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Quando a gente lê este título – Educação para paz: um trabalho coletivo – nos
parece uma redundância, porque um dos principais caminhos para paz é a educação, e,
ao mesmo tempo, não há como fazer educação sem paz. Então educação e paz são
valores intrinsecamente relacionados, daí a importância de se refletir sobre estes
aspectos. Principalmente hoje em dia, em que se constata ou se alarde uma escalada de
violência nos mais diversos contextos. É necessário termos momentos conjuntos de
parada para refletirmos sobre qual o nosso papel neste sentido.
Somos vítimas, reféns da violência e temos de criar defesas para nos proteger?
É necessário entender que a violência não vem apenas de fora da escola mas
também é gerada em seu interior.
O jovem que se tornou violento, ou por causas psicologizantes, ou por fatores
sociologizantes (senão por ambos), ao ingressar na escola assume a identidade de aluno,
e portanto sujeito às questões institucionais.
A importância e a força das características institucionais de cada
estabelecimento de ensino não podem ser negligenciadas, nem minimizadas. Prova
disso são os diversos exemplos de escolas de rede pública, situadas em bairros com
altos índices de criminalidade e freqüentadas por alunos de semelhante classe sócio-
econômica, mas com diferentes e significativos níveis de violência interna à escola.
“Ambientes sociais violentos nem sempre produzem práticas escolares caracterizadas
pela violência” (Sposito, 1998).
Além disso, muitos alunos preferem permanecer na escola a voltar para casa,
sem que tenham compromisso de freqüentar aulas. E nesse grupo de estudantes é
comum se encontrar os que são considerados “problemas”. A escola nestes momentos
não representa uma instituição de ensino, nem apenas um lugar de lazer. A escola
representa um lugar de estabilidade, de certezas, onde a criança pode ver e sentir um
modelo diferente daquele que tem em casa. (Böck, 1996).
Mas infelizmente nem sempre é assim. A violência escolar consiste em um
entrelaçamento de influências exógenas potencializadas por fatores negativos da própria
instituição. Portanto a instituição escolar também pode ser co-autora de lamentáveis
episódios.
A escola gera violência quando os professores são autoritários, debochados e
injustos com os alunos ou quando as aulas não têm significado para os estudantes
porque foram planejadas para outras realidades sociais e/ou são repetidas, sem
atualização, por muitos anos. Um professor que ridiculariza seus alunos ou que os
submete a aulas enfadonhas, sem sentido, gera frustração, desmotivação e raiva nos
estudantes. Estes sentimentos repetidos diariamente transformam-se em violência
originando depredações do patrimônio escolar, agressões verbais ou até mesmo físicas
aos professores, desrespeito e enfrentamento aos diretores que necessitam chegar ao
extremo de convocar a força policial para conter a agressividade destes jovens e
restabelecer a ordem escolar. Além disso, estes comportamentos não ficam delimitados
ao âmbito escolar, mas transbordam para fora de seus muros , sendo que os alunos
extravasam suas insatisfações com a escola na sociedade e o caminho da violência
torna-se inverso e potencializado.
De outra forma, a violência escolar também surge nas relações intergrupais dos
alunos, na formação de gangs e no fenômeno do bullying.
Esta violência pode ser subliminarmente reforçada pelo desnorteamento e a
omissão dos professores e direções no que se refere à disciplina escolar e à colocação
de valores morais e éticos claros no cotidiano escolar.
Por outro lado, os próprios docentes são vítimas de um tipo de violência
silenciosa originada da dinâmica institucional e que lhes causa grandes prejuízos
pessoais : a Síndrome de Burnout ou do esgotamento profissional.
Assim constata-se que, dependendo das características institucionais de cada
escola, ela pode neutralizar e reverter comportamentos violentos e educar efetivamente
para a paz ou, pelo contrário, gerar intensas frustrações de modo a suscitar ou
incrementar atitudes agressivas.
Agentes pacificadores
“A escola real é intrinsecamente dinâmica, está em movimento constante de
progressões e regressões próprias, portanto, não há um estado ideal como ponto final de
um progresso linear, mas há possibilidades de se construir relações que fluam de forma
contínua, flexível e aberta em um sistema de redes.” (Souto, 2000). Assim, um alto grau
de dinamicidade permite que as dificuldades sejam detectadas e enfrentadas utilizando-
se das próprias potencialidades do sistema de relações que formam a comunidade
escolar.
Alternativas isoladas dificilmente serão capazes de fazer frente às diferentes
formas de manifestação da violência escolar. (Ferreira Goulart, 2000). Um professor
bem intencionado acaba investindo uma energia muito grande para obter resultados
pontuais sendo que facilmente desiste de novas tentativas pelo sentimento de
impotência. Quando em grupo esta energia é potencializada e melhor direcionada. Por
isso é importante que, para cada situação de violência, seja constituído um grupo de
agentes pacificadores, profissionais dispostos a analisara conflitiva levando em conta
as seguintes premissas:
- de não pré-determinarem que o caso em questão tenha significado de
irreversibilidade imodificável, até porque esta “imodificabilidade” pode ser
originária da falta de conhecimento de toda a situação ou da inabilidade da forma
como foi abordada e não tanto pelas idiossincrasias do caso;
- o clima de violência ou frustração latentes com aspectos institucionais pode ser
personificada em um aluno, ou mais comumente em um grupo de alunos, ou seja, as
atitudes violentas destes alunos podem ser o resultado de insatisfações institucionais
veladas.
Obrigada