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Loraine Boettner
Benjamin B. Warfield
Copyright @ 2020, de Editora Monergismo
Publicado originalmente em inglês sob o título
The Inspiration of Scripture (Boettner) e
The Inspiration and Authority of the Bible (Warfield).
1ª edição, 2020
Loraine Boettner
1. Natureza da inspiração das Escrituras
TESTEMUNHOS SÁBIOS
Evidentemente, atualmente há muitos sábios que, por várias razões,
tentam lançar o descrédito sobre a Palavra de Deus. Em geral começam
atacando o Antigo Testamento, e levam esse ataque até o Novo Testamento.
Temos, porém, a alegria de dizer que há muitos sábios, de sabedoria pelo
menos igual, que declaram ser a Bíblia absolutamente digna de confiança. O
falecido Dr. Benjamin B. Warfield, professor de Teologia Sistemática em
Princeton durante 35 anos, cremos que o maior teólogo e estudante de grego
que jamais houve na América, depois de examinar a evidência com base na
qual todos os críticos baseavam suas conclusões, não teve qualquer escrúpulo
em declarar que essa evidência era destituída de qualquer valor, e disse que a
Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, é aquilo que pretende ser: a Palavra de
Deus. Seu livro, Revelação e inspiração, sem dúvida é o melhor livro sobre o
assunto. A revista “Sunday School Times” tem absoluta razão em afirmar que
ele “constitui a defesa mais erudita, exaustiva e convincente da inspiração da
Bíblia jamais escrita, nos últimos tempos”.
Em relação ao Antigo Testamento, nos sentimos em terreno seguro
afirmando que não surgiu até hoje maior autoridade do que Robert Dick
Wilson. Conhecendo perfeitamente 45 línguas e dialetos, e conhecendo mais
acerca do Antigo Testamento do que qualquer homem atual, apresentou suas
conclusões nos seguintes termos:
Dediquei-me constantemente, há quarenta e cinco anos, ao estudo
do Antigo Testamento em todas as línguas, em toda sua
arqueologia, em todas suas traduções e, tanto quanto possível, em
tudo quanto diz respeito a seu texto e a sua história ... A evidência
que possuímos me convence de que Deus falou muitas vezes e de
muitas maneiras pelos profetas e pelo Filho (Hb 1.1), e de que o
Antigo Testamento em hebraico, sendo inspirado diretamente por
Deus, foi conservado puro por sua providência e cuidado.
O mundo continua esperando por uma teoria que forneça um relato
adequado da origem e da autoridade da Bíblia, baseado em outras hipóteses
que não tenham sua origem em Deus. Uma após outra, as teorias
apresentadas caem automaticamente ou são desmentidas por outros esquemas
igualmente destrutivos. Até hoje nenhuma outra hipótese, com exceção
daquela da origem divina, conseguiu manter-se mais de meio século. Isto, por
si só, é uma prova de que não se pode atribuir a origem do Livro a outros
meios além dos que nos foram apresentados pelos próprios profetas.
Tampouco temos razão para admitir que apareça, no futuro, outra teoria com
possibilidade de êxito. Assim, o único curso racional a seguir é aceitando
aquilo que a Bíblia afirma ser, até que possamos mudar de opinião.
É interessante demonstrar que através dos séculos a fé cristã ortodoxa
tem se desenvolvido e se defendido mediante esforços reverentes e ansiosos
de Orígenes, de Agostinho, de Erasmo, de Lutero, de Calvino, de Hodge e de
Warfield, os quais acreditavam na plena inspiração da Bíblia, e não pelos
pelagianos, socinianos, wellhausens[1] e fosdicks[2] com suas dúvidas sobre
se Moisés, Paulo, ou até mesmo Cristo, acreditavam naquilo que disseram.
Nosso desejo é que não haja oportunidade para se dizer de nós o que se disse
daqueles que viveram em épocas passadas: “que recebemos a Palavra de
Deus, tal como foi anunciada pelos anjos, e não a guardamos”.
O termo inspirar, assim como seus derivados, parece ter sido sempre
usado com diversos significados, físicos e metafóricos, seculares e religiosos.
As palavras derivadas se multiplicaram, e sua aplicação foi se alargando com
o correr do tempo até alcançar um uso relativamente lato e variado.
Fundamental a seu uso, porém, existe a constante implicação de uma
influência exterior, que produz, em seu objeto, movimentos e resultados para
além de seu poder nativo, ou, pelo menos, normal.
O termo inspiração, ainda que já existisse antes do século 14, só no
encerramento do século 16 é que parece ter adquirido um significado não-
teológico. O significado especificamente teológico de todos esses termos,
evidentemente é orientado por seu uso na teologia latina; e esse uso se baseia,
em última análise, em seu emprego na Bíblia latina. Na Vulgata, o verbo
inspiro (Gn 2.7; Sabedoria 15.11; Eclesiástico 4.12; 2Tm 3.16; 2Pe 1.21), e o
substantivo inspiratio (2Sm 22.16; Jó 32.8; Sl 17.16; At 17.25) ocorrem
quatro ou cinco vezes, com aplicações diversas. No desenvolvimento de uma
terminologia teológica, porém, adquiriram (juntamente com outras aplicações
menos frequentes) um sentido técnico, no que se refere aos escritores e aos
livros da Bíblia.
Os livros bíblicos são tidos como inspirados por serem eles o produto,
divinamente determinado, de homens inspirados; os escritores bíblicos são
tidos como inspirados por terem eles recebido o sopro do Espírito Santo, de
maneira que o produto de suas atividades transcende a capacidade humana e
recebe autoridade divina. Portanto, a inspiração em geral é definida como
sendo uma influência sobrenatural exercida nos escritores sagrados, pelo
Espírito de Deus, em virtude da qual seus escritos recebem fidedignidade
divina.
2. A ideia fundamental de inspiração
Dessa forma não podemos deixar de notar que a inspiração vem a ser
uma forma de revelação. Com freqüência somos exortados a distinguir,
cuidadosamente, entre inspiração e revelação; e a exortação está certa quando
considerarmos revelação em um de seus sentidos restritos; por exemplo, de
uma manifestação exterior de Deus, ou de uma comunicação direta da parte
de Deus, por meio de palavras. Mas inspiração não difere de revelação neste
sentido restrito, como um gênero de outro gênero, mas como uma espécie de
um gênero difere de outra. Esta operação divina a que chamamos inspiração,
ou, seja, a operação do Espírito de Deus por meio da qual ele move os
homens no processo da composição das Escrituras, de forma tal que eles
escrevem, não de si mesmos, mas “da parte de Deus”, é uma das formas pelas
quais Deus faz conhecido aos homens seu Ser, sua vontade, suas operações e
seus objetivos. É tão nitidamente uma forma de revelação, como qualquer
outra forma de revelação possa ser, e portanto tem a mesma função de
qualquer outra revelação, o que nas palavras de Paulo significa tornar os
homens sábios, tornando-os sábios para a salvação. Toda a revelação especial
ou sobrenatural (que é redentora em sua própria intenção e ocupa um lugar
como elemento substancial nos processos redentivos de Deus) tem
precisamente este objetivo; e as Escrituras, como forma da revelação
redentiva de Deus, encontram seu objetivo fundamental precisamente nisto:
se a inspiração, por meio da qual as Escrituras são produzidas, as torna
fidedignas e autoritativas para melhor servir, a fim de fazer os homens sábios
para a salvação.
As Escrituras são consideradas, do prisma dos escritores
neotestamentários, não apenas como o registro de revelações, mas como
sendo, por si mesmos, parte da revelação redentiva de Deus; não só como o
registro dos atos redentivos, com um papel próprio a desempenhar na grande
tarefa de estabelecer e erigir o reino de Deus, mas o que lhes dá um lugar
entre os atos redentivos de Deus é sua origem divina, em seu sentido mais
lato, considerada como a súmula de todas as operações divinas,
providenciais, graciosas, e expressamente sobrenaturais por meio das quais
foi eleito aquilo que realmente é um corpo de escritos com poder para fazer
os homens sábios para a salvação e proveitoso para aperfeiçoar o homem de
Deus. No entanto, o que lhes dá o lugar que ocupam entre todas as formas de
revelação é, especificamente, a ação culminante destas operações divinas, a
que chamamos inspiração, ou, seja, a ação do próprio Espírito de Deus em
mover de tal forma os autores humanos em sua obra de produzir as
Escrituras, de maneira que eles falam nas Escrituras, não de si mesmos, mas
“da parte de Deus”. Esta é a ação em virtude da qual podemos dizer que as
Escrituras podem ser, com propriedade, chamadas sopro divino.
15. As Escrituras serão um livro divino-humano
[1] Referência a Julius Wellhausen (1844-1918), estudioso alemão famoso por suas investigações
críticas do Antigo Testamento. [N. do R.]
[2] Referência a Harry Emerson Fosdick (1878-1969), ministro batista liberal. [N. do R.]