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Sociologia Médica, Sociologia da Saúde ou

Medicina Social? Um Escorço Comparativo entre


França e Brasil
Medical Sociology, Sociology of Health or Social Medicine? A
Comparative Analysis Between France And Brazil

Miguel Ângelo Montagner Resumo


Sociólogo, Mestre e Doutor em Saúde Coletiva pela Faculdade de
Ciências Médicas da Unicamp. Pesquisador bolsista - CNPq e Funcap. O objetivo deste trabalho é esboçar um estudo compa-
Endereço: Rua Eduardo Ellery Barreira, 29 apto 703 A, Cocó, CEP rativo da sociologia médica na França e no Brasil, apro-
60810-010, Fortaleza, CE, Brasil.
E-mail: montagner@hotmail.com
veitando a ocasião proporcionada pelas trocas e a dis-
cussão entre sociólogos brasileiros e franceses, que
Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico partilham um interesse mútuo sobre os estudos de
e Tecnológico (CNPq) e Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa sociologia da medicina de um lado e, por outro, a abor-
(FUNCAP). dagem sociológica construída por Pierre Bourdieu. Ele
contém uma reflexão sobre o status da sociologia den-
tro do campo da saúde, baseada em uma revisão da
literatura científica francesa, norte-americana, inglesa
e brasileira. Por meio dos trabalhos publicados sobre
a área médica, procuraremos esclarecer os modos espe-
cíficos de abordar a saúde, a doença e a medicina em
cada um dos países, discernir suas particularidades
históricas e delinear as relações entre a sociologia da
saúde e a sociologia em sentido largo. Percebemos
uma confluência de fatores como o núcleo da formação
da sociologia médica no Brasil: um projeto social de
reforma por parte dos médicos higienistas, um proje-
to de institucionalização da disciplina pelos profes-
sores de Ciências Sociais nas faculdades de Medicina
e uma reforma conservadora do ensino no momento de
governos autoritários.
Palavras-chave: Sociologia médica; Sociologia da saúde;
Medicina social; Pierre Bourdieu; Campo.

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Abstract Introdução
This paper presents a comparative study on medical O objetivo deste trabalho é esboçar um estudo compa-
sociology in France and Brazil by means of exchanges rativo da atual sociologia construída sobre a medici-
and discussions among Brazilian and French sociolo- na, a saúde e a doença, na França e no Brasil, aprovei-
gists who share mutual interests in medical sociolo- tando a ocasião ofertada pela troca de informações e
gy studies and in the sociological approach of Pierre discussões entre sociólogos que partilham um mútuo
Bourdieu. This manuscript contains a reflection on interesse, uma parte por trabalhos nessa linha temá-
the status of medical sociology based on a literature tica e outra pelo método sociológico legado por Pierre
review of the scientific French, North American, Bri- Bourdieu1.
tish and Brazilian production. Using published pa- Através da análise de diversos estudos sobre o tema,
pers on the medical field, we sought to clarify the tentaremos discernir as aproximações específicas
specific ways in which health, disease and medicine utilizadas para abordar a saúde, a doença e a medicina
are approached in both countries; to discern their his- em cada um dos países, levando em conta suas parti-
torical particularities; and to outline the relations cularidades históricas e traçando as relações entre
between sociology of health and sociology in the bro- esses setores e a disciplina sociológica.
ad sense of the word. We observed a confluence of Trata-se, em suma, de fazer uma revisão de algumas
factors, such as the basis of the formation of medical grandes linhas de força que caracterizaram as rela-
sociology in France as well as in Brazil: a reforming ções entre os setores de saúde e o resto da sociedade.
social project developed by public health doctors, a Na literatura brasileira sobre o assunto, percebe-
project developed by social sciences professors to se certa indefinição constante no uso das terminolo-
institutionalize the discipline in medical schools, and gias sociologia da saúde, sociologia médica ou medi-
a conservative reformulation of education during au- cina social. Essa questão parece, à primeira vista,
thoritarian governments. bizantina. Mas ressalte-se que há uma redefinição
Keywords: Medical Sociology; Sociology of Health; constante das heranças históricas e teóricas do cam-
Social Medicine; Pierre Bourdieu; Field. po da saúde, com reinvestimentos e ênfases, por parte
dos pesquisadores em atividade, em aspectos especí-
ficos da história da emergência do campo da saúde
coletiva, como forma de melhor se situarem dentro
dos movimentos de releitura do passado recente. Como
apontou Bourdieu, a autonomia relativa dos campos
sociais permite a redefinição das regras internas aos
campos, por parte de quem deles participa, e mesmo a
reinterpretação da própria história da sua gênese.
A despeito da enormidade da tarefa, propomos aqui
alguns apontamentos com a intenção de delinear e
clarificar a questão e, ao mesmo tempo, convidar os
pesquisadores que se dedicam ao tema a aprofundar
este debate.

Metodologia
Nosso esforço metodológico centrou-se na análise do-
cumental das obras de sociologia médica, sociologia
da saúde e sobre a formação da saúde coletiva. Reali-

1 Este encontro foi possível graças ao apoio da CAPES, que me proporcionou uma bolsa de estudos para um estágio doutoral no Centre
Maurice Halbwachs - École normale supérieure – ENS – Paris, no ano letivo 2005-2006.

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zei uma pesquisa bibliográfica no portal de periódicos víduos que exigiria um conhecimento agudo de técni-
Capes que incluiu, dentre outras, as principais revis- cas de mensuração, de esquadrinhamento do espaço
tas da área que abordam a medical sociology: Social social e de individualização da vigilância nas socieda-
Science & Medicine, Sociology of Health and Illness, des. Nesse estudo, focaremos nosso olhar sobre o que
Journal of Health and Social Behavior, The Milbank se convencionou chamar de Medicina Social.
Quarterly e American Journal of Public Health. Nessa O desenvolvimento da idéia e da aplicação da me-
busca no âmbito da saúde coletiva brasileira, utilizei dicina social à sociedade seguiu várias direções e ru-
a base de dados Scielo2 como fonte bibliográfica. Revi- mos, sempre se adaptando às condições políticas, so-
sei também, na minha dissertação de mestrado, as ciais e econômicas de cada país em que ela tomava
bases de dados de teses em saúde pública, encontran- corpo. Esse modelo de Medicina Social mantém sua
do algumas que tematizaram a formação da saúde co- atualidade, mesmo que o seu modelo tenha sofrido
letiva no Brasil. No contexto francês, contei como fon- críticas posteriores, muitas delas agudas.6 Tentaremos
te de dados, além das bases de dados como Persée3 e aqui reconstruir as etapas de formação desse modelo.
Cairn4, a pesquisa bibliográfica realizada durante meu Do ponto de vista atual, esse período de ouro da
doutorado sanduíche sob co-orientação5. Medicina Social lembra ao pesquisador da área da saú-
Por meio dos resumos, das citações cruzadas e da de o paraíso perdido, no qual a primazia do social era
bibliografia dos artigos, dentro do modelo bola de neve indiscutível. Quando os grandes problemas e ques-
(snow ball), selecionei um conjunto de textos que tra- tões por que passavam as sociedades, há pouco indus-
tassem da origem da saúde coletiva, medicina social trializadas, tomaram vulto, a medicina serviu de ins-
ou sociologia médica para uma leitura em profundida- trumento e de técnica a serviço da resolução de al-
de e uma interpretação teórica dos resultados. Nosso guns dilemas sociais.
foco central foi a relação entre a sociologia franco- Assim, Michel Foucault (1988) indica que a Alema-
nha foi o primeiro lugar no qual a Medicina Social
brasileira da área médica, mas incidentalmente dis-
tomou corpo e se traduziu em uma política formal,
cutimos a conformação desta sociologia na Europa,
ativa, nos meados do século XVIII, batizada como
Grã-Bretanha, EUA, Canadá e América Latina.
“Medizinichepolizei”, polícia médica: foi concebida no
quadro de uma política de saúde aplicada tanto aos
Uma Conjunção de Saberes: a médicos e suas escolas quanto à população em geral.
medicina social Criou-se uma burocracia de funcionários, geralmente
médicos, responsáveis pela administração dos sabe-
Se concordarmos com a tese de Michel Foucault (1988), res sobre a saúde.
a medicina social seria um resultado, dentre outros, Outro grande modelo surgiria depois, na Inglater-
do desenvolvimento de técnicas, maneiras e saberes ra do século XIX, através da efetivação na famosa “Lei
cujo objeto é o mundo social. O desenvolvimento de dos Pobres” de uma legislação capaz de um controle
uma biopolítica, como ele descreveu, teria tomado inú- mais fino sobre a população. Esse tipo de controle
meros aspectos e abrangido quase todo o espaço soci- pressupunha a união de uma assistência social à in-
al. Essa tecnologia aplicada às sociedades teria se tra- tervenção médica, possibilitando o gerenciamento dos
duzido por um recrudescimento do controle dos indi- trabalhadores assalariados.

2 Disponível em http://www.scielo.br/.
3 Disponível em http://www.persee.fr/, um portal de revistas científicas em ciências humanas e sociais, criado pelo Ministério fran-
cês da educação, do ensino superior e da pesquisa.
4 Disponível em http://www.cairn.info/accueil.php, um conglomerado de editoras de ciências humanas, Biblioteca Nacional da Fran-
ça, Centro Nacional do Livro e outras instituições francesas.
5 Agradeço a Me. Marie Jaisson, da Université de Tours e do Centre Maurice Halbwachs da ENS, co-orientadora de meu estágio, pelas
críticas e conselhos durante a preparação francesa da apresentação La sociologie médicale en France et au Brésil : une esquisse
comparative, durante seminário 2005-2006 da EHESS, base da redação deste artigo.
6 A análise de Foucault, por iluminadora e instigante que seja em suas grandes linhas e que por ora basta aos objetivos do presente
texto, apresenta fraquezas, sobretudo no plano histórico. Trabalhos como os de Dora Weiner, de George Weisz e outros permitem
uma visão mais fina da dinâmica histórica nessas questões. Agradeço a Me.Marie Jaisson por essa indicação de textos.

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Um terceiro modelo de desenvolvimento da medi- uma entidade revolucionária, profundamente enrai-
cina social é representado pela medicina higienista zada no pensamento político. Ele surgiu no rastro das
(essencialmente urbana), na França da segunda meta- alterações geradas tanto pela revolução política e in-
de do século XVIII. Os objetivos dessa medicina urba- dustrial, no caso francês, e, na Europa em geral, pelas
na são resumidos por Foucault (1988) em três grandes transformações políticas e econômicas dos séculos
pontos: análise das regiões insalubres do espaço urba- XVIII e XIX. No entanto, o próprio conceito é um solo
no (acúmulo de sujeira, pessoas e perigos); controle da comum no qual vicejam práticas e crenças diversas
qualidade do ar e da água, tidos como fonte de miasmas que se alternam dentro das sociedades. Uma boa abor-
e doenças e, por fim, controle da distribuição e fre- dagem dessa temática é a de Robert Nisbet (1985),
qüência das fontes necessárias à vida nas cidades. que trata a crença no progresso no século XVIII, quan-
Foucault indica que essa Medicina higienista e do ele significava um pressuposto da liberdade huma-
urbana colocou em contato as ciências médicas e outras na, um meio para se atingir a igualdade entre os indi-
que conheceram grande desenvolvimento no período, víduos, a emancipação do ser humano, dos povos e das
como a Física e a Química. Dessa conjunção nasceria, nações. Ele ressalta suas transformações quando pas-
se seguirmos literalmente o autor, a chamada Medici- samos desse século ao século XIX.
na Científica, resultado do uso instrumental e inser- O conceito de progresso nos moldes modernos –
ção do saber médico no discurso científico da época. secular, sistemático e natural - aparece pela primeira
Desses três modelos de medicina social, aprofun- vez de forma conseqüente e elaborada na obra de
daremos somente as origens da medicina de cunho hi- Turgot. A sua conferência pronunciada na Sorbonne,
gienista na França, que também influenciou a comuni- A Philosophical Review of the Sucessive Advances of
dade médica no Brasil. Para fazê-lo, é fundamental the Human Mind, coloca o progresso humano em ter-
explicitarmos as ligações entre as disciplinas e discur- mos de uma linha contínua de avanços e desenvolvi-
sos presentes na sociedade francesa, as condições so- mentos para toda a humanidade, que caracterizam as
ciais reinantes e as afinidades entre as diversas moda- sociedades mais avançadas da época. Ou seja, a histó-
lidades de discursos, que acabaram por consolidar, co- ria passaria a ser uma história universal do gênero
mo um sistema, as idéias referentes à saúde e à doença. humano, na qual as diversas sociedades se encontram
em etapas diferentes do processo de desenvolvimento
O Discurso do Progresso e o e de progresso. As diferenças dos povos podem então
ser medidas em relação a um padrão universal e,
Discurso da Saúde logicamente, europeu.
Buscar as origens de uma disciplina no tempo, dentro Outro famoso filósofo a discorrer sobre essa ques-
do panorama intelectual francês, caracterizado por tão da evolução das sociedades foi Condorcet. Estabe-
uma vasta tradição intelectual e uma grande diversi- leceu dez períodos evolutivos, situando a sociedade
dade de pensadores, pode se tornar uma tarefa infin- francesa no limiar da última fase da história humana.
dável. Limitar-nos-emos, aqui, a estabelecer algumas Após o advento da Revolução da qual participara como
idéias centrais que desaguarão, na sociologia france- girondino e na qual seria morto em 1794, Condorcet
sa contemporânea, em um corpus bem delimitado de acreditava que o derradeiro passo tinha sido dado.
conhecimento. Para ele o fim das desigualdades seria o resultado do
A dupla revolução – Francesa e Industrial – impul- aperfeiçoamento da “arte social”, baseada no progres-
sionou uma série de mudanças na maneira de se pen- so dos princípios de conduta e da prática moral. A
sar as sociedades como um todo. Eventos de estatutos evolução humana estaria amalgamada profundamen-
diferentes, político e econômico, estabelecem nas so- te à idéia do controle sobre a natureza e do aperfeiço-
ciedades a idéia de ruptura com a ordem estabelecida amento humano. A ligação entre biologia humana e
e de mudanças sociais. Do caldo cultural e das gran- evolução será um tema recorrente também nos pensa-
des mudanças sociais nasce uma comunhão forte de dores do século seguinte, reforçado fortemente com a
conceitos em torno da idéia de progresso. No século teoria da evolução de Darwin. Esse raciocínio é exem-
XVIII, o conceito de progresso se apresentava como plarmente exposto na passagem seguinte:

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O aperfeiçoamento ou a degeneração orgânica das ças sociais e da tomada de posição frente ao conheci-
raças nos vegetais, nos animais, pode ser observa- mento do mundo; ele jogará um papel relevante duran-
da como uma das leis gerais da natureza. Esta lei te todo o século XIX.
se estende à espécie humana, e pessoa não duvidará Os recursos às grandes analogias entre o biológi-
com certeza que o progresso na medicina conser- co e o social, entre o mundo dos organismos físicos e o
vadora, o uso de alimentos e de moradias mais sãos, da sociedade não vão cessar de se estabelecer com
uma maneira de viver que desenvolveria as forças grande força até o século seguinte. No entanto, com o
pelo exercício, sem as destruir pelo excesso; que advento da teoria do germe de Pasteur, emergem no-
enfim, a destruição das duas causas mais ativas vos domínios de experimentação nos quais as ciênci-
da degradação, a miséria e a riqueza muito grande, as médicas encontram um terreno de desenvolvimen-
não devem prolongar para os homens a duração da to, afastando-se das características eminentemente
vida comum, lhes assegurar uma saúde mais cons- sociais da etiologia da doença. Essas analogias foram
tante, uma constituição mais robusta. Sente-se que grandemente facilitadas pela influência de uma vari-
os progressos da medicina preservadora, tornados ante do positivismo que se enraizou na Inglaterra e
mais eficazes pelos progressos da razão e da or- retornou à sociedade francesa sob a forma de darwinis-
dem social, devem fazer desaparecer com o tempo mo social. A partir de 1870, é muito difundida a obra
as doenças transmissíveis e contagiosas, e aque- de Spencer, na França, sobretudo graças ao filósofo
las doenças gerais que devem sua origem ao clima, Alfred Spinas.
aos alimentos, à natureza dos trabalhos. Não seria No período de 1870 até a primeira Guerra Mundial,
difícil provar que esta esperança deve se estender havia uma variedade de intelectuais atuando na expli-
a quase todas as outras doenças, às quais é prová- cação do mundo social, e todos buscaram estabelecer
vel que saberemos um dia reconhecer as causas as leis próprias da sociedade. Na França, o fim do sé-
ocultas. (Condorcet,1971). culo XIX corresponde ao momento de consolidação do
A relação entre os intelectuais e o Estado definiu- sistema universitário e a sociologia como disciplina
se nesse momento e pode ser evidenciada ao analisar- acadêmica não existia ainda7. A sociologia como uma
mos as relações entre os ideólogos da Revolução nova empresa seria assumida por uma corrente de fi-
Francesa e os movimentos de controle médico da popu- lósofos, da qual Durkheim era o principal represen-
lação: uma decisão de primeira hora da Assembléia tante. Ele percebia na sociologia um novo método que
Constituinte, em 1790-1791, foi a criação, nos departa- permitia suplantar uma prática filosófica tornada es-
mentos e principais cidades francesas, de Comitês de téril no plano científico.
Salubridade. O panorama no qual surge a moderna sociologia
Um potente aparelho de observação, como a medici- durkheimiana é dominado pelos paradigmas positivis-
na social, é colocado em prática e se desenvolve ubiqua- ta e organicista. Ambos transparecem em obras de
mente no campo do social. Há uma conjunção inédita inúmeros autores e de variadas formas. No entanto,
entre “interesses estatais de controle social, de preo- estabelecem, para usar uma metáfora biológica, um
cupações humanísticas e higienísticas de ajuda às po- caldo de cultura no interior do qual florescerá a ciên-
pulações mais deserdadas e uma busca científica de cia social, no final do século XIX.
aplicação aos fatos humanos dos métodos matemáti- Assim, Durkheim teve a tarefa de marcar firme-
cos testados nas ciências da natureza” (Berthelot, 1991). mente as fronteiras e delimitar claramente o objeto
Durante todo aquele século houve o reconhecimen- da sociologia. Para tanto, e apesar da utilização fre-
to do espaço social como meio para a ação humana. O qüente de analogias biológicas em suas obras, teve
substrato que marca os primórdios da chamada medi- que se afastar claramente da chamada física social de
cina social estava impregnado das idéias das mudan- Comte e estabelecer o mundo social como uma entida-

7 O primeiro diploma de sociologia na França, no nível de graduação, seria criado em 1958. Quanto ao tema, ver Chenu, A (2002). Une
institution sans intention: la sociologie en France depuis l’après-guerre. Actes de la recherche en sciences sociales, v.141-142, p.46-
59, 2002, que analisa o esforço de renascimento das ciências sociais na França.

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de além do individual e do orgânico. Ao romper com o aparição e evolução das doenças, implicando em uma
biologicismo, estabelece um distanciamento claro com nova relação terapêutica, carregada de influências psi-
os estudos na área da medicina e da biologia. Esse cológicas e sociais.
vínculo só será retomado após a II Guerra Mundial, Em relação ao primeiro aspecto, fica claro que, a
quando terá esmaecido o paradigma da escola partir dos anos 1960, mudanças significativas ocorriam
durkheimiana. na técnica médica. Com a concentração dos atendimen-
tos em unidades complexas como os hospitais, local
A Emergência do Campo da no qual acontecem a pesquisa, o ensino e o cuidado em
Sociologia Médica e da Medicina si, novos problemas quanto à organização dessa insti-
tuição aparecem na pauta do dia. Outro ponto se refere
Social na Europa ao crescimento dos custos da saúde, que levam a dile-
As condições de aparecimento de uma moderna sub- mas orçamentários e discussões políticas quanto aos
disciplina chamada sociologia médica, posteriormen- investimentos a serem realizados. Além disso, há uma
te chamada da saúde, são muitas e variam de acordo transformação da prática médica ligada a uma série
com o país em questão. No entanto, há unanimidade de alterações no campo: a inserção de novos grupos
entre os autores que trabalham o tema em indicar o sociais no ambiente médico, participando do ato curati-
período após a II Guerra Mundial como o momento de vo ou de cuidado; especialização das áreas médicas;
retomada tanto das ciências sociais quanto da sociolo- alteração da relação médico-paciente; maior divulgação
gia médica no continente europeu. Eric G. Saint aponta e difusão dos conhecimentos médicos; mudanças na
esse período como um marco que inaugura uma nova hierarquia e status dentro dos grupos médicos e outras.
era (a segunda) da moderna medicina, tendo a primeira Novas demandas se apresentaram no espaço social
ocorrido no período de 1840 a 1945: questionando, à luz do novo papel da medicina, o lugar
privilegiado dos médicos como agentes do processo
A Segunda Guerra Mundial serviu como um gran-
da promoção da saúde, pois pareciam até então cor-
de divisor de águas, catalisando a revolução cien-
porativistas e preocupados em defender sua cômoda
tífica, educacional e sociológica. (...) Os governos
posição em relação ao Estado e aos administradores
de pós-guerra foram forçados, pela opinião públi-
públicos da saúde.
ca e pelos próprios grupos profissionais, a respon-
Ainda dentro do tema da transformação da tecnolo-
derem a demonstrativa necessidade de mudanças.
Foram forçados a proverem, por um lado, um siste- gia médica e da pressão gerada sobre a prática, surgia
ma mais igualitário de saúde em sociedades nas com força o tema da redefinição da formação do pro-
quais a memória dos anos de escassez estava vívi- fissional da saúde. Essa discussão versava sobre as
da, e a proverem, por outro lado, condições nas escolas de medicina e sua organização do ensino, nas
quais a prática científica da medicina pudesse flo- quais são gerados e se reproduzem os agentes da prá-
rescer (Saint,1981). tica médica.
Todos esses fatores eram oriundos de um movi-
Para o sociólogo francês Steudler (1972), esse mo- mento “interno” à ciência médica e resultado de sua
vimento ganha força na França nos anos 1960 com própria dinâmica.
uma reaproximação entre medicina e ciências sociais, Quanto às características externas, devemos su-
que se traduz em um aumento decisivo no número de
blinhar que, ao mesmo tempo em que a medicina mu-
pesquisadores engajados no campo. Steudler aponta
dava internamente, havia fatores devidos à mudança
que, se essa afinidade entre os campos é de múltipla
no próprio perfil epidemiológico das sociedades e na
origem, ela aparece como um produto de dois princi-
maneira como se considerava os aspectos psicológi-
pais fatores:
cos do adoecimento. De acordo com Steudler (1972), as
• das pressões inovadoras sobre a prática da medicina, doenças crônicas do pós-guerra e o desenvolvimento
geradas pelo desenvolvimento técnico e organizacio- das ciências comportamentais, como a psicanálise e a
nal da ciência médica; antropologia, levaram a um investimento crescente
• do novo estatuto dos fatores sociais e ambientais na na busca das origens sociais e mentais das doenças.

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Quanto à sociologia em geral e à sociologia médica médica aconteceu segundo uma cronologia diferente
em particular, podemos apontar algumas caracterís- nos países europeus. Fica claro que aqueles que co-
ticas gerais que podem ser enfeixadas em um conjun- nheceram um desenvolvimento precoce da sociologia
to comum de variáveis. O impacto das duas grandes médica foram os que estavam mais diretamente influ-
guerras não pode ser minimizado. No caso da sociolo- enciados pelos EUA, como a Grã-Bretanha, seguida da
gia, como em tantas outras áreas, a segunda guerra Alemanha Federal. No caso específico da Inglaterra, o
significou uma pá de cal na transmissão dos conheci- primeiro Departamento de Medicina Social foi forma-
mentos e do ofício; esta ausência favoreceu a importa- do em 1939, em Oxford, e nesse espaço gradativamente
ção dos modelos intelectuais norte-americanos, afas- foram incluídos, nos trinta anos seguintes, pesquisa-
tados daquela tradição sociológica. Foi necessário re- dores oriundos das ciências sociais. A partir desse
construir as bases teóricas e os quadros intelectuais, espaço acadêmico, conseguiram atingir a especializa-
destruídos durante esse período. ção necessária para desenvolverem pesquisas com
Para a Europa, a II Grande Guerra marcou o fim da perfil epistemológico oriundo do referencial socioló-
sua hegemonia e o começo da hegemonia norte-ameri- gico. Como coroamento desse processo, criou-se um
cana. Isto se traduziu pela imposição de sua ciência, ramo diferenciado e nomeado, a exemplo e sob influ-
como por exemplo, em medicina, a descoberta dos an- ência americana, sociologia médica. A medicina soci-
tibióticos e, em ciências sociais, através de progra- al voltou-se para e passou a atuar dentro da lógica
mas de financiamento americanos que permitiram a epidemiológica dos estudos populacionais, e assim,
imposição das suas problemáticas, como a do estudo ganhou uma maior legitimidade científica (Reid,1976).
das profissões. Isso teve como conseqüência relegar No caso dos outros países, a sociologia médica só apa-
ao ostracismo, por muitas décadas, todas as ciências recerá no fim dos anos 1960 ou nos anos 1970.
sociais européias e notadamente as francesas. Elas
serão retomadas em suas próprias tradições progres- Quadro 1
sivamente a partir dos anos 1960, como no caso da
Período de institucionalização da sociologia médica - Europa*
sociologia durkheimiana, reabilitada por Bourdieu
Meados dos anos 1950 Reino Unido (Social Medicine), USA
nessa época.
Final dos anos 1950 Rep. Fed. da Alemanha (1958)
Com a intenção de entender a formação da sociolo-
Meados dos anos 1960 Polônia, Finlândia, Bélgica
gia médica na Europa, Lisbeth M. Claus (1983), no fim
dos anos 1970, realizou um trabalho sobre as origens e De meados ao final Áustria (1967)
dos anos 1960
o desenvolvimento dessa especialidade na Europa,
através de questionários aplicados a 646 profissio- Anos 1970 Maioria dos países europeus
França, Espanha (1976), Hungria (1970)
nais atuantes nessa área, em conjunto com estudos
Anos 1980 Portugal
históricos e analíticos sobre cinco países – Reino Uni-
do, Bélgica, Polônia, República Federativa Alemã e Fontes: Claus, 1983; Lahelma e col., 1988; Campos e Miguel, 1982; Remoaldo e col.,
França. Como conclusão, ela sublinha que a institucio- 2007; Kullberg, 1986.

nalização da sociologia médica resulta da convergên-


cia de dois fatores: primeiro, as mudanças sofridas No Canadá, em Québec, o surgimento da disciplina
nas tendências da saúde, da medicina e do cuidado sociologia da saúde, emancipada da medicina social,
médico, sobretudo com a instalação do Welfare State; ocorreu em torno de 1965, quando a saúde torna-se um
segundo, de forma concomitante, o crescimento e objeto de disputa entre grupos sociais que percebiam
amadurecimento das ciências sociais as habilitaram, de forma diferente, e às vezes conflitante, o seu aces-
através de instrumentos metodológicos e quadros te- so aos cuidados de saúde (Dumais e col., 1975).
óricos adequados, a reivindicar uma atuação nas soci- Algumas variáveis podem ser colocadas em evi-
edades do pós-guerra. dência quando se analisa o nascimento dessa nova
No quadro a seguir, construído com os dados for- especialidade sociológica na Europa. Inicialmente, há
necidos por Claus e complementado por outros auto- fatores gerais que se referem ao contexto histórico
res, percebemos que o desenvolvimento da sociologia europeu, e sua incidência sobre os conhecimentos em

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geral e a sociologia em particular. Depois considera- Esse impulso pela abordagem das questões de saú-
remos aquelas que tocam particularmente à sociolo- de sob o prisma das ciências humanas, especialmente
gia médica. as sociais, representou uma retomada das origens
Nos anos 1960 ocorreu um investimento estatal européias de uma medicina mais ligada ao social, cujas
maciço nos fundos de pesquisa e no desenvolvimento raízes se encontram no século XIX na maioria dos pa-
de pesquisas, e as ciências sociais foram relativamen- íses europeus. Apesar do declínio da medicina social
te privilegiadas. O objetivo, da parte dos organismos quando ascendeu e ganhou força o paradigma
de financiamento, era obter dados que orientassem biomédico, na virada para o século XX, a medicina dita
políticas públicas. social deixou marcas que podemos ainda discernir na
No caso da medicina, a organização, no pós-guerra, sociologia médica atual.
dos sistemas estatais de saúde e de previdência social Por outro lado, alguns fatores trabalharam no sen-
do Welfare State havia gerado altos custos orçamentá- tido de conter a autonomização dessa subdisciplina
rios. Essa alta de custos levou, nos anos 1960, a um em território europeu, de acordo com Claus (1983).
aporte de fundos privados e públicos para pesquisas, Um primeiro freio foi a rígida estrutura universi-
como forma de solucionar esses problemas. tária européia, fruto da tradição e sedimentação dis-
Os países europeus conheceram, nesse período, ciplinar ao longo dos séculos. Isso gerou dificuldades
uma expansão e democratização do ensino superior, na institucionalização da própria sociologia que tra-
através da criação de novas universidades e do au- dicionalmente partilhava o espaço com outras disci-
mento do número de vagas. plinas agrupadas sob o rótulo de humanidades (a
Outro ponto refere-se ao desenvolvimento da socio- posteriori também na subárea ligada à saúde). Outra
logia como uma ciência moderna, “apartada” de sua dificuldade foi a própria maneira como as carreiras
tradição clássica e de sua herança anterior. A absorção universitárias se desenvolveram, ligadas a relações
parcial do modelo americano de pesquisas, mundial- corporativas e francamente determinadas pela estru-
mente hegemônico no período, facilitou, por um lado, tura acadêmica. Essa peculiaridade dificultou a cria-
a sua especialização em subáreas e, por outro, o surgi- ção de novos postos e áreas de estudo.
mento de novos estudos e objetos. Isso estimulou o Outra razão que obstaculizou o desenvolver da dis-
desenvolvimento da sociologia aplicada ao campo ciplina relaciona-se à imagem percebida da sociologia
médico. como uma atividade de extremo criticismo e politicis-
Deve-se considerar também a importância dos mo. Isso teve como efeito uma manutenção a distância
movimentos sociais de contestação social dos pode- dessa jovem disciplina, facilmente rotulada como ra-
res constituídos, especialmente por parte dos estu- dical, o que tornou difícil sua integração em espaços
dantes, dentro do clima de inquietação política do mais conservadores, como o meio médico em geral.
período. Novas áreas de atuação dentro da estrutura Por fim, as difíceis interlocuções com as discipli-
acadêmica foram reivindicadas pelos agentes sociais, nas fronteiriças, há muito arraigadas no universo aca-
aí inclusas o ensino e a educação médica. Novas pro- dêmico, como a medicina social, a saúde pública, a
postas e novos regulamentos são colocados na ordem demografia médica e a geografia, que competiam em
do dia dentro das escolas médicas, buscando uma áreas afins e monopolizavam o acesso ao universo
melhor prática médica, questionada como expressão médico, o que impedia a realização de alianças e pes-
do “poder médico”. quisas com os profissionais da saúde.
A introdução de ciências comportamentais no cur- Enfim, um último obstáculo apontado por Claus foi
rículo médico parecia uma forma de adequar a atua- o da ausência fundamental de teorias ligadas ao
ção dos futuros médicos. Essas mudanças abriram as mainstream sociológico, que pudessem dar apoio e dia-
portas das escolas de medicina aos especialistas de logar com essa área específica de conhecimento, a exem-
ciências sociais e um novo espaço de atuação a muitos plo dos trabalhos de Parsons e Merton nos EUA. Essa
sociólogos da saúde. Além disso, a crítica ao sistema ausência de diálogo entre os grandes pensadores da
de saúde se fazia cada vez mais aguda e demandava sociologia com aqueles inseridos nesse setor específi-
respostas sociais urgentes. co de conhecimento – a sociologia médica – é uma exce-

200 Saúde Soc. São Paulo, v.17, n.2, p.193-210, 2008


ção inexplicável, se temos em vista o fato de que outras volvimento da própria medicina. Nesse objetivo, eram
linhas teóricas se desenvolveram dentro das ciências considerados os interesses dos grupos profissionais
sociais - sociologia do trabalho, da família, da religião e que atuavam em saúde e as demandas sociais. Esse
outras não conheceram essa lacuna teórica. papel do estado é chamado por ele de guardião.
Essa política pôde manter-se durante o período de
Um Campo Específico: a sociologia ouro do Welfare State, devido ao expressivo cresci-
mento da economia e também do esforço governamen-
médica francesa tal de Charles de Gaulle em desenvolver pesquisas na
Tudo do que até aqui foi discutido sobre a Europa em área da saúde. Ela começa a entrar em crise no final da
geral pode ser aplicado à França. No entanto, alguns década de 1960, quando, sintomaticamente, começam
fatores históricos e sociais próprios explicam a con- a ser investidos novos recursos em pesquisas econô-
formação diferenciada de alguns aspectos da sociolo- micas e sociológicas centradas na medicina como ob-
gia médica francesa. Ainda que a prática médica nos jeto de estudo. Como aponta o autor, o total de impos-
EUA e a estrutura da saúde como é estudada pela soci- tos pagos pelos franceses, resultado da soma de taxas
ologia médica seja muito diferente de sua homóloga normais mais a contribuição à seguridade social, che-
na França, esta influenciou intensamente os traba- gou a tomar 32,8% do PIB (GDP) francês em 1959. Quinze
lhos franceses nesse domínio. anos mais tarde, em 1973, atingiu 35,7% e, em 1980,
O crescimento e o desenvolvimento da sociologia chegou a 41,6%. Esse aumento contínuo, superior ao
como disciplina mãe ganhou novo ímpeto a partir do crescimento da economia, aliado à crise econômica
pós-guerra, nos anos 1950 e 1960. Contrariamente ao consecutiva ao choque de petróleo no início dos anos
que aconteceu na sociologia americana, na qual Talcott 1970, levou a uma crise do estado de Bem-Estar Social.
Parsons dominou a disciplina por muitas décadas e Para Steudler (1986), as dificuldades começarão a
exerceu um papel marcante na profissionalização e reaparecer nos anos 1960 e progressivamente se tor-
teorização da sociologia médica, os sociólogos france- narão incontornáveis, gerando nos anos 1980 um am-
ses mais conhecidos não tomaram a medicina como plo debate público. O aumento dos custos e os proble-
um objeto de estudo próprio e relevante (Herzlich, mas enfrentados no sistema de hospitais públicos le-
1985). Ao contrário, a sociologia médica na França foi varam a iniciativas do Estado no campo da saúde, com
bastante influenciada pelo modelo americano e sua o interesse de conhecer a área e implementar políti-
emergência pode ser datada nos anos 1970 (Jaisson, cas públicas adequadas.
1988). Nesse momento de crise, os interesses dos profis-
Diferentemente de outros países europeus, o fan- sionais de saúde e dos beneficiários desse sistema
tasma dos dilemas da reconstrução do atendimento foram suplantados pelo modelo economicista que en-
das populações doentes pareceu ter sido exorcizado tra em vigor nesse período. Nos termos de Steudler
pela sociedade francesa, ao menos nas primeiras dé- (1986), o papel estatal passa de guardião à força guia,
cadas do pós-guerra, como ressaltou Herzlich (1985): frente às novas necessidades econômicas e sociais.
A entrada em cena do Estado francês nesse novo
Nosso sistema de saúde pareceu ser uma síntese
papel coincide com o momento de crescimento e matu-
harmoniosa caracterizada pela coexistência de prá-
ração da sociologia na França. Até então uma discipli-
ticas médicas privadas (a chamada medicina libe-
na marginal, a institucionalização da sociologia ocor-
ral) com reembolso pela seguridade social. Supos-
re no confronto com outras disciplinas, melhor enrai-
tamente, a sociedade francesa chegou a um equilí-
zadas no contexto acadêmico francês, como a filoso-
brio; a escolha livre do paciente de seu médico
fia, a história e outras.
entrou em acordo com a garantia financeira do di-
Claudine Herzlich (1985) apontou que o desenvol-
reito do cuidado médico.
vimento dessa sociologia esteve ligado às iniciativas,
Na visão de Steudler (1986), o primeiro papel do demandas e financiamentos do Estado, que incenti-
Estado francês foi no sentido de prover o atendimento vou financiamentos de projetos de pesquisa sobre a
de saúde a toda a população e também manter o desen- área médica, o que mostrava a intenção de aplicar as

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ciências sociais na área médica, embora os pesquisa- Touraine, guiarão seus esforços em direção das
dores dispusessem de meios de preservar certa auto- questões médicas. Alain Touraine havia pesquisado
nomia em vista do Estado financiador, por meio de a sociologia médica em sua tese e, em conjunto
instituições de pesquisa como o CNRS. Apesar desse com Jean-Daniel Reynaud, publicará um artigo so-
incentivo estatal, esses esforços iniciais não foram bre os estudantes de medicina (Reynaud e col.,
capazes de abrir as portas do mundo médico e da Or- 1956). François Steudler publicou em 1972 sua obra
dem dos Médicos, instituição de controle dos mesmos Sociologie médicale e dois anos mais tarde dedica
por seus pares e com a qual o estado deve lidar sobre o livro L’hôpital en observation ao estudo do uni-
todas as questões de reforma do ensino, da prática verso hospitalar (1974). Claudine Herzlich, forma-
médica e outras. da inicialmente em psicologia social, publicou uma
Ela constatou que a iniciativa desse novo estado, primeira obra sobre o estudo das representações
através da criação da DGRST – Delegação Geral para a sociais sobre a doença e a saúde (Herzlich,[1969]
Pesquisa Científica e Tecnológica – uma agência sob 1984). Um ano mais tarde, ela edita um conjunto
as ordens do primeiro ministro da França, foi extre- de textos de sociologia da medicina publicados
mamente bem recebida, pois “estes projetos tinham a originalmente em inglês, Médecine, maladie et
intenção de ajudar a entender o sistema de saúde e société (Herzlich,1970). Por fim, ela difundiu na
otimizar o seu funcionamento. Esse sistema não po- França a obra de referência na área, de Eliot
dia mais ser deixado somente nas mãos dos médicos, Freidson, La Profession Médicale.
pois suas contradições estavam se tornando visíveis” Um passo inicial na via da institucionalização da
(Herzlich,1985). sociologia médica na França foi o primeiro balanço
Com essa abertura e instalação da DGRST, pesqui- sobre a produção científica, publicado em 1973 na
sas sobre o campo da saúde começam a ser publicadas Revue française de sociologie, no qual encontramos
sistematicamente, versando sobre políticas hospita- trabalhos que versam sobre o ambiente médico ou te-
lares, evolução da seguridade social, imagens sociais mas específicos ao campo médico, reunidos e apre-
da saúde e da doença, saúde mental, pessoas deficien- sentados por Jacques Maître (1973). Nesse volume,
tes físicas, organização hospitalar e acesso aos servi- vemos que boa parte dos estudos tem objetos muito
ços de saúde, dentre outras. ligados à ideologia das instituições médicas e que
De uma maneira mais geral, Michael Pollak (1976) esse panorama mudaria em seguida para objetos mais
notava que o começo dos anos 1970 foi marcado na dentro das tradições sociológicas (Montagner, 2008).
França pela multiplicação das ofertas de financiamen- Somente no final dessa década se institucionali-
tos de projetos em ciências humanas e sociais, sobre- zará definitivamente na França a disciplina sociolo-
tudo sobre questões médicas. Elas eram oriundas de gia médica, com o surgimento de um grupo significa-
organismos públicos como a citada DGRST, também tivo de pesquisadores e grupos coesos de pesquisa,
do CORDES ou de outros. aglutinados em torno do primeiro colóquio organiza-
Nesse período de institucionalização e consolida- do sobre Saúde, Medicina e Sociologia, ocorrido em
ção da sociologia médica, sob influência norte-ameri- julho de 1976. A partir de então, pode-se dizer que se
cana, os estudos sobre as profissões de saúde são re- institucionalizou e cristalizou-se a especialidade, cuja
tomados e traduzidos pelos pesquisadores franceses, expressão de sua produção científica será feita na
com o objetivo de consolidar esse domínio ainda es- revista Sciences Sociales et Santé, criada expressa-
cassamente representado. Marie Jaisson (1988) des- mente para esse fim em 1982.
creveu esse esforço nos seguintes termos: No entanto, a despeito do impulso tomado pelas
Um conjunto de trabalhos nessa linha é publicado pesquisas nesse período, a sociologia médica não con-
no Centro de Estudos de Movimentos Sociais do seguirá se implantar com esse título no meio médico,
EHESS em Paris, onde sociólogos como Jacques que constitui um grupo profissional muito fechado
Saliba, François Steudler, Claudine Herzlich, na França, mesmo se individualmente alguns pesqui-
Régine Rodriguez, Serge Mallet, Lucien Karpik, sadores tenham chegado a se misturar no seio da
Antoinette Chauvenet, sob direção de Alain corporação, mas essa posição sempre foi instável.

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A sociologia médica na França é muito menos listas na subárea encontra-se fracamente instituciona-
enfronhada no espaço médico, se comparada com os lizada. Como afirma a autora, os pesquisadores desse
EUA e o Brasil: o ensino nas faculdades de medicina campo têm sérias dificuldades em criar uma identida-
ainda é pequeno e praticamente negligenciável. Ao de profissional claramente reconhecível através de
contrário de outros países europeus, nos quais a soci- seu trabalho.
ologia penetrou nas escolas médicas através e para o Em resumo, a medicina em geral na França apre-
ensino, a sociologia médica francesa ficou restrita a senta como característica ser dificilmente acessí-
uma atuação externa ao campo médico e seus conteú- vel, sendo efetivamente monopolizada pelos profis-
dos não estão claramente definidos nos currículos e sionais médicos. Essa dificuldade projeta-se sobre o
nas carreiras médicas (Herzlich,1985). Como comen- alcance dos estudos empreendidos dentro do espaço
tou Herzlich (2007), mesmo passadas décadas da data médico, em número e qualidade. Há um bloqueio re-
em que começou esse tipo de ensino, a discussão a lativo e um forte controle por parte da Ordem dos
respeito de como implementá-lo e suplantar as difi- Médicos do acesso aos objetos de pesquisa direta-
culdades continua atual. mente ligados às práticas de saúde e outros assuntos
É preciso esclarecer aqui que, depois de uma re- internos, o que diminui a legitimação das pesquisas
forma dos estudos médicos em 1982, na França, um do sociólogo médico (ou da saúde) no seio da sociolo-
curso em ciências humanas é obrigatório no primeiro gia stricto senso; como também aos olhos das ins-
ano de estudos e representa uma porcentagem não tâncias de fomento, o que restringiria os financia-
desprezível da nota final do ano letivo; somente 20 a mentos públicos para os sociólogos da medicina e da
25% dos estudantes que começaram os estudos do saúde. Percebe-se uma confluência de fatores como
primeiro ano das faculdades passarão ao segundo ano o núcleo da formação da sociologia médica na França,
e poderão prosseguir na carreira médica. A escolha atrelada à construção do Welfare State e a sua ‘des-
das disciplinas a serem ensinadas no contexto geral construção’ nos anos 1970.
da formação em ciências humanas depende da esco- Já no Brasil, tivemos três grandes linhas de força
lha do corpo de professores e quadro de cada faculda- na construção da sociologia médica, da medicina social
de; assim, se podemos encontrar algumas horas de e depois da saúde: um projeto social de reforma da
cursos de sociologia e antropologia, são mais freqüen- parte dos médicos “higienistas”, um projeto de institu-
tes os conteúdos de psicologia, de psicanálise ou cionalização da disciplina da parte dos professores
epidemiologia (Jaisson,1995). de ciências sociais dentro das Faculdades de Medici-
Nos anos 1980, começa uma institucionalização na e uma reforma conservadora da parte dos governos
da sociologia na área médica, mas confirma-se a im- autoritários (Carvalho,1997). Deste processo ensaia-
portância da demanda do Estado no desenvolvimento remos a descrição.
das pesquisas, o que torna delicada a questão da auto-
nomia dos trabalhos realizados. Assim, não é surpre-
endente que essa especialidade não tenha na França a
A Gênese da Saúde Coletiva
estrutura institucional que tem nos EUA, ainda que A emergência da saúde coletiva ocorreu através de um
algumas obras sejam muito reconhecidas (Jaisson, processo de autonomização frente à Saúde Pública, da
1988). própria Medicina Preventivista e do modelo de Medi-
Isso é corroborado atualmente pela afirmação de cina Comunitária, alargando seu objeto de estudo e
Herzlich (2007), que constata que, após um período de redefinindo suas fronteiras.
interesse Estatal e público pela sociologia médica, A conjunção de fatores internos ao campo, como a
voltou-se a um estado de crise de recrutamento e fi- constituição de instrumental teórico institucionali-
nanciamento nos anos 2000, devido ao crescimento da zado, aliada aos fatores externos, a luta pela democra-
concorrência com os profissionais da própria área tização e o movimento sanitário de cunho ideológico
médica por recursos escassos. Ao mesmo tempo, ela (no pleno sentido do termo) foram coroados com a
está longe de ser claramente aceita no seio da disci- institucionalização de um novo espaço de práticas
plina mãe e a reprodução de pesquisadores e especia- nomeado “saúde coletiva”.

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As formações discursivas – no sentido de Foucault Burlandy (1993) em dois períodos principais: o pri-
– presentes no campo da saúde, sob o efeito das práti- meiro, de 1979 a 1985 e o segundo, de 1989 até 1991,
cas discursivas colocadas em jogo pelos movimentos durante a implantação da Reforma Sanitária. No pri-
sociais, acabaram cristalizando-se em torno de uma meiro, a ênfase foi no modelo estrutural-marxista. No
nomeação específica, destinadas a justificar ideolo- segundo período, durante a implementação das políti-
gicamente práticas sociais, como ocorreu com o con- cas elaboradas e conquistadas pelo movimento de re-
ceito “saúde coletiva”. forma da saúde no Brasil – período da criação do SUS –
Esse processo de consolidação do projeto da saúde percebemos uma tendência de redefinição dos mar-
coletiva ocorreu, de acordo com Costa (1992), a partir cos conceituais que permitiram a conquista desse novo
de três linhas de força: o campo de produção de conhe- sistema de saúde. Emergiu então, com força, a temática
cimento, um esforço de formulações de políticas pú- epistemológica e a revisão dos marcos teóricos que
blicas e uma expressão da organização (corporativa) embasavam o campo recém-criado.
dos profissionais da saúde do setor público. Sabemos que uma separação real dentro do con-
Penso que tanto a formulação de políticas públi- junto de forças sociais que influenciaram a emergên-
cas como a organização corporativa dos intelectuais cia do campo é impossível de realizar, mas pretende-
desse período foram a expressão da intervenção ex- mos discernir algumas linhas centrais. Considerando
pressiva do estado brasileiro e do contexto político os estudos citados, podemos ensaiar aqui uma divisão
repressivo sob o qual agiam os agentes sociais, como de acordo com três categorias: Externas – movimen-
sublinhou Carvalho (1997). tos sociais e mudanças históricas das sociedades; Ide-
Nessa linha de raciocínio, Patrícia Tavares Ribeiro ológica – políticas públicas e organização corporativa
(1991) estudou as condições sociais da emergência das profissões; e Interna e epistemológica - corpus de
desse novo campo social e constatou que o “projeto conhecimentos e instrumentos técnicos.
científico da saúde coletiva” foi o resultado da “expe- Poderíamos afirmar que a saúde coletiva constitui-
riência acumulada de ensino e pesquisa no âmbito se como um corpus em relação à medicina em geral e ao
das atividades científicas do movimento da medicina modelo biomédico, contando com uma ideologia comum,
preventiva, da medicina social e da saúde pública” e um arsenal delimitado no referencial epidemiológico,
da “conjuntura político-institucional da FINEP de ex- no planejamento em saúde e no instrumental das ciên-
trema permeabilidade em relação ao apoio ao desen- cias sociais aliados à herança dos conhecimentos da
volvimento científico na área social”, com “um quadro medicina preventiva e da saúde pública. Esse corpus
dirigente de técnicos progressistas, sensíveis a temá- representa um campo interdisciplinar em disputa cons-
tica da saúde”. tante com outros atores e instituições da área médica
A autora constatou a ausência de um projeto acadê- pela definição legítima de seu objeto científico.
mico unificado, capaz de fazer frente às demandas Nesse espaço social, a sociologia representa hoje
por resolução dos grandes problemas sociais. Ao ana- em dia um dos discursos presentes, disputando atual-
lisar o período de emergência de instituição da saúde mente com outras disciplinas humanas há pouco intro-
coletiva, apontava a dependência acentuada da produ- duzidas no campo e com os intelectuais mais ligados
ção acadêmica de fontes estatais de financiamento, a outras tradições teóricas a hegemonia do discurso
por meio de projetos de pesquisa e uma grande ênfase legítimo.
dada à lógica política, com a conseqüente colocação Por fim, as disciplinas presentes no campo da saú-
em segundo plano da produção teórica; e por fim, uma de coletiva tendem a se concentrar em três grandes
ênfase epistemológica, durante sua fase constitutiva, áreas diferenciadas: a epidemiologia, o planejamento
no modelo estrutural-marxista, caracterizado pelo dis- em saúde e as ciências humanas e sociais, apontando
curso científico macro-sociológico e generalista, dis- para uma segmentação institucionalizada. Essas áreas
tante das demandas práticas do campo. tornam-se cada vez mais segmentares e especializa-
Esse projeto acadêmico e essa produção teórica no das, com Congressos individualizados, revistas espe-
período de emergência do campo foram divididos por cíficas e bases metodológicas diferenciadas.

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Um Escorço Comparativo sobre a Grã-Bretanha, a Alemanha e a Áustria. Ele com-
parou o panorama europeu ao norte-americano e con-
As comparações históricas sobre a emergência da so- cluiu que, em geral, a sociologia médica européia é
ciologia médica, sobretudo de origem norte-america- muito mais aplicada, além de estar ligada a temas
na, foram tema de alguns estudos de autores há muito específicos do universo médico, enquanto a sociologia
dentro desse campo de atuação. médica norte-americana seria mais pura e teórica, lem-
A grande e clássica formulação foi realizada por brando as contribuições de Parsons e outros, profun-
Robert Straus e, em torno dela, giram até os dias de damente ligados ao mainstream sociológico naquele
hoje os debates sobre a história dessa especialidade, país. Quanto à França, sua análise aponta um caráter
por isso a delinearemos rapidamente. Em sua confe- aplicado dos trabalhos de sociologia médica.
rência “The Development of a Social Science Teaching Essa proposta contrapõe-se frontalmente à posição
and Research Program in a Medical Center”, realizada da socióloga Claudine Herzlich (1985), que afirma que a
em um encontro anual da American Sociological sociologia francesa jamais atingiu o ambiente médico,
Society, em 1955, e publicada dois anos mais tarde permaneceu teórica e no limite e nem mesmo pode ser
(Straus, 1957), aportou duas categorias para caracte- pensada através de uma oposição entre sociologia da
rizar a posição dos sociólogos face ao campo médico. ou na medicina. Seguindo esse raciocínio, a sociologia
Ele detectou e estabeleceu uma definição lógica e for- como é praticada na França estaria muito mais dentro
mal entre uma sociologia da (of) e outra na (in) medi- de um modelo de sociologia da saúde, não participando
cina. Straus define como sociologia da medicina aquela ou participando pouco das injunções da arena médica.
que se refere ao estudo das estruturas organizacio- No Brasil, ocorreu o inverso. A sociologia da saúde
nais, relações entre papéis, sistemas de valores, ritu- foi incorporada aos departamentos de medicina pre-
ais e funções da medicina como sistema de comporta- ventiva como parte de uma estratégia de introdução
mento. Esses estudos são realizados por profissionais das ciências do comportamento dentro do ensino médi-
exteriores ao espaço médico, aportando em suas aná- co desde os anos 1950, com uma intensificação mar-
lises quadros conceituais mais completos que geram cante nos anos 1960 com a reforma do ensino superior
conhecimentos teóricos e conceituais. Ao contrário, a no Brasil. Esse fato gerou uma dificuldade histórica
sociologia na medicina é produzida por sociólogos ou de relacionamento entre a sociologia médica e a socio-
outros especialistas originários do meio médico e que logia em geral, reputada por alguns cientistas sociais
recorrem, em suas pesquisas e ensino, a conceitos, ligados ao mainstream sociológico como muito aplica-
técnicas e pessoal oriundos de várias disciplinas, como da e com pouca contribuição teórica. Essa inserção na
as ciências do comportamento, a psicologia, a biolo- medicina implicou em uma metodologia inicialmente
gia. Nesse esforço, resolvem ou tendem a resolver pro- funcional-estruturalista de cunho norte-americano, o
blemas específicos ligados à demanda interna ao cam- que também dificultaria sua inclusão institucional
po médico, não necessariamente gerando resultados como área das ciências sociais puras e da sociologia
teóricos e conceituais. Esses dois tipos seriam incom- ligada ao campo central da disciplina, extremamente
patíveis, pois o primeiro, sociologia da medicina, com crítica e preocupada com teorias que favorecessem a
sua preocupação de autonomia em relação ao seu obje- mudança social. Como constataram diversos autores,
to, encontra dificuldades de acesso ao mesmo; o se- as relações entre estes campos de atuação específi-
gundo, a sociologia na medicina, beneficia-se de uma cos não costumam oferecer mútuos espaços institucio-
maior facilidade de acesso, mas sofre de enormes difi- nais, tanto em Congressos quanto em Grupos de Tra-
culdades em manter a autonomia de sua prática e, balho (GTs), com alguma exceção da antropologia e da
assim, de dispor das condições necessárias ao traba- psicologia social. O recrutamento de alunos das ciên-
lho de objetivação. cias sociais não acontece facilmente, seja por desco-
Glosando essa divisão realizaram-se várias abor- nhecimento seja por desvalorização teórica da socio-
dagens e uma que nos pareceu importante foi a pro- logia da saúde (Marsiglia e col., 2003).
posta por Cockerham (1983), entre uma disciplina apli- Após a implantação do SUS e o coroamento da Re-
cada ou pura. Esse foi o fio condutor de suas análises forma Sanitária, houve um câmbio das orientações

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teóricas e metodológicas tanto da sociologia médica devem ser apagadas, pois os objetivos da medicina e
quanto da sociologia em geral: ambas passaram a se da sociologia convergem (Levine,1987). Essa foi a pro-
preocupar com o sujeito e com a sua atuação no mundo posta de Michael Bury (1986), Horobin (1985) e outros
social, remetendo os estudos teóricos ao cotidiano, às colegas, a de realizar uma sociologia ‘com’ (with) a
interações sociais, em suma, a uma micro-sociologia e medicina, proposta que o próprio Straus (1999) aca-
uma valorização da antropologia e disciplinas afins. bou por encampar, ao reconhecer as mudanças atuais
Penso que esse momento parece ter sido superado na sociologia médica americana. O movimento de
por uma tendência nova. Se a sociologia médica pare- maturação dessa sociologia parece prognosticar o pos-
ce estar em um momento de ‘refluxo’ institucional, a sível desaparecimento de tal diferença no futuro (Clair
sociologia da saúde parece ter florescido de modo in- e col., 2007).
dependente ao aparato institucional médico. Um exem- Percebe-se que em cada configuração social mo-
plo: até há pouco tempo somente existia, dentro da derna, os conhecimentos oriundos das ciências huma-
Tabela de Áreas de Conhecimento da CAPES, a área nas encontraram e seguiram caminhos diversos na sua
das Ciências da Saúde, onde figura a Saúde Coletiva e relação com o mundo da saúde, aí incluso o poder mé-
suas subáreas, Epidemiologia, Saúde Pública e Medici- dico e as instituições de cura.
na Preventiva, na qual podíamos e devíamos enqua-
drar tanto nossa produção acadêmica quanto os pedi- Considerações Finais
dos de financiamento. Recentemente criou-se, dentro
da área de Ciências Humanas e dentro da Sociologia, a Diversos trabalhos têm mantido uma continuidade nas
rubrica Sociologia da Saúde, que contempla projetos discussões sobre as origens e o atual estado da saúde
específicos de sociologia ligados ao campo. De modo coletiva (Canesqui,1995, Canesqui,2007a, Canes-
análogo, a FAPESP instituiu a mesma área, sociologia qui,2003, Nunes,1989, Nunes,1999, Nunes,2006), por
da saúde, com as mesmas características. vezes de forma coletiva, como no volume 8, de 2003, da
Essa tendência recente representa uma maior acei- revista Ciência e Saúde Coletiva e na coletânea O Clás-
tação e um maior reconhecimento por parte do núcleo sico e o Novo (Goldenberg e col., 2003).
duro das ciências humanas das contribuições e dos Na antropologia, essa discussão mantém uma tra-
aportes teóricos realizados pela sociologia da saúde, e dição por meio dos trabalhados organizados por
mesmo um crescente interesse pelo tema, dada a im- Canesqui (Canesqui, 2007b, Canesqui, 2003), Minayo
portância, na alta modernidade, das relações entre o (1998) e outros pesquisadores, cujas propostas foram
aparato biotecnológico e o controle dos grupos sociais. discutir as possibilidades de uma antropologia médi-
Ao contrário da América Latina, sob a forte influên- ca e/ou da saúde na saúde coletiva.
cia dos organismos internacionais e seu poder de fi- No entanto, no caso restrito da sociologia, perma-
nanciamento, as estruturas acadêmicas dos países nece a ausência de uma definição explícita das dife-
europeus ocidentais dispõem de longa tradição ins- renças entre as duas sociologias, a médica e a da saúde
titucional e de sistemas nacionais de saúde operantes. e ainda com relação à rubrica medicina social; perma-
Esse contexto foi um obstáculo à influência dos movi- nece também na grande maioria dos estudos sobre as
mentos preventivistas e ao modelo americano. origens da sociologia inserida tanto na saúde coleti-
Assim, o papel de ponta de lança dos primeiros va, dentro do pensamento social em saúde, como nas
profissionais que decidiram participar do ensino das idéias e obras dos autores centrais do campo. Ora tra-
humanidades nas escolas médicas, como ocorreu em ta-se exclusivamente da sociologia médica (de origem
alguns países da América Latina, não teve na Europa e, norte-americana), ora somente da medicina social.
em especial na França, a força necessária para ultra- Nessa segunda vertente, Juan César Garcia aparece
passar as resistências da corporação profissional e pe- como vetor central dos primórdios de uma medicina
netrar nos ambientes das escolas médicas francesas. social e não de uma sociologia da saúde, embora tenha
Para muitos sociólogos da medicina, no estágio tido formação em sociologia e publicado textos meto-
atual das necessidades individuais e coletivas de saú- dológicos nessa linha. Assim, Garcia seria o fundador
de, as fronteiras entre a sociologia da e na medicina da medicina social, disciplina que guardaria diferenças

206 Saúde Soc. São Paulo, v.17, n.2, p.193-210, 2008


marcantes com outras produções do período, inclusi- Saúde - DeCs, proposto pela BIREME e usado para a
ve a sociologia médica (Waitzkin e col., 2001a, Waitzkin indexação de revistas ao LILACs, MEDLINE e outras
e col., 2001b). bases, a sociologia médica é definida como “o estudo
Em diversos outros trabalhos, a mesma distinção dos determinantes e efeitos sociais da saúde e da do-
entre os tipos de sociologia nos países discutidos não ença e da estrutura social das instituições ou profis-
acontece. Enquanto nos paises de língua inglesa essa sões médicas”. Medicina social é o “ramo da medicina
especialidade define-se claramente como sociologia voltado para o papel de fatores sócio-ambientais na
médica, na França, no Brasil, em Portugal e em outros ocorrência, prevenção e tratamento de doenças”. No
países há uma flutuação constante entre os termos, entanto, não há indexador para a sociologia da saúde.
como se a sociologia médica de origem anglo-saxã não Poderíamos propor então como definição provisó-
fosse suficiente para definir as atividades concretas ria: a sociologia da saúde ultrapassa a idéia estrita de
dos pesquisadores nesta arena. saúde como ausência de doença e também o ponto de
No Brasil, até os 1980 e mesmo 1990, era comum a vista médico ou de outros profissionais da saúde; ela
utilização da definição medicina social como um sinô- abarca além do corpo biológico e o interpreta como um
nimo deste campo de atividades nomeado Saúde Cole- espaço e um meio para a obtenção de um bem-estar
tiva, depois se começou a utilizar sociologia da saúde que permita ao indivíduo expressar todas as suas
e da doença, ciências sociais em saúde e mais recente- potencialidades. A sociologia da saúde extrapola o am-
mente ciências humanas e sociais em saúde. Obvia- biente médico e incorpora as racionalidades sobre a
mente há diferenças conceituais nesses termos, mas cura e os modelos cognitivos de explicação do adoeci-
eles têm sido utilizados com freqüência como auto- mento alternativos ao modelo hegemônico, logo, seus
explicativos, embora carreguem em si perspectivas estudos englobam todas as instâncias que interferem
diferentes. Aqui, a proposta de campo de Bourdieu e promovem o bem-estar humano, tais como as ONGs,
apresenta toda a sua concretude: a partir da implanta- os grupos terapêuticos, as entidades de adoecidos
ção do SUS e do refluxo do movimento reconhecido crônicos e entidades sociais diversas que atuam na
como Reforma Sanitária, os intelectuais envolvidos promoção da saúde.
no campo da saúde sistematicamente passaram a dis- No Brasil, ao contrário da antropologia médica, por
cutir as relações entre as fronteiras disciplinares e exemplo, ela não chegou a atingir uma clareza identi-
as contribuições dos diversos saberes na conformação tária como sociologia médica, pois esteve, desde o iní-
da saúde coletiva, utilizando tanto recursos epistemo- cio, imbricada nos departamentos de medicina preven-
lógicos quanto políticos e institucionais. Essa dispu- tiva e, nesse espaço, atuou inicialmente como disci-
ta interna ao campo traduz-se na forma como se reconta plina complementar nos estudos médicos da população
a história do próprio campo e a nomeação interna de (medicina preventiva e depois medicina comunitária);
seus objetos lícitos e ilícitos. em seguida, através do aporte da perspectiva marxis-
De acordo com cada processo histórico, viu-se a ta, amalgamou-se profundamente com o movimento
emergência de distintas tradições teóricas: nos EUA, da medicina social, de caráter claramente latino-ame-
onde a sociologia enraizou-se firmemente, desde seus ricano, com suas especificidades. Como resultado de
primórdios no século XIX, no universo social e acadê- sua presença no núcleo das produções teóricas sobre
mico, a confluência entre sociologia e medicina acon- a saúde nos anos 1970, suas contribuições foram de
teceu muito cedo, e acumulou-se gradativamente um caráter crítico e macro-estrutural, incorporando aos
bom número de trabalhos dentro da especialidade lá debates em saúde o tema da dominação entre classes,
nomeada sociologia médica (medical sociology), deno- a produção da saúde pelo capitalismo e a denúncia do
minação que se mantém até hoje, a despeito do reconhe- papel reprodutor da medicina.
cimento de alguns como Sol Levine (1987), de que ela Para os intelectuais atuantes e portadores de habi-
passou a abarcar recentemente mais do somente o tus ligados à Medicina Social, as ciências sociais e a
estudo do mundo médico e passou a incluir a sociedade sociologia em particular contribuíram com o referen-
e o adoecimento dentro do espaço social mais amplo. cial marxista-estruturalista (via Althusser) e com a
No Brasil, na lista de descritores em Ciências da abordagem macro-sociológica voltada pela presença

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central do Estado como núcleo central do poder. Assim, elevado de profissionalização, com o estabelecimento
à sociologia de primeira hora restava a ‘repetição’ tanto dos seus clássicos, um repertório de pesquisa varia-
de método quanto de marco teórico, lidando com a do, ‘livros-texto’ com grande penetração e difusão
conjuntura social do momento e propondo práticas efe- como o de Maria Cecília Minayo, O Desafio do Conheci-
tivas e políticas relacionadas ao momento histórico, mento — Pesquisa Qualitativa em Saúde, de 1992 e
calcada nesse caso na ciência política (Canesqui, 1995). linhas de pesquisa estabelecidas e reconhecidas.
Em suma, renunciava-se a questões teóricas próprias e Nessa encruzilhada, parece-nos que a sociologia e
ao momento epistemológico interno à disciplina. as ciências sociais trilharam um caminho de abertura
Somente a partir dos anos 1990 percebeu-se uma aos novos objetos e método, a ponto de abraçar a idéia
retomada de uma produção científica pautada por de incorporar diversas outras disciplinas humanas e
questões ‘teóricas’ e metodológicas, que escaparam com elas estabelecer objetivos comuns, traduzidos, por
amiúde da perspectiva estrutural-marxista e aporta- exemplo, na criação dos primeiros Congressos de Ciên-
ram novas técnicas e possibilidades de análise das cias Humanas e Sociais em Saúde (Gomes e col., 2003).
demandas em saúde. Esse segundo momento pode ser Em suma, passamos de uma produção que desde
definido como o da profissionalização do campo ou da seus primórdios centrava sua atenção na doença en-
formação de intelectuais específicos, como alertava quanto doença, aceitando a perspectiva da biomedici-
Foucault. A partir de então, pode-se dizer que vimos o na, e nos papéis do doente como um padrão de compor-
nascimento no Brasil de uma sociologia da saúde, pre- tamento induzido pelo adoecimento, ou seja, a doença
ocupada com a promoção da saúde e balizada por pro- como uma ação social, para outra com ênfase na doen-
cedimentos epistemológicos mais precisos, com téc- ça como uma construção social, procurando discernir
nicas mais apuradas e mesmo com resultados teóri- na conformação do adoecimento as marcas sociais pro-
cos mais ligados às discussões que se apresentam por fundas, atribuindo à doença um significado simbóli-
via das grandes correntes de pensamento contempo- co devido ao arbitrário da sociedade e a resignificação
râneo, tanto da sociologia quanto das ciências huma- dada ao adoecimento pelo indivíduo. Passamos, assim,
nas em geral. de um modelo centrado na doença para um modelo
Poderíamos sistematizar esse processo em três centrado na saúde.
períodos distintos, mas não exclusivos: um primeiro Com a emergência incontornável das doenças crô-
reconhecido como sociologia médica de influência nicas, o doente passou a ser tratado como um sujeito
americana, via medical sociology ou behavioral adoecido, cuja identidade e atividades cotidianas
sciences, que fecundou os primeiros trabalhos na área extrapolam o quadro diagnóstico preciso e redutor
e que permaneceu como paradigma até o fim dos anos que o colocava em um papel previamente determinado
1970, quando as críticas sistemáticas e contundentes da história natural da doença. Esse sujeito, assim res-
da chamada medicina social geraram uma crise e subs- gatado, deverá então ser compreendido em toda a sua
tituição paradigmática pela abordagem marxista que complexidade, dentro de seu cotidiano, valorizando-
acabara de constituir um corpo teórico sólido e apro- se a sua autonomia relativa, a sua trajetória social e
priado; por fim, no início dos anos 1990 uma nova biografia, todas colocadas em relevo dentro do seu
pletora de abordagens rompe com as críticas de cu- quadro social e simbólico complexos, nele incluídos o
nho macro-estruturais e centradas no papel do esta- seu adoecimento, sua relação com o sistema de saúde
do, propondo a recuperação das interações sociais, da e o modelo terapêutico.
micropolítica e do estudo dos processos sociais de Esperamos que essa sociologia da saúde tenha vin-
adoecimento a partir do ponto de vista do indivíduo. do para permanecer e fecundar essa vasta área de co-
Um comentário sobre essa produção foi realizado por nhecimento. Se a sociologia aponta para além da am-
Canesqui (2003). plitude da sociologia da medicina, talvez possamos
Nesse momento estabelece-se a sociologia da saú- superar a contradição constatada por Lewis e citada
de, com objetos diversificados e referenciais teóricos por Evans (2003), de que “se a saúde pública é relativa
renovados, em consonância com as linhas de pesquisa à saúde do povo, então há muito mais coisas envolvi-
internacionais. Pode-se afirmar que se atingiu um grau das além da medicina”.

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