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Mas, para entender sua hist ória é preciso, antes, conhecer uma outra história. A história de um fabuloso
dispositivo eletrônico que encontrou lugar em toda a sorte de aparelhos e equipamentos eletrônicos e que
mudou drasticamente nossas vidas: o transistor. Desde a hora em que acordamos de manhã até a hora
em que vamos para a cama à noite, estamos a todo momento em contato com aparelhos e equipamentos
repletos de transistores -- como r ádios, televisões, relógios digitais, fornos de microondas, telefones,
carros, aviões, etc. Sem falar, é claro, do computador.
Os computadores de hoje possuem diversos microchips, cada um contendo milhares ou até milhões de
transistores. Um microprocessador (o chip principal de um computador) como o Pentium II, da Intel,
chega a possuir 7,5 milhões deles.
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referências
créditos
O nome “transistor”
Dessa forma, Pierce pensou A expansão das telecomunicações e da informática naquele período, por exemplo, era bastante
que, se a válvula possuía promissora. Contudo, a tecnologia da época não favorecia esse desenvolvimento potencial. Sistemas
transcondutância, seu dual
deveria possuir telefônicos, equipamentos de telecomunicações e computadores empregavam um grande número de
transresistência. Ele também dispositivos amplificadores e comutadores. Mas os sistemas eletromecânicos disponíveis eram lentos,
levou em conta que o nome de pouco confi áveis e dissipavam grande quantidade de calor.
um grande número de
dispositivos terminava com
“or”, como condutor, resistor, Um desses dispositivos eletromecânicos amplamente utilizados era o relê (relay, em ingl ês). Consistia
varistor, thermistor. Assim, o
nome “transistor” veio à tona, em um magneto (material sensível a campos magnéticos) que se deslocava unindo dois contatos de
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e Pirce e logo comunicou sua metal, que por sua vez fechavam um circuito. Uma pequena quantidade de energia no circuito magnético
sugestão a Brattain. Num dos
memorandos internos do Bell podia controlar uma grande quantidade de energia no circuito de contato. O dispositivo era relativamente
Labs, sobre a escolha do nome simples, resistente e bastante confiável -- uma excelente chave (interruptor, comutador). A limitação dos
do novo dispositivo, diversas relês era sua velocidade -- levavam cerca de um milésimo de segundo para abrir ou fechar um contato (o
sugestões eram listadas: triodo
semicondutor, triodo de que em sistemas de telecomunicações é uma eternidade).
estados de superfície, triodo de
cristal, triodo sólido, iotatron e
transistor. Sobre o nome Havia ainda a válvula (vacuum tube, em inglês), cujo funcionamento baseava-se no fluxo de elétrons
transistor, o memorando dizia: no vácuo. A v álvula era basicamente uma capsula de vidro contendo um filamento aquecido que emitia
“Essa é uma combinação el étrons. Esses elétrons ejetados eram coletados em uma placa positivamente carregada. O fluxo de
abreviada das palavras
‘transcondutância’ ou el étrons do filamento era controlado por uma pequena tensão elétrica em um eletrodo localizado entre o
‘transferência’ e ‘varistor’. O filamento (anodo) e a placa (catodo), chamado grade. A válvula podia comutar e amplificar, e como os
dispositivo logicamente el étrons podiam viajar velozmente no vácuo, era bem mais rápida que o relê (cerca de um milhão de
pertence à família do varistor,
e tem a transcondutância ou vezes mais r ápida). Mas o problema é que as válvulas exigiam fornecimento de energia constante e sua
impedância de transfer ência de vida útil era bastante limitada. Assim, a válvula era boa em aplica ções que empregavam um pequeno
um dispositivo com ganho, número delas, como nos r ádios. Onde milhares eram necessárias, como em computadores, a válvula não
então essa combinação é
descritiva.”
era adequada.
O primeiro transistor
Desvendando os semicondutores
O primeiro transistor consistia A busca de tecnologias alternativas foi uma conseqüência natural. Cientistas em laboratórios de todo o
de três eletrodos ligados a um mundo estavam em busca de um dispositivo eletr ônico que substituísse relês e válvulas. Na época, os
pequeno bloco de germ ânio
(material semicondutor). Dois cientistas estudavam as propriedades elétricas de todo tipo de material. Submetiam amostras a dezenas
dos eletrodos, chamados de testes e classificavam os materiais em dois grupos: aqueles que conduziam eletricidade, os
emissor e coletor, eram condutores, e aqueles que não conduziam, os isolantes -- ou dielétricos. Mas, depois de muitos testes,
posicionados bem próximos
(aproximadamente de 0,005 a uma surpresa: alguns materiais não se comportavam nem como condutores nem como isolantes: ora
0,025 cm) na parte superior do conduziam corrente elétrica ora a bloqueavam. Descobriu-se os semicondutores e surgiu finalmente uma
germânio. O outro eletrodo, alternativa tecnológica interessante para os relês e válvulas. Percebeu -se que esse comportamento
chamado base, era conectado
à parte inferior do germânio. conduz/não conduz dos semicondutores podia ser usado para construir comutadores e moduladores
Quando tensões el étricas (DC) eletr ônicos. A grande expectativa era que o emprego de dispositivos construídos com semicondutores
eram aplicadas prometia inúmeras vantagens: elétrons viajando pequenas distâncias em um sólido, nada de partes
adequadamente -- ao emissor
aplicava-se uma pequena móveis, nada de filamentos aquecidos e nada de vácuo. Deveria então ser rápido, barato e confiável.
tensão positiva (polarização
direta) e ao coletor aplicava -se
uma tensão um pouco maior e No verão de 1945, um grupo de pesquisa neste campo foi organizado no Bell Telephone Laboratories
negativa (polarização reversa) em Murray Hill, estado de New Jersey, nos Estados Unidos. A iniciativa foi do diretor de pesquisas do Bell
--, o dispositivo podia
funcionar como amplificador de Labs, Mervin Kelly. Há anos Kelly sonhava em encontrar um substituto eletrônico para os relês do sistema
correntes alternadas (AC).
telefônico. Ele havia organizado um programa de pesquisa com esse objetivo na década de 30, mas o
trabalho foi interrompido com a guerra. Com o fim da guerra, o programa foi reativado.
E como isso acontecia
exatamente? Em essência, No início de 1946, o grupo já estava praticamente formado. Um dos l íderes era William Shockley, um
uma pequena varia ção na
tensão de entrada (a tensão físico com doutorado no MIT. Faziam parte ainda dois elementos chave no grupo: o engenheiro elétrico
aplicada ao emissor) produzia John Bardeen e o físico Walter Brattain.
uma grande variação na
corrente de entrada; esta, por
sua vez, produzia uma
variação ainda maior na
corrente de sa ída (a corrente
de emissor). Sendo tanto a
corrente quanto a tensão de
entrada relativamente
pequenas, a potência de
entrada (corrente de entrada
vezes a tensão de entrada) era
também pequena. Já a
corrente e a tensão de saída
eram mais elevadas, de forma
que a potência de saída
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Os inventores
superfície. Tentaram diversos tipos de montagens e configurações a fim de verificar o tão esperado efeito
de campo. No dia 16 de dezembro de 1947, em uma dessas montagens, Brattain utilizou dois contatos de
ouro separados por apenas alguns milímetros e pressionados contra a superfície de um pequeno bloco de
germ ânio. Com as devidas tensões elétricas aplicadas, os cientistas verificaram que uma corrente elétrica
fluía pelo material semicondutor, configurando assim o efeito de amplificação tão desejado (efeito
transistor).
O anúncio da descoberta do transistor, contudo, foi adiado até junho de 1948. Estes seis meses foram
gastos pesquisando-se mais sobre o dispositivo, buscando entendê-lo melhor e investigando suas
possíveis aplicações. O objetivo era obter uma posição melhor para o registro das patentes. No dia 17 de
Shockley nasceu em Londres,
cresceu em Palo Alto, na
junho de 1948, Bardeen e Brattain entraram com um pedido de patente para o transistor de ponto de
Califórnia e obteve seu Ph.D. contato. No dia 26, Shockley registrou um pedido de patente para o seu transistor de junção. Até então, o
no MIT em 1932. Em 1936 transistor era um segredo do Bell Labs.
juntou-se ao Bell Labs, onde
no início trabalhou com
válvulas. Algum tempo depois No dia 30 de junho de 1948, o transistor de Brattain e Bardeen foi demonstrado para a imprensa nas
passou a estudar o
comportamento elétrico de instala ções do Bell Labs em Nova York. A imprensa comum deu pouca atenção, mas a imprensa
diversos materiais, entre eles especializada reconheceu sua importância. O jornal The New York Times reportou a história quase na
os semicondutores. Em 1946
última página no dia 1 º de julho de 1948 na sua coluna “As Notícias do Rádio ”:
tornou-se um dos
coordenadores do grupo de
pesquisa de f ísica do estado “Um dispositivo chamado transistor, com inúmeras aplicações no r ádio, onde as v álvulas são
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sólido, pesquisando sil ício e amplamente empregadas, foi demonstrado pela primeira vez ontem no Bell Telephone
germânio. Esses trabalhos
acabaram levando à Laboratories, na rua West, 463, onde foi inventado. O dispositivo foi usado num receptor de
construção do primeiro rádio, que não continha nenhum tipo de válvula convencional. Foi mostrado também num
transistor pelos seus colegas sistema telefônico e num aparelho de televisão controlado por um receptor colocado no piso
Brattain e Bardeen. Mas
Shockley foi al ém, inferior. Em cada caso, o transistor foi empregado como amplificador, embora seja dito que
estabelecendo os conceitos ele possa ser usado também como oscilador, de forma a criar e enviar ondas de rádio. No
básicos das junções pn e formato de um pequeno cilindro metálico com pouco mais de meia polegada de comprimento,
também inventando o
transistor de jun ção -- dois
o transistor não contém vácuo, grade, placas ou inv ólucro de vidro para manter o ar afastado.
passos fundamentais para o Sua ação é instantânea, não havendo atrasos por aquecimento, uma vez que não é gerado
posterior aperfeiçoamento do calor como em uma válvula. As partes funcionais do dispositivo consistem somente de dois
dispositivo. Shockley deixou o
Bell Labs em 1955 para fundar
finos fios que se ligam a uma placa de material semicondutor soldada a uma base de metal. O
a Shockley Semiconductor -- material na base de metal amplifica a corrente que chega até ela por um dos fios. O outro fio
um acontecimento que, de conduz a corrente amplificada.”
certa forma, marcou o
nascimento do Vale do Silício.
A empresa, contudo, enfrentou Em 15 de julho de 1948, a revista especializada Physical Review publicou três artigos sobre o
muitos problemas e acabou
fechando as portas. Mais tarde, transistor: dois de Brattain e Bardeen e um de Shockley. Foram os primeiros artigos técnicos amplamente
Shockley tornou -se professor difundidos explicando os princípios básicos do novo dispositivo.
de engenharia el étrica na
Universidade Stanford.
História do transistor no site da Lucent
A USP e a informática no
http://www.lucent.com/minds/transistor/
Brasil
Página da PBS sobre o transistor
Em 1962, a Escola Politécnica http://www.pbs.org/wgbh/aso/databank/entries/dt47tr.html
da USP adquiriu um IBM 1620,
tornando-se uma das primeiras
instituições universitárias do Transistor (a definition)
país a possuir um computador.
Em 1968, o então http://whatis.com/transist.htm
Departamento de Engenharia
de Eletricidade criou o
Laboratório de Sistemas Página com a patente do transistor feita por J. Bardeen em 1948
Digitais (LSD), e um segundo http://www.eepatents.com/feature/2524035.html?m04d16
IBM 1620 chegou à Escola
Politécnica. Não era, porém,
para ser utilizado por Transistor Inventiors & Inventions (no site About.com)
professores e alunos, mas para http://inventors.about.com/education/inventors/
ser desmontado e estudado no
library/inventors/bltransistor.htm?rnk=r1&terms=
LSD.
what+is+a+transistor%3F
Em torno do LSD, foi criada
toda uma estrutura de
pesquisa e pós-graduação em
eletrônica digital, uma Do laboratório para a indústria
iniciativa pioneira no Brasil. O
programa contava com
professores estrangeiros e Mais alguns anos se passaram e outros experimentos e descobertas se sucederam. Assim, num
incluía at é o projeto e a período de poucos anos após o estabelecimento do grupo de semicondutores no Bell Labs, a invenção do
construção de um protótipo de
computador. Quando o
transistor estava essencialmente completa, entendida e documentada. (Em 1950, Shockley publicou o
primeiro protótipo estava em livro “Electrons and Holes in Semiconductors”.) A fase científica estava chegando ao fim. A pr óxima fase
fase de montagem, chegou a consistia em resolver problemas mais práticos para a produção de transistores em grande escala.
notícia de que a Marinha
desejava equipar algumas
fragatas rec ém-compradas Em primeiro lugar, havia dois tipos de transistor que eventualmente poderiam ser fabricados: o
com computadores nacionais.
O LSD candidatou-se ao transistor de ponto de contato e o transistor de junção. O transistor de ponto de contato tinha muitas
projeto, contando com a desvantagens. Era dif ícil de fabricá-lo e suas características elétricas estavam longe de ser ideais -- eram
experiência que tinha na área. muito vari áveis, difíceis de ser controladas e inerentemente instáveis. O transistor de junção, por outro
A Unicamp também se
interessou pelos planos da lado, tinha características elétricas mais desejáveis e estáveis. Sua fabricação, contudo, tamb ém era
Marinha e, em homenagem a bastante complexa; exigia técnicas bastante apuradas e sensíveis, sendo difícil automatizar a produção.
ela, batizou de “Cisne Branco ”
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O início da década de 50 foi marcado por rápidas melhorias nas características e na fabricação de
transistores. Avanços sucediam-se rapidamente e os novos dispositivos eram capazes de operar em
freqüências cada vez maiores -- 100 MHz ou mais. Alguns pesquisadores desenvolviam outros tipos de
dispositivos semicondutores, e finalmente foi construído o transistor por efeito de campo (tecnologia
batizada de FET -- field effect transistor). Os primeiros JFETs (junction field effect transistors) foram
produzidos pela Crystalonics em Cambridge, Massachusetts, em 1960.
Tendo superado as dificuldades de fabricação em larga escala do transistor, era hora de empregá-lo na
prática, buscando substituir a válvula no maior número de aplicações possível. Essa não era uma tarefa
fácil, já que os transistores eram então fabricados em tamanhos reduzidos, o que dificultava sua
capacidade de suportar altas potências. Além disso, não suportavam freqüências de operação tão
elevadas quanto às das válvulas.
Enquanto isso, outras iniciativas tomavam corpo e mais tarde fariam surgir aquilo que hoje
conhecemos como Vale do Silício (Silicon Valley). Em 1954, William Shockley deixou o Bell Labs e mudou-
se para Palo Alto, uma pequena cidade no estado da Califórnia, Estados Unidos, onde iniciou sua própria
companhia, a Shockley Semiconductor Laboratory. Para levá-la adiante, Shockley contratou um grupo de
físicos e engenheiros jovens e ambiciosos de companhias de eletrônicos da costa leste dos EUA --
incluindo um grupo de oito pesquisadores que logo deixariam sua marca na história da microeletrônica,
embora sem a companhia de Shockley.
Os oito -- Julius Blank, Victor Grinich, Jean Hoerni, Eugene Kliner, Jay Last, Gordon E. Moore, Robert
N. Noyce e Sheldon Roberts -- não conseguiram se entender com Shockley e com sua maneira de
conduzir os negócios. Depois de dois anos, em 1957, saíram para formar sua própria companhia. Nasceu
assim a Fairchild Semiconductor (hoje conhecida por originar uma série de outras empresas sediadas na
Vale do Silício). Com a saída em massa, a companhia de Shockley acabou perdendo o rumo e depois de
ter sido comprada por duas vezes, acabou fechando as portas em 1969.
A Fairchild iniciou logo suas atividades e introduziu e aperfeiçoou processos e técnicas com sucesso.
Entre as inovações bem-sucedidas, estava a fabricação de transistores utilizando um processo chamado
de difusão. Consistia em envolver o material semicondutor em um gás contendo determinados elementos
químicos (chamados de impurezas). Em seguida, variava-se a temperatura de modo que as impurezas
penetrassem no semicondutor. Tal processo permitia controlar com precis ão a penetração de impurezas
no semicondutor. Com isso, podia-se criar no semicondutor regi ões bastante finas dopadas com
impurezas. Essas regiões dotadas de diferentes propriedades elétricas é que tornavam o efeito transistor
possível. A espessura da base (uma dessas regiões) era importante para que o transistor funcionasse com
freqüências elevadas.
Dessa forma, apesar de a l âmina de semicondutor ter de ser grossa o suficiente para ser
mecanicamente resistente, a base devia ser bastante fina. Uma base com espessura de 10 m ícrons
propiciava freqüências de operação de apenas alguns megahertz. Era necessário aperfeiçoar as técnicas
de fabricação para se conseguir bases ainda mais estreitas e consequentemente dispositivos que
pudessem ser usados nas diversas aplica ções eletrônicas. Esse problema foi resolvido com um outro
processo: o processo epitaxial. Esta nova técnica aprimorava o processo de difusão, permitindo a
fabricação de transistores que suportavam alta freq üência de opera ção e elevada potência. Logo foram
fabricados transistores com freq üências da ordem de centenas de megahertz. O processo de difusão e o
processo epitaxial tiveram um impacto fundamental na fabricação de dispositivos semicondutores e foram
decisivos para o surgimento dos circuitos integrados.
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Outros avanços importantes deram-se com a descoberta de que uma camada de dióxido de silício
podia impedir a difusão de certos átomos de impurezas na lâmina de silício. A difusão, contudo, poderia
ocorrer desimpedida através de “janelas” na camada de dióxido de silício. Essas descobertas deram início
ao emprego de técnicas de fotolitografia para a “impressão” de padr ões sobre o silício. Esses padrões
podiam determinar as regiões onde a difusão iria ocorrer.
O transistor, contudo, apresentava ainda outros problemas. Era muito sensível a variações de
temperatura e umidade. No início tentou-se empregar blindagens de vidro, aproveitando a experiência
com a fabricação de válvulas. Mas definitivamente esta não era uma solução adequada. No início de
1958, pesquisadores da Fairchild descobriram como usar o próprio di óxido de silício como uma efetiva
proteção que impedisse a degradação do transistor. Essa proteção praticamente resolveu o problema de
confiabilidade do dispositivo.
Rumo ao microchip
O mesmo acontecia em outros locais de pesquisa. No Bell Labs, numa reuni ão em que se discutia de
que forma os transistores iriam substituir as válvulas, um dos pesquisadores disse: “Senhores, vocês
entenderam tudo errado! A vantagem do transistor é que ele é um dispositivo inerentemente pequeno e
de baixo consumo de energia. Isso significa que você pode agrupar um grande n úmero deles em um
espaço pequeno sem geração excessiva de calor e conseguir baixos atrasos de propagação. E é isso que
precisamos para aplicações lógicas. O significado do transistor não é que ele pode substituir a v álvula,
mas que ele pode fazer coisas que a v álvula nunca pôde!”
De fato, grande parte da pesquisa em semicondutores, sobretudo aquelas financiadas pelo governo,
envolvia a miniaturização de componentes. Essa preocupação devia-se sobretudo à corrida espacial, e ao
recente sucesso dos soviéticos no lançamento do satélite Sputnik I (no dia 4 de outubro de 1957).
Enquanto isso, na Fairchild, Noyce, de forma independente, dava um passo adiante na forma de
interconectar os microcomponentes do circuito integrado. Ele inspirou-se nas técnicas que empregavam
dióxido de silício como “máscaras” para a difusão de impurezas. Dessa forma, enquanto o processo de
Kilby utilizava pequeninos fios nas conexões entre os componentes do circuito, o processo desenvolvido
por Noyce empregava trilhas de alum ínio ou ouro que podiam ser aplicadas com a ajuda de m áscaras e
fotolitografia.
Contudo, houve uma certa relutância por parte da indústria de que seria viável produzir circuitos
integrados em grande escala. A principal preocupação era quanto à confiabilidade. Por muitos anos, a
produção de transistores trabalhou com rendimentos (porcentagem de componentes não-defeituosos) em
torno de 20%. Embora bastante baixos, eram números aceitáveis. Com a evolução tecnológica, chegou-
se em alguns anos a 90% de rendimento. Mesmo assim, qual seria a confiabilidade de um chip com cem
ou até mil transistores? Imaginava-se que seria bastante pequena em função da alta probabilidade de um
dos transistores falhar. Mas tal insegurança baseava-se na idéia de que o rendimento dos processos de
fabricação de transistores e também sua taxa de falhas eram eventos aleatórios. Contudo, verificou -se
que isso não era verdade. O rendimento e a taxa de falhas estavam fortemente relacionados com o
próprio processo de fabricação em lote de transistores; isto é, fabricava-se sobre um wafer de silício uma
grande porção de componentes em uma única “fornada”. Dessa forma, em determinadas regi ões do
wafer, conseguia-se ótimo rendimento, praticamente 100%; em outras, contudo, o rendimento era
praticamente nulo -- nenhum componente podia ser aproveitado. Assim, se o chip fosse produzido sobre
uma região do wafer de elevado rendimento, sua confiabilidade era igualmente elevada.
Durante a década de 60, muitas pesquisas nesse campo se sucederam, levando a processos cada vez
mais aperfeiçoados, e que garantiam confiabilidade cada vez maior para os circuitos integrados. Em 1961,
apenas 13 anos depois da invenção do transistor, a indústria de semicondutores superou a marca de 1
bilhão de dólares em lucros. Empresas como a Fairchild e a Texas Instruments j á produziam circuitos
integrados em escala comercial. Seus compradores eram agências do governo, como a Nasa, os militares
e também grandes companhias, como a IBM.
Por volta de 1967, a indústria de semicondutores começou a tomar novos rumos que alterariam
profundamente o Vale do Silício. Diversos empregados deixaram a Fairchild para ingressar em outras
companhias ou ainda para formar suas pr óprias empresas. Foi neste jogo de cadeiras que Gordon Moore
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e Robert Noyce deixaram a Fairchild para formar a Intel, levando com eles alguns empregados
estratégicos, entre eles Andrew Grove.
A década de 70 foi a década em que a tecnologia MOS (metal-oxide semiconductor) atingiu seu auge,
seguida logo pela CMOS (complementary metal-oxide semiconductor), a tecnologia predominante nos
chips de hoje. Inicialmente, a tecnologia CMOS foi subestimada, mas os métodos envolvidos foram
aperfeiçoados e gradualmente ela tornou-se bastante empregada, miniaturizada, rápida e de baixo
consumo de energia. A RCA introduziu o primeiro microprocessador CMOS, o 1802, em 1974. Foi seguido
pelo microcontrolador de 4 bits TMS1000, da Texas Instruments.
E assim, novos chips eram lançados continuamente e sua complexidade crescia exponencialmente,
tornando possível aplicações cada vez mais surpreendentes. Logo surgiram os primeiros
microprocessadores, complexos microchips capazes de executar milhões de instruções por segundo. Os
microprocessadores possibilitaram a fabricação de computadores cada vez mais poderosos. Hoje, vivemos
uma época em que os microchips tornaram-se ubíquos -- estão em toda parte, a todo instante -- e
desempenham um papel fundamental em nossas vidas, facilitando o trabalho, a comunicação, o
entretenimento. Sem eles, nossas “vidas digitais” seriam impossíveis.
A história da Fairchild
http://www.fairchildsemi.com/company/history.html