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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS

Curso: Filosofia/Disciplina: Estética/Professor Amir Abdala


Data de entrega: 3 de abril
Estudante: Deryck Melo de Holanda Pinheiro

1. Em alguns dos textos de Platão – por exemplo, Hípias Maior, Fédon, Fedro,
O banquete e A República –, encontramos reflexões em torno do belo e das atividades
artísticas, desenvolvidas coerentemente com sua teoria das Ideias. Explique a dimensão
metafísica das ponderações desse filósofo referentes ao belo e sua valoração negativa das
artes de imitação, articulando-as adequadamente com o dualismo ontológico da filosofia
platônica.

O desenvolvimento da Lexis Socrática ao longo dos textos de Platão


demonstra, em Hípias Maior, as aporias em que incorre Sócrates mediante os
argumentos de Hípias, que utilizava de exemplos para tentar cercear a essência de belo,
pois, embora Sócrates rejeite o argumento de Hípias, não há uma concepção ainda
formada do belo metafísico que apenas seria apresentado na obra A República.

Assim, ao longo de diversos textos, Sócrates avança em sua busca pelo


conceito de belo. Partindo pois de questionamento de se seria o belo o responsável pelo
prazer das coisas sensíveis, quais tipos de prazer há, aqui, Sócrates diferencia prazer
impuro, que é o prazer advindo relaxamento que segue à tensão, o prazer misturado, que
é o prazer experimentado em espetáculos, e o prazer puro, que é proveniente das formas
belas e dos sons belos. Há, porém, um belo não sensível e, pela incapacidade de
desenvolver uma possível relação da passagem do belo não sensível para o sensível, o
diálogo termina em aporia.

O problema, porém, do conceito do belo, na metafísica de Sócrates, em


detrimento do belo enquanto uma simples característica das coisas, só viria a ser
respondido na maturidade Socrática , onde há a concepção de uma realidade eidética a
qual há o conceito de belo enquanto uma ideia. Belo este que permite a todas as coisas
sensíveis serem belas em um sentido muito mais reduzido, mas que, porém, permitiriam
as pessoas através da dialética ascendente, conforme descrita no diálogo O Banquete,
partindo das sensíveis belas coisas, lograr, por fim, a noção inteligível de belo.
Assim, em Fedro, é expresso que a alma que contemplou os eidos, ao
regressar, procura nas imagens sensíveis uma forma de realizar essa ascensão
novamente até as formar primordiais em busca da ciência do belo, conforme descrito em
O Banquete. Assim, há a percepção de que a realidade sensível é apenas uma cópia
imperfeito das formar primordiais pertencentes à realidade eidética e, por isso, só
possuem valor na medida em que permitem a ascensão do sujeito àquela realidade.

Tem-se então, pois, se a realidade sensível possui menor valor que a das
formas primordiais, a mimesis que tem por finalidade replicar a realidade sensível, que
já é o substrato de uma forma ideal, acaba sendo a representação de um substrato que
apenas serve enquanto meio para que a reminiscência da alma busque a ciência do belo.

Há, porém, a necessidade de distinguir dois momentos na lexis Socrática, o


primeiro, no Fedro, onde o filósofo demonstra apreciação aos grandes poetas como
Homero e pelas suas citações dos mitos ao longo de outros diálogos, inclusive para fugir
de aporias; o segundo, em A República, onde há a colocação dos poetas do lado da
aparência e, por conseguinte, da desconsideração da mimesis enquanto uma forma de
saber, pior que isso, afirma que a mesma é direcionada à irracionalidade da alma,
alimentando-a.

Assim, por fim, vê-se que, utilizando uma concepção política baseada no bem e
na verdade, em detrimento de uma análise propriamente da arte, entendida enquanto
práxis, é que Sócrates expulsa de sua república ideal os poetas que, conforme Sócrates
em A República, apenas servem para nutrir aquilo que não dever florescer nos jovens e
os afastam do que é verdadeiramente bom e belo.

2. Leia o texto seguinte e desenvolva a questão proposta.


É possível perceber que toda a poética tem na sua origem duas causas,
ambas naturais. De fato, no ser humano a propensão à imitação é instintiva desde a
infância, e nisso ele se distingue de todos os outros animais; ele é o mais imitativo de
todos, e é através da imitação que desenvolve seus primeiros conhecimentos. É
igualmente por intermédio dela que todos experimentam naturalmente prazer.
ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Edipro, 2011, p. 42.
Platão e Aristóteles concebem a arte como imitação. Entretanto, os
sentidos e os significados que esses filósofos atribuem ao teor imitativo da arte são
bastante distintos. Discorra sobre a concepção de Aristóteles em torno do caráter imitativo
da arte e identifique suas diferenças em relação à tese de Platão sobre o tema.

As concepções acerca da realidade sensível em Aristóteles diferem das de Platão,


com isso, a arte que imita tal realidade já não possui um caráter demeritório e ludibriador
do que realmente importa como a de Platão, mas, sim, uma capacidade de ordenar e
precisar elementos dessa realidade sensível, assim, a mimesis, cria de forma similar à
natureza, utiliza do sensível para criar o possível, sendo assim, pois, uma espécie de
fabricadora de seres de ficção.
Assim, a mimesis em Aristóteles possui três diferentes aspectos, são eles:
seu meio (o ritmo, a melodia e a linguagem); o seu
objecto: o homem sempre em acção, mas mais ou menos nobre
(a comédia põe em cena homens triviais; a tragédia, seres de
excepção); a sua maneira de imitar (narração como na epopeia,
ou descrição directa como na tragédia). (TALON-HUGON,
2008, p. 25)
Para além desses elementos da mimesis em Aristóteles, o antedito não ignora o
prazer na arte e os efeitos que a referida busca através da apresentação de uma obra
onde um dado sentiamento é exposto a fim de ser analisado e depurado ( catharsis) por
seus expectadores. Assim como para a música expressa Na Política, onde Aristóteles
afirma que as almas que recorrem aos cantos ao serem acometidas por emoções como o
medo, a piedade e o entusiamo são purgadas de tais sentimentos de forma a obter prazer
e alivio. Em suma, a tragédia, como apresentada Na Política, possui seu efeito de
catharsis através da utilização da mimesis construtiva que visa essa liberação de afetos,
culminando no prazer.

Por fim, na medida que Aristóteles analisa a arte pelos seus efeitos de prazer e
catharsis, há a distinção de analise daquilo que se entendia por arte para cada filósofo,
onde, Sócrates baniu os poetas de sua cidade ideal, na medida em que alimentava e
mantinha os jovens focados no sensível, enquanto isso, Aristóteles abandona essa
análise metafísica da arte de ascensão ao que realmente importa, conforme Platão, e
foca na análise das características da arte, mimesis e efeitos da catharsis na purgação
dos afetos visando o prazer e o fim político positivo do mesmo.

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