudada, cujo preenchimento está diretamente associado a
dinâmica dos rios Negro e Solimões no Pleistoceno superior. Nas depressões 1 e 3 se desenvolveram
sistemas meandrantres secundários com desenvolvimento de planície aluvial, enquanto que as
depressões 2 e 4 funcionaram como áreas alagadas e restritas, onde predominou a sedimentação por
suspensão. Apesar da idade pleistocena, alguns estudos (Franzinelli & Igreja 2002, Franzinelli & Rossi
1996) associam os depósitos da depressão 1, à Formação Solimões, do Mioceno (Hoorn 1993, Silveira
& Nogueira, neste Simpósio). A formulação do arcabouço tectono-sedimentar das depressões se
baseou em dados de mapeamento geológico-geomorfológico, datação, análise de produtos de sensores
remotos, análise estratigráfica de superfície e subsuperfície (furos de sondagens a trado e percussão)
que deram subsídios para o entendimento da evolução histórica desta parte da Amazônia.

Figura 1 - Mapa geológico da região de confluência dos rios Negro e Solimões com a localização das
depressões tectônicas (1 a 4) dentro das bacias hidrográficas das principais drenagens.
DEPÓSITOS SEDIMENTARES ASSOCIADOS AS DEPRESSÕES TECTÔNICAS A
depressão 1, mais expressiva da área de estudo com aproximadamente 30 km de extensão e 18 km de
largura, comporta dois níveis de terraços fluviais do Paraná do Ariaú (Fig. 1). O arcabouço
estratigráfico desta depressão permitiu a individualização de 2 unidades distintas. A mais superior,
com 10 a 20 m de espessura, é composta predominantemente por sedimentos sílticos e argilosos com
laminação plano-paralela e aspecto maciço intercalados a barras em pontal com estratificação
heterolítica inclinada construídos pelo sistema fluvial meandrante do Paraná do Ariaú, durante sua
migração para E-NE. Estes depósitos desenvolveram-se sobre arenitos finos a médios, com raras
intercalações de argilitos correspondentes ao substrato Mioceno (Formação Novo Remanso), que
aflora também nas partes marginais da depressão. Datações pelo método de regeneração de alíquota
simples (SAR) indicaram idades entre 61.600±860 e 66.250±370 anos AP para o terraço superior e
4.800 e 11.000 anos AP para o terraço inferior, indicando que a sedimentação nessa depressão ocorreu
no Pleistoceno Superior.
A depressão 2 apresenta aproximadamente 15 km de comprimento, 4 km de largura e cerca de 15
metros de profundidade. Essas depressões são preenchidas essencialmente por material argiloso a
síltico, com laminação plano paralela e aspecto maciço. Perfis estratigráficos de subsuperfície obtidos
a partir de furos de sondagens a percussão e trado na depressão 2 permitiram delimitar 3 unidades
distintas. A mais superior, predominantemente argilosa, corresponde a cobertura pleistocena. A
unidade intermediária, predominentemente arenosa e friável, corresponde a unidade miocena
(Formação Novo Remanso) que compõe parte do substrato da depressão, e a mais inferior, que define
o limite do impenetrável na sondagem a percussão, as rochas silicificadas da Formação Alter do Chão.
Além disso, a irregularidade do topo substrato desta depressão reflete provavelmente a reativação de
falhas e corrobora com a atuação de tectonismo recente no seu desenvolvimento.
A depressão 3 apresenta aproximadamente 5 km de comprimento, 4 km de largura e 3 a 4 metros de
profundidade, sendo preenchida por sedimentos argilosos de planície associados a barras em pontal
com estratificação heterolítica inclinada, depositados por um sistema meandrante secundário. A
datação pelo método SAR indicou idade de 37.500±860 anos AP para esses depósitos.
A inclinação do topo do substrato para E-NE (depressões 1 e 3) e para SW (depressões 2 e 4),
assim como a assimetria dos terraços fluviais (depressão 1), e maior espessamento sedimentar nestas
direções indicam o caráter assimétrico dessas depressões, típicos de hemigrabens.

DISCUSSÕES FINAIS A intrínseca relação entre a sedimentação pleistocena e as depressões é


indicativa de que as movimentações neotectônicas imprimiram um controle tectônico na sedimentação
das principais bacias hidrográficas. Enquanto algumas depressões, geralmente aquelas de menor
extensão serviram apenas como sítios para depósitos de suspensão (2, 3 e 4), o tamanho e evolução
tectônica da depressão 1 permitiu o desenvolvimento de um sistema meandrante secundário do Paraná
do Ariaú, agora quase que totalmente encaixado no substrato Cretáceo-Mioceno. A localização deste
sistema ligando dois grandes rios, o Solimões e Negro, tem influenciado a idéia de que o hemigraben
do Ariaú seria uma antiga passagem do Rio Negro (ver Silva 2005). Entretanto os dados obtidos neste
estudo vão contra essa suposição, corroborados com os dados abaixo:
1) Análise discriminante linear “passo a passo”, empregada em populações de amostras dos terraços
estudados permitiram verificar nítida sobreposição entre amostras das planícies do rio Solimões e da
depressão 1, sugerindo pouca diferença em termos de composição química elementar. Ao contrário, a
nítida separação dos grupos de populações de amostras das planícies do rio Negro e os depósitos da
depressão 1, corrobora que o aporte sedimentar durante o preenchimento da depressão 1 era do rio
Solimões;
2) A unidade predominantemente arenosa, encontrada a 40 m de profundidade na Bacia do Ariaú,
descrita por Silva (2005) como antigos depósitos de paleocanais do Rio Negro, corresponde na
verdade aos depósitos arenosos e friáveis da unidade miocena, a Formação Novo Remanso (Abinader,
Neste simpósio), o substrato da depressão 1;
3) A pouca profundidade dos depósitos pleistocenos da depressão 1, de até 20 m, predominantemente
pelíticos, não são consistente com depósitos de paleocanais oriundos do rio Negro;
4) A idade de cerca de 40.000 anos AP obtida para os depósitos da depressão 3, localicada entre a
depressão 1 e a cidade de Manaus, indica que o rio negro já corria por este caminho desde esta época.
REFERÊNCIAS
ABINADER, H.D.; NOGUEIRA, A.C.R; MAPES, R.W.; COLEMAN, D.S. 2007. Estratigrafia De
Depósitos Cenozóicos Da Porção Centro-Oeste Da Bacia Do Amazonas. Congresso da Abequa.
Simpósio Barreiras II.
FRANZINELLI, E.; IGREJA, H. L. S. 2002. Modern sedimentation in the Lower Negro river,
Amazonas State, Brazil. Geomorphology, v. 44, n. 3, p. 259-271.
FRANZINELLI, E.; ROSSI, A. 1996. Contribuição ao estudo petrográfico e geoquímico do
Arenito Manaus. In: SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DA AMAZÔNIA, 5., 1996, Belém.
Boletim de Resumos Expandidos... Belém: SBG, p. 209 –211.
SILVA, C. L. 2005. Análise tectônica cenozóica da região de Manaus e adjacências. 2005.
278 f. Tese (doutorado) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade
Estadual Paulista, Rio Claro.
HOORN, C. Miocene palynostratigraphy and paleoenvironmental of northwestern Amazônia:
evidence for marine incursion and the influence of andean tectonics. 1993. 98 f. Thesis
(Doctoral) – University of Amsterdam, Amsterdam, 1993.

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