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uma nesga de sol a mais

flávio morgado

uma nesga de sol a mais


© 2016 Flávio Morgado sumário

Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico


da Língua Portuguesa de 1990, adotado no Brasil em 2009. Granada9
Instruções ao esboço de um quadro 11
Coordenação Editorial Água13
Isadora Travassos O poema 15
Produção Editorial Cão17
Eduardo Süssekind Entreditos19
Rodrigo Fontoura Os seios de Halla Bhairi 21
Victoria Rabello
Olhos de ouvir 25
Poema escrito por um poeta 27
Poema escrito por uma bomba 29
O último gesto de García Marquez 31
Raissa33
cip-brasil. catalogação na publicação
sindicato nacional dos editores de livros, rj Nu35
m845n Adeus37
Dançar a bonita morte de Dom Garcilaso de la Vega 39
Morgado, Flávio
Uma nesga de sol a mais / Flávio Morgado. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Dedos41
7Letras, 2016. Histor  43
isbn 978-85-421-0467-7 A voz (ou esporro) de Ferreira Gullar 45
Arte abstrata 49
1. Poesia brasileira. I. Título.
Geometria incerta  51
16-33108 cdd: 869.1 Serpentina53
cdu: 821.134.3(81)-1
De Alexandria 55
Vivo57
À multidão 59
2016 Do que digo? 61
Viveiros de Castro Editora Ltda. Outono63
Rua Visconde de Pirajá 580, sobreloja 320 – Ipanema Sobre conchas 65
Rio de Janeiro | rj | cep 22410-902
Tel. (21) 2540-0076 Uma nesga de sol a mais 67
editora@7letras.com.br | www.7letras.com.br
nascer é comprido.
murilo mendes
granada

afora à marcha da prosa,


a palavra
do poema arma-se
na violência do poeta

e rebenta ao escândalo do papel:


reconhecida e inédita

numa guerra sem quartel,


explode,
solitariamente, contra si
e para todos...

deslocada e fecunda,
domina-se
e esquece o próprio amparo

por isso, no poema


é sempre uma pergunta

por isso, no poema


é sempre um estilhaço...

9
instruções ao esboço de um quadro

primeiro preencher
o branco como branco

para se reconhecer o que é a possibilidade.

o risco em vermelho
diminui as chances e impõe
recomeço

um canto negro
(à outra margem do branco)
encaminha ao infinito e ao talvez.

de limite, circule a iluminação do azul


(desenhe uma asa maior que o céu)

deixe a tinta tingir-se a si


em relevo
em erro
como mania de perfeição
(“estive aqui...”)

não assine. entregue à espera

deixe o quadro se apalpar

– a emoção corrige a regra.

11
água

o espelho de narciso
o estige de aquiles
o batismo de são joão
o recurso a hidrelétrica
a usina a barragem
o rio a sede
sua luz gutural
seu desprendimento de chuva
os dois átomos de hidrogênio
os fitoplânctons o pulmão
a remissão do solo à pétala

em última escala,
a permissão desse poema
e a última vida humana
a sua ausência

... desconhecem seu nome

ao ver tunico, meu sobrinho,


sair de seu banho dando
tchau para a aguinha

13
o poema

o poema vive
pelo que no instinto é impulso

segue:

tem pai e adota o mundo


como página, como signo, como vício

está.

como lúcido do próprio acaso


e eventualmente existe pelo amor

torna-se
o vir a ser:
a leitura, o outro

ou esta profunda liberdade


em apenas ser título
e sopro.

15

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