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PRÓ-REITORIA DE ENSINO
2014
COLETÂNEA
FORMAÇÃO SOCIOCULTURA E ÉTICA
Ensino Presencial (1º SEMESTRE)
Ensino a Distância (MÓDULO 51)
Organizadoras
Cristina Herold Constantino
Débora Azevedo Malentachi
Colaboradoras
Fabiana Sesmilo de Camargo Caetano
Aline Ferrari
Direção Geral
Valdecir Antônio Simão
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SUMÁRIO
Apresentação...................................................................................................................... 04
Considerações iniciais...................................................................................................... 05
LEITURA.............................................................................................................................. 06
Ler devia ser proibido........................................................................................................... 06
Ler e prazer.......................................................................................................................... 08
Ler pouco............................................................................................................................. 10
O poder da comunicação e a preguiça de pensar............................................................... 11
A cultura do mínimo............................................................................................................. 13
Cinco dicas para ler mais e melhor...................................................................................... 14
TEXTOS SELECIONADOS.................................................................................................. 17
A ética e a produção do conhecimento hoje........................................................................ 17
Culto, inculto: cultura............................................................................................................ 20
Ética e cultura....................................................................................................................... 23
A cultura e as diferentes concepções apreendidas nas determinações históricas.............. 24
O universo das artes............................................................................................................ 26
Por uma ética da arte........................................................................................................... 30
Breve história da arte........................................................................................................... 33
Pintores mais famosos da arte moderna e suas obras........................................................ 35
Entendendo Salvador Dali................................................................................................... 39
O pintor realista que retratou fielmente a vida campestre................................................... 45
Questões ambientais são tema de exposição no Rio.......................................................... 46
E a partida começa no Brasil e no Rio Grande do Sul......................................................... 49
Civilizar pela música: a inquietação da elite intelectual....................................................... 56
Cultura e arte bem perto de você......................................................................................... 57
Frases e curiosidades.......................................................................................................... 62
Músicas................................................................................................................................ 63
Filmes................................................................................................................................... 68
Tiras do Calvin..................................................................................................................... 70
Considerações finais......................................................................................................... 72
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APRESENTAÇÃO
Na FSCE, você terá contato com vários assuntos e fatos que ocorrem na sociedade atual e que
devem fazer parte do repertório de conhecimentos de todos os que buscam compreender
criticamente seu entorno social, nacional e internacional. Em síntese, no intuito de atender ao
objetivo desta disciplina, a FSCE está dividida em cinco grandes eixos temáticos: Ética, Cultura e
Arte – Ética e Política – Ética e Sociedade – Ética e Economia – Ética e Meio Ambiente.
Cada Coletânea apresenta-se, inicialmente, com uma introdução, seguida por aspectos
relacionados à leitura, interpretação e/ou escrita, os quais antecedem a apresentação dos
diversos textos referentes aos respectivos eixos. A sequência de textos normalmente é finalizada
com os gêneros música, poesia ou frases e charges, sendo finalmente concluída com breves
considerações finais.
Você tem em suas mãos, portanto, uma compilação por meio da qual terá acesso a um conteúdo
seleto de textos basilares para sua reflexão, aprendizagem e construção de conhecimentos
valiosos. Textos compostos por fatos, notícias, ideias, argumentos, aspectos veiculados nos
principais meios de comunicação do país, além de respaldos teóricos e práticos acerca da
linguagem que poderão servir como suporte à sua vida em todas as instâncias.
Faça deste material sua porta de entrada para a aquisição de novos conhecimentos. E lembre-se:
“Ler é pensar! Vista a camisa do conhecimento e seja MAIS!”
Organizadoras
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Considerações Iniciais
Todo material de leitura engajado em promover conhecimento é um prato cheio para saciar essa
fome. É também um convite para a ação capaz de formar, enriquecer e transformar. Não há como
mergulhar dentro de um texto e sair dele a mesma pessoa de outrora, a não ser que este
mergulho aconteça de modo extremamente raso e alienado. Principalmente, em se tratando de
Cultura e Arte não há como ficar passivo e imune ao universo de conteúdos por trás das formas,
de essências por trás de aparências, dos sentimentos que pulsam por trás da razão, de
significados por trás dos signos. Só ficará imune a tudo isso o olhar que se recusa a ler de mãos
dadas com a atitude atenta, reflexiva, observadora, questionadora.
Neste material, propomos ampliar conhecimentos sobre Arte e Cultura, e a relação destas com a
Ética, e nosso passeio não poderia começar por outro caminho a não por este: a leitura. Textos
oportunos para aprimorar conceitos, realizar reflexões pontuais e iniciar sua autoavaliação
enquanto leitor. Em seguida, vamos explorar os artigos selecionados para o eixo temático desta
Coletânea. Primeiramente, o que de fato significam ética, arte e cultura? Você terá a
oportunidade de constatar que a resposta para tal pergunta não é tão óbvia quanto parece. A
questão exige profundidade e será preciso caminhar um pouco pelas estradas da filosofia para
respondê-la adequadamente. Posteriormente, um pouco mais sobre arte. Em ano de Copa, vamos
visitar o futebol, mais que um esporte que levanta torcidas, uma das artes que mais emociona
povos de todas as nações, além de nos representar como cultura. Em seguida, o meio ambiente
em exposição, pintores famosos, música, mais cultura, filmes, frases e tiras.
Aproveite o quanto puder este passeio pelos caminhos da arte, da cultura, da ética, da expressão,
da formação humana...
Organizadoras
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LEITURA
Tudo o que preparamos para você, nesta disciplina, só terá mesmo razão de ser a partir
do momento em que o sentido da leitura realmente fluir de dentro para fora, dos teus
pensamentos para o papel. Os olhos não podem ver o que o pensamento não quer ou
não consegue enxergar e, definitivamente, mudanças só ocorrem quando iniciadas
internamente. Para isso, precisamos parar e pensar fundo em algumas questões... Uma
delas diz respeito à leitura e o modo como você lê. Sim, este é o ponto crucial capaz de
abrir portas para mudanças significativas, tanto na sua vida acadêmica e profissional,
quanto pessoal. Então, este é o nosso convite inicial para você: avalie a leitura e se
autoavalie enquanto leitor!
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis,
tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à
loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me
deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler
aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de
reformar o mundo, quilha de ossos que mal
sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre
Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas
e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e
amores cortesãos.
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Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem
de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita
é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que
devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de
forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas
tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode
estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o
trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos
políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma
verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos
soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua
posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
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É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um
privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou
manuais. Seja em filas, em metros, ou no silêncio da alcova. Ler deve ser coisa rara, não para
qualquer um.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos. A
leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A
leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os
capazes de compreender e aceitar o mundo do outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler e prazer
Rubem Alves
E penso que o meu mundo seria muito pobre se em mim não estivessem os livros que li e amei.
Pois, se não sabem, somente as coisas amadas são guardadas na memória poética, lugar da
beleza. “Aquilo que a memória amou fica eterno”, tal como o disse a Adélia Prado, amiga querida.
Os livros que amo não me deixam. Caminham comigo. Há os livros que moram na cabeça e vão
se desgastando com o tempo. Esses, eu deixo em casa. Mas há os livros que moram no corpo.
Esses são eternamente jovens. Como no amor, uma vez não chega. De novo, de novo, de novo...
Um amigo me telefonou. Tinha uma casa em Cabo Frio. Convidou-me. Gostei. Mas meu sorriso
entortou quando ele disse: “Vão também cinco adolescentes...” Adolescentes podem ser uma
alegria. Mas podem ser também uma perturbação para o espírito. Assim, resolvi tomar minhas
providências. Comprei uma arma de amansar adolescentes. Um livro. Uma versão condensada da
Odisseia, as fantásticas viagens de Ulisses de volta à casa, por mares traiçoeiros...
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Primeiro dia: praia; almoço; sono. Lá pelas cinco os dorminhocos acordaram, sem ter o que fazer.
E antes que tivessem ideias próprias eu tomei a iniciativa. Com voz autoritária dirigi-me a eles,
ainda sob o efeito do torpor: “Ei, vocês... Venham cá na sala. Quero lhes mostrar uma coisa...”
Não consultei as bases. Teria sido terrível. Uma decisão democrática das bases optaria por ligar a
televisão. Claro. Como poderiam decidir por uma coisa que ignoravam? Peguei o livro e comecei a
leitura. Ao espanto inicial seguiu-se silêncio e atenção. Vi, pelos seus olhos, que já estavam sob o
domínio do encantamento. Daí para frente foi uma coisa só. Não me deixavam. Por onde quer que
eu fosse, lá vinham eles com a Odisseia na mão, pedindo que eu lesse mais. Nem na praia me
deram descanso.
Essa experiência me fez pensar que deve haver algo errado na afirmação que sempre se repete
de que os adolescentes não gostam da leitura. Sei que, como regra, não gostam de ler. O que não
é a mesma coisa que não gostar da leitura. Lembro-me da escola primária que frequentei. Havia
uma aula de leitura. Era a aula que mais amávamos. A professora lia para que nós ouvíssemos.
Leu todo o Monteiro Lobato. E leu aqueles livros que se lia naqueles tempos: Heidi, Poliana, A ilha
do tesouro. Quando a aula terminava era a tristeza. Mas o bom mesmo é que não havia provas ou
avaliações. Era prazer puro. E estava certo. Porque esse é o objetivo da literatura: prazer. O que
os exames vestibulares tentam fazer é transformar a literatura em informações que podem ser
armazenadas na cabeça.
Eu, por exemplo, gosto do cheiro
Mas o lugar da literatura não é a cabeça: é o coração. A
dos livros. Gosto de interromper a
literatura é feita com as palavras que desejam morar no
leitura num trecho especialmente
corpo. Somente assim ela provoca as transformações
bonito e encostá-lo contra o peito,
alquímicas que deseja realizar. Se não concordam, que
fechado, enquanto penso no que
leiam Guimarães Rosa que dizia que literatura é
foi lido. (Martha Medeiros)
feitiçaria que se faz o sangue do coração humano.
Quando minha filha estava sendo introduzida na literatura, o professor lhe deu como dever de
casa ler e fichar um livro chatíssimo. Sofrimento dos adolescentes, sofrimento para os pais. A pura
visão do livro provocava uma preguiça imensa, aquela preguiça que Barthes declarou ser
essencial à experiência escolar. Escrevi carta delicada ao professor lembrando-lhe que Borges
havia declarado que não havia razão para se ler um livro que não dá prazer quando há milhares
de livros que dão prazer.
Sugeri-lhe começar por algo mais próximo da condição emotiva dos jovens. Ele me respondeu
com o discurso de esquerda, que sempre teve medo do prazer: “O meu objetivo é produzir a
consciência crítica...” Quando eu li isso percebi que não havia esperança. O professor não sabia o
essencial. Não sabia que literatura não é para produzir consciência crítica. O escritor não escreve
com intenções didático-pedagógicas. Ele escreve para produzir prazer. Para fazer amor. Escrever
e ler são formas de fazer amor. É por isso que os amores pobres em literatura ou são de vida
curta, ou são de vida longa e tediosa... Parodiando as palavras de Jesus “nem só de beijos e
transas viverá o amor mas de toda palavra que sai das mãos dos escritores...” E foi em meio a
essas meditações que, sem que eu o esperasse, foi-me revelado o segredo da leitura...
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Ler pouco
Rubem Alves
Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida,
comprando os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade,
porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que
desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava
diante de cada um: “Tenho necessidade imediata desse livro? Tenho outros, em casa, ainda não
lidos? Posso esperar?” E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A
despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que
suficiente para as minhas necessidades.
Menino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras. Lembro-
me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação: “Nos Estados Unidos há
casas de dez andares.” E havia a figura de um caçador de jacarés, e de crianças esquimós
saudando a chegada do sol.
O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para
aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei: “Já sou velho. Terei tempo de ler todos esses
livros? Eu quero ler todos esses livros?” Não, nem tenho tempo e nem quero. Então, por que
guardá-los? Resolvi dar os livros que eu não amava. Compreendi, então, que não se pode falar
em amor pelos livros, em geral. Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama
nenhuma. Nunca se apaixonará. O mesmo vale para os livros. Assim, fui aos meus livros com a
pergunta: “Você me ama?” (Acha que estou louco? É Roland Barthes que declara que o texto tem
de dar provas de que me deseja. Há muitos livros que dão provas de que me odeiam. Outros me
ignoram totalmente, nada querem de mim…). “Vou querer ler você de novo?” Se as respostas
eram negativas, o livro era separado para ser dado.
Essa coisa de “amor universal aos livros” fez-me lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo
Tales de Mileto, em que ele recorda que “a palavra grega que designa o “sábio” se prende,
etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais
apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a
arte peculiar do filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto,
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precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer
preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…”
E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: “Mastigar e digerir tudo – essa é uma maneira
suína.”
O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína, mastigando e engolindo o
que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei dessa fase, posso me
entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum cachorro abocanha a comida.
Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser “sim” ele não come. Faço o mesmo com os livros.
Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro do escritor. Se não tem cheiro humano, não como.
Nietzsche também cheirava primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.
Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: “No tempo em que eu
não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros – e os livros não são
homens, não contém a substância, o próprio sangue do homem?” A antropofagia não se fazia por
razões alimentares. Fazia-se por razões
mágicas. Quem come a carne do sacrificado se
apropria das virtudes que moravam no seu
corpo. Como na eucaristia cristã, que é um
ritual antropofágico: “Esse pão é a minha carne,
esse vinho é o meu sangue…” Cada livro é um
sacramento. Cada leitura é um ritual mágico.
Uma das reclamações mais frequentes que ouvimos dos nossos alunos é: “Não entendi
nada do que li!” Você já passou por situação idêntica ou semelhante a esta alguma vez na
vida? Quando nossa mente, por diversos fatores, dentre eles a preguiça, não consegue
acompanhar nossos olhos enquanto lemos, agravam-se as dificuldades de compreensão
e interpretação de textos. Como disse Einstein, “quem lê de mais e pensa de menos
adquire a preguiça de pensar”. Portanto, enquanto leitores, precisamos cuidar da
qualidade das nossas leituras. Ler demais e pensar pouco sobre o que lemos não
contribui em nada para o desenvolvimento da criticidade, e nessa batalha entre o
pensamento e a preguiça é VOCÊ quem decide, e ninguém mais, quem será o
vencedor...
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O poder da comunicação e a preguiça de pensar
são fatores que aumentam descontroladamente
em nossa sociedade, além de periodicamente
buscarmos consciente ou inconscientemente
superficialidades e coisas supérfluas em nossas
vidas. Estamos assim, com preguiça de pensar,
afinal, o sistema já nos suga de tantas maneiras
com obrigações de trabalhar e render nossa
parcela de contribuição capitalista, ou então,
perder muito tempo fazendo trabalhos escolares
que não nos fazem pensar, só replicar, pra
alcançar a nota que já é praticamente esperada,
além do que, pensar ou discutir sobre outros
assuntos é exaustivo, mas futebol, novela e big brother todos gostam!
Essa preguiça de pensar vem desde o começo de nossas vidas, numa sociedade castradora
pelos nossos pais, amigos e pessoas de nosso convívio, porque acima de tudo, uma sociedade é
construída também em vários paradigmas, que são barreiras mentais que ninguém sabe ao certo
como e nem por que, mas o certo é que você tem que fazer. Se não fizer é doido, ou meio fora do
normal, e sendo fora do normal você vira um sujeito que ninguém acredita, afinal, o fulano ali é
sempre meio doido.
O "meio doido" é no sentido de quebrar paradigmas e barreiras mentais, mas manter-se dentro da
lei, porque existem outros tipos de preguiçosos e escravos mentais de armadilhas do sistema, que
são aqueles que usam drogas achando que com isso estão buscando alguma liberdade do
sistema, pelo contrário, estão mais imersos que um cidadão cheio de paradigmas e conceitos
conservadores.
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Então, a notícia chega em nossas mentes através da
TV, jornais, revistas, internet, outdoors e boca-a-boca, Aprendi com o Mestre dos Mestres
só que não entendemos que a maioria das fontes de que a arte de pensar é o tesouro
comunicação tem ideais, objetivos, e princípios a dos sábios. (Augusto Cury)
manter, portanto, a notícia pra deixar de ser parcial,
tem que ser buscada em várias fontes [...]
Esse é o poder da comunicação, ela nos vende pensamentos e linhas de conduta que nós
compramos e hipocritamente usamos todos os dias. [...]
E ainda sobre um dos sete pecados capitais, vamos refletir um pouco mais sobre os
rumos que tomam nossos pensamentos e nossas atitudes quando são os braços da
preguiça que assumem o comando de tantas situações que fazem parte do nosso dia a
dia. É possível chegar a algum lugar quando somos eternamente embalados por braços
assim? A seguir, o texto apresenta uma breve noção sobre a cultura do mínimo, e nós a
entendemos aqui como extensão da preguiça. Vamos ler e, é claro, pensar...
A cultura do mínimo
A cultura do mínimo é a atitude que habita a maioria das pessoas de fazer apenas o que lhes foi
mandado. É a busca de empregar o mínimo esforço possível para realizar somente o suficiente
para não ser chamado a atenção.
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Esta é uma mentalidade de pobre. Não
necessariamente pobre de dinheiro, mas pobre
de visão. Se você quer ser grande, líder,
confiado com responsabilidades significantes,
aprenda a ir além do mínimo. O fato de a
maioria fazer apenas o mínimo lhe apresenta
uma grande oportunidade de se destacar.
Você trabalha de segunda a segunda. Mal tem tempo para sua família ou qualquer outra
atividade. No seu trabalho todos o veem sempre ocupado, correndo para lá e para cá. Fazer é
com você mesmo. Porém, seus fracassos e alvos
errados persistem. Onde está o problema?
Aplicando a cultura do mínimo em seu
contexto, pense sobre isto: Você tem
Claramente você não é preguiçoso para o trabalho
ido “além do mínimo” nas leituras que
físico. Mas talvez seja para o mental. É muito mais
realiza, ou as tem limitado ao universo
difícil, estafante, exige concentração e às vezes pura
de leituras acadêmicas obrigatórias? O
paciência consigo mesmo e com o mundo ao seu
que mais você lê para crescer e
redor. Por isso muitos fogem desse trabalho. É mais
surpreender a si mesmo, enquanto
fácil agir no piloto automático, fazer o que sempre foi
estudante, acadêmico e, sobretudo,
feito sem perguntar, não tentar entender a situação
ou problema que você tem que resolver, livrar-se enquanto pessoa?
dele rápido. O trabalho braçal é o mais fácil de fazer,
por isso paga pouco. O trabalho mental é onde está o dinheiro, a riqueza e o sucesso — porque
poucos são os que o fazem. Sua preguiça de pensar, analisar, sondar e raciocinar pode lhe custar
muito, muito caro.
Então, que o prazer da preguiça fique apenas para os momentos de descanso! Agora a
ordem (e a necessidade) é prosseguir, pensar, analisar, raciocinar... Seguem algumas
dicas que poderão servir de auxílio para a construção deste hábito tão fundamental sobre
o qual temos falado – leitura. Crie outras dicas que melhor se encaixam a você. O
importante é não perder de vista que cada leitura, para ser bem realizada, requer
objetivos bem definidos. Enquanto você lê este material, onde você pretende chegar?
Estabeleça seus objetivos!
O assunto “leitura” tem ocupado minha mente nos últimos tempos. Eu adoro ler, mas
frequentemente recebo e-mails de pessoas que lutam para ler e para gostar de ler. Por isso achei
que poderia ser útil montar uma lista de dicas para ler mais e melhor. Espero que vocês
considerem úteis.
Leia - Começamos com o óbvio: você precisa ler. Mostre-me uma pessoa que mudou o mundo e
que gastou seu tempo assistindo televisão e eu lhe mostrarei mil que preferiram gastar seu tempo
lendo. A menos que ler seja sua paixão, você precisa ser muito criterioso em separar tempo para
ler. Você talvez precise se forçar a isso. Estabeleça um objetivo que seja razoável para
você ("Vou ler três livros este ano" ou "Vou terminar este livro antes do fim do mês") e trabalhe
para concretizá-lo. Separe tempo diariamente ou todas as semanas e tenha a certeza de que
realmente irá pegar o livro durante esses momentos. Encontre um livro que trate de algum
assunto de particular interesse para você. Você pode até achar benéfico encontrar um livro que
parece interessante – um belo livro com uma capa atraente. Ler é uma experiência e a
experiência começa com a aparência e a impressão que o livro causa. Portanto, encontre um livro
que aparentemente lhe agrade e comece a lê-lo. E, quando terminar, encontre outro e faça tudo
novamente. E mais uma vez.
Leia Amplamente – Estou convencido de que uma das razões para que as pessoas não leiam
mais do que leem é que elas não variam suficientemente a sua leitura. Qualquer assunto, não
importa quanto ele lhe interesse, pode começar a tornar-se árido se você focalizar toda sua
atenção nele. Portanto, leia amplamente. Leia ficção e não-ficção, teologia e biografia, atualidades
e história. Certamente você desejará focalizar a maior parte da sua leitura em uma área particular,
e isso é saudável e bom. Mas assegure-se de variar sua dieta. "A leitura é mais bem executada,
pelo menos ao desfrutar de livros sérios, quando você trabalha duro para entender o livro e
quando interage com os argumentos do autor."
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que o autor estava tentando dizer e como ele disse. Portanto, interaja com esses livros de forma a
torná-los seus.
Leia com Discernimento – Apesar dos livros terem um incrível poder para fazer o bem, desafiar,
fortalecer e edificar, eles também têm grande poder para fazer o mal. Já vi vidas serem
transformadas por livros, mas também já vi vidas serem esmagadas. Por isso tenha certeza de
que lê com discernimento [...]. Se você encontrar um livro que é particularmente controverso, pode
valer à pena procurar uma análise que interaja criticamente com os argumentos, ler com uma
pessoa que entenda melhor os argumentos e suas implicações. [...]
Disponível em: http://www.bomcaminho.com/tc001.htm Acesso em: 19 fev. 2014. (Adaptado, grifos das
organizadoras)
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TEXTOS SELECIONADOS
Todos os eixos da Formação Sociocultural e Ética trazem o termo ética como palavra-
chave. A proposta a seguir é ampliar concepções acerca dessa expressão tão falada,
ouvida, usada, mas nem sempre compreendida em sua profundidade, tampouco vivida
em sua verdadeira essência. O que as nossas práticas e escolhas diárias tem a ver com
ética? Qual a influência da ética sobre todas as instâncias da existência humana? Vale a
pena conferir os argumentos de Sergio Cortella e aprofundar conhecimentos a esse
respeito. Reflita sobre o assunto e complete a palavra dele com a sua!
Da liberdade, vêm as três grandes questões éticas que orientam (mas também atormentam, instigam,
provocam e desafiam) as nossas escolhas: Quero? Devo? Posso? Retomemos o cerne: o exercício da
ética pressupõe a noção de liberdade. Existe alguém sobre quem eu possa dizer que não tem ética? É
possível falar que tal pessoa “não tem ética”? Não, é impossível. Você pode dizer que ele não tem uma
ética como a tua, você pode dizer que ele tem uma ética com a qual você não concorda, mas é
impossível dizer que alguém não tem ética, porque ética é exatamente o modo como ele compreende
aquelas três grandes questões da vida: devo, posso, quero?
Tem coisa que eu devo, mas não quero; tem coisa que eu quero, mas não posso; tem coisa que eu
posso, mas não devo. Nessas questões, vivem os chamados dilemas éticos; todas e todos, sem
exceção, temos dilemas éticos, sempre, o tempo todo: devo, posso, quero? Tem a ver com fidelidade
na sua relação de casamento, tem a ver com a sua postura como motorista no trânsito; quando você
pensa duas vezes se atravessa um sinal vermelho ou não, se você ocupa uma vaga quando vê à
distância que alguém está dando sinal de que ele vai querer entrar; quando você vai fazer a sua
declaração de Imposto de Renda; quando você vai corrigir provas de um aluno ou de um orientando
seu; quando você vai cochilar depois do almoço, imaginando que tem uma pia de louça que talvez seja
lavada por outra pessoa, e como você sabe que ela lava mesmo, e que se você não fizer o outro faz,
você tem a grande questão ética que é: devo, posso, quero? Por exemplo, quando se fala em bioética:
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podemos lidar com clonagem? Podemos, sim. Devemos? Não sei. Queremos? Sim. Clonagem
terapêutica, reprodutiva? É uma escolha. Posso eu fazer um transplante intervivos? Posso. Devo,
quero? Tem coisa que eu devo, mas não quero; aliás, a área de Saúde, de Ciência e Medicina, é
recheada desses dilemas éticos. Tem muita coisa que você quer, mas não pode, muita coisa que você
deve, mas não quer.
Na pesquisa, já imaginou? Por que montamos comitês de pesquisa, por que a gente faz um curso
sobre ética na pesquisa? Porque isso é complicado, e se fosse uma coisa simples, a gente não
precisava fazer curso, não precisava estudar, não precisava se juntar. É complicadíssimo, porque
estamos mexendo com coisas que têm a ver com a nossa capacidade de existir. Quando se pensa
especialmente no campo da ética, a relação com a liberdade traz sempre o tema da decisão, da
escolha. Por que estou dizendo isso? Porque não dá para admitir uma mera repetição do que disseram
muitos dos generais responsáveis pelo holocausto e demais atrocidades emanadas do nazismo dos
anos de 1940. Exceto um que assumiu a responsabilidade, todos usaram o mesmo argumento em
relação à razão de terem feito o que fizeram. Qual foi? “Eu estava apenas cumprindo ordens”. “Estava
apenas cumprindo ordens”, isso me exime da responsabilidade? Estava apenas obedecendo... Essa é
uma questão séria, sabe por quê? Porque “estava apenas cumprindo ordens” implica a necessidade
de pensarmos se a liberdade tem lugar ou não.
Ética tem a ver com liberdade, conhecimento tem a ver com liberdade,
porque conhecimento tem a ver com ética. Por isso, se há algo que também é
fundamental quando se fala em ciência, ética na pesquisa e produção do conhecimento, é a noção de
integridade. A integridade é o cuidado para se manter inteiro, completo, transparente, verdadeiro, sem
máscaras cínicas ou fissuras. Nessa hora, um perigo se avizinha: assumir-se individual ou
coletivamente uma certa “esquizofrenia ética”. Ela desponta quando as pessoas se colocam não como
inteiras, mas repartidas em funções que pareceriam externas a elas. Exemplos? “Eu por mim não faria
isso, mas, como eu sou o responsável, tenho de fazê-lo”. Ora, eu não sou eu e uma função, eu sou
uma inteireza, eu não sou eu e um professor, eu e um pesquisador, eu e um diretor, eu e um
secretário, eu sou um inteiro. “Eu por mim não faria”, então eu não faço!
Cautela! Coloca-se um estilhaçamento da integridade: “Eu, por mim, não lhe reprovaria, mas como eu
sou seu professor, eu tenho que reprovar”; “Eu, por mim, não lhe mandaria embora, mas como eu sou
seu chefe...”; “Eu, por mim, não lhe suspenderia, mas como eu sou seu superior...”; “Eu, por mim, não
faria isso, mas como eu sou o contador...”; “Eu, por mim, não faria isso, mas como eu sou o
responsável pelo laboratório...” “Eu, por mim, não faria”; então, não faço; “Eu, por mim, não lhe
reprovaria”; então, não reprovo. De novo: eu não sou eu e uma função, eu não sou eu e um
pesquisador, eu e um chefe do laboratório, eu e um diretor de instituto, eu e um secretário... O
esboroamento da integridade pessoal e coletiva é a incapacidade de garantir que a “casa” fique inteira,
e para compreender melhor a ideia de “casa íntegra”, vale fazer um breve passeio pelas palavras.
Talvez as pessoas que estudaram um pouco de etimologia se lembrem que a palavra ética vem pra
nós do grego ethos, mas ethos, em grego, até o século VI a. C., significava morada do humano, no
sentido de caráter ou modo de vida habitual, ou seja, o nosso lugar. Ethos é aquilo que nos abriga,
aquilo que nos dá identidade, aquilo que nos torna o que somos, porque a sua casa é o modo como
você é, onde está a sua marca. Mais tarde, esse termo para designar também o espaço físico foi
substituído por oikos. Aliás, o conhecimento mais valorizado na sociedade grega era o que cuidava
das regras da casa, para a gente poder viver bem e para deixar a casa em ordem. Como o vocábulo
nomos significa “regra” ou “norma”, passou-se a ter a oikos nomos (a economia) como a principal
ciência. No entanto, a noção original de ethos não se perdeu, pois os latinos a traduziram pela
expressão more, ou mor, que acabou gerando pra nós também uma dupla concepção; uma delas é
“morada”, e a outra, que vai ser usada em latim, é o lugar onde você morava, o seu habitus. Olha só, a
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expressão “o hábito faz o monge” não tem a ver com a roupa dele, habitus; habitus é exatamente onde
nós vivemos, o nosso lugar, a nossa habitação.
Quando se pensa em ética e produção do conhecimento hoje, a grande questão é: como está a nossa
possibilidade de sustentar a nossa integridade; essa integridade, como se coloca? A integridade da
vida individual e coletiva, a integridade daquilo que é mais importante, porque uma casa, ethos, tal
Como
como colocamos, é aquela que precisa ficar inteira, é aquela que precisa ser preservada.
está a morada do humano? Essa morada do humano desabriga alguém?
Alguém está fora da casa, alguém está sem comer dentro dessa casa?
Alguém está sem proteção à sua saúde, alguém está sem lazer dentro dessa
casa? Essa morada do humano é inclusiva ou é exclusiva? Essa morada do
humano lida com a noção de qualidade em ciência, ou lida com a noção de
privilégio? Cuidado. Duas coisas que se confundem muito em ciência são qualidade e privilégio;
qualidade tem a ver com quantidade total, qualidade é uma noção social, qualidade social só é
representada por quantidade total. Qualidade sem quantidade não é qualidade, é privilégio. São Paulo
é uma cidade em que se come muito bem, é verdade; quem come, quem come o quê? Qualidade sem
quantidade total não é qualidade, é privilégio. Todas às vezes em que se discute essa temática,
aparece a noção de uma qualidade restrita, e qualidade restrita, reforcemos, é privilégio. Nesse
sentido, a grande questão volta: será que, na morada do humano, alguém está desabrigado? Será que
essa casa está inteira, ela está em ordem nessa condição? Nessa nossa casa, quando a gente fala em
cuidado, é o mesmo que falar em saúde; aliás, quando digo: “eu te saúdo”, ou, “queria fazer aqui uma
saudação”, etimologicamente é a mesma coisa. Saudar é procurar espalhar a possibilidade de
cuidado, de atenção, de proteção. Nossa casa, que casa é essa? Há nela saúde? A ética é a morada
do humano; como essa casa é protegida? Qual é o lugar da ciência dentro dela? Qual é o papel que
ela desempenha? Qual é a nossa tarefa nisso, para pensar exatamente aquelas três questões: posso,
devo, quero?
É claro que essas questões e suas respostas não são absolutas, elas não
são fechadas, elas são históricas, sociais e culturais. A mesma pergunta não seria
feita do mesmo modo há vinte anos; a grande questão no nosso país há cento e cinquenta anos, a
grande questão ética há cento e cinquenta anos era se eu podia açoitar um escravo e depois cuidar
dele, ou só açoitá-lo e deixá-lo pra ser cuidado pelos outros; se eu poderia extrair o dente de alguém,
se é mais recomendável para o dentista que ele faça a extração ou que ele tente o tratamento. Há
alguns anos, algumas décadas, uma discussão de natureza ética era algo que nem passaria pela
cabeça de um dentista. A pessoa chegava ao seu consultório e dizia: “Eu quero que o senhor arranque
todos os meus dentes”. Ele respondia: “Tá bom”; hoje, você tem outra questão. O mesmo vale em
relação ao uso de contraceptivos ou à legalização do aborto consentido, ou ainda sobre a separação
entre princípios religiosos e conduta científica. Quando se pensa na manutenção da integridade, do
devo, posso e quero, a grande questão, junto com essa tríade, é se estamos dirigindo, como critério
último, a proteção da morada do humano, da morada coletiva do humano. Afinal de contas, não somos
humanos e humanas individualmente, pois só o somos coletivamente. Fala-se muito em vivência,
quando referimos a vida humana; no entanto, o mais correto seria sempre dizer convivência, pois ser
humano é ser junto. Desse modo, a noção de ethos, a noção de morada do humano, oferece um
critério para responder ao posso, devo e quero, que é: protejo eu a morada ou desprotejo? Incluo ou
excluo? Vitimo ou cuido?
Em um livro delicioso e de complexa leitura, Ética da Libertação, Enrique Dussel escreve sobre um
percurso da história da ética dentro do mundo. Começa exatamente mostrando o lugar que a reflexão
ética ocupa na história humana, mas conclui com algo que alguns até achariam curioso, hoje: ele não
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aceita a noção do termo exclusão, ou falar em excluídos, porque acha que a noção de excluído é muito
pequena e insuficiente. Dussel, ao pensar a Ética e os processos sociais, econômicos e culturais,
trabalha com a noção de vítimas: as vítimas do sistema, as vítimas da estrutura. Pensa ele que,
quando se fala em excluído, dá-se a impressão de que é uma coisa um pouco marginal, lateral,
enquanto vitimação é uma ideia mais robusta e incisiva. A principal virtude ética nos nossos tempos,
para poder manter a integridade e cuidar da casa, da morada do humano, é a incapacidade de desistir,
é evitar o apodrecimento da esperança, é evitar aquilo que padre Antonio Vieira apontou, no começou
de um de seus Sermões, da seguinte maneira: “O peixe apodrece pela cabeça”. Já viu um peixe
apodrecer? Tal como algumas pessoas, ele apodrece da cabeça para o resto do corpo... Um olhar
sobre a ética em ciência e na pesquisa tem uma finalidade: manter a nossa vitalidade, manter a nossa
vitalidade ética, mostrar que nós estamos preocupadas e preocupados, que a gente não se conforma
com a objetividade tacanha das coisas, que a gente não acha que as coisas são como são e não
podem ser de outro modo, que a gente não se rende ao que parece ser imbatível.
Ser humano é ser capaz de dizer não, ser humano é ser capaz de recusar o que parece não ter
alternativa, ser humano é ser capaz de afastar o que parece sem saída. Ser humano é ser capaz de
dizer não, e só quem é capaz de dizer não pode dizer sim; aí está a nossa liberdade. Tem gente que
diz assim: “Ah, a minha liberdade acaba quando começa a do outro”; cuidado, a minha liberdade acaba
quando acaba a do outro. Liberdade, como saúde, tem de ser um conceito coletivo, a minha liberdade
não acaba quando começa a do outro, a minha liberdade acaba quando acaba a do outro. Se algum
humano não for livre, ninguém é livre, se algum homem ou mulher não for livre da falta de trabalho,
ninguém é livre; se algum homem ou mulher não for livre da falta de socorro, de saúde, ninguém é
livre; se alguma criança não for livre da falta de escola, ninguém é livre; a minha liberdade não acaba
quando começa a do outro, minha liberdade acaba quando acaba a do outro. Ser humano é ser junto,
e é em relação a isso que vale pensarmos nossa capacidade de dizer não a tudo que vitima e sermos
capazes de proteger o que eleva a Vida. O vínculo da Ética com a Produção do Conhecimento está
relacionado à capacidade deste de cuidar daquela, isto é, manter a integridade digna da vida coletiva.
Ética é a possibilidade de recusar a falência da liberdade, a ética é a nossa capacidade de recusar a
ideia de que alguns cabem na nossa casa, outros não cabem; alguns comem, outros não comem;
alguns têm graça, outros têm desgraça.
A ética é o exercício do nosso modo de perceber como é que nós existimos coletivamente, e então
pensar com seriedade naquilo que François Rabelais vaticinou: “Conheço muitos que não puderam,
quando deviam, porque não quiseram, quando podiam”.
“Pedro é muito culto, conhece várias línguas, entende de arte e de literatura.” “Imagine! É claro
que o Luís não pode ocupar o cargo que pleiteia. Não tem cultura nenhuma. É semianalfabeto!”
“Não creio que a cultura francesa ou alemã sejam superiores à brasileira. Você acha que há
alguma coisa superior à nossa música popular?” “Ouvi uma conferência que criticava a cultura de
massa, mas me pareceu que a conferencista defendia a cultura de elite. Por isso, não concordei
inteiramente com ela.” “O livro de Silva sobre a cultura dos guaranis é bem interessante. Aprendi
que o modo como entendem a religião e a guerra é muito diferente do nosso.”
Essas frases e muitas outras que fazem parte do nosso dia a dia indicam que empregamos a
palavra cultura (ou seus derivados, como culto, inculto) em sentidos muito diferentes e, por vezes,
contraditórios. Na primeira e na segunda frase que mencionamos acima, cultura é identificada
como a posse de certos conhecimentos (línguas, arte, literatura, ser alfabetizado). Nelas, fala-se
em ter e não ter cultura, ser ou não ser culto. A posse de cultura é vista como algo positivo,
enquanto “ser inculto” é considerado algo negativo. A segunda frase deixa entrever que “ter
cultura” habilita alguém a ocupar algum posto ou cargo, pois “não ter cultura” significa não estar
preparado para uma certa posição ou função. Nessas duas primeiras frases, a palavra cultura
sugere também prestígio e respeito, como se “ter cultura” ou “ser culto” fosse o mesmo que “ser
importante”, “ser superior”.
Ora, quando passamos à terceira frase, a cultura já não parece ser uma propriedade de um
indivíduo, mas uma qualidade de uma coletividade – franceses, alemães, brasileiros. Também é
interessante observar que a coletividade aparece como um adjetivo qualificativo para distinguir
tipos de Cultura: a francesa, a alemã, a brasileira. Nessa frase, a Cultura surge como algo que
existe em si e por si mesma e que pode ser comparada (Cultura superior, Cultura inferior).
Além disso, a Cultura aparece representada por uma atividade artística, a música popular. Isso
permite estabelecer duas relações diferentes com as primeiras frases: 1. De fato, a terceira frase,
como a primeira, identifica Cultura e artes (entender de arte e literatura, na primeira frase; a
música popular brasileira, na terceira); 2. No entanto, algo curioso acontece quando passamos
das duas primeiras frases à terceira. Com efeito, nas duas primeiras, “culto” e “inculto” surgiam
como diferenças sociais. Num país como o nosso, dizer que alguém é inculto porque é
semianalfabeto deixa transparecer que Cultura é algo que pertence a certas camadas ou classes
sociais socialmente privilegiadas, enquanto a incultura está do lado dos não privilegiados
socialmente, portanto, do lado do povo e do popular. Entretanto, a terceira frase afirma que a
cultura brasileira não é inferior à francesa ou à alemã por causa de nossa música popular. Não
estaríamos diante de uma contradição? Como poderia haver cultura popular (a música), se o
popular é inculto?
Já a quarta frase (a que se refere à conferência sobre cultura de massa) introduz um novo
significado para a palavra cultura. Nela não se trata mais de pessoas cultas ou incultas, nem de
uma coletividade que possui uma atividade cultural que possa ser comparada à de outras. Agora,
estamos diante da ideia de que numa mesma coletividade ou numa mesma
sociedade pode haver dois tipos de Cultura: a de massa e a de elite. A frase
não nos diz o que é a Cultura. (Seria posse de conhecimentos? Ou seria atividade artística?)
Entretanto, a frase nos informa sobre uma oposição entre formas de cultura, dependendo de sua
origem e de sua destinação, pois “cultura de massa” tanto pode significar “originada
21
na massa” quanto “destinada à massa”, e o mesmo pode ser dito da “cultura
de elite” (originada na elite ou destinada à elite).
Finalmente, a última frase que mencionamos como exemplo apresenta um sentido totalmente
diverso dos anteriores no que toca à palavra cultura. Fala-se, agora, na cultura dos guaranis e
esta aparece em duas manifestações: a guerra e a religião (que, portanto, nada tem a ver com a
posse de conhecimentos, atividade artística, massa ou elite). Nessa última frase, a cultura
aparece como algo dos guaranis – e como alguma coisa que não se limita ao campo dos
conhecimentos e das artes, pois se refere à relação dos guaranis com o sagrado (a religião) e
com o conflito e a morte (a guerra).
Vemos, assim, que passar da naturalização dos seres humanos à Cultura não resolve nossas
dificuldades de compreensão dos humanos, uma vez que, agora, precisamos perguntar: Como é
possível a palavra cultura possuir tantos sentidos, alguns deles contraditórios com outros? [...]
1. vinda do verbo latino colere, que significa cultivar, criar, tomar conta e cuidar, Cultura significava
o cuidado do homem com a Natureza. Donde: agricultura. Significava, também, cuidado dos
homens com os deuses. Donde: culto. Significava ainda, o cuidado com a alma e o corpo das
crianças, com sua educação e formação. Donde: puericultura (em latim, puer significa menino;
puera, menina). A Cultura era o cultivo ou a educação do espírito das crianças para tornarem-se
membros excelentes ou virtuosos da sociedade pelo aperfeiçoamento e refinamento das
qualidades naturais (caráter, índole, temperamento);
2. a partir do século XVIII, Cultura passa a significar os resultados daquela formação ou educação
dos seres humanos, resultados expressos em obras, feitos, ações e instituições: as artes, as
ciências, a Filosofia, os ofícios, a religião e o Estado. Torna-se sinônimo de civilização, pois os
pensadores julgavam que os resultados da formação-educação aparecem com maior clareza e
nitidez na vida social e política ou na vida civil (a palavra civil vem do latim: cives, cidadão; civitas,
a cidade-Estado).
No primeiro sentido, a Cultura é o aprimoramento da natureza humana pela educação em sentido
amplo, isto é, como formação das crianças não só pela alfabetização, mas também pela iniciação
à vida da coletividade por meio do aprendizado da música, dança, ginástica, gramática, poesia,
retórica, história, Filosofia, etc. A pessoa culta era a pessoa moralmente virtuosa, politicamente
consciente e participante, intelectualmente desenvolvida pelo conhecimento das ciências, das
artes e da Filosofia. É este sentido que leva muitos, ainda hoje, a falar em “cultos” e “incultos”.
Podemos observar que, neste primeiro sentido, Cultura e Natureza não se opõem. Os humanos
são considerados seres naturais, embora diferentes dos animais e das plantas. Sua natureza,
porém, não pode ser deixada por conta própria, porque tenderá a ser agressiva, destrutiva,
ignorante, precisando por isso ser educada, formada, cultivada de acordo com os ideais de sua
A Cultura é uma segunda natureza, que a educação e os costumes
sociedade.
acrescentam à primeira natureza, isto é, uma natureza adquirida, que
melhora, aperfeiçoa e desenvolve a natureza inata de cada um.
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No segundo sentido, isto é, naquele formulado a partir do século XVIII, tem início a separação e,
posteriormente, a oposição entre Natureza e Cultura. Os pensadores consideram, sobretudo a
partir de Kant, que há
entre o homem e a Natureza uma diferença essencial: esta
opera mecanicamente de acordo com leis necessárias de causa e efeito,
mas aquele é dotado de liberdade e razão, agindo por escolha, de acordo
com valores e fins. A Natureza é o reino da necessidade causal, do determinismo cego. A
humanidade ou Cultura é o reino da finalidade livre, das escolhas racionais, dos valores, da
distinção entre bem e mal, verdadeiro e falso, justo e injusto, sagrado e profano, belo e feio.
À medida que este segundo sentido foi prevalecendo, Cultura passou a significar, em primeiro
lugar, as obras humanas que se exprimem numa civilização, mas, em segundo lugar, passou a
significar a relação que os humanos, socialmente organizados, estabelecem com o tempo e com o
espaço, com os outros humanos e com a Natureza, relações que se transformam e variam. Agora,
Cultura torna-se sinônimo de História. A Natureza é o reino da repetição; a
Cultura, o da transformação racional; portanto, é a relação dos humanos com
o tempo e no tempo.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000. (Adaptado, grifos das organizadoras.)
Se você leu com bastante atenção o texto anterior, certamente se surpreendeu ao notar o
quanto as explicações da autora acerca da cultura ultrapassam definições óbvias ou
meramente lógicas. Para entender o objeto é preciso pesquisá-lo com profundidade, e
para registrar explicações, pontos de vista e explicações a seu respeito, é preciso
escrever com propriedade. Mas vamos deixar a escrita para outros momentos em que
estaremos conectados a você, tanto nos materiais de estudo, quanto virtualmente – no
AVA. Agora, importa retomar o raciocínio que estamos construindo juntos e, para isso,
vamos retomar a ideia de ética para investigar a estreita ligação que há entre ela e a
cultura. Como se dá essa relação?
Ética e Cultura
Por Rachel Coelho
Falar sobre cultura e ética, inevitavelmente, causa certa confusão quanto à definição dessas duas
matérias, nesse sentido Eduardo C. B. Bittar, em seu livro Curso de ética Jurídica é categórico em
dizer que: A ética e a cultura são indissociáveis. Para compreendermos a ética, é preciso estudar
a antropologia, ou seja, a origem do homem, evolução, caracteres, etc..., pois a cultura é o
registro coletivo das práticas humanas determinadas no tempo e no espaço. No entanto mais
adiante faz algumas ressalvas e através delas fica estabelecido que ética não é sinônimo de
cultura, um pouco além afirma, ainda, que a ética pode romper com a cultura e trazer um novo
padrão cultural entre os homens.
Desta forma, podemos inferir que a ética pode, à medida que ganha importância dentro de uma
sociedade, servir de ferramenta para a mudança da própria cultura.
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Buscando ainda discriminar ética e cultura apresentamos abaixo a definição dessas duas
terminologias, que dentre muitas encontradas, refletem de forma mais fiel o objetivo deste
trabalho.
Ética: "Ramo da Filosofia que se dedica ao estudo dos valores morais da conduta humana".
Mas como podemos definir o que é ser ético? Num primeiro momento, podemos definir como
"bom" ou "melhor". Porém, qual é o significado de "bom"? Poderíamos definir "bom" com diversos
outros adjetivos, mas, objetivamente, não chegaríamos a uma definição única, já que é um termo
muito subjetivo.
Vamos pegar como exemplo uma criança, que ainda não tem noção do que é certo ou errado.
Como iremos explicar para essa criança que algo não é "bom", se ela não sabe o que é "mau"?
Fica muito difícil, pois só quando essa criança for ficando maior é que começará a compreender o
significado do que é "bom" ou "ruim".
Só que para ter essa noção de certo e errado, o aprendizado dado a essa criança é baseado na
cultura de seus pais, e estes, por sua vez, adquiriram seus padrões de comportamento, suas
crenças, seu modo de vida, da sociedade onde vivem. A partir daí, começamos a analisar que a
ética não pode ser definida concretamente, eis que, assim como o "bom", ela é uma palavra com
significado abstrato.
Podemos dizer que ser ético é ser "socialmente aprovado". Vale dizer que em determinado país
ou determinada sociedade, um determinado fato é considerado como ético, mas em outro,
totalmente abominável. Por este motivo que a ética é incapaz de construir uma lista de deveres e
dispô-los de forma absoluta, universal, como um conjunto de hipóteses de conduta, devendo
sempre ser analisado as práticas sociais vigentes na sociedade. Podemos, então, dizer que onde
está o homem está a cultura, e consequentemente, a ética dessa sociedade. [...]
Ainda que a palavra ética não apareça nenhuma vez no artigo a seguir, observe que suas
concepções estão implícitas nas entrelinhas, sobretudo, dos trechos em destaque.
Observe também o quanto a leitura dos textos anteriores contribuirá para o entendimento
deste. Você já conhece um pouco sobre as ideias de Marilena Chauí, não é mesmo?
Então, nem tudo será novidade no texto a seguir, pois a autora Sueli faz referência às
ideias dessa filósofa, autoridade no assunto em discussão. Veja como isso é feito e
acompanhe o raciocínio...
24
[...] A cultura é vista por diferentes autores como uma ação humana, um processo de
humanização do homem em uma relação ao outro e consigo mesmo. É nessa relação entre os
homens que surgem as diferentes concepções ressaltadas pelo senso comum. A cultura nessa
perspectiva é compreendida em diferentes linhas de pensamento, podendo caracterizar-se com o
conhecimento erudito; como trabalho de criação ligado às artes; e significa, também, possuir um
conjunto de conhecimentos e informações compreendidas no cotidiano e nos processos de
socialização.
O conceito de cultura, para Chauí, se delineia em três campos: o primeiro, como pôde ser visto no
parágrafo anterior, em uma perspectiva do senso comum, apresenta quais são os erros e ou
acertos mais comumente utilizados pelas pessoas no cotidiano; o segundo, em uma perspectiva
histórica, é a relação dos homens no tempo e com o tempo, podendo ser analisado em Hegel
como movimento do espírito e em Marx como produção e reprodução das relações humanas no
trabalho; e, por último, cultura como um conceito antropológico, analisada por uma perspectiva
simbólica.Aqui a natureza humana seria representada pelo homem no
desenvolvimento de suas relações no seio das diferentes sociedades,
principalmente, nas relações coercitivas, como normas, regras, e que
formam um conjunto denominado pela antropologia como cultura.
Nesta perspectiva antropológica, Chauí define cultura em três sentidos: primeiro, a criação da
ordem simbólica da lei – sistemas de interdições e obrigações estabelecidas a partir da atribuição
de valores – tanto a coisas, quanto ao humano e suas relações aos acontecimentos. Em seguida,
há a criação de uma ordem simbólica, na qual os símbolos surgem tanto para representar quanto
para interpretar a realidade, e, como terceiro sentido, o conjunto de práticas, comportamentos,
ações e instituições com quais os humanos se relacionam entre si e com a natureza.
25
Assim, para Chauí, a cultura unida tanto nos sentidos anteriores, quanto neste último, pode ser
compreendida na relação entre os homens e, desta relação, surgem diferentes caracterizações
para o conceito de cultura, a saber, cultura de elite, cultura popular, cultura erudita, cultura de
massa. É no escopo destes diferentes conceitos que a cultura passa a ser utilizada como
instrumento de discriminação social, econômica e política. [...]
Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=299kLlpSusM. Acesso
em: 15 fev. 2014.
Alberto Caeiro, um dos heterônimos do poeta Fernando Pessoa, leva-nos ao âmago da arte
quando escreve:
Merleau-Ponty dizia que a arte é advento – um vir a ser do que nunca antes existiu -, como
promessa infinita de acontecimentos – as obras dos artistas. No ensaio A linguagem indireta do e
as vozes silêncio, ele escreve:
O primeiro desenho nas paredes das cavernas fundava uma tradição porque recolhia uma outra: a
da percepção. A quase eternidade da arte confunde-se com a quase eternidade da existência
humana encarnada e por isso temos, no exercício de nosso corpo e de nossos sentidos, com que
compreender nossa gesticulação cultural, que nos insere no tempo.
Que dizem os desenhos nas paredes da caverna? Que o mundo é visível e para ser visto, e que o
artista dá a ver o mundo. Que mundo? Aquele eternamente novo, buscado incessantemente pelos
artistas. É assim que Monet pinta várias vezes a mesma catedral e, em cada tela, nasce uma
nova catedral. Referindo-se a essa busca do eterno novo em Monet, o filósofo Gaston Bachelard
escreve, num ensaio denominado O pintor solicitado pelos elementos:
Um dia, Claude Monet quis que a catedral fosse verdadeiramente aérea – aérea em sua
substância, aérea no próprio coração das pedras. E a catedral tomou da bruma azulada toda a
matéria azul que a própria bruma tomara do céu azul… Num outro dia, outro sonho elementar se
apodera da vontade de pintar. Claude Monet quer que a catedral se torne uma esponja de luz, que
absorva em todas as suas fileiras de pedras e em todos os seus ornamentos o ocre de um sol
poente. Então, nessa nova tela, a catedral é um astro doce, um astro ruivo, um ser adormecido no
calor do dia. As torres brincavam mais alto no céu, quando recebiam o elemento aéreo. Ei-las
agora mais perto da Terra, mais terrestres, ardendo apenas um pouco, como fogo guardado nas
pedras de uma lareira.
Que procura o artista? Responde Caeiro/Pessoa: “o pasmo essencial / que tem uma criança se,
ao nascer, / reparasse que nascera deveras”. O artista busca o mundo em estado nascente, tal
como seria não só ao ser visto por nós pela primeira vez, mas tal como teria sido no momento
originário da criação. Mas, simultaneamente, busca o mundo em sua perenidade e permanência.
É o que procura o pintor Cézanne, cujo trabalho é assim comentado por Merleau-Ponty no ensaio
A dúvida de Cézanne:
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Vivemos em meio aos objetos construídos pelos homens, entre utensílios, casas, ruas, cidades e
na maior parte do tempo só os vemos através das ações humanas de que podem ser os pontos
de aplicação… A pintura de Cézanne suspende estes hábitos e revela o fundo de Natureza
inumana sobre a qual se instala o homem… A paisagem aparece sem vento, a água do lago sem
movimento, os objetos transidos hesitando como na origem da Terra. Um mundo sem
familiaridade… Só um humano, contudo, é justamente capaz desta visão que vai até as raízes,
aquém da humanidade constituída… O artista é aquele que fixa e torna acessível aos demais
humanos o espetáculo de que participam sem perceber.
A obra de arte dá a ver, a ouvir, a sentir, a pensar, a dizer. Nela e por ela, a realidade se revela
como se jamais a tivéssemos visto, ouvido, sentido, pensado ou dito. A experiência de nascer
todo dia para a “eterna novidade do mundo” pode ser feita por nós quando lemos o poema de
Jorge de Lima, Poema do nadador:
28
A literatura, como a pintura, a música, a escultura e qualquer das artes, é a passagem do
instituído ao instituinte, transfiguração do existente numa outra realidade, que o faz renascer sob a
forma de uma obra.
A primeira e mais antiga relação entre arte e Natureza proposta pela Filosofia foi a da imitação: “a
arte imita a Natureza”, escreve Aristóteles. A obra de arte resulta da atividade do artista para
imitar outros seres por meio de sons, sentimentos, cores, formas, volumes, etc., e o valor da obra
decorre da habilidade do artista para encontrar materiais e formas adequados para obter o efeito
imitativo.
A partir do Romantismo (portanto, após quase 23 séculos de definição da arte como imitação), a
Filosofia passa a definir a obra de arte como criação. Enquanto na concepção anterior o
valor era buscado na qualidade do objeto imitado (imitar um deus é mais valioso do que imitar um
29
humano; imitar um humano, mais valioso do que imitar um animal, planta ou coisa), agora o valor
é localizado na figura do artista como gênio criador e imaginação criadora.
O artista é um ser social que busca exprimir seu modo de estar no mundo na
companhia dos outros seres humanos, reflete sobre a sociedade, volta-se
para ela, seja para criticá-la, seja para afirmá-la, seja para superá-la.
Essa terceira concepção filosófica da arte coloca o artista num embate contínuo com a Natureza e
com a sociedade, deixando de vê-lo como gênio criador solitário e excepcional.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000. (Adaptado, grifos das organizadoras.)
Como vimos, são amplas as concepções acerca da arte. Vamos, agora, passá-la pelo
crivo da ética e situá-la na “sociedade do espetáculo”, onde a verdade se desdobra em
inúmeras faces, onde a arte é, também, uma resposta a essas tantas verdades. Qual a
função da arte neste turbilhão de verdades não absolutas? Como está a relação ética da
arte na sociedade contemporânea? A entrevista a seguir traz esclarecimentos.
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A necessidade de se repensar a ética da arte e o
papel do artista na sociedade contemporânea
levou a publicitária Priscilla Porto Nascimento a
realizar uma minuciosa pesquisa que resultou no
livro A relação ética da arte na sociedade do
espetáculo (co-edição Editora da Universidade
Federal Fluminense/ Benício Biz Editores
Associados Ltda). Consumismo, síndrome do
pânico e anorexia são alguns dos sintomas da pós-
modernidade abordados em seu livro de estreia [...]
Na entrevista abaixo, a autora, mestre em Ciência
da Arte pela UFF, fala sobre seu trabalho e,
aponta a arte como ferramenta de oposição do homem à
otimista,
massificação e à velocidade estonteante de seu cotidiano.
Priscilla – A ética denota uma atitude íntima, um desejo e uma sensibilidade. Para
Nietzsche,
a ética está ligada a uma estética, a uma poética – daí provém a expressão
“ética da arte”. A ética nietzschiana visa liberar a existência humana do niilismo, da
depreciação, da descrença, da ausência de vontade e acredita na arte como um meio de instigar
as potencialidades e os desejos, de trazer vitalidade aos homens passivos (ou reativos) da era do
espetáculo e voltar a sensibilizá-los.
EdUFF – Em seu livro, a senhora questiona, dentre outras coisas, o processo de criação
publicitária, que se utilizaria da Psicologia para “persuadir o consumidor a participar da
lógica de mercado”. De que maneira a ética da arte pode sobreviver em meio à realidade da
sociedade de consumo?
Priscilla – De uma forma ou de outra, a arte sempre esteve inserida no mercado. Mas existem
linhas de fuga, brechas através das quais os artistas podem se manifestar. Segundo Bauman,
autor de O Mal estar da pós-modernidade, o homem pós-moderno é um colecionador de
sensações, pois busca incessantemente viver experiências novas e mais intensas. A satisfação
dos desejos deve ser imediata e sem dor. Essa condição de adaptação ao mundo
contemporâneo torna o rápido esquecimento indispensável, porque tudo
deve ser substituído velozmente. Os padrões estéticos também se encaixam
aí. Muitas doenças, como a bulimia e a anorexia, surgem em função dessa pressão social para
que os indivíduos se enquadrem num determinado modelo de beleza que será brevemente
substituído por outro. A artista italiana Vanessa Beecroft expôs trabalhos em aquarela e um diário
sobre seus hábitos alimentares para uma seleta plateia de garotas que também sofriam de
distúrbios alimentares. A obra de Vanessa se constitui numa possibilidade de reflexão e
transformação. Essa é uma ação ética da arte no sentido de afirmar a vida, de transformar a dor
em alegria, de acordo com a proposta nietzschiana.
31
Vivemos no contexto pós-moderno – na chamada sociedade do
Priscilla –
espetáculo ou pós-industrial –, que é caracterizado pela ausência de uma
única verdade, pela saturação de imagens midiáticas, pela pluralização das
identidades, pelas citações e remakes, pela insegurança e instabilidade. Há
uma crescente uniformização exercida pela cultura de massa e, segundo Debord (autor de A
Sociedade do espetáculo), apesar dos meios de comunicação promoverem uma aparente união
dos espectadores (que assistem aos mesmos programas de tv), eles os mantêm efetivamente
isolados, como uma multidão de solitários. Doenças como a síndrome do pânico e a depressão
surgem como sintomas do fato de que as pessoas sofrem muita pressão a fim de gerenciarem
bem as próprias vidas e exibirem sucesso, revelando a presença de um mal-estar. A arte pode ser
um instrumento de se fazer problematizar o contexto atual, propiciando às pessoas uma melhor
digestão das múltiplas informações que recebem diariamente.
EdUFF – Em sua opinião, como o artista atua em meio a visões tão conflitantes?
Priscilla – A arte contemporânea atua de forma diferenciada da arte moderna, que se referia a um
período no qual existiam as vanguardas – aqueles grupos que estavam à frente do seu tempo e
A arte de hoje é heterogênea e comporta vários
eram seguidos pelos demais.
pontos de vista simultaneamente. Cada artista apresenta sua visão singular e pode
utilizar qualquer linguagem: pintura, escultura, instalação, performance, video-arte, etc. O artista
paulistano Marcelo Cidade realizou uma performance na qual triturava o livro “Arte Moderna” para
expressar esse conceito que está contido na arte contemporânea: reciclar, fazer citações a outras
obras, ser um simulacro.
Priscilla – Ainda hoje, a arte é vista com uma aura, como algo que representa somente o “bem”.
No entanto, esta é uma visão ultrapassada. Não existem mais o bem e o mal na arte. Ela pode ser
tudo e qualquer coisa. Sendo assim, nem tudo que é apresentado como arte pode ser recebido
sempre como algo de bom. Existem programas de TV, por exemplo, principalmente na TV aberta,
que estão lá apenas para o entretenimento e nada mais. Isso tem um lado positivo, mas é aquela
história: nem tudo que é publicado no jornal deve ser entendido como “verdade”. É esse olhar de
desconfiança que está faltando ao público em relação à arte. A maioria das pessoas quer
respostas prontas e isso – se é que um dia existiu – não existe mais. Cada um deve construir o
seu percurso, deixar suas marcas no mundo, tornar-se um criador singular.
32
transformação do homem, mas ela não é uma fórmula mágica que vai resolver todos os
problemas instantaneamente. Nietzsche propõe o nascimento de uma espécie que irá superar a
condição humana, o além-homem ou super-homem, aquele que será capaz de criar seus próprios
valores, de livrar-se do ressentimento, de superar-se e transmutar a dor em vitalidade, em leveza
e alegria. O super-homem será o inverso da mediocridade.
EdUFF – É possível construir uma relação entre ética da arte e a sociedade pós-moderna?
Ou o “embotamento próprio dos sentidos do homem moderno” se consolidou e chegou ao
limite?
Priscilla – Essa foi a principal questão que me propus a investigar durante minha pesquisa de
mestrado que culminou no lançamento deste livro. E afirmo que é possível construir essa relação
ética da arte na sociedade do espetáculo. Entretanto, as transformações propiciadas pela Arte não
serão rápidas como a de um anestésico ou um remédio que age de forma similar em todas as
pessoas. Nietzsche sugere uma nova ética, um outro remédio para a sociedade atual: a arte e os
sentimentos estéticos como estimulantes do querer, transformando os homens reativos e passivos
do regime espetacular em deuses criadores, repletos de alegria e energia vital.
[...] a arte é um meio para se compreender o desenvolvimento individual em suas diferentes fases
e o desenvolvimento da consciência estética e criadora do indivíduo; é um modo privilegiado do
conhecimento e aproximação entre indivíduos de culturas distintas. É a arte que nos ajuda a
conhecer o que não podemos articular e que explora o pensamento divergente, mobiliza a busca
de novas soluções, de possibilidades que leva à construção de um processo de investigação da
forma de expressão e criação que caracteriza cada ser humano. A arte ensina que é possível
transformar continuamente a existência, que é preciso mudar referências a cada momento, ser
flexível.
Em outras palavras, pode-se dizer que o ser humano e tudo o que está a sua volta são obras
inspiradoras das representações e manifestações artísticas. Para que se possa compreender a
obra de arte de nosso tempo é necessário considerar a natureza dentro do contexto em que foi
produzida e os princípios pelos quais foi estruturada. A obra de arte pode ser definida como um
objeto que possui a capacidade de expressar uma experiência, dentro de uma determinada
organização.
[...] Seguido de sucessivos avanços da humanidade, a arte chega a um dos clímax da nossa
cultura somente a partir do período clássico (VI à IV a. C.). Nesse momento da história, a
arquitetura e a escultura atingem ápices concretos inimagináveis. A literatura se concretiza e o
teatro explode numa genialidade inigualável.
Os artistas e pensadores do Renascimento voltaram seus olhos para a cultura clássica (cultura
greco-romana), não apenas para copiá-la, mas assimilá-la à cultura clássica tanto quanto a
medieval. O poder expressivo e a beleza do corpo humano foram dois ideais que a Renascença
encontrou realizados na arte clássica, pois o Renascimento surgiu quando o homem começou a
estudar o seu passado.
A grande figura da pintura renascentista foi o pintor Leonardo da Vinci, e Michelângelo foi o maior
escultor. Os trabalhos artísticos de ambos são admirados até os dias atuais, na Arte
Contemporânea, devido à sua perfeição, e também pela correta distribuição de luzes e sombras.
Nos séculos XV e XVI surgiu uma nova visão de mundo, o antropocentrismo e a ciência moderna.
E a valorização das artes como expressão do conhecimento encontra, então, seu apogeu. Este
dá-se durante o Romantismo, quando a arte é concebida como “órgão geral da Filosofia”.
Com a fundação da academia de Belas Artes, no Rio de Janeiro, pelos artistas que compuseram a
célebre “Missão Artística Francesa de 1816”, introduziu-se o neoclassicismo no Brasil, tendo como
principal pintor brasileiro Pedro Américo de Figueiredo e Melo.
Por volta de 1908, surge uma nova tendência artística, o cubismo, que considerava a obra de arte
um fato plástico independente da imitação direta das formas naturais e que se propunha a traduzir
sua visão com a ajuda de formas geométricas. No Brasil, Tereza d’Amico (1914-1965) foi a
primeira pintora a seguir o cubismo.
34
A Semana da Arte Moderna, de 1922, veio introduzir na cultura brasileira uma concepção de
vanguarda que rompeu violentamente com a repressão ideológica dominante em todos os setores
de atividade artística. A primeira artista a se destacar é Anita Malfatti (1889-1964). Já a primeira
Bienal de São Paulo (1951) fez com que os artistas se engajassem numa linguagem despojada e
geométrica da arte concreta: o abstracionismo.
O estudo da arte no Brasil a partir do modernismo inclui leituras, contextualização e análises das
produções artísticas brasileiras do século XX, que detectaram os rompimentos com as tradições e
regras acadêmicas.
Outras mudanças se fazem sentir na ocasião quando surge a Arte Conceitual que dá um passo a
mais, interessando somente a ideia, a criação mental do artista.
A arte do disgusting art (arte desagradável ou mórbida) dominou as últimas Bienais de Veneza e
São Paulo. Esta arte tem como proposta chocar as pessoas e proclamar a equivalência entre
a vida e arte. Sendo assim, seus temas são sexo e morte. A arte do século XX (Arte
Contemporânea) é diferente da arte grega ou renascentista, porque responde as questões
colocadas pelo homem e pela cultura atual. Uma das mais importantes características da arte de
nossos dias é a procura da espontaneidade, através da técnica, presente, nas fotografias e
cinema, por exemplo.
As novas tecnologias para a arte contemporânea atuam com um meio à disposição da liberdade
do artista, que se somam às técnicas e aos suportes tradicionais, para questionar o próprio visível,
alterar a percepção, propor um enigma e não mais uma visão pronta do mundo. O trabalho do
artista passa a exigir também do espectador uma determinada atenção, um olhar que pensa.
cada época cria uma arte que lhe é propícia e cada grupo humano
Em síntese,
o faz a sua maneira, dentro do conhecimento de mundo que esse mesmo
grupo venha a ter. As características individuais propícias do artista são
elementos fundamentais na avaliação da obra artística.
Disponível em:
http://www.fag.edu.br/adverbio/v5/artigos/aprendendo_e_ensinando_artes_atrav_s_sua_hist_ria_e_conceitu
aliza__o.pdf. Acesso em: 13 fev. 2014. (Adaptado, grifos das organizadoras)
Edvard Munch – Nascido na cidade de Loten que fica localizada na Noruega, Edvard começou a
avançar seus conhecimentos artísticos na Escola de Artes e Ofícios de Oslojunto, suas principais
inspirações foram os artistas Courbet e Manet. A obra mais conhecida de Edvard é “O Grito”.
36
Pablo Picasso – Nascido na cidade de Málaga que fica localizada na Andaluzia (Espanha), teve o
grande reconhecimento por todos como um dos mestres das artes, além de pintor ele também
fazia trabalhos com cerâmica e esculturas. Suas principais obras foram “A Primeira Comunhão” e
“Guérnica”.
37
Abaporu – Tarsila do Amaral
Vincent Van Gogh – Nascido na Holanda, Van Gogh foi um dos principais representantes da
pintura no mundo inteiro, começou muito cedo a caminhar no mundo artístico, com 15 anos de
idade trabalhou com um comerciante de arte, onde com quase 20 anos completos ele se mudou
para Paris devido ao grande sucesso que fazia, porém teve um certo contratempo estudando
Teologia, mas retomou suas atividades artísticas desenvolvendo desenhos a lápis para pobres
mineiros da cidade. As principais obras de arte de Van Gogh foram “Starry Night” e “Noite
Estrelada Sobre o Rhone”.
38
Starry Night – Van Gogh
A FACE DA GUERRA
1940
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Esta obra foi pintada nos Estados Unidos onde Dalí viveu por oito anos e onde lá alcançou o auge
de sua fama e sucesso mundial. O significado da pintura foi para Dalí extraordinariamente franco
e honesto, empregando o simbolismo em vez de associações irracionais do 'método crítico
paranoico'. Uma cabeça parecendo uma caveira rodeada de longas e sibilantes serpentes, tem
todos os orifícios repletos de esqueletos; cada um contém esqueletos-dentro-de-esqueletos, de
forma que a cabeça está recheada de morte infinita, um símbolo potente da era dos Campos de
Concentração e assassinatos em massa.
A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA
1931
Este quadro tão pequeno (24x33 cm) é provavelmente a obra mais conhecida de Dali. A flacidez
dos relógios dependurados e escorregando é um conceito brilhante, mais eficaz para abalar a
nossa crença em uma ordem natural das coisas, presa à regras estabelecidas, do que muitas
40
deformações mais sensacionalistas. As imagens chegam ao inconsciente evocando a
preocupação humana, aparentemente universal, com o tempo e a memória.
O próprio Dali está presente na forma da cabeça adormecida que já havia aparecido em O Jogo
lúgubre e outros quadros. Caracteristicamente ele alegou que a ideia para o quadro lhe ocorreu
enquanto meditava sobre a natureza do queijo Camenbert. O fundo do Port Lligat já estava
pintado, portando foram necessárias apenas umas duas horas para terminar a pintura.
O GRANDE PARANÓICO
1936
Uma das imagens duplas mais surpreendentes de Dalí, foi pintada depois de uma discussão do
artista com um colega, José Maria Sert, sobre o trabalho do famoso pintor milanês do século 16,
Giuseppe Arcimboldi, famoso por seus retratos cujos temas eram compostos totalmente de
objetos relacionados (frutas, por ex. ou armas). No mesmo estilo, mas com resultados mais
dinâmicos o Paranoico Sorridente de Dalí se dissolve em uma cena turbulenta em que homens e
mulheres assumem atitudes de tristeza ou desânimo.
À direita, contrastando, um grupo de figuras exaustas parece estar tentando arrastar um barco
sobre a areia, talvez representando um delírio que fervilha na mente do Grande Paranoico.
SONO
1937
41
Dalí recriou o tipo de cabeça grande e mole e o corpo inexistente que aparecia com tanta
frequência nos seus quadros por volta de 1929. Sono e sonhos são, por excelência, o domínio do
inconsciente e, portanto, de especial interesse para a psicanalistas e surrealistas.
IMPRESSÃO DA ÁFRICA
1938
Este quadro é notável pelo autorretrato de Dalí diante de seu cavalete, olhando fixo, num esforço
para convocar as imagens do seu inconsciente e transferi-las direto para a tela. Sua mão em
42
'escorço', estendida para o observador, lembra o pintor do séc.17 Caravaggio, um dos mestres
italianos que Dalí estudou com tanto afinco no final da década de 1930.
Imagens duplas se acumulam ao fundo, inclusive sua mulher Gala e uma imagem de um padre
que parece ter cabeça de macaco. O aspecto africano do trabalho pode ser avaliado com base na
afirmação de Dalí de que a 'África tem algum significado no meu trabalho, porque sem nunca ter
estado lá, lembro-me tão bem de tudo!'
As formas fragmentadas que aparecem nesse quadro originam-se do estudo da física nuclear por
Dalí. Profundamente impressionado com as descobertas que levaram ao desenvolvimento da
bomba atômica, ele abraçou a 'pintura nuclear' e o 'misticismo nuclear'.
A cabeça é como de uma Madona de Rafael, classicamente pura e serena. Ao mesmo tempo
incorpora o interior do domo do Panteon em Roma, com a luz brilhando através dela. Ambas as
imagens são perfeitamente claras, apesar da explosão que destruiu toda a estrutura em pequenos
fragmentos na forma de chifres de rinocerontes.
43
Um quadro famoso e popular embora tenha havido muitas controvérsias quando a Glasgow
Gallery resolveu comprá-lo em 1952. Mostra a crucificação de uma maneira bastante inusitada,
vista de cima, e, segundo Dalí, isto fundia o seu próprio 'sonho cósmico', envolvendo uma esfera
dentro de um triângulo (cabeça, braços e cruz formam um triângulo).
A crucificação ocorre no alto das rochas, à beira mar, perto da casa de Dalí.
AUTO-RETRATO
1921
44
Este quadro foi pintado quando Dalí tinha 17 anos, embora tenha se retratado um pouco mais
velho e estranhamente sério. O pescoço é ao estilo de Rafael. O ano de 1921 foi o da morte de
sua mãe e o ano em que ele saiu de casa pela primeira vez para estudar na Academia de São
Fernando, em Madri. Este retrato tem um ar sério e desafiante, um falso ar machista, para
esconder, provavelmente, a extrema timidez de Dalí.
A técnica da pintura, embora perfeita, ainda não é a original, as pinceladas e o esquema de cores
mostram a influência do Impressionismo, do Pontilhismo e de outros movimentos modernos que
Dalí logo rejeitaria preferindo um estilo acadêmico, meticulosamente preciso.
De volta à Espanha, em 1948, Dalí começou a pintar a Madona, terminando em 1950 – marcando
o início de sua fase religiosa. Esta Madona foi abençoada pelo Papa Pio XII. A influência da arte
renascentista sobre as obras de Dalí estava no seu auge. A fragmentação no seu quadro reflete o
'misticismo nuclear'.
45
Julien Dupré, nasceu na França em
VÍDEO
17 de Março de 1851 e faleceu em 15
Confira algumas das obras perfeitas de Julien Dupré.
de Abril de 1910. Foi um pintor Vale a pena!
naturalista que desde jovem http://www.youtube.com/watch?v=1NhhWSFQvtI
mostrava grande talento para as
artes. Frequentou escolas renomadas
especializando-se na pintura realista
que foi a marca maior de sua arte,
principalmente por retratar a vida
campestre, que acabou por lhe
conferir o apelido de pintor dos
camponeses. Era na verdade um
pintor muito exigente, minucioso que
exigia muito de si mesmo, levando
para suas telas o retrato fiel e
detalhado daquilo que observava,
também trabalhava de forma
excepcional com as luzes, cores e
sombras que intensificava a vida e os
movimentos em seus quadros.
Observar as pinturas de Julien Dupré é como fazer uma viagem no tempo, conhecer um mundo
distante na sua quase totalidade, pois seus quadros mostram pessoas e animais como se
realmente estivessem em movimento, realizando seus trabalhos cotidianos, cuidando de seus
muitos afazeres. Sem dúvida foi um dos maiores pintores realistas de todos os tempos, por isso
vale a pena conferir sua obra de maneira mais detalhada.
Nos palcos da arte, o MEIO AMBIENTE! Entretanto, lamentavelmente, não do modo como
gostaríamos de contemplá-lo... Na verdade, as imagens que seguem representam uma
minúscula parcela diante de tantas outras e não mostram apenas a natureza em si. Mais
que isso. As imagens, implicitamente, desnudam o homem, pois sugere o resultado de
suas ações. Sim, por trás das imagens que retratam a natureza eu e você também somos
os protagonistas. O quanto há de informações implícitas nestas e outras imagens que,
talvez, você encontre em uma de suas navegações pela internet? O quanto a fotografia
retrata fielmente as mazelas da natureza? Quais as imagens que nossa mente fotografa
diariamente pelas ruas? Se é que paramos em algum momento do dia para observar com
atenção os detalhes ao nosso redor... Confira, também, as informações...
46
A exposição “Expo 1: Rio”, que é uma versão da mostra “Expo 1: Nova York”, porém acrescida de
trabalhos de artistas brasileiros, pode ser conferida até 23 de fevereiro no Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio).
A mostra reúne cerca de 60 obras em diferentes técnicas e suportes, como fotografia, vídeo,
instalação, desenho, de um período que vai de 1972 a 2013. São 41 trabalhos de artistas
estrangeiros de várias gerações e pesquisas diversas, como o fundamental conceitual alemão
Joseph Beuys (1921-1986) – autor do vídeo “Ausfegen” (“Varrendo”, 1972), feito originalmente em
16mm e transferido para DVD – o fotógrafo americano Ansel Adams (1902-1984), o americano
Chris Burden (1946), o inglês Steve McQueen (1969), a sueca Klara Lidén (1979), o chinês Liu
Wei (1972), a húngara Agnes Denes
(1931), a dupla portuguesa João
Maria Gusmão (1979) e Pedro Paiva
(1977), e os coletivos Das Institut –
da dupla de artistas alemãs Kerstin
Brätsch (1969) e Adele Röder (1980)
– e United Brothers – dos irmãos
japoneses Ei (1977) e Tomoo
Arakawa, que criaram um trabalho
conjunto.
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Concebida por Klaus Biesenbach, diretor do
MoMA PS1 e chief curator-at-large do
MoMA, juntamente com Hans Ulrich Obrist,
co-diretor da Serpentine Gallery, a “Expo 1:
Rio” pensa o museu de arte contemporânea
como espaço de reflexão para “algumas
das questões ambientais e sociopolíticas
mais urgentes do nosso tempo”. A
exposição foi organizada em colaboração
com Luiz Camillo Osorio, curador MAM Rio,
Lizzie Gorfaine, assistente de curadoria do
MoMA PS1, e Mia Locks, curadora
associada do MoMA PS1. Na elaboração
curatorial da “Expo 1”, Klaus Biesenbach diz
que “o fim dos ideais utópicos do
modernismo pode ser reconhecido, mas
deve-se manter a esperança de que a
inovação humana fortalecerá os anseios por
um futuro melhor”. Vale lembrar que o MAM
Rio recebe a primeira itinerância de “Expo
1”, que depois segue para China e
Alemanha. Consciente da
complexidade e da urgência das
questões que envolvem a crise
ambiental contemporânea e suas
reverberações simbólicas,
poéticas e políticas, a Expo 1
“pretende ser uma exposição-
debate que, sem encaminhar
soluções, busca alargar os
Foto: Divulgação/ Ansel Adams
horizontes da discussão”, afirmam
Carlos Alberto Chateaubriand e Luiz Camillo
Osorio, presidente e curador do MAM Rio.
Realmente, há fatos que entristecem... Mas existem os que alegram... E, neste caso, não
poderíamos, em ano de Copa, deixar de falar um pouco sobre futebol. Algo que, em
especial no coração dos brasileiros, é mais que um esporte. É arte! Se você já gosta de
futebol, certamente fará a leitura do texto a seguir com muito gosto. Se não é um
apaixonado por esta arte esportiva que levanta espectadores e enlouquece torcedores,
mesmo assim, o texto é bastante atraente, pois traz informações que mostram como tudo
começou no mundo futebolístico, quais rumos tomou o futebol e por quais transformações
passou. Com certeza, vale a pena conferir para ganhar conhecimento!
48
E a partida começa no Brasil e no Rio Grande do Sul
No período estabelecido entre o último decênio do século XIX e os primeiros vinte anos do século
XX, constituiu-se na introdução e no estabelecimento do futebol no Brasil e no Rio Grande do Sul
(JESUS, 2003). O futebol desenvolveu-se, grandemente, tanto nos maiores centros industriais e
populacionais do país, como São Paulo e Rio de Janeiro, quanto na região mais meridional do
país.
Oficialmente, o começo das atividades futebolísticas no Brasil deu-se com a criação dos primeiros
clubes por ingleses que residiam em São Paulo e no Rio de Janeiro, a partir dos anos 1880
(PEREIRA, 2000). Nesse contexto, Charles Miller, nascido em São Paulo em 1874, mas de
ascendência inglesa por seus pais serem naturais desse país, é considerado o “pai” do futebol no
Brasil, quando trouxe da Inglaterra, vinte anos após o seu nascimento, as primeiras bolas e
bombas para enchê-las, tornando-se um incentivador da prática futebolística.
Cabe ressaltar que uma das qualidades que fez com que o futebol se tornasse um esporte de
vocação popular foi justamente “[...] a possibilidade de jogá-lo sem que seja necessário gastar
muito dinheiro. Nos primeiros anos do esporte no Brasil, porém, todo o equipamento adequado
para a prática do jogo tinha de ser importado” (GUTERMAN, 2009, p. 33-34). Outros fatores
determinantes para a disseminação dessa modalidade esportiva no país foram, por sua vez, o
regulamento simples que orienta esse jogo e a perenidade desse, fazendo com que as pessoas
que começavam a jogar futebol se acostumassem, rapidamente com as suas regras, não
precisando esperar grandes mudanças.
Embora com essa dificuldade inicial imposta pelo custo dos equipamentos necessários ao jogo e
também por ter sido logo adotado pela elite brasileira como um esporte “fino”, o futebol logo
popularizou-se por meio dos operários das companhias férreas inglesas que trabalhavam no
Brasil nesse período. Esses trabalhadores não só tinham contato com os representantes da
classe dominante brasileira, mas também com gente de origem mais simples, o que, ainda
segundo Guterman (2009), auxiliou na disseminação dessa prática esportiva, extremamente
popular
Nesse contexto, na última década do século XIX, as alterações políticas internas, como a abolição
da escravidão em 1888, a proclamação da República no Brasil ocorrida um ano depois, bem como
a forte presença econômica e simbólica das potências europeias seduziram a classe média em
formação, que tende, então, a incorporar formas e estilos de vida e de lazer mais europeizados.
De acordo com Jesus (1999, p. 29):
Foi sem dúvida muito grande a receptividade da população carioca aos esportes na virada do
século. Tal atitude se vinculava diretamente não apenas ao fato de estes representarem uma via
para a vida saudável, mas, sobretudo, ao fato de constituírem um elemento civilizador do ideário
burguês importado da Europa, numa conjuntura em que ser estrangeiro era ser moderno. [...] A
adesão maciça aos esportes respondeu a um conjunto geral de profundas transformações na vida
urbana, relacionadas ao advento da modernidade.
Embora Jesus (1999) se valha da situação ocorrida no Rio de Janeiro nesse período, também no
Rio Grande do Sul e em São Paulo o futebol pode ser entendido como um fator “civilizador” das
elites locais, já que nesse último estado brasileiro a atuação de Charles Miller para a
disseminação do jogo da bola foi significativa. Muitos clubes haviam se formado, também, no Rio
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Grande do Sul, especialmente nas cidades de Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre, cidades que
iniciaram o movimento de introdução no sentido litoral-interior, ensejando uma multiplicação de
equipes esportivas (JESUS, 2003). No estado, as primeiras bolas de futebol e demais
equipamentos para a prática do esporte apareceram na cidade portuária de Rio Grande e em
cidades próximas da fronteira com o Uruguai e com a Argentina, através de viajantes oriundos
desses países e de comerciantes de origem alemã, sobretudo, que estavam de passagem ou
estavam estabelecidos nessas cidades.
Essa presença decisiva dos teuto-brasileiros na introdução do futebol no estado traduziu-se, por
exemplo, na fundação do Sport Club Rio Grande, em 19 de julho de 1900. O movimento acabou
estendendo-se no interior do Estado, especialmente nas colônias italianas e alemãs e, em
especial, na já próspera economicamente localidade de Novo Hamburgo, o que cabe aqui frisar
(PRODANOV; MOSER, 2009). A prosperidade dessas cidades, com acentuada presença teuto-
brasileira na sua composição populacional, ocorreu muito em função da chegada da linha férrea a
essas localidades, o que ocorreu no último quartel do século XIX.
Todavia, o primeiro clube de futebol no Rio Grande do Sul tenha sido fundado por comerciantes
de origem teuto-brasileira em Rio Grande, que pertenciam a uma elite local, rapidamente, o
esporte, que chegou ao Estado como uma prática esportiva ligada às classes mais abastadas,
transformou-se em uma prática ligada às massas. O público consumidor ligado aos segmentos
populares, cada vez mais adepto ao jogo da bola, não formulava exigências particulares a esse
produto cultural que chegava à região sul do Brasil. Assim, mesmo estando geograficamente no
extremo sul do Brasil e não sendo o centro político e econômico do país, o Rio Grande do Sul teve
certo grau de pioneirismo nessa acelerada e apaixonante expansão do futebol. Houve uma
considerável contribuição de uruguaios e ingleses residentes nesse Estado, assim como daqueles
que trabalhavam em nossos portos e fronteiras mais meridionais e traziam consigo a prática do
chamado esporte bretão. Também foi decisiva a grande massa de imigrantes alemães, italianos e
seus descendentes, que habitavam essa região mais ao sul do Brasil, nas bordas da região
platina e povoada por imigrantes europeus de várias etnias (PRODANOV; MOSER, 2011, p. 03).
50
O Brasil é o único país filiado à FIFA1 que disputou todos os campeonatos mundiais, desde a
primeira edição, que ocorreu em 1930, no Uruguai. A seleção brasileira, nesse primeiro
campeonato mundial, envergava o uniforme nas cores branca e azul e fez uma campanha não
muito animadora. O selecionado nacional marcou uma apagada presença, vencendo apenas uma
partida, contra a Iugoslávia, no certame vencido pelo país anfitrião. (GUTERMAN, 2009).
Quatro anos após o torneio disputado no Uruguai, foi a vez de a Itália sediar o Mundial de Futebol
de 1934. Esse país vivia sob o regime fascista instaurado por Benito Mussolini, o Duce, em 1920.
O futebol configurava-se, também na Itália, como uma das maiores expressões esportivas
populares nacionais e o chefe supremo da nação, Mussolini, acreditava que esta Copa do Mundo
seria um momento importante de propaganda política do regime (GUTERMAN, 2009). Com efeito,
o país-sede do mundial ganhou o torneio, com uma campanha exitosa e um vistoso futebol
exibido durante todas as partidas do campeonato. É importante ressaltar que, de modo geral, o
fascismo, nos anos 1930, recebeu, na América Latina e principalmente no Brasil, atenção especial
das elites e de setores médios urbanos, que acreditavam que esse tipo de projeto de poder seria
capaz de transformar positivamente o cenário político e social do país em pouco tempo, e o
futebol foi utilizado no processo de convencimento das classes populares (SCARZANELLA, 2009)
No processo de preparação para disputar a Copa do Mundo de 1934, feita através da CBD –
Confederação Brasileira de Desportos, antecessora da atual CBF – já que esta entidade mantinha
a esperança de melhorar o sexto lugar obtido no campeonato anterior no Uruguai. Depois, na
Copa da Itália, a CBD novamente convocou jogadores paulistas para reforçar a seleção “carioca”,
a ser comandada pelo técnico Píndaro de Carvalho.
O time brasileiro somente se classificou para o mundial de 1934 em virtude da desistência do Peru
em disputar a eliminatória, abrindo uma vaga ao selecionado brasileiro sem necessidade de jogar.
Classificado, foi à Europa com apenas 17 jogadores. Assim,
Para cortar custos, a delegação decidiu viajar em cima da hora, sem tempo para treinamento e
adaptação. Como resultado da desorganização e da teimosia [já que ainda persistia a disputa
entre as federações paulista e carioca de futebol, como mencionado acima], a participação
brasileira na Copa de 1934 foi a mais rápida de sua história: durou apenas 90 minutos, tempo
51
suficiente para ser eliminada pela fortíssima seleção espanhola por 3 a 1 (GUTERMAN, 2009, p.
66).
Esse verdadeiro vexame que a seleção brasileira passou nos gramados da Itália, a sua eliminação
do certame mundial em apenas uma hora e meia, pode ser mensurado na crônica esportiva da
época, que registra que o time brasileiro “se arrastava” em campo. Entretanto, a fragorosa derrota
do time brasileiro na Itália fez com que, irreversivelmente, o amadorismo fosse abandonado como
forma de reunir atletas em clubes e no selecionado nacional. A afirmação do profissionalismo no
futebol brasileiro foi decisiva para que, no mundial seguinte, a atuação brasileira tivesse um
destaque expressivo e digno da crescente paixão brasileira por esse esporte.
O Mundial de 1938, que ocorreu na França, marcou o momento em que as federações paulista e
carioca entraram em acordo quanto à cedência de jogadores ao selecionado nacional, e o Brasil,
finalmente, teve um time competitivo para disputar essa Copa do Mundo (MURRAY, 2000). A
seleção brasileira, melhor organizada, contava com dois times, um leve e outro pesado. O time
leve foi composto para enfrentar adversários mais fracos; o pesado foi montado para as partidas
mais importantes. Como resultado do bom entendimento que houve entre os dirigentes esportivos,
bons jogadores foram escalados e a pode-se contar com presença de um dos melhores zagueiros
do mundo de então, Domingos da Guia. O Brasil, finalmente, reunia condições de disputar o título
e, de certo modo, responder aos anseios da população brasileira, que, cada vez mais, se
apaixonava pelo futebol (PEREIRA, 2000). Assim, a seleção conquistou a terceira colocação
neste campeonato, sendo a primeira colocação obtida, assim como na Copa do Mundo anterior,
pela seleção italiana.
Um elemento que também foi relevante para essa acentuada disseminação e massificação do
futebol, a partir desse campeonato mundial, foi a realização das primeiras transmissões
radiofônicas das partidas disputadas pela seleção brasileira (GUTERMAN, 2009). Essas
transmissões eram irradiadas para boa parte do território brasileiro, o que reforçava justamente a
ideia de integração nacional, proposta pelo ideário varguista do Estado Novo (1937-1945),
segundo a posição de Drummond (IN PRIORE; MELO, 2009). O rádio fez o futebol e a seleção
brasileira entrarem definitivamente na mídia de massas e na população brasileiras.
Nesse contexto de grande popularização que ocorreu com esse esporte no Brasil, o futebol possui
uma relação bastante aproximada com as premissas teóricas da cultura de massa, ou mass
media, elencadas por Umberto Eco (2004). Nesse sentido, Eco divide a Cultura de Massa em três
níveis distintos – alto, médio e baixo – partindo da classificação elaborada pelo teórico de
comunicação norte-americano Dwigth MacDonald no final da década de 1930.
Dentro dessa perspectiva, no Brasil, o futebol dialoga com essas delimitações propostas por Eco,
pois a comunicação de massa retroalimenta e sustenta o futebol como elemento dos meios de
comunicação de massa, em detrimento de outras práticas esportivas ou culturais. Desse modo, o
futebol no Brasil é legitimado pela mídia de massa em seus diferentes níveis, ainda segundo o
pensamento de Eco (2004), e o país apoia e aprova o futebol como seu principal elemento de
cultura de massa, elemento esse cuja construção remonta ao início do século XX.
Dessa forma, o futebol foi conquistando cada vez mais espaço na preferência esportiva do
brasileiro, suplantando outros esportes como atividade ligada às massas. O futebol, durante o
primeiro governo de Vargas, foi alçado à condição de um elemento de integração e disciplina das
massas, ligando-se, dessa forma, a um projeto nacional de criação de uma identidade brasileira.
52
Nesse momento histórico, o futebol já tinha deixado de estar circunscrito às elites, locais ou
nacionais, para ser praticado por pessoas de todas as classes sociais. Com isso, o futebol [...]
correspondia a um movimento cultural e político mais amplo, envolvendo tanto os interesses de
disciplina social do Estado, a dinâmica específica do futebol, quanto um clima cultural, que
perpassava toda a sociedade, de produção de uma identidade nacional forte. Com relação à
situação específica do futebol, a profissionalização correspondia à tensão que existia entre a
tradição elitista e amadora dos primórdios da prática esportiva e a necessidade de regulamentar
nos clubes - numa conjuntura de popularização do futebol - a crescente participação de jogadores
remunerados, de sua maioria de origem pobre e negra (RIBEIRO, 2003, p. 02).
Com a eclosão da II Guerra Mundial, entre 1939 a 1945, não ocorreu a edição da Copa do Mundo
no ano de 1942. Em 1946, também não houve a edição do campeonato mundial, em decorrência
do processo de reconstrução da Europa estava passando, que era o principal polo futebolístico da
época, devido à destruição que ocorrera no velho mundo com o conflito mundial (GUTERMAN,
2009).
O mundial de 1950, por sua vez, foi sediado pelo Brasil e, no país, havia a expectativa de que a
seleção brasileira venceria o campeonato, já que era tida como a grande favorita da competição,
em virtude do bom resultado obtido no último mundial ocorrido em 1938.
A impressionante campanha que o Brasil fez nesse campeonato aumentou ainda mais quando a
seleção brasileira chegou à partida final, contra o Uruguai, na então capital federal, Rio de Janeiro,
no estádio do Maracanã. O estádio era considerado o maior do mundo, possuindo na época
capacidade para acolher duzentos mil torcedores; tratava-se, sem dúvida, de um símbolo para o
futebol nacional e simbolizava a confiança que os torcedores brasileiros depositavam em sua
seleção (MURRAY, 2000).
Contudo, a “Celeste Olímpica”, apelido dado pela crônica esportiva à equipe uruguaia, venceu a
partida com escore de 2 a 1, para perplexidade nacional, tanto que, no final da partida, multidões
choravam pela derrota pelas ruas do Rio de Janeiro. O verdadeiro choque causado pela derrota
brasileira nessa copa do mundo, chamado pela imprensa esportiva uruguaia de então de
Maracanazo, pode ser explicado pelo generalizado sentimento de já ganhou que a população e
que os próprios jogadores brasileiros estavam sentindo nas vésperas da final do mundial
(GUTERMAN, 2009).
Dentro desse contexto, o Rio Grande do Sul, desde a primeira Copa do Mundo, teve participação
nas seleções nacionais, seja com jogadores atuando como titulares ou como reservas, salvo no
campeonato mundial de 1938, quando não houve nenhum jogador sul-rio-grandense convocado
para o selecionado nacional (MURRAY, 2000). No primeiro certame mundial, ocorrido em 1930, o
futebol gaúcho foi representado por Moderato Wisentainer, atacante nascido em Alegrete, que
atuava pelo Flamengo quando convocado para jogar no mundial. Esse jogador chegou a fazer
dois gols no mundial em partida contra a Bolívia (ZERO HORA, 2002). Na edição seguinte da
copa do mundo, em 1934, Luiz Luz, que então atuava como zagueiro pelo Grêmio FBPA, foi
53
convocado para o selecionado nacional, tornando-se o primeiro gaúcho a jogar em um clube do
estado a participar da seleção brasileira.
Outra relevante contribuição dada por gaúchos à seleção brasileira foi a criação do uniforme nas
cores verde e amarela, que ficou popularmente conhecida como o uniforme “canarinho” e que se
tornou a marca registrada do selecionado. Como que em uma tentativa de apagar o péssimo
resultado obtido no mundial de 1950.
Considerações finais
O futebol constituiu-se, já nas primeiras três décadas do século XX, como uma paixão lúdica
fascinante para os jogadores e espectadores; tratava-se de um esporte com regras claras, simples
e que necessitava de pouco equipamento para ser praticado e podia ser assistido por
contingentes relativamente grandes de pessoas. O surgimento dessa prática esportiva no Brasil,
por sua vez, se deu no último decênio do século XIX e evoluiu rapidamente ao longo do século
XX, transcendendo da concepção de esporte da elite, inicialmente, atingindo o status de futebol
negócio e espetáculo globalizado na atualidade. Ao longo de sua implantação e consolidação em
terras brasileiras, o esporte afirmou-se como um dos mais importantes elementos da formação da
identidade brasileira.
Com distintas fases, o seu papel alterou-se ao longo do tempo na sociedade brasileira. Iniciou
como elemento de uma pequena elite, tornou-se paixão popular integradora, profissão, caminho
de afirmação nacional e também um negócio milionário e global dentro do qual o Brasil possui um
importante papel. Nesse sentido, nas primeiras décadas do século XX, o futebol desenvolveu-se,
grandemente, também no Rio Grande do Sul, o que, em linhas gerais, ocorreu de forma
semelhante em outros estados brasileiros.
Nesse período efervescente para o esporte, vários clubes se formaram no estado, especialmente
em Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre, cidades que iniciaram o movimento de introdução no
sentido litoral-interior, ensejando uma multiplicação de equipes de futebol nesse estado brasileiro.
Nesse contexto, a participação brasileira nas quatro primeiras edições da Copa do Mundo, em
1930, 1934, 1938 e 1950, assume uma posição interessante para compreender de que forma o
futebol consolidou-se como a grande paixão esportiva nacional. Durante a década de 1930, o país
já era guindado à condição de “país do futebol”, pelo fato de ter obtido o terceiro lugar no
campeonato mundial de 1938. Essa colocação foi fruto de um esforço articulado entre um projeto
de Estado e o crescente desenvolvimento dos meios de comunicação de massa existentes à
época – o rádio, especialmente – bem como da já grande paixão popular que já existia pelo jogo
da pelota no Brasil.
54
Tanto no âmbito nacional quanto no do Rio Grande do Sul, a Copa do Mundo teve uma grande e
decisiva influência para a consolidação e a expansão da atividade futebolística no Brasil. Já no
primeiro campeonato mundial, disputado em 1930, havia a presença de um jogador sul-rio-
grandense no selecionado nacional, que, inclusive, marcou gols na primeira participação brasileira
em campeonatos mundiais. Nesse sentido, outra contribuição relevante que o estado deu para a
seleção brasileira foi no sentido de que foi um gaúcho Aldyr Schlee o criador do uniforme da
seleção brasileira nas cores verde e amarela, no ano de 1953. A chamada camiseta “canarinho”
forjou uma marca registrada do futebol brasileiro no exterior e acabou se tornando praticamente
um sinônimo do futebol do Brasil em termos globais.
Pode-se dizer que a paixão brasileira pelo futebol foi reforçada pela participação do país nas
copas do mundo, bem como o futebol pode ser entendido como um dos primeiros elementos de
formação de uma identidade nacional brasileira mais coesa e definida. O futebol, antes restrito a
uma pequena elite e que, seja no contexto nacional ou do Rio Grande do Sul, já nos anos 1930,
popularizou-se rapidamente entre as diferentes classes sociais brasileiras, tornando-se um
elemento importante para a criação, em termos mais gerais, de um “jeito brasileiro de ser”.
Finalmente, as copas do mundo também podem ser compreendidas como um vetor importante de
análise e de reflexão acerca da própria dinâmica histórica e social brasileira desde o início do
século XX até a contemporaneidade. A partir do desastre de 1950 no Maracanã contra o Uruguai,
moldou-se um patriotismo futebolístico que faz o Brasil ser hoje um país com quase 200 milhões
de técnicos e apaixonados pela seleção.
Nota
1. Sigla em francês para Fédération Internationale de Football Association. Essa entidade foi
fundada na Suíça, em 1904, por Jules Rimet, sendo que o primeiro troféu ofertado aos
vencedores da Copa do Mundo, até o ano de 1970, levava o nome do fundador da
Federação (GUTERMAN, 2009).
Referências
DA MATTA, Roberto. A bola corre mais que os homens: duas copas, treze crônicas e três
ensaios sobre futebol. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.
DRUMOND, Maurício. O esporte como política de estado: Vargas. In: PRIORE, Mary Del;
MELO, Victor Andrade de (Orgs.). História do esporte no Brasil: do Império aos dias atuais.
São Paulo: Editora da UNESP, 2009.
ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo: Perspectiva, 2004.
GUTERMAN, Marcos. O futebol explica o Brasil: uma história da maior expressão popular
no país. São Paulo: Contexto, 2009.
JESUS, Gilmar Mascarenhas. Construindo a cidade moderna: a introdução dos esportes
na vida urbana do Rio de Janeiro. Estudos Históricos, n. 23, p. 17-38, 1999.
______. Futebol, globalização e identidade local no Brasil. Lecturas: Educación Física y
Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, ano 8, n. 57, 2003.
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MURRAY, Bill. Uma história do futebol. São Paulo: Hedra, 2000.
PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. Footballmania: uma história social do futebol no
Rio de Janeiro 1902-1938. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
55
PRODANOV, Cleber Cristiano; MOSER, Vinícius. O futebol ítalo-germânico no Rio Grande
do Sul. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, ano 14,
n.135, ago. 2009. http://www.efdeportes.com/efd135/o-futebol-italo-germanico-no-rio-
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______; MOSER, Vinícius. Estado Novo e futebol: a região italiana do Rio Grande do Sul.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, ano 14, n.140, ago.
2010. http://www.efdeportes.com/efd140/futebol-a-regiao-italiana-do-rio-grande-do-sul.htm
______; MOSER, Vinícius. Marcas de uma história, marcas do futebol: o Foot-Ball Club
Esperança. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, ano 14,
n.152, jan. 2011. http://www.efdeportes.com/efd152/marcas-de-uma-historia-o-football-
club-esperanca.htm
RIBEIRO, Luiz Carlos. Brasil: futebol e identidade nacional. Lecturas: Educación Física y
Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, ano 8, n. 56, ago. 2003.
http://www.efdeportes.com/efd56/futebol.htm
SCARZANELLA, Eugenia. Fascistas en América del Sur. Buenos Aires: Fondo de Cultura
Econômica, 2009.
ZERO HORA. Brasil nas copas: em destaque, a participação dos gaúchos. Porto Alegre: ZH Publicações,
2002.
Sinceramente acho que todo mundo precisa escutar o homem. Mas a frase, vinda da boca de um
culto amigo, irritado com um carro que jorrava tecnobrega no último, gerou aquele arrepio na
espinha. E, certamente, não foram os fantasmas de Theodor Adorno e Max Horkheimer passando
por perto. Sua crítica não se relacionava ao tratoramento da arte pela estrutura capitalista de
reprodução e distribuição de cultura, que a transforma em mercadoria a ser consumida
passivamente. Pois, ele próprio é um desses consumidores, que bebe empacotados dito eruditos,
vilamadalenizados, mas que tenta “curar'' o outro.
Tirando o lado elitista, preconceituoso e pseudo-paternalista desse tipo de declaração (já ouvi de
muito empresário e fazendeiro, que faziam falcatruas trabalhistas, e até de deputado, que
retenção de remuneração serve para evitar que o peão se afunde na cachaça com o salário), ela
também inclui uma visão um tanto quanto distorcida da realidade.
56
Na opinião destes, há uma autoproclamada “cultura de qualidade”. A clivagem entre o popular e o
Esse
erudito (e a ignorância de fundir o erudito com o bom) é apenas parte dessa discussão.
tipo de pensamento, com a reafirmação de símbolos para separar “nós” da
plebe, expressa mais preconceito de classe do que qualquer outra coisa. E,
em um ímpeto quase jesuítico, a necessidade de catequisar vem à tona, para
trazê-lo à nossa fé. Não que eles poderão entender tudo, mas poderão, pelo menos, deixar o
estado de barbárie em que se encontram ao respirar o mesmo ar que nós.
Nos grandes centros, o consumo da chamada cultura regional tradicional ganhou espaço entre os
mais ricos e formadores de opinião. Virou cult. É em cima dessa análise que muitos querem
resgatar, forçosamente, um passado “menos selvagem'' em que a população de determinado
lugar consumia esse tipo de arte da qual também gostamos. Sem se atentar que as coisas
mudam, ou que a indústria cultural tem seus processos, fazendo ricos empresários que,
ironicamente, bancam formadores de opinião.
Ampliar o leque, dando mais possibilidades de escolha para a sociedade é uma coisa. Guiar o
consumo cultural para preservar uma imagem que uma elite intelectual dos grandes centros tem
de como deveria ser a cultura brasileira é outra.
Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos
direitos humanos em Timor Leste, Angola e no Paquistão. Professor de Jornalismo na PUC-SP, é
coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do
Trabalho Escravo.
Para concluir esta seção, confira o quanto a Arte e a Cultura estão presentes na
UniCesumar. Se você é aluno do Ensino Presencial - Maringá, certamente é privilegiado
por poder apreciar de perto a qualidade de todo o repertório cultural e artístico que
acontece nesta Instituição e que faz acontecer em toda a cidade, e também em outras. Se
você é aluno do Ensino a Distância, em polos de outras cidades e estados, programe uma
visita! Venha conhecer toda a qualidade dessa riqueza na Instituição da qual você faz
parte. A Comunidade do Conhecimento terá o maior prazer em recebê-lo!
Foi a partir destas formações que houve a necessidade de se estruturar o setor de música da
instituição. Desta forma, nasceu o Departamento de Cultura e Arte, o DCA, que administra as
seguintes equipes: Orquestra Filarmônica Unicesumar, Coral Unicesumar, Quinteto de Metais e o
Quarteto de Cordas Unicesumar. Dirigido pelo maestro Davi Oliveira, o DCA gerencia, também,
todo o acervo de partituras pertencentes à Unicesumar, contando com cerca de 1000 obras para
Orquestra e centenas de obras para Coral, além de promover concertos periodicamente para a
comunidade. A equipe do DCA é formada pelos maestros Davi Oliveira (Orquestra) e Geandré
Ramiro (Coral), músicos, secretários, arquivistas de partituras e montadores.
O Departamento encontra-se instalado na ala externa do bloco 7 (voltada para o bloco 6). Os
contatos podem ser mantidos pelo e-mail: orquestra@unicesumar.edu.br ou telefone 3027-6360,
ramal 1373.
Coral UniCesumar
O Coral Unicesumar surge no ano de 2000, a partir de um ideal acalentado pelo então Diretor
Geral da Instituição (hoje Reitor), Prof. Wilson de Matos Silva. Na condição de educador e
empresário, homem sensível às questões relacionadas com a sociedade e sabendo detectar a
importância da cultura e das artes no desenvolvimento integral do ser humano, proporcionou
condições necessárias para o engrandecimento do Canto Coral na cidade de Maringá com a
criação do Coral Unicesumar.
O objetivo do Coral Unicesumar, por estar ligado a uma instituição de ensino e compartilhar do
ambiente acadêmico que abriga outras frentes de trabalho nos campos do ensino, da pesquisa e
da extensão, tem sido – antes de mais nada – a produção de música coral amparada em
procedimentos comprometidos com a formação musical de seus membros, pela pesquisa em
música e pelo intercâmbio com a sociedade, partindo-se dos resultados que obtém a cada projeto
que desenvolve.
Hoje, com seus 14 anos de atividade, 8 CDs e 2 DVDs gravados, inúmeras apresentações e
viagens realizadas dentro e fora do Paraná e integrando juntamente com a OFUC – Orquestra
58
Filarmônica Unicesumar o DCA - Departamento de Cultura e Artes da Instituição, o que mais
caracteriza o trabalho do Coral Unicesumar é um profundo senso de entendimento da música
como ciência e arte, tendo lugar junto à academia não apenas para cumprir seu papel de órgão
representativo da Instituição, com suas incursões relacionadas ao repertório funcional mas,
prioritariamente, para resgatar o repertório histórico, o conhecimento da arte na cultura ocidental e
colaborar com crescimento da comunidade maringaense.
Contato: orquestra@unicesumar.edu.br
Telefone: 44 3027-6360, ramal 1373.
Orquestra Filarmônica
A Orquestra Filarmônica Unicesumar (OFUC) foi criada em janeiro de 2003 pelo Reitor Wilson de
Matos Silva, sob a coordenação do Maestro e Diretor Artístico Davi Oliveira. Mantida pelo
Unicesumar - Centro Universitário Cesumar, a OFUC iniciou seus ensaios em fevereiro do mesmo
ano, sendo que sua primeira apresentação ocorreu no dia 17 de março de 2003, nas
dependências do Unicesumar.
A Filarmônica já gravou vários CDs e três DVDs, sendo dois deles, gravados ao vivo nos anos de
2009, 2010 no Teatro Calil Haddad de Maringá/PR e em 2012, também ao vivo, no Teatro Guairá
de Curitiba/PR.
59
Em 2012 honrosamente os integrantes da OFUC receberam da Câmara de Vereadores de
Maringá o Título de Mérito Comunitário pelos serviços prestados à cidade.
Contato:orquestra@unicesumar.edu.br
Telefone: 44 3027-6360, ramal 373.
AGENDA 2014
CONFIRA!
http://www.cesumar.br/dca/agenda.php
Museu UniCesumar
Apresentação
60
Museu Interativo
O Museu Interativo é uma obra moderna que agrega os recursos da tecnologia digital para contar
a história de Maringá. É composto por:
Cinema em 4D
Salas de Vídeo
Sala dos Prefeitos
Sala do piso mágico
Central de computadores para pesquisas
Espaço para exposições itinerantes
Casa do Pioneiro
Tulha Cafeeira
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Frases
A arte tem a finalidade de penetrar a vida, atingir a realidade, esboçar a verdade. (César das
Neves)
Todos parecemos saber perfeitamente bem o que é a arte, mas mal tentamos explicar o que ela
realmente é, enredamo-nos em contradições e implausibilidades. É isto a filosofia: faz-nos pensar
outra vez e revela perplexidades onde antes havia apenas banalidades. (Desidério Murcho)
A arte não é feita com ideias, é feita com inteligência. Ideias toda a gente tem, mas refletir nem
todos conseguem. (José Augusto França)
Curiosidade
http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/album-de-fotos/as-10-cidades-mais-fotografadas-do-
mundo-segundo-o-google
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Músicas
Comida
Titãs
63
É uma partida de futebol
Skank
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Metamorfose Ambulante
Raul Seixas
Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha
opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha
opinião
Formada sobre tudo
Eu quero dizer
Agora o oposto do que eu
disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha
opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha
opinião
Formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem
sou Se hoje eu sou estrela
Se hoje eu sou estrela Amanhã já se apagou
Amanhã já se apagou Se hoje eu te odeio
Se hoje eu te odeio Amanhã lhe tenho amor
Amanhã lhe tenho amor Lhe tenho amor
Lhe tenho amor Lhe tenho horror
Lhe tenho horror Lhe faço amor
Lhe faço amor Eu sou um ator
Eu sou um ator Eu vou desdizer
É chato chegar Aquilo tudo que eu lhe disse antes
A um objetivo num instante Eu prefiro ser
Eu quero viver Essa metamorfose ambulante
Nessa metamorfose ambulante Do que ter aquela velha opinião
Do que ter aquela velha opinião Formada sobre tudo
Formada sobre tudo Do que ter aquela velha opinião
Do que ter aquela velha opinião Formada sobre tudo
Formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
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Aquarela do Brasil
Ary Barroso
Brasil Brasil
Meu Brasil brasileiro Terra boa e gostosa
Meu mulato inzoneiro Da morena sestrosa
Vou cantar-te nos meus versos De olhar indiscreto
Ô Brasil, samba que dá Ô Brasil, samba que dá
Bamboleio que faz gingar Bamboleio, que faz gingar
Ô Brasil, do meu amor Ô Brasil, do meu amor
Terra de Nosso Senhor Terra de Nosso Senhor
Brasil, Brasil Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim Pra mim, pra mim
Ah, abre a cortina do passado Oh, esse coqueiro que dá coco
Tira a Mãe Preta, do serrado Onde eu amarro a minha rede
Bota o Rei Congo, no congado Nas noites claras de luar
Brasil, Brasil Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim Pra mim, pra mim
Deixa, cantar de novo o trovador Ah, ouve essas fontes murmurantes
A merencória luz da lua Aonde eu mato a minha sede
Toda canção do meu amor E onde a lua vem brincar
Quero ver a Sa Dona, caminhando Ah, este Brasil lindo e trigueiro
Pelos salões arrastando É o meu Brasil, brasileiro
O seu vestido rendado Terra de samba e pandeiro
Brasil, Brasil Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim Pra mim, pra mim
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Filmes
Eduardo Coutinho:
o cineasta é um dos principais responsáveis por definir o gênero documentário no Brasil
Nascido na cidade de São Paulo, em 1933, Eduardo Coutinho é um dos principais responsáveis
por definir o gênero documentário no Brasil. A capacidade do diretor em extrair fragmentos
simples dos entrevistados e transformar isso na matéria-prima de suas obras serviu como a base
para alguns dos registros mais autênticos da produção nacional.
Películas como Cabra Marcado Para Morrer (1984), Edifício Master (2002) e Peões (2004) que
trouxeram na observação de um grupo ou mesmo ambiente específico o princípio de condução
para as imagens do documentarista. Morto de forma trágica - o cineasta foi assassinado pelo filho
esquizofrênico -, Coutinho deixa algumas das obras mais importantes da produção
cinematográfica brasileira, algumas delas listadas (abaixo) e disponíveis na íntegra para o público:
Centrado na vida do líder camponês João Pedro Teixeira, morto em 1962, o trabalho busca
remontar o universo em torno do personagem com base no depoimento de pessoas que atuaram
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ao lado de Teixeira. Iniciado em 1964, porém interrompido por conta do Golpe Militar, o registro
seria concluído somente na década de 1980.
Filmado na virada dos anos 2000, o documentário retrata a vida dos moradores do Morro da
Babilônia, no Rio de Janeiro, e suas expectativas para o novo ano que estava chegando. Filmado
ao longo de 12 horas, o trabalho reforça os preparativos, sonhos e desilusões dos moradores
antes do réveillon.
Peões (2004)
Ao longo dos anos, é muito comum vermos livros serem adaptados. As razões para tantos livros
se tornarem filmes ou séries de sucesso, são por suas histórias atraírem o grande público ou
chamarem a atenção por sua originalidade. Depois dos lançamentos “A Menina que roubava
livros” de Marcus Zusak, “O Lobo de Wall Street” de Jordan Belfort e “Quando Eu Era Vivo”,
baseado no livro do autor nacional Lourenço Mutarelli, outras adaptações de obras literárias estão
previstas para chegarem às telonas. Como 2014 promete ser o ano das adaptações, confira
abaixo a seleção que o Livros e Citações preparou para você, com 32 filmes baseados em livros
que devem estreiar nos cinemas neste ano. Confira no site:
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Tiras do Calvin
quadrinho 1: (Calvin) A fina arte está morta, Haroldo, ninguém entende isso. Ninguém gosta
disso. Ninguém vê isso. É irrelevante na nossa cultura de hoje.
quadrinho 2: (Calvin) Se você quer influenciar as pessoas, a arte popular é o melhor caminho. O
mercado de massa da arte comercial é o futuro.
quadrinho 3: (Calvin) Além disso, é a única maneira de fazer dinheiro sério e isso é que é
importante em ser artista.
quadrinho 4: (Haroldo) Então que tipo de escultura você está fazendo? (Calvin) Por favor, isto
não é uma “escultura”. É uma “figura de coleção”.
quadrinho 5: (Calvin) Tá vendo, o problema com a fina arte é que ela deve expressar as
verdades originais.
quadrinho 6: (Calvin) Mas quem gosta de originalidade e verdade?! Ninguém! A vida é dura o
bastante sem isso! Somente um idiota pagaria por isso!
quadrinho 7: (Calvin) Mas a arte popular sabe que o cliente está sempre certo! As pessoas
querem mais do que eles já sabem que gostam. Então a arte popular dá isso para eles!
quadrinho 8: (Haroldo) E como estão as sequências dos filmes este verão? (Calvin) Terrível!
Cara, não há nada que eu odeie mais do que pagar 5 paus e ter que negociar com alguns novos
enredos.
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Disponível em: http://janusaureus.files.wordpress.com/2012/03/ind-cult.jpg Acesso em: 19 fev. 2014.
quadrinho 1: (Calvin) Oh, poderoso da mídia de massa, obrigado por elevar a emoção, reduzir o
pensamento, e aniquilar a imaginação!
quadrinho 2: (Calvin) Obrigado pela artificialidade das soluções rápidas e pela manipulação
traiçoeira dos desejos humanos para fins comerciais.
quadrinho 3: (Calvin) Esta tigela de tapioca morna representa meu cérebro. Eu ofereço em
humilde sacrifício. Mantenha sua luz oscilante para sempre.
quadrinho 4: sem fala.
quadrinho 5: (Calvin) Você chama isto de notícia?! Isto não é informativo!
quadrinho 6: (Calvin) Isto é barulheira! Isto é entretenimento! Isto é sensacionalismo!
quadrinho 7: (Calvin) Ainda bem, é só para tudo isso que eu tenho paciência.
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Considerações finais
E então? Você tem fome e sede de quê? Mais cultura, mais sonhos, mais justiça, mais
oportunidades, melhores condições, qualidade de vida...?
Esperamos, ao menos, ter estimulado um pouco mais dessa sede, e quem sabe saciado
um pouco dessa fome... Assim, teremos cumprido com o nosso desafio, que foi de levá-lo
a transpor algumas das muralhas do aqui e agora para além... Além do que se vê, do que
se escreve, do que se acredita... Além da imaginação e da informação objetiva, para a
arte e para a cultura em dimensões mais profundas...
Esperamos, sinceramente, ter proporcionado a você esta via prazerosa que suscita a
reflexão e, também, a transformação de ideias. Que nesta via você tenha olhado para
além da letra, deixando-se envolver pela melodia do conhecimento. Que você tenha
olhado para além das imagens, encontrando novos significados, atribuindo outros
sentidos... Sentidos éticos!
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