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LIÇÃO DE 24 DE JANEIRO DE 1979

Proposta do capítulo: abordar a questão do “equilíbrio europeu”, como limitação à razão


de estado e o âmbito do “espaço internacional no liberalismo”

- A questão do “equilíbrio europeu”e do Estado Policial


Pacto de Vestefália
Mercantilismo: a concorrência enquanto um jogo econômico enquanto um jogo
de soma nula.

- Nova razão governamental que se delimita a partir do Sec. XVIII.


Livre comércio e o preço natural (p. 83)
Nova noção de concorrência: mecanismo de enriquecimento mútuo (p. 84).
Possibilidade de um enriquecimento regional sem limites. (p.84)
O desenho de uma nova idéia de Europa: Europa enquanto bloco econômico
(sujeito coletivo) (p. 84).
Idéia de um “Progresso Europeu”: tema fundamental do liberalismo.( p. 84)
Este progresso (enriquecimento mútuo) da Europa dependerá da globalização do
mercado
Globalização do mercado: garantia de um enriquecimento mútuo e ilimitado.
Importante citação no final do primeiro parágrafo da pag. 85
Ler trecho do segundo parágrafo da página 85 e primeiro da página 86.

- Um dos elementos fundamentais dessa nova arte de governar será o surgimento de um


novo tipo de cálculo planetário na prática governamental europeia.

- Comentar sobre a importância dos tratados internacionais na definição da racionalidade


governamental que organizou o mundo a partir da racionalidade europeia.

- A questão da “paz perpétua” passa a ser garantida pela adoção do mercado, no âmbito
internacional, como lugar de veridicção. “Quando maior for o mercao externo, menos
haverá fronteiras e limites, mais haverá a garantia da paz perpétua” (p. 87).
- A resposta kantiana para o problema da paz perpétua. (p. 87)
A idéia de princípios jurídicos originados da natureza (direito civil).
A questão da natureza em kant e nos fisiocratas.
A atividade econômica é uma prescrição natural, bem como os direitos de
propriedade, bem como os outros direitos civis baseados na relação de troca.
O edifício jurídico moderno (direito civil e direito internacional) são prescrições
da natureza, e a paz perpétua somente será alcançada pela obediência de seus princípios
jurídicos (mundialização do mercado) (ler final do primeiro parágrafo da página 88).

- Foucault acredita estar diante de um “novo cálculo político de escala internacional”.

- No terceiro parágrafo da página 91, ele resume os três aspectos que utilizou para definir
o que chama de “liberalismo”, a saber, a verdicção do mercado, limitação(interna) da
razão de estado pelo cálculo da utilidade governamental e a posição da Europa enquanto
região de desenvolvimento econômico ilimitado, concomitante com a mundialização do
mercado europeu.

O argumento Foucaultiano para o uso da expressão “Liberalismo”para


denominar esta nova arte de governar ( ou a especificidade do uso do termo
“liberalismo”na obra O nascimento da biopolítica de Michel Foucault).

- Ao final da página 91 e por toda a página 92, Foucault explica porque chama tais
predicados pela rubrica de “liberalismo”

“respeitar esses mecanismos não significa que vá se dotar de uma estrutura jurídica que
respeite as liberdades individuais e os direitos fundamentais dos indivíduos. Significa
apenas eu vai dotar a sua política de um conhecimento rigoroso, contínuo, claro e distinto
sobre o que se passou na sociedade, sobre o que se passou no mercado, sobre o que se
passa nos circuitos econômicos, de modo que a limitação do seu poder não será dada pelo
respeito da liberdade dos indivíduos, mas simplesmente pela evidência da análise
econômica que souber respeitar. Limita-se pela evidência e não pela liberdade dos
indivíduos.”(FOUCAULT, 2018, p. 92).
“Se uso o termo “liberal” é, desde logo, porque esta prática governamental emergente
não se limita a respeitar esta ou aquela liberdade, a garantir esta ou aquela liberdade. De
forma mais profunda, é consumidora de liberdade. É consumidora de liberdade na
medida em que só pode funcionar se houver determinadas liberdades: liberdade do
mercado, liberdade do vendedor e do comprador, livre exercício do direito de
propriedade, liberdade de discussão, eventualmente liberdade de expressão. A nova razão
governamental precisa então de liberdade, a nova arte governamental consome
liberdade. Por consumir liberdade, é obrigada a produzí-la. Se é obrigada a produzí-la, é
obrigada a organizá-la. A nova arte governamental vai então apresentar-se como gestora
da liberdade, não no sentido imperativo “sê livre”, com a contradição imediata que este
imperativo pode implicar. Não é o “sê livre”que o liberalismo formula. O liberalismo
formula simplesmente isto: vou produzir-te algo com o qual se pode ser livre. Vou fazer
com que sejas livre de ser livre.”(FOUCAULT, 2018, p. 94)

- Dessa forma, o liberalismo seria caracterizado como uma arte de governar implicada,
necessariamente, na organização e gestão da liberdade, e na relação de
produção/destruição da liberdade.

- A necessidade de se produzir a liberdade, leva ao aparecimento de uma numerosa


legislação, bem como intervenções governamentais, como consequência de seu desiderato
(comparação com os reflexos impensados da ação social em Weber).

- A liberdade, sob o regime do liberalismo, não é um dado previamente existente, ou pelo


menos, não possui uma existência completa.

- A relação de equacionamento entre o exercício dos interesses individuais com o interesse


coletivo.
- “Liberdade e segurança é o que, de certo modo, vai animar do interior os problemas
daquilo a que eu chamaria a economia de poder específica do liberalismo”
(FOUCAULT, 2018, p. 96).

- O liberalismo é uma arte de governar que manipula interesses;


“pode dizer-se que, no fundo, a divisa do liberalismo é “viver perigosamente”. Significa
isto que os indivíduos são perpetuamente postos em situação de perigo, ou que são
condicionados a ver a sua situação, a sua vida, o seu presente, o seu futuro como
envolvendo o perigo. E é esta espécie de estímulo do perigo que vai ser, penso eu, uma
das principais implicações do liberalismo. “(FOUCAULT, 2018, p. 96).

- Foucault sustentará que o “estímulo do medo” será o correlativo psicológico e cultural


do liberalismo.

- Além disso, Foucault destaca o crescimento dos processos de controle e de


condionamentos sociais, como contrapeso às liberdades existentes no âmbito do
liberalismo.

- A vigilância é o elemento fundamental utilizado pela arte de governar liberal.

- A terceira característica da arte liberal de governar é que os mecanismos responsáveis


por criar e regular a liberdade, acabam por produzir mais e mais intervenções.

- Foucault coloca, ao final da lição, a questão de haver uma relação entre as crises do
capitalismo com as crises da governamentalidade liberal.
LIÇÃO DE 31 DE JANEIRO DE 1979

- Foucault se propõe a estudar um fenômeno moderno que ele nomeia de “fobia de


estado”e suas implicações na governamentalidade liberal.

- Para Foucault, a fobia de estado representa sintoma das crises na governamentalidade


liberal (tiranias, despotismo, autoritarismo etc.)

- O uso do termo “governamentalidades”.

- O Estado para Foucault.

- A análise de como essa governamentalidade liberal se apresenta no século XX: As


experiências alemã e norte americana.

- A experiência neoliberal na (re) fundação do Estado Alemão.


Foi construído em contraposição ao regime político-econômico de reconstrução
da economia alemã no pós guerra.
Conselho Científico Alemão (1948).
Discurso de Ludwig Erhard
A questão da legitimidade democrática
A frase possuía uma “incidência retrospectiva”
Abertura econômica alemã no pós-guerra.

- A Soberania econômica alemã.


Necessidade de um “consenso permanente”

“Significa que a adesão a este sistema liberal produz, além da legitimação jurídica, o
consenso, o consenso permanente, e é o crescimento econômico, é a produção de bem-
estar devido a este crescimento que, simetricamente à genealogia instituição econômica –
Estado, vai produzir um circuito instituição econômica – adesão global da população ao
seu regime e ao seu sistema”(FOUCAULT, 2018, p. 117).

- A política de bem-estar alemã.


- Análise comparativa com Max Weber.

- A manutenção do poder de compra, equilíbrio fiscal e inflação controlada, “reforçam


incessantemente o consenso fundador de um Estado” (FOUCAULT, 2018, p.118), cujo
direito não mais legitima.

- O liberalismo enquanto cultura econômica legitimadora do Estado.

- A Alemanha: um estado “radicalmente” econômico.

- A questão dos partidos políticos de esquerda na Alemanha.

- O que seria, portanto, esse neoliberalismo alemão? Não é um apenas um cálculo político
criado pelos alemães no pós-guerra, criado e orientado pura e simplesmente pelas
circunstâncias daquele momento. Não se trata também de uma ideologia, apesar de
comportar um conjunto de ideias. “De facto, trata-se de uma nova programação da
governamentalidade liberal. Uma re-organização interna que, mais uma vez, não coloca
ao Estado a questão: que liberdade vais deixar à economia? Mas pergunta à economia:
como é que a tua liberdade vai poder ter uma funçnao e um papel de estatização, no
sentido em que isso permitirá fundar efetivamente a legitimidade de um Estado?” (p. 126-
127).

LIÇÃO DE 7 DE FEVEREITO DE 1979

- Reelaboração do liberalismo enquanto doutrina de governo.

- “Quem eram essas pessoas?”(p. 141)

- Walter Eucken (economista).


Aluno de Alfred Weber (irmão de Max Weber).
Influenciado pelo contato direto com Husserl, adotando em grande parte os
elementos de sua fenomenologia.
Professor de Economia na Universidade de Freiburg
Trabalhou em conjunto com juristas alemães do inicio do sex XX, na superação
da concepção historicista do direito, bem como da concepção formalista kelsiana.
Escreverá importantes artigos em oposição à aplicação dos métodos keynesianos
na resolução da crise econômica alemã de 1933.
Criará uma importante revista alemã para a divulgação do pensamento neoliberal
(revista Ordo). Em torno desta revista, constituirá uma equipe de economistas que será
chamada de “Escola de Freiburg”ou “Ordoliberais”.
1940 – Teve como grande influência a publicação do livro Grundlagen der
Nationalölonomie.
Será conselheiro de Erhard, junto à comissão científica para assuntos econômicos.

- Franz Böhm (Jurista)


Membro da escola de Freiburg.
Discípulo de Husserl. Adotará a fenomenologia em sua teoria jurídica.
Ocupará o cargo de deputado no Bundestag, até os anos 70. Sendo responsável
pela influência na consolidação da política econômica neoliberal na Alemanha.

- Müller-Armack (historiador econômico)


Professor de história da economia na Universidade de Freiburg
Em 1941 escreverá o livro “Genealogia do Estílo Econômico”.
Será secretário de Estado durante o tempo em que Ludwig Erhard foi ministro da
economia.

Além destes autores, podemos citar os igualmente importantes: Ludwig Von Misses e
Frederich Von Hayek, ambos formam o que se convencionou chamar de Escola
Austríaca, de concepção ultra liberal. Hayek irá morar em Londres e nos Eua, dando aula
na Universidade de Chicago, sendo um dos maiores influenciadores do neoliberalismo
norte-americano (anarco-capitalista).

- A questão da legitimidade do Estado Alemão.


- Weberianismo e Escola de Frankfurt.

-“Enfim, falo de Max Weber, que serve de ponto de partida a ambas as escolas e do qual
se pode dizer, para esquematizar de forma drástica a sua posição, que funiona no início
do século XX, na Alemanha, como aquele que inverteu o problema de Marx. Se Marx
tentou definidr e analisar aquilo a que se poderia chamar a lógica contraditória do capital,
o problema de Max Weber, que ele introduziu simultaneamente na reflexão sociológica,
na reflexão econômica e na reflexão política alemã, não é tanto o da lógica contraditória
do capital, antes o problema da racionalidade irracional da sociedade capitalista. Esta
passagem do capital ao capitalismo, da lógica da contradição à divisão do racional e do
irracional, é, mais uma vez de forma esquemática, aquilo que caracteriza o problema de
Max Weber. E podemos dizer, de uma forma geral, que tanto a Escola de Frankfurt como
a Escola de Freiburg, tanto Horkheimer como Eucken, retomaram este problema
simplesmente em dois sentidos diferentes, em duas direções diferentes, porque, mais uma
vez esquematicamente, o problema da Escola de Frankfurt consistia em determinar qual
seria a nova racionalidade social que poderia ser definida e formada de maneira a anular
a irracionalidade econômica. Por outro lado, a decifração desta racionalidade irracional,
que era também o problema da Escola de Freiburg, será abordada de outra maneira por
pessoas como eucken, Röpke, etc. Não se tratava de encontrar, inventar, definir a nova
racionalidade social, mas sim de definir, ou redefinir, reencontrar a racionalidade
econômica que vai permitir anular a irracionalidade social do capitalismo. Temos então
duas vias opostas para resolver o mesmo problema.” (FOUCAULT, 2018, p. 143-144)

- A centralidade da experiência do “Nazismo” dentro da teoria neoliberal.

- Os obstáculos à consolidação política do neoliberalismo alemão.

- A saída: o nazismo enquanto experiência econômica estatizante (golpe teórico ou


analítico).

- A visão de Foucault sobre o nazismo.

“Por último, a existência do partido e toda a legislação que regia as relações entre o
aparelho administrativo e o partido entregava grande parte da autoridade ao partido em
detrimento do Estado. A destruição sistemática do Estado, em todo o caso a sua
minorização a título de puro e simples instrumento de algo que era a comunidade do
povo, que era o princípio do Führer, que era a existência do partido, [ minorização] do
Estado marca bem a posição subordinada que este detinha.” ( FOUCAULT, 2018, p.
150).

- A utilização dos críticos nazi-fascistas ao modelo liberal e capitalista como golpe teórico.

“O nazismo, em primeiro lugar, tinha a ver com uma invariante econômica indiferente e
como que impermeável à oposição socialismo e capitalismo e à organização constitucional
dos Estados; em segundo lugar, acreditaram poder estabelecer que esse nacional-
socialismo era uma invariante que estava absolutamente ligada, simultaneamente como
causa e como efeito, ao crescimento infinito de um poder de Estado; em terceiro, que essa
invariante ligada ao crescimento do Estado tinha por efeito principal, primeiro e visível
uma destruição da rede, do tecido da comunidade social, destruição que precisamente
apela, por uma espécie de reação em cadeia, a um protecionismo, a uma economia
dirigida e a um crescimento do poder do Estado.” (p. 152)

- Neoliberalismo, liberalismo, racionalidade e o desvirtuamento da sociedade de mercado.

- O mercado vigia o Estado:

“Por outras palavras, em vez de se aceitar uma liberdade de mercado, definida pelo estado
e mantida sob vigilância estatal – o que era, de certa maneira, a fórmula de partida do
liberalismo: estabeleçamos um espaço de liberdade econômica, limitemo-lo e deixemos
que seja limitado por um Estado que o vigiará – dizem os ordo liberais, é preciso inverter
absolutamente a fórmula e afirmar a liberdade de mercado como um princípio
organizador e regulador do Esstado, desde o início da sua existência até à última forma
das suas intervenções. Ou seja, um Estado sob vigilância do mercado e não um mercado
sob vigilância do Estado. Creio que é aqui, nesta espécie de inversão que só foi possível,
para os ordoliberais, a partir da análise que fizeram do nazismo”( p. 154-155)

- Principais diferenças entre o liberalismo e o neoliberalismo: neoliberais tiveram de


realizar mudanças e atualizações nas concepções liberais originais. Na visão de Foucault,
essas mudanças se devem, principalmente, pela influência da fenomenologia de Husserl.
- “A concorrência não deve seus efeitos benéficos a uma anterioridade natural, a um dado
natural que possuiria. Deve-os a um privilégio formal. A concorrência é uma essência. A
concorrência é um eidos. A concorrência é um princípio de formalização. A concorrência
tem uma lógica interna, tem a sua própria estrutura. Os seus efeitos só se produzem na
condição de que essa lógica seja respeitada. É, de certa maneira, um jogo formal entre
desigualdades. Não é um jogo natural entre indivíduos e comportamentos. (p. 158)

“Só pode ser o resultado de um longo esforço, e na verdade a concorrência pira nunca
será alcançada. A concorrência pura deve ser apenas um objetivo, um objetivo que
pressupõe, por isso, uma política infinitamente ativa. A concorrência, portanto, é um
objetivo histórico da arte governamental, não é um dado natural que se deva respeitar.”(p.
158- 159).

- Ponto de Conclusão do capítulo.

“O governo deve acompanhar de uma ponta à outra a economia de mercado. A


economia de mercado nada retira ao governo. Pelo contrário, indica, constitui o índice
geral sob o qual se deve estabelecer a regra que vai definir todas as ações governamentais.
Deve-se governar para o mercado e não governar por causa do mercado. E nesta medida,
vemos que a relação definida pelo liberalismo no século XVIII é totalmente invertida.”(
p. 159).

LIÇÃO DE 14 DE FEVEREIRO DE 1979

- Neoliberalismo enquanto reinvenção do liberalismo.

“O problema do neoliberalismo consiste, pelo contrário, e saber como se pode reger o


exercício global do poder político segundo os princípios de uma economia de mercado.
Não se trata, então, de libertar um espaço vazio, mas sim de juntar, referir, projetar numa
arte geral de governar os princípios formais de uma economia de mercado (...) para saber
até que ponto e em que medida os princípios formais de uma economia de mercado
podem indexar uma arte liberal de governar, os neoliberais foram obrigados a proceder
a algumas transformações no liberalismo clássico.”( p. 175)

- Governamentalidade e “laissez-faire”.

- A importância do “Colóquio Walter Lippmann”.

- Na sua busca de descrever o estilo da ação governamental neoliberal, Foucault se apoia


em três elementos distintivos para com o liberalismo, a saber: o trato dos monopólios; a
ideia de uma ação econômica conforme e a questão da política social.

1. A Questão do Monopólio:

2. A Questão das Ações Econômicas Conformes:

a) As ações reguladoras
b) As Ações Ordenadoras

3. A Questão da Política Social.

- A questão essencial sobre a governamentalidade neoliberal

“O governo, é algo que se percebe, pois estamos num regime liberal – não deve intervir
nos efeitos do mercado. Também não deve – e é isto que distingue o neoliberalismo das
políticas de bem-estar ou das que conhecemos [ dos anos 20 aos anos 60] – o
neoliberalismo, o governo liberal não tem de corrigir os efeitos destrutivos do mercado
sobre a sociedade. Não tem de constituir, de certa forma, um contraponto ou uma
barreira entre a sociedade e os processos econômicos. Deve intervir na própria sociedade,
no seu tecido e na sua espessura. Deve intervir e é nissto que a sua intervenção vai permitir
aquilo que é o seu objetivo, ou seja, a constituição de um regulador de mercado geral
sobre a sociedade – nessa sociedade para que os mecanismos concorrenciais, em cada
momento e em cada ponto da espessura social, possam desempenhar o papel de
reguladores. Será então um governo não econômico, mas como aquele com que
sonhavam os fisiocratas, ou seja, o governo só tem de reconhecer e observar as leis
econômicas; não é um governo econômico, mas sim um governo de sociedade (...) em
todo caso, é um governo de sociedade, é uma política de sociedade que os neoliberais
querem fazer – Gesellschaftspolitik – É uma política de sociedade.” ( p. 189 – 190)

“Não é a sociedade mercantil que está em jogo nesta nova arte de governar. Não é isso
que se pretende constituir. A sociedade regulada pelo mercado em que pensam os
neoliberais é uma sociedade na qual o que deve constituir o princípio regulador não é
tanto a troca das mercadorias, antes os mecanismos de concorrência. São esses
mecanismos que devem ter a maior superfície e espessura possíveis, que devem também
ocupar o maior volume possível na sociedade. Ou seja, aquilo que se procura obter não
é uma sociedade sujeita ao efeito-mercadoria, mas sim uma sociedade sujeita à dinâmica
concorrencial. Não uma sociedade de supermercado, mas uma sociedade de empresa. O
homo economicus que se pretende reconstruir não é o homem da troca, não é o homem
consumidor; é o homem da empresa e da produção.”( p. 191)

“É esta multiplicação da forma empresa no interior do corpo social que constitui, ao meu
ver, a questão da política neoliberal. Trata-se de fazer do mercado, da concorrência e,
por conseguinte, da empresa aquilo a que se poderia chamar de o poder formador da
sociedade (...) A arte de governar programada nos anos 30 pelos ordoliberais e que se
tornou agora a programação da maioria dos governos nos países capitalistas, não
pretende de todo a constituição desse tipo de sociedade. Trata-se, pelo contrário, de
constituir uma sociedade indexada não à mercadoria nem à uniformidade da mercadoria,
mas a multiplicidade e à diferenciação das empresas. “( p. 193)

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