Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Escapo
na aterrissagem do olho sobre a nuca
que se insinua feito palavra lânguida
eu penso, me chupa
me lambe, lambe a lambida minha
encharca comigo
o ouvido
e esses verbos absurdos de prazer
que dançam e dançam
nus sobre a pele aquecida
abre a boca
pra que eu penetre
com poesia fervida
que me escorre pelo pescoço
feito soluço
ritmado - um ah! ah!
sorria agora, mostre os dentes
se abra, me abro
e assista
eles tocam-se
despretensiosamente coléricos
com mil tentáculos
escapo
o olho entorpecido
se fecha, se abre
umedecido
segue o fluxo dos risos
estou fora de mim
e finjo controlar o magma
transbordando
entre as coxas
entrelinhas
entre no meio das coxas
intumescido
pulsando reticências. . .
ABUTRE
CARNÍVORA
ANUNCIAÇÃO
CARNE DE CARNAVAL
Dedos de carnavais
quantos carnavais ela esfregará seu frevo em mim?
Rodopiando, ciganeando seus olhares de flecha
sobre este corpo em estado de choque!
Há algo nela que não me pertence
que não me cabe
que não me deixa entrar
e é justamente o que me fascina, não tê-la nunca
sentir-nos sempre escorregadia, umedecida
sempre pisoteada pelo bombear de sua percussão em meus pelos
que se oriçam e se levantam para vê-la passar
para que ela passeie a mão em mim, indo e vindo
(espero que ela sempre venha)
ai que abestalhamento
doce e incerto
de dar lambidas no pescoço suado e achar gostoso
LAMBIDAS
metalinguagem
a língua da palavra habitada
a língua na língua das primeiras causas
com quantas línguas anunciaste aquele verbo ao pé do ouvido
em quantas línguas a tua saliva encontrou morada
se derramando
garganta adentro
SER TÃO
Todo o deslimite
hipertrofia
engasgada com o gozo
na ponta da língua
desenfreado desejo
e na rua o horror
meu corpo é uma bandeira que hasteio
e deixo flamejar
nos bueiros da cidade
cada esquina
em cada prece com os dedos cruzados
e no pico, por cima da cegueira
ele dança, o corpo, é meu
e dança e sua e sua e sua
sou sua
toda lágrima virou suor
quando eu levanto a mão é um ato
uma anunciação
a palavra do absurdo
o absurdo das horas
todas as horas em que disse não
foram contabilizadas, mensuradas
e agora esquecidas
entre as mãos
me escorre a vida
do ventre profundo
que habitas
e tem poros e pelos e saliva, terra fecunda
da vida estéril fiz poesia
delírios, devaneios e desvarios
extraordinários grunhidos e gemidos e sussurros
dos mudos orgasmos
que ritmado agora grito
quebramos a barreira da matéria e do mistério