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PODER JUDICIÁRIO

FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE


MARINGÁ – 6ª SEÇÃO JUDICIÁRIA

Autos nº 9423-12.2020.8.16.0017

DECISÃO INICIAL

1. Trata-se de Ação Revisional c/c Pedido de Liminar em


que os requerentes narram, em síntese, que formalizaram contrato de
ensino escolar com a parte ré, no entanto, em razão do fechamento
das escolas pela pandemia pelo Covid, o contrato não tem sido
executado da forma como contratado, especialmente em relação ao
autor Diderot, que possui Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade severo. Ressaltaram, ainda, que o sistema
disponibilizado pela escola não é satisfatório, bem como os horários do
ensino têm sido irregulares, o que dificulta a realização das aulas.
Ainda para fundamentar o pedido, arguiram que também foram
atingidos economicamente pelo infortúnio causado pela pandemia, o
que reforça a necessidade de concessão da medida liminar. Desta
forma, pugnaram pela redução de 30% (trinta por cento) na
mensalidade da primeira requerente e redução de 70% (setenta por
cento) na mensalidade do segundo requerente, bem como a suspensão
da cobrança das atividades extracurriculares ou, subsidiariamente,
pela concessão de tutela de evidência, nos moldes do artigo 311, inciso
IV, do Código de Processo Civil, a fim de determinar a redução das
mensalidades nas proporções acima mencionadas e suspender a
cobrança das atividades extracurriculares.

2. De acordo com a redação do art. 300 do Código de


Processo Civil, para a concessão da tutela de urgência, é necessária a
verificação da probabilidade do direito alegado e do perigo de dano ou
o risco ao resultado útil do processo.

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3. Contudo, analisando os fatos e documentos acostados


aos autos, esclareço que referido pedido de tutela de urgência deve
ser INDEFERIDO, haja vista que não se encontram presentes os
requisitos autorizadores, conforme estipula o art. 300 do Código de
Processo Civil.

4. É fato notório que o novo Coronavírus1 (SARS-COVID-


19) foi classificado como pandemia pela Organização Mundial da
Saúde, o que ensejou uma série de medidas e políticas públicas para a
contenção do contágio, dentre elas, o isolamento social. Tal
circunstância indubitavelmente ensejou não só um
redimensionamento das atividades mais comezinhas quotidianas como
também afetou as relações contratuais, sobretudo aquelas de trato
contínuo.

5. Em todo caso, toda a humanidade está, no momento,


inserida dentro de uma vertente de acontecimentos sem precedentes,
cujas consequências somente poderão ser adequadamente aferidas
futuramente. Com isso se quer dizer que tudo ainda é muito recente e
não é possível afirmar até quando o presente momento de exceção
perdurará.

6. Analisando a inicial, é possível verificar que a própria


parte autora admite que a demandada tem envidado esforços com o
objetivo de se adaptar à nova realidade imposta pela pandemia.

1
La COVID-19 es una enfermedad respiratoria aguda causada por
un nuevo coronavirus humano (SARS-CoV-2, también conocido como virus COVID-
19), que provoca una mayor mortalidad en mayores de 60 años y en personas con
afecciones previas como enfermedades cardiovasculares, enfermedades
respiratorias crónicas, diabetes o cáncer. (Prevención y control de infecciones en los
centros de atención de larga estancia en el contexto de la COVID-19. Organização
Mundial da Saúde. Acessado em 07/05/2020.
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/331643/WHO-2019-nCoV-
IPC_long_term_care-2020.1-spa.pdf

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Impossível exigir o cumprimento do contrato mediante suas bases


originárias dentro de um cenário de isolamento social. A ministração
de aulas “on line” por videoconferência não motivada por ato unilateral
da escola e certamente não representa o cenário ideal para educação
infantil. Entretanto, as circunstâncias atuais impõem medidas para
continuidade do ensino.

7. Se o ensino está ou não sendo satisfatório e se a


plataforma disponibilizada apresenta falhas, trata-se de questão que
não está devidamente demonstrada e não pode ser avaliada no
presente momento processual.

8. Portanto, dentro de um contexto sumário de cognição,


inviável a redução das mensalidades nas proporções sugeridas na
inicial. Os serviços educacionais, aparentemente não estão sendo
sonegados, como afirma a parte autora, mas estão sendo prestados,
dentro das restrições impostas não só à parte autora ou à parte ré, mas
a todos os seres humanos.

9. No que diz respeito aos serviços educacionais


extracurriculares, como, por exemplo, as oficinas e robótica, tem razão
a parte autora quando sustenta a impossibilidade de sua ministração
“on line”. Acontece que, no presente momento processual, não é
possível simplesmente afirmar que elas simplesmente não serão
oferecidas pela ré.

10. Os documentos de mov. 1.9 e 1.10 demonstram que


as aulas extracurriculares são cobradas por anuidade dividida em 12
parcelas. Ou seja, a entidade de ensino tem a sua disposição o ano de
2020 inteiro para reequilibrar o calendário escolar, ainda que isso
implique aulas em finais de semana, por exemplo. Enfim, é cedo para

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afirmar que as aulas extracurriculares deixarão de ser prestadas dentro


da carga horária contratada.

11. Assim, por ora e diante de uma análise sumária de


cognição, é prudente manter o instrumento escolar da forma como
contratado, ainda que sua execução esteja de forma
diversa, especialmente considerando que a instituição de ensino tem
tomado medidas para manter as atividades escolares de forma on-line,
o que também gera diversos custos e adaptações, privilegiando, desta
forma, o princípio da boa-fé objetiva e dos deveres de solidariedade e
cooperação dos contratantes e, ainda, dos litigantes.

12. É de se ressaltar, ainda, que não é possível precisar,


neste momento, sem a análise de fatores específicos e sem saber o
tempo em que será mantido o fechamento escolar, o que demandará
maior dilação probatória, quais despesas diminuíram para a instituição
de ensino e qual o impacto disso na mensalidade escolar, observando-
se que a manutenção regular das suas atividades garante a
empregabilidade, inclusive.

13. A necessidade de serem ministradas aulas “on line”


não é culpa da demandada e a suposta má qualidade da plataforma
não está demonstrada com clareza. As aulas extracurriculares, embora
demandem que o ensino seja presencial, ainda podem ser prestadas
ao longo de 2020 caso a suspensão do isolamento social seja suprimida
ou revogada em tempo hábil.

12. O fato de um dos autores ser portador de


necessidades especiais que demanda outro modelo de ensino, não
pode tampouco ser imputado à requerida, porque estas circunstâncias
já existiam antes mesmo da pandemia. Em todo caso, os percentuais
de redução propostos são aleatórios e unilaterais.

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13. Desta forma, nos termos da fundamentação supra,


INDEFIRO a medida liminar, bem como a tutela provisória, seja a título
de urgência, seja a título de evidência.

14. No mais, estando aparentemente em ordem e não


sendo o caso de indeferimento liminar, recebo a petição inicial.

15. O art. 334 do Código de Processo Civil dispõe que,


recebida a inicial, deveria ser a parte requerida citada para comparecer
à audiência de conciliação ou mediação, disciplinando o §4º do mesmo
dispositivo que a audiência apenas não se realizaria se ambas as partes
manifestarem, expressamente, desinteresse ou quando não for
admitida a autocomposição.

16. Entretanto, é necessário interpretar referidos


preceptivos à luz do art. 5º, inciso LXXVIII da Constituição, que
preconiza ser direito fundamental de todos a razoável duração do
processo e dos meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

17. Isso em razão do contido no Ofício Circular nº 4/2020


do Gabinete do Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do
Paraná, que determinou a suspensão das audiências em feitos que
versem sobre direitos patrimoniais disponíveis, bem como tendo em
vista a Portaria nº 24/2020 da Secretaria da Direção do Foro Central de
Maringá que suspendeu as audiências que impliquem em presença
física de pessoas no prédio do fórum em razão da classificação pela
Organização Mundial de Saúde, no dia 11/03/20, de que o recente surto
do Coronavírus (COVID-19) consiste em pandemia, determino o
cancelamento da audiência de instrução anteriormente agendada.

18. Portanto, excepcionalmente, enquanto forem


mantidas as determinações previstas no Ofício Circular nº 4/2020 e na

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Portaria nº 24/2020 da Secretaria da Direção, a fim de garantir a


razoável duração do processo, e independentemente da manifestação
de interesse das partes, deixo de designar audiência de conciliação e
mediação no presente caso

19. Ressalto, por fim, que tal postura não significa que
as partes não devam extrajudicialmente buscar uma solução
consensual para o litígio.

20. Considerando que o polo ativo é formado por


menores, intime-se o Ministério Público.

21. Ainda, cite(m)-se, preferencialmente por meio


eletrônico, nos termos do art. 246, inciso V do Código de Processo CIvil,
ou, não sendo viável, na forma postulada na inicial, para apresentação
de resposta no prazo de quinze dias úteis (art. 335, inciso III, do Código
de Processo Civil.

22. Deverá ser advertida a parte requerida de que


deverá na contestação alegar toda a matéria de defesa possível,
inclusive no que diz respeito a questões de ordem pública, e que a falta
de contestação implicará na presunção de veracidade dos fatos
afirmados pela parte autora (arts. 341 e 344 do Código de Processo
Civil).

23. Deverá também ser ressalvado que na hipótese de


oferecimento de reconvenção, tratando-se de exercício de direito de
ação, deverão ser observados, no que couber os requisitos do art. 319
e 320 do Código de Processo Civil, sobretudo no que diz respeito à
especificação e delimitação dos pedidos e causa de pedir e valor da
causa. Ressalte-se que o teor do art. 343 do Código de Processo Civil
não autoriza a manifestação de mero pedido contraposto, sem

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observância dos demais requisitos da petição inicial. No caso de


oferecimento de reconvenção, deverão os autos virem conclusos antes
de intimação para réplica.

25. Apresentada a contestação (e não sendo o caso de


observância do item 7), intime a parte autora para replicar, em 15
(quinze) dias úteis (arts. 350 e 351 do Código de Processo Civil), sendo
que na hipótese de alegação de ilegitimidade passiva, deverá ser
observada a prerrogativa prevista nos arts. 338 e 339, ambos do
Código de Processo Civil.

26. Na sequência, deverão as partes ser intimadas para


especificação das provas que pretendem produzir no prazo comum de
10 (dez) dias úteis, justificando-as.

27. Após, deverá ser aberta vista ao Ministério Público.

28. Depois, venham conclusos para decisão de


saneamento (art. 357 do Código de Processo Civil) ou julgamento
antecipado, ainda que parcial, do mérito (arts. 355 e 356 do Novo
Código de Processo Civil).

Intimações e diligências necessárias.

Maringá – PR, quinta-feira, 7 de maio de 2020.

PEDRO RODERJAN REZENDE


Juiz de Direito Substituto

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