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INTRODUÇÃO Grande parte dos depósitos pleistocenos da região de confluência dos rios Negro e
Solimões, Amazonas, está confinado em 4 depressões tectônicas de direção geral NW-SE,
desenvolvidas sobre o substrato Cretáceo-Mioceno (Figura 1). A origem dessas depressões está
associada a movimentações extensionais de direção geral NE-SW, relacionadas a implantação do
Sistema Transcorrente Dextral ocorridas no Neo-Mioceno-Plioceno. Essas depressões representam as
maiores feições estruturais da área estudada, cujo preenchimento está diretamente associado a
dinâmica dos rios Negro e Solimões no Pleistoceno superior. Nas depressões 1 e 3 se desenvolveram
sistemas meandrantres secundários com desenvolvimento de planície aluvial, enquanto que as
depressões 2 e 4 funcionaram como áreas alagadas e restritas, onde predominou a sedimentação por
suspensão. Apesar da idade pleistocena, alguns estudos (Franzinelli & Igreja 2002, Franzinelli & Rossi
1996) associam os depósitos da depressão 1, à Formação Solimões, do Mioceno (Hoorn 1993, Silveira
& Nogueira, neste Simpósio). A formulação do arcabouço tectono-sedimentar das depressões se
baseou em dados de mapeamento geológico-geomorfológico, datação, análise de produtos de sensores
remotos, análise estratigráfica de superfície e subsuperfície (furos de sondagens a trado e percussão)
que deram subsídios para o entendimento da evolução histórica desta parte da Amazônia.
Figura 1 - Mapa geológico da região de confluência dos rios Negro e Solimões com a localização das
depressões tectônicas (1 a 4) dentro das bacias hidrográficas das principais drenagens.
DEPÓSITOS SEDIMENTARES ASSOCIADOS AS DEPRESSÕES TECTÔNICAS A
depressão 1, mais expressiva da área de estudo com aproximadamente 30 km de extensão e 18 km de
largura, comporta dois níveis de terraços fluviais do Paraná do Ariaú (Fig. 1). O arcabouço
estratigráfico desta depressão permitiu a individualização de 2 unidades distintas. A mais superior,
com 10 a 20 m de espessura, é composta predominantemente por sedimentos sílticos e argilosos com
laminação plano-paralela e aspecto maciço intercalados a barras em pontal com estratificação
heterolítica inclinada construídos pelo sistema fluvial meandrante do Paraná do Ariaú, durante sua
migração para E-NE. Estes depósitos desenvolveram-se sobre arenitos finos a médios, com raras
intercalações de argilitos correspondentes ao substrato Mioceno (Formação Novo Remanso), que
aflora também nas partes marginais da depressão. Datações pelo método de regeneração de alíquota
simples (SAR) indicaram idades entre 61.600±860 e 66.250±370 anos AP para o terraço superior e
4.800 e 11.000 anos AP para o terraço inferior, indicando que a sedimentação nessa depressão ocorreu
no Pleistoceno Superior.
A depressão 2 apresenta aproximadamente 15 km de comprimento, 4 km de largura e cerca de 15
metros de profundidade. Essas depressões são preenchidas essencialmente por material argiloso a
síltico, com laminação plano paralela e aspecto maciço. Perfis estratigráficos de subsuperfície obtidos
a partir de furos de sondagens a percussão e trado na depressão 2 permitiram delimitar 3 unidades
distintas. A mais superior, predominantemente argilosa, corresponde a cobertura pleistocena. A
unidade intermediária, predominentemente arenosa e friável, corresponde a unidade miocena
(Formação Novo Remanso) que compõe parte do substrato da depressão, e a mais inferior, que define
o limite do impenetrável na sondagem a percussão, as rochas silicificadas da Formação Alter do Chão.
Além disso, a irregularidade do topo substrato desta depressão reflete provavelmente a reativação de
falhas e corrobora com a atuação de tectonismo recente no seu desenvolvimento.
A depressão 3 apresenta aproximadamente 5 km de comprimento, 4 km de largura e 3 a 4 metros de
profundidade, sendo preenchida por sedimentos argilosos de planície associados a barras em pontal
com estratificação heterolítica inclinada, depositados por um sistema meandrante secundário. A
datação pelo método SAR indicou idade de 37.500±860 anos AP para esses depósitos.
A inclinação do topo do substrato para E-NE (depressões 1 e 3) e para SW (depressões 2 e 4),
assim como a assimetria dos terraços fluviais (depressão 1), e maior espessamento sedimentar nestas
direções indicam o caráter assimétrico dessas depressões, típicos de hemigrabens.