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RESUMO:
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TRABALHO COMPLETO:
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maneira ativa, quanto sob a forma de resistência passiva, utilizando freqüentemente como
recurso, a força, a violência.
Dorey (Ibid.) destaca que o objeto da ação destrutiva do obsessivo é o outro como
ser desejante, que deve ser apagado, anulado. Ele não pode suportar a singularidade do
outro, a sua especificidade e, sobretudo, nenhuma manifestação de desejo erótico referido
a si próprio. Essa relação de domínio indicaria, então, uma tendência à neutralização do
desejo do outro, buscando torná-lo um objeto inteiramente assimilável.
Nesse contexto qualquer movimento do objeto, passível de sair de seu domínio é
afastado com ódio. Logo, encontramos um eu blindado, onipotente, mantido através de
constantes estratégias de domínio, marcadas pelo ódio e pela agressividade. O obsessivo
torna-se dependente do sentimento de onipotência, que se mantém através da submissão
do outro ao seu domínio. Para ele, essa submissão seria a prova do amor do outro,
fundamental para o reconhecimento de si mesmo.
Assim há também no exercício desse domínio um desejo de reconhecimento. Este
pode ser expresso, segundo Dorey (1981, p. 128. A tradução é nossa) pela seguinte
proposição: “Ama-me, mesmo sabendo que eu faço tudo para não ser amado e para
destruir-te”. Isso mostra que o exercício deste domínio também pode ser pensado como
uma forma muito particular de mensagem endereçada ao outro, comportando uma
dimensão de convocação, de espera por alguma resposta por parte dele. Esta relação de
domínio, portanto, possui um caráter paradoxal: visa negar o outro como sujeito desejante
e, ao mesmo tempo, visa o reconhecimento de si próprio.
Dorey (Ibid.) acrescenta que a sedução originária seria o protótipo de toda relação
de domínio. Buscando enriquecer nossa compreensão e, seguindo a pista anunciada pelo
autor, passamos a uma investigação sobre o modo de relação estabelecido com o objeto
primário. Freud nos diz que “(...) a mãe adquire importância singular, incomparável,
inalterável e permanente e torna-se, para os dois sexos, o objeto do primeiro e mais
poderoso dos amores, protótipo de todas as relações amorosas ulteriores.” (FREUD, 1938,
p.202). Acreditamos que o modo de relação que o sujeito estabelece com os objetos ao
longo da vida está intimamente relacionado com a maneira como foi construída a relação
com o objeto materno.
Como indicam Dorey e Kristeva, na neurose obsessiva, a relação inicial com a
mãe apresenta características peculiares, expressas pelo pudor, rigor, distância afetiva,
ausência de contato físico e por uma exigência severa no plano moral. Neste contexto as
demandas do bebê são satisfeitas de modo imediato, cuidados excessivos com seu
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corpo, mas esvaziados de investimento erótico. Para Dorey (1981), esses aspectos
constituem a base de uma relação primária de caráter traumático. Porém, o autor nos
alerta que embora uma sedução erótica efetiva esteja ausente na problemática obsessiva,
ela age de forma indireta, por meio de formações reativas.
Esse modo de relação da mãe com o bebê seria uma reação, uma defesa ao desejo
“excessivo” que teria sido dirigido a ele, mas que veio a ser recalcado. Esse constante
cuidado com a satisfação de suas necessidades é o indicador da posição em que o bebê
fica situado, a de objeto do desejo da mãe. Estamos diante, assim, de uma situação de
sedução, mas que estaria destituída de sua dimensão erótica, “disfarçada” através dos
severos e excessivos cuidados que invadem o corpo do bebê. Algo esta barrado desde a
origem para sujeito – a dimensão erótica da vida é barrada e sua relação com o outro se
construirá via ódio e via agressividade.
De acordo com Kristeva (1988), a mãe do sujeito obsessivo pode ser
caracterizada, em grande parte dos casos, como uma mãe deprimida, mas com uma
singularidade: ela procuraria encobrir a sua doença com uma atividade exacerbada. Os
cuidados dirigidos ao filho visam fazer frente à depressão materna; o filho tornando-se
uma prótese fálica para a mãe deprimida.
A autora propõe a hipótese segundo a qual o obsessivo manteria a “mãe enterrada”
em seu psiquismo. Porém, adverte que o que denomina aqui como “mãe enterrada”, não
se confunde com o que André Green propõe a partir de sua noção de “complexo da mãe
morta”, aspecto essencial, segundo o autor, nos estados limites. Este complexo é
caracterizado por uma depressão grave da mãe, por um desinvestimento radical e
temporário de seu filho, o qual seria antecedido por um período de investimento normal.
É como se uma catástrofe tivesse atingido a relação entre a mãe e a criança; embora viva,
a mãe torna-se psiquicamente morta para a criança. Diante desse desinvestimento
materno, há, por outro lado, um movimento de desinvestimento do objeto materno por
parte da criança. Isso implica numa identificação inconsciente com a mãe morta, ou seja,
implica na impossibilidade da elaboração da experiência de perda.
A “mãe enterrada”, como propõe Kristeva (1988), diz respeito a uma mãe
inelutavelmente “viva”, demasiadamente presente, que exerce seu domínio
ininterruptamente. A figura da “mãe enterrada” está referida a um estado de
aprisionamento a um modo singular de relação com o objeto materno, a uma identificação
a tal modo de relação.
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Corroborando tal hipótese Dorey (2003) destaca que a relação primária traumática
que encontramos na neurose obsessiva comportaria uma dimensão identificatória. Esta
resulta de um duplo processo: por um lado, a mãe trata seu filho como objeto de seu
desejo; por outro lado, a criança adota essa posição, identificando-se com o objeto de
desejo materno. A mãe, que deveria recusar essa posição adotada pelo filho, a reforça.
Esse modo de relação primária torna-se o protótipo da relação que o sujeito estabelecerá
com o outro. O sujeito tende a reproduzir, invertendo os lugares, esse modelo de relação
infantil, precoce, que a mãe estabeleceu com ele. Assim, parece que o sujeito permanece
absorvido pela tarefa de manter o sentimento de onipotência, identificado, como propõe
Dorey (Ibid.), com a relação onipotente que estabeleceu com o objeto materno, repetindo-
a indefinidamente. A manutenção do sentimento de onipotência parece ser feita através da
busca de domínio do mundo externo, especialmente, através do domínio do outro. O
obsessivo parece permanecer siderado pela busca de domínio, sendo essa a sua única
forma de ligação com o outro. Neste contexto a possibilidade de um encontro amoroso é
suplantada pela busca de domínio.
Referências Bibliográficas
DOREY, R. La relation d’emprise. Nouvelle Revue de Psychanalyse. N.24, automne,
1981.