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- A questão da “paz perpétua” passa a ser garantida pela adoção do mercado, no âmbito
internacional, como lugar de veridicção. “Quando maior for o mercao externo, menos
haverá fronteiras e limites, mais haverá a garantia da paz perpétua” (p. 87).
- A resposta kantiana para o problema da paz perpétua. (p. 87)
A idéia de princípios jurídicos originados da natureza (direito civil).
A questão da natureza em kant e nos fisiocratas.
A atividade econômica é uma prescrição natural, bem como os direitos de
propriedade, bem como os outros direitos civis baseados na relação de troca.
O edifício jurídico moderno (direito civil e direito internacional) são prescrições
da natureza, e a paz perpétua somente será alcançada pela obediência de seus princípios
jurídicos (mundialização do mercado) (ler final do primeiro parágrafo da página 88).
- No terceiro parágrafo da página 91, ele resume os três aspectos que utilizou para definir
o que chama de “liberalismo”, a saber, a verdicção do mercado, limitação(interna) da
razão de estado pelo cálculo da utilidade governamental e a posição da Europa enquanto
região de desenvolvimento econômico ilimitado, concomitante com a mundialização do
mercado europeu.
- Ao final da página 91 e por toda a página 92, Foucault explica porque chama tais
predicados pela rubrica de “liberalismo”
“respeitar esses mecanismos não significa que vá se dotar de uma estrutura jurídica que
respeite as liberdades individuais e os direitos fundamentais dos indivíduos. Significa
apenas eu vai dotar a sua política de um conhecimento rigoroso, contínuo, claro e distinto
sobre o que se passou na sociedade, sobre o que se passou no mercado, sobre o que se
passa nos circuitos econômicos, de modo que a limitação do seu poder não será dada pelo
respeito da liberdade dos indivíduos, mas simplesmente pela evidência da análise
econômica que souber respeitar. Limita-se pela evidência e não pela liberdade dos
indivíduos.”(FOUCAULT, 2018, p. 92).
“Se uso o termo “liberal” é, desde logo, porque esta prática governamental emergente
não se limita a respeitar esta ou aquela liberdade, a garantir esta ou aquela liberdade. De
forma mais profunda, é consumidora de liberdade. É consumidora de liberdade na
medida em que só pode funcionar se houver determinadas liberdades: liberdade do
mercado, liberdade do vendedor e do comprador, livre exercício do direito de
propriedade, liberdade de discussão, eventualmente liberdade de expressão. A nova razão
governamental precisa então de liberdade, a nova arte governamental consome
liberdade. Por consumir liberdade, é obrigada a produzí-la. Se é obrigada a produzí-la, é
obrigada a organizá-la. A nova arte governamental vai então apresentar-se como gestora
da liberdade, não no sentido imperativo “sê livre”, com a contradição imediata que este
imperativo pode implicar. Não é o “sê livre”que o liberalismo formula. O liberalismo
formula simplesmente isto: vou produzir-te algo com o qual se pode ser livre. Vou fazer
com que sejas livre de ser livre.”(FOUCAULT, 2018, p. 94)
- Dessa forma, o liberalismo seria caracterizado como uma arte de governar implicada,
necessariamente, na organização e gestão da liberdade, e na relação de
produção/destruição da liberdade.
- Foucault coloca, ao final da lição, a questão de haver uma relação entre as crises do
capitalismo com as crises da governamentalidade liberal.
LIÇÃO DE 31 DE JANEIRO DE 1979
“Significa que a adesão a este sistema liberal produz, além da legitimação jurídica, o
consenso, o consenso permanente, e é o crescimento econômico, é a produção de bem-
estar devido a este crescimento que, simetricamente à genealogia instituição econômica –
Estado, vai produzir um circuito instituição econômica – adesão global da população ao
seu regime e ao seu sistema”(FOUCAULT, 2018, p. 117).
- O que seria, portanto, esse neoliberalismo alemão? Não é um apenas um cálculo político
criado pelos alemães no pós-guerra, criado e orientado pura e simplesmente pelas
circunstâncias daquele momento. Não se trata também de uma ideologia, apesar de
comportar um conjunto de ideias. “De facto, trata-se de uma nova programação da
governamentalidade liberal. Uma re-organização interna que, mais uma vez, não coloca
ao Estado a questão: que liberdade vais deixar à economia? Mas pergunta à economia:
como é que a tua liberdade vai poder ter uma funçnao e um papel de estatização, no
sentido em que isso permitirá fundar efetivamente a legitimidade de um Estado?” (p. 126-
127).
Além destes autores, podemos citar os igualmente importantes: Ludwig Von Misses e
Frederich Von Hayek, ambos formam o que se convencionou chamar de Escola
Austríaca, de concepção ultra liberal. Hayek irá morar em Londres e nos Eua, dando aula
na Universidade de Chicago, sendo um dos maiores influenciadores do neoliberalismo
norte-americano (anarco-capitalista).
-“Enfim, falo de Max Weber, que serve de ponto de partida a ambas as escolas e do qual
se pode dizer, para esquematizar de forma drástica a sua posição, que funiona no início
do século XX, na Alemanha, como aquele que inverteu o problema de Marx. Se Marx
tentou definidr e analisar aquilo a que se poderia chamar a lógica contraditória do capital,
o problema de Max Weber, que ele introduziu simultaneamente na reflexão sociológica,
na reflexão econômica e na reflexão política alemã, não é tanto o da lógica contraditória
do capital, antes o problema da racionalidade irracional da sociedade capitalista. Esta
passagem do capital ao capitalismo, da lógica da contradição à divisão do racional e do
irracional, é, mais uma vez de forma esquemática, aquilo que caracteriza o problema de
Max Weber. E podemos dizer, de uma forma geral, que tanto a Escola de Frankfurt como
a Escola de Freiburg, tanto Horkheimer como Eucken, retomaram este problema
simplesmente em dois sentidos diferentes, em duas direções diferentes, porque, mais uma
vez esquematicamente, o problema da Escola de Frankfurt consistia em determinar qual
seria a nova racionalidade social que poderia ser definida e formada de maneira a anular
a irracionalidade econômica. Por outro lado, a decifração desta racionalidade irracional,
que era também o problema da Escola de Freiburg, será abordada de outra maneira por
pessoas como eucken, Röpke, etc. Não se tratava de encontrar, inventar, definir a nova
racionalidade social, mas sim de definir, ou redefinir, reencontrar a racionalidade
econômica que vai permitir anular a irracionalidade social do capitalismo. Temos então
duas vias opostas para resolver o mesmo problema.” (FOUCAULT, 2018, p. 143-144)
“Por último, a existência do partido e toda a legislação que regia as relações entre o
aparelho administrativo e o partido entregava grande parte da autoridade ao partido em
detrimento do Estado. A destruição sistemática do Estado, em todo o caso a sua
minorização a título de puro e simples instrumento de algo que era a comunidade do
povo, que era o princípio do Führer, que era a existência do partido, [ minorização] do
Estado marca bem a posição subordinada que este detinha.” ( FOUCAULT, 2018, p.
150).
- A utilização dos críticos nazi-fascistas ao modelo liberal e capitalista como golpe teórico.
“O nazismo, em primeiro lugar, tinha a ver com uma invariante econômica indiferente e
como que impermeável à oposição socialismo e capitalismo e à organização constitucional
dos Estados; em segundo lugar, acreditaram poder estabelecer que esse nacional-
socialismo era uma invariante que estava absolutamente ligada, simultaneamente como
causa e como efeito, ao crescimento infinito de um poder de Estado; em terceiro, que essa
invariante ligada ao crescimento do Estado tinha por efeito principal, primeiro e visível
uma destruição da rede, do tecido da comunidade social, destruição que precisamente
apela, por uma espécie de reação em cadeia, a um protecionismo, a uma economia
dirigida e a um crescimento do poder do Estado.” (p. 152)
“Por outras palavras, em vez de se aceitar uma liberdade de mercado, definida pelo estado
e mantida sob vigilância estatal – o que era, de certa maneira, a fórmula de partida do
liberalismo: estabeleçamos um espaço de liberdade econômica, limitemo-lo e deixemos
que seja limitado por um Estado que o vigiará – dizem os ordo liberais, é preciso inverter
absolutamente a fórmula e afirmar a liberdade de mercado como um princípio
organizador e regulador do Esstado, desde o início da sua existência até à última forma
das suas intervenções. Ou seja, um Estado sob vigilância do mercado e não um mercado
sob vigilância do Estado. Creio que é aqui, nesta espécie de inversão que só foi possível,
para os ordoliberais, a partir da análise que fizeram do nazismo”( p. 154-155)
“Só pode ser o resultado de um longo esforço, e na verdade a concorrência pira nunca
será alcançada. A concorrência pura deve ser apenas um objetivo, um objetivo que
pressupõe, por isso, uma política infinitamente ativa. A concorrência, portanto, é um
objetivo histórico da arte governamental, não é um dado natural que se deva respeitar.”(p.
158- 159).
- Governamentalidade e “laissez-faire”.
1. A Questão do Monopólio:
a) As ações reguladoras
b) As Ações Ordenadoras
“O governo, é algo que se percebe, pois estamos num regime liberal – não deve intervir
nos efeitos do mercado. Também não deve – e é isto que distingue o neoliberalismo das
políticas de bem-estar ou das que conhecemos [ dos anos 20 aos anos 60] – o
neoliberalismo, o governo liberal não tem de corrigir os efeitos destrutivos do mercado
sobre a sociedade. Não tem de constituir, de certa forma, um contraponto ou uma
barreira entre a sociedade e os processos econômicos. Deve intervir na própria sociedade,
no seu tecido e na sua espessura. Deve intervir e é nissto que a sua intervenção vai permitir
aquilo que é o seu objetivo, ou seja, a constituição de um regulador de mercado geral
sobre a sociedade – nessa sociedade para que os mecanismos concorrenciais, em cada
momento e em cada ponto da espessura social, possam desempenhar o papel de
reguladores. Será então um governo não econômico, mas como aquele com que
sonhavam os fisiocratas, ou seja, o governo só tem de reconhecer e observar as leis
econômicas; não é um governo econômico, mas sim um governo de sociedade (...) em
todo caso, é um governo de sociedade, é uma política de sociedade que os neoliberais
querem fazer – Gesellschaftspolitik – É uma política de sociedade.” ( p. 189 – 190)
“Não é a sociedade mercantil que está em jogo nesta nova arte de governar. Não é isso
que se pretende constituir. A sociedade regulada pelo mercado em que pensam os
neoliberais é uma sociedade na qual o que deve constituir o princípio regulador não é
tanto a troca das mercadorias, antes os mecanismos de concorrência. São esses
mecanismos que devem ter a maior superfície e espessura possíveis, que devem também
ocupar o maior volume possível na sociedade. Ou seja, aquilo que se procura obter não
é uma sociedade sujeita ao efeito-mercadoria, mas sim uma sociedade sujeita à dinâmica
concorrencial. Não uma sociedade de supermercado, mas uma sociedade de empresa. O
homo economicus que se pretende reconstruir não é o homem da troca, não é o homem
consumidor; é o homem da empresa e da produção.”( p. 191)
“É esta multiplicação da forma empresa no interior do corpo social que constitui, ao meu
ver, a questão da política neoliberal. Trata-se de fazer do mercado, da concorrência e,
por conseguinte, da empresa aquilo a que se poderia chamar de o poder formador da
sociedade (...) A arte de governar programada nos anos 30 pelos ordoliberais e que se
tornou agora a programação da maioria dos governos nos países capitalistas, não
pretende de todo a constituição desse tipo de sociedade. Trata-se, pelo contrário, de
constituir uma sociedade indexada não à mercadoria nem à uniformidade da mercadoria,
mas a multiplicidade e à diferenciação das empresas. “( p. 193)